Carregavas o “João de Olhão” Ferro de grande envergadura “Maria Alice” e o “Pé Morto” Eras homem de grande estatura
Um dia foste para Angola Lá o clima era mais quente Meteste o pé na argola A vida negra a muita gente
Jiku lu mesu! Jiku lu mesu! Jiku lu mesu! Jiku lu mesu!
Letra e música: José Francisco Vieira Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Os Marenostrum são uma banda do Algarve formada por Zé Francisco, guitarra, bandolim e voz; João Frade, acordeão; Lino Guerreiro, saxofones e flautas; Paulo Machado, baixo e acordeão; e João Vieira, bateria e percussões.
Notas:
Morraça – erva que cresce nos sapais da Ria Formosa e que depois de seca servia para fazer estrume.
Sapeira – espécie de erva nativa da Ria Formosa, também conhecida por salgueira.
Chamuceira ou chumaceira – peça metálica que serve para diminuir o atrito de um eixo ou de um veio (no caso, de um remo). Nos antigos barcos de pesca era feita em corda.
“Jiku lu mesu” é uma expressão em quimbundo (língua do Noroeste de Angola) que significa “abre os olhos”.
Ao raiar do dia
[ Corrido Algarvio ]
Ao raiar do dia Sagres vê passar… Até no Burgau Viram navegar.
Vinham quatro barcos Lá no meio do mar; Foram para Lagos Para atracar.
Saem para terra De malas na mão; Correm pela vila Até Portimão.
Seguem o caminho, Agora à boleia; Muda-se o destino: É para Albufeira!
Muda-se o destino: É para Albufeira!
Faro é em frente, Com sua magia Da cidade velha Sonham com a Ria.
Lá vai o comboio Para sotavento: Vai até Tavira Que inda vai a tempo.
Passa por Cacela, Por Castro Marim; Chega ao Guadiana, Eis que é o fim!
Chega ao Guadiana, Eis que é o fim!
E lá vão de roda, Seguem para trás, Que o carro não pára Antes de São Brás.
Agora sem carro Vão os quatro a pé… Bem devagarinho Chegam a Loulé.
Montados num burro, Pelos montes fora, Vão os quatro a Silves: Correm sem demora.
Vão os quatro a Silves: Correm sem demora.
Vão até Monchique Que é sempre a subir: Só param na Fóia, Já não voltam a vir.
Que os quatro poetas, Deitados no chão, Olham as estrelas, Luz da criação.
Já passaram anos E os quatro poetas Ainda lá repousam: São agora pedras.
Ainda lá repousam: São agora pedras.
Letra e música: Carlos Norton Intérprete: OrBlua (in Livro/CD “Retratos Cinéticos”, Fungo Azul/Ocarina, 2015)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Da serra veste perfumes
[ De Sol a Sul ]
Da serra veste perfumes, do levante inquietações. Do tempo lhe vêm famas do mar as consolações. Velha Romana, Tuaregue, maruja, aventureira, dos mares sabida e da vida sabe tudo, de matreira. Minha loira, meu azul faz-te ao mar, despe esse manto de nevoeiro e de sal, desnuda-te do quebranto de seres ponto de partir. Navega com rumo a ti, descobre-te em Portugal, teu porto é de hoje e aqui.
Velhas profecias, meu 29 de Agosto. Meu queijo de figo, sueste agreste, sol posto. Meu Infante navegante. Cheiro a sardinha no rosto.
Cidade, eu te escuto tu me acolhes, tu me afagas. Regaço de mãe, doce carícia de algas. Varanda de sol a sul. Gente firme não se cala.
Que o sonho se faça pouco a pouco, passo a passo. Que a tristeza afogue na largueza dum abraço. Que a alegria canse este cansaço. É hoje que a gente vai dizer como é que quer, seja o bicho homem ou o bicho seja mulher. E que venha por bem quem vier.
Letra e música: Afonso Dias Intérprete: Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul “, Concertante, 1999; CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Era um rei
[ Fado das Amendoeiras ]
Era um rei da terra que cheira a luar da terra vermelha que tem a centelha do cheiro do mar.
Terra amendoeira terraço a sangrar albufeira dos barcos que pescam com a lamparina da luz a piscar. Era um rei que vivia na terra deitado no mar.
Era um rei que foi da Moirama lutar à terra da neve que tem o silêncio que faz sufocar.
País da princesa que no seu tear inventava a lenda da renda nos olhos de amêndoa do amor por chegar. Da princesa bordando tristeza na orla do mar.
É no sul que nos dói mais o sol é ao sol que se vê o azul Do Algarve que roda como um girassol. VÁ DE BRAÇOS VÁ À PESCA! NÃO QUEREMOS BRAÇO MOLE! À aguardente chamamos um figo à verdade chamamos Aleixo que ainda é mais doce que um D. Rodrigo. NÃO O MATAM QUE EU NÃO DEIXO! O ALEIXO É MEU AMIGO!
É o povo da maré que cheira a suor e quer o rei queira ou não queira resiste num mar que é maior.
O mar da traineira, mar do pescador este mar amar desta maneira que é a força primeira do mar por amor este mar que morre na esteira de aquém e além dor.
É no sul que nos dói mais o sol é ao sol que se vê o azul
Letra: Ary dos Santos Música: Fernando Tordo Intérprete: Carlos do Carmo (in “Um Homem no País”, Polygram, 1983)
Marcadinho, puladinho
[ Corridinho Aluljé ]
Marcadinho, puladinho, joelhos em terra, moças ao ar Barracoleza, terra firme, muita beleza Mais acima o barranco, uma eira e um palanco Moita de Guerra, lava-pé, boca-de-peixe Quarteira mais abaixo, a ribeira e o riacho Cá em Loulé toda gente bate o pé Bate palmas, bate o queixo e as quadras do Aleixo Oh i oh ai! marcadinho vai e nã vai Todos dançam, ninguém sai à moda da Ti Anica Arrabanhita, todos saltam cabanita Uns rodam, outros não, sarnadinha, morrião
Lá vai, lá vai, roda a moça, roda bem! Saca-rabos e galinhas pé comprido ninguém tem Nos Barrigões encontrei uma gineta Anda tudo aos encontrões, anda tudo arraboleta Arraboleta, linda saia roda preta Mas que raio de meia branca! Califórnia e Casablanca As voltas do corridinho mandado e puladinho Vir’ó baile! Ah moços dum raio!
Ah mano Zeca! Entra o fole!
Lá vai, lá vai, roda a moça, roda bem! Oh i oh ai! pé comprido ninguém tem Lá vai, lá vai, encontrei uma gineta Oi oh ai! anda tudo arraboleta Lá vai, lá vai, linda saia roda preta Mas que raio de meia branca! Califórnia e Casablanca As voltas do corridinho mandado e puladinho
Vir’ó baile! Já está!
Notas:
Barracoleza – lugar na Serra do Caldeirão, perto de Salir (onde está projectado um enorme complexo turístico com campo de golfe).
Barranco – sulco feito no solo pelas enxurradas; barroca, ravina, precipício.
Palanco – corda que se prende à vela, e que serve para a içar.
