O poemário do cancioneiro português (incluindo fado, música tradicional e ligeira) pretende fomentar o gosto da poesia como parceira da música e a divulgação dos poetas cuja importância nem sempre é justamente reconhecida. Fontes: Blogue A Nossa Rádio, Álvaro José Ferreira.
Ó Entrudo, ó Entrudo, Ó Entrudo chocalheiro, Que não deixas assentar As mocinhas ao soalheiro!
Estas casas estão caiadas, Estas casas estão caiadas. Quem seria a caiadeira? Quem seria a caiadeira?
Foi o noivo mai-la noiva, Foi o noivo mai-la noiva Com um raminho de oliveira. Quem seria a caiadeira?
Eu quero ir para o monte, Eu quero ir para o monte, Que no monte é que eu estou bem, Que no monte é que eu estou bem.
Onde não veja ninguém, Onde não veja ninguém.
Senhora do Almurtão, Ó minha linda raiana, Virai costas a Castela! Não queirais ser castelhana.
Senhora do Almurtão, Eu p’ró ano não prometo, Que me morreu o amori; Ando vestida de preto.
Letra e música: Tradicional (Malpica do Tejo, Castelo Branco, Beira Baixa + Idanha-a-Nova, Beira Baixa) Arranjo: Velha Gaiteira Intérprete: Velha Gaiteira (in CD “Velha Gaiteira”, Velha Gaiteira/Ferradura, 2010)
Malpica do Tejo
Roubaram ao moleirinho
[ Cantiga do Entrudo ]
Roubaram ao moleirinho Ai! A filha por o telhado Julgando que era toucinho Ai! Que estava dependurado.
Oh entrudo, oh entrudo! Ai! Oh entrudo, oh meu bem! Moças não trazem laranjas, Ai! Custa-lhe o par a vintém.
Oh entrudo, oh entrudo! Ai! Oh entrudo chocalheiro, Que não deixas assentári Ai! As mocinhas ao soalheiro!
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Intérprete: Ai!* (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Tubarão tinha dentes de tainha
[ Tamboril ]
Tubarão tinha dentes de tainha E a tainha tinha dentes de tambor Toca traz tempo chuva tempestade Tubarão trincou um touro nos taleigos da vontade
Tubarão tinha o tímpano trocado E trocado estava o tempo todo o ano Toca traz tempo chuva tempestade Tubarão tamborilou ‘inda a missa ia a metade
Tubarão traficou-se em tamboril Troca-tintas com retoque teatral Toca terça, quarta, quinta, noite e dia Travestido no Entrudo c’uma tromba de enguia
Tamboril teve tísica ao contrário Já tossia como tosse o tubarão Toca terça, quarta, quinta, noite e dia Tamboril entubarou num atalho p’rá Turquia
Tubarão tinha dentes de tainha E a tainha tinha dentes de tambor Toca traz tempo chuva tempestade Tubarão trincou um touro nos taleigos da vontade
Tubarão tinha o tímpano trocado E trocado estava o tempo todo o ano Toca traz tempo chuva tempestade Tubarão tamborilou ‘inda a missa ia a metade
Tubarão traficou-se em tamboril Troca-tintas com retoque teatral Toca terça, quarta, quinta, noite e dia Travestido no Entrudo c’uma tromba de enguia
Tamboril teve tísica ao contrário Já tossia como tosse o tubarão Toca terça, quarta, quinta, noite e dia Tamboril entubarou num atalho p’rá Turquia
Letra: Miguel Cardina Música: Pedro Damasceno e Celso Bento Intérprete: Diabo a Sete Versão original: Diabo a Sete (in CD “Figura de Gente”, Sons Vadios, 2016)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/11/entrudo-de-santulhao.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 05:04:392024-11-13 11:38:26Canções de Carnaval
Mãe descobri que o tempo pára E o mundo não separa o meu coração do teu Eu sei que essa coisa rara Aumenta, desassossega mas pára Quando o teu tempo é o meu
Mãe canta com vaidade Porque já tenho idade Pra saber Que em verdade em cada verso teu Onde tu estás estou eu
Mãe contigo o tempo pára Nosso amor é coisa rara E cuidas de um beijo meu Sei que em cada gesto teu Está teu coração no meu
Mãe canta com vaidade Porque já tenho idade Pra saber Que em verdade em cada verso teu Onde tu estás estou eu
Se pudesse mandar no mundo Parar o tempo à minha vontade Pintava teu coração com as cores da felicidade Em cada gesto teu Está teu coração no meu
Mãe canta com vaidade Porque já tenho idade Pra saber Que em verdade em cada verso teu Mãe… A nossa espera valeu
Letra: Martim Nunes Ferreira Música: Miguel Correia Intérprete: Mariza
Meu Amor Eterno
Meu Amor Eterno, Doce verde olhar, Ilumina o meu caminho! Acompanha o meu andar!
Meu Amor Eterno, Mãos de acarinhar, Segura no teu menino! Ajuda-me a continuar!
Meu Amor Eterno, Fada do meu lar, Alimenta-me a saudade! Sacia o meu paladar!
Meu Amor Eterno, Cordão de umbilicar, Relembra-me do teu cheiro! Não me deixes de cantar!
Ema te fez, Deus te criou, Paulo te abriu, José completou.
“Morrer por morrer!”, Disseste-o assim; Da tua coragem Tiveste-me a mim.
Meu Amor Eterno, Cordão de umbilicar, Relembra-me do teu cheiro! Não me deixes de cantar!
Letra: Rogério Charraz (dedicada à sua Mãe) Música: Rogério Charraz e Júlio Resende Arranjo: Júlio Resende Intérprete: Rogério Charraz (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)
Reciclanda
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Mãe, tu foste ventre
Mãe, tu foste ventre para me criar e agora és casa para me abrigar.
Mãe, tu foste canto para me embalar e agora és conto para me ensinar.
Mãe, tu foste ninho para eu começar e vais ser a asa para eu voar.
António José Ferreira
(Canção para crianças)
Querida mãe, querido pai
[ Postal dos Correios ]
Querida mãe, querido pai. Então que tal? Nós andamos do jeito que Deus quer Entre dias que passam menos mal Lá vem um que nos dá mais que fazer
Mas falemos de coisas bem melhores A Laurinda faz vestidos por medida O rapaz estuda nos computadores Dizem que é um emprego com saída
Cá chegou direitinha a encomenda Pelo “expresso” que parou na Piedade Pão de trigo e linguiça prá merenda Sempre dá para enganar a saudade
Espero que não demorem a mandar Novidades na volta do correio A ribeira corre bem ou vai secar? Como estão as oliveiras de “candeio”?
Já não tenho mais assunto pra escrever Cumprimentos ao nosso pessoal Um abraço deste que tanto vos quer Sou capaz de ir aí pelo Natal Um abraço deste que tanto vos quer Sou capaz de ir aí pelo Natal
Letra: João Monge Música: João Gil Intérprete: Rio Grande (in CD “Rio Grande”, EMI-VC, 1996)
Fátima Costa e o filho Alexandre
Queridos pais
[ Para crianças ]
Pai querido, tu és muito especial. Estou bem quando tu ficas a meu lado. Aproxima-se o dia de Natal… Há um presente com que eu tenho sonhado.
Mãe querida que estás cheia de carinho, vê lá bem o que me vais oferecer. Tu já sabes que eu gosto de um beijinho mas há prendas que eu adoro receber.
António José Ferreira, Brincadeiras Cantadas ]
Resguardaste-me da vida
[ Não É, Mãe? ]
Resguardaste-me da vida E mesmo frágil e ferida Tomaste conta de mim. Levaste-me leite à cama, Disseste que para quem ama Nunca pode haver um fim.
São difíceis de queimar as coisas más. As coisas boas são difíceis de encontrar.
Mãe… está tudo bem, mãe?
Quando a minha mãe dobrava meias Estava sempre tudo bem.
Não é, mãe?
Letra: Duarte (Novembro de 2010) Intérprete: Albano Jerónimo (in CD “Sem Dor Nem Piedade”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2015)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/04/fatima-costa-e-alexandre.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 04:58:252024-11-02 06:42:03Canções à Mãe
Carregavas o “João de Olhão” Ferro de grande envergadura “Maria Alice” e o “Pé Morto” Eras homem de grande estatura
Um dia foste para Angola Lá o clima era mais quente Meteste o pé na argola A vida negra a muita gente
Jiku lu mesu! Jiku lu mesu! Jiku lu mesu! Jiku lu mesu!
Letra e música: José Francisco Vieira Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Os Marenostrum são uma banda do Algarve formada por Zé Francisco, guitarra, bandolim e voz; João Frade, acordeão; Lino Guerreiro, saxofones e flautas; Paulo Machado, baixo e acordeão; e João Vieira, bateria e percussões.
Notas:
Morraça – erva que cresce nos sapais da Ria Formosa e que depois de seca servia para fazer estrume.
Sapeira – espécie de erva nativa da Ria Formosa, também conhecida por salgueira.
Chamuceira ou chumaceira – peça metálica que serve para diminuir o atrito de um eixo ou de um veio (no caso, de um remo). Nos antigos barcos de pesca era feita em corda.
“Jiku lu mesu” é uma expressão em quimbundo (língua do Noroeste de Angola) que significa “abre os olhos”.
Marenostrum, Rua do Peixe Frito
Ao raiar do dia
[ Corrido Algarvio ]
Ao raiar do dia Sagres vê passar… Até no Burgau Viram navegar.
Vinham quatro barcos Lá no meio do mar; Foram para Lagos Para atracar.
Saem para terra De malas na mão; Correm pela vila Até Portimão.
Seguem o caminho, Agora à boleia; Muda-se o destino: É para Albufeira!
Muda-se o destino: É para Albufeira!
Faro é em frente, Com sua magia Da cidade velha Sonham com a Ria.
Lá vai o comboio Para sotavento: Vai até Tavira Que inda vai a tempo.
Passa por Cacela, Por Castro Marim; Chega ao Guadiana, Eis que é o fim!
Chega ao Guadiana, Eis que é o fim!
E lá vão de roda, Seguem para trás, Que o carro não pára Antes de São Brás.
Agora sem carro Vão os quatro a pé… Bem devagarinho Chegam a Loulé.
Montados num burro, Pelos montes fora, Vão os quatro a Silves: Correm sem demora.
Vão os quatro a Silves: Correm sem demora.
Vão até Monchique Que é sempre a subir: Só param na Fóia, Já não voltam a vir.
Que os quatro poetas, Deitados no chão, Olham as estrelas, Luz da criação.
Já passaram anos E os quatro poetas Ainda lá repousam: São agora pedras.
Ainda lá repousam: São agora pedras.
Letra e música: Carlos Norton Intérprete: OrBlua (in Livro/CD “Retratos Cinéticos”, Fungo Azul/Ocarina, 2015)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
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Da serra veste perfumes
[ De Sol a Sul ]
Da serra veste perfumes, do levante inquietações. Do tempo lhe vêm famas do mar as consolações. Velha Romana, Tuaregue, maruja, aventureira, dos mares sabida e da vida sabe tudo, de matreira. Minha loira, meu azul faz-te ao mar, despe esse manto de nevoeiro e de sal, desnuda-te do quebranto de seres ponto de partir. Navega com rumo a ti, descobre-te em Portugal, teu porto é de hoje e aqui.
Velhas profecias, meu 29 de Agosto. Meu queijo de figo, sueste agreste, sol posto. Meu Infante navegante. Cheiro a sardinha no rosto.
Cidade, eu te escuto tu me acolhes, tu me afagas. Regaço de mãe, doce carícia de algas. Varanda de sol a sul. Gente firme não se cala.
Que o sonho se faça pouco a pouco, passo a passo. Que a tristeza afogue na largueza dum abraço. Que a alegria canse este cansaço. É hoje que a gente vai dizer como é que quer, seja o bicho homem ou o bicho seja mulher. E que venha por bem quem vier.
Letra e música: Afonso Dias Intérprete: Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul “, Concertante, 1999; CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Era um rei
[ Fado das Amendoeiras ]
Era um rei da terra que cheira a luar da terra vermelha que tem a centelha do cheiro do mar.
Terra amendoeira terraço a sangrar albufeira dos barcos que pescam com a lamparina da luz a piscar. Era um rei que vivia na terra deitado no mar.
Era um rei que foi da Moirama lutar à terra da neve que tem o silêncio que faz sufocar.
País da princesa que no seu tear inventava a lenda da renda nos olhos de amêndoa do amor por chegar. Da princesa bordando tristeza na orla do mar.
É no sul que nos dói mais o sol é ao sol que se vê o azul Do Algarve que roda como um girassol. VÁ DE BRAÇOS VÁ À PESCA! NÃO QUEREMOS BRAÇO MOLE! À aguardente chamamos um figo à verdade chamamos Aleixo que ainda é mais doce que um D. Rodrigo. NÃO O MATAM QUE EU NÃO DEIXO! O ALEIXO É MEU AMIGO!
É o povo da maré que cheira a suor e quer o rei queira ou não queira resiste num mar que é maior.
O mar da traineira, mar do pescador este mar amar desta maneira que é a força primeira do mar por amor este mar que morre na esteira de aquém e além dor.
É no sul que nos dói mais o sol é ao sol que se vê o azul
Letra: Ary dos Santos Música: Fernando Tordo Intérprete: Carlos do Carmo (in “Um Homem no País”, Polygram, 1983)
Marcadinho, puladinho
[ Corridinho Aluljé ]
Marcadinho, puladinho, joelhos em terra, moças ao ar Barracoleza, terra firme, muita beleza Mais acima o barranco, uma eira e um palanco Moita de Guerra, lava-pé, boca-de-peixe Quarteira mais abaixo, a ribeira e o riacho Cá em Loulé toda gente bate o pé Bate palmas, bate o queixo e as quadras do Aleixo Oh i oh ai! marcadinho vai e nã vai Todos dançam, ninguém sai à moda da Ti Anica Arrabanhita, todos saltam cabanita Uns rodam, outros não, sarnadinha, morrião
Lá vai, lá vai, roda a moça, roda bem! Saca-rabos e galinhas pé comprido ninguém tem Nos Barrigões encontrei uma gineta Anda tudo aos encontrões, anda tudo arraboleta Arraboleta, linda saia roda preta Mas que raio de meia branca! Califórnia e Casablanca As voltas do corridinho mandado e puladinho Vir’ó baile! Ah moços dum raio!
Ah mano Zeca! Entra o fole!
Lá vai, lá vai, roda a moça, roda bem! Oh i oh ai! pé comprido ninguém tem Lá vai, lá vai, encontrei uma gineta Oi oh ai! anda tudo arraboleta Lá vai, lá vai, linda saia roda preta Mas que raio de meia branca! Califórnia e Casablanca As voltas do corridinho mandado e puladinho
Vir’ó baile! Já está!
Notas:
Barracoleza – lugar na Serra do Caldeirão, perto de Salir (onde está projectado um enorme complexo turístico com campo de golfe).
Barranco – sulco feito no solo pelas enxurradas; barroca, ravina, precipício.
Palanco – corda que se prende à vela, e que serve para a içar.
Moita de Guerra – localidade da freguesia de Salir, concelho de Loulé.
Lava-pé – planta arbustiva.
Boca-de-peixe – planta.
Arrabanhita – jogo de crianças em que se jogava uma guloseima e todas elas corriam para a apanhar.
Cabanita – nome de uma escola básica do 2.º e 3.º ciclos, em Loulé, assim baptizada em homenagem ao Padre João Coelho Cabanita.
Sarnadinha – planta herbácea, também conhecida por morrião.
Morrião – planta herbácea, também conhecida por sarnadinha.
Saca-rabo – mamífero carnívoro da família dos Vivérridas, de cauda muito longa, também conhecido por mangusto ou manguço.
Barrigões – localidade da freguesia de Salir, concelho de Loulé.
Gineta – mamífero carnívoro da família dos Vivérridas, com pelagem cinzento-clara muito manchada de negro, também conhecido por gineto, gato-bravo ou martaranho.
Arraboleta – brincadeira de crianças em que elas rebolam/giram sob si mesmas.
Califórnia – localidade da freguesia de Salir, concelho de Loulé.
Casablanca – cidade de Marrocos, considerada a capital económica do país. Também o nome de um lugar do concelho de Loulé.
Letra: José Francisco Vieira Música: João Frade, Paulo Machado, José Francisco Vieira, João Vieira, Paulo Jorge Temeroso Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Mercado de Loulé
Na rua do peixe frito
[ Rua do Peixe Frito ]
Na rua do peixe frito Havia lá boa gente Na esquina o Ti Gaspar E o terramoto de Agadir Havia uma porta aberta E um prato de milho quente Havia lá boa gente
Havia poesia e mais Na maneira como viviam Um acordeão encarnado Caiu ao mar embriagado Pescadores, guardas-fiscais E paixão à luz do dia Na maneira como viviam
Uma bacia com brasas Ao ar livre a fumejar Uma pelengana e azeite Com peixe fresco a fritar Corria nua Mila Coelha Pela rua a cantararolar Ao ar livre a fumejar
Na rua do peixe frito Havia lá boa gente A cara chapada do pai Zé Manel Jesus Sacramento Havia lá boa gente
Na rua do peixe frito Folia madrugada adentro Sardinhas e pão quente Gorgulho, petisco a monte Na casa da Tia Leonarda Charro alimado era o sustento Até madrugada adentro
Um candeeirinho de arame Que iluminava a noite inteira Um garrafão franquinhal À porta aberta de um quintal Uma moça linda a sorrir Passava por lá sorrateira Iluminava a noite inteira
Na rua do peixe frito Havia lá boa gente A cara chapada do pai Zé Manel Jesus Sacramento Havia lá boa gente
Na rua do peixe frito Havia lá boa gente A cara chapada do pai Zé Manel Jesus Sacramento Havia lá boa gente
Letra e música: José Francisco Vieira Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Notas:
Agadir – cidade do Sudoeste de Marrocos (na costa atlântica) que, a 29 de Fevereiro de 1960, foi abalada por um sismo violento (de magnitude 5,7 na escala de Richter) que a deixou bastante destruída e causou cerca de 20 mil mortos (metade da população).
Pelengana ou palangana – recipiente largo e pouco fundo, de barro ou metal, usado para servir assados ou fritos.
Charro – chicharro.
Franquinhal – nome do vinho feito em Santa Luzia, Tavira, até aos anos 70, por uma família de galegos fugidos da Guerra Civil Espanhola.
Marenostrum, Rua do Peixe Frito
Aldeia da Meia-Praia
[ Os índios da Meia-Praia ]
Aldeia da Meia-Praia Ali mesmo ao pé de Lagos Vou fazer-te uma cantiga Da melhor que sei e faço
De Monte-Gordo vieram Alguns por seu próprio pé Um chegou de bicicleta Outro foi de marcha a ré
Houve até quem estendesse A mão a mãe caridade Para comprar um bilhete De paragem para a cidade
Oh mar que tanto forcejas Pescador de peixe ingrato Trabalhaste noite e dia Para ganhares um pataco
Quando os teus olhos tropeçam No voo duma gaivota Em vez de peixe vê peças De ouro caindo na lota
Quem aqui vier morar Não traga mesa nem cama Com sete palmos de terra Se constrói uma cabana
Uma cabana de colmo E viva a comunidade Quando a gente está unida Tudo se faz de vontade
Tudo se faz de vontade Mas não chega a nossa voz Só do mar tem o proveito Quem se aproveita de nós
Tu trabalhas todo o ano Na lota deixam-te mudo Chupam-te até ao tutano Chupam-te o couro cab’ludo
Quem dera que a gente tenha De Agostinho a valentia Para alimentar a sanha De esganar a burguesia
Diz o amigo no aperto Pouco ganho, muita léria Hei-de fazer uma casa Feita de pau e de pedra
Adeus disse a Monte-Gordo (Nada o prende ao mal passado) Mas nada o prende ao presente Se só ele é o enganado
Foram “ficando ficando” Quando um dia um cidadão Não sei nem como nem quando Veio à baila a habitação
Mas quem tem calos no rabo E isto não é segredo – É sempre desconfiado Põe-se atrás do arvoredo
Oito mil horas contadas Laboraram a preceito Até que veio o primeiro Documento autenticado
Veio um cheque pelo correio E alguns pedreiros amigos Disse o pescador consigo Só quem trabalha é honrado
Quem aqui vier morar Não traga mesa nem cama Com sete palmos de terra Se constrói uma cabana
Eram mulheres e crianças Cada um c’o seu tijolo “Isto aqui era uma orquestra” Quem diz o contrário é tolo
E toda a gente interessada Colaborou a preceito Vamos trabalhar a eito Dizia a rapaziada
Não basta pregar um prego Para ter um bairro novo Só “unidos venceremos” Reza um ditado do Povo
E se a má lingua não cessa Eu daqui vivo não saia Pois nada apaga a nobreza Dos índios da Meia-Praia
Foi sempre a tua figura Tubarão de mil aparas Deixar tudo à dependura Quando na presa reparas
Das eleições acabadas Do resultado previsto Saiu o que tendes visto Muitas obras embargadas
Quem vê na praia o turista Para jogar na roleta Vestir a casaca preta Do malfrão ** capitalista
Mas não por vontade própria Porque a luta continua Pois é dele a sua história E o povo saiu à rua
Mandadores de alta finança Fazem tudo andar pra trás Dizem que o mundo só anda Tendo à frente um capataz
E toca de papelada No vaivém dos ministérios Mas hão-de fugir aos berros Inda a banda vai na estrada
Eram mulheres e crianças Cada um c’o seu tijolo “Isto aqui era uma orquestra” Quem diz o contrário é tolo
* Texto e música: Zeca Afonso
Para o filme Índios da Meia Praia, realizado por Cunha Teles. A versão do disco não inclui todas as quadras.
** Palavra algarvia que significa dinheiro.
José Afonso, Os Índios da Meia-Praia
Praia da Rocha, guitarra
[ Fado de Portimão ]
Praia da Rocha, guitarra Doirada que o mar dedilha Ferragudo e a maravilha Do castelo junto à barra
Mas quer chova ou faça sol Quer o mar deixe ou não deixe A cidade é um anzol
Portimão sonha com peixe Como a foz do rio Arade Como o cais de Portimão Há-de haver tão lindos, há-de, Mas mais lindos é que não.
Ah! Se o luar não vier Às redes de Portimão Luar de peixe a morrer Antes do fim do Verão.
“Vá fome” Diz Zé Fataça Que outrora foi pescador E é agora engraxador Junto ao coreto da praça
Então a fome é verdade E alguns vão buscar seu pão A mil léguas do Arade E do cais de Portimão.
Como a foz do rio Arade Como o cais de Portimão Há-de haver tão lindos, há-de, Mas mais lindos é que não.
Letra: Leonel Neves Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Procuro o sul
[ Fado Corridinho ]
Procuro o sul que me aqueça A voz que canta esta terra De seu clima abençoado Que dá calor ao meu fado E cheirinho a mar e serra
Descubro de costa a costa Praias onde o mar descansa Nas areias com memórias Falésias que são histórias De partidas, de esperança
O fado corridinho é um bailinho Que alegra a gente Sete passos para a frente Mais três de cada lado do caminho O fado corridinho é um cantar, Um desafio algarvio, vai de roda sem parar
No ciclo de cada ano A terra é fértil e espera Amendoeiras em flor Um pomar cheio de cor Prenúncio de primavera
Nesta viagem a sul Dou por mim em rodopio Entro num baile mandado Que alegra o meu fado Com um abraço algarvio
O fado corridinho é um bailinho Que alegra a gente Sete passos para a frente Mais três de cada lado do caminho O fado corridinho é um cantar, Um desafio algarvio, vai de roda sem parar
O fado corridinho é um bailinho Que alegra a gente Sete passos para a frente Mais três de cada lado do caminho O fado corridinho é um cantar, Um desafio algarvio, vai de roda sem parar
Ah moço dum raio!
Letra: Jorge Mangorrinha Música: José Francisco Vieira, Paulo Machado, João Vieira, João Frade, Paulo Jorge Temeroso Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Vai com trote certo
[ Carrinha Antiga ]
Vai com trote certo Esse cavalinho Todo empenachado E o boleeiro esperto Faz do seu caminho Seu baile mandado.
Lá vai a carrinha A carrinha antiga Com seu toldo armado. Uma sombra amiga A sombra fresquinha Sob um sol doirado
Leva os estrangeiros Muito prazenteiros Que vão passear. Ver a Rocha e o mar Mar das caravelas Que inda é mar das velas.
E a carrinha lesta Do Algarve florido É folha que resta De um romance lido De um conto feliz De Júlio Dinis.
Letra: José Galvão Balsa Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão* (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/03/algarve.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 00:35:172024-11-02 06:59:32Canções sobre o Algarve
A minha velha casa, por mais que eu sofra e ande, é sempre um golpe de asa varrendo um Campo Grande.
Aqui no meu País, por mais que a minha ausência doa, é que eu sei que a raiz de mim está em Lisboa.
A minha velha casa resiste no meu corpo e arde como brasa dum corpo nunca morto.
A minha velha casa é o regresso à procura das origens da ternura, onde o meu ser perdura.
Amiga amante, amor distante. Lisboa é perto, e não bastante. Amor calado, amor avante, que faz do tempo apenas um instante. Amor dorido, amor magoado e que me dói no fado. Amor magoado, amor sentido, mas jamais cansado. Amor vivido, meu amor amado.
Um braço é a tristeza, o outro é a saudade, e as minhas mãos abertas são chão da liberdade.
A casa a que eu pertenço, viagem para a minha infância, é o espaço em que eu venço e o tempo da distância.
E volto à velha casa, porque a esperança resiste a tudo quanto arrasa um homem que for triste.
Lisboa não se cala, e quando fala é minha chama, meu Castelo e minha Alfama, minha Pátria, minha cama.
Amiga amante, amor distante. Lisboa é perto, e não bastante. Amor calado, amor avante, que faz do tempo apenas um instante. Amor dorido, amor magoado e que me dói no fado. Amor magoado, amor sentido, mas jamais cansado. Amor vivido, meu amor amado.
Ai! Lisboa, como eu quero! É por ti que eu desespero!
Letra: José Carlos Ary dos Santos Música: António Victorino d’Almeida Intérprete: Camané (in CD “Novo Homem na Cidade”, Universal, 2004) Versão original: Carlos do Carmo (in “Um Homem na Cidade”, Trova, 1977; reed. UPAV, 1991; Philips/Polygram, 1995)
Meloteca, recursos musicais criativos para crianças, professores e educadores
Ainda Lisboa
[ Marcha da Madragoa 1980 ]
Ainda Lisboa Sonha e dorme a sono solto E o luar passeia envolto No seu manto de mil estrelas, A Madragoa Já toda ela se agita, Airosa fresca e bonita, Num bailado de chinelas.
Ainda o galo Não cantou o seu bom dia, Já o meu bairro à porfia Trabalha de que maneira; É um regalo Ver cortejos de varinas Descendo a Rua das Trinas A caminho da Ribeira.
Madragoa, Chinela no pé, Jeito de maré P’ra cá e p’ra lá; Madragoa, Canastra à cabeça, Ligeira na pressa Que a vida lhe dá.
Madragoa, Festiva gaivota Que grita na lota, Que canta e apregoa; Madragoa, Salgada e ladina, Vistosa varina, Cartaz de Lisboa.
A Madragoa Que canta desde menina Cantigas que o mar lhe ensina, Com o mar dança também; Doa a quem doa, É dos bairros a rainha E a coisa mais alfacinha De quantas Lisboa tem.
E se abençoa A fé dos seus monumentos, Pois igrejas e conventos Dão-lhe fé e caridade; À Madragoa Não falta desde criança Toda a virtude da Esperança, Que é a Esperança da cidade.
Madragoa, Chinela no pé, Jeito de maré P’ra cá e p’ra lá; Madragoa, Canastra à cabeça, Ligeira na pressa Que a vida lhe dá.
Madragoa, Festiva gaivota Que grita na lota, Que canta e apregoa; Madragoa, Salgada e ladina, Vistosa varina, Cartaz de Lisboa.
Madragoa, Festiva gaivota Que grita na lota, Que canta e apregoa; Madragoa, Salgada e ladina, Vistosa varina, Cartaz de Lisboa.
Letra: Jorge Rosa Música: José Fontes Rocha Intérprete: Joana Amendoeira (in CD “Amor Mais Perfeito: Tributo a José Fontes Rocha”, CNM, 2012) Versão original: Maria da Fé (in single “Marcha da Madragoa 1980 / Acerta Comigo”, Valentim de Carvalho/EMI, 1980; CD “Até Que a Voz me Doa” (compilação), col. Caravela, EMI-VC, 1991; CD “O Melhor de Maria da Fé”, Edições Valentim de Carvalho/iPlay, 2008; CD “Maria da Fé: Essencial”, Edições Valentim de Carvalho/CNM, 2014)
fadista Joana Amendoeira
Ando
[ Santa Apolónia ]
Ando de vez em quando Procurando o que há para achar Se acho, não me acho capaz para me encontrar E parto, de vontade em vontade, com vontade de andar Que a cidade onde vivo Me faz vontade… voltar. E ando Vagueando Chateado, um pouco zangado Ando à toa, … apanho o comboio, vou daqui para Lisboa.
Ando Vagueando Chateado, um pouco zangado Ando à toa, … apanho o comboio, vou daqui para Lisboa.
Ando Vagueando Chateado, um pouco zangado Ando à toa, … apanho o comboio, vou daqui para Lisboa.
Ando Vagueando Chateado, um pouco zangado Ando à toa, … apanho o comboio, vou daqui para Lisboa.
Vadiando Chateado, um pouco zangado Ando à toa, … apanho o comboio, vou daqui para Lisboa.
Letra e música: Jorge Rivotti Intérprete: Jorge Rivotti Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Lisboa a Sete”, Alain Vachier Music Editions, 2016)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Azulejos da cidade
[ Fado dos Azulejos ]
Azulejos da cidade, numa parede ou num banco, são ladrilhas da saudade vestida de azul e branco.
Bocados da minha vida, todos vidrados de mágoa, azulejos, despedida dos meus olhos rasos de água.
À flor dum azulejo, uma menina; do outro, um cão que ladra e um pastor. Ai! Moldura pequenina, que és a banda desenhada nas paredes do amor.
Azulejos desbotados por quanto viram chorar. Azulejos tão cansados por quantos viram passar.
Podem dizer-vos que não, podem querer-vos maltratar: de dentro do coração ninguém vos pode arrancar.
À flor dum azulejo, um passarinho, um cravo e um cavalo de brincar; um coração com um espinho, uma flor de azevinho e uma cor azul luar.
À flor do azulejo, a cor do Tejo e um barco antigo, ainda por largar. Distância que já não vejo, e enche Lisboa de infância, e enche Lisboa de mar.
Distância que já não vejo, e enche Lisboa de infância, e enche Lisboa de mar.
Letra: José Carlos Ary dos Santos Música: Martinho d’Assunção Intérprete: Carlos do Carmo (in “Um Homem na Cidade”, Trova, 1977; reed. UPAV, 1991; Philips/Polygram, 1995)
Caminho ao Largo
[ Ao Largo ]
Caminho ao Largo, no bolso a moeda, do troco do gelado na esquina. Saboreio-te na gente que vem e que passa… de outros lados De sorrisos sem rotina… Pego na moeda, devolvida no troco, não dá p’ra viajar-te, é pouco. Levo-te mesmo assim de moeda no bolso, p’la nuvem que nos diz. Mostrem de Vós a Paris! Mostrem de Vós a Paris! Sabes? Sabes? Gostava de levar-te a Paris, mas… agora não posso mostrar-te mais… que o Largo Martim Moniz!
Sabes? Sabes? Gostava de levar-te a Paris, mas… agora não posso mostrar-te mais… que o Largo Martim Moniz!
Volto à moeda, devolvida no troco, não dá p’ra viajar-te, é pouco. Levo-te mesmo assim de moeda no bolso, p’la nuvem que nos diz: Mostrem de Vós a Paris! Mostrem de Vós a Paris! Sabes? Sabes? Gostava de levar-te a Paris, mas… agora não posso mostrar-te mais… que o Largo Martim Moniz!
Sabes? Sabes? Gostava de levar-te a Paris, mas… agora não posso mostrar-te mais… que o Largo Martim Moniz!
Sabes? Sabes? Gostava de levar-te a Paris, mas… agora não posso mostrar-te mais… que o Largo Martim Moniz!
Letra e música: Jorge Rivotti Intérprete: Jorge Rivotti Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Lisboa a Sete”, Alain Vachier Music Editions, 2016)
Cansados vão os corpos
[ Lisboa que amanhece ]
Intérprete: Carlos do Carmo
Como a água da nascente
[ Transparente ]
Como a água da nascente Minha mão é transparente Aos olhos da minha avó.
Entre a terra e o divino Minha avó negra sabia Essas coisas do destino.
Desagua o mar que vejo Nos rios desse desejo De quem nasceu para cantar.
Um Zambeze feito Tejo De tão cantado qu’invejo Lisboa, por lá morar.
Vejo um cabelo entrançado E o canto morno do fado Num xaile de caracóis.
Como num conto de fadas Os batuques são guitarras E os coqueiros, girassóis.
Minha avó negra sabia Ler as coisas do destino Na palma de cada olhar.
Queira a vida ou que não queira Disse Deus à feiticeira Que nasci para cantar.
Letra: Paulo Abreu Lima Música: Rui Veloso Intérprete: Mariza (in CD “Transparente”, EMI-VC, 2005)
Cortesã das minhas noites
[ É Lisboa a namorar ]
Intérprete: Cuca Roseta
Da janela do meu quarto
Da janela do meu quarto vejo a luz no quarto dela Quando a lua vem brincar nos telhados da viela Vejo o sol de madrugada a beijar sete colinas Quando se espraia no cais para espreitar as varinas
Da janela do meu quarto vejo o mundo Tenho um mundo de poesia para ver Vejo Alfama que labuta com ardor A sorrir e a cantar Vejo o Tejo a espreguiçar-se lá no fundo Vejo a ronda, ela passa a correr Vejo a Sé onde à tardinha com fervor Ela vai sempre rezar
Vejo pares de namorados, almas cheias de ilusões Toda a magia de um fado e a alegria dos pregões E à noitinha quando as sombras vestem de luto a viela Da janela do meu quarto vejo a luz no quarto dela
Da janela do meu quarto vejo o mundo Tenho um mundo de poesia para ver Vejo Alfama que labuta com ardor A sorrir e a cantar Vejo o Tejo a espreguiçar-se lá no fundo Vejo a ronda, ela passa a correr Vejo a Sé onde à tardinha com fervor Ela vai sempre rezar
Vejo o Tejo a espreguiçar-se lá no fundo Vejo a ronda, ela passa a correr Vejo a Sé onde à tardinha com fervor Ela vai sempre rezar
Letra: António Vilar da Costa Música: Nóbrega e Sousa Intérprete: Tristão da Silva (1958) (in CD “O Melhor de Tristão da Silva”, EMI-VC, 1991)
De decote no bolso
De decote no bolso Fiz-me de vestido na mão Perdi-me até na ilusão Deste vestido-canção Mas quero entrar na marcha à frente Que seja de chita vestida Quero assim vestir-me contente Até que reste esta vida E o vestido de chita Me excita na avenida A vontade de te abraçar de te levar Da Liberdade ao mar!
De decote no bolso Fiz-me de vestido na mão Perdi-me até na ilusão Deste vestido-canção Mas quero entrar na marcha à frente Que seja de chita vestida Quero assim vestir-me contente Até que reste esta vida E o vestido de chita Me excita na avenida A vontade de te abraçar de te levar Da Liberdade ao mar!
E o vestido de chita Me excita na avenida A vontade de te abraçar de te levar Da Liberdade ao mar!
E o vestido de chita Me excita na avenida A vontade de te abraçar de te levar Da Liberdade ao mar!
E o vestido de chita Me excita na avenida A vontade de te abraçar de te levar Da Liberdade ao mar!
Letra e música: Jorge Rivotti Intérprete: Jorge Rivotti Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Lisboa a Sete”, Alain Vachier Music Editions, 2016)
De manhãzinha, voltou a Rosa
[ Nova Rosa da Mouraria ]
De manhãzinha, voltou a Rosa sem dizer nada; Vinha sozinha e mais formosa, bem apressada; Parou na Rua do Capelão, onde esperava O tal rapaz que há muitos anos a namorava.
Ai quem diria Que um dia a Rosa da Mouraria Voltava àquela casa, No Largo da Severa.
Ai quem diria Que a Rosa da Mouraria Tinha a vida bem guardada P’ra voltar a ser quem era.
Viu sardinheiras e margaridas numa janela, Namoradeiras entristecidas à espera dela; Agora a casa tem o encanto que tinha outrora, Até a Rosa já prometeu não ir embora.
Ai quem diria Que um dia a Rosa da Mouraria Voltava àquela casa, No Largo da Severa.
Ai quem diria Que a Rosa da Mouraria Tinha a vida bem guardada P’ra voltar a ser quem era.
Ai quem diria Que um dia a Rosa da Mouraria Voltava àquela casa, No Largo da Severa.
Ai quem diria Que a Rosa da Mouraria Tinha a vida bem guardada P’ra voltar a ser quem era.
Ai quem diria Que a Rosa da Mouraria Tinha a vida bem guardada P’ra voltar a ser quem era.
Letra e música: Marco Oliveira Intérprete: Tânia Oleiro Versão original: Tânia Oleiro (in CD “Terços de Fado”, Museu do Fado Discos, 2016)
És um moinho de vento
[ Lisboa ]
És um moinho de vento com sete colinas p’ra ver o Tejo e as andorinhas. És Lisboa sem tempo.
Tens uma História que encanta, e essa cor tão branca que dá luz ao fado e sobra em todo o lado. O Tejo iluminado.
Lisboa és minha! Lisboa do mundo, como vela erguida num sonho profundo, és cidade branca e trazes luz ao mundo.
Lisboa és minha! Lisboa do mundo…
Lisboa és minha! Lisboa do mundo… Lisboa és minha! Lisboa do mundo… Lisboa…
Letra: José Barros Música: Mimmo Epifani Intérpretes: José Barros & Mimmo Epifani* Versão original: José Barros & Mimmo Epifani (in CD “Mar da Lua”, José Barros/Tradisom, 2015)
Esse romance amoroso
[ O Casamento da Rita ]
Esse romance amoroso Do mercado da Ribeira Teve um final milagroso; E, afinal, de que maneira!
Um romance igual a tantos, Esse da Rita e do Chico: Lá na Igreja de Santos Foi-se os encantos do namorico.
Muito juntinhos sob o altar, Entre os padrinhos foram casar; Após a boda, a Rita e o Chico Foram na roda do bailarico.
Desde a sagrada união A mãe dela já nem ralha, Nem sequer faz discussão Por dá cá aquela palha.
Com sua graça expedita Disse ao Chico pescador: «Se não me dás outra Rita, Vai haver fita seja onde for.»
E hoje uma Rita mais pequenina Toda se agita linda e traquina: Lembra a sardinha viva a saltar, Outro romance para contar.
Muito juntinhos sob o altar, Entre os padrinhos foram casar; Após a boda, a Rita e o Chico Foram na roda do bailarico.
E hoje uma Rita mais pequenina Toda se agita linda e traquina: Lembra a sardinha viva a saltar, Outro romance para contar.
Letra e música: Júlio Vieitas Intérprete: Tânia Oleiro* Primeira versão discográfica de Tânia Oleiro (in CD “Terços de Fado”, Museu do Fado Discos, 2016) Versão original: Fernanda Maria (in EP “Isto É Fado” A Voz do Dono/VC, 1960; CD “O Melhor de Fernanda Maria”, EMI-VC, 1994; CD “O Melhor de Fernanda Maria”, Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2009; CD “Fernanda Maria: Essencial”, Edições Valentim de Carvalho, 2014)
Eu canto para ti
[ Canção com Lágrimas ]
Eu canto para ti um mês de giestas um mês de morte e crescimento ó meu amigo como um cristal partindo-se plangente no fundo da memória perturbada.
Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa e um coração poisado sobre a tua ausência eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês em que os mortos amados batem à porta do poema.
Porque tu me disseste: quem me dera em Lisboa quem me dera em Maio. Depois morreste Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
Eu canto para ti Lisboa à tua espera teu nome escrito com ternura sobre as águas e o teu retrato em cada rua onde não passas trazendo no sorriso a flor do mês de Maio.
Porque tu me disseste: quem me dera em Maio porque te vi morrer eu canto para ti Lisboa e o sol. Lisboa com lágrimas Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve.
Eu canto para ti Lisboa à tua espera…
Poema: Manuel Alegre (adaptado de “Canção com Lágrimas e Sol”, in Praça da Canção , 1965) Música e voz: Adriano Correia de Oliveira (in “Cantaremos”, Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1999; “Obra Completa”, Movieplay, 1994; CD “Vinte Anos de Canções”, Movieplay, 2001)
É varina, usa chinela
[ Maria Lisboa ]
É varina, usa chinela, tem movimentos de gata; Na canastra, a caravela, no coração, a fragata. Na canastra, a caravela, no coração, a fragata.
Em vez de corvos, no xaile gaivotas vêm pousar. Quando o vento a leva ao baile, baila no baile com o mar. Quando o vento a leva ao baile, baila no baile com o mar.
É de conchas o vestido, tem algas na cabeleira; E nas veias o latido do motor duma traineira. E nas veias o latido do motor duma traineira.
Vende sonho e maresia, tempestades apregoa. Seu nome próprio: Maria; seu apelido: Lisboa. Seu nome próprio: Maria; seu apelido: Lisboa.
