O poemário do cancioneiro português (incluindo fado, música tradicional e ligeira) pretende fomentar o gosto da poesia como parceira da música e a divulgação dos poetas cuja importância nem sempre é justamente reconhecida. Fontes: Blogue A Nossa Rádio, Álvaro José Ferreira.
A lua nasceu e cresceu no além, A noite chegou também; Meu bebé, vai dormir! Vai dormir e sonhar! Deixa a lua subir lá no ar. Meu bebé, vai dormir! Vai dormir e sonhar! Deixa a lua subir lá no ar.
A rôca poisou e largou sem chorar, Seus olhos vão já fechar; Nada pode impedir Que o bebé durma bem, Nem papão há-de vir nem ninguém.
Tu verás, meu amor, Como é bom sonhos ter: Deus te dê os melhores que houver! Amanhã contarás tudo o que se passar E depois voltarás a sonhar.
A lua nasceu e cresceu no além, A noite surgiu também; Vai dormir, meu amor, Porque eu velo por ti! Só aos anjos a lua sorri. Vai dormir, meu amor, Porque eu velo por ti! Só aos anjos a lua sorri.
Tu verás, meu amor, Como é bom sonhos ter: Deus te dê os melhores que houver! Vai dormir, meu amor! Vai dormir e sonhar! Deixa a lua subir lá no ar.
Tu verás, meu amor, Como é bom sonhos ter: Deus te dê os melhores que houver! Vai dormir, meu amor! Vai dormir e sonhar! Deixa a lua crescer lá no ar.
Amanhã contarás tudo o que se passar E depois voltarás a sonhar.
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Intérprete: Musicalbi (in CD “Mastiço”, Musicalbi/I Som, 2007; CD “Lado Calmo”, Musicalbi, 2014)
Loja Meloteca, recursos criativos para musicalização infantil
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
Cala-te, Menino, Cala!
Cala-te, menino, cala! Cala-te, menino, cala! Que a senhora logo vem! Que a senhora logo vem! Foi lavar os cueirinhos, Foi lavar os cueirinhos, Ao chafariz de Belém, Ao chafariz de Belém.
Ó, ó, ó, ó, ó, menino, ó!
Cala-te, menino, cala! Cala-te, menino, cala! Cala-te e torna a calar! Cala-te e torna a calar! Eu tenho muito que fazer, Eu tenho muito que fazer, Não te posso embalar, Não te posso embalar.
Cala-te, menino, cala! Cala-te, menino, cala! Cala-te e torna a calar! Cala-te e torna a calar! Eu tenho muito que fazer, Eu tenho muito que fazer, Não te posso embalar, Não te posso embalar.
Letra e música: Tradicional (Paul, Covilhã, Beira Baixa) Recolha: José Alberto Sardinha (“Embalo”, 1981, in “Recolhas Musicais da Tradição Oral Portuguesa: LP 1 – Beira Baixa e Minho”, Contralto – Música Popular, Lda., 1982; “Portugal – Raízes Musicais”: CD 4 – Beira Baixa e Beira Trasmontana, BMG/JN, 1997) Intérprete: O Baú* (in CD “Achega-te”, O Baú, 2012)
O Baú
Cravo roxo à janela
Cravo roxo à janela É sinal de casamento Menina recolha o cravo, ó ai Que o casar ainda tem tempo Cravo roxo ama, ama Ó jasmim adora, adora Rosa branca brumelhinha, ó ai Se tens pena chora, chora Cravo roxo sentimento Que eu bem sentida estou Por amar quem me não ama, ó ai Querer bem a quem me deixou Tenho à minha janela O que tu não tens à tua Cravo roxo salpicado, ó ai Que dá cheiro a toda a rua
Letra e música: Popular (Beira Baixa) Arranjo: António Prata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos / Coro Polifónico Eborae Musica / Adufeiras de Monsanto / Coral Guadiana de Mértola (in CD “Sulitânia”, Ocarina, 2007)
Ronda dos Quatro Caminhos, Sulitânia
Era ainda pequenino
Era ainda pequenino Acabado de nascer Inda mal abria os olhos Já era para te ver
Acabado de nascer Quando eu já for velhinho Acabado de morrer Olha bem para os meus olhos
Sem vida são p’ra te ver Acabados de morrer Era ainda pequenino Acabado de nascer
Inda mal abria os olhos Já era para te ver Acabado de nascer
Letra e música: Popular (Beira Baixa) Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; “Obra Completa”, Movieplay, 1994, 2007)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Esta noite não é noite
[ Moda da Zamburra ]
Esta noite não é noite não é noite de dormir nem esta nem a que vem nem a que está para vir não é noite de dormir
