O poemário do cancioneiro português (incluindo fado, música tradicional e ligeira) pretende fomentar o gosto da poesia como parceira da música e a divulgação dos poetas cuja importância nem sempre é justamente reconhecida. Fontes: Blogue A Nossa Rádio, Álvaro José Ferreira.
Ao som de uma caixa de música, acordou João Ao lado do berço um corpo caído, desilusão A casa vazia e no ar um cheiro a solidão Para lá da janela uma visão tão estranha O que terá acontecido?
Como um pássaro que saiu do ninho e esvoaçou João deu a medo alguns passos pelo quarto e sem querer Debruçou o corpo sobre o chão morno e adormeceu Talvez p’ra dormir o seu último sono E o que fica a dizer de…?
João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de mal e de bem João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de realidade
Uma brisa estranha chegou de repente, com sabor a fim E uma noite fria caiu sobre os restos do auge do poder Entre o tudo e o nada ficou uma sombra, uma recordação Talvez algum dia alguém venha a perguntar: “O que terá acontecido?”
Um manto de fumo cobriu a cidade, em forma de adeus Talvez p’ra apagar a última imagem guardada da Terra A tocar no meio do deserto plantado a caixinha ficou Testemunha ingénua das glórias já findas E das marcas da vida
João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de mal e de bem João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de realidade
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha* (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa) Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha com João Pedro Pais (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019) Versão original: Peace Makers (in single “Caixinha de Música / Recordação de Hiroshima”, Victória Records, 1988) Outra versão: Quadrilha (in CD “Deixa Que Aconteça: Ao Vivo”, Vachier & Associados/Ovação, 2006)
Ai que bom
[ Tango Poluído ]
Ai que bom, que bom que é! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que viver em poluição!
Aos domingos, no Verão, Lá vou eu, de madrugada, Recompor-me da saúde Nas praias da Cruz Quebrada.
Banhando-me ao pé do esgoto, Respirando os seus odores, Ao chegar o fim do dia Vou p’ra casa com mais cores.
Fui um dia p’rà montanha E passei um mau bocado Respirando o tal ar puro, Quase morri sufocado.
Fiquei logo com os pulmões A pedir por caridade O cheiro a óleo queimado Que respiro na cidade.
Ai que bom, que bom que é! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que viver em poluição!
Não me venhas com a conversa Das comidas naturais, Dás-me cabo dos tomates Com esses sermões papais.
O frango só com hormonas, Salsichas só enlatadas, Peixinho só do Barreiro E frutas bem sulfatadas.
Há p’ra aí quem diga mal Da nossa Televisão, Mas dela já não me passo P’rà minha cultivação: Vinte e cinco horas por dia De cultura e informação
Poluindo a consciência, Tudo a Bem da Nação. Ai que bueno, que bueno! Ai que grande reinação!
Não há no mundo melhor Que viver em poluição! Vi um tal da ecologia Gritando como um possesso Contra a bomba nuclear, Contra a bomba do progresso.
Fiz-lhe ver que estava errado, Pois não há nada mais belo Nem há morte mais limpinha Que o quente do cogumelo.
Disse-me um da intervenção: “Lá estás tu com essa mania, A cantar o tango assim Estás a imitar o Letria”.
Mas eu estou certo e seguro Que o Jôjô não leva a mal, Embora ele tenha a patente Do tango em Portugal.
Ai que bom, que bom que é! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que viver em poluição!
Ai que bueno, que bueno! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que morrer em poluição!
Letra e música: Luís Cília Intérprete: Luís Cília (in LP “Marginal”, Diapasão/Sassetti, 1981)
Poluição
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Como és tão prendada!
Dá-me um dedinho
Um só para eu provar
De que é feito o carinho,
Assim como quem não quer!
Como és tão docinha!
Deixa me trincar
Essa tenra bochechinha
Que me põe a salivar,
Assim como quem não quer!
Eu não sei, não sei, não
De que padece o coração
Saciada a gula sobra o embaraço,
Assim como quem não quer.
Como és tão prendada!
Dá-me um dedinho
Um só para eu provar
De que é feito o carinho,
Assim como quem não quer!
Como és tão docinha!
Deixa me trincar
Essa tenra bochechinha
Que me põe a salivar,
Assim como quem não quer!
Eu não sei, não sei, não
De que padece o coração
Saciada a gula sobra o embaraço
Assim como quem não quer
Letra e música: Manuel Maio
Intérprete: A Presença das Formigas com João Afonso & Teresa Campos (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)
Manuel Maio
Dá-me o amanhã!
Dá-me o amanhã!
Dá-mo, que depois de amanhã já cá não estou
Vou na senda dos demais que se perdem
Quero o teu calor
Quero o teu ser, o teu eu, o teu haver
Quero provar-te e beber a tua dor
Quero-te nos braços
Toma-me nos braços!
Quero as lágrimas que choras
Não por mim, mas já que as choras
Quero a pele que elas molham
E os meus lábios as sorvam
Quero o corpo onde moras
Dá-me o amanhã!