Moita de Guerra – localidade da freguesia de Salir, concelho de Loulé.
Lava-pé – planta arbustiva.
Boca-de-peixe – planta.
Arrabanhita – jogo de crianças em que se jogava uma guloseima e todas elas corriam para a apanhar.
Cabanita – nome de uma escola básica do 2.º e 3.º ciclos, em Loulé, assim baptizada em homenagem ao Padre João Coelho Cabanita.
Sarnadinha – planta herbácea, também conhecida por morrião.
Morrião – planta herbácea, também conhecida por sarnadinha.
Saca-rabo – mamífero carnívoro da família dos Vivérridas, de cauda muito longa, também conhecido por mangusto ou manguço.
Barrigões – localidade da freguesia de Salir, concelho de Loulé.
Gineta – mamífero carnívoro da família dos Vivérridas, com pelagem cinzento-clara muito manchada de negro, também conhecido por gineto, gato-bravo ou martaranho.
Arraboleta – brincadeira de crianças em que elas rebolam/giram sob si mesmas.
Califórnia – localidade da freguesia de Salir, concelho de Loulé.
Casablanca – cidade de Marrocos, considerada a capital económica do país. Também o nome de um lugar do concelho de Loulé.
Letra: José Francisco Vieira Música: João Frade, Paulo Machado, José Francisco Vieira, João Vieira, Paulo Jorge Temeroso Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Na rua do peixe frito
[ Rua do Peixe Frito ]
Na rua do peixe frito Havia lá boa gente Na esquina o Ti Gaspar E o terramoto de Agadir Havia uma porta aberta E um prato de milho quente Havia lá boa gente
Havia poesia e mais Na maneira como viviam Um acordeão encarnado Caiu ao mar embriagado Pescadores, guardas-fiscais E paixão à luz do dia Na maneira como viviam
Uma bacia com brasas Ao ar livre a fumejar Uma pelengana e azeite Com peixe fresco a fritar Corria nua Mila Coelha Pela rua a cantararolar Ao ar livre a fumejar
Na rua do peixe frito Havia lá boa gente A cara chapada do pai Zé Manel Jesus Sacramento Havia lá boa gente
Na rua do peixe frito Folia madrugada adentro Sardinhas e pão quente Gorgulho, petisco a monte Na casa da Tia Leonarda Charro alimado era o sustento Até madrugada adentro
Um candeeirinho de arame Que iluminava a noite inteira Um garrafão franquinhal À porta aberta de um quintal Uma moça linda a sorrir Passava por lá sorrateira Iluminava a noite inteira
Na rua do peixe frito Havia lá boa gente A cara chapada do pai Zé Manel Jesus Sacramento Havia lá boa gente
Na rua do peixe frito Havia lá boa gente A cara chapada do pai Zé Manel Jesus Sacramento Havia lá boa gente
Letra e música: José Francisco Vieira Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Notas:
Agadir – cidade do Sudoeste de Marrocos (na costa atlântica) que, a 29 de Fevereiro de 1960, foi abalada por um sismo violento (de magnitude 5,7 na escala de Richter) que a deixou bastante destruída e causou cerca de 20 mil mortos (metade da população).
Pelengana ou palangana – recipiente largo e pouco fundo, de barro ou metal, usado para servir assados ou fritos.
Charro – chicharro.
Franquinhal – nome do vinho feito em Santa Luzia, Tavira, até aos anos 70, por uma família de galegos fugidos da Guerra Civil Espanhola.
Aldeia da Meia-Praia
[ Os índios da Meia-Praia ]
Aldeia da Meia-Praia Ali mesmo ao pé de Lagos Vou fazer-te uma cantiga Da melhor que sei e faço
De Monte-Gordo vieram Alguns por seu próprio pé Um chegou de bicicleta Outro foi de marcha a ré
Houve até quem estendesse A mão a mãe caridade Para comprar um bilhete De paragem para a cidade
Oh mar que tanto forcejas Pescador de peixe ingrato Trabalhaste noite e dia Para ganhares um pataco
Quando os teus olhos tropeçam No voo duma gaivota Em vez de peixe vê peças De ouro caindo na lota
Quem aqui vier morar Não traga mesa nem cama Com sete palmos de terra Se constrói uma cabana
Uma cabana de colmo E viva a comunidade Quando a gente está unida Tudo se faz de vontade
Tudo se faz de vontade Mas não chega a nossa voz Só do mar tem o proveito Quem se aproveita de nós
Tu trabalhas todo o ano Na lota deixam-te mudo Chupam-te até ao tutano Chupam-te o couro cab’ludo
Quem dera que a gente tenha De Agostinho a valentia Para alimentar a sanha De esganar a burguesia
Diz o amigo no aperto Pouco ganho, muita léria Hei-de fazer uma casa Feita de pau e de pedra
Adeus disse a Monte-Gordo (Nada o prende ao mal passado) Mas nada o prende ao presente Se só ele é o enganado
Foram “ficando ficando” Quando um dia um cidadão Não sei nem como nem quando Veio à baila a habitação
Mas quem tem calos no rabo E isto não é segredo – É sempre desconfiado Põe-se atrás do arvoredo
Oito mil horas contadas Laboraram a preceito Até que veio o primeiro Documento autenticado
Veio um cheque pelo correio E alguns pedreiros amigos Disse o pescador consigo Só quem trabalha é honrado
Quem aqui vier morar Não traga mesa nem cama Com sete palmos de terra Se constrói uma cabana
Eram mulheres e crianças Cada um c’o seu tijolo “Isto aqui era uma orquestra” Quem diz o contrário é tolo
E toda a gente interessada Colaborou a preceito Vamos trabalhar a eito Dizia a rapaziada
Não basta pregar um prego Para ter um bairro novo Só “unidos venceremos” Reza um ditado do Povo
E se a má lingua não cessa Eu daqui vivo não saia Pois nada apaga a nobreza Dos índios da Meia-Praia
Foi sempre a tua figura Tubarão de mil aparas Deixar tudo à dependura Quando na presa reparas
Das eleições acabadas Do resultado previsto Saiu o que tendes visto Muitas obras embargadas
Quem vê na praia o turista Para jogar na roleta Vestir a casaca preta Do malfrão ** capitalista
Mas não por vontade própria Porque a luta continua Pois é dele a sua história E o povo saiu à rua
Mandadores de alta finança Fazem tudo andar pra trás Dizem que o mundo só anda Tendo à frente um capataz
E toca de papelada No vaivém dos ministérios Mas hão-de fugir aos berros Inda a banda vai na estrada
Eram mulheres e crianças Cada um c’o seu tijolo “Isto aqui era uma orquestra” Quem diz o contrário é tolo
* Texto e música: Zeca Afonso
Para o filme Índios da Meia Praia, realizado por Cunha Teles. A versão do disco não inclui todas as quadras.