Pelo mar abaixo vai um pintassilgo c’o arado às costas semeando o trigo
Estas casas não são casas Estas casas são casinhas Tantos anos viva o mundo Como elas têm de pedrinhas
Estas casas são casinhas Pelo mar abaixo vai uma cabaça Se ela leva vinho leva toda a graça Pelo mar abaixo vai um pintassilgo c’o arado às costas semeando o trigo
Ó Entrudo, ó Entrudo ó Entrudo chocalheiro tu não deixas assentar as mocinhas ao solheiro ó Entrudo chocalheiro
Pelo mar abaixo vai um pintassilgo c’o arado às costas semeando o trigo
Pelo mar abaixo vai uma cabaça Se ela leva vinho leva toda a graça
Letra e música: Popular (Concelho de Castelo Branco, Beira Baixa) Arranjo: Aurélio Malva Intérprete: Brigada Victor Jara (in CD “Danças e Folias”, Farol, 1995)
Brigada Victor Jara, Danças e Folias
Estava a velha no seu lugar
[ A Velha a Fiar (Lengalenga) ]
Estava a velha no seu lugar Veio a mosca chatear A mosca na velha, a velha a fiar Estava a mosca no seu lugar Veio a aranha chatear A aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar Estava a aranha no seu lugar Veio o rato chatear O rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar Estava o rato no seu lugar Veio o gato chatear O gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar Estava o gato no seu lugar Veio o cão chatear O cão no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar Estava o cão no seu lugar Veio o homem chatear O homem no cão, o cão no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar Estava o homem no seu lugar Veio a morte chatear A morte no homem, o homem no cão, o cão no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar
Letra e música: Tradicional (Proença-a-Nova, Beira Baixa) Recolha: José Alberto Sardinha (1989, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 4 – “Beira Baixa e Beira Trasmontana”, BMG/JN, 1997) Arranjo: Velha Gaiteira Intérprete: Velha Gaiteira (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa) Versão discográfica de Velha Gaiteira, com Grupo de Percussão da Escola Cidade de Castelo Branco (vozes) (in CD “Velha Gaiteira”, Velha Gaiteira/Ferradura, 2010)
Eu venho de marcelada
[ Marcelada ]
Eu venho de marcelada.
Eu venho de marcelada, Venho de colher marcela, Lá dos campos do castelo, Daquela mais amarela. Venho de marcelada.
Eu venho de marcelada, Venho de colher uma flor, Lá dos campos do castelo, Para dar ao meu amor. Venho de marcelada.
Eu venho de marcelada, Venho de colher um cravo, Lá das bandas do castelo, Para dar ao namorado. Venho de marcelada.
Eu venho de marcelada, Venho de colher marcela, Lá dos campos do castelo, Daquela mais amarela. Venho de marcelada.
Eu venho de marcelada, Venho de colher uma flor, Lá dos campos do castelo, Para dar ao meu amor. Venho de marcelada.
Eu venho de marcelada, Venho de colher um cravo, Lá das bandas do castelo, Para dar ao namorado. Venho de marcelada.
Letra e música: Tradicional (Monsanto, Idanha-a-Nova, Beira Baixa) Recolha: Hubert de Fraysseix Intérprete: Musicalbi* (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)
Eu venho de aqui
[ Debaixo da Laranjeira ]
Eu venho de aqui, de aqui Eu venho de aqui, de além Debaixo da laranjeira, ó ai Muita laranja apanhei Muita laranja apanhei Uma verde outra amarela Debaixo da laranjeira, ó ai Namorei uma donzela Namorei uma donzela Namorei o meu amor Debaixo da laranjeira, ó ai Nem chove nem faz calor Nem chove nem faz calor Ó que vento tão fresquinho Debaixo da laranjeira, ó ai Meu amor deu-me um beijinho Meu amor deu-me um beijinho E um abraço apertado Debaixo da laranjeira, ó ai Saímos de lá casados Saímos de lá casados De dia e a toda a hora Debaixo da laranjeira, ó ai Meu amor, vamos embora
Letra e música: Popular (Beira Baixa) Arranjo: Pedro Pitta Groz Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos / Adufeiras de Monsanto (in CD “Sulitânia”, Ocarina, 2007)
Florinda, vem à Janela!
