Canções do Douro Litoral
Água do rio clara
[ Barqueiros ]
Água do rio clara
Deixa passar a barrenta;
Quem tem o coração duro
Cai ao chão e não rebenta.
Ai, amor, deita a barca ao rio!
Deita a barca ao rio!
Vamos barquear!
Ai, amor, se a barca tomba
Caio ao rio,
Não sei nadar!
A água daquele rio
Corre que desaparece;
Quem tem amor vadio
Tanto “alembra” como esquece.
Ai, amor, deita a barca ao rio!
Deita a barca ao rio!
Vamos barquear!
Ai, amor, se a barca tomba
Caio ao rio,
Não sei nadar!
Minha mãe diz que não quer
Ter um filho marinheiro:
Tem medo que lhe morra
Nos embalos do Loureiro.
Ai, amor, deita a barca ao rio!
Deita a barca ao rio!
Vamos barquear!
Ai, amor, se a barca tomba
Caio ao rio,
Não sei nadar!
Letra e música: Tradicional (“Deita a Barca ao Rio” e “Amendoeira” – Barqueiros, Mesão Frio, Douro Litoral/Alto Douro; “Muinheira de Piornedo” – Galiza)
Intérprete: Arrefole (in CD “Veículo Climatizado”, Açor/Emiliano Toste, 2006)
Clique AQUI para aceder aos produtos Meloteca!
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
Neste porto manso eterno
[ Porto Antigo ]
Neste porto manso eterno onde descanso
porque me fica aqui o peito e o sentido
com aquela água imensa navegando,
este rio, ao passar, fala comigo
e parece murmurar-se quente e brando
como o mundo é mais sereno em Porto antigo.
O velho Douro é como um hino à natureza
escorrendo entre os dedos da montanha
ao sol que o faz vibrar e pressentir
mostrando a história em socalcos vinhateiros
nos solares de baronetes e herdeiros
com brasões verdadeiros ou a fingir
Dos barcos que se cruzam indo e vindo
alguém levanta a mão saudando ao longe
como um monge pagão fugido à norma.
O próprio rio me esmaga e me transforma,
o casario dá impressão que vai cair
e eu sei que vou chorar quando partir.
Sei que o tempo ali parou naquele cais
e não quero saber de mais informação
que a que me traz com majestade o Douro amigo.
Eu quero ficar ali para sempre, ali contigo,
olhos nas margens do sentir, a mão na mão.
Ai, como o mundo é mais sereno em Porto Antigo.
Poema e música: Pedro Barroso
Intérprete: Pedro Barroso
(in CD “Navegador do Futuro”, Ocarina, 2004)
Quem vem e atravessa o rio
[ Porto sentido ]
Quem vem e atravessa o rio
junto à Serra do Pilar,
vê um velho casario
que se estende até ao mar.
Quem te vê ao vir da ponte,
és cascata são-joanina
erigida sobre um monte
no meio da neblina
por ruelas e calçadas
da Ribeira até à Foz,
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.
Esse teu ar grave e sério
dum rosto de cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria.
Ver-te assim abandonado
nesse timbre pardacento,
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento
E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa.
Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Intérprete: Rui Veloso
(in “Rui Veloso”, EMI-VC, 1986)
Tenho dentro do meu peito
[ Cantiga da Segada ]
Tenho dentro do meu peito,
Ai dentro do meu peito,
Dois moinhos a moer:
Um anda, o outro desanda,
Ai o outro desanda,
Assim é o bem-querer.
Tenho dentro do meu peito,
Ai dentro do meu peito,
Um alambique d’aguardente,
P’ra destilar as saudades,
Ai ouvides, ouvides,
Quando de ti estou ausente.
Letra e música: Tradicional (Castro Daire, Douro Litoral)
Recolha: José Alberto Sardinha (1977, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 1 – Minho e Douro Litoral, BMG/JN, 1997)
Intérprete: Segue-me à Capela
Primeira versão de Segue-me à Capela (in CD “Segue-me à Capela”, Segue-me à Capela, 2004)