César Viana e a Música Sacra

César Viana, compositor
Obras Sacras de César Viana

Temática sacra e religiosa na música contemporânea

A 16 de Março de 2024, a obra Carmina Passionis – Cantata de César Viana para coro e orquestra
apresenta-se no Centro Cultural Raiano, Idanha-a-Nova (duração de 75 minutos), produzida pela Musicamera Produções.

Carmina Passionis é uma criação de César Viana que tem como um dos principais pontos de partida os cânticos da quaresma e semana santa do concelho de Idanha-a-Nova, que guardam memórias de tempos ancestrais através da complexidade e mistério das suas escalas e melismas vocais e que foram exaustivamente recolhidos, registados e estudados pelo autor. Esse repertório é a base do trabalho criativo e é complementado com textos e melodias oriundos das versões latinas dos relatos evangélicos da Paixão e do canto gregoriano. É uma obra para orquestra e ensemble vocal que assume a tradição e a memória coletiva como elementos incontornáveis na construção de um idioma musical contemporâneo.

Entre 2002 e 2004, César Viana dedicou “muito tempo à recolha, gravação e estudo do repertório tradicional da região de Idanha-a-Nova, em particular o da Quaresma e Semana Santa que – através dos seus modos e escalas milenares e dos seus misteriosos melismas melódicos – traduz de uma forma admirável o que Lopes-Graça designou como “lirismo ibérico”.

A presença nesta música de modos e escalas dificilmente explicáveis pela teoria musical ocidental (mas enquadráveis com naturalidade nas teorias modais orientais – em particular a árabe, casos do modo Nikriz e de formas muito particulares dos modos Hijaz e Kurdi, além do tipo de articulação de organizações mais pequenas – tetracordes lhes chamaríamos no ocidente, Ajnas no mundo árabe) leva-nos a culturas musicais eruditas que são distantes e antigas, mas que nos devolvem uma parte insubstituível da nossa identidade.

O primeiro resultado deste interesse foi a publicação, com o apoio da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, de uma caixa de seis CDs com uma seleção alargada dessas recolhas: Idanha-a-Nova: uma paisagem sonora. Quase vinte anos depois, voltei a esta música, através de uma composição que terá a sua estreia no próximo sábado em Idanha-a-Nova.

“Carmina Passionis” contém cânticos de Paixão, mas não é uma Paixão em sentido estrito. A narrativa da paixão é feita através de melodias oriundas dos cânticos de Quaresma e Semana Santa de várias aldeias do concelho de Idanha-a-Nova, em particular Ladoeiro, Zebreira e Panha Garcia. O objectivo não é evidentemente “melhorar” ou “aperfeiçoar” o milenar cântico tradicional, mas sim, pelo contrário, enriquecer um discurso contemporâneo com a complexidade, espontaneidade e transcendente beleza dos cânticos idanhenses, além de reinvidicar e assumir os factores identitários que lhes são inerentes. Ao mesmo tempo que a narrativa da Paixão é feita em números baseados nos referidos cantos populares, outros números baseiam-se em textos latinos e melodias gregorianas que valorizam a actividade e o sofrimento (Pasio, em latim) de quem trabalha. São sobretudo textos retirados de fontes ibéricas das liturgias de São José operário e de Santo Isidro lavrador. Deste modo, enquanto a fonte popular narra o mistério divino, a fonte erudita enobrece a Paixão popular.”

A obra é dedicada à memória do seu pai, César Augusto Nunes Viana, “um homem bom, a quem o brilhantismo intelectual e a destacada carreira científica nunca impediram, antes foram estímulo, para uma vida também dedicada, de forma quotidiana e concreta, ao serviço dos mais pobres e sofredores.

“Carmina Passionis”, para ensemble vocal e orquestra de câmara, foi uma encomenda da Musicamera, e tem a sua estreia a 16 de março, no Centro Cultural Raiano, em Idanha-a-Nova com interpretação a cargo do ensemble Zave e da Musicamerata, dirigidos por Brian MacKay.

Fonte: César Viana

César Viana, compositor

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