— «Florinda, vem à janela Que eu quero falar contigo! Se tu não vens à janela Dou um tiro no ouvido!
Dou um tiro no ouvido, Dou um tiro no coração!» — «Ó minha mãe, venha ver O Mário morto no chão!»
— «Que fizeste tu, Florinda, Para se o Mário matar?» — «Eu pedi-lhe as minhas cartas Para o namoro acabar.»
No dia do funeral Tudo foi a acompanhar, Só a mãe da Florindinha Ficou em casa a chorar.
— «Tira o luto, ó Florinda, Que o luto não te diz bem! Se quisesses bem ao Mário Matavas-te a ti também.»
Da janela do meu quarto Vejo a pedra ensanguentada Onde o Mário se matou Por causa da namorada.
Da janela do meu quarto Vejo as portas do cemitério Onde o Mário está dormindo O seu soninho eterno.
Letra e música: Tradicional (Zebreira, Idanha-a-Nova) Informante: Maria Luísa Roseiro Recolha: César Prata Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016) Primeira versão: César Prata (in CD “Canções de Cordel”, Teatro Municipal da Guarda, 2010)
Fui um ano às vindimas
[ Vindimas ]
Fui um ano às vindimas, Pagaram-me a trinta reis; Dei um vintém ao barqueiro, Ai, fui p’ra casa com dez reis.
Foram todos à vindima, Foram todos vindimar; As uvas foram p’ró cesto, Do cesto para o lagar.
Não se me dá que vindimem Vinhas que eu já vindimei; Não se me dá que outros logrem Amores que eu rejeitei. Não se me dá que outros logrem Amores que eu rejeitei.
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Intérprete: Velha Gaiteira
Hei-de cercar a Idanha
[ Moda das Sachas ]
Hei-de cercar a Idanha Com muitas peças de fita; À porta do meu amor Hei-de pôr a mais bonita.
As armas do meu adufe São de pau de laranjeira; Quem houver de tocar nele Há-de ter a mão ligeira.
Todos os males se curam Com remédios da botica; Só as saudades não saram: Quem as tem com elas fica.
As armas do meu adufe São de pau de laranjeira; Quem houver de tocar nele Há-de ter a mão ligeira.
O Sol quando se quer pôr Anda de ramo em ramo: Alegria de nós todos, Tristeza do nosso amo.
As armas do meu adufe São de pau de laranjeira; Quem houver de tocar nele Há-de ter a mão ligeira.
Letra e música: Tradicional (Idanha-a-Nova, Beira Baixa) Arranjo: Musicalbi Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)
Musicalbi
Indo eu d’aqui tão longe
[ Canção de Romaria ]
Indo eu d’aqui tão longe, Sem pôr os pés na calçada, Venho dar os parabéns À senhora esposada.
Venho dar os parabéns À senhora esposada; Indo eu d’aqui tão longe Sem pôr os pés na calçada.
Lá em cima ao altar-mor Aqui treme o coração, Quando o senhor vigário diz: “Ponha aqui a sua mão!”
Quando o senhor vigário diz: “Ponha aqui a sua mão!” Lá em cima ao altar-mor Aqui treme o coração.
Já não tenho coração, Já mo tiraram do peito; No lugar do coração Nasceu-me um amor-perfeito.
No lugar do coração Nasceu-me um amor-perfeito; Já não tenho coração, Já mo tiraram do peito.
Letra e música: Popular (Beira Baixa) Arranjo: António Prata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD1, Ovação, 2001) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP/CD “Romarias”, Ovação, 1991)
Já são horas da merenda
(canção de ceifa)
Já são horas da merenda; Ai, vamo-nos a merendar Gaspachinho com vinagre, Ai, para o peito refrescar!
Já se vai o Sol a pôr Ai, para trás do cabecinho; Bem quisera o nosso amo Ai, prendê-lo c’um baracinho.
Já são horas da merenda; Ai, vamo-nos a merendar Gaspachinho com vinagre, Ai, para o peito refrescar!
Já se vai o Sol a pôr Ai, para trás do cabecinho; Bem quisera o nosso amo Ai, prendê-lo c’um baracinho.