** Palavra algarvia que significa dinheiro.
Praia da Rocha, guitarra
[ Fado de Portimão ]
Praia da Rocha, guitarra Doirada que o mar dedilha Ferragudo e a maravilha Do castelo junto à barra
Mas quer chova ou faça sol Quer o mar deixe ou não deixe A cidade é um anzol
Portimão sonha com peixe Como a foz do rio Arade Como o cais de Portimão Há-de haver tão lindos, há-de, Mas mais lindos é que não.
Ah! Se o luar não vier Às redes de Portimão Luar de peixe a morrer Antes do fim do Verão.
“Vá fome” Diz Zé Fataça Que outrora foi pescador E é agora engraxador Junto ao coreto da praça
Então a fome é verdade E alguns vão buscar seu pão A mil léguas do Arade E do cais de Portimão.
Como a foz do rio Arade Como o cais de Portimão Há-de haver tão lindos, há-de, Mas mais lindos é que não.
Letra: Leonel Neves Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Procuro o sul
[ Fado Corridinho ]
Procuro o sul que me aqueça A voz que canta esta terra De seu clima abençoado Que dá calor ao meu fado E cheirinho a mar e serra
Descubro de costa a costa Praias onde o mar descansa Nas areias com memórias Falésias que são histórias De partidas, de esperança
O fado corridinho é um bailinho Que alegra a gente Sete passos para a frente Mais três de cada lado do caminho O fado corridinho é um cantar, Um desafio algarvio, vai de roda sem parar
No ciclo de cada ano A terra é fértil e espera Amendoeiras em flor Um pomar cheio de cor Prenúncio de primavera
Nesta viagem a sul Dou por mim em rodopio Entro num baile mandado Que alegra o meu fado Com um abraço algarvio
O fado corridinho é um bailinho Que alegra a gente Sete passos para a frente Mais três de cada lado do caminho O fado corridinho é um cantar, Um desafio algarvio, vai de roda sem parar
O fado corridinho é um bailinho Que alegra a gente Sete passos para a frente Mais três de cada lado do caminho O fado corridinho é um cantar, Um desafio algarvio, vai de roda sem parar
Ah moço dum raio!
Letra: Jorge Mangorrinha Música: José Francisco Vieira, Paulo Machado, João Vieira, João Frade, Paulo Jorge Temeroso Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Vai com trote certo
[ Carrinha Antiga ]
Vai com trote certo Esse cavalinho Todo empenachado E o boleeiro esperto Faz do seu caminho Seu baile mandado.
Lá vai a carrinha A carrinha antiga Com seu toldo armado. Uma sombra amiga A sombra fresquinha Sob um sol doirado
Leva os estrangeiros Muito prazenteiros Que vão passear. Ver a Rocha e o mar Mar das caravelas Que inda é mar das velas.
E a carrinha lesta Do Algarve florido É folha que resta De um romance lido De um conto feliz De Júlio Dinis.
Letra: José Galvão Balsa Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão* (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/03/algarve.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 00:35:172024-11-02 06:59:32Canções sobre o Algarve
Loja Meloteca, recursos criativos para musicalização infantil
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
Ai que saudade tenho do meu canto
Ai que saudade tenho do meu canto, da minha terra! Só vejo o mar adentro e o céu a te apartar.
Ai esta vida corre e roda, roda, ai, a moer; Não há razão, mãe, para voltar sem que fazer.
Eu hei-de ir, eu hei-de voltar à terra, ao meu lugar! Voltar à minha mãe, ao teu regaço, ao meu penar!
Meus olhos choram longe, ai, tão cansados de esperar… Ai esta vida corre e roda, roda, ai, a moer; Mas eu hei-de voltar à minha terra, ao meu lugar!
Meus olhos choram longe, ai, tão cansados de esperar… Mas eu hei-de voltar à minha terra, ao meu lugar!
Letra: Macadame Música: Tradicional (Loulé, Algarve) Recolha: José Alberto Sardinha (“Janeiras”, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 6 – Algarve e Ilhas, BMG/JN, 1997) Intérprete: Macadame Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Algarve, o nome me está lembrando
[ Santa Maria, a Sem-Par ]
Algarve, o nome me está lembrando Algarve, e a brisa passa a cantar. E as sombras leva-as o vento voltando. Silêncio, dizem as ondas do mar.
Morenas em bandos sobre açoteias Janelas abertas sobre um palmar Já vejo de longe as altas ameias Já vejo Santa Maria, a Sem-Par.
Algarve, jardim de rosas vermelhas Algarve, brancura de pedra e cal Cidade dentro dum pátio sem telhas Dormindo debaixo de um laranjal.
Nas praias, dedos de finas areias Teu nome lembram ao vento a passar Já vejo de longe as altas ameias Já vejo Santa Maria, a Sem-Par.
Letra: José Afonso Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
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Algarve, serras mansas
Algarve, serras mansas onduladas aos poucos aplanando-se em campinas, praias de areia e rochas arrendadas, verdes sapais e manchas de salinas
E o mar, mais pronto a calmas que a furores às traineiras levando os pescadores, peixes brilhando em raras pedrarias e o mar, mais pronto a calmas que a furores
Às traineiras levando os pescadores peixes brilhando em raras pedrarias, matos floridos, árvores variadas, farrobas, figos, amêndoas e citrinas.
Terras vermelhas, hortas afogadas n’águas doces de noras e de minas e o céu, tonto de sol, pintado a cores de inverosímeis, múltiplos fulgores
Jardim das mil e uma fantasias e o céu, tonto de sol, pintado a cores de inverosímeis, múltiplos fulgores, jardim das mil e uma fantasias.
Letra: António Balté Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Atira, caçador, atira
Atira, caçador, atira, Lá no meio da parada! O meu amor é galucho, Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada, Atira, não mata ninguém, Lá no meio da parada Do quartel de Belém.
Atira, caçador, atira, Lá no meio da parada! O meu amor é galucho, Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada, Atira, não mata ninguém, Lá no meio da parada Do quartel de Belém.
Eu fui caçar à tapada, Cheguei lá muito feliz; Encontrei a minha amada E matei uma perdiz.
Sou galucho de infantaria, Sou tropa no Alentejo E sinto muita alegria Quando na rua te vejo.
Atira, caçador, atira, Lá no meio da parada! O meu amor é galucho, Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada, Atira, não mata ninguém, Lá no meio da parada Do quartel de Belém.
Eu fui-te ver ao montado Sentada à porta do monte, Com os teus olhos brilhantes À espreita do horizonte.
Tinhas um sorriso aberto Perfumando a atmosfera; Eras a mais linda flor Que me trouxe a Primavera.
Atira, caçador, atira, Lá no meio da parada! O meu amor é galucho, Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada, Atira, não mata ninguém, Lá no meio da parada Do quartel de Belém.
Letra: Popular e Francisco Naia Música: Popular Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Canta na beirada andorinha
[ Laranjinha Doce ]
Canta na beirada andorinha Chega a primavera e o amor Uma vida inteira Duas à espera Noites sem dormir p’ra um beijo teu
Mil horas passadas sem saber Horas, dias sem fim, o meu amor Cantando dizia, noite e melodia Pareceu-me um ano Um só dia
Está chegando o tempo [do] ramo em flor Laranjinha doce, meu amor Espero por ti Canto por aí Vem cair, à noite, nos braços meus Espero por ti Canto por aí Vem cair, à noite, nos braços meus
Letra e música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Da beira-sonho lês
[ Amante do Mar ]
Da beira-sonho lês o mar que tens aos pés Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo; poiso de mareantes albergaste infantes e à aventura afrontaste o mar alto; de pele salgada vens com o ar quente de quem dos horizontes bebe o cheiro e a magia; ó loira do meu Sul minha fronteira azul cais de embarque, proa e guia.