Dá-mo, que depois de amanhã já cá não estou
Vou na senda dos demais que se perdem
Quero-te as entranhas
Quero-te por dentro e por fora e já agora
Quero roubar-te os sentidos
Quero-te a ti por inteiro
Quero que unamos destinos
Quero-te a ti por inteiro
Por inteiro
Letra e música: Manuel Maio
Intérprete: A Presença das Formigas (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)
A presença das formigas
É uma doideira
[ Doideira ]
É uma doideira
Como eu nunca vi
É que eu não faço outra coisa
Senão pensar em ti
Esta carta que eu te escrevo é a falar da minha afronta
Se calhar, vai cheia de erros mas a intenção é que conta
Eu vou ter de andar escondido até que o destino queira
Por naquele dia teres ido a dar comigo na eira
Eu vou ter que andar a monte, a dormir no meio da palha,
É que se o teu pai me apanha não há santo que me valha
É uma doideira
Como eu nunca vi
É que eu não faço outra coisa
Senão pensar em ti
Eu já me tinha constado que tu andavas guardada
Mas por também estar tentado fiz que não entendi nada
Cada qual sua vontade, cada vontade um olhado
Ambos quisemos o mesmo: nenhum de nós foi culpado
Espero que tu não me esqueças, nem te posso chegar perto
É que um tiro na cabeça é o que eu tenho mais certo
É uma doideira
Como eu nunca vi
É que eu não faço outra coisa
Senão pensar em ti
É uma doideira
Como eu nunca vi
É que eu não faço outra coisa
Senão pensar em ti
Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997)
Outra versão: Quadrilha (in CD “Deixa Que Aconteça: Ao Vivo”, Vachier & Associados/Ovação, 2006)
Sebastião Antunes & Quadrilha
Minha fonte de chafurdo
[ Bolinhas de Sabão ]
Minha fonte de chafurdo
Onde eu queria mergulhar
Minhas ânsias e desejos
Minha sede, meu penar
Por te não ter a meu lado
Ao teu lado ficarei
Eu contigo e tu comigo
Tu não sabes, mas eu sei!
Mui asinha gostaria eu
De te dar consolação
Dos fantasmas e demónios
Que te levam pela mão
Mas a vida são dois dias
São dois dias a correr
Antes queria eu, em podendo,
Dar-te um pouco de prazer!
Ai eu não sei, não
Que fazer dos teus intentos
Que fazer das palavras que desfias
São verdades, são mentiras?
São bolinhas de sabão?
Eu confesso que me agrada ver-te assim
Tanta rima p’ra chegar junto de mim
Toma lá! hoje levas um beijinho
Amanhã mais um carinho
Só depois te digo “não”
(Ele vai querer-te p’ra sempre
Vai ter-te juntinho ao seu coração
Vai amar uma ideia
Do que jamais será seu)
És tão bela como a Lua
Mais cheirosa que uma flor
És a minha perdição
És um rio de calor
E se diz que és insossa
Quem já fez por te provar
Boto-te um pouco de sal
P’ra te dar um paladar
Ai eu não sei, não
Que fazer dos teus intentos
Que fazer das palavras que desfias
São verdades, são mentiras?
São bolinhas de sabão?
Eu confesso que me agrada ver-te assim
Tanta rima p’ra chegar junto de mim
Toma lá! hoje levas um beijinho
Amanhã mais um pouquinho
Só depois te digo “não”
(Ele vai querer-te p’ra sempre
Vai ter-te juntinho ao seu coração
Vai amar uma ideia
Do que jamais será seu)
P’ra que fique bem assente
Digo e torno a redizer
Que de todos que te querem
Mais do que eu não pode haver
São o teu porto seguro
As portas do meu coração
Que se agita e bate forte
Toca como um carrilhão!
Ai eu não sei, não
Que fazer dos teus intentos
Que fazer das palavras que desfias
São verdades, são mentiras?
São bolinhas de sabão?
Eu confesso que me agrada ver-te assim
Tanta rima p’ra chegar junto de mim
Toma lá! hoje levas um beijinho
Amanhã mais um carinho
Só depois te digo “não”
Letra e música: Manuel Maio
Intérprete: A Presença das Formigas (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014).
Por onde vais
[ Por Ti, Menina ]
Por onde vais,
Menina do campo,
Lírios colhidos por ti
São outro encanto!
Guarda segredo
Do teu amor,
Não digas nunca
O cais do teu sabor!…
Sete são as saias
De sete cores;
Menina, não saias
Com mais que dois amores!…
Rios de saudade
Correm sem parar,
Fogem com vontade
De te amar…
Menina, por ti
Breve é minha alma;
Só por ti nasci
Em noite calma!
Já te ouvi cantar
Ao nascer do dia,
E o sol acordou
Mudo de alegria!
E ao chegar a noite,
No teu mar navega,
Solta-se na eira
E jamais sossega!
Teu olhar, menina,
Com o meu namora:
Veste-se de longe,
Longa é sua demora…
Rios de saudade
Correm sem parar,
Fogem com vontade
De te amar…
Menina, por ti
Breve é minha alma;
Só por ti nasci
Em noite calma!
Por onde vais,
Menina do campo,
Lírios colhidos por ti
São outro encanto!
Guarda segredo
Do teu amor,
Não digas nunca
O cais do teu sabor!…
Sete são as saias
De sete cores;
Menina, não saias
Com mais que dois amores!…
Rios de saudade
Correm sem parar,
Fogem com vontade
De te amar…
Menina, por ti
Breve é minha alma;
Só por ti nasci
Em noite calma!
Só por ti nasci
Em noite…
Rios de saudade
Correm sem parar,
Fogem com vontade
De te amar…
Menina, por ti
Breve é minha alma;
Só por ti nasci
Em noite calma!
Só por ti nasci
Em noite…
Letra e música: José Flávio Martins (“À menina de olhar meigo…”)
Intérprete: Senhor Vadio (in CD “Cartas de um Marinheiro”, José Flávio Martins/iPlay, 2013)
Versão original: Frei Fado d’El Rei (in CD “Encanto da Lua”, Columbia/Sony Música, 1998)
Frei Fado d’El Rei, O Encanto da Lua
Pelas tuas tranças
[ Fado das Tranças ]
Pelas tuas tranças
Cor de fogo e de sol-pôr,
Eu luto com lanças
P’ra vencer o meu amor,
P’ra vencer o meu amor.
Ai, no alto do monte,
Ai, no alto do monte,
Ai, te chamarei
Com mil vozes e mil forças!
Com um só grão de areia,
Com um só grão de areia
Levo-te sempre comigo
E teço a minha teia,
E teço a minha teia!…
Nas águas do mar,
Enquanto sigo o meu labor,
Lembro as tuas tranças
E recordo o nosso amor,
Ai, recordo o nosso amor!
Ai, por de ti estar longe
Vivo em sofrimento;
Ai, por de ti estar longe
O meu canto é um lamento.
Lágrimas de dor eu verto,
Lágrimas de dor eu verto,
Pela morte reclamo
Por de ti eu não estar perto,
Por de ti eu não estar perto!…
Ai, por de ti estar longe
Vivo em sofrimento;
Ai, por de ti estar longe
O meu canto é um lamento.
Lágrimas de dor eu verto,
Lágrimas de dor eu verto,
Pela morte reclamo
Por de ti eu não estar perto,
Por de ti eu não estar perto!…
Letra e música: José Flávio Martins
Intérprete: Senhor Vadio (in CD “Cartas de um Marinheiro”, José Flávio Martins/iPlay, 2013)
Versão original: Frei Fado d’El Rei (in CD “Encanto da Lua”, Columbia/Sony Música, 1998)
Senhor Vadio, Cartas de um marinheiro
Se o vento sopra
[ Cantiga ]
Se o vento sopra e rasga as velas
E a noite é gélida e comprida
E a voz ecoa das procelas,
Deixa-te estar na minha vida.
Se erguem as ondas mãos de espuma
Aos céus, em cólera incontida,
E o ar se tolda e cresce a bruma,
Deixa-te estar na minha vida.
Deixa-te estar na minha vida.
Deixa-te estar na minha vida.
À praia, um dia, erma e esquecida,
Hei, com amor, de te levar.
Deixa-te estar na minha vida,
Como um navio sobre o mar.
Deixa-te estar na minha vida.
Deixa-te estar na minha vida.
Deixa-te estar na minha vida.
Deixa-te estar na minha vida.
Poema: João Cabral do Nascimento (adaptado)
Música: Carla Carvalho, Hélder Costa e Rui Ferreira (Caps)
Arranjo: Xícara e David Leão
Intérprete: Xícara (CD-EP “Xícara”, Xícara, 2011)
Cantiga
João Cabral do Nascimento, in “366 Poemas Que Falam de Amor”, org. Vasco Graça Moura, Lisboa: Quetzal Editores, 2003
Deixa-te estar na minha vida,
Como um navio sobre o mar.
Se o vento sopra e rasga as velas
E a noite é gélida e comprida
E a voz ecoa das procelas,
Deixa-te estar na minha vida.
Se erguem as ondas mãos de espuma
Aos céus, em cólera incontida,
E o ar se tolda e cresce a bruma,
Deixa-te estar na minha vida.
À praia, um dia, erma e esquecida,
Hei, com amor, de te levar.
Deixa-te estar na minha vida,
Como um navio sobre o mar.
Nos jardins de Portugal
vão morrendo lentamente
alegrias dos mais velhos
momentos de bem e mal
no que fizeram e foram
meditam, perdem seus sonhos
Faces que o tempo marcou
nos jardins de Portugal
vejo passar junto a mim
e no que a vida os tornou
homens sombrios de olhar triste
pressinto um dia o meu fim
Tenho remorso de vê-los
nessa enorme solidão
pelos jardins de Portugal
de nada fazer por eles
e ter ainda alegria
para os poder alegrar
Em cada rosto enrugado
sinto lembranças de amor
sofrimento e frustração
Portugal tão mal amado
nos bancos dos seus jardins
sofre em cada coração
Letra: Manuel Lima Brummon
Música: Luís Alexandre
Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Portugal Triste”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1980; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994; CD “Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/03/jardim-da-luz-lisboa.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2021-06-10 14:25:152024-11-11 22:29:49Canções sobre Portugal
Recordai, fiéis cristãos, de Jesus
No dia em que estava na cruz!
Aleluia! Aleluia!
Lembrai-vos de quem lá tendes:
Vossas mães e vossos pais!
Aleluia! Aleluia!
E ajudai-os a tirar:
Padre-nosso e uma ave-maria
Seja p’lo amor de Deus!
Penha Garcia
Letra e música: Tradicional (“encomendação das almas” – Penha Garcia, Idanha-a-Nova, Beira Baixa / “Aleluia!” – Minho)
Informante de “encomendação das almas”: Catarina Sargento, vulgo Catarina Chitas ou Ti Chitas (canto)
Recolha: Ernesto Veiga de Oliveira (1960-63)
Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Na verdade
Odeias e destróis
Tão certo de uma vã verdade
Que constróis
Na verdade
Amas a quem matou
Tão firme numa crença
Que alguém inventou
A verdade é bonita é
Quando nua então é que é linda
Sinuosos os contornos
Irresistivelmente doces
E pecaminosos
Na verdade
Não tens por que saber
Não tens por que pensar
Não tens por que querer
Na verdade
Não tens por que sentir
Não tens por que amar
Não tens por que sorrir
A verdade é bonita é
Quando nua então é que é linda
Sinuosos os contornos
Irresistivelmente doces
E pecaminosos
Mas que ricas orelhinhas que tu tens
Tão lindas como a verdade que deténs
Redondinhas
Tão perfeitas que mais parecem conchinhas
Delicadas e tão bem torneadinhas
Dá vontade de trincá-las, tão fofinhas
Ai que ricas orelhinhas que tu tens
Tão lindas como a verdade que deténs
São de BURRO!!!
Asininas e muito pouco garbosas
Não te tiro que ao menos são vistosas
Bem compridas, felpudinhas e mimosas
Ai que ricas orelhinhas!
A verdade tem mil caras e mil crenças
É volátil, é mutante
Evapora-se no ar
E condensa-se em gotículas escuras
No espelho dos interesses
De quem manda ou quer mandar
A verdade é bonita é
Quando nua então é que é linda
Sinuosos os contornos
Irresistivelmente doces
E pecaminosos
Mas que ricas orelhinhas que tu tens
Tão lindas como a verdade que deténs
Redondinhas
Tão perfeitas que mais parecem conchinhas
Delicadas e tão bem torneadinhas
Dá vontade de trincá-las, tão fofinhas
Ai que ricas orelhinhas que tu tens
Tão lindas como a verdade que deténs
São de BURRO!!!
Asininas e muito pouco garbosas
Não te tiro que ao menos são vistosas
Bem compridas, felpudinhas e mimosas
Ai que ricas orelhinhas!
A verdade é bonita é
Quando nua então é que é linda
Sinuosos os contornos
Irresistivelmente doces
E pecaminosos
A verdade é bonita é
Quando nua então é que é linda
Sinuosos os contornos
Irresistivelmente doces
E pecaminosos
Letra e música: Manuel Maio
Intérprete: A Presença das Formigas (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)
A presença das formigas
Não quero cantar amores
[ Garras dos Sentidos ]
Não quero cantar amores.
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.
São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas.
Não quero cantar amores.
Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.
São demência dos olhares,
Alegre festa de pranto;
São furor obediente,
São frios raios solares.
Da má sorte defendidos,
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.
Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.
Poema: Agustina Bessa-Luís
Música: Popular (Fado Menor)
Arranjos: Ricardo J. Dias
Intérprete: Mísia (in CD “Garras dos Sentidos”, Erato, 1998)
Um amor feliz
[ O Teu Olhar ]
Um amor feliz
Pode não brilhar
Porque não ouviu
O segredo mais bonito que ele pode revelar
Na voz do coração
Que bateu em mim
Ou em ti, não sei
Foi no teu olhar
Que aprendi a ver
O amor é só
O segredo mais bonito que alguém me pode contar
E só se vai cumprir
Quando o meu olhar
Encontrar o teu
Vou contá-lo ao céu
Vou dizê-lo ao mar
Não o conto a mais ninguém
Depois vou dormir
P’ra poder lembrar
Os segredos mais bonitos que o teu nome tem
Vou contá-lo ao céu
Vou dizê-lo ao mar
Não o conto a mais ninguém
Depois vou dormir
P’ra poder lembrar
Os segredos mais bonitos que o teu nome tem
Sei que viajar
Não é só partir
É também saber
O segredo mais bonito que eu te poderei contar
Em mim se vai cumprir
Quando o teu olhar
Encontrar o meu
Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Danças Ocultas
Intérprete: Danças Ocultas com Carminho (in CD “Dentro Desse Mar”, Danças Ocultas/Sony Music, 2018)
Ai lé! Ai lé!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Ai lé!
Quem tem burro leva o burro,
Quem no não tem vai a pé,
Quem no não tem vai a pé,
Quem no não tem vai a pé,
Quem no não tem vai a pé.
Ai lé!
Maçadeiras do meu linho,
Maçai-me o meu linho bem!
Maçai-me o meu linho bem!
Maçai-me o meu linho bem!
Maçai-me o meu linho bem!
Ai lé!
Não olheis para o caminho,
Que a merenda logo vem!
Que a merenda logo vem!
Que a merenda logo vem!
Que a merenda logo vem!
Ai lé!
Ai lé! Ai lé!
Ai la lé ló, meu bem!
Ai la lé ló, meu bem!
Ai la lé ló, meu bem!
Ai la lé ló, meu bem!
Ai lé!
Ai lé! Ai lé!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Ai lé!
Ai lé! Ai lé!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Ai lé!
Ai lé! Ai lé!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Senhora de Nazaré!
Ai lé!
Letra e música: Tradicional (Vila Maior, São Pedro do Sul, Beira Alta)
Intérprete: Ai!* (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015)
Ave-Maria sagrada
[ Ave-Maria Fadista ]
Ave-Maria sagrada
Cheia de graça divina
Oração tão pequenina
De uma beleza elevada
Nosso Senhor é convosco
Bendita sois vós, Maria
Nasceu Vosso Filho um dia
Num palheiro humilde e tosco
Entre as mulheres, Bendita
Bendito é o fruto, a luz
Do vosso ventre, Jesus,
Amor e Graça infinita
Santa Maria das Dores
Mãe de Deus, se for pecado
Tocar e cantar o fado
Rogai por nós, pecadores.
Nenhum fadista tem sorte
Rogai por nós, Virgem-Mãe,
Agora, sempre e também
Na hora da nossa morte.
Letra: Gabriel de Oliveira
Música: Francisco Viana (Vianinha)
Intérprete: Margarida Bessa (in CD “Fado”, Movieplay, 1995)
Versão original: Amália Rodrigues (in Single 78 rpm “Ave-Maria Fadista”, Melodia, 1952; CD “O Melhor de Amália”, vol. III, EMI-VC, 2003)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos.
Contacto
António José Ferreira
962 942 759
Maria
[ Para Maria ]
Intérprete: Mafalda Arnauth
Ó Pobre Pátria Trigueira
Ó pobre pátria trigueira
dás filhos como dás flores
Nossa Senhora das Dores
a chorar a vida inteira
dás filhos a todo o mundo
como um tronco sem raiz
mãe das mães que perdem tudo
e morrem no seu país
Ó pobre pátria trigueira
mãe da dor e da tristeza
separada pela fronteira
da nossa grande pobreza
com boca que ninguém beija
e a tua mesa vazia
longe de quem te deseja
ai! envelheces dia a dia
Ó pobre pátria trigueira
quando abraçarás teus filhos
que andam pelo mundo perdidos
a chorar a vida inteira?
Lá vão ao sabor das águas
em barquinhos de papel
com o mar à pele das mágoas
e ao sol que lhes cresta a pele
Ó pobre pátria trigueira
mãe da dor e da tristeza
separada pela fronteira
da nossa grande pobreza
com boca que ninguém beija
e a tua mesa vazia
longe de quem te deseja
ai! envelheces dia a dia
com boca que ninguém beija
e a tua mesa vazia
longe de quem te deseja
ai! envelheces dia a dia
Letra e música: Manuel Lima Brummon
Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Portugal Triste”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1980; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994)
Nossa Senhora das Dores
Senhora do Almortão
Senhora…
Senhora do Almortão,
Senhora do Almortão,
Ó minha linda raiana,
Virai costas!…
Virai costas a Castela!
Virai costas a Castela!
Não queirais ser castelhana.
Senhora…
Senhora do Almortão,
Senhora do Almortão,
A vossa capela cheira…
Cheira a cravos…
Cheira a cravos, cheira a rosas,
Cheira a cravos, cheira a rosas,
Cheira a flor de laranjeira.
Letra e música: Tradicional (Idanha-a-Nova, Beira Baixa) Arranjo: Manuel Maio Intérprete: A Presença das Formigas com Teresa Campos (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)
Senhora do Almortão
Senhora do Castelo
Ó Minha Senhora do Castelo,
Porque me tirais a mim do sério?
Não fiz tudo aquilo que pediste
Desde o dia em que tu me viste?
Porque mereço eu tal castigo?
Onde é que eu fui tão mal contigo?
Ó Minha Senhora do Castelo,
Porque me tirais a mim do sério?
Lá de cima do Castelo,
Prometi-me um futuro belo:
Alfazema e rosmaninho à beira,
Oliveira e pau de laranjeira.
Ó Minha Senhora do Castelo,
Porque me tirais a mim do sério?
Ó Minha Senhora do Castelo,
Porque me tirais a mim do sério?
A todos os santos eu rezei,
Mas a nenhum deles me queixei.
Cravo e rosa no mesmo bordado:
Era apenas o desejado.
Ó Minha Senhora do Castelo,
Porque me tirais a mim do sério?
Ó Minha Senhora do Castelo,
Porque me tirais a mim do sério?
Letra e música: António Pedro
Intérprete: Musicalbi
Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)
Musicalbi
Senhora do Livramento
Senhora do Livramento,
Livrai o meu namorado
Que me vai deixar sozinha
(Ai meu Jesus! ai meu Jesus!)
Pela vida de soldado!
As vossas tranças, Senhora,
São loiras como as espigas!
Senhora do Livramento,
(Ai meu Jesus! ai meu Jesus!)
Protegei as raparigas!
Hei-de bordar a toalha,
Senhora, do vosso altar,
E a camisa do meu noivo
(Ai meu Jesus! ai meu Jesus!)
Quando me for a casar.
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Arranjo: Luís Fernandes e Manuel Maio
Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)
Toques do Caramulo, Mexe
Em Canções Regionais Portuguesa (Série X), Fernando Lopes-Graça harmonizou “Senhora do Livramento”.
Senhora do Livramento
[ Senhoras ]
Senhora do Livramento
Que não me sais do pensamento,
Traz à Beira a minha canção
E ouve a minha oração!
Senhora do Almurtão,
Perdoai meu coração
Para que eu por ti ore,
Para que o meu coração chore!
Senhora do Livramento
Que não me sais do pensamento,
Traz à Beira a minha canção
E ouve a minha oração!
Senhora do Almurtão,
Perdoai meu coração
Para que eu por ti ore,
Para que o meu coração chore!
Senhora da Paiágua
Que me tirais toda a mágoa,
Para que eu viva em função
Do que diz meu coração!
Senhora que és da Beira
Eu me debruço na ribeira,
À procura em cada monte
A saudade dessa fronte.
Senhora do Livramento
Que não me sais do pensamento,
Traz à Beira a minha canção
E ouve a minha oração!
Senhora do Almurtão,
Perdoai meu coração
Para que eu por ti ore,
Para que o meu coração chore!
Letra: Valéria Carvalho
Música: António Pedro
Intérprete: Musicalbi
Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)
Coimbra do Choupal
Ainda és capital
Do amor em Portugal,
Ainda…
Coimbra onde uma vez
Com lágrimas se fez
A história dessa Inês
Tão linda.
Coimbra das canções,
Tão meiga que nos pões
Os nossos corações
A nu.
Coimbra dos doutores
P’ra nós os teus cantores,
A Fonte dos Amores
És tu.
Coimbra é uma lição
De sonho e tradição;
O lente é uma canção
E a lua a faculdade…
O livro é uma mulher,
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer
Saudade.
Coimbra do Choupal
Ainda és capital
Do amor em Portugal,
Ainda…
Coimbra onde uma vez
Com lágrimas se fez
A história dessa Inês
Tão linda.
Coimbra das canções,
Tão meiga que nos põe
Os nossos corações
A nu.
Coimbra dos doutores
P’ra nós os teus cantores,
A Fonte dos Amores
És tu.
Coimbra é uma lição
De sonho e tradição;
O lente é uma canção
E a lua a faculdade…
O livro é uma mulher,
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer
Saudade.
Letra: José Galhardo
Música: Raul Ferrão
Intérpretes: José Barros & Mimmo Epifani
Versão discográfica de José Barros & Mimmo Epifani (in CD “Mar da Lua”, José Barros/Tradisom, 2015)
Versão original: Alberto Ribeiro (in filme “Capas Negras”, de Armando Miranda, 1947) [
Primeira versão discográfica: Alberto Ribeiro (in single 78 r.p.m. “Marco do Correio / Coimbra”, His Master’s Voice/VC, 1947)
Primeira versão sob o título “Avril au Portugal” (letra em francês da autoria de Jacques Larue): Yvette Giraud (in single 78 r.p.m. “Avril au Portugal / Cerisier Rose et Pommier Blanc”, His Master’s Voice, 1950)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira
962 942 759
Dizem que amor de estudante
[ Vira de Coimbra ]
Dizem que amor de estudante
Não dura mais que uma hora…
Só o meu é tão velhinho
Qu’ inda não se foi embora!
Não dura mais que uma hora…
Fui buscar a bilha e trago-a
Vazia como a levei.
Mondego, que é da tua água?
Que é das preces que eu chorei?
Vazia como a levei.
O estudante de Coimbra
Mora por baixo da ponte;
Por causa das raparigas
Muito sapato se rompe.
Mora por baixo da ponte.
Ó laranjais de Coimbra,
Não torneis a dar laranjas!
Quem comigo as apanhava
Já lá está nessas estranjas.
Não torneis a dar laranjas!
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)
Versão original [?]: José Afonso (in EP “Balada do Outono”, Rapsódia, 1960; LP “baladas e Fados de Coimbra”, Edisco, 1982; CD “Os Vampiros”, Edisco, 1987, 2006)
Outra versão de José Afonso (in LP “Fados de Coimbra e Outras Canções”, Orfeu, 1981, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art’Orfeu Media, 2013)
Coimbra
O fim de tarde em Coimbra
[ Outono à Beira-Rio ]
O fim de tarde em Coimbra
não tem pôr-do-sol igual:
melodia que nos timbra
um tom azul outonal.
Em Outubro Munda é rio
onde a brancura se pinta:
traço azul do casario
numa aguarela distinta.
Coimbra a ser vivida
por dentro do seu poente:
é senti-la assim esculpida
aos olhos da sua gente.
Coimbra a ser vivida
por dentro do seu poente:
é senti-la assim esculpida
aos olhos da sua gente.
No seu olhar de menina
o sol se espelha com graça
no casario da colina
como fogo nas vidraças.
O ventar faz ondular
o poisar no rio da ave:
branda gaivota a adejar
num planar de asas suave.
Coimbra a ser vivida
por dentro do seu poente:
é senti-la assim esculpida
aos olhos da sua gente.
Coimbra a ser vivida
por dentro do seu poente:
é senti-la assim esculpida
aos olhos da sua gente.
Letra e música: Jorge Cravo
Intérprete: Jorge Cravo / Quarteto de António José Moreira (in CD “Canções d’uma Cidade e d’um Rio”, Numérica, 2010)
São Gonçalo já é velho,
De velho caiu-lhe os dentes;
Culpa tiveram as moças
Que lhe deram papas quentes.
São Gonçalo me chamou
Da janela da cozinha:
Que fosse jantar com ele
Uma perna de galinha.
São Gonçalo já é velho,
De velho caiu-lhe os dentes;
Culpa tiveram as moças
Que lhe deram papas quentes.
São Gonçalo me chamou
Da janela da cozinha:
Que fosse jantar com ele
Uma perna de galinha.
Nota: «A canção de São Gonçalo veio do norte do continente português. Cantou-se por quase todas as ilhas, mas caiu em desuso. Todavia há a registar algumas melodias em diversas ilhas, todas elas diferentes mas que conservam do original, trazido pelos povoadores, a designação e a letra.
Para este “São Gonçalo” inspiramo-nos na versão da Calheta do Nesquim, utilizando ambas as letras desta e da versão do Salão, a partir das “Cantigas do Povo dos Açores”, de Francisco José Dias. Visíveis são as influências dos ritmos tradicionais do norte de Portugal: a típica Chula e o ritmo de Santa Marinha.» (Helena Oliveira)
Letra e música: Tradicional (Ilha do Faial)
Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Graziela Vieira (1944-2021) foi uma poetisa que escreveu letras para numerosas composições executadas pela Orquestra Típica de Ourém.
Caiu a Neve
Certa noite caiu neve
Nas ruas da minha aldeia.
Branca, pura, fofa e leve,
Quais raios de lua cheia.
Tudo branquinho de neve
Manto gigante de arminho,
O belo não se descreve,
Só se sente de mansinho.
De manhã quando acordei
Iam-se os raios da lua,
Já brilhava o astro-rei
Nas pedras da minha rua.
Ai que saudades eu sinto
Da noite distante e bela
Tão remota, que pressinto
Que não voltarei a vê-la
Poema: Graziela Vieira
Música: Armando Rodrigues
D. Gonçalo Hermigues
O D. Gonçalo Hermigues,
Foi Valido, e companheiro
D’el-rei D. Afonso Henriques,
E temível cavaleiro.
Diz a lenda encantadora,
Que o guerreiro trovador,
Se enamorou duma moura,
A quem se deu por amor.
O cavaleiro cantor,
Já prosava apaixonado!…
Não há vitória maior,
Que a de amar e ser amado.
A Fátima da mourama,
Que o nosso herói encantou,
Foi por baptismo, Oureana.
Com D. Gonçalo casou.
Em louvor da sua amada,
Mudou o nome também
De Abdegas, conquistada,
Para castelo de Ourém.
Nas lendas de amor e guerra,
A de Ourém vibra mais forte:
Porque a mesma campa encerra,
Um amor além da morte.
D. Gonçalo, “Traga – Mouros”,
Quando a amada morreu, desilude!
Despojou-se dos tesouros:
E não mais dedilhou o Alaúde.
Na voz do vento, ele a chama,
Do morro de Ourém, lá ao longe.
Oureana!… Oureana!…
Ai de mim!… Sem ti, me fiz monge.
Poema: Graziela Vieira, Ourém, Março de 2004 Música: José António Intérprete: Orquestra Típica de Ourém
Despedida
Vi partir as andorinhas um dia,
Embevecida,
No meu peito ficou a nostalgia,
Rosa pendida.
Vão levar a outros povos, a graça
E a mensagem que dão em movimento!
Não há mordaça,
Que calar faça,
O pensamento.
Adeus, adeus;
São asas negras a esvoaçar;
Cruzando os céus,
Dizem adeus até voltar.
São poemas vivos das almas singelas.
Como são belas,
Cruzando os céus!
Adeus, adeus.
Os perfumes do estio farão
As despedidas.
Fica o Outono macio, que são
Folhas caídas.
Há promessas doutra Primavera,
No regresso do gorjeio terno!
Fica a quimera,
P’ra quem espera
O sol d’Inverno.
Graziela Vieira
Música: Sérgio Poupado
Intérprete: Orquestra Típica de Ourém
Noite
Noite,
Meu rio das águas mansas!
Meu afluente d’esperanças
Que se espraiam ao luar.
Noite,
Relicário dos meus sonhos!
Dos meus enlevos risonhos,
Com as estrelas a brincar.
Noite,
Minha fiel companheira,
Minha musa conselheira,
Minha amiga e amante.
Noite,
Mãe dos meus cincos sentidos,
Que no céu andam perdidos
Na estrela mais distante.
Noite,
Meu barquinho d`ilusões,
Fogo-fátuo de emoções;
Minha aurora Boreal.
Noite,
És meu castelo de areia
Envolto p’la lua cheia
Que ilumina o areal
As moças da minha terra,
São como as papoilas formosas,
Quando em setembro vão
Vindimar as uvas
Vindimar as rosas
Vindimar amores
Moçoilas fogosas.
Colhem no campo a flor da giesta,
Na madrugada de alvura
Enchem de sonhos a cesta.
Sobrem às alturas
Perfumes alados
A uvas maduras,
A cachos doirados.
Junto do seu namorico, vão
Cochichando em segredo.
Juntinhos de mão na mão,
Um beijo a medo
Vindimando a gosto,
Doçura e enlevo
De sabor a mosto.
Olha o mosto a ferver.
Vem comigo, anda ver
É a seiva do nosso lavor.
É o sumo da uva
É o sol, é a chuva
Que a gente do campo
Regou com suor
A terra madrinha
Que dá esta vinha.
Poema: Graziela Vieira, abril 1995
Solista: Lelita
Música: Sérgio Poupado
Intérprete: Orquestra Típica de Ourém
Graziela Vieira, poetisa, com a Orquestra Típica de Ourém
Ai, S. João adormeceu Ai, debaixo da laranjeira; Ai, caiu-lhe a flor por cima, Ai, S. João que tão bem cheira.
Ai, S. João p’ra ver as moças Ai, fez uma fonte de prata; Ai, as moças não vão à fonte, Ai, S. João todo se mata.
Ai, S. João fora bom santo Ai, se não fora tão gaiato; Ai, levava as moças p’rá fonte, Ai, iam três e vinham quatro.
Letra e música: Popular Arranjo e direcção musical: José Manuel David Intérprete: Gaiteiros de Lisboa (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012)
Bailava o Sol
[ São João ]
Bailava o Sol, bailava Ai, na manhã do São João; Raiavam cordas de amori Ai, dentro do meu coração.
Naquela relvinha verde Ai, foi a minha perdição; Perdi lá o anel d’oiro Ai, na manhã do São João.
Eu hei-de ir ao São João, Ai, o meu amori não queri; Deixai-o ir para fora, Ai, eu farei o que eu quiseri.
Eu hei-de ir ao São João Ai, com o meu amori ao lado; No largo do São João Ai, fica tudo adimirado.
Letra e música: Tradicional (Idanha-a-Nova, Beira Baixa) Arranjo: Velha Gaiteira Intérprete: Velha Gaiteira (in CD “Velha Gaiteira”, Velha Gaiteira/Ferradura, 2010)
Velha Gaiteira
Cântico dos Foliões
Ai São João foi baptizado Ai lá no rio de Jordão; Ai ele é sempre estimado Ai p’ra fazer uma função.
Ai São João se bem soubesse Ai quando era o seu dia, Ai descia do Céu à Terra Ai com prazer e alegria.
Ai nós somos todas mulheres Ai e temos bom coração, Ai e temos esta lembrança Ai de cantar a São João.
Letra e música: Tradicional (Ilha de Santa Maria, Açores) Informantes: Gualter Eusébio Figueiredo Coelho (11 anos), José da Trindade Fontes Correia (9 anos) e José Manuel de Sousa Medeiros (11 anos) (canto, tambor e címbalos) Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (“Cântico de Foliões”, do Império chamado ‘das crianças’ ou ‘dos inocentes’ em dia de S. João, in 12EP “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1963; 2CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”: CD 2, faixa 7, Açor/Emiliano Toste, 2002) Adaptação: Segue-me à Capela Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Ilha de Santa Maria, Açores
Manhaninha de São João
Ó ó, São João do meio, Ai hei-de morar noutra rua! Ainda não tenho casa, Ai menina, arrende-me a sua!
Manhaninha de São João, Ao redor da alvorada, Ai Jesus Cristo se passeia Ao redor da fonte clara.
Eu hei-de ir ao São João, Ai hei-de lá ir, se lá for, Ou a pé ou a cavalo Ai ou nos braços do amor.
Jesus Cristo se passeia Ao redor da fonte clara, Ai e a água fica benzida E a fonte fica sagrada.
Eu hei-de ir ao São João, Ai hei-de lá ir, se lá for, Ou a pé ou a cavalo Ai ou nos braços do amor.
Jesus Cristo se passeia Ao redor da fonte clara…
Manhaninha de São João, Manhaninha de São João.
Letra e música: Tradicional (“S. João” – Idanha-a-Nova, Beira Baixa / “Manhaninha de S. João” – Moimenta da Raia, Vinhais, Trás-os-Montes) Recolhas: José Alberto Sardinha (“S. João”, 1981, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 4 – Beira Baixa e Beira Trasmontana, BMG/JN, 1997) e Michel Giacometti (“Manhaninha de S. João”, 1960, in LP “Trás-os-Montes”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1960; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 2 – Trás-os-Montes, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 3 – Trás-os-Montes, col. Portugal Som, Numérica, 2008) Arranjo vocal: Cristina Martins e Segue-me à Capela Arranjo de percussão: João Balão Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher
Oh meu São João Baptista!
[ São João de Alpalhão ]
Oh meu São João Baptista! Oh meu Baptista João! Vamos ir à água nova Na noite de São João!
São João baptiza Cristo, Cristo baptiza João: Ambos foram baptizados Lá no rio do Jordão.
São João p’ra ver as moças Fez uma fonte de prata; As moças não vão a ela, São João todo se mata.
Meu divino São João Que na mão tem a bandeira! Vamos ir ao rosmaninho P’ra fazermos a fogueira!
Letra e música: Tradicional (Alpalhão, Nisa, Alto Alentejo) Recolha: Michel Giacometti (in série documental “Povo Que Canta”, ep. “O S. João na Tradição Musical Popular”, RTP-1, 04 Set. 1972) Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Alpalhão, Nisa
Olha o balão
Olha o balão, na noite de São João Para poder dançar bastante com quem tenho à minha espera
Ó-I-ó-ai, pedi licença ao meu Pai, e corri com o meu estudante Que ficou como uma fera
Ó-I-ó-ai, fui comprar um manjerico Ó-I-ó-ai, vou daqui pró bailarico
E tenho um gaiato aqui dependurado Que é mesmo o retrato do meu namorado E tenho um gaiato aqui dependurado Que é mesmo o retrato do meu namorado
Toca o fungagá, toca o Sol e Dó Vamos lá, nesta marcha a fulambó Toca o fungagá, toca o Sol e Dó Vamos lá, nesta marcha a um fulambó
Olha o balão, na noite de São João Para não andar maçado da pequena me livrei
Ó-I-ó-ai, não sei com quem ela vai, cá para mim estou governado Com uma outra que eu cá sei
Ó-I-ó-ai, fui comprar um manjerico Ó-I-ó-ai, vou daqui pró bailarico Tenho uma gaiata aqui dependurada Que tem mesmo a lata, lá da namorada Tenho uma gaiata aqui dependurada Que tem mesmo a lata, lá da namorada
Toca o fungagá, toca o Sol e Dó Vamos lá, nesta marcha a um fulambó Toca o fungagá, toca o Sol e Dó Vamos lá, nesta marcha a um fulambó
Intérprete: Beatriz Costa
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacto
António José Ferreira 962 942 759
São João santo bonito
[ São João Bonito ]
Marcha Popular
São João santo bonito, bem bonito que ele é Bem bonito que ele é Com os seus caracóis de oiro, e o seu cordeirinho ao pé E o seu cordeirinho ao pé
Não há nenhum assim, pelo menos para mim Nem mesmo São José
Santo António já se acabou O São Pedro está-se acabar São João, São João Dá cá um balão Para eu brincar
São João vem ver as moças, que bonitas que elas são Que bonitas que elas são São ainda mais bonitas, na noite de S. João Na noite de S. João Não escapa um só rapaz O que é que o Santo lhes faz Vai tudo no balão.
Santo António já se acabou O São Pedro está-se acabar São João, São João Dá cá um balão Para eu brincar
São João santo bonito, dos milagres sem igual Dos milagres sem igual Conserva a santa alegria, da gente de Portugal Da gente de Portugal Ouve a nossa canção, e livrai de todo o mal Meu rico São João
Santo António já se acabou O São Pedro está-se acabar São João, São João Dá cá um balão Para eu brincar
Intérprete: Lenita Gentil, Voz à Solta
São João
São João perdeu
São João perdeu, perdeu… Ai São João que perderia? Perdeu o lenço da mão Ai, ai à vinda da romaria.
São João, se bem soubera Ai quando era o seu dia, Descia do Céu à Terra Ai com prazer e alegria.
Letra e música: Tradicional (Estorãos, Ponte de Lima, Minho) Recolha: Michel Giacometti (in série documental “Povo Que Canta”, ep. “Cantos do Trabalho em Estorãos”, RTP-1, 13 Dez. 1973) Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/06/sao-joao-ilustracao.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-06-23 12:05:082024-11-11 00:34:39Canções a São João