Letra e música: Tradicional (Malpica, Castelo Branco, Beira Baixa) Recolha: José Diogo Correia (in “Cantares de Malpica”, Lisboa: Tip. Henrique Torres, 1938; “A Canção Popular Portuguesa”, de Fernando Lopes Graça, Lisboa: Publicações Europa-América, Colecção Saber, n.º 23, 1953 – p. 65, 3.ª edição, Colecção Saber, n.º 23, Mem Martins: Publicações Europa-América, s/d. – p. 63) Intérprete: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Lá virá Sábado d’Aleluia
[ Sábado d’Aleluia ]
Lá virá Sábado d’Aleluia, Guitarras não faltarão: Vêm do fundo da rua A cantar ao S. João.
Rua abaixo, rua acima, Toda a gente me quer bem; Só a mãe do meu amor… Não sei que raiva me tem.
Quem canta nem males espanta, Quem ama não quer amar, Quem sabe não quer saber, Quem ama sabe encantar.
Lá virá Sábado d’Aleluia, Guitarras não faltarão: Vêm do fundo da rua A cantar ao S. João.
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Adaptação: José Barros Arranjo: José Manuel David e José Barros Intérprete: Navegante (in CD “Meu Bem, Meu Mal”, Tradisom/Iplay, 2008)
Lava, lava, lavadeira
[ Bate Lavadeira ]
Lava, lava, lavadeira Na Ribeira do Paul! Põe a roupinha a brilhar Como oiro sobre azul!
Na Ribeira do Paul, Encanto das raparigas Que desfiam, quando lavam, Seu rosário de cantigas.
Letra e música: Tradicional (Paul, Covilhã, Beira Baixa) Arranjo: Velha Gaiteira Intérprete: Velha Gaiteira* com Ti Zita (in CD “Velha Gaiteira”, Velha Gaiteira/Ferradura, 2010)
Loureiro, verde loureiro
Loureiro, verde loureiro, Loureiro, assim, assim; Engaste uma donzela: Casa com ela, ó Joaquim!
Loureiro, verde loureiro, Loureiro, assim, assim; (bis) Engaste uma donzela: Casa com ela, ó Joaquim! (bis)
Casar com ela, não caso Que ela de mim não faz conta! (bis) Loureiro, verde loureiro, Seco no meio, verde na ponta (bis)
Por mais que o loureiro cresça Ao céu não há-de chegar; (bis) Por mais amores que eu tenha Ai, a ti não te hei-de deixar. (bis)
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Arranjo: Musicalbi Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)
Mondadeiras do meu milho, Ai, mondadeiras do meu milho, Ai, mondai o meu milho bem, Ai, que a merenda… ela já lá vem.
Letra e música: Tradicional (Fundão, Beira Baixa) Intérprete: Musicalbi (in CD “Mastiço”, Musicalbi/I Som, 2007; CD “Lado Calmo”, Musicalbi, 2014)
Musicalbi, Lado Calmo
Minha roda ‘stá parada
[ O Diabo Tocador ]
Minha roda ‘stá parada Por falta de tocador; Anda a roda, anda a roda Que eu já vou, ó meu amor Minha roda ‘stá parada Por falta de tocador; Anda a roda, anda a roda Que eu já vou, ó meu amor. Esta água ‘stá parada:
Quem seria que a parou? Foi a mãe do meu amor Que esta noite aqui passou. Ó mar largo, ó mar largo, Ó mar largo sem ter fundo! Mais vale andar no mar largo Que andar nas bocas do mundo.
