Canções tradicionais de Trás-os-Montes e Alto Douro e sobre a região

Montalegre, Trás-os-Montes

Canções de Trás-os-Montes e Alto Douro

Letras

A la puorta d’un rico abariento

[ Rico Abariento ]

A la puorta d’un rico abariento
chega un pobre ciego, limosna pediu;
L rico an beç de le dar la limosna,
ls perros qu’habie se los assomou.

Nun beis que sou Dius?
Nun beis que sou Dius?

Que los perros todos se morrirun,
L rico abariento ciego se quedou.
Que los perros todos se morrirun,
L rico abariento ciego se quedou.

L bielho rico abariento ciego
cuidaba qu’ls benes de l mundo éran sous;
Quedou siete dies a las scuras
a pedir la lhuç de ls uolhos a Dius.

Abre ls uolhos, ciego, i chama ls tous perros!
La riqueza dás-la a quien precisa
i quedas pra ti cun pouco de l que tenes!
La riqueza dás-la a quien precisa
i quedas pra ti cun pouco de l que tenes!

Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofes incipit “L bielho rico abariento ciego” e “Abre ls uolhos, ciego, i chama ls tous perros”)
Música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina* (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

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Loja Meloteca, recursos criativos para musicalização infantil

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Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.

A quetobia patorra

A quetobia patorra
Está debaixo do torrão!
A quetobia patorra, ai!
A quetobia patorra
Está debaixo do torrão;

Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Moidinha com pancadas
Que lhe deu o gafanhão;
Moidinha com pancadas, ai!
Moidinha com pancadas
Que lhe deu o gafanhão;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Lá em baixo vem a raposa
Pela rodeira do carro;
Lá em baixo vem a raposa, ai!
Lá em baixo vem a raposa,
Pela rodeira do carro;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Traz os olhos na carcota
E o cu debaixo do rabo;
Traz os olhos na carcota, ai!
Traz os olhos na carcota
E o cu debaixo do rabo;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

O lagarto é pintado
Da cabeça até ao meio;
O lagarto é pintado, ai!
O lagarto é pintado
Da cabeça até ao meio;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Não sei como às mulheres pode
Com tanta carne no seio;
Não sei como às mulheres pode, ai!
Não sei como às mulheres pode
Com tanta carne no seio;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Letra e música: Popular (Cardanha, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes)
Recolha/transcrição: Maestro Afonso Valentim (de “Coreografia Popular Transmontana – III – O Galandum”, in “Douro Litoral”, Porto, 1953, 5.ª série, VII-VIII; “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 120)
Arranjo e orquestração: Carlos Barata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa & as Cantadeiras do Vale do Neiva (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

Adeus, ó Vale de Gouvinhas

[ Marião ]

Adeus, ó Vale de Gouvinhas, Marião!
Não és vila nem cidade, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
És um povo pequenino, Marião,
Feito à minha vontade, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.

Hei-de cercar Vale de Gouvinhas, Marião,
Com trinta metros de fita, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
À porta do meu amor, Marião,
Hei-de pôr a mais bonita, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.

Os meus olhos não são olhos, Marião,
Sem estarem os teus defronte, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
Parecem dois rios de água, Marião,
Quando vão de monte em monte, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.

Já corri os mares em volta, Marião,
Com uma vela branca acesa, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
Em todo o mar achei água, Marião;
Só em ti pouca firmeza, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.

Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
Adeus, ó Vale de Gouvinhas, Marião!

Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes)
Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Primeira versão: Brigada Victor Jara (in LP “Eito Fora: Cantares Regionais”, Mundo Novo/Editorial Caminho, 1977, reed. Farol Música, 1995)
Outra versão da Brigada Victor Jara, com Minela Medeiros (in 2CD “Por Sendas, Montes e Vales”: CD 2, Farol Música, 2000)

Vale de Gouvinhas

Vale de Gouvinhas

Ai, lá se vai o Conde Ninho

[ Conde Ninho ]

Ai, lá se vai o Conde Ninho,
Ao seu cavalo vai a banhar;
Ai, enquanto o cavalo bebe
Vai cantando um lindo cantar.

Ai, lá se vai o Conde Ninho,
Ao seu cavalo vai a banhar;
Ai, enquanto o cavalo bebe
Vai cantando um lindo cantar.

Letra e música: Popular (Parada de Infanções, Bragança, Trás-os-Montes)
Recolha: Michel Giacometti (in LP “Trás-os-Montes”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1960; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 2 – Trás-os-Montes, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 3 – Trás-os-Montes, col. Portugal Som, Numérica, 2008)
Arranjo e direcção musical: José Manuel David
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012)

Ai lé lé lai lé lá

[ Primavera (Canção amoroso-pastoril) ]

Ai lé lé lai lé lá,
Ai lé lé lai ló:
Foi a primeira cantiga
Que me ensinou minha avó.

A Primavera passada
Foi o meu divertimento:
Tomei amores mui cedo,
Logrei-os mui pouco tempo.

Primavera, Primavera,
Tempo de tomar amores;
Não há tempo mais alegre
Que Maio com suas flores.

Primavera, Primavera,
Primavera dos boieiros;
Coitadinhos dos pastores
Que dormem pelos chiqueiros.

Ai lé lé lai lé lá,
Ai lé lé lai ló:
Foi a primeira cantiga
Que me ensinou minha avó.

Ai lé lé lai lé lá,
Ai lé lé lai ló:
Foi a primeira cantiga
Que me ensinou minha avó.

Letra e música: Popular (Paradela, Miranda do Douro, Trás-os-Montes e Alto Douro)
Recolha: Fernando Lopes Graça (in livro “A Canção Popular Portuguesa”, Publicações Europa-América, 1953; 3.ª edição, col. Saber, Publicações Europa-América, s/d. – p. 75)
Intérprete: Cantos d’Aurora (in CD “Sabores”, Cantos d’Aurora, 1996)

Ai minha mãe mandou-me à fonte

[ Fonte do Salgueirinho ]

— «Ai minha mãe mandou-me à fonte,
à fonte do Salgueirinho;
Ai mandou-me labar a cântara
com a flor do rosmaninho.
Ai eu labei-a com arena
e scachei-le um bocadinho.»

— «Ai anda cá, perra traidora!
Onde tinhas o sentido?
Ai tinha-lo naquele mancebo
que anda de amores contigo.»

— «Ai, minha mãe, não me bata
com bara de marmeleiro!
Ai que stou muito doentinha,
mandai chamar o barbeiro!»

Ai o barbeiro já lá vem
com uma lanceta na mão,
Ai p’ra sangrar a menina
na veia do coração.

— «Ai, minha mãe, não me bata
com bara de marmeleiro!
Ai que stou muito doentinha,
mandai chamar o barbeiro!»

Letra e música: Tradicional (Caçarelhos, Vimioso, Trás-os-Montes)
Informante: Adélia Garcia
Recolha: Anne Caufriez (Julho de 1978, in LP “Trás-os-Montes: Chants du Blé et Cornemuses de Berger”, Ocora/Radio France, 1980, reed. Ocora/Radio France, 1993; CD “Traz os Montes”, de Né Ladeiras, Almalusa/EMI-VC, 1994)
Adaptação: Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina* (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Ainita

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ya después de haber bubido
Ya José se lo dará.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!…

Letra e música: Tradicional (Freixiosa, Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
Informante: Clementina Rosa Afonso
Recolha: Mário Correia e Abílio Topa (in CD “Clementina Rosa Afonso: Modas, Lhaços e Rimances”, col. Cantos Tradicionais, vol. 2, Sons da Terra, 1998; CD “Cantos das Mulheres da Terra de Miranda”, col. Cantos Tradicionais, vol. 7, Sons da Terra, 2005)
Arranjo: César Prata
Intérprete: César Prata e Vânia Couto
Versão discográfica de César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)

Aqui se canta

[ Anima Mea ]

Aqui se canta, aqui se baila,
Aqui se joga a laranjinha;
Eu conheço o meu amor
Pelo nó da gravatinha.

Pelo nó da gravatinha,
Pelo lenço cachiné;
Aqui se canta, aqui se baila,
Aqui se joga o dominé.

Triste és anima mea,
Triste és anima tua;
Quando estiver em teus braços
Então direi: aleluia!

Triste és anima mea,
São palavras em latim;
O meu amor p’ra contigo
Só por morte terá fim.

Letra e música: Popular (Trás-os-Montes)
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD1, Ovação, 2001)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996)

Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos com Katia Guerreiro, Inna Rechetnikova, Orquestra Sinfonietta de Lisboa e Coros do Alentejo (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005)

Beijai o Menino

Beijai o Menino,
Beijai-o agora!
Beijai o Menino
De Nossa Senhora!

Encontrei a Maria
Na beira do rio,
Lavando os cueiros
Do seu bendito Filho.

Maria lavava,
São José estendia,
E o Menino chorava
Com o frio que tinha.

Cala, cala, meu Menino!
Cala, cala, meu amor,
Que as vossas verdades
Me cortam com dor!

Os filhos dos ricos
Em berços doirados…
Só vós, meu Menino,
Em palhas deitado!

Em palhas deitado,
Em palhas aquecido,
Filho de uma rosa,
De um cravo nascido.

Beijai o Menino,
Beijai-o agora!
Beijai o Menino
De Nossa Senhora!

Letra e música: Tradicional (Miranda do Douro)
Recolha: José Alberto Sardinha (1982, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD2 – Trás-os-Montes, BMG/JN, 1997)
Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)

Bruxos há por estas terras

[ Terras de Feiticeiros ]

Bruxos há por estas terras
Que só as luas conhecem:
Sabem rezas, dizem falas
Quando os dias anoitecem.

Choram com os lobos
Pelo sangue dos cordeiros,
Pela carne dos rebanhos.
Pelas águas dos ribeiros.

Choram com os lobos,
No calor das alcateias,
Pelos irmãos lobisomens
Que se escondem p’las aldeias.

Bruxos há por estes montes
Nos ventos, nas noites calmas:
Invocam anjos e santos
P’ra cuidar das nossas almas.

Chamam os mortos,
Todos são filhos de Deus:
Os que ardem nos infernos
E os que vivem lá nos Céus.

Chamam os mortos
Para andar no nosso chão:
Vêm do fundo dos tempos,
Sabem do vinho e do pão.

Letra: António Prata
Música: Popular (Trás-os-Montes)
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos
Versão original: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)

Canedo stá borracho

Canedo stá borracho
de bino i augardiente;
Mandou tocar la gaita
Delantre de toda giente.

Canedo nun podie
Qu’era hora de l sagrado:
Tocórun a rebate
pra le botar la mano.

Yá matórun l Canedo
mas nun fui na sue tierra:
Fui an Santo Anton da Barca
delantre de la capielha.

La giente inda se lhembra
daqueilha maldiçon:
Fazírun la barraige,
mudórun l Santo Anton.

Nun ye culpa de l Canedo
nien da gaita i bordon:
Ye culpa de quien manda
afogar l Santo Anton.

Canedo stá borracho
de bino i augardiente;
Mandou tocar la gaita
Delantre de toda giente.

Yá matórun l Canedo
mas nun fui na sue tierra:
Fui an Santo Anton da Barca
delantre de la capielha.

Letra: Tradicional (Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofes incipit”Canedo nun podie”, “La giente inda se lhembra” e “Nun ye culpa de l Canedo”)
Música: Tradicional (Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Quatrada, Galandum Galundaina

Quatrada, Galandum Galundaina

Despediu-se o Sol da Aurora

[ Chora, Aurora ]

Despediu-se o Sol da Aurora,
Aurora ficou chorando…
Não chores, Aurora, não chores, não chores!…
Aurora, não chores, que eu virei de quando em quando!

Ai, tu é que és o meu rapaz…
Quando é que lá vais?
Ai, vai ao jardim das flores!
Lá me encontrarás.

Ai, se lá me não encontrares,
Torna a voltar, torna a voltar!
Ai, pergunta a quem tenha amores,
A quem tenha amores, a quem saiba amar!

A quetobia patorra
Está debaixo do torrão;
A quetobia patorra, ai!
A quetobia patorra
Está debaixo do torrão.
Mas ai! ai! ai!

Moidinha com pancadas
Que lhe deu o gafanhão;
Moidinha com pancadas, ai!
Moidinha com pancadas
Que lhe deu o gafanhão.
Mas ai! ai! ai! ai!

Letra: Tradicional (“Nós somos trabalhadores” – Ferreira do Alentejo, Baixo Alentejo / “Ai, tu é que és o meu rapaz” – Amareleja, Baixo Alentejo / “A quetobia patorra” – Cardanha, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes)
Recolhas: Michel Giacometti (“Nós somos trabalhadores”, in “Cancioneiro Popular Português”, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 127) / Pe. António Marvão (“Ai, tu é que és o meu rapaz”, 1920-42, in “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 106) / Maestro Afonso Valentim (“A quetobia patorra”, 1953, in “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 120)
Música: Tradicional (“A quetobia patorra” – Cardanha, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes) e Carmina Repas Gonçalves
Arranjo: Carmina Repas Gonçalves
Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)

Deus te salve, ó Rosa

Deus te salve, ó Rosa
Claro Serafim
Pastora formosa
Que fazeis aqui?

Estou guardando meu gado
Que eu aqui deixei.

Deixai o vosso gado
Que eu o guardarei
Quero ser vosso criado
Linda flor, meu bem

Não quero criados
De meias de seda
Não quero que as rompa
Cá por estas estevas

Sapatos e meias
Tudo as romperei
Para ser vosso criado
Linda flor, meu bem

Vá-se já embora
E não me dê mais penas
Que daqui a nada
Vem meu amo
Trazer-me a merenda

Letra e música: Popular (Trás-os-Montes)
Intérprete: Voz feminina solo
Recolha: Michel Giacometti (in “Cantos e Danças de Portugal”, Diapasão/Sassetti, 1981)

Dius te salve, Rosa!

[ Linda Pastorica (romance) ]

— Dius te salve, Rosa!
— Lindo serafin!
— Linda pastorica,
que fazeis eiqui?

— Guardo l miu ganado
qu’anda pur aí.
— L tou ganado, Rosa,
traio-l you eiqui.

— S’el yé de sou donho,
nun te dê cuidado!
— Queres-me tu, Rosica,
para tou criado?

— Criados tan nobres,
bestidos de seda,
poden-se rumpér
ainda nestas estebas.

— Çapatos i meias
tudo rumperei;
pur bias de ti
la bida darei.

— Ide-bos ambora,
nun me deixeis pena!
Poden benir mius âmos
traer la merenda.

— Balga-te Dius, Rosa,
mas que amperteniente!
Âmos nun son lhobos
que comam la gente.

— Ide-bos ambora,
yá bos ampuntei!
Han-de dezir mius âmos
an que m’acupei.

— S’eilhes te deziren
an que t’acupéste,
nun dilúbio d’auga
parqui me chaméste.

— Ide-bos ambora,
nun me deis tromento!
Nun bos podo ber
nin pur pensamento.

— Yá qu’antun m’ampuntas,
you me bou andando;
tu te quedas rindo,
you me bou chorando.

— Bós ides chorando,
bulbei-bos fugindo;
l’amor yé tan bário
yá me bou rendindo.

Ninas de l lhugar,
beni pal miu ganado!
You me bou ambora
cu’l miu namorado.

— Bamo-nos ambora
a drumir la sestia!
— Nun se m’amporta nada
que l ganado se perda.

— Bamo-nos ambora,
mas pur mal andamos!
Sabes tu, Rosica,
que you sou tou armano?

— Se sois miu armano,
armano de l’alma,
pur favor te pido
que nun digas nada!

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Canto Ondo (in CD “Entre o Alto do Peito e as Campainhas da Garganta”, A Monda – Associação Cultural/Canto Ondo, 2016)

Mi Morena

Donde estará mi morena?
Donde estará mi salada?
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

Donde estará mi morena?
A la fuente a buscar agua.
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

Me diste una cinta verde,
Tan verde como la rama.
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

La cinta la traigo al cuelo,
A ti te traigo en el alma.
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

Con tus ojitos azules sobre tu cara morena,
Los resplendores del cielo caiendo sobre la tierra.
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

Mi morena…
Mi morena…
Mi morena…
Mi morena…

Letra e música: Popular (Rio de Onor, Trás-os-Montes)
Arranjo: Paulo Loureiro
Intérprete: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
Primeira versão [?]: Brigada Victor Jara / voz solo de Margarida Miranda (in CD “Danças e Folias”, Farol Música, 1995; Livro/11CD “Ó Brigada!: discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: CD “Danças e Folias”, Tradisom, 2015)

Rio de Onor
Rio de Onor

Donde vas

— Donde vas, donde vas, Adelaida?
Donde vas, donde vas por ahi?
— Voy en busca de mi amante Enrique
Que se ha vuelto loco de penas por mí.

— Es la luna y Enrique no viene,
Son las dos y Enrique no está.
— Yo no siento que Enrique me deje
Teniendo la ropa para nos casar.

— Donde vas, donde vas, Adelaida?
Donde vas, donde vas por ahi?
— Voy en busca de mi amante Enrique
Que se ha vuelto loco de penas por mí.

— Es la luna y Enrique no viene,
Son las dos y Enrique no está.
— Yo no siento que Enrique me deje
Teniendo la ropa para nos casar.

Letra e música: Tradicional (Rio de Onor, Trás-os-Montes)
Recolha: Margot Dias
Arranjo: Brigada Victor Jara
Intérprete: Brigada Victor Jara, com Luísa Cruz (in 2CD “Por Sendas, Montes e Vales”: CD 2, Farol Música, 2000; Livro/11CD “Ó Brigada!: discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: “Por Sendas, Montes e Vales”: CD 2, Tradisom, 2015)

Eito fora

Eito fora, eito fora, eito fora!
Ai, e ó ai, e ó ai, e ó ai!
Em lá chegando ao cabo, descansar!
Ai, e ó ai, e ó ai, e ó ai!

Letra e música: Tradicional (“Cantiga da Ceifa” – Lourosa da Trapa, São Pedro do Sul, Beira Alta / “Passacalhes” – Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
Recolhas: Michel Giacometti (“Cantiga da Ceifa I”, 1969, in LP “Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1970; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 3 – Beiras, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 4 – Beiras, col. Portugal Som, Numérica, 2008) / Pe. António Mourinho (“Passacalhes”)
Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)

Esta ye la tonadica de l fraile

[ Fraile Cornudo ]

Esta ye la tonadica de l fraile…

Fraile cornudo,
Hecha-te al baile
Que te quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Busca cumpanha,
Que te quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Deixa-la sola,
Que la quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Fraile cornudo,
Hecha-te al baile
Que te quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Busca cumpanha,
Que te quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Deixa-la sola,
Que la quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Letra e música: Tradicional (Fonte da Aldeia, Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Primeira versão de Galandum Galundaina (in DVD “Ao Vivo no Teatro Municipal de Bragança”, Açor/Emiliano Toste, 2007)
Outra versão de Galandum Galundaina (in CD “Senhor Galandum”, Açor/Emiliano Toste, 2009) [ ao vivo em Coimbra, Festival Passagem de Ano 2009/2010 ]

Este pandeiro que eu toco

[ Balsagaita cun Pandeiros ]

Este pandeiro que toco,
este que tengo na mano,
que me lo dou mie cunhada,
la mulhier de miu armano.

Acudi-me, moças!
Beni-me acudir!
Las pulgas son tantas,
nun me déixan drumir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…

Este pandeiro que toco
ten un aro de cortiça;
You toco an Dues Eigreijas,
respónden na Belariça.

Acudi-me, moças!
Beni-me acudir!
Las pulgas son tantas,
nun me déixan drumir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…

Este pandeiro que toco,
a la puorta de la frauga,
fai las moças mais bonitas
chegar l burrico a l’auga.

Acudi-me, moças!
Beni-me acudir!
Las pulgas son tantas,
nun me déixan drumir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…

Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofe incipit “Este pandeiro que toco / a la puorta de la frauga”)
Música: Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Emiliano Toste
Emiliano Toste

Eu nunca fui cantador

Eu nunca fui cantador
Nem aos descantes chamado;
Meu pai é trabalhador,
Trabalho me tem matado.

A sorte de um marinheiro
É de todas a mais dura:
Anda sempre a trabalhar
Por cima da sepultura.

Eu nunca fui cantador
Nem aos descantes chamado;
Meu pai é trabalhador,
Trabalho me tem matado.

Letra e música: Popular (Trás-os-Montes)
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos*
Arranjo: António Prata
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Outras Terras”, Ronda dos Quatro Caminhos, 1999)
Segunda versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 2, Ovação, 2001) [com o Quarteto Opus 4, ao vivo no Centro Cultural Raiano, Idanha-a-Nova, 2007
Terceira versão da Ronda dos Quatro Caminhos, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)

L gaiteiro de la Gudinha

L gaiteiro de la Gudinha
Iá nun toca quando quier
Scachoron-le la gaitica
I amprenhoron-le la mulhier

Se tu quieres iou quiero
Mas se iou quiero tu nó
Saliste bien teimosa
Sós pior que la tue bó

Indo malhada arriba
Tropecei-te na rodeira
Fugiste cumo la lhiebre
Quando se anda atrás deilha

Nel meio del lhugar
Hai ua grande lhagona
Onde se meten eilhas
A tocaren la çanfona

Letra: Tradicional (1.ª quadra) e Célio Pires
Música: Tradicional
Intérprete: Trasga (in CD “Al Absedo…”, Sons da Terra, 2012)

Gerinaldo, Gerinaldo

— Gerinaldo, Gerinaldo,
pajem d’El-Rei tão querido,
bem puderas, Gerinaldo,
passar a noite comigo.
— Zombais comigo, senhora,
por ser o vosso cativo.
— Eu não to digo zombando,
é deveras que to digo.
Logo ao dar a meia-noite,
Gerinaldo, o atrevido;
foi ao quarto da princesa,
deu um ai mui dolorido.
— Ide abrir a minha porta,
que El-Rei não seja sentido;
anda cá, ó Gerinaldo,
podes-te deitar comigo. —
Já era quase sol fora
e Gerinaldo dormido.
Acorda o rei de repente,
chama o seu pajem querido,
mas Gerinaldo não vem
p’ra lhe trazer o vestido.
— Ou estará morto o meu pajem
ou traição me há cometido. —
Responde dali um pajem
que tudo tinha sentido:
— Lá no quarto da princesa
estará adormecido. —
O rei levanta-se à pressa
e leva o punhal consigo,
Dormiam os dois na cama
como mulher e marido.
— Eu se mato Gerinaldo,
criei-o de pequenino,
e se mato a princesa
fica o meu reino perdido. —
Tira El-Rei o seu punhal,
deixa-o entre os dois metido,
Ia-se a virar o pajem,
logo se sentiu ferido.
— Acordai, ó bela infanta,
acordai, que estou perdido:
o punhal d’oiro d’El-Rei
entre nós está metido!
— O castigo que te dou,
por seres meu pajem querido,
é que a tomes por mulher
e ela a ti por seu marido. —
Gerinaldo, Gerinaldo,
pajem d’El-Rei tão querido,
E assim ficou bem feliz
Gerinaldo, o atrevido.

Romance tradicional (Trás-os-Montes)
Adaptação e arranjo: José Barros
Intérprete: José Barros e Navegante (in CDs ” Rimances”, JBN, 2001; “…Vivos. E ao vivo”, Ocarina, 2003)

Indo you mie siêrra arriba

[ La Lhoba Parda ]

Indo you mie siêrra arriba,
Delantre de miu ganado,
Repicando lo caldeiro,
Remendando l miu çamarro,
Aparcírun-me siête lhobos:
Todos siête na niada
Trazien ua lhoba al meio
Que era mais lhieba que parda;
Me quitou ua cordeira
La mejor de la piara.

Era ua cordeira branca,
Filha dua oubeilha negra,
Filha de l melhor maron
Que se passiaba na siêrra.
— «Arriba, arriba, cachorros!
Abaixo, perra gudiana!
Se m’agarrardes la lhoba
La cena tenereis ganha
I se num me l’agarrardes
Cula caiata cenais!»

Siête lhéguas han corrido
Los mius perros por arada
I al fin de las siête lhéguas
La lhoba staba cansada.
— «Toma, perro, la cordeira!
Lhiêba-la pa la piara!»
— «Nun te quiêro la cordeira
Que la tenes lhobadada.
Só te quiêro la tue çamarra
Para fazer ua albarda;

Las tripas para biolas,
Para beiláren las damas;
El rabo para correias,
Para atacarmos las bragas.»
— «Chames tous perros, pastor,
Yá me bou pa las muntanhas!
Direi a ls mius cumpanheiros
Q’ you nun buolbo a tu’ malhada,
Porque perros cumo ls tous
Nun los tem l Rei de Spanha!»

Letra e música: Popular (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Arranjo e orquestração: Pedro Pitta Groz
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)

Né Ladeiras

Né Ladeiras

Marinheiro novo

Marinheiro novo,
Que levas no teu navio?
Levo rouxinóis que cantam,
Passarinhos que assobiam.

Ora adeus, adeus!
Ora adeus que já me vou!
Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Marinheiro novo,
Que levas no teu vapor?
Levo lencinhos de seda
Para dar ao meu amor.

Ora adeus, adeus!
Ora adeus que já me vou!
Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Marinheiro novo,
Que levas na tua barca?
Eu levo muitas saudades
De quem fica e não embarca.

Ora adeus, adeus!
Ora adeus que já me vou!
Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Marinheiro novo,
Que levas nas tuas águas?
Levo barquinhos de oiro
Para dar às namoradas.

Ora adeus, adeus!
Ora adeus que já me vou!
Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes)
Intérprete: Ai! (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)

Mirandum se fui a la guerra

Mirandum se fui a la guerra,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Num sei quando benerá:
Se benerá por la Pascua
Mirandum, Mirandum. Mirandela!
Ou se por la Trenidade?

La Trenidade se passa,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Mirandum num bieno yá;
Birun benir un passe,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Que nobidades trairá?

Las nobidades que traio
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Bos han de fazer chorar:
Que Mirandum yá ye muorto,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
You bien lo bi anterrar.

Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Mirandum se fui a la guerra,
Num sei quando benerá,
Num sei quando benerá:
Se benerá por la Pascua
Mirandum, Mirandum. Mirandela!
Se benerá por la Pascua
Ou se por la Trenidade?

La Trenidade se passa,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
La Trenidade se passa,
Mirandum num bieno yá…

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

No lhugar de Dues Eigreijas

[ Duas Igrejas ]

No lhugar de Dues Eigreijas
hay una piedra redonda
onde se sentan los moços
quando benen de la ronda.

Cardai, cardicas, cardai
la lhana pa los cobertores!
Que las pulgas stan prenhadas,
ban a parir cardadores.

No lhugar de Dues Eigreijas
hay una piedra burmeilha
onde se sentan los moços
a peináre la guedeilha.

Cardai, cardicas, cardai
la lhana pa los cobertores!
Que las pulgas stan prenhadas,
ban a parir cardadores.

Letra e música: Popular (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Arranjo: Carlos Barata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001)
Segunda versão da Ronda dos Quatro Caminhos, com Orquestra Sinfonietta de Lisboa (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005)

Nós tenemos muitos nabos

Nós tenemos muitos nabos
a cozer nua panela…

Nós tenemos muitos nabos
a cozer nua panela;
Nun tenemos sal nien unto,
nien presunto nien bitela.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Ls chocalhos rúgen, rúgen,
ls carneiros alhá ban;
An chegando a Ourrieta Cuba
ls carneiros bulberan.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Roubórun la Malgarida
pula ripa de l telhado,
cuidando que era toucino
que stava çpindurado.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Nós tenemos muitos nabos
a cozer nua panela;
Nun tenemos sal nien unto,
nien presunto nien bitela.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Ls chocalhos rúgen, rúgen,
ls carneiros alhá ban;
An chegando a Ourrieta Cuba
ls carneiros bulberan.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Bai, Pedro, bai
al lhugar de la justicia!
Di le a tou amo,
cumo you te digo a ti:
Que la filha de l Lima
stá ne l lhume i pinga;
La filha de la Bergada
stá ne l lhume i bai assada.

Pedro, que te falta?
Repica la tue gaita!
Tenes l pan na tulha
l bino na bodega;
Tenes la melhor moça
que habie nesta tierra:
Ciega dun uolho
i manca dua pierna.

Bai, Pedro, bai
al lhugar de la justicia!
Di le a tou amo,
cumo you te digo a ti:
Que la filha de l Lima
stá ne l lhume i pinga;
La filha de la Bergada
stá ne l lhume i bai assada.

Pedro, que te falta?
Repica la tue gaita!
Tenes l pan na tulha
l bino na bodega;
Tenes la melhor moça
que habie nesta tierra:
Ciega dun uolho
i manca dua pierna.

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Versão anterior de Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “L Purmeiro”, Açor/Emiliano Toste, 2002)
Outra versão de Galandum Galundaina (in DVD “Ao Vivo no Teatro Municipal de Bragança”, Açor/Emiliano Toste, 2007)

Nun me gusta l pan centeno

[ Para Namorar Morena ]

Nun me gusta l pan centeno
que m’amarga la costreza;
S’algun die falei contigo,
nun me pesa, nun me pesa!

Para namorar,
para namorar, morena…
Para namorar,
bun çapato i buona meia!

(bis)

Sei un ciento de cantigas
i mais ua talagada:
Puodo cantar toda a noite
i mais toda la madrugada.

Para namorar,
para namorar, morena…
Para namorar,
bun çapato i buona meia!

Diabos lhieben ls ratos
i ls dientes das formigas,
Que me robírun ls lhibros
donde stában las cantigas!

Para namorar,
para namorar, morena…
Para namorar,
bun çapato i buona meia!

Yá comi, yá bui,
tengo la barriga chena!
Mas de l amor tengo fame:
só te quiero a ti, morena!

Para namorar,
para namorar, morena…
Para namorar,
bun çapato i buona meia!

Ó senhor da casa,
quiero la mano da sue filha!
You yá la namoro
hai nuobe meses i un die;
Tengo l lhume aceso,
quiero ser sou marido,
la cama caliente
pra deitar l nuosso nino.

Alhá na nuossa tierra
sou you l regidor;
Yá nun tengo mula,
cumprei um tractor;
Cabeço de la Trindade
yá sembrei la huorta;
Tardo quatro jeiras
para dar la ronda.

Ó senhor da casa,
quiero la mano da sue filha!
You yá la namoro
hai nuobe meses i un die;
Tengo l lhume aceso,
quiero ser sou marido,
la cama caliente
pra deitar l nuosso nino.

Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofes incipit “Ó senhor da casa” e “Alhá na nuossa tierra”)
Música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina
Versão original: Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Nunca andes com mentiras

[ Mentiras ]

Nunca andes com mentiras
Que é um caso perigoso
Que eu já tive um namorado
Deixei-o por mentiroso

Vais dizendo pelas ruas
Que tu já me tens deixado
Bem sabe já toda a gente
Que tu andas enganado

Vais dizendo pelas ruas
Que tu me tens esquecido
Bem sabe já toda a gente
Que eu nunca te tenho querido

Tenho-te dito mil vezes
Não venhas aonde estou
Sempre estás a vir p’ra mim
E aonde estás não vou.

Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes)
Recolha: Domingos Morais (1985, cantada por Francisco dos Reis Domingues)
Intérprete: Stockholm Lisboa Project (in CD “Sol”, Nomis Musik, 2007)

Oh bento airoso

Oh bento airoso, mistério divino!
Encontrei a Maria à beira do rio
E lavando os cueiros do bendito Filho.

Oh bento airoso, mistério divino!
Maria lavava, S. José estendia
E o Menino chorava c’o frio que fazia.

Oh bento airoso, mistério divino!
Calai, meu Menino! Calai, meu amor!
As vossas verdades me matam com dor.

Letra e música: Tradicional (Paradela, Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
Recolha: Michel Giacometti (1960, in “Cancioneiro Popular Português”, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 43)
Intérprete: Janita Salomé (in CD “Em Nome da Rosa”, Cantar ao Sol/Ponto Zurca, 2014)

Ó minha mãe, deixe

[ Arraial de Valpaços ]

Ó minha mãe, deixe, deixe!
Ó minha mãe deixe-me ir
Ao arraial a Valpaços
Qu’eu vou e torno a vir!

Ó Senhora da Saúde,
Que dais a quem vos vai ver?
Bom terreiro p’ra dançar,
Água fresca p’ra beber.

Ó Senhora da Saúde,
Que dais aos vossos romeiros?
Dou-lhe água da minha fonte,
Sombra dos meus castinheiros.

Ó Senhora da Saúde,
Mandai varrer as areias!
Já lá rompi os sapatos,
Não quero romper as meias.

Ó Senhora da Saúde,
Eu p’rò ano lá irei
Ou casada ou solteira;
Santinha, isso é qu’eu não sei.

Ó Senhora da Saúde,
Eu p’rò ano não prometo,
Que me morreu o amor;
Ando vestida de preto.

Letra e música: Popular
Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)

Pur baixo de la punte

Kyrie Eleison
Kyrie Eeison
Christe Eleison
Christe Eleison
Kyrie Eleison

Pur baixo de la punte
Retomba l rio;
Ye ua lhabadeira
Kus, kus, bulis, bulis!
Kai, kai, minha bida!
Que lhaba trigo,
Que lhaba trigo.

Pur baixo de la punte
Retomba l’água;
Ye ua lhabadeira
Kus, kus, bulis, bulis!
Kai, kai, minha bida!
Que panhos lhaba,
Que panhos lhaba.

Pur baixo de la punte,
Stá la raposa
Remendando sue sáia
Kus, kus, bulis, bulis!
Kai, kai, minha bida!
De çaragoça,
De çaragoça.

Pur baixo de la punte,
Stá Catalina
Remendando sue sáia
Kus, kus, bulis, bulis!
Kai, kai, minha bida!
De costorina,
De costorina.

Letra e música: Popular (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) / Introdução: Canto gregoriano Kyrie XI (Orbis Factor), Sécs. XIV-XVI
Arranjo, orquestração e harmonização do coro: Vasco Pearce de Azevedo
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, Armando Possante e coro gregoriano (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)
Primeira versão [?]: Galandum Galundaina (in CD “Modas i Anzonas”, Açor/Emiliano Toste, 2005)

Glossário:

  1. çaragoça (em português: saragoça) – tecido grosseiro de lã preta, geralmente usado na confecção de roupa dos camponeses. Deve o nome à circunstância de ser fabricado, primitivamente, na cidade aragonesa de Saragoça.
  2. costorina (em português: castorina, do fr. castorine) – nome dado, originalmente, ao tecido feito do pêlo do castor; posteriormente passou também a designar um tecido de lã, leve, macio e sedoso.
Galandum Galundaina, Modas i anzonas
Galandum Galundaina, Modas i anzonas

Senhor Galandun

Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun!…

Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Madre la bizcaia, cun las trés traseiras, cun las delantreiras,
Dá-me la mano squierda, dá-me la dreita!
I arréden-se atrás, que manda la reberéncia!

Yá nun manda l Rei, que manda la Justícia!
Esses bailadores que se cáian cun la risa,
que se cáian, que se cáian!
Esses bailadores que se cáian cun la risa,
que se cáian, que se cáian!

Yá nun manda l Rei, que yá manda l’Alcaide!
Yá nun manda l Rei, que yá manda l’Alcaide!
Esses bailadores que se lhebanten i que bailen,
que bailen, que bailen!
Esses bailadores que se lhebanten i que bailen,
que bailen, que bailen!

Yá nun manda l Rei, que manda l Regidor!
Yá nun manda l Rei, que manda l Regidor!
Essas bailadeiras que se cáian cun la risa,
que se caian, que se cáian!
Essas bailadeiras que se cáian cun la risa,
que se caian, que se cáian!

Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galundaina!…

La casa de l Cura nun ten mais que ua cama,
La casa de l Cura nun ten mais que ua cama:
An la cama drume l Cura donde conhos drume l’ama,
donde conhos drume l’ama;
An la cama drume l Cura donde conhos drume l’ama,
donde conhos drume l’ama.
Tu madre me dixo que eras machorra,
Tu madre me dixo que eras machorra;
Me saliste prenha, mira que porra,
que porra, que porra!
Me saliste prenha, mira que porra,
que porra, que porra!

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “Senhor Galandum”, Açor/Emiliano Toste, 2009)

Siga a malta

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta pra diante!
Siga a malta pra diante!
Esta malta stá parada
só por nun haber quien cante,
só por nun haber quien mande.

No tiempo de primabera
todo l mundo reberdece:
Bien lhargo l eimbierno seia
d’amberdecer nun se squece
i naide outra cousa spera
por esso naide se spante
que téngamos esta eideia.
Siga a malta pra diante!

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta pra diante!
Siga a malta pra diante!
Esta malta stá parada
só por nun haber quien cante,
só por nun haber quien mande.

Na selombra dun sobreiro
quememos nuossa merenda:
Çcansados apuis la ronda
i se nun hai quien santenda;
Qualquier un quier ser purmeiro
ou por nada fáien guerra,
nós dezimos que yá bonda.
Siga a malta i trema a tierra!

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta pra diante!
Siga a malta pra diante!
Esta malta stá parada
só por nun haber quien cante,
só por nun haber quien mande.

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta i trema a tierra!
Siga a malta i trema a tierra!
Benga d’alhá quien benir,
esta malta nun arreda!
Esta malta nun arreda!

Anriba deste cabeço
l praino bemos, i Spanha;
Mas l cielo nunca l bimos,
muito hai quien mos anganha;
Yá muitá tubo esse ampeço
por esso rábia mos medra
i a cantar eiqui benimos.
Esta malta nun arreda!

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta pra diante!
Siga a malta pra diante!
Esta malta stá parada
só por nun haber quien cante,
só por nun haber quien mande.

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta i trema a tierra!
Siga a malta i trema a tierra!
Benga d’alhá quien benir,
esta malta nun arreda!
Esta malta nun arreda!

Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Amadeu Ferreira (estrofes incipit “No tiempo de primabera”, “Na selombra dun sobreiro” e “Anriba deste cabeço”)
Música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina
Versão original: Galandum Galundaina com José Medeiros (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Galandum Galundaina

Galandum Galundaina

Tanta silba

[ Tanta Pomba ]

Tanta silba, tanta silba,
tanta silba, tanta muora!
Tanta rapaza bonita
i miu pai sien ua nora!

I miu pai sien ua nuora,
pra l miu pai nuora nun hai;
Cumo há-de tener nuora
se nun falo para naide?

Atira, caçador, atira
a la palomba qu’anda na eira!
Ah lhadron que la mateste,
andaba para ser freira!

Andaba para ser freira,
traíe ua bela na mano;
Lhembrou-se de ls sous amores:
«Nun quiero ser freira, nó!»

Yá murriu la palomba branca,
yá alhá bai l portador;
Yá nun tengo quien me lhiebe
las cartas al miu amor.

La palomba chubiu a l aire,
la palomba alhá chubiu;
Nos braços de l miu amor
agarrei la palomba i eilha nun fugiu.

Atira, caçador, atira
a la palomba qu’anda na eira!
Ah lhadron que la mateste,
andaba para ser freira!

Andaba para ser freira,
traíe ua bela na mano;
Lhembrou-se de ls sous amores:
«Nun quiero ser freira, nó!»

Yá murriu la palomba branca,
yá alhá bai l portador;
Yá nun tengo quien me lhiebe
las cartas al miu amor.

La palomba chubiu a l aire,
la palomba alhá chubiu;
Nos braços de l miu amor
agarrei la palomba i eilha nun fugiu.
Piu!

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Arranjo: Clã e Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina com Manuela Azevedo (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Tinha vinte e quatro freiras

[ Trângulo-Mângulo (lengalenga) ]

Tinha vinte e quatro freiras,
mandei-as fazer um doce:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão doze.

Dessas doze que ficaram,
mandei-as vestir de bronze:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão onze.

Dessas onze que ficaram,
mandei-as lavar os pés:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão dez.

Dessas dez que me ficaram,
mandei-as p’ró Dezanove:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão nove.

Dessas nove que ficaram,
mandei-as comer biscoito:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão oito.

Dessas oito que ficaram
mandei-as p’ró Dezassete:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão sete.

Dessas sete que me ficaram,
mandei-as cantar os Reis:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão seis.

Dessas seis que me ficaram,
mandei-as p’ró João Pinto:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão cinco.

Dessas cinco que ficaram,
mandei-as cortar tabaco:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão quatro.

Dessas quatro que ficaram,
mandei-as lá outra vez:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão três.

Dessas três que me ficaram,
mandei-as calçar as luvas:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão duas.

Dessas duas que ficaram,
mandei-as comer pirua:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão uma.

Tinha vinte e quatro freiras,
fi-las andar na poeira:
elas morreram-me todas
com uma grande borracheira.

Letra: Popular (Santa Marta de Penaguião, Trás-os-Montes e Alto Douro)
Música: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa*
Versão original: Gaiteiros de Lisboa com Vozes da Rádio (in CD “Bocas do Inferno”, Farol Música, 1997; CD “A História”, Uguru, 2017) [>> YouTube]
Outra versão: Gaiteiros de Lisboa com Vozes da Rádio (in 2CD “Dançachamas: Ao Vivo”: CD 2, Farol Música, 2000)

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