Fronteira de sonhos aberta para o mar em jeito sensual e quente; velha majestade com a tua idade devias ser mais prudente; tiveste aventuras e hoje com as loucuras do teu passado altaneiro ainda continuas amante do mar e amor de marinheiro.
Da beira-sonho lês o mar que tens aos pés Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo; poiso de mareantes albergaste infantes e à aventura afrontaste o mar alto; de pele salgada vens com o ar quente de quem dos horizontes bebe o cheiro e a magia; ó loira do meu sul minha fronteira azul cais de embarque, proa e guia.
Fronteira de sonhos aberta para o mar em jeito sensual e quente; velha majestade com a tua idade devias ser mais prudente; tiveste aventuras e hoje com as loucuras do teu passado altaneiro ainda continuas amante do mar e amor de marinheiro.
Da beira-sonho lês o mar que tens aos pés Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo; poiso de mareantes albergaste infantes e à aventura afrontaste o mar alto; de pele salgada vens com o ar quente de quem dos horizontes bebe o cheiro e a magia; ó loira do meu Sul minha fronteira azul cais de embarque, proa e guia.
Letra e música: Afonso Dias Poema dito da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen (excerto de “Lagos II”, 1975, in “O Nome das Coisas”, Lisboa: Moraes Editores, 1977) Intérprete: Afonso Dias com Tânia Silva (in CD “O Mar ao Fundo”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2015)
Da serra veste perfumes
[ De Sol a Sul ]
Da serra veste perfumes, do levante inquietações. Do tempo lhe vêm famas do mar as consolações.
Velha Romana, Tuaregue, maruja, aventureira, dos mares sabida e da vida sabe tudo, de matreira.
Minha loira, meu azul faz-te ao mar, despe esse manto de nevoeiro e de sal, desnuda-te do quebranto de seres ponto de partir.
Navega com rumo a ti, descobre-te em Portugal, teu porto é de hoje e aqui. Velhas profecias, meu 29 de Agosto. Meu queijo de figo, sueste agreste, sol posto. Meu Infante navegante. Cheiro a sardinha no rosto. Cidade, eu te escuto tu me acolhes, tu me afagas. Regaço de mãe, doce carícia de algas. Varanda de sol a sul. Gente firme não se cala. Que o sonho se faça pouco a pouco, passo a passo. Que a tristeza afogue na largueza dum abraço. Que a alegria canse este cansaço. É hoje que a gente vai dizer como é que quer, seja o bicho homem ou o bicho seja mulher. E que venha por bem quem vier.
Letra e música: Afonso Dias Intérprete: Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul“, Concertante, 1999; CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Deus te salve, ó Rosa
– Deus te salve, ó Rosa Claro Serafim, Pastora formosa, Que fazeis aqui? – Estou guardando o meu gado, Que eu aqui “deixi”.
– Deixai vosso gado, Que eu o guardarei, Quero ser vosso criado, Linda flor, meu bem.
– Não quero criados De meias de seda; Não quero que as “arrompa” Cá por estas estevas.
– Sapato e meia, Tudo “arromparei”, Para ser vosso criado, Linda flor, meu bem.
– Vá-se já embora, (E) não me dê mais penas, Que daqui a nada vem meu amo Trazer-me a merenda.
– Venha cá, senhora, (E) Venha cá correndo Que o amor é louco Já me vai vencendo…
Letra e música: Tradicional (Aljezur – Algarve) Recolha: Michel Giacometti Intérprete: Chuchurumel (in CD “Posta Restante”, Edição de autor, 2007)
Eia, Abu Bacre
[ Evocação a Silves ]
Eia, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes se, como penso, ainda se recordam de mim.
Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel que sente perpétua saudade daquele alcácer.
Ali moravam guerreiros como leões e brancas gazelas. E em que belas selvas e em que belos covis.
Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado brancas e morenas que produziam na minha alma o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!
Quantas noites passei deliciosamente junto a um recôncavo do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!
O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.
As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.
Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.
Poema de Al-Mutamid (in “Portugal na Espanha Árabe”, vol. 1 – Geografia e Cultura, de António Borges Coelho, 1989) Recitado por Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul”, Concertante, 1999) Outras versões: António Baeta de Oliveira / Eduardo Ramos (in CD “Andalusino”, InforArte, 1999); Eduardo Ramos (in CD “Cântico para Al-Mutamid”, Ed. de Autor, 2005)
Eu já fui à tua horta
Eu já fui à tua horta Eu já fui teu hortelão Já comi da tua fruta Não sei s’outros comeram ou não
Já foste à minha horta Mas eu nunca lá te vi Já comeste da minha fruta Só num vento que t’eu vi
‘Tás pr’aí de boca aberta Cara de sardinha crua Se esta casa fosse minha Punha-te já no meio da rua
Letra e música: Popular (Algarve) Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)
Faça “ai, ai”, meu menino
[ Embalo do Algarve ]
Faça “ai, ai”, meu menino, Que a mãezinha logo vem! Foi lavar os cueirinhos À fontinha de Belém.
Vai-te embora, papá negro, De cima desse telhado! Deixa dormir o menino, Está no sono descansado.
Embala, José, embala! Embala suavemente, Entretendo o inocente Com esta cantiga em verso!
Dorme, dorme, meu menino, Que a mãezinha logo vem! Dorme, dorme, meu menino, Que a mãezinha, ai, logo vem!
Letra e música: Tradicional (Alvor, Portimão, Algarve) Recolha: Michel Giacometti (“Faça ‘ai, ai’, meu menino”, in LP “Algarve”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1962; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 5 – Algarve, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 6 – Algarve, col. Portugal Som, Numérica, 2008) Intérprete: Segue-me à Capela* Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Ir à bóia de Santana
[ Bóia de Sentença ]
Ir à bóia de Santana Tinha a sentença rezada Essa bóia da sentença Que por mim foi baptizada
Quem me rezou a sentença Foi o meu patrão ratado Tem mesmo cara de fome E tem o nariz furado
Medicamentos me pôs Lá na caixa de farmácia P’ra os senhores vou contar Até lhe acham graça
Um pouco de algodão E “eneivaquim” contada Pôs umas gotas de álcool De mercúrio não me deu nada
Lá parti para a viagem P’ra Freetown, ir pescar Ir à ilha das bananas São muitas horas p’lo mar
Tudo pode acontecer Pode vir bem ou vir mal Pode a gente adoecer Ou apanhar temporal
Quando os patrões se opuseram Esses homens nem falaram Lá foram para a sentença Foram e nem piaram
Esses que vão p’ra a sentença Vão porque são obrigados Mas a mim não mandam eles Comigo estão enganados
Tanto que eles diziam E nada os via fazer Essas palavras serviam P’ra outros homens perder
Garganta de rouxinóis Com olhinhos de aldrabões Dentes de mentirosos E boca de trapalhões
Garganta de rouxinóis Com olhinhos de aldrabões Dentes de mentirosos E boca de trapalhões
Letra: Hermínio José Machado Música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
“Leva, Leva!” (in LP “Algarve”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1962; “Portuguese Folk Music”: CD 5 – Algarve, Portugal Som/Strauss, 1998; “Música Regional Portuguesa”: CD 6 – Algarve, Portugal Som/Numérica, 2008)
Manelzinho
Manelzinho, ora você chora… Você chora, alguém lhe deu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Tocam nos sinos no Porto E o meu coração é teu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Manelzinho, ora você chora… Você chora, alguém lhe deu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Anda lá para diante Que eu atrás de ti não vou! Não me pede o coração Amar a quem me deixou.
Manelzinho, ora você chora… Você chora, alguém lhe deu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Manelzinho, ora você chora… Você chora, alguém lhe deu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Letra e música: Tradicional (Algarve) Arranjo: Artesãos da Música Intérprete: Artesãos da Música Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)
Mestre Zé cantou um dia
[ Faz Cá Falta a Armação ]
Mestre Zé cantou um dia Teu nome, Maria Faia Pouca gente então sabia Dos índios da Meia-Praia Gente honrada e lutadora Em Lagos, Luz e meia arraia
Também nós somos do Sul Da Vila Santa Luzia Já cá canta o Ti Saul E a velha sabedoria Faz cá falta a armação O saveiro e o calão
Os velhos lobos do mar Que agora ficam em terra Mandou a Europa de lá Abateram embarcações Os senhores da nova guerra Mandam mais, são os patrões
Em Espanha fazem-se ao mar E nós parados a ver Na lota manda o espanhol Onde exerce o seu poder Enfrentemos mar e sol Mais vale quebrar que torcer
Se há fé de tudo mudar Em cada volta do mundo Se o sal da baixa-mar É igual ao que há no fundo Vamos de novo lutar Com a força do deus Neptuno
Também nós somos do Sul Da Vila Santa Luzia Já cá canta o Ti Saul E a velha sabedoria Faz cá falta a armação O saveiro e o calão
Letra: Nuno Manuel Faria Música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Meu Algarve, cheio de luz
Meu Algarve, cheio de luz, és o sol que me ilumina, u ma estrela que reluz, o amor que me domina.
És o meu sol branco e doirado a tua luz me seduz, paraíso inconquistado, meu Algarve, minha luz.
És o sol que me ilumina, minha flor, meu girassol, a semente que germina, meu Algarve, cheio de sol.
És uma estrela a brilhar a minha constelação, um jardim à beira-mar, a minha flor em botão.
Letra: Maria José Fraqueza Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Meu Algarve das baladas
[ Corridinho, corridinho ]
Meu Algarve das baladas Não és bem como te cantam Mais que moiras encantadas Tens moiras que nos encantam
Corridinho, corridinho Antes que a morte apareça Corridinho, corridinho Vamos lá viver depressa.
Cava a terra, pisa o mosto Puxa a rede e continua A ‘balhar’ até dá gosto O suor que a gente sua
Corre, pula, rodopia Até manhanita, moça Já alugámos o dia Mas a noite é toda nossa.
Tia Anica da Fuzeta Tia Anica de Loulé Da barra da saia preta Ou da caixa de rapé.
Fala, fala se és capaz Cantorica, bailarica, Que no céu não poderás Já sem corpo, Tia Anica
Letra: Leonel Neves Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Meu Algarve encantador
I. Meu Algarve encantador, P’ra o poeta e p’ra o pintor Tens motivos de sobejo… Até eu, se tivesse arte, Queria ao mundo mostrar-te Como te sinto e te vejo.
II. Meu Algarve encantador, A parte da tua alegria, Tens o encanto, a magia, Das amendoeiras em flor.
III. Meu q’rido Algarve, em Janeiro, Ao turista endinheirado, Escondes o corpo ulcerado No fatinho domingueiro.
IV. Só vêem flores os olhos Desses ilustres senhores, Mas no Algarve, os abrolhos São muito mais do que as flores.
V. Mas quem, como eu, o conhece, Sabe que ele, infelizmente, Por dentro é muito diferente Do que por fora parece.
(António Aleixo, in Este Livro Que Vos Deixo, 1969)
Milho verde, milho verde
Deu-me a mim muito trabalho
Milho verde, milho verde Milho verde, maçaroca À sombra do milho verde Namorei uma cachopa
Namorei uma cachopa Namorei um rapazinho À sombra do milho verde Milho verde, miudinho
Milho verde, milho verde Milho verde, folha larga À sombra do milho verde Namorei uma fidalga
Namorei uma fidalga Namorei o meu amor Milho verde, milho verde E à sombra não faz calor
Nem chove nem faz calor Nem chove nem cai orvalho E o amor para ser meu Deu-me a mim muito trabalho
Letra e música: Popular (Algarve) Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)
Não há noite mais alegre
Não há noite mais alegre Que a noite de Natal Onde nasceu Deus Menino Antes do galo cantar
Deu o galo três cantadas Deu o menino nascido Bendito seja o ventre Qu’o trouxe nove meses escondido
E a mula como era maldosa Destapava-o com a ferradura Mas o boi como era manso Destapava-o com a armadura
Deus a bem disse ao aboio Deus lhe deu a bênção Toda a terra aqui milagre Toda ela cheira a pão
Sejam altas, sejam baixas Sejam nada as dê lição Cada bago dê um moio Cada moio dê um milhão
Letra e música: Popular (Algarve) Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro; José Martins Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado “, 2001)
No Garb realça o azul deuses morenos
As Hespérides são moças algarvias
No Garb realça o azul deuses morenos À doçura dos figos submetidos. Vieram gregos. Ficaram Sarracenos. Nardos enfolham seus nomes esquecidos.
À noite ordenham luas nos terraços, Dão leite à sombra. Abrolham os perfumes. Silêncio. Só de um lírio ouvem-se os passos. Madruga a pesca, rompe um mar de lumes.
Esvoaçam suas túnicas de abelhas Entre vinhas, seus bêbados recintos; E quando a amendoeira nas orelhas Põe flores, deram-lhe os deuses esses brincos.
Vem de turbante o sol e toma posse De corpos, cactos, milhos e vinhedos. Excita o açúcar na batata-doce E despe as almas gregas dos penedos.
Ouro firme, crepúsculos de cinabre Senhorio de azul. Balcões mouriscos. Ferve a prata na pesca. O cheiro abre No ar quente uma vulva de mariscos.
Jardins da Hespéria? Ninfeu de ondas macias, O mar. As ninfas guardam os pomares. As Hespérides são moças algarvias Todas jasmim, da testa aos calcanhares.
Garb de praia e pele magia e lendas, Branco de extasiadas geometrias. Absorto o tempo. São gregas as calendas Com pálpebras de mouras gelosias.
Laranjas, cal, areia e rocha ardente Têm sede da luz que dá mais vida. Índigos deuses. Ardor. Tudo é presente. Causa clara de beira-mar garrida.
Poema de Natália Correia (in “O Armistício”, 1985) Recitado por Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002) Outra Versão: Carla Moreira / Trupe Barlaventina (in CD “O Perfume da Palavra”, Concertante, 1999)
No Palácio das Varandas
[ Do Palácio das Varandas ]
No Palácio das Varandas namorei moiras de sonho escrevi meus versos de luz. De ruiva cor eram o trono e o sangue que me sangraram com espadas sombras de cruz. Naveguei Arade abaixo ‘té ao azul que gritava Valentias de aventura.
Em preparos de abalada do abrigo da enseada fiz-me ao sonho e à sepultura trepei agruras de pedra espojei-me em areias de seda nadei águas de amargura Levei os cheiros do monte plantei estevas no horizonte flori o mar e a lonjura.
Num tempo antigo de igreja a santidade da inveja impôs-se a golpes de espada, neste sul, do sul sobeja mais geometria das almas do que agressões de cruzada. O Guadiana é travesso e faz caber num só verso um povo de duas águas.
Em capital de canções manda o baile de emoções esta orgia de poetas. A velha Garb se ufana de em mistérios ser estranha como convém aos profetas. A velha Garb se ufana de em mistérios ser estranha como convém aos profetas.
Hoje o Garb é ribeirinho e o montanheiro, sozinho é velhice e sais de pedra. Da beira-mar para o sol há que acender o farol do norte que aponta a serra. Da beira-mar para o sol há que acender o farol do norte que aponta a serra.
Letra: Afonso Dias Música: Alfredo Correeiro Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Nome de Maria
Nome de Maria Tão bonito é Salva-me a minha alma Que ela vossa é
Que ela vossa é Sempre o há-de ser Salva-me a minha alma Quando eu morrer
Quando eu morrer Quando eu acabar Salva-me a minha alma Para bom lugar
Para bom lugar Para o Paraíso Salva-me a minha alma Dia do Juízo
Dia do Juízo Para a eternidade Salva-me a minha alma Mãe da Piedade
Mãe da Piedade Senhora das Dores Salva-me a minha alma Mãe dos pecadores
Mãe dos pecadores Senhora da Luz Salva-me a minha alma Meu doce Jesus
Meu doce Jesus Mãe do Nazareno Salva-me a minha alma Para sempre, Ámen.
E Jesus é meu E eu quero ser vosso Por isso lhe rezo Este Pai-Nosso.
Popular – voz feminina (Monchique, Algarve) Recolha de José Alberto Sardinha (1981) (in CD n.º 6 de “Portugal: Raízes Musicais”, JN/BMG, 1997)
Ó água que vais correndo
[ Verde-Gaio ]
Ó água que vais correndo Mansamente vagarosa, Passa pelo meu jardim, Rega-me lá uma rosa!
Água da Fóia corre alta, Por canais vai à cidade; Eu não sou rica, mas tenho Amores à minha vontade.
O ladrão do Verde-Gaio Foi-se gabar à rainha Que era dono do morgado E nem sequer sapatos tinha.
E nem sequer sapatos tinha Nem dinheiro para os comprar; O ladrão do Verde-Gaio Foi-me falso no amar.
Eu tenho à minha janela O que tu não tens à tua: Um vaso de violetas Que perfuma toda a rua.
Bem sei que me andais mirando Por debaixo do chapéu; Se eu não sou do vosso gosto Quem quer anjos vai ao céu.
O ladrão do Verde-Gaio Foi-se gabar à rainha Que era dono do morgado E nem sequer sapatos tinha.
E nem sequer sapatos tinha Nem dinheiro para os comprar; O ladrão do Verde-Gaio Foi-me falso no amar.
O ladrão do Verde-Gaio Foi-se gabar à rainha Que era dono do morgado E nem sequer sapatos tinha.
E nem sequer sapatos tinha Nem dinheiro para os comprar; O ladrão do Verde-Gaio Foi-me falso no amar.
Letra e música: Tradicional (Algarve) Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
O Algarve é branco
O Algarve é branco, manchado De espuma branca do mar Quando o mar endiabrado Anda com ela a brincar
O Algarve é branco Nas belas chaminés tão rendilhadas Das suas casas singelas Todas de branco caiadas
O Algarve é branco nas praias Quando as ondas, uma a uma As vestem de brancas saias Feitas de rendas de espuma
O Algarve é branco Nas velas dos seus barcos navegando Em mar azul, sem procelas Que de branco o vão pintando
O Algarve é branco nos dias Que as amendoeiras em flor Lembram neve em terras frias Tão semelhantes na cor
O Algarve é branco À noitinha, quando a lua, ao despertar, Enche a paisagem inteirinha De luz branca de luar
O Algarve é branco À noitinha, quando a lua, ao despertar, Enche a paisagem inteirinha De luz branca de luar
Letra: Elisa Maçanita Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Ó Maria, vem bailar
[ Bailarico Algarvio (Corridinho) ]
– Ó Maria, vem bailar o corridinho! – Ó Manel, não me faltes ao respeito! – Ó Maria, que as penas do teu peitinho… E eu não sou Maneleto! – Ó Maneleto, que eu já te tenho dito: Cá comigo só se baila com preceito! – Ó Maria, não sejas tão esquisita, Que bailamos ao toque da concertina! Raios me parta se há alguma mais bonita, Ai que tem como tu a pele tão fina…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem! Andas no ar como uma pena levezinha. Só tenho pena que as penas que o peito tem, Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem! Andas no ar como uma pena levezinha. Só tenho pena que as penas que o peito tem, Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
– Ó Maria, vem bailar o corridinho! – Ó Manel, não me faltes ao respeito! – Ó Maria, que as penas do teu peitinho… E eu não sou Maneleto! – Ó Maneleto, que eu já te tenho dito: Cá comigo só se baila com preceito! – Ó Maria, não sejas tão esquisita, Que bailamos ao toque da concertina! Raios me parta se há alguma mais bonita, Ai que tem como tu a pele tão fina…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem! Andas no ar como uma pena levezinha. Só tenho pena que as penas que o peito tem, Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem! Andas no ar como uma pena levezinha. Só tenho pena que as penas que o peito tem, Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
Letra e música: Tradicional (Tavira, Algarve) Recolha: Grupo Folclórico de Tavira Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)
O Sol é que alegra o dia
[ Arquinhos ]
Cantiga:
O Sol é que alegra o dia Pela manhã quando nasce; Ai de nós o que seria Se o Sol um dia faltasse!
Moças, façam arquinhos! Moças, façam arcadas P’ra passar o meu benzinho, P’ra passar a minha amada!
P’ra passar a minha amada, O meu benzinho, Moças, arquinhos! Moças, arcadas!
P’ra passar o meu benzinho, A minha amada, | Moças, arquinhos! Moças, arcadas!
O meu benzinho…
A minha amada…
Arquinhos (dança de roda) Letra e música: Tradicional (Ourique / Castro Verde, Alentejo) Informantes: Grupo Coral e Etnográfico “As Papoilas do Corvo” (Aldeia do Corvo), Manuel Bento (Aldeia Nova) e Pedro Mestre (Sete) Recolha: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 36-37) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Ó Sol, vibrante sol
[ O meu Algarve ]
Ó Sol, vibrante sol, do meu Algarve de oiro, que fazes palpitar os peitos e os jardins no mesmo grande amor, fecundo, imorredoiro, que rebenta, na Vida, em olhos e jasmins: ó Sol que pões no Céu um brilho violento e fazes chamejar, ao longe, os horizontes, que pões fogo no ar e pões brasas no vento e que vais calcinar a epiderme aos montes, adoro a tua luz vigorosa e sadia, que modula no campo a música das cores, que rega, em nossa alma, os cactos da Alegria e esculpe nas sementes os bustos das flores. Cai-me sobre o olhar: banha-me em teu fulgor, ó Sol que pões no Céu um latejante azul: Dá-me a tua alegria e dá-me o teu vigor, ó Sol, imortal sol, do meu país do Sul…
Poema (excerto): João Lúcio (in “O Meu Algarve”, 1905) Música: Pedro Guerreiro Intérprete: Carla Moreira / Trupe Barlaventina (in CD ” Lendas do País do Sul “, Concertante, 1999)
Olá vizinha prenda o seu galo
Olá vizinha prenda o seu galo Qu’a minha galinha ricócó Quer namorá-lo Quer namorá-lo Eu não m’importa Galo à janela ricócó Galinha à porta
Cró, cró, cró A galinha foi-se embora E o galinho ficou só
Letra e música: Popular (Algarve) Arranjo: Margarida Guerreiro; Teresa Muge Vassouras: Eduarda Alves, Margarida Guerreiro, Teresa Colaço, Teresa Muge Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)
Perguntei ao Sol
[ Ponta nova do Algarve ]
Perguntei ao Sol se viu E à lua se conheceu, Às estrelas se encontraram Um amor que já foi meu.
Ponta nova do Algarve Está feita numa romã, Onde o meu amor passeia Domingo pela manhã.
Domingo pela manhã Na segunda-feira à tarde, Está feita numa romã Ponta nova do Algarve.
O meu amor é aquele Que não me tira o chapéu, Tem a porta para a rua E o telhado para o céu.
Ponta nova do Algarve Está feita numa romã, Onde o meu amor passeia Domingo pela manhã.
Domingo pela manhã Na segunda-feira à tarde, Está feita numa romã Ponta nova do Algarve.
Letra e música: Popular (Algarve) Recolha: José Alberto Sardinha (Castro Marim, 1994) (in CD n.º 6 de “Portugal – Raízes Musicais”, ed. JN/BMG, 1997) Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Parainfernália”, Açor/Emiliano Toste, 2007)
Praia da Rocha
[ Fado de Portimão ]
Praia da Rocha, guitarra Doirada que o mar dedilha Ferragudo e a maravilha Do castelo junto à barra
Mas quer chova ou faça sol Quer o mar deixe ou não deixe A cidade é um anzol Portimão sonha com peixe
Como a foz do rio Arade Como o cais de Portimão Há-de haver tão lindos, há-de, Mas mais lindos é que não.
Ah! Se o luar não vier Às redes de Portimão Luar de peixe a morrer Antes do fim do Verão.
“Vá fome” Diz Zé Fataça Que outrora foi pescador E é agora engraxador Junto ao coreto da praça
Então a fome é verdade E alguns vão buscar seu pão A mil léguas do Arade E do cais de Portimão.
Como a foz do rio Arade Como o cais de Portimão Há-de haver tão lindos, há-de, Mas mais lindos é que não.
Letra: Leonel Neves Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Quatro horas da madrugada
[ Naufragou Valentina ]
Quatro horas da madrugada Barcos p’rá pesca iam Naufragou Valentina Barco de Santa Luzia
Apelido Cavalo Raio Que tanta fama deixou À barra de Vila Real Esse barco naufragou
Veio o vento de repente Que nem um remate de bola O barco que os salvou Foi uma parelha espanhola
Aldemiro de Mateus Seria o primeiro a faltar Pela forte maresia Arrebatado pelo mar
Manuel Milho e Joaquim De suas mulheres se lembraram Até que chegou a parelha Que os naufragados salvava
Naufragou Valentina Barco de Santa Luzia O barco que os salvou Barco de Punta Umbria
Para que fique na ideia Esta grande e triste imagem Se chegarem a naufragar Nunca percam a coragem
Com toda a força gritava Na maior aflição O mestre fez desmerecer A sua tripulação
Naufragou Valentina Barco de Santa Luzia O barco que os salvou Barco de Punta Umbria
Naufragou Valentina Barco de Santa Luzia O barco que os salvou Barco de Punta Umbria
Letra: Hermínio José Machado Música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Quem vive nos ardis da ilusão
Quem vive nos ardis da ilusão E, assim, vai fugindo do amigo Poderá encontrar consolação?
Quando será que estarei Livre de desdém tão fero Cujos fortes esquadrões Me dão guerra que eu não quero. Juro pela luz altaneira Que em suas tranças se divisa: Não sou cobra traiçoeira Das que mudam de camisa.
De negras madeixas Amo uma gazela Um sol é o seu rosto E palmeira é ela De ancas opulentas. Há entre seus lábios De néctar o gosto. Ó sede, se intentas Sua boca beijar Não o vais lograr. Ó sede, se intentas Sua boca beijar.
No encanto não tem Rival tal senhora, E fora do sonho, Quem bela assim fora? Qual espadas seus olhos Lhe brilham; e rosas Lhe enfeitam a face Na sombra vistosas Mas se as vais olhar As farás murchar. Lhe enfeitam a face Na sombra as rosas.
Dá paz ao ardor De quem te deseja. Contenta o amor E faz dom de ti, Vamos lá, sorri, Quando a boca beija. Me disse na hora: “Pecar me refreia” Respondi-lhe: “Ora! Não é coisa feia.” Me disse na hora: “Pecar me refreia”
Uma vez era noite De bem longa festa. Eu adormeci E ela acordou-me com esta: “Teu sono vai longo, Toca a levantar!” Então me beijou E eu pus-me a cantar: “Fazem reviver Teus lábios a arder!”. Então me beijou E eu pus-me a cantar.
Dá paz ao ardor De quem te deseja. Contenta o amor E faz dom de ti, Vamos lá, sorri, Quando a boca beija. Me disse na hora: “Pecar me refreia” Respondi-lhe: “Ora! Não é coisa feia.” Me disse na hora: “Pecar me refreia”
Uma vez era noite De bem longa festa. Eu adormeci E ela acordou-me com esta: “Teu sono vai longo, Toca a levantar!” Então me beijou E eu pus-me a cantar: “Fazem reviver Teus lábios a arder!”. Então me beijou E eu pus-me a cantar.
Poema (adaptado): Al-Mutamid (in “O Meu Coração é Árabe”, de Adalberto Alves) Música: Eduardo Ramos Intérprete: Eduardo Ramos (in CD “Andalusino”, InforArte, 1999; CD “Cântico para Al-Mutamid”, Ed. de Autor, 2005)
Rio Guadiana
Rio Guadiana, que vais p’ró mar Correm-te as águas tão gentis Em terra estranha… Toma cuidado, olha que em Espanha Criam-se as mágoas que me inquietam Dum pesadelo…
Frescas manhãs em Abril Onde andarão lembranças mil…
Clara Joana foi-se hoje embora Deixa a saudade num portado Ninguém a chora A felicidade é coisa simples Vai de barquinha rio abaixo Nunca mais torna…
Frescas manhãs em Abril Onde andarão lembranças mil…
Espelho da cara da nossa gente Tira a confiança a quem te mente Ai se te vejo no Alentejo Sem laranjais, sem trigo d’oiro És a fonte dos meus receios
Frescas manhãs em Abril Onde andarão lembranças mil…
Letra e música: Vitorino Intérprete: Vitorino (in “Flor de La Mar”, EMI-VC, 1983; reed. 1992)
Siga a roda, siga ela
[ Romance da Donzela Guerreira ]
(“Siga a roda, siga ela, Que agora se vai contar A história duma donzela Que à guerra vai guerrear!”)
– As guerras se apregoaram Entre França e Aragão: Ai de mim que já sou velho, Sem ter um filho varão!… Sem ter um filho varão!…
Responde a filha mais moça Com toda a resolução: – Venham armas e cavalos Que eu serei filho varão. –
(“A roda sempre a girar, Que a história vai começar!”) – Tendes as tranças compridas, Filha, conhecer-vos-ão. – Venham pentes e tesouras, Vê-las-eis cair no chão! Vê-las-eis cair no chão!
– Tendes os olhos garridos, Filha, conhecer-vos-ão. – Quando passar pela armada Porei os olhos no chão!
(“Vai rodando sem parar, Que o baile está a animar!”)
– Tendes peitos muito altos, Filha, conhecer-vos-ão. – Venham fardas apertadas, Que eles logo abaixarão! Que eles logo abaixarão!
– Tendes as mãos muito finas, Filha, conhecer-vos-ão. – Venham já guantes de ferro, De lá nunca sairão!
(“A donzela triunfou E prá guerra caminhou! Logo o capitão da armada Dos seus olhos se encantou… E julgando-a disfarçada, Em casa se aconselhou.”)
– Convidai-o vós, meu filho, Para convosco dormir; Que se ele for mulher, Não se há-de querer despir.
– Linda cama pra mulher, Mas ai, quem a fora convidar… Mas dois homens numa cama? Quem os mandará açoitar!
(“Sem mais nada descobrir, Torna ele a insistir.”)
– Convidai-o vós, meu filho, Para ir ao rio nadar; Que se ele for mulher, Logo se há-de acobardar.
– Águas doces são pra damas, Mas ai, quem as fora convidar… Porém, não servem pra homens Senão as águas do mar!
(“Roda agora c’o seu par, Que a história vai terminar!”)
Monta, monta, cavaleiro, Se me queres acompanhar; Se quereis ser o meu marido, Minha mão te quero dar! Minha mão te quero dar!
Sete anos andei na guerra Mas ai, E fiz de filho varão; Ninguém me conheceu nunca Senão o meu capitão: Conheceu-me pelos olhos, Que por outra coisa não!
Letra: Tradicional Música: Vítor Reino Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002) Outras versões: Amélia Muge – Donzela Guerreira (in CD “Novas Vos Trago”, Tradisom, 1998); José Barros e Navegante – “Donzela que vai à guerra” (in CD “Rimances”, JBN, 2001)
Tem o poial de um vizinho
[ Toada de Aljezur ]
Tem o poial de um vizinho o telhado de outro ao fundo: entre eles passa um caminho de ambos e de todo o mundo.
Topo das casas-escadas: Castelo, quem lá te pôs? Cobres moiras encantadas, descobres várzeas de arroz.
Sonhar rosas, pedir cravos bom é que aos pobres se oiça… Que os corpos sejam escravos, as almas são outra loiça!
Que os corpos sejam escravos, as almas são outra loiça! Sonhar rosas, pedir cravos bom é que aos pobres se oiça…
Eis a capital da Serra do Espinhaço de Cão! Mato com nódoas de terra, muita pedra, pouco pão.
Mato com nódoas de terra, muita pedra, pouco pão. Eis a capital da Serra do Espinhaço de Cão!
Vila de Aljezur, arrasada sejas de cravos e rosas até às igrejas!
(Se nada valem os montes que o concelho anda a lavrar, talvez venda os horizontes que tem à beira do mar…)
(Talvez venda os horizontes que tem à beira do mar… Se nada valem os montes que o concelho anda a lavrar.)
Vila de Aljezur, arrasada sejas de cravos e rosas até às igrejas!
Que faz tanta casa junta subindo uma encosta louca? Diz talvez que a gente é muita, diz talvez que a terra é pouca.
Diz talvez que a gente é muita, diz talvez que a terra é pouca. Que faz tanta casa junta subindo uma encosta louca?
Vila de Aljezur, arrasada sejas de cravos e rosas até às igrejas!
Letra: Leonel Neves Música: Afonso Dias Intérprete: Afonso Dias com Tânia Silva (in CD “O Mar ao Fundo”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2015)
Vai, minha lanchinha à vela
[ Lanchinha à Vela ]
Vai, minha lanchinha à vela Lá longe o horizonte Vejo nuvens de esperança Notícias de Levante
Se o mar a mim me engana Tormentas, tempestades Vai, minha lanchinha à vela Antes que seja tarde
Trago cheiro a maresia Gengibre e fruta sã Levo a brisa pela proa Rainha, minha romã
Vai, minha lanchinha à vela Que a noite não tem fim Vai buscar a chama eterna Canela e alecrim
Vai, minha lanchinha, vai Por mares e marés Vai em busca de bonança Mostrar quem tu és
Vai, minha lanchinha à vela Lá longe o horizonte Vejo nuvens de esperança Notícias de Levante [3x]
Letra e música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Vê-se ranchos de raparigas
[ Al Algarve ]
Vê-se ranchos de raparigas a desfolhar uma rosa, cantando lindas cantigas, formando bailes de roda.
Refrão:
Ai, Algarve, tens amendoeiras floridas! Ai, Algarve, tens o nome da canção! Ai, Algarve, tens tão lindas raparigas! Ai, Algarve, tens tão lindo Portimão!
Envolvidas na canção fazem arraiais de feira, gritam “viva Portimão”, viva a flor da amendoeira.
Envolvida nas cantigas só eu ficarei no pó que as amendoeiras despidas causam pena, metem dó.
Letra: Anónimo Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Vimos dar as Boas Festas
Vimos dar as Boas Festas, Já que Deus as nos deixou: É nascido o Deus-Menino, De manhã se baptizou.
Depois dele baptizado Nesse tão humano dia, Para a Glória foi levado Com prazer e alegria.
Letra e música: Popular (Algarve / Estremadura) Recolha: José Alberto Sardinha Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002)