Letra: David Mourão-Ferreira Música: Alain Oulman Intérprete: Amália Rodrigues (in “Amália Rodrigues (Busto)”, Valentim de Carvalho, 1962, reed. EMI-VC, 1989; in “Com Que Voz”, Valentim de Carvalho, 1970, reed. EMI-VC, 1987; CD “O Melhor de Amália – Estranha Forma de Vida”, EMI-VC, 1985, reed. 1995) Outra versão: Mariza (in CD “Fado em Mim”, World Connection B.V., 2001; CD/DVD “Concerto em Lisboa”, Capitol, 2006)
Esta noite há uma festa
[ Curral da Mouraria ]
Esta noite há uma festa No curral da Mouraria Esta noite há uma festa Vai durar até ser dia
Vem daí, vamos cantar Vamos todos celebrar Que ainda não foi desta Vem daí, vamos brindar Toda a noite sem parar Vamos dançar até cair
A dança, segredo Do sexto sentido Que a dança do medo Foi tempo perdido
Esta noite canto o fado No curral da Mouraria Entre o Beco do Malvado E o Pátio da Alegria
Vamos todos festejar A vontade de sonhar Já que pouco mais nos resta Quantas mágoas por cantar Quantas penas por chorar Por isso dança até cair
A dança, segredo Do sexto sentido Que a dança do medo Foi tempo perdido
Esta noite há uma festa No curral da Mouraria
Vamos todos festejar A vontade de sonhar Já que pouco mais nos resta Quantas mágoas por cantar Quantas penas por chorar Por isso dança até cair
A dança, segredo Do sexto sentido Que a dança do medo Foi tempo perdido
Esta noite há uma festa Há-de ser até ser dia
Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão) Música: Rui Filipe Reis Intérprete: Rosa Negra (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)
Foi na Travessa da Palha
Foi na Travessa da Palha Que o meu amante, um canalha, Fez sangrar meu coração: Trazendo ao lado outra amante Vinha a gingar petulante Em ar de provocação. Trazendo ao lado outra amante Vinha a gingar petulante Em ar de provocação.
Na taberna de friagem Entre muita fadistagem Enfrentei-os sem rancor, Porque a mulher que trazia Com certeza não valia Nem sombra do meu amor. Porque a mulher que trazia Com certeza não valia Nem sombra do meu amor.
A ver quem tinha mais brio Cantámos ao desafio Eu e essa outra qualquer. Deixei-a perder de vista Mostrando ser mais fadista Provando ser mais mulher. Deixei-a perder de vista Mostrando ser mais fadista Provando ser mais mulher.
Foi uma cena vivida De muitas da minha vida Que se não esquecem depois, Só sei que de madrugada Após a cena acabada Voltámos para casa os dois. Só sei que de madrugada Após a cena acabada Voltámos para casa os dois.
Letra: Gabriel de Oliveira Música: Frederico de Brito Intérprete: Lila Downs (in CD “Fados”, EMI, 2007) Versão original: Lucília do Carmo (1958) (in CD “Lucília do Carmo: Biografias do Fado”, EMI-VC, 1998)
Fugiu a Baixa
Fugiu a Baixa, de brinco de pérola ao Chiado Passou de passeio, de risco de alfaiate ao Combro Subiu de navio ao Poço dos Negros pontos, Dos sinais, no seu olhar.
Degrau em degrau, Do bairro da Bica ao café ao alto À proa… num alto, no salto ao Bairro Alto. À proa… num alto, afundaste… do “Titanic” … de Lisboa que há em ti.
Letra e música: Jorge Rivotti Intérprete: Jorge Rivotti Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Lisboa a Sete”, Alain Vachier Music Editions, 2016)
Jorge Rivotti
Julguei que Lisboa era
[ Ao Semáforo um Navio ]
Julguei que Lisboa era Cidade de ter os barcos no rio. Mas… juro! Ao semáforo estava um navio Juro!… Sim. Quase que até batia em mim Vais mas é pensar que eu estou maluco Olha que eu não estou a brincar O gajo do táxi ia batendo Tu não estás a ver-te acreditar
Vi um Navio Amarelo Ali mesmo ao Cais Sodré. Bem por baixo Tinha umas rodas Mais parecidas com… botas sem pés.
Julguei que Lisboa era Cidade de ter os barcos no rio. Mas… juro! Ao semáforo estava um navio Juro!… Sim. Quase que até batia em mim
Vi um Navio Amarelo Ali mesmo ao Cais Sodré. Bem por baixo Tinha umas rodas Mais parecidas com… botas sem pés.
Vi um Navio Amarelo Ali mesmo ao Cais Sodré. Bem por baixo Tinha umas rodas Mais parecidas com… botas sem pés.
Letra e música: Jorge Rivotti Intérprete: Jorge Rivotti Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Lisboa a Sete”, Alain Vachier Music Editions, 2016)
Lisboa, gaiata
Lisboa, gaiata, de chinela no pé, Lisboa, travessa, que linda que ela é!
Lisboa, bailarina, que bailas a cantar, sereia pequenina que nos guarda pelo mar.
1. Lisboa, vem p’ra rua que o Santo António é teu. São Pedro deu-te a lua e o mundo escureceu Comprei-te um manjerico e trago-te um balão. Em casa é que eu não fico ó meu rico São João.
2. Lisboa faz surgir, ai, que milagre aquele!, cantigas a florir num cravo de papel. Nos arcos enfeitados poisaram as estrelas e há anjos debruçados nos telhados das vielas.
Intérprete: Amália Rodrigues
Lisboa, Lisboa
Lisboa, Lisboa Tu és a passagem por mim Lisboa, Lisboa O teu nome ainda nem vi Lisboa, Lisboa Tu és a passagem por mim Lisboa, Lisboa Só me basta que seja assim
Letra e música: Jorge Rivotti Intérprete: Jorge Rivotti Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Lisboa a Sete”, Alain Vachier Music Editions, 2016)
Jorge Rivotti
Lisboa, querida mãezinha
[ Recado a Lisboa ]
Lisboa, querida mãezinha Com o teu xaile traçado Recebe esta carta minha Que te leva o meu recado
Que Deus te ajude, Lisboa A cumprir esta mensagem Dum português que está longe E que anda sempre em viagem
Vai dizer adeus à Graça Que é tão bela, que é tão boa Vai por mim beijar a Estrela E abraçar a Madragoa E mesmo que esteja frio E os barcos fiquem no rio Parados sem navegar Passa por mim no Rossio E leva-lhe o meu olhar
Se for noite de S. João Lá pelas ruas de Alfama Acende o meu coração No fogo da tua chama
Depois, depois leva-o pela cidade Num vaso de manjerico Para ele matar saudade Desta saudade em que fico
Vai dizer adeus à Graça Que é tão bela, que é tão boa Vai por mim beijar a Estrela E abraçar a Madragoa E mesmo que esteja frio E os barcos fiquem no rio Parados sem navegar Passa por mim no Rossio E leva-lhe o meu olhar
Letra: João Villaret Música: Armando da Câmara Rodrigues Intérprete: João Villaret (in “Ontem e Hoje”, Ovação, 1989; CD “João Villaret: O Melhor dos Melhores”, vol. 9, Movieplay, 1994)
Mais um domingo em Lisboa
[ Rosas ]
Mais um domingo em Lisboa E já não tens para onde ir; A solidão não perdoa Quem não consegue dormir.
Ninguém te fala na rua, Ninguém conhece o teu nome; De que te serve a procura Se esta mesma te consome?
Secaram as rosas… Secaram as rosas… Matámos… Matámos as rosas…
«Os dias trazem fantasmas Dos dias todos iguais; Quem anda sempre em viagem Não quer ter coisas a mais.
Empenhei-me tanto, empenhei-me tanto, empenhei-me tanto… Que às vezes inventei que me esquecias. Cantei tanto Que às vezes me pareceu que retribuías.
Mas não aplaudiste??? Eu vi que aplaudiste.
Viste em mim o doce escorpião, O solitário príncipe da melancolia: Belo demais para viver, Frágil demais para morrer.
Se tudo o resto falhar, Podes sempre dizer que te menti; Só espero que estejas bem E se assim for, que assim seja.»
Estás cada vez mais sozinho, «Porventura deprimido; Mesmo quem escolhe o caminho Às vezes anda perdido.»
Secaram as rosas… Secaram as rosas… Matámos as rosas… Morreram as rosas…
Secaram as rosas… Matámos as rosas… Morreram as rosas…
«Mas não aplaudiste???… Eu vi que aplaudiste…»
Secaram as rosas… Matámos as rosas, amor… Vou sentir a tua falta… Vou sentir a tua falta.
Letra: Duarte (Janeiro de 2011) Música: Carlos Manuel Proença e Duarte Intérprete: Duarte com Albano Jerónimo (in CD “Sem Dor Nem Piedade”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2015)
Meio-dia, maré cheia
Lisboa Abençoa
Letra: Joana Alegre Música: Joana Alegre/Maria Ana Bobone Intérprete: Maria Ana Bobone
Menina, em teu peito sinto o Tejo
[ Menina dos Olhos d’Água ]
Menina, em teu peito sinto o Tejo E vontades marinheiras de aproar; Menina, em teus lábios sinto fontes De água doce que corre sem parar.
Menina, em teus olhos vejo espelhos E em teus cabelos nuvens de encantar; E em teu corpo inteiro sinto o feno Rijo e tenro que nem sei explicar.
Se houver alguém que não goste, Não gaste – deixe ficar… Que eu só por mim quero-te tanto, Que não vai haver menina p’ra sobrar!
Aprendi nos “Esteiros” com Soeiro E aprendi na “Fanga” com Redol; Tenho no rio grande um mundo inteiro E sinto o mundo inteiro no teu colo.
Aprendi a amar a madrugada Que desponta em mim quando sorris; És um rio cheio de água levada E dás rumo à fragata que escolhi.
Se houver alguém que não goste, Não gaste – deixe ficar… Que eu só por mim quero-te tanto, Que não vai haver menina p’ra sobrar!
Se houver alguém que não goste, Não gaste – deixe ficar… Que eu só por mim quero-te tanto, Que não vai haver menina p’ra sobrar!
Letra e música: Pedro Barroso Intérprete: Pedro Barroso Versão original: Pedro Barroso (in LP “Cantos da Borda d’Água”, Orfeu/Rádio Triunfo, 1984, reed. Movieplay, 2004; 2CD “Antologia 1982-1990”: CD 2, Movieplay, 2005) Outras versões: Pedro Barroso (in CD “Cantos d’Oxalá”, CD Top, 1996)
Meninos de Momprolé
Meninos de Momprolé Vindos de longe, São Tomé Meninos de Momprolé Meninos de Momprolé De Cabo Verde ou Guiné Meninos de Momprolé
Brincando na beira da estrada Subindo uma rocha, descendo a ramada Correndo p’ra quem lhes abraça P’ra quem lhes dá vida, um mundo de esperança
Cresceram em Lisboa crioula B. Leza, Jamaica, Santos, Cais do Sodré Tito e a Casa da Morna A melhor cachupa, semba, funaná
Meninos de Momprolé Vindos de longe, São Tomé Meninos de Momprolé Meninos de Momprolé De Cabo Verde ou Guiné Meninos de Momprolé
Contando estórias em rimas Ritmos, outras terras, sons Afro-América Mornas, coladeiras, kinzombas Ao fado o destino, saudade de Cesária
Cresceram em Lisboa crioula B. Leza, Jamaica, Santos, Cais do Sodré Tito e a Casa da Morna A melhor cachupa, semba, funaná
Meninos de Momprolé Vindos de longe, São Tomé Meninos de Momprolé Meninos de Momprolé De Cabo Verde ou Guiné Meninos de Momprolé
Lisboa, és a mais crioula… Lisboa… Lisboa, és a mais crioula… Lisboa…
Letra e música: José Francisco Vieira Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Nota: Rocha de Momprolé é uma localidade do concelho de Loulé, junto à estrada (EN 270) que liga a sede do concelho a Boliqueime.
Mim ter ouvido o fada na Severa
[ Marinheiro Americano ]
Mim ter ouvido o fada na Severa Cantada por Alfredo Marceneiro, Mim não perceber nada do que era E só ter apanhado bebedeira. Alfredo ter cantado o bacalhau E tudo ter na boca posto um rolha Mas mim fazer barulha no cançau E levar um camone, aqui no olha,
Ó fada, yes all-right! Lady Maria Alice Ter cantado quatro fadas chatice… Ó fada, yes all-right! Mister Cascais Manuel! No guitarra, Armandinho, very well! Mim gostar muito de ouvir guitarradas E ouvir cantigas a desgraciadas… Ó fada, yes all-right! Mister Alberto Costa No corrido, choradinho, mim gosta.
Lady Leonor Fialho ter cantado Um cantiga no fado corridinho, Toda a gente a chorar ficar magoado Mas mim beber cerveja e beber vinho. Mim chamar o criado por ter sede E logo um fadista a dar chapada Por não ter visto escrito na parede: Silence, que se vai cantar o fada.
Ó fada, yes all-right! Lady Maria Alice Ter cantado quatro fadas chatice… Ó fada, yes all-right! Mister Cascais Manuel! No guitarra, Armandinho, very well! Mim gostar muito de ouvir guitarradas E ouvir cantigas a desgraciadas… Ó fada, yes all-right! Mister Alberto Costa No corrido, choradinho, mim gosta.
Letra: Amadeu do Vale Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” Intérprete: Hermínia Silva (1966) (in CD “O Melhor de Hermínia Silva”, EMI-VC, 1990)
Mora num beco de Alfama
[ Madrugada de Alfama ]
Mora num beco de Alfama e chamam-lhe a Madrugada, e chamam-lhe a Madrugada; mas ela, de tão estouvada, não sabe como se chama nem sabe como se chama.
Mora numa água-furtada que é a mais alta de Alfama a que o sol primeiro inflama quando acorda a Madrugada, quando acorda a Madrugada. Mora numa água-furtada que é a mais alta de Alfama.
Nem mesmo na Madragoa ninguém compete com ela, ninguém compete com ela; que do alto da janela tão cedo beija Lisboa, tão cedo beija Lisboa.
E a sua colcha amarela faz inveja à Madragoa: Madragoa não perdoa que madruguem mais do que ela, que madruguem mais do que ela. E a sua colcha amarela faz inveja à Madragoa.
Mora num beco de Alfama e chamam-lhe a Madrugada, e chamam-lhe a Madrugada; são mastros de luz doirada os ferros da sua cama, os ferros da sua cama.
E a sua colcha amarela a brilhar sobre Lisboa, é como estatua de proa que anuncia a caravela, que anuncia a caravela; a sua colcha amarela a brilhar sobre Lisboa.
E a sua colcha amarela a brilhar sobre Lisboa.
Letra: David Mourão-Ferreira Música: Alain Oulman Intérprete: Amália Rodrigues (in “Com Que Voz”, 1970, reed. EMI-VC, 1988; CD “O Melhor de Amália – Estranha Forma de Vida”, EMI-VC, 1985, reed. 1995)
Nasce o vento da manhã
[ Contigo por Lisboa ]
Nasce o vento da manhã, Fim da tarde calmaria; Nascem lábios de romã Com ardor de meio-dia.
Fico tão dentro de mim Se por ti em mim não estou; Quem me dera ser assim Se não fosse assim que sou! Fico tão dentro de mim Se por ti em mim não estou.
Madrugada pela proa, Pelo mastro livre a vela; As colinas de Lisboa São do vento caravela.
Se não fosse ser assim Como ser como quem sou? Ficas tão dentro de mim Que por ti eu sou quem sou! Se não fosse ser assim Como ser como quem sou?
Nasce o vento da manhã, Fim da tarde calmaria; Nascem lábios de romã Com ardor de meio-dia.
Se não fosse ser assim Como ser como quem sou?
Letra: João Gigante-Ferreira Música: André Teixeira Intérprete: Helena Sarmento Versão original: Helena Sarmento (in CD “Lonjura”, Helena Sarmento, 2018)
Não queiram mal a quem canta
[ Fado Lisboeta ]
Não queiram mal a quem canta Quando uma garganta Em ais se desgarra E a mágoa já não é tanta Se a confessar à guitarra Quem canta sempre se ausenta Da hora cinzenta Da sua amargura Não sente a cruz tão pesada Na longa estrada Da desventura
Eu só entendo o fado Plangente, amargurado À noite a soluçar baixinho Que chega ao coração Num tom magoado Tão frio como as neves do caminho Que chora uma saudade Ou canta a ansiedade De quem tem por amor chorado Dirão que isto é fatal É natural Mas é lisboeta Isto é que é o fado
Oiço guitarras vibrando E vozes cantando Na rua sombria As luzes vão-se apagando A anunciar que é já dia Fecho em silêncio a janela Já se ouvem na viela Rumores de ternura Surge a manhã fresca e calma Só em minha alma É noite escura
Eu só entendo o fado Plangente, amargurado À noite a soluçar baixinho Que chega ao coração Num tom magoado Tão frio como as neves do caminho Que chora uma saudade Ou canta a ansiedade De quem tem por amor chorado Dirão que isto é fatal É natural Mas é lisboeta Isto é que é o fado
Letra: Amadeu do Vale Música: Carlos Dias Intérprete: Amália Rodrigues (1957) (in CD “Fado Amália”, Movieplay, 1998) Outras versões: Maria Ana Bobone (in CD “Meu Nome é Nome de Mar”, Farol, 2006); Raquel Tavares (in CD “Raquel Tavares”, Movieplay, 2006)
Nas ruas de Lisboa
[ Fado Insulano ]
Nas ruas de Lisboa Meu fado insulano Ondas do mar soberano Num compasso de lonjura Meu canto ainda ecoa No cais das descobertas Destas rotas tão incertas Só meu fado ainda perdura Ó saudade, sentimento, solidão O meu fado vagabundo Prisioneiro de um desejo Ó saudade, sentimento, solidão Ondas do mar tão profundo Que querem beijar o Tejo Sonhei que uma ganhoa Cruzava o Bairro Alto Deste inquieto sobressalto Se fez a minha viagem D’Alfama à Madragoa Percorro a tua esteira Vem canoa baleeira Arpoar uma miragem Ó saudade, sentimento, solidão O meu fado vagabundo Prisioneiro de um desejo Ó saudade, sentimento, solidão Ondas do mar tão profundo Que querem beijar o Tejo
Nas vozes de veludo Que a noite insinua Vem rasgar doce falua Meu amargo cancioneiro Lisboa e Tejo e tudo Quimera, desengano Este meu canto profano Há-de ser teu prisioneiro Ó saudade, sentimento, solidão O meu fado vagabundo Prisioneiro de um desejo Ó saudade, sentimento, solidão Ondas do mar tão profundo Que querem beijar o Tejo Ó saudade, sentimento, solidão O meu fado vagabundo Prisioneiro de um desejo Ó saudade, sentimento, solidão Ondas do mar tão profundo Que querem beijar o Tejo
Letra e música: José Medeiros (Ao Gil e à Teresa) Arranjo: José Medeiros, com a colaboração de todos os músicos Intérprete: José Medeiros com Rui Veloso (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 1, Algarpalcos, 2010)
Nasce o dia na cidade
[ Fado da Saudade ]
Nasce o dia na cidade Que me encanta Na minha velha Lisboa De outra vida E com o nó de saudade Na garganta Escuto um fado Que se entoa à despedida
Foi nas tabernas de Alfama Em hora triste Que nasceu esta canção O seu lamento Na memória dos que vão
Letra: Fernando Pinto do Amaral Música: Fado Menor Intérprete: Carlos do Carmo (in CDs “Fados”, EMI, 2007; “À Noite”, TugaLand/Universal, 2007)
No castelo, ponho um cotovelo
[ Lisboa menina e moça ]
No castelo, ponho um cotovelo, em Alfama, descanso o olhar e assim desfaz-se o novelo de azul e mar. À Ribeira encosto a cabeça, a almofada, na cama do Tejo com lençóis bordados à pressa na cambraia de um beijo.
Lisboa menina e moça, menina na luz que meus olhos vêem tão pura. Teus seios são as colinas, varina, pregão que me traz à porta, ternura. Cidade a ponto luz bordada, toalha à beira mar estendida, Lisboa menina e moça, amada, c idade mulher da minha vida.
No Terreiro, eu passo por ti, mas da Graça eu vejo-te nua. Quando um pombo te olha, sorri, És mulher da rua e no Bairro mais Alto do sonho ponho o fado que soube inventar, aguardente de vida e medronho que me faz cantar.
Lisboa menina e moça, menina na luz que meus olhos vêem tão pura. Teus seios são as colinas, varina, pregão que me traz à porta ternura. Cidade a ponto luz bordada, toalha à beira mar estendida, Lisboa menina e moça, amada, cidade mulher da minha vida.
Letra: Ary dos Santos Música: Paulo de Carvalho Intérprete: Carlos do Carmo (in “Uma Canção Para a Europa”, 1976)
https://www.youtube.com/watch?v=cKVrc3htTPE
No centro da Avenida
[ Teresa Torga ]
No centro da Avenida, No cruzamento da rua, Às quatro em ponto, perdida Dançava uma mulher nua.
A gente que via a cena Correu para junto dela No intuito de vesti-la, Mas surge António Capela
Que aproveitando a barbuda Só pensa em fotografá-la. Mulher na democracia Não é biombo de sala.
Dizem que se chama Teresa, Seu nome é Teresa Torga; Muda o ‘pick-up’ em Benfica E atura a malta da borga.
Aluga quartos de casa Mas já foi primeira estrela; Agora é modelo à força, Que o diga António Capela.
T’resa Torga, T’resa Torga Vencida numa fornalha! Não há bandeira sem luta, Não há luta sem batalha!
T’resa Torga, T’resa Torga Vencida numa fornalha! Não há bandeira sem luta, Não há luta sem batalha!
Letra e música: José Afonso Arranjo: Paulo Loureiro e José Salgueiro Intérprete: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017) Versão original: José Afonso (in LP “Com as Minhas Tamanquinhas”, Orfeu, 1976, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art’Orfeu Media, 2012)
José Afonso, Com as minhas tamanquinhas
No Chiado à tardinha
[ Leitaria Garrett ]
No Chiado à tardinha, às vezes, Sorridentes vão de mão na mão, Bons rapazes, são bons portugueses Ai madame a sua indigestão
Ideal das empregaditas A finória vai um figurino Tão carcaça, veste muitas chitas Diz olé! Pró Montefiorino
Leitaria Garrett dá cá o pé Ai tira a mão, João, Da coxa doce, Já está, antes não fosse… O Saricoté, foi parar à Marques Lá prás Belas-Artes…
Assim mesmo á que é! (Diz o progresso) Chá com torradas, João, P’ra onde é que eu vou, Já fui, mas já não sou Linda mocidade, foi-se o Sol embora, Fica-me a Saudade…
Letra e música: Vitorino Intérprete: Vitorino (in “Leitaria Garrett”, EMI-VC, 1984, reed. 1993)
Noutro tempo a fidalguia
[ Embuçado ]
Noutro tempo a fidalguia Que deu brado nas toiradas Andava p’la Mouraria Onde muito falar se ouvia Dos cantos e guitarradas
A história que eu vou contar Contou-me certa velhinha Certa vez que eu fui cantar Ao salão de um titular Lá para o paço da rainha
E nesses salão doirado De ambiente nobre e sério Para ouvir cantar o Fado Ia sempre um Embuçado Personagem de mistério.
Mas certa noite houve alguém Que lhe disse, erguendo a fala: – Embuçado, nota bem: Que hoje não fique ninguém Embuçado nesta sala!
Perante a admiração geral Descobriu-se o Embuçado Era El-Rei de Portugal Houve beija-mão real E depois cantou-se o Fado.
Letra e música: João Ferreira Rosa Intérprete: João Ferreira Rosa (in CD “Biografia do Fado”, EMI-VC, 1994)
O Amarelo da Carris
O Amarelo da Carris vai de Alfama à Mouraria, quem diria! Vai da Baixa ao Bairro Alto, trepa à Graça em sobressalto, sem saber geografia.
O Amarelo da Carris já teve um avô outrora, que era o “chora”. Teve um pai americano, foi inglês por muito ano, só é português agora!
Entram magalas, costureiras; descem senhoras petulantes, entre a verdade, os beliscos e as peneiras, fica tudo como dantes.
Quero um de quinze p’rá Pampulha, já é mais caro este transporte; e qualquer dia mudo a agulha porque a vida está pela hora da morte!
O Amarelo da Carris tem misérias à socapa que ele tapa. Tinha bancos de palhinha, hoje tem cabelos brancos, e os bancos são de napa.
No amarelo da Carris já não há “pode seguir” para se ouvir. Hoje o pó que o faz andar é o pó do lava-lar com que ele se foi cobrir.
Quando um rapaz empurra um velho, ou se machuca uma criança, então a gente vê ao espelho o atropelo e a ganância que nos cansa.
E quando a malta fica à espera, é que percebe como é: passa à pendura o pendura que não paga e não quer andar a pé.
O Amarelo da Carris já teve um avô outrora, que era o “chora”. Teve um pai americano, foi inglês por muito ano, só é português agora!
Quando um rapaz empurra um velho, ou se machuca uma criança, então a gente vê ao espelho o atropelo e a ganância que nos cansa.
Entram magalas, costureiras; descem senhoras petulantes, entre a verdade, os beliscos e as peneiras, fica tudo como dantes.
Letra: José Carlos Ary dos Santos Música: José Luís Tinoco Intérprete: Mariza (in CD “Novo Homem na Cidade”, Universal, 2004) Versão original: Carlos do Carmo (in “Um Homem na Cidade”, Trova, 1977; reed. UPAV, 1991; Philips/Polygram, 1995)
O dia já se fez notar
[ Um Dia de Lisboa ]
O dia já se fez notar O rio acena com neblina Um eléctrico a passar Dá bom-dia em cada esquina Gostei de te ouvir falar Vens de longe, moras cá Tanta rua a palmilhar E os segredos que p’ra aí há
Il y a de l’amour Il y a du glamour Il y a de la joie pour tous les jour Il n’y a que toi Il n’y a que nous Le monde s’est donné Rendez-vous
Lisboa está fantástica, romântica, exótica Lisboa está fantástica, e é tão bom aqui estar Lisboa está fantástica, romântica, exótica Lisboa está fantástica, e é tão bom aqui estar
‘Rasta’, fado e ceviche, A partida adiada O Castelo, a sanduíche Mouraria já esgotada Hostel, saudade e ‘low-cost’ Olha a Bica a fervilhar A Ribeira põe um ‘post’: “Quem quer vir p’ra cá morar?”
Et les amis, et la folie On est bienvenu ici Il fait si beau, Il fait si chaud Quelqu’un ma donné un cadeau
Lisboa está fantástica, romântica, exótica Lisboa está fantástica, e é tão bom aqui estar Lisboa está fantástica, romântica, exótica Lisboa está fantástica, e é tão bom aqui estar
O dia a começar A marca do teu beijo Reflecte na parede Forrada a azulejo Não sei de onde vens Nem vou perguntar Vá lá, faz-me sorrir! Diz-me que vais cá ficar!
Il fait si beau, Il fait si chaud Quelqu’un ma donné un cadeau Et les amis, et la folie On est bienvenu ici
Lisboa está fantástica, romântica, exótica Lisboa está fantástica, e é tão bom aqui estar Lisboa está fantástica, romântica, exótica Lisboa está fantástica, e é tão bom aqui estar
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha* (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa) Versão original: Sebastião Antunes & Quadrilha com Viviane (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
O que tem esta Lisboa?
[ A Sina em Portugal ]
O que tem esta Lisboa? Que beco me enlaça a alma? Os trinados da guitarra ou o frio da noite calma?
Sempre que regresso a casa, não há outra como ela; deixo lá a minha asa pendurada na janela.
A canção de Lisboa: é fado. Amar em português: é fado. A sina em Portugal: é fado, mas cantar sem emoção não é.
Já tentei perceber que chamamento nos cala; O que mais hei-de eu fazer senão arrumar a mala!
Por baixo dum céu azul o que o Tejo dá não tira: sete colinas ao Sul só para dançar um vira.
A canção de Lisboa: é fado. Amar em português: é fado. A sina em Portugal: é fado, mas cantar sem emoção não é.
No bairro já se dorme, com o silêncio da noite; De repente o fado acorda e corta como uma foice.
Sai guitarra e sai viola, “sai da cama, ó manganão!”, vai cantar a Deolinda. Vai mais um fadinho ou não?
A canção de Lisboa: é fado. Amar em português: é fado. A sina em Portugal: é fado, mas cantar sem emoção não é.
A canção de Lisboa: é fado. Amar em português: é fado. A sina em Portugal: é fado, mas cantar sem emoção não é.
A canção de Lisboa: é fado. Amar em português: é fado. A sina em Portugal: é fado, mas cantar sem emoção não é.
Pois é!
Letra e música: José Barros Intérpretes: José Barros & Mimmo Epifani* Versão original: José Barros & Mimmo Epifani (in CD “Mar da Lua”, José Barros/Tradisom, 2015)
Ó rua do Capelão
[ Novo Fado da Severa (Rua do Capelão) ]
Ó rua do Capelão Juncada de rosmaninho Se o meu amor vier cedinho Eu beijo as pedras do chão Que ele pisar no caminho.
Há um degrau no meu leito, Que é feito pra ti somente Amor, mas sobe com jeito Se o meu coração te sente Fica-me aos saltos no peito.
Tenho o destino marcado Desde a hora em que te vi Ó meu cigano adorado Viver abraçada ao fado Morrer abraçada a ti.
Letra: Júlio Dantas Música: Frederico de Freitas Intérprete: Dina Teresa (in filme “A Severa”, de José Leitão de Barros, 1931) Outra versão: Amália Rodrigues (in CD “Abbey Road 1952”, EMI-VC, 1992)
Parava no café
[ Os loucos de Lisboa ]
Parava no café quando eu lá estava Na voz tinha o talento dos pedintes Entre um cigarro e outro lá cravava A bica, ao melhor dos seus ouvintes
As mãos e o olhar da mesma cor Cinzenta como a roupa que trazia Num gesto que podia ser de amor Sorria, e ao partir agradecia
São os loucos de Lisboa Que nos fazem duvidar A Terra gira ao contrário E os rios nascem no mar
Um dia numa sala do quarteto Passou um filme lá do hospital Onde o esquecido filmado no gueto Entrava como artista principal
Comprámos a entrada p’ra sessão Pra ver tal personagem no écran O rosto maltratado era a razão Não aparecer pela manhã
São os loucos de Lisboa Que nos fazem duvidar A Terra gira ao contrário E os rios nascem no mar
Mudámos muita vez de calendário Como o café mudou de freguesia Deixámos de tributo a quem lá pára Um louco a fazer-lhe companhia
E sempre a mesma posse o mesmo olhar De quem não mede os dias que vagueiam Sentado lá continua a cravar Beijinhos às meninas que passeiam.
São os loucos de Lisboa Que nos fazem duvidar A Terra gira ao contrário E os rios nascem no mar
Letra: João Monde Música: João Gil Intérprete: Ala dos Namorados
Quando eu era rapazote
[ Fado do Cacilheiro ]
Quando eu era rapazote, Levei comigo no bote Uma varina atrevida. Manobrei, e gostei dela, E lá me atraquei a ela P’ró resto da minha vida.
Às vezes, numa pessoa, A idade não perdoa, Faz bater o coração! Mas tenho grande vaidade Em viver a mocidade Dentro desta geração!…
Sou marinheiro Deste velho cacilheiro, Dedicado companheiro, Pequeno berço do povo. E navegando… A idade vai chegando… Ai… o cabelo branqueando… Mas o Tejo é sempre novo.
Todos moram numa rua A que chamam sempre sua, Mas eu cá não os invejo: O meu bairro é sobre as águas Que cantam as suas mágoas, E a minha rua é o Tejo.
Certa noite de luar, Vinha eu a navegar E de pé, junto da proa, Eu vi, ou então sonhei, Que os braços do Cristo-Rei Estavam a abraçar Lisboa.
Sou marinheiro Deste velho cacilheiro, Dedicado companheiro, Pequeno berço do povo. E navegando… A idade vai chegando… Ai… o cabelo branqueando… Mas o Tejo é sempre novo.
Letra: Paulo da Fonseca Música: Carlos Dias Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul* (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013) Versão original (“Zé Cacilheiro”): José Viana (revista “Zero, Zero, Zero – Ordem para Matar”, 1966, Teatro Variedades) (in single “Zé Cacilheiro”, A Voz do Dono/EMI, 1966; 2CD “Parque Mayer”: CD 1, EMI-VC, 2003; CD “Para uma História do Fado: Os Fados do Teatro e do Cinema”, col. O Fado do Público, vol. 12, EMI-VC / Corda Seca / Público, 2004; CD “O Melhor de José Viana”, Edições Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2009)
Quis que esta morna quebrasse
[ A Morna de “Nha” Lisboa ]
Quis que esta morna quebrasse Toda a distância do mar Misturando um fado antigo E um tom crioulo a cantar; E a ouro e prata vos digo Que soube bem misturar.
Senti do Castelo o teu Sal, Em Alfama gingaram crioulas; São Vicente em arraial Dançava pela Madragoa. São Vicente em arraial Dançava pela Madragoa.
Quis que esta morna acordasse O meu Cacau da Ribeira E a Varina apregoasse Ao ritmo duma coladeira, E o Tejo ao fundo bailasse Ao teu jeito, “bo manera”.
Chorai, ó guitarras, chorai! Que Alfama da velha Lisboa Sem vergonha, junta vai Com a morna nascida em Lisboa. Sem vergonha, junta vai Com a morna nascida em Lisboa.
Quis que esta morna passasse Aquelas noites das boas E no Bairro Alto cantasse O Tejo e suas canoas; E em voz crioula bordasse O fado de “nha” Lisboa.
Tocai, ó guitarras, tocai! Que o fado crioulo ecoa E as gargantas cantam ai… «Sôdade de “nha” Lisboa». E as gargantas cantam ai… «Sôdade de “nha” Lisboa».
Tocai, ó guitarras, tocai! Que o fado crioulo ecoa E as gargantas cantam ai… «Sôdade de “nha” Lisboa». E as gargantas cantam ai… «Sôdade de “nha” Lisboa».
Tocai, ó guitarras, tocai! Que o fado crioulo ecoa E as gargantas cantam ai… «Sôdade de “nha” Lisboa». E as gargantas cantam ai… «Sôdade de “nha” Lisboa».
Letra: Rogério Oliveira Música: Fernando Pereira Intérprete: Real Companhia Primeira versão de Real Companhia, com Rui Veloso (in CD “Serranias”, Tê, 2013; CD “20 Anos Já Cá Cantam” (compilação), Tê, 2016) Versão original: Lenita Gentil (in CD “Momentos”, Ovação, 2012)
Se uma gaivota viesse
[ Gaivota ]
Se uma gaivota viesse Trazer-me o céu de Lisboa No desenho que fizesse, Nesse céu onde o olhar É uma asa que não voa, Esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração No meu peito bateria, Meu amor, na tua mão, Nessa mão onde cabia Perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro, Dos sete mares andarilho, Fosse, quem sabe, o primeiro A contar-me o que inventasse, Se um olhar de novo brilho No meu olhar se enlaçasse.
Que perfeito coração No meu peito bateria, Meu amor, na tua mão, Nessa mão onde cabia Perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida As aves todas do céu, Me dessem na despedida O teu olhar derradeiro, Esse olhar que era só teu, Amor, que foste o primeiro.
Que perfeito coração Morreria no meu peito, Meu amor, na tua mão, Nessa mão onde perfeito Bateu o meu coração.
Meu amor, na tua mão, Nessa mão onde perfeito Bateu o meu coração.
Letra: Alexandre O’Neill Música: Alain Oulman Intérprete: Paulo de Carvalho (in “Gostar de Ti”, CBS, 1990; “Fados Meus”, BMG Ariola, 1996) Versão original: Amália Rodrigues (in “Fado Português”, Columbia/VC, 1965, reed. EMI-VC, 1992; “O Melhor de Amália – Estranha Forma de Vida”, EMI-VC, 1985, reed. 1995) Outra versão: Carlos do Carmo (in “A Arte e a Música de Carlos do Carmo”, Polygram, 1982)
Sei de um rio
Sei de um rio… Sei de um rio Em que as únicas estrelas, Nele sempre debruçadas, São as luzes da cidade.
Sei de um rio… Sei de um rio Rio onde a própria mentira Tem o sabor da verdade. Sei de um rio…
Meu amor, dá-me os teus lábios! Dá-me os lábios desse rio Que nasceu na minha sede! Mas o sonho continua…
E a minha boca (até quando?) Ao separar-se da tua Vai repetindo e lembrando: “— Sei de um rio… Sei de um rio…”
Meu amor, dá-me os teus lábios! Dá-me os lábios desse rio Que nasceu na minha sede! Mas o sonho continua…
E a minha boca (até quando?) Ao separar-se da tua Vai repetindo e lembrando: “— Sei de um rio… Sei de um rio…”
Sei de um rio… Ai! Até quando?
Letra: Pedro Homem de Mello Música: Alain Oulman Intérprete: Camané Versão original: Camané (in CD “Sempre de Mim”, EMI, 2008; 2CD “Camané: O Melhor 1995-2013 (Edição Especial)”: CD 1, EMI, 2013) Outra versão: Camané (in CD/DVD “Ao Vivo no Coliseu: Sempre de Mim”, EMI, 2009)
Sete colinas
[ Senhora do Tejo ]
Sete colinas, Sete versos de Lisboa, Sete poemas de rimas Nos olhos de uma pessoa.
És a cidade Mais linda que tem o mar; És a Rua da Saudade Que trago no meu olhar.
Tens Madragoa e Alfama E um Castelo de saudade, Que dorme na tua cama Desde a tua mocidade.
Lisboa da Mouraria, Do Bairro Alto velhinho; E é no Jardim da Alegria A Praça do nosso hino.
E ficas tão engraçada Com a Graça lá no alto, Que veste a saia engomada P’ra vir à Baixa num salto.
E a Rua Augusta Emoldurando um navio, Que atravessa a Santa Justa Para vir beijar o Rossio.
É no Terreiro Onde eu passo e me revejo, Neste amor que eu te tenho Senhora, mulher do Tejo.
Tens Madragoa e Alfama E um Castelo de saudade, Que dorme na tua cama Desde a tua mocidade.
Lisboa da Mouraria, Do Bairro Alto velhinho; E é no Jardim da Alegria A Praça do nosso hino.
E ficas tão engraçada Com a Graça lá no alto, Que veste a saia engomada P’ra vir à Baixa num salto.
E ficas tão engraçada Com a Graça lá no alto, Que veste a saia engomada P’ra vir à Baixa num salto.
Letra: José Luís Gordo (inicialmente creditado como Luís Alcaria) Música: José Fontes Rocha Intérprete: Joana Amendoeira (in CD “Amor Mais Perfeito: Tributo a José Fontes Rocha”, CNM, 2012) Versão original: Maria da Fé (in LP “Fados”, Riso & Ritmo, 1978; LP “Meu País, Meu Fado”, Movieplay, 1985, reed. Movieplay, 1991, 2005; CD “Maria da Fé”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 33, Movieplay, 1994; 2CD “Maria da Fé: Nome de Fado: Antologia”: CD 1, Movieplay, 2005) Outra versão de Maria da Fé (in CD/DVD “Maria da Fé: 50 Anos de Carreira: ao Vivo no Coliseu de Lisboa”, Ovação, 2009) Outra versão: OqueStrada (in CD “Tasca Beat: o Sonho Português” (2.ª edição), Sony Music, 2010)
Sonhei contigo Lisboa
[ Minha Lisboa Cidade ]
Intérprete: Teresa Tapadas
Sou o Bairro Alto
[ Marcha do Bairro Alto – 1995 ]
Sou o Bairro Alto E olho sempre de alto P’rás tristezas que Lisboa tem; Sou o Bairro Alto Pronto a dar o salto Para um tempo novo que aí vem; Todo o bom filho sai Conforme os pais que tem: O Fado é meu pai, Lisboa minha mãe, E eles cantando Vão-me preparando Para um tempo novo que aí vem.
Nem quando foi dos terramotos do Marquês, Nem com as maldades que o Fado sempre lhe fez… Do Bairro Alto, cá no alto, eu vi Lisboa a chorar; Deu sempre a volta, pôs-me à solta e ensinou-me a cantar.
O tempo corre, mas a vida continua; Lisboa morre por sair comigo à rua: Fez uma marcha ao meu jeito, Vestiu-me a preceito E cá vou eu a desfilar.
Sou o Bairro Alto E olho sempre de alto P’rás tristezas que Lisboa tem; Porque ela cantando Me foi preparando Para um tempo novo que aí vem; O Fado é meu pai, Lisboa minha mãe, E um bom filho sai Conforme os pais que tem.
Sou o Bairro Alto Pronto a dar o salto Para um tempo novo que aí vem; Nem quando foi seu coração incendiado Ou quando viu o Parque Mayer apagado… Do Bairro Alto, cá no alto, eu vi Lisboa a chorar; Do que era pranto fez um canto e ensinou-me a cantar.
O tempo corre, é a marcha desta vida; Lisboa morre por ver a sua Avenida Cheia de gente tão diferente A ver-me tão contente Por ela abaixo a desfilar.
Sou o Bairro Alto E olho sempre de alto P’rás tristezas que Lisboa tem, Porque ela cantando Me foi preparando Para um tempo novo que aí vem; O Fado é meu pai Lisboa minha mãe, E um bom filho sai Conforme os pais que tem; Sou o Bairro Alto Pronto a dar o salto Para um tempo novo que aí vem.
O tempo corre, mas a vida continua; Lisboa morre por sair comigo à rua: Fez uma marcha ao meu jeito Vestiu-me a preceito E cá vou eu a desfilar.
Sou o Bairro Alto E olho sempre de alto P’rás tristezas que Lisboa tem; Sou o Bairro Alto Pronto a dar o salto Para um tempo novo que aí vem.
Letra e música: José Mário Branco Intérprete: Camané Versão original: Camané (in CD “Pelo Dia Dentro”, EMI-VC, 2001; 2CD “Camané: O Melhor 1995-2013 (Edição Especial)”: CD 1, EMI, 2013) Outra versão: Camané (in DVD “Ao Vivo no S. Luiz”, EMI, 2006)
Tal qual esta Lisboa
[ Lisboa Oxalá ]
Tal qual esta Lisboa, roupa posta à janela, Tal qual esta Lisboa, roxa jacarandá, Sei de uma outra Lisboa, de avental e chinela, Ai Lisboa fadista de Alfama e oxalá.
Lisboa lisboeta da noite mais escura De ruas feitas sombra, de noites e vielas, Pisa o chão, pisa a pedra, pisa a vida que é dura, Lisboa tão sozinha, de becos e ruelas.
Mas o rosto que espreita por detrás da cortina É o rosto de outrora feito amor, feito agora. Riso de maré viva numa boca ladina Riso de maré cheia num beijo que demora.
E neste fado o deixo esquecido aqui ficar Lisboa sem destino que o fado fez cantar, Cidade marinheira sem ter de navegar Caravela da noite que um dia vai chegar.
Letra: Nuno Júdice Música: Joaquim Campos (Fado Alexandrino) Intérprete: Carlos do Carmo (in CD “À Noite”, Universal/Tugaland, 2007)
Tens a mania de usar
[ Gaiata dos Beijos Doces ]
Tens a mania de usar Rosas presas no cabelo; Já tentei não te ligar Mas acabo por fazê-lo.
As rosas ficam-te bem, Não tenho dúvida alguma; Posso garantir, porém, Que não te dou mais nenhuma.
Que não te dou mais nenhuma; Posso garantir, porém, Que não te dou mais nenhuma, Não tenho dúvida alguma.
Atropelamento e fuga Sem quaisquer danos visíveis: Gaiata dos beijos doces E das noites impossíveis.
Tens a mania de andar Num baloiço emocional: Tu pedes para empurrar E dizes que empurro mal.
És confusão instalada, Nevoeiro no caminho: Eu chego de madrugada E durmo sempre sozinho.
E durmo sempre sozinho; Eu chego de madrugada E durmo sempre sozinho, E durmo sempre sozinho.
Atropelamento e fuga Sem quaisquer danos visíveis: Gaiata dos beijos doces E das noites impossíveis.
Atropelamento e fuga Sem quaisquer danos visíveis: Gaiata dos beijos doces E das noites impossíveis.
Letra: Duarte (Fevereiro de 2011) Música: Tozé Brito Intérprete: Duarte (in CD “Sem Dor Nem Piedade”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2015)
Toda a saudade é fingida
[ Covers ]
Toda a saudade é fingida: A tristeza disfarçada; Parecem já não ter vida, De fado não têm nada.
Já não são fados, são ‘covers’: Imitações desalmadas, Reproduções do destino Tantas vezes tão cantadas.
Esses que tentam viver Aquilo que outros viveram Acabam por se perder No tanto que não fizeram.
Vampiragem pós-moderna Da Lisboa dos turistas: Falam da velha taberna Mas querem ser futuristas.
Letra: Duarte Música: João do Carmo Noronha (Fado Pechincha) Intérprete: Duarte (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Trago um fado no meu canto
[ Meu Fado Meu ]
Trago um fado no meu canto Canto a noite até ser dia Do meu povo trago o pranto Do meu canto a Mouraria
Tenho saudades de mim Do meu amor mais amado Eu canto um país sem fim O mar, terra, meu fado Meu fado, meu fado, meu fado
De mim só me falto eu Senhora da minha vida Do sonho digo que é meu E dou por mim já nascida
Trago um fado no meu canto Na minha alma bem guardado Bem por dentro do meu espanto À procura do meu fado Meu fado, meu fado, meu fado
Letra e música: Paulo de Carvalho Intérprete: Mariza & Miguel Poveda* (in CD “Fados”, EMI, 2007) Versão original: Mariza (in CD “Transparente”, EMI, 2005)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/03/joana-amendoeira.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 00:08:122025-06-09 17:59:03Canções sobre Lisboa
Colmeias, Laços de aço forjado, Um suor doce-salgado Do rio que abraça o mar…
Na tempestade e na bonança, Onde navega a esperança, Rouco, o vento esforça a voz: Ânsias de chegar… de chegar à foz.
Inocentes moinhos de maré. Complacentes as casas alinhadas, Escuras, esfumadas; Prostradas à chaminé, Sentinela de obreiras exploradas… Noite e dia.
Outro tempo o dos Camarros, Que eram senhores do rio. E o pescado bem regado Com Bastardinho do Lavradio.
O vento arrasta o manto sufocante, Avista-se Seixal e Almada. Sente-se o cheiro da madrugada E o sabor da brisa siflante, Que acaricia a vela de um varino.
Lá em cima é a mina, Diz a douta menina. O Cristo é Rei e o burgo cresce. Vai de Cacilhas a burricada, Passa em Almada, cidade bela; Na Piedade espero por ela.
Que torrente de sentidos! Respiro na maré cheia. Nos meus sonhos proibidos, Na Caparica pesco a sereia.
Letra e música: Álvaro M. B. Amaro Intérprete: Dialecto Versão original: Dialecto (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)
Cristo Rei
De varino ou de falua
[ Beira-Tejo ]
De varino ou de falua, Vou da Moita a Alcochete Abraçar teus braços de água, Ver as Festas do Barrete.
Rio fadado, quantos laços Um cordão umbilical! Teus beijos aprisionados Em marinhas de sal.
Quantas canastras passaram Pelos braços extenuados, Na faina dos salineiros Que na Festa são forcados?!
Moita, Montijo, Alcochete, A faena é querida: O sangue pulsa nas veias, Vermelho na investida.
Tanta terra, tanto mar! Tanta história p’ra contar!
Estórias, estórias De Festa rija, De campos loiros, carícias, Moças, papoilas, conquistas.
Tanta terra e tanto mar! Tanta terra e tanto mar! Tanta terra e tanto mar! Tanta terra e tanto mar! Tanta terra!…
Letra e música: Álvaro M. B. Amaro Intérprete: Dialecto* Versão original: Dialecto (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos.
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António José Ferreira 962 942 759
Desembarquei numa Angra de saudade
[ Terceira Meu Fado ]
Intérprete: Fadoalado
Indo eu caminho abaixo
[ Amphiguris ]
Indo eu caminho abaixo, Por um caminho que não vi, Encontrei a minha cabra, Cabra que não era minha. Vi pereiras com maçãs, Subi, colhi avelãs, Veio o dono das romãs: Que lhe importam estas uvas Qu’estão em faval alheio?
N’esta idade qu’inda tenho, Ninguém viu mais do que eu, Vi até entre uma hora, A cidade de Viseu. Vi a torre de Almeirim, Lutar com uma formiga, Qual de baixo, qual de riba, Fez-lhe sangue na barriga;
Acolheu-se a uma toca De lá veio uma minhoca. Sete porcos vi na eira, Debulhar um calcadoiro, Tudo isto eu vi jogar, E mai-lo jogo do toiro. Também vinha na companha Uma loba a pedir p’ra presos, Com sete sacas de novelos, Nas ancas de um carrapato, Também no caminho vi, Um pisco a vender tabaco.
Letra: Popular (Algarve) Música: Amélia Muge Intérprete: Amélia Muge (in CD “Taco a Taco”, Polygram, 1998)
Já que aqui estou
[ Viva Quem Canta ]
Já que aqui estou Vou-lhes agora contar De mil pessoas feitos vida Desta vida atribulada Desta vida de cantar
Se sobrar peito Depois de mil melodias Depois de tantas palavras Tantas terras tantas estradas Tantas noites tantos dias
Viva quem canta Que quem canta é quem diz Quem diz o que vai no peito No peito vai-me um país
No Algarve mandei baile Toquei adufes na Beira Em Trás-os-Montes aprendi A bombar como um Zé Pereira
Mundo fora dei abraços Nos Açores e na Madeira Deixei amigos do peito E em casa cantei na eira
Viva quem canta Que quem canta é quem diz Quem diz o que vai no peito No peito vai-me um país
Trago nos dedos malhões Toquei rondas de caminho No Douro aprendi janeiras Dancei as chulas no Minho
No Alentejo fica o peito Da planície de cantar No fado colhi o jeito De um país por inventar
Viva quem canta Que quem canta é quem diz Quem diz o que vai no peito No peito vai-me um país
Cantei no alto de um monte Num tractor ou num celeiro Para vinte ou vinte mil E das palavras fiz viveiro
Para quem canta por cantar Pouco mais se pediria Mas quem canta para sentir Para explicar-se e para ser Pensem só quanto haveria Ainda por dizer
Letra e música: Pedro Barroso Intérprete: Pedro Barroso (in “Do Lado de Cá de Mim”, Rádio Triunfo, 1983; reed. Movieplay, 2003; CD “Cantos d’Oxalá”, CD Top, 1996)
Minha terra não tem rios
[ Quadras dum Dia Sozinho ]
Minha terra não tem rios, Minha terra não tem mar; Mas todos os meus vazios Vão à minha terra dar.
Meu amor nunca lá foi, Meu amor nunca me quis; Eu vivo do que não foi Com tudo o mais que não fiz.
Indiferença no sentir, À-vontade no calar… Acredito que há-de vir No dia em que não vou estar.
Minha terra não tem rios, Minha terra não tem mar; Vão-se embora os meus vazios Quando o meu amor chegar.
«Minha terra não tem rios, Minha terra não tem mar; Mas todos os meus vazios Vão à minha terra dar.
Meu amor nunca lá foi, Meu amor nunca me quis; Eu vivo do que não foi Com tudo o mais que não fiz.
Indiferença no sentir, À-vontade no calar… Acredito que há-de vir No dia em que não vou estar.
Minha terra não tem rios, Minha terra não tem mar; Vão-se embora os meus vazios Quando o meu amor chegar.»
Meu amor nunca lá foi, Meu amor nunca me quis; Eu vivo do que não foi Com tudo o mais que não fiz.
Letra: Duarte (Março de 2011) Música: Carlos Manuel Proença e Duarte Intérprete: Duarte* com Albano Jerónimo (in CD “Sem Dor Nem Piedade”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2015)
No sonho se mede o encanto
[ Todavia Eu Sou Pastor ]
No sonho se mede o encanto que me dá esta alegria a saudade só me chama quando a noite se faz dia
As estrelas já eu sei que são luzes pequeninas como os ciganos que cantam dia e noite as suas sinas
Tenho o nome de uma pedra sou cascalho e vivo só passei toda a mocidade em casa de minha avó
Tinha fruta no quintal duas videiras verdosas um eucalipto crescido ao pé dum vaso de rosas
Bebi água em muitas fontes e vi estrelas lá no céu todavia eu sou pastor dum gado que não é meu
Sonhei guitarras e guizos ouvi poetas nas vendas cantando a vida dos pobres com os seus vícios e lendas
Comi uvas, bebi vinho vi lagartos e lebrões andei com velhos malteses assassinos e ladrões
Dormi a sesta nos montes levei porcos ao Barreiro andei nas feiras guardando o meu gado o ano inteiro
Lá nas moitas aprendi a ser aquilo que sou um camponês que não pensa nas coisas que já pensou
Da macela faço o chá e da esteva faço a cama a hortelã tira o sarro aos frutos verdes sem rama
Agarro a névoa aqui perto nas margens duma ribeira é na saudade que sinto que mato a minha canseira
Montei cavalos de Alter vi galgos de Montemor saltei valados e rios e compus versos de amor
É na lonjura que eu gozo o vento que vem do céu todavia eu sou pastor dum gado que não é meu
Poema: Antunes da Silva Música: Paco Bandeira Intérprete: Paco Bandeira (in LP “Todavia Eu Sou Pastor”, Decca/Valentim de Carvalho, 1975; CD “O Melhor de Paco Bandeira”, EMI-VC, 1989; CD “O Melhor de Paco Bandeira”, Valentim de Carvalho/Iplay, 2008) [? YouTube] Outra versão de Paco Bandeira (in CD “Uma Vida de Canções”, Farol Música, 2006)
Ó Coimbra do Mondego
[ Saudades de Coimbra ]
Letra: António de Sousa Música: Mário Faria Fonseca Intérprete: Edmundo de Bettencourt (in CD “Fados e baladas de Coimbra: Para Uma História do Fado”, EMI-VC/Corda Seca/Público, 2004) Outra versão: José Afonso (in “Fados de Coimbra e Outras Canções”, Orfeu, 1981, reed. Movieplay, 1987)
Ó Coimbra do Mondego E dos amores que eu lá tive Quem te não viu anda cego Quem te não ama não vive
Do Choupal até à Lapa Foi Coimbra os meus amores A sombra da minha capa Deu no chão, abriu em flor
Roendo uma laranja na falésia
[ Porto Covo ]
Letra: Carlos Tê Música: Rui Veloso Intérprete: Rui Veloso (in “Rui Veloso”, EMI-VC, 1986)
Roendo uma laranja na falésia Olhando o mundo azul à minha frente, Ouvindo um rouxinol nas redondezas, No calmo improviso do poente
Em baixo fogos trémulos nas tendas Ao largo as águas brilham como prata E a brisa vai contando velhas lendas De portos e baías de piratas
Havia um pessegueiro na ilha Plantado por um vizir de Odemira Que dizem que por amor se matou novo Aqui, no lugar de Porto Covo
A lua já desceu sobre esta paz E reina sobre todo este luzeiro À volta toda a vida se compraz Enquanto um sargo assa no brazeiro
Ao longe a cidadela de um navio Acende-se no mar como um desejo Por trás de mim o bafo do destino Devolve-me à lembrança do Alentejo
Havia um pessegueiro na ilha Plantado por um vizir de Odemira Que dizem que por amor se matou novo Aqui, no lugar de Porto Covo
Roendo uma laranja na falésia Olhando à minha frente o azul escuro Podia ser um peixe na maré Nadando sem passado nem futuro
Havia um pessegueiro na ilha Plantado por um vizir de Odemira Que dizem que por amor se matou novo Aqui, no lugar de Porto Covo
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/sobreiro-foto-guizel-j_portugal.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 00:04:252024-11-13 04:05:22Canções sobre Terras de Portugal
Ainda trago um gosto a trigo atrás de mim Que se me agarrou à alma ao nascer Sou como um carreiro longe de ter fim Como quem ceifou searas sem saber
Sou lá de onde ninguém fala das marés De onde o horizonte queima o olhar Por paixão ainda trago a arder nos pés O calor de uma seara por cortar
Já cantei desde a nascente até à hora do sol-pôr Já naveguei nas ribeiras ao luar Ai Alentejo quem te amou não te esqueceu E ainda se ouvem os teus ecos nas cantilenas do sol
O sol deu-me histórias velhas p’ra contar Que eu guardei de manhãzinha ao pé dum rio Em Janeiro roubei mantas ao luar E a um pastor roubei um tarro e um assobio
Já corri atrás dos corvos Já me escondi nos trigais Ouvi rolas nos sobreiros a arrulhar Ai Alentejo quem te amou não te esqueceu E ainda se ouvem os teus ecos cada vez que a lua cai
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes com Pedro Mestre (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017)
As pedras contam segredos
[ Mértola ]
As pedras contam segredos do rio e guardam lembranças do mar O sul traz a alma e a cor do Estio que a calma demora a espalhar A terra descobre tesouros que o vento nos vai contando devagar Mértola ai que tens tanto p’ra contar
Irmã das areias que o tempo guardou na terra onde dorme o calor Destino de moura que o sol coroou e dizem que foi por amor Se o Pulo do Lobo te leva pró sul desertos de cobre a ferver Mértola ai que tens tanto p’ra dizer
Pelo canto da tarde nas tardes do canto o encanto do sol a abalar Um deus ainda espreita p’la curva do rio que eu bem sei Mértola ai, Mértola ai
A noite é uma história das arcas do tempo e nem dá p’lo mundo a rodar O pio da coruja descansa no vento Invernos por adivinhar A vida tem gosto de mel e medronho caiada de paz e vagar Mértola ai que tens tanto p’ra contar
Segredos do mundo guardados no trigo, eterna vontade a florir Museu de mistérios, terreiro de abrigo, vontade de nunca partir Serás alma gémea das terras do sul, o sul diz que sim a sorrir Mértola ai que tens tanto p’ra sentir
Pelo canto da tarde nas tardes do canto o encanto do sol a abalar Um deus ainda espreita p’la curva do rio que eu bem sei Mértola ai, Mértola ai
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Quadrilha com a participação de Janita Salomé (in CD “A Cor da Vontade”, Vachier & Associados, 2003)
Reciclanda
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Às vezes me ponho eu
[ A Vila de Castro Verde ]
Cantiga primeira:
Às vezes me ponho eu Na minha vida a pensar: Quem eu era, quem eu sou, Ao que eu havia chegar!
Moda:
A vila de Castro Verde És uma estrela brilhante: Como ela outra não há, És a mesma que eras dantes.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006) Outras versões: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Castro Verde É Nossa Terra”, Valentim de Carvalho, 1975); Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997)
Castro Verde, Casa da Dona Maria
Caminhos do Alentejo
Caminhos do Alentejo. Terra bravia de fomes com piteiras aceradas como pontas de navalhas em esperas de encruzilhadas! Caminhos do Alentejo. Desde valados e sebes, searas, vilas, aldeias e chuvas e descampados — caminhos do Alentejo desde menino vos piso!
Caminhos do Alentejo. Desde valados e sebes, searas, vilas, aldeias e chuvas e descampados — caminhos do Alentejo desde menino vos piso!
Caminhos do Alentejo Poema: Manuel da Fonseca (excerto inicial da parte I de “Para um poema a Florbela”) Música: Paulo Ribeiro Intérprete: Paulo Ribeiro com Vitorino (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)
Castelo de Beja
Para um poema a Florbela
Manuel da Fonseca, in “Planície”, Coimbra: Novo cancioneiro, 1941; “Poemas Completos”, Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1958; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 2.ª edição, Lisboa: Portugália Editora, 1963 – p. 119-133; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 129-140
I
Caminhos do Alentejo. Terra bravia de fomes com piteiras aceradas como pontas de navalhas em esperas de encruzilhadas! Caminhos do Alentejo. Desde valados e sebes, searas, vilas, aldeias e chuvas e descampados (sem manta de me abrigar, ai, sem Maria Campaniça!…) — caminhos do Alentejo, desde menino vos piso!
Charneca de vida a vida tolhida de solidão; névoa da água dos olhos… Rude coração pesado do coro de ganhões perdidos na sombra que cai do céu. Ladrões a comerem estradas entre cavalos da guarda para a cadeia das vilas. Bebedeira de malteses desgraçados e terríveis gritando facas de mola! Caminhos do Alentejo, desde menino vos piso no meu caminho pra Beja!
Que Beja tem um Castelo, mirante do Alentejo: — quando a gente olha de longe vê Florbela na torre alta, esguia como quem era! Que da torre alta de Beja os olhos de Florbela, tão rasgados de lonjuras, vagueiam nos horizontes — como dois verdes faróis dos passos do meu caminho! Que a noite não é a noite tombando na planície: — é da torre alta de Beja os cabelos de Florbela destrançados sobre o mundo! Que a manhã não é manhã iluminando a charneca: — é da torre alta de Beja os olhos de Florbela abrindo-se, devagar!…
Ó navalhas de malteses, coro de ganhões perdidos, emboscadas de ladrões, ó urzes, cardos, esteveiras, terra bravia de fomes, caminhos do Alentejo — deixai-me passar em frente! Que na torre alta de Beja Florbela grita o meu nome Sorrindo para os meus olhos!… Sorrindo para os meus olhos com os seios tão redondos como duas rosas cheias!
II
Florbela não foi à monda nem às searas ceifar.
Nasceu senhora da vila: — nunca as suas mãos esguias colheram as azeitonas nos galhos das oliveiras.
Mas ela sabia tudo que há no coração da gente: — ouviu a gente cantar.
Desde menina cresceu ouvindo a gente cantar em ranchos, pelos montados, quando a noite vai subindo!…
III
Florbela às vezes descia às casas ricas da vila. Falava de tal maneira que ninguém a entendia nas casas ricas da vila.
Senhora na sua terra, sua terra abandonou…: — porque lá ninguém a queria…
Senhora numa cidade. Florbela as vezes descia às casas dos lavradores. Falava (como tu cantas ó Maria Campaniça!…) falava… — quem a entendia nas casas dos lavradores?!… Senhora numa cidade, a cidade abandonou…: — porque lá ninguém a queria…
IV
… Jogou-se às estradas da vida, caminhos do Alentejo, esbanjando braçados cheios da grande vida que tinha!
E os campaniços leais que bem a compreendiam! Raparigas de olhos pretos o modo como a olhavam! Maiores de largo gado ínvios atalhos desciam até às estradas reais. Moinhos presos nos cerros, velas pelo céu giravam; nos longes do descampado ardem queimadas vermelhas!…
E Florbela, de negro, esguia como quem era, seus longos braços abria esbanjando braçados cheios da grande vida que tinha!
V
Quando o vento leva o Sol, apaga a Lua e as estrelas e grita pelos pinhais; junto a brasas esquecidas — das esperas de ladrões pelas noites desgraçadas, carreiro da negra sina as mortes que te contava!… E o porcariço, menino solitário no montado, estremecendo em teu peito que apaixonado terror toda a noite o acordava!… Pobre cavador de enxada na dura terra sem fim… da fome da sua casa que lágrimas te chorava!… Maltês de correr o mundo, tão rasgado e tão senhor, da sua vida de sol linda manhã te ofertava!… E as camponesas, em coro pelas searas e olivais, um hino feito de mágoas em tua glória cantavam!…
VI
… Té que um dia, cansada de tanta vida dar, Florbela adormeceu antes da noite vir.
Ora foi que passava a nossa boa mãe Senhora Dona Morte. E vendo aquela moça caída a meio da estrada, com ternura a ergueu.
— Que alta e formosa Florbela era!
Ceifeiros que a viram passar junto à seara, a seara deixaram! Cavadores, nos cerros prà terra dobrados, os bustos ergueram descendo as encostas. Malteses sem rumo na estrada pararam. E as moças dos montes, que em casa lidavam, abriram postigos, de olhos deslumbrados!…
VII
… Ceifeiros sentiram que estavam bebendo água fria da fonte;
cavadores pensaram que tinham herdado a grande courela;
malteses juraram haver descoberto uma Estrada Nova!;
e as moças dos montes tremeram de espanto como se na noite um homem viesse tocar-lhes nos peitos!…
E Florbela passando parecia levada na vela da saia!…
VIII
… A cidade onde viveu seus olhos não a olharam: porque lá inda a não querem… Porque lá ninguém a quis, os seus olhos se voltaram da vila onde nasceu…
Senhora — como quem era!, alto Castelo de Beja para morada escolheu.
IX
Veio a noite e a manhã, veio um dia e outro dia: a Lua cresceu, minguou. E agora, na lua nova das negras noites sem fim, Florbela não aparece a ensinar o Caminho!… Florbela não aparece a levar-nos à Courela onde há a fonte e a moça, que são nossas!…, onde há a água e o pão e o amor que prometeu!…
X
Longínquos ecos que ouvi quando acordei noite fora, não eram vozes do vento falando pelas searas:
— eram os rumores dos gestos de Florbela despertando.
Sombra que surpreendi quando meus olhos voltei, não era sombra da árvore fugidia pelo chão:
— era Florbela errando inquieta ao meio do montado.
O calor que vem da terra ondulando como asas de subtilíssima chama, não é do lume do Sol:
— é cio que treme, solto dos alvos seios de Florbela.
A calma que cai do céu quando a noite principia e eu tombo de cansado faminto de a procurar, não é frescura da noite:
— é a mão de Florbela tocando na minha fronte.
Eis a página em branco
[ Utopia ]
Eis a página em branco do país azul Alentejo é a última utopia todas as aves partem para o sul todas as aves: como a poesia.
Poema: Manuel Alegre Música: Janita Salomé Intérprete: Janita Salomé (in CD “Raiano”, Farol, 1994)
Fui hoje ao Alentejo
Fui hoje ao Alentejo e vi paisagens De fome, de secura e desalento Nenhuma alma dali sonha as viagens Que ao brilho de um sol doiro faz o vento De fome, de secura e desalento
Meu Deus que gente é esta, que degredo Vive este povo ao Sul que nada clama Há rugas de azinheiras nos seus dedos Mas não há nossas senhoras sobre a rama Deste meu povo ao Sul que nada clama
Olhem que céu azul Com nuvens de poejo Que veio morar aqui no Alentejo Enxada a querer tirar do coração A terra onde me sofro e me revejo Malteses meus irmãos Baixem-me o Sol de Agosto Venham cantar-me modas ao Sol-Posto A este povo honesto é que eu pertenço A este mar de orgulho de amor imenso
Fui hoje ao Alentejo e vim chorando Eu que sou feita em pedra da mais dura Meu povo, minha esperança em fogo brando Quando é que fazes tua a tua altura Quando é que fazes tua a tua altura
Fui hoje ao Alentejo e percebi Porque é que de Além-Tejo és só o nome Porque é que há tantos deuses por aí Enquanto tanta gente aqui tem fome Porque é que de Além-Tejo és só o nome
Letra: Eduardo Olímpio Música: Paco Bandeira Intérprete: Margarida Bessa (in CD “Entre Cantos”) Versão original: Luísa Basto (in CD “Alentejo”, C. M. Serpa, 199?)
Em minarete
[ Rondel do Alentejo ]
Em minarete mate bate leve verde neve minuete de luar.
Meia-noite do Segredo no penedo duma noite de luar.
Olhos caros de Morgada enfeitada com preparos de luar.
Em minarete mate bate leve verde neve minuete de luar.
Rompem fogo pandeiretas morenitas, bailam tetas e bonitas, bailam chitas e jaquetas, são as fitas desafogo de luar.
Voa o xaile andorinha pelo baile, e a vida doentinha e a ermida ao luar.
Laçarote escarlate de cocote alegria de Maria la-ri-rate em folia de luar.
Em minarete mate bate leve verde neve minuete de luar.
Giram pés giram passos girassóis e os bonés, e os braços destes dois giram laços ao luar.
O colete desta Virgem endoidece como o S do foguete em vertigem de luar.
Em minarete mate bate leve verde neve minuete de luar.
Rompem fogo pandeiretas morenitas, bailam tetas e bonitas, bailam chitas e jaquetas, são as fitas desafogo de luar.
Voa o xaile andorinha pelo baile, e a vida doentinha e a ermida ao luar.
Laçarote escarlate de cocote alegria de Maria la-ri-rate em folia de luar.
Em minarete mate bate leve verde neve minuete de luar.
Giram pés giram passos girassóis e os bonés, e os braços destes dois giram laços ao luar.
O colete desta Virgem endoidece como o S do foguete em vertigem de luar.
Em minarete mate bate leve verde neve minuete de luar.
Poema: Almada Negreiros (adaptado) Música: Afonso Dias Intérprete: Vá-de-Viró com Afonso Dias (in CD “Por Aí…”, Música XXI – Associação Cultural, 2013) Versão original: Afonso Dias (in CD “Olhar de Pássaro”, Concertante, 2000)
Eu ia não sei p’ra onde
[ Pelo Toque da Viola ]
Eu ia não sei p’ra onde, Encontrei não sei quem era: Encontrei o mês de Abril Procurando a Primavera.
[ Moda: ]
Pelo toque da viola Já sei as horas que são: Inda não é meia-noite, Já passei um bom serão.
Já passei um bom serão, Vai dormir, vai descansar! Vai dormir, vai descansar, Amor da minh’afeição!
[ Cantiga segunda: ]
É alegre, sonhadora A canção alentejana: Cantada ao romper de aurora Nas margens do Guadiana.
[ Moda: ]
Pelo toque da viola Já sei as horas que são: Inda não é meia-noite, Já passei um bom serão.
Já passei um bom serão, Vai dormir, vai descansar! Vai dormir, vai descansar, Amor da minh’afeição!
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Há lobos sem ser na serra
Cantiga primeira:
Por eu ser alentejano, Alguém me chamou ladrão; Foi o que eu nunca chamei A quem me roubava o pão.
Moda:
Há lobos sem ser na serra, Eu ainda não sabia… Debaixo do arvoredo Trabalham com valentia.
Trabalham com valentia Cada um na sua arte; Eu ainda não sabia: Há lobos em toda parte.
Cantiga segunda:
Maldita sociedade, Estás tão mal organizada: Quem não trabalha tem tudo, Quem trabalha não tem nada!
Moda:
Há lobos sem ser na serra, Eu ainda não sabia… Debaixo do arvoredo Trabalham com valentia.
Trabalham com valentia Cada um na sua arte; Eu ainda não sabia: Há lobos em toda parte.
Há Lobos sem Ser na Serra Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Quando eu oiço os cascavéis
[ Meu Alentejo Querido ]
[ Cantiga primeira: ]
Quando eu oiço os cascavéis Lembra-me a minha parelha, Quando eu era ganhão (Meu lindo Alentejo) Lavrando terra vermelha.
[ Moda: ]
Meu Alentejo querido, Cheio de sol e calor: És meu torrão preferido! (Meu lindo Alentejo) És p’ra mim encantador!
És p’ra mim encantador Embora vivas esquecido; Cheio de sol e calor, (Meu lindo Alentejo) Meu Alentejo querido!
[ Cantiga segunda: ]
Quando me ponho a pensar Fico de alma amargurada: Fico triste quando vejo (Meu lindo Alentejo) Tanta terra abandonada.
[ Moda: ]
Meu Alentejo querido, Cheio de sol e calor: És meu torrão preferido! (Meu lindo Alentejo) És p’ra mim encantador!
És p’ra mim encantador Embora vivas esquecido; Cheio de sol e calor, (Meu lindo Alentejo) Meu Alentejo querido!
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Roendo uma laranja na falésia
[ Porto Covo ]
Roendo uma laranja na falésia Olhando o mundo azul à minha frente, Ouvindo um rouxinol nas redondezas, No calmo improviso do poente
Em baixo fogos trémulos nas tendas Ao largo as águas brilham como prata E a brisa vai contando velhas lendas De portos e baías de piratas
Havia um pessegueiro na ilha Plantado por um vizir de Odemira Que dizem que por amor se matou novo Aqui, no lugar de Porto Covo
A lua já desceu sobre esta paz E reina sobre todo este luzeiro À volta toda a vida se compraz Enquanto um sargo assa no brazeiro
Ao longe a cidadela de um navio Acende-se no mar como um desejo Por trás de mim o bafo do destino Devolve-me à lembrança do Alentejo
Havia um pessegueiro na ilha Plantado por um vizir de Odemira Que dizem que por amor se matou novo Aqui, no lugar de Porto Covo
Roendo uma laranja na falésia Olhando à minha frente o azul escuro Podia ser um peixe na maré Nadando sem passado nem futuro
Havia um pessegueiro na ilha Plantado por um vizir de Odemira Que dizem que por amor se matou novo Aqui, no lugar de Porto Covo
Letra: Carlos Tê Música: Rui Veloso Intérprete: Rui Veloso
Verão
Verão, A brasa dourada e celeste Esvaiu do Sol agreste Doirando mais as espigas; Ceifeiros, corpos curvados Cortando e atando em molhos A bênção loira da vida.
Meu Alentejo, Enquanto isto se processa, O sol ferino e sem pressa Queima mais a tez bronzeada; O suor rasga as camisas, Um homem queimado mais fica, E a vida é feita de brasa.
O calor caustica os corpos, Os ceifeiros vão ceifando Sem parar no seu labor; O seu cantar é dolente, É certo que é boa gente, É verdade e tem mais sol.
Meu Alentejo, Enquanto isto se processa, O sol ferino e sem pressa Queima mais a tez bronzeada; O suor rasga as camisas, Um homem queimado mais fica, E a vida é feita de brasa.
O calor caustica os corpos, Os ceifeiros vão ceifando Sem parar no seu labor; O seu cantar é dolente, É certo que é boa gente, É verdade e tem mais sol.
Meu Alentejo, Enquanto isto se processa, O sol ferino e sem pressa Queima mais a tez bronzeada; O suor rasga as camisas, Um homem queimado mais fica, E a vida é feita de brasa.
Letra e música: Manuel Conde Fialho Intérprete: Grupo Banza / voz solo de António Jacob (in CD “A Açorda Alentejana”, Grupo Banza, 2004; CD “25 Anos”, Grupo Banza, 2006)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/11/alentejo-turismo-do-alentejo.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 00:00:352024-11-02 05:59:51Canções sobre o Alentejo
Nesta terra há um rio antigo de saudade que nos dá vida e sonho e encantamento e a paz que o campo tem e a verdade de quem vive outro sítio, outro momento.
Ter o Tejo aqui, assim, ao pé da porta é um berço de força e de saber. Traz-se ao peito o gosto da paixão enquanto o sol nos fala ao entardecer.
Viver assim é outro modo, outra maneira, outra vida, outro sonho a comandar. Passa o tempo escorregando à minha beira, cantam-se fados à noite para lembrar
E o sol e a gente e o campo e a cidade e a cheia, esse chão de água a cobrir tudo e a alma imensa de um povo sem idade não mudes tu, meu povo, que eu não mudo.
Nesta pátria Ribatejo se ama e canta se dança, se trabalha e se resiste e onde o peito alcance haverá chama ninguém é mais alegre nem mais triste.
E doce e forte e sereno ao mesmo tempo como os cavalos ao longe, ao pôr do sol existe aqui um templo que é eterno na lenda e no feitiço do Almourol.
E o sol e a gente e o campo e a cidade e a cheia, esse chão de água a cobrir tudo e a alma imensa de um povo sem idade não mudes tu, meu povo, que eu não mudo.
Letra e música: Pedro Barroso Intérprete: João Chora (in CDs “João Chora”, 1999; “Ao Vivo na Chamusca”, 2001)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/11/leziria-ribatejana.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:55:522023-05-02 12:30:36Canções sobre o Ribatejo
Ai, ai, ai! O meu amor foi-se embora; Já lá vai com a maré cheia, Já lá vai p’la barra fora.
Ai, ai, ai! O meu amor anda ao mar; Quem tem amor mareante Não tem homem p’ra casar.
Ai, ai, ai! O meu amor foi-se embora; Já lá vai com a maré cheia, Já lá vai p’la barra fora.
Ai, ai, ai! O meu amor anda ao mar; Quem tem amor mareante Não tem homem p’ra casar.
Ai, ai, ai! O meu amor foi-se embora; Já lá vai com a maré cheia, Já lá vai p’la barra fora.
Celina da Piedade, Em Casa
Letra: Tradicional da região de Setúbal (recolhida em finais do séc. XIX) Música: Tradicional da região de Setúbal (recolhida finais do séc. XIX) + “Bonny Sweet Robin”, de autor anónimo inglês do séc. XVI Arranjo: Daniel Schvetz Intérprete: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD1, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)
Loja Meloteca, recursos musicais criativos para a infância
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos.
Estando a dobar
Estando a dobar meadinhas d’ouro Caiu-me o novelo, ficou em pó d’ouro. Cheguei-me à janela para ver quem vinha: Vinha uma saloia pela rua acima.
Trazia uma menina muito doentinha. Que lhe receitaram? Caldos de galinha. Chamaram por ela: «Toninha! Toninha!» Logo se curou mais a meadinha.
Estando a dobar meadinhas d’ouro Caiu-me o novelo, ficou em pó d’ouro. Cheguei-me à janela para ver quem vinha: Vinha uma saloia pela rua acima.
Trazia uma menina muito doentinha. Que lhe receitaram? Caldos de galinha. Chamaram por ela: «Toninha! Toninha!» Logo se curou mais a meadinha.
Letra e música: Tradicional Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Nossa Senhora do Cabo
Nossa Senhora do Cabo, Ao cabo de tantos anos, Tantas dores e desenganos, Já não sei para onde vou: Atravessei oceanos, Torrentes e tempestades E tantas são as saudades Que o meu peito se afundou.
Nossa Senhora do Cabo, Ao abrir esta janela Volto a ver a tua estrela Que me vem alumiar: E a sua luz é tão bela Que de pronto o meu caminho Se adivinha mais mansinho E mais doce o meu cantar.
Pela tua linda graça, Viageiro vagabundo, Enfrentei muita desgraça, Fui p’ra lá do fim do mundo: Tua graça é o sustento Do meu peito vagabundo Que enrolado pelo vento Vai e vem do fim do mundo.
Nossa Senhora do Cabo, Ao cabo do Ocidente, Tu que velas docemente Por quem se fizer ao mar, Abre os braços e consente Que o bichinho da aventura De novo traga a loucura Que sempre me fez voar!
Nossa Senhora do Cabo, Ao cabo de tanta estrada, Tanta rota atribulada, Só desejo regressar À pedra que foi talhada Nos teus braços de rainha, À terra a que chamo minha, À luz desse teu olhar.
Pela tua linda graça, Viageiro vagabundo, Enfrentei muita desgraça, Fui p’ra lá do fim do mundo: Tua graça é o sustento Do meu peito vagabundo Que enrolado pelo vento Vai e vem do fim do mundo.
Letra: José Fanha Música: Fernando Pereira Intérprete: Real Companhia Versão original: Real Companhia (in CD “Serranias”, Tê, 2013)
Real Companhia, Serranias
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/lisboa-terreiro-do-paco.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:49:442024-11-02 06:53:22Canções da Estremadura
A la puorta d’un rico abariento chega un pobre ciego, limosna pediu; L rico an beç de le dar la limosna, ls perros qu’habie se los assomou.
Nun beis que sou Dius? Nun beis que sou Dius?
Que los perros todos se morrirun, L rico abariento ciego se quedou. Que los perros todos se morrirun, L rico abariento ciego se quedou.
L bielho rico abariento ciego cuidaba qu’ls benes de l mundo éran sous; Quedou siete dies a las scuras a pedir la lhuç de ls uolhos a Dius.
Abre ls uolhos, ciego, i chama ls tous perros! La riqueza dás-la a quien precisa i quedas pra ti cun pouco de l que tenes! La riqueza dás-la a quien precisa i quedas pra ti cun pouco de l que tenes!
Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofes incipit “L bielho rico abariento ciego” e “Abre ls uolhos, ciego, i chama ls tous perros”) Música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) Intérprete: Galandum Galundaina* (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
Loja Meloteca, recursos criativos para musicalização infantil
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
A quetobia patorra
A quetobia patorra Está debaixo do torrão! A quetobia patorra, ai! A quetobia patorra Está debaixo do torrão;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!
Moidinha com pancadas Que lhe deu o gafanhão; Moidinha com pancadas, ai! Moidinha com pancadas Que lhe deu o gafanhão; Mas ai! ai! ai! ai! ai!
Lá em baixo vem a raposa Pela rodeira do carro; Lá em baixo vem a raposa, ai! Lá em baixo vem a raposa, Pela rodeira do carro; Mas ai! ai! ai! ai! ai!
Traz os olhos na carcota E o cu debaixo do rabo; Traz os olhos na carcota, ai! Traz os olhos na carcota E o cu debaixo do rabo; Mas ai! ai! ai! ai! ai!
O lagarto é pintado Da cabeça até ao meio; O lagarto é pintado, ai! O lagarto é pintado Da cabeça até ao meio; Mas ai! ai! ai! ai! ai!
Não sei como às mulheres pode Com tanta carne no seio; Não sei como às mulheres pode, ai! Não sei como às mulheres pode Com tanta carne no seio; Mas ai! ai! ai! ai! ai!
Letra e música: Popular (Cardanha, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes) Recolha/transcrição: Maestro Afonso Valentim (de “Coreografia Popular Transmontana – III – O Galandum”, in “Douro Litoral”, Porto, 1953, 5.ª série, VII-VIII; “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 120) Arranjo e orquestração: Carlos Barata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa & as Cantadeiras do Vale do Neiva (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)
Reciclanda
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Adeus, ó Vale de Gouvinhas
[ Marião ]
Adeus, ó Vale de Gouvinhas, Marião! Não és vila nem cidade, Marião. Sim, sim, Marião; Não, não, Marião. És um povo pequenino, Marião, Feito à minha vontade, Marião. Sim, sim, Marião; Não, não, Marião.
Hei-de cercar Vale de Gouvinhas, Marião, Com trinta metros de fita, Marião. Sim, sim, Marião; Não, não, Marião. À porta do meu amor, Marião, Hei-de pôr a mais bonita, Marião. Sim, sim, Marião; Não, não, Marião.
Os meus olhos não são olhos, Marião, Sem estarem os teus defronte, Marião. Sim, sim, Marião; Não, não, Marião. Parecem dois rios de água, Marião, Quando vão de monte em monte, Marião. Sim, sim, Marião; Não, não, Marião.
Já corri os mares em volta, Marião, Com uma vela branca acesa, Marião. Sim, sim, Marião; Não, não, Marião. Em todo o mar achei água, Marião; Só em ti pouca firmeza, Marião. Sim, sim, Marião; Não, não, Marião.
Sim, sim, Marião; Não, não, Marião. Adeus, ó Vale de Gouvinhas, Marião!
Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes) Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016) Primeira versão: Brigada Victor Jara (in LP “Eito Fora: Cantares Regionais”, Mundo Novo/Editorial Caminho, 1977, reed. Farol Música, 1995) Outra versão da Brigada Victor Jara, com Minela Medeiros (in 2CD “Por Sendas, Montes e Vales”: CD 2, Farol Música, 2000)
Vale de Gouvinhas
Ai, lá se vai o Conde Ninho
[ Conde Ninho ]
Ai, lá se vai o Conde Ninho, Ao seu cavalo vai a banhar; Ai, enquanto o cavalo bebe Vai cantando um lindo cantar.
Ai, lá se vai o Conde Ninho, Ao seu cavalo vai a banhar; Ai, enquanto o cavalo bebe Vai cantando um lindo cantar.
Letra e música: Popular (Parada de Infanções, Bragança, Trás-os-Montes) Recolha: Michel Giacometti (in LP “Trás-os-Montes”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1960; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 2 – Trás-os-Montes, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 3 – Trás-os-Montes, col. Portugal Som, Numérica, 2008) Arranjo e direcção musical: José Manuel David Intérprete: Gaiteiros de Lisboa (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012)
Ai lé lé lai lé lá
[ Primavera (Canção amoroso-pastoril) ]
Ai lé lé lai lé lá, Ai lé lé lai ló: Foi a primeira cantiga Que me ensinou minha avó.
A Primavera passada Foi o meu divertimento: Tomei amores mui cedo, Logrei-os mui pouco tempo.
Primavera, Primavera, Tempo de tomar amores; Não há tempo mais alegre Que Maio com suas flores.
Primavera, Primavera, Primavera dos boieiros; Coitadinhos dos pastores Que dormem pelos chiqueiros.
Ai lé lé lai lé lá, Ai lé lé lai ló: Foi a primeira cantiga Que me ensinou minha avó.
Ai lé lé lai lé lá, Ai lé lé lai ló: Foi a primeira cantiga Que me ensinou minha avó.
Letra e música: Popular (Paradela, Miranda do Douro, Trás-os-Montes e Alto Douro) Recolha: Fernando Lopes Graça (in livro “A Canção Popular Portuguesa”, Publicações Europa-América, 1953; 3.ª edição, col. Saber, Publicações Europa-América, s/d. – p. 75) Intérprete: Cantos d’Aurora (in CD “Sabores”, Cantos d’Aurora, 1996)
Ai minha mãe mandou-me à fonte
[ Fonte do Salgueirinho ]
— «Ai minha mãe mandou-me à fonte, à fonte do Salgueirinho; Ai mandou-me labar a cântara com a flor do rosmaninho. Ai eu labei-a com arena e scachei-le um bocadinho.»
— «Ai anda cá, perra traidora! Onde tinhas o sentido? Ai tinha-lo naquele mancebo que anda de amores contigo.»
— «Ai, minha mãe, não me bata com bara de marmeleiro! Ai que stou muito doentinha, mandai chamar o barbeiro!»
Ai o barbeiro já lá vem com uma lanceta na mão, Ai p’ra sangrar a menina na veia do coração.
— «Ai, minha mãe, não me bata com bara de marmeleiro! Ai que stou muito doentinha, mandai chamar o barbeiro!»
Letra e música: Tradicional (Caçarelhos, Vimioso, Trás-os-Montes) Informante: Adélia Garcia Recolha: Anne Caufriez (Julho de 1978, in LP “Trás-os-Montes: Chants du Blé et Cornemuses de Berger”, Ocora/Radio France, 1980, reed. Ocora/Radio France, 1993; CD “Traz os Montes”, de Né Ladeiras, Almalusa/EMI-VC, 1994) Adaptação: Galandum Galundaina Intérprete: Galandum Galundaina* (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
Ainita
Ainita, toma, l’Ainita! Ainita, toma, l’Ainita! Ai no!
Eche usted um trago Outro traguito, Um trago grande; Agora si que vai bueno Yo estoi com hambre.
Ainita, toma, l’Ainita! Ainita, toma, l’Ainita! Ai no!
Eche usted um trago Outro traguito, Um trago grande; Agora si que vai bueno Yo estoi com hambre.
Ainita, toma, l’Ainita! Ainita, toma, l’Ainita! Ai no!
Eche usted um trago Outro traguito, Um trago grande; Agora si que vai bueno Yo estoi com hambre.
Ainita, toma, l’Ainita! Ainita, toma, l’Ainita! Ai no!
Eche usted um trago Outro traguito, Um trago grande; Agora si que vai bueno Yo estoi com hambre.
Ainita, toma, l’Ainita! Ainita, toma, l’Ainita! Ai no!
Eche usted um trago Outro traguito, Um trago grande; Agora si que vai bueno Yo estoi com hambre.
Ya después de haber bubido Ya José se lo dará.
Ainita, toma, l’Ainita! Ainita, toma, l’Ainita! Ai no!
Eche usted um trago Outro traguito, Um trago grande; Agora si que vai bueno Yo estoi com hambre.
Ainita, toma, l’Ainita! Ainita, toma, l’Ainita! Ai no!
Eche usted um trago Outro traguito, Um trago grande; Agora si que vai bueno Yo estoi com hambre.
Ainita, toma, l’Ainita! Ainita, toma, l’Ainita! Ai no!…
Letra e música: Tradicional (Freixiosa, Miranda do Douro, Trás-os-Montes) Informante: Clementina Rosa Afonso Recolha: Mário Correia e Abílio Topa (in CD “Clementina Rosa Afonso: Modas, Lhaços e Rimances”, col. Cantos Tradicionais, vol. 2, Sons da Terra, 1998; CD “Cantos das Mulheres da Terra de Miranda”, col. Cantos Tradicionais, vol. 7, Sons da Terra, 2005) Arranjo: César Prata Intérprete: César Prata e Vânia Couto Versão discográfica de César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)
Aqui se canta
[ Anima Mea ]
Aqui se canta, aqui se baila, Aqui se joga a laranjinha; Eu conheço o meu amor Pelo nó da gravatinha.
Pelo nó da gravatinha, Pelo lenço cachiné; Aqui se canta, aqui se baila, Aqui se joga o dominé.
Triste és anima mea, Triste és anima tua; Quando estiver em teus braços Então direi: aleluia!
Triste és anima mea, São palavras em latim; O meu amor p’ra contigo Só por morte terá fim.
Letra e música: Popular (Trás-os-Montes) Arranjo: António Prata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD1, Ovação, 2001) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996)
Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos com Katia Guerreiro, Inna Rechetnikova, Orquestra Sinfonietta de Lisboa e Coros do Alentejo (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005)
Beijai o Menino
Beijai o Menino, Beijai-o agora! Beijai o Menino De Nossa Senhora!
Encontrei a Maria Na beira do rio, Lavando os cueiros Do seu bendito Filho.
Maria lavava, São José estendia, E o Menino chorava Com o frio que tinha.
Cala, cala, meu Menino! Cala, cala, meu amor, Que as vossas verdades Me cortam com dor!
Os filhos dos ricos Em berços doirados… Só vós, meu Menino, Em palhas deitado!
Em palhas deitado, Em palhas aquecido, Filho de uma rosa, De um cravo nascido.
Beijai o Menino, Beijai-o agora! Beijai o Menino De Nossa Senhora!
Letra e música: Tradicional (Miranda do Douro) Recolha: José Alberto Sardinha (1982, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD2 – Trás-os-Montes, BMG/JN, 1997) Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)
Bruxos há por estas terras
[ Terras de Feiticeiros ]
Bruxos há por estas terras Que só as luas conhecem: Sabem rezas, dizem falas Quando os dias anoitecem.
Choram com os lobos Pelo sangue dos cordeiros, Pela carne dos rebanhos. Pelas águas dos ribeiros.
Choram com os lobos, No calor das alcateias, Pelos irmãos lobisomens Que se escondem p’las aldeias.
Bruxos há por estes montes Nos ventos, nas noites calmas: Invocam anjos e santos P’ra cuidar das nossas almas.
Chamam os mortos, Todos são filhos de Deus: Os que ardem nos infernos E os que vivem lá nos Céus.
Chamam os mortos Para andar no nosso chão: Vêm do fundo dos tempos, Sabem do vinho e do pão.
Letra: António Prata Música: Popular (Trás-os-Montes) Arranjo: António Prata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos Versão original: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)
Canedo stá borracho
Canedo stá borracho de bino i augardiente; Mandou tocar la gaita Delantre de toda giente.
Canedo nun podie Qu’era hora de l sagrado: Tocórun a rebate pra le botar la mano.
Yá matórun l Canedo mas nun fui na sue tierra: Fui an Santo Anton da Barca delantre de la capielha.
La giente inda se lhembra daqueilha maldiçon: Fazírun la barraige, mudórun l Santo Anton.
Nun ye culpa de l Canedo nien da gaita i bordon: Ye culpa de quien manda afogar l Santo Anton.
Canedo stá borracho de bino i augardiente; Mandou tocar la gaita Delantre de toda giente.
Yá matórun l Canedo mas nun fui na sue tierra: Fui an Santo Anton da Barca delantre de la capielha.
Letra: Tradicional (Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofes incipit”Canedo nun podie”, “La giente inda se lhembra” e “Nun ye culpa de l Canedo”) Música: Tradicional (Trás-os-Montes) Intérprete: Galandum Galundaina Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
Quatrada, Galandum Galundaina
Despediu-se o Sol da Aurora
[ Chora, Aurora ]
Despediu-se o Sol da Aurora, Aurora ficou chorando… Não chores, Aurora, não chores, não chores!… Aurora, não chores, que eu virei de quando em quando!
Ai, tu é que és o meu rapaz… Quando é que lá vais? Ai, vai ao jardim das flores! Lá me encontrarás.
Ai, se lá me não encontrares, Torna a voltar, torna a voltar! Ai, pergunta a quem tenha amores, A quem tenha amores, a quem saiba amar!
A quetobia patorra Está debaixo do torrão; A quetobia patorra, ai! A quetobia patorra Está debaixo do torrão. Mas ai! ai! ai!
Moidinha com pancadas Que lhe deu o gafanhão; Moidinha com pancadas, ai! Moidinha com pancadas Que lhe deu o gafanhão. Mas ai! ai! ai! ai!
Letra: Tradicional (“Nós somos trabalhadores” – Ferreira do Alentejo, Baixo Alentejo / “Ai, tu é que és o meu rapaz” – Amareleja, Baixo Alentejo / “A quetobia patorra” – Cardanha, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes) Recolhas: Michel Giacometti (“Nós somos trabalhadores”, in “Cancioneiro Popular Português”, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 127) / Pe. António Marvão (“Ai, tu é que és o meu rapaz”, 1920-42, in “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 106) / Maestro Afonso Valentim (“A quetobia patorra”, 1953, in “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 120) Música: Tradicional (“A quetobia patorra” – Cardanha, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes) e Carmina Repas Gonçalves Arranjo: Carmina Repas Gonçalves Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)
Deus te salve, ó Rosa
Deus te salve, ó Rosa Claro Serafim Pastora formosa Que fazeis aqui?
Estou guardando meu gado Que eu aqui deixei.
Deixai o vosso gado Que eu o guardarei Quero ser vosso criado Linda flor, meu bem
Não quero criados De meias de seda Não quero que as rompa Cá por estas estevas
Sapatos e meias Tudo as romperei Para ser vosso criado Linda flor, meu bem
Vá-se já embora E não me dê mais penas Que daqui a nada Vem meu amo Trazer-me a merenda
Letra e música: Popular (Trás-os-Montes) Intérprete: Voz feminina solo Recolha: Michel Giacometti (in “Cantos e Danças de Portugal”, Diapasão/Sassetti, 1981)
Dius te salve, Rosa!
[ Linda Pastorica (romance) ]
— Dius te salve, Rosa! — Lindo serafin! — Linda pastorica, que fazeis eiqui?
— Guardo l miu ganado qu’anda pur aí. — L tou ganado, Rosa, traio-l you eiqui.
— S’el yé de sou donho, nun te dê cuidado! — Queres-me tu, Rosica, para tou criado?
— Criados tan nobres, bestidos de seda, poden-se rumpér ainda nestas estebas.
— Çapatos i meias tudo rumperei; pur bias de ti la bida darei.
— Ide-bos ambora, nun me deixeis pena! Poden benir mius âmos traer la merenda.
— Balga-te Dius, Rosa, mas que amperteniente! Âmos nun son lhobos que comam la gente.
— Ide-bos ambora, yá bos ampuntei! Han-de dezir mius âmos an que m’acupei.
— S’eilhes te deziren an que t’acupéste, nun dilúbio d’auga parqui me chaméste.
— Ide-bos ambora, nun me deis tromento! Nun bos podo ber nin pur pensamento.
— Yá qu’antun m’ampuntas, you me bou andando; tu te quedas rindo, you me bou chorando.
— Bós ides chorando, bulbei-bos fugindo; l’amor yé tan bário yá me bou rendindo.
Ninas de l lhugar, beni pal miu ganado! You me bou ambora cu’l miu namorado.
— Bamo-nos ambora a drumir la sestia! — Nun se m’amporta nada que l ganado se perda.
— Bamo-nos ambora, mas pur mal andamos! Sabes tu, Rosica, que you sou tou armano?
— Se sois miu armano, armano de l’alma, pur favor te pido que nun digas nada!
Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) Intérprete: Canto Ondo (in CD “Entre o Alto do Peito e as Campainhas da Garganta”, A Monda – Associação Cultural/Canto Ondo, 2016)
Mi Morena
Donde estará mi morena? Donde estará mi salada? De baxo del puente jora una morena, De baxo del puente de la carretera.
Donde estará mi morena? A la fuente a buscar agua. De baxo del puente jora una morena, De baxo del puente de la carretera.
Me diste una cinta verde, Tan verde como la rama. De baxo del puente jora una morena, De baxo del puente de la carretera.
La cinta la traigo al cuelo, A ti te traigo en el alma. De baxo del puente jora una morena, De baxo del puente de la carretera.
Con tus ojitos azules sobre tu cara morena, Los resplendores del cielo caiendo sobre la tierra. De baxo del puente jora una morena, De baxo del puente de la carretera.
Mi morena… Mi morena… Mi morena… Mi morena…
Letra e música: Popular (Rio de Onor, Trás-os-Montes) Arranjo: Paulo Loureiro Intérprete: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017) Primeira versão [?]: Brigada Victor Jara / voz solo de Margarida Miranda (in CD “Danças e Folias”, Farol Música, 1995; Livro/11CD “Ó Brigada!: Discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: CD “Danças e Folias”, Tradisom, 2015)
Rio de Onor
Donde vas
— Donde vas, donde vas, Adelaida? Donde vas, donde vas por ahi? — Voy en busca de mi amante Enrique Que se ha vuelto loco de penas por mí.
— Es la luna y Enrique no viene, Son las dos y Enrique no está. — Yo no siento que Enrique me deje Teniendo la ropa para nos casar.
— Donde vas, donde vas, Adelaida? Donde vas, donde vas por ahi? — Voy en busca de mi amante Enrique Que se ha vuelto loco de penas por mí.
— Es la luna y Enrique no viene, Son las dos y Enrique no está. — Yo no siento que Enrique me deje Teniendo la ropa para nos casar.
Letra e música: Tradicional (Rio de Onor, Trás-os-Montes) Recolha: Margot Dias Arranjo: Brigada Victor Jara Intérprete: Brigada Victor Jara, com Luísa Cruz (in 2CD “Por Sendas, Montes e Vales”: CD 2, Farol Música, 2000; Livro/11CD “Ó Brigada!: Discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: “Por Sendas, Montes e Vales”: CD 2, Tradisom, 2015)
Eito fora
Eito fora, eito fora, eito fora! Ai, e ó ai, e ó ai, e ó ai! Em lá chegando ao cabo, descansar! Ai, e ó ai, e ó ai, e ó ai!
Letra e música: Tradicional (“Cantiga da Ceifa” – Lourosa da Trapa, São Pedro do Sul, Beira Alta / “Passacalhes” – Miranda do Douro, Trás-os-Montes) Recolhas: Michel Giacometti (“Cantiga da Ceifa I”, 1969, in LP “Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1970; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 3 – Beiras, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 4 – Beiras, col. Portugal Som, Numérica, 2008) / Pe. António Mourinho (“Passacalhes”) Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)
Esta ye la tonadica de l fraile
[ Fraile Cornudo ]
Esta ye la tonadica de l fraile…
Fraile cornudo, Hecha-te al baile Que te quiero ber beilar, Saltar i brincar I andar por l aire!
Esta ye la tonadica de l fraile… Esta ye la tonadica de l fraile…
Busca cumpanha, Que te quiero ber beilar, Saltar i brincar I andar por l aire!
Esta ye la tonadica de l fraile… Esta ye la tonadica de l fraile…
Deixa-la sola, Que la quiero ber beilar, Saltar i brincar I andar por l aire!
Esta ye la tonadica de l fraile… Esta ye la tonadica de l fraile…
Fraile cornudo, Hecha-te al baile Que te quiero ber beilar, Saltar i brincar I andar por l aire!
Esta ye la tonadica de l fraile… Esta ye la tonadica de l fraile…
Busca cumpanha, Que te quiero ber beilar, Saltar i brincar I andar por l aire!
Esta ye la tonadica de l fraile… Esta ye la tonadica de l fraile…
Deixa-la sola, Que la quiero ber beilar, Saltar i brincar I andar por l aire!
Esta ye la tonadica de l fraile… Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile… Esta ye la tonadica de l fraile… Esta ye la tonadica de l fraile…
Letra e música: Tradicional (Fonte da Aldeia, Miranda do Douro, Trás-os-Montes) Intérprete: Galandum Galundaina Primeira versão de Galandum Galundaina (in DVD “Ao Vivo no Teatro Municipal de Bragança”, Açor/Emiliano Toste, 2007) Outra versão de Galandum Galundaina (in CD “Senhor Galandum”, Açor/Emiliano Toste, 2009) [ ao vivo em Coimbra, Festival Passagem de Ano 2009/2010 ]
Este pandeiro que eu toco
[ Balsagaita cun Pandeiros ]
Este pandeiro que toco, este que tengo na mano, que me lo dou mie cunhada, la mulhier de miu armano.
Acudi-me, moças! Beni-me acudir! Las pulgas son tantas, nun me déixan drumir… Bóto-me a agarrá-las, bótan-se a fugir… Bóto-me a agarrá-las, bótan-se a fugir…
Este pandeiro que toco ten un aro de cortiça; You toco an Dues Eigreijas, respónden na Belariça.
Acudi-me, moças! Beni-me acudir! Las pulgas son tantas, nun me déixan drumir… Bóto-me a agarrá-las, bótan-se a fugir… Bóto-me a agarrá-las, bótan-se a fugir…
Este pandeiro que toco, a la puorta de la frauga, fai las moças mais bonitas chegar l burrico a l’auga.
Acudi-me, moças! Beni-me acudir! Las pulgas son tantas, nun me déixan drumir… Bóto-me a agarrá-las, bótan-se a fugir… Bóto-me a agarrá-las, bótan-se a fugir…
Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofe incipit “Este pandeiro que toco / a la puorta de la frauga”) Música: Galandum Galundaina Intérprete: Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
Emiliano Toste
Eu nunca fui cantador
Eu nunca fui cantador Nem aos descantes chamado; Meu pai é trabalhador, Trabalho me tem matado.
A sorte de um marinheiro É de todas a mais dura: Anda sempre a trabalhar Por cima da sepultura.
Eu nunca fui cantador Nem aos descantes chamado; Meu pai é trabalhador, Trabalho me tem matado.
Letra e música: Popular (Trás-os-Montes) Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* Arranjo: António Prata Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Outras Terras”, Ronda dos Quatro Caminhos, 1999) Segunda versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 2, Ovação, 2001) [com o Quarteto Opus 4, ao vivo no Centro Cultural Raiano, Idanha-a-Nova, 2007 Terceira versão da Ronda dos Quatro Caminhos, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)
L gaiteiro de la Gudinha
L gaiteiro de la Gudinha Iá nun toca quando quier Scachoron-le la gaitica I amprenhoron-le la mulhier
Se tu quieres iou quiero Mas se iou quiero tu nó Saliste bien teimosa Sós pior que la tue bó
Indo malhada arriba Tropecei-te na rodeira Fugiste cumo la lhiebre Quando se anda atrás deilha
Nel meio del lhugar Hai ua grande lhagona Onde se meten eilhas A tocaren la çanfona
Letra: Tradicional (1.ª quadra) e Célio Pires Música: Tradicional Intérprete: Trasga (in CD “Al Absedo…”, Sons da Terra, 2012)
Gerinaldo, Gerinaldo
— Gerinaldo, Gerinaldo, pajem d’El-Rei tão querido, bem puderas, Gerinaldo, passar a noite comigo. — Zombais comigo, senhora, por ser o vosso cativo. — Eu não to digo zombando, é deveras que to digo. Logo ao dar a meia-noite, Gerinaldo, o atrevido; foi ao quarto da princesa, deu um ai mui dolorido. — Ide abrir a minha porta, que El-Rei não seja sentido; anda cá, ó Gerinaldo, podes-te deitar comigo. — Já era quase sol fora e Gerinaldo dormido. Acorda o rei de repente, chama o seu pajem querido, mas Gerinaldo não vem p’ra lhe trazer o vestido. — Ou estará morto o meu pajem ou traição me há cometido. — Responde dali um pajem que tudo tinha sentido: — Lá no quarto da princesa estará adormecido. — O rei levanta-se à pressa e leva o punhal consigo, Dormiam os dois na cama como mulher e marido. — Eu se mato Gerinaldo, criei-o de pequenino, e se mato a princesa fica o meu reino perdido. — Tira El-Rei o seu punhal, deixa-o entre os dois metido, Ia-se a virar o pajem, logo se sentiu ferido. — Acordai, ó bela infanta, acordai, que estou perdido: o punhal d’oiro d’El-Rei entre nós está metido! — O castigo que te dou, por seres meu pajem querido, é que a tomes por mulher e ela a ti por seu marido. — Gerinaldo, Gerinaldo, pajem d’El-Rei tão querido, E assim ficou bem feliz Gerinaldo, o atrevido.
Romance tradicional (Trás-os-Montes) Adaptação e arranjo: José Barros Intérprete: José Barros e Navegante (in CDs ” Rimances”, JBN, 2001; “…Vivos. E ao vivo”, Ocarina, 2003)
Indo you mie siêrra arriba
[ La Lhoba Parda ]
Indo you mie siêrra arriba, Delantre de miu ganado, Repicando lo caldeiro, Remendando l miu çamarro, Aparcírun-me siête lhobos: Todos siête na niada Trazien ua lhoba al meio Que era mais lhieba que parda; Me quitou ua cordeira La mejor de la piara.
Era ua cordeira branca, Filha dua oubeilha negra, Filha de l melhor maron Que se passiaba na siêrra. — «Arriba, arriba, cachorros! Abaixo, perra gudiana! Se m’agarrardes la lhoba La cena tenereis ganha I se num me l’agarrardes Cula caiata cenais!»
Siête lhéguas han corrido Los mius perros por arada I al fin de las siête lhéguas La lhoba staba cansada. — «Toma, perro, la cordeira! Lhiêba-la pa la piara!» — «Nun te quiêro la cordeira Que la tenes lhobadada. Só te quiêro la tue çamarra Para fazer ua albarda;
Las tripas para biolas, Para beiláren las damas; El rabo para correias, Para atacarmos las bragas.» — «Chames tous perros, pastor, Yá me bou pa las muntanhas! Direi a ls mius cumpanheiros Q’ you nun buolbo a tu’ malhada, Porque perros cumo ls tous Nun los tem l Rei de Spanha!»
Letra e música: Popular (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) Arranjo e orquestração: Pedro Pitta Groz Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)
Né Ladeiras
Marinheiro novo
Marinheiro novo, Que levas no teu navio? Levo rouxinóis que cantam, Passarinhos que assobiam.
Ora adeus, adeus! Ora adeus que já me vou! Não chores, amor, não chores! Não chores, que ainda aqui estou!
Marinheiro novo, Que levas no teu vapor? Levo lencinhos de seda Para dar ao meu amor.
Ora adeus, adeus! Ora adeus que já me vou! Não chores, amor, não chores! Não chores, que ainda aqui estou!
Marinheiro novo, Que levas na tua barca? Eu levo muitas saudades De quem fica e não embarca.
Ora adeus, adeus! Ora adeus que já me vou! Não chores, amor, não chores! Não chores, que ainda aqui estou!
Marinheiro novo, Que levas nas tuas águas? Levo barquinhos de oiro Para dar às namoradas.
Ora adeus, adeus! Ora adeus que já me vou! Não chores, amor, não chores! Não chores, que ainda aqui estou!
Não chores, amor, não chores! Não chores, que ainda aqui estou!
Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes) Intérprete: Ai! (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)
Mirandum se fui a la guerra
Mirandum se fui a la guerra, Mirandum, Mirandum, Mirandela! Num sei quando benerá: Se benerá por la Pascua Mirandum, Mirandum. Mirandela! Ou se por la Trenidade?
La Trenidade se passa, Mirandum, Mirandum, Mirandela! Mirandum num bieno yá; Birun benir un passe, Mirandum, Mirandum, Mirandela! Que nobidades trairá?
Las nobidades que traio Mirandum, Mirandum, Mirandela! Bos han de fazer chorar: Que Mirandum yá ye muorto, Mirandum, Mirandum, Mirandela! You bien lo bi anterrar.
Mirandum, Mirandum, Mirandela! Mirandum se fui a la guerra, Num sei quando benerá, Num sei quando benerá: Se benerá por la Pascua Mirandum, Mirandum. Mirandela! Se benerá por la Pascua Ou se por la Trenidade?
La Trenidade se passa, Mirandum, Mirandum, Mirandela! La Trenidade se passa, Mirandum num bieno yá…
Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) Intérprete: Galandum Galundaina Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
No lhugar de Dues Eigreijas
[ Duas Igrejas ]
No lhugar de Dues Eigreijas hay una piedra redonda onde se sentan los moços quando benen de la ronda.
Cardai, cardicas, cardai la lhana pa los cobertores! Que las pulgas stan prenhadas, ban a parir cardadores.
No lhugar de Dues Eigreijas hay una piedra burmeilha onde se sentan los moços a peináre la guedeilha.
Cardai, cardicas, cardai la lhana pa los cobertores! Que las pulgas stan prenhadas, ban a parir cardadores.
Letra e música: Popular (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) Arranjo: Carlos Barata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001) Segunda versão da Ronda dos Quatro Caminhos, com Orquestra Sinfonietta de Lisboa (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005)
Nós tenemos muitos nabos
Nós tenemos muitos nabos a cozer nua panela…
Nós tenemos muitos nabos a cozer nua panela; Nun tenemos sal nien unto, nien presunto nien bitela.
Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas! Uas mais lhargas, outras mais gordas, uas de lhana, outras de stopa.
Ls chocalhos rúgen, rúgen, ls carneiros alhá ban; An chegando a Ourrieta Cuba ls carneiros bulberan.
Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas! Uas mais lhargas, outras mais gordas, uas de lhana, outras de stopa.
Roubórun la Malgarida pula ripa de l telhado, cuidando que era toucino que stava çpindurado.
Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas! Uas mais lhargas, outras mais gordas, uas de lhana, outras de stopa.
Nós tenemos muitos nabos a cozer nua panela; Nun tenemos sal nien unto, nien presunto nien bitela.
Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas! Uas mais lhargas, outras mais gordas, uas de lhana, outras de stopa.
Ls chocalhos rúgen, rúgen, ls carneiros alhá ban; An chegando a Ourrieta Cuba ls carneiros bulberan.
Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas! Uas mais lhargas, outras mais gordas, uas de lhana, outras de stopa.
Bai, Pedro, bai al lhugar de la justicia! Di le a tou amo, cumo you te digo a ti: Que la filha de l Lima stá ne l lhume i pinga; La filha de la Bergada stá ne l lhume i bai assada.
Pedro, que te falta? Repica la tue gaita! Tenes l pan na tulha l bino na bodega; Tenes la melhor moça que habie nesta tierra: Ciega dun uolho i manca dua pierna.
Bai, Pedro, bai al lhugar de la justicia! Di le a tou amo, cumo you te digo a ti: Que la filha de l Lima stá ne l lhume i pinga; La filha de la Bergada stá ne l lhume i bai assada.
Pedro, que te falta? Repica la tue gaita! Tenes l pan na tulha l bino na bodega; Tenes la melhor moça que habie nesta tierra: Ciega dun uolho i manca dua pierna.
Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) Intérprete: Galandum Galundaina Versão anterior de Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015) Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “L Purmeiro”, Açor/Emiliano Toste, 2002) Outra versão de Galandum Galundaina (in DVD “Ao Vivo no Teatro Municipal de Bragança”, Açor/Emiliano Toste, 2007)
Nun me gusta l pan centeno
[ Para Namorar Morena ]
Nun me gusta l pan centeno que m’amarga la costreza; S’algun die falei contigo, nun me pesa, nun me pesa!
Para namorar, para namorar, morena… Para namorar, bun çapato i buona meia!
(bis)
Sei un ciento de cantigas i mais ua talagada: Puodo cantar toda a noite i mais toda la madrugada.
Para namorar, para namorar, morena… Para namorar, bun çapato i buona meia!
Diabos lhieben ls ratos i ls dientes das formigas, Que me robírun ls lhibros donde stában las cantigas!
Para namorar, para namorar, morena… Para namorar, bun çapato i buona meia!
Yá comi, yá bui, tengo la barriga chena! Mas de l amor tengo fame: só te quiero a ti, morena!
Para namorar, para namorar, morena… Para namorar, bun çapato i buona meia!
Ó senhor da casa, quiero la mano da sue filha! You yá la namoro hai nuobe meses i un die; Tengo l lhume aceso, quiero ser sou marido, la cama caliente pra deitar l nuosso nino.
Alhá na nuossa tierra sou you l regidor; Yá nun tengo mula, cumprei um tractor; Cabeço de la Trindade yá sembrei la huorta; Tardo quatro jeiras para dar la ronda.
Ó senhor da casa, quiero la mano da sue filha! You yá la namoro hai nuobe meses i un die; Tengo l lhume aceso, quiero ser sou marido, la cama caliente pra deitar l nuosso nino.
Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofes incipit “Ó senhor da casa” e “Alhá na nuossa tierra”) Música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina Intérprete: Galandum Galundaina Versão original: Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
Nunca andes com mentiras
[ Mentiras ]
Nunca andes com mentiras Que é um caso perigoso Que eu já tive um namorado Deixei-o por mentiroso
Vais dizendo pelas ruas Que tu já me tens deixado Bem sabe já toda a gente Que tu andas enganado
Vais dizendo pelas ruas Que tu me tens esquecido Bem sabe já toda a gente Que eu nunca te tenho querido
Tenho-te dito mil vezes Não venhas aonde estou Sempre estás a vir p’ra mim E aonde estás não vou.
Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes) Recolha: Domingos Morais (1985, cantada por Francisco dos Reis Domingues) Intérprete: Stockholm Lisboa Project (in CD “Sol”, Nomis Musik, 2007)
Oh bento airoso
Oh bento airoso, mistério divino! Encontrei a Maria à beira do rio E lavando os cueiros do bendito Filho.
Oh bento airoso, mistério divino! Maria lavava, S. José estendia E o Menino chorava c’o frio que fazia.
Oh bento airoso, mistério divino! Calai, meu Menino! Calai, meu amor! As vossas verdades me matam com dor.
Letra e música: Tradicional (Paradela, Miranda do Douro, Trás-os-Montes) Recolha: Michel Giacometti (1960, in “Cancioneiro Popular Português”, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 43) Intérprete: Janita Salomé (in CD “Em Nome da Rosa”, Cantar ao Sol/Ponto Zurca, 2014)
Ó minha mãe, deixe
[ Arraial de Valpaços ]
Ó minha mãe, deixe, deixe! Ó minha mãe deixe-me ir Ao arraial a Valpaços Qu’eu vou e torno a vir!
Ó Senhora da Saúde, Que dais a quem vos vai ver? Bom terreiro p’ra dançar, Água fresca p’ra beber.
Ó Senhora da Saúde, Que dais aos vossos romeiros? Dou-lhe água da minha fonte, Sombra dos meus castinheiros.
Ó Senhora da Saúde, Mandai varrer as areias! Já lá rompi os sapatos, Não quero romper as meias.
Ó Senhora da Saúde, Eu p’rò ano lá irei Ou casada ou solteira; Santinha, isso é qu’eu não sei.
Ó Senhora da Saúde, Eu p’rò ano não prometo, Que me morreu o amor; Ando vestida de preto.
Letra e música: Popular Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)
Pur baixo de la punte Retomba l rio; Ye ua lhabadeira Kus, kus, bulis, bulis! Kai, kai, minha bida! Que lhaba trigo, Que lhaba trigo.
Pur baixo de la punte Retomba l’água; Ye ua lhabadeira Kus, kus, bulis, bulis! Kai, kai, minha bida! Que panhos lhaba, Que panhos lhaba.
Pur baixo de la punte, Stá la raposa Remendando sue sáia Kus, kus, bulis, bulis! Kai, kai, minha bida! De çaragoça, De çaragoça.
Pur baixo de la punte, Stá Catalina Remendando sue sáia Kus, kus, bulis, bulis! Kai, kai, minha bida! De costorina, De costorina.
Letra e música: Popular (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) / Introdução: Canto gregoriano Kyrie XI (Orbis Factor), Sécs. XIV-XVI Arranjo, orquestração e harmonização do coro: Vasco Pearce de Azevedo Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, Armando Possante e coro gregoriano (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014) Primeira versão [?]: Galandum Galundaina (in CD “Modas i Anzonas”, Açor/Emiliano Toste, 2005)
Glossário:
çaragoça (em português: saragoça) – tecido grosseiro de lã preta, geralmente usado na confecção de roupa dos camponeses. Deve o nome à circunstância de ser fabricado, primitivamente, na cidade aragonesa de Saragoça.
costorina (em português: castorina, do fr. castorine) – nome dado, originalmente, ao tecido feito do pêlo do castor; posteriormente passou também a designar um tecido de lã, leve, macio e sedoso.
Senhor Galandun, Galandun Galundaina! Senhor Galandun, Galandun Galundaina! Madre la bizcaia, cun las trés traseiras, cun las delantreiras, Dá-me la mano squierda, dá-me la dreita! I arréden-se atrás, que manda la reberéncia!
Yá nun manda l Rei, que manda la Justícia! Esses bailadores que se cáian cun la risa, que se cáian, que se cáian! Esses bailadores que se cáian cun la risa, que se cáian, que se cáian!
Yá nun manda l Rei, que yá manda l’Alcaide! Yá nun manda l Rei, que yá manda l’Alcaide! Esses bailadores que se lhebanten i que bailen, que bailen, que bailen! Esses bailadores que se lhebanten i que bailen, que bailen, que bailen!
Yá nun manda l Rei, que manda l Regidor! Yá nun manda l Rei, que manda l Regidor! Essas bailadeiras que se cáian cun la risa, que se caian, que se cáian! Essas bailadeiras que se cáian cun la risa, que se caian, que se cáian!
La casa de l Cura nun ten mais que ua cama, La casa de l Cura nun ten mais que ua cama: An la cama drume l Cura donde conhos drume l’ama, donde conhos drume l’ama; An la cama drume l Cura donde conhos drume l’ama, donde conhos drume l’ama. Tu madre me dixo que eras machorra, Tu madre me dixo que eras machorra; Me saliste prenha, mira que porra, que porra, que porra! Me saliste prenha, mira que porra, que porra, que porra!
Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) Intérprete: Galandum Galundaina Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “Senhor Galandum”, Açor/Emiliano Toste, 2009)
Siga a malta
Siga a malta, siga a malta, siga a malta pra diante! Siga a malta pra diante! Esta malta stá parada só por nun haber quien cante, só por nun haber quien mande.
No tiempo de primabera todo l mundo reberdece: Bien lhargo l eimbierno seia d’amberdecer nun se squece i naide outra cousa spera por esso naide se spante que téngamos esta eideia. Siga a malta pra diante!
Siga a malta, siga a malta, siga a malta pra diante! Siga a malta pra diante! Esta malta stá parada só por nun haber quien cante, só por nun haber quien mande.
Na selombra dun sobreiro quememos nuossa merenda: Çcansados apuis la ronda i se nun hai quien santenda; Qualquier un quier ser purmeiro ou por nada fáien guerra, nós dezimos que yá bonda. Siga a malta i trema a tierra!
Siga a malta, siga a malta, siga a malta pra diante! Siga a malta pra diante! Esta malta stá parada só por nun haber quien cante, só por nun haber quien mande.
Siga a malta, siga a malta, siga a malta i trema a tierra! Siga a malta i trema a tierra! Benga d’alhá quien benir, esta malta nun arreda! Esta malta nun arreda!
Anriba deste cabeço l praino bemos, i Spanha; Mas l cielo nunca l bimos, muito hai quien mos anganha; Yá muitá tubo esse ampeço por esso rábia mos medra i a cantar eiqui benimos. Esta malta nun arreda!
Siga a malta, siga a malta, siga a malta pra diante! Siga a malta pra diante! Esta malta stá parada só por nun haber quien cante, só por nun haber quien mande.
Siga a malta, siga a malta, siga a malta i trema a tierra! Siga a malta i trema a tierra! Benga d’alhá quien benir, esta malta nun arreda! Esta malta nun arreda!
Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Amadeu Ferreira (estrofes incipit “No tiempo de primabera”, “Na selombra dun sobreiro” e “Anriba deste cabeço”) Música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina Intérprete: Galandum Galundaina Versão original: Galandum Galundaina com José Medeiros (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
Galandum Galundaina
Tanta silba
[ Tanta Pomba ]
Tanta silba, tanta silba, tanta silba, tanta muora! Tanta rapaza bonita i miu pai sien ua nora!
I miu pai sien ua nuora, pra l miu pai nuora nun hai; Cumo há-de tener nuora se nun falo para naide?
Atira, caçador, atira a la palomba qu’anda na eira! Ah lhadron que la mateste, andaba para ser freira!
Andaba para ser freira, traíe ua bela na mano; Lhembrou-se de ls sous amores: «Nun quiero ser freira, nó!»
Yá murriu la palomba branca, yá alhá bai l portador; Yá nun tengo quien me lhiebe las cartas al miu amor.
La palomba chubiu a l aire, la palomba alhá chubiu; Nos braços de l miu amor agarrei la palomba i eilha nun fugiu.
Atira, caçador, atira a la palomba qu’anda na eira! Ah lhadron que la mateste, andaba para ser freira!
Andaba para ser freira, traíe ua bela na mano; Lhembrou-se de ls sous amores: «Nun quiero ser freira, nó!»
Yá murriu la palomba branca, yá alhá bai l portador; Yá nun tengo quien me lhiebe las cartas al miu amor.
La palomba chubiu a l aire, la palomba alhá chubiu; Nos braços de l miu amor agarrei la palomba i eilha nun fugiu. Piu!
Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) Arranjo: Clã e Galandum Galundaina Intérprete: Galandum Galundaina com Manuela Azevedo (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
Tinha vinte e quatro freiras
[ Trângulo-Mângulo (lengalenga) ]
Tinha vinte e quatro freiras, mandei-as fazer um doce: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão doze.
Dessas doze que ficaram, mandei-as vestir de bronze: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão onze.
Dessas onze que ficaram, mandei-as lavar os pés: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão dez.
Dessas dez que me ficaram, mandei-as p’ró Dezanove: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão nove.
Dessas nove que ficaram, mandei-as comer biscoito: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão oito.
Dessas oito que ficaram mandei-as p’ró Dezassete: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão sete.
Dessas sete que me ficaram, mandei-as cantar os Reis: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão seis.
Dessas seis que me ficaram, mandei-as p’ró João Pinto: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão cinco.
Dessas cinco que ficaram, mandei-as cortar tabaco: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão quatro.
Dessas quatro que ficaram, mandei-as lá outra vez: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão três.
Dessas três que me ficaram, mandei-as calçar as luvas: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão duas.
Dessas duas que ficaram, mandei-as comer pirua: deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas, não ficaram senão uma.
Tinha vinte e quatro freiras, fi-las andar na poeira: elas morreram-me todas com uma grande borracheira.
Letra: Popular (Santa Marta de Penaguião, Trás-os-Montes e Alto Douro) Música: Carlos Guerreiro Intérprete: Gaiteiros de Lisboa* Versão original: Gaiteiros de Lisboa com Vozes da Rádio (in CD “Bocas do Inferno”, Farol Música, 1997; CD “A História”, Uguru, 2017) [>> YouTube] Outra versão: Gaiteiros de Lisboa com Vozes da Rádio (in 2CD “Dançachamas: Ao Vivo”: CD 2, Farol Música, 2000)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/montalegre-tras-os-montes.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:44:482024-11-02 06:56:03Canções de Trás-os-Montes e Alto Douro
Água do rio clara Deixa passar a barrenta; Quem tem o coração duro Cai ao chão e não rebenta.
Ai, amor, deita a barca ao rio! Deita a barca ao rio! Vamos barquear! Ai, amor, se a barca tomba Caio ao rio, Não sei nadar!
A água daquele rio Corre que desaparece; Quem tem amor vadio
Tanto “alembra” como esquece. Ai, amor, deita a barca ao rio! Deita a barca ao rio! Vamos barquear! Ai, amor, se a barca tomba Caio ao rio, Não sei nadar!
Minha mãe diz que não quer Ter um filho marinheiro: Tem medo que lhe morra Nos embalos do Loureiro.
Ai, amor, deita a barca ao rio! Deita a barca ao rio! Vamos barquear! Ai, amor, se a barca tomba Caio ao rio, Não sei nadar!
Letra e música: Tradicional (“Deita a Barca ao Rio” e “Amendoeira” – Barqueiros, Mesão Frio, Douro Litoral/Alto Douro; “Muinheira de Piornedo” – Galiza) Intérprete: Arrefole (in CD “Veículo Climatizado”, Açor/Emiliano Toste, 2006)
Loja Meloteca, recursos musicais criativos para a infância
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
Neste porto manso eterno
[ Porto Antigo ]
Neste porto manso eterno onde descanso porque me fica aqui o peito e o sentido com aquela água imensa navegando, este rio, ao passar, fala comigo e parece murmurar-se quente e brando como o mundo é mais sereno em Porto antigo.
O velho Douro é como um hino à natureza escorrendo entre os dedos da montanha ao sol que o faz vibrar e pressentir mostrando a história em socalcos vinhateiros nos solares de baronetes e herdeiros com brasões verdadeiros ou a fingir
Dos barcos que se cruzam indo e vindo alguém levanta a mão saudando ao longe como um monge pagão fugido à norma. O próprio rio me esmaga e me transforma, o casario dá impressão que vai cair e eu sei que vou chorar quando partir.
Sei que o tempo ali parou naquele cais e não quero saber de mais informação que a que me traz com majestade o Douro amigo. Eu quero ficar ali para sempre, ali contigo, olhos nas margens do sentir, a mão na mão. Ai, como o mundo é mais sereno em Porto Antigo.
Poema e música: Pedro Barroso Intérprete: Pedro Barroso (in CD “Navegador do Futuro”, Ocarina, 2004)
Pedro Barroso, Navegador do Futuro
Quem vem e atravessa o rio
[ Porto sentido ]
Quem vem e atravessa o rio junto à Serra do Pilar, vê um velho casario que se estende até ao mar.
Quem te vê ao vir da ponte, és cascata são-joanina erigida sobre um monte no meio da neblina
por ruelas e calçadas da Ribeira até à Foz, por pedras sujas e gastas e lampiões tristes e sós.
Esse teu ar grave e sério dum rosto de cantaria que nos oculta o mistério dessa luz bela e sombria.
Ver-te assim abandonado nesse timbre pardacento, nesse teu jeito fechado de quem mói um sentimento
E é sempre a primeira vez em cada regresso a casa rever-te nessa altivez de milhafre ferido na asa.
Letra: Carlos Tê Música: Rui Veloso Intérprete: Rui Veloso (in “Rui Veloso”, EMI-VC, 1986)
Tenho dentro do meu peito
[ Cantiga da Segada ]
Tenho dentro do meu peito, Ai dentro do meu peito, Dois moinhos a moer: Um anda, o outro desanda, Ai o outro desanda, Assim é o bem-querer.
Tenho dentro do meu peito, Ai dentro do meu peito, Um alambique d’aguardente, P’ra destilar as saudades, Ai ouvides, ouvides, Quando de ti estou ausente.
Letra e música: Tradicional (Castro Daire, Douro Litoral) Recolha: José Alberto Sardinha (1977, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 1 – Minho e Douro Litoral, BMG/JN, 1997) Intérprete: Segue-me à Capela Primeira versão de Segue-me à Capela (in CD “Segue-me à Capela”, Segue-me à Capela, 2004)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/porto-foto-erasmusu.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:40:452023-05-02 12:26:51Canções do Douro Litoral