Letra: Popular Música: Danças Ocultas (sobre o tema tradicional “Minha Roda ‘stá Parada”, Beira Baixa) Intérprete: Danças Ocultas & Orquestra Filarmonia das Beiras, com Carminho (in CD “Amplitude”, Danças Ocultas/Uguru/Sony Music, 2016) Versão original: Danças Ocultas – instrumental (in CD “Tarab”, Numérica, 2009)
Ó entrudo, ó entrudo
[ Moda do Entrudo (1.ª versão) ]
Ó entrudo, ó entrudo Ó entrudo chocalheiro Que não deixas assentar as mocinhas ao solheiro
Eu quero ir para o monte Eu quero ir para o monte Que no monte é qu’eu estou bem Que no monte é qu’eu estou bem Eu quero ir para o monte Eu quero ir para o monte Onde não veja ninguém Que no monte é qu’eu estou bem
Estas casas são caiadas Estas casas são caiadas Quem seria a caiadeira Quem seria a caiadeira Foi o noivo mais a noiva Foi o noivo mais a noiva Com um ramo de laranjeira Quem seria a caiadeira
Letra e música: Popular (Malpica, Beira Baixa) Intérprete: José Afonso (in “Traz Outro Amigo Também”, Orfeu, 1970; reed. Movieplay, 1987) Outras versões: Teresa Silva Carvalho (in “Ó Rama, Ó Que Linda Rama”, Orfeu, 1977; reed. Movieplay, 1994); Roda Pé (in CD “Cor dos Ventos”, public-art, 2000); Erva de Cheiro (in CD “Que Viva o Zeca: Tributo”, Musicart, 2007) Versão instrumental: Júlio Pereira (in “Cavaquinho”, Sassetti, 1981; reed. CNM, 1993)
José Afonso, Traz outro amigo também
Ó filho não vás à mina
– Ó filho não vás à mina Que as minas estão a cair – Quer elas caiam quer não Eu às minas quero ir
Não canto por bem cantar Nem por bem cantar o digo Eu canto para espalhar Paixões que trago comigo
– Ó filho não vás à mina Que as minas estão a cair – Quer elas caiam quer não Eu às minas quero ir
Eu não quero nem brincando Dizer adeus a ninguém Quem parte leva saudades Quem fica saudades tem
– Ó filho não vás à mina Que as minas estão a cair – Quer elas caiam quer não Eu às minas quero ir
Letra e música: Popular (Beira Baixa) Arranjo: Pedro Fragoso Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos / Coro Polifónico Eborae Musica (in CD “Sulitânia”, Ocarina, 2007)
Ó entrudo, ó entrudo
[ Moda do Entrudo (2.ª versão) ]
Ó entrudo, ó entrudo Ó entrudo chocalheiro Ó entrudo chocalheiro Que não deixas assentar As mocinhas ao solheiro
Ó entrudo chocalheiro Estas casas são caiadas Quem seria a caiadeira Quem seria a caiadeira Foi o noivo mais a noiva Com um ramo de laranjeira Quem seria a caiadeira Lá em baixo vai o entrudo Em farrapos pelo chão Em farrapos pelo chão Que comeu um burro morto Entre o Inverno e o Verão Em farrapos pelo chão O entrudo foi à vila Já não quer de lá sair Já não quer de lá sair Caiu dentro de uma pipa Dá-lhe a mão que quer subir Já não quer de lá sair Lá em baixo está o entrudo De gordo não pode andar De gordo não pode andar Que comeu um burro morto Entre o almoço e o jantar De gordo não pode andar
Letra e música: Popular (Malpica, Beira Baixa) Intérprete: Janita Salomé (in “Galinhas do Mato”, de José Afonso, Transmédia, 1985; reed. CNM, 1993)
Ó Linda
[ A canção Raiana Perdida ]
Ó meu amor
[ Tosquia ]
Ó meu amor, se te fores, Leva-me, podendo ser, Que eu quero ir acabar Onde tu fores morrer!
Eu hei-de ir morrer cantando, Já que chorando nasci, Já que as glórias deste mundo Se acabaram para mim.
Letra e música: Tradicional (Fundão, Beira Baixa) Intérprete: Musicalbi* (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)
Ó minha farrapeirinha
[ Farrapeira ]
Ó minha farrapeirinha! Ó minha troca-farrapos! Ó meu bem! Ó minha troca-farrapos! Tenho uma camisa nova Toda cheia de buracos. Larilolela! Toda cheia de buracos. Ó minha farrapeirinha! Ó minha troca-farrapos!
Larilolela, larilolela! Larilolela, lariloló!
Encontrei a farrapeira Lá no Alto da Portela. Ó meu bem! Lá no Alto da Portela. A moda da farrapeira É bonita e gosto dela. Larilolela! É bonita e gosto dela. Encontrei a farrapeira Lá no Alto da Portela.
Larilolela, larilolela! Larilolela, lariloló!
Ó minha farrapeirinha! Ó minha farrapeirela! Ó meu bem! Ó minha farrapeirela! O meu pai é muito rico: Tem macacos à janela. Larilolela! Tem macacos à janela. Ó minha farrapeirinha! Ó minha farrapeirela!
Chamaste-me farrapeira, Ó meu grande farrapão! Ó meu bem! Ó meu grande farrapão! Farrapeira é você Mais a sua geração! Larilolela! Mais a sua geração! Chamaste-me farrapeira, Ó meu grande farrapão!
Letra e música: Tradicional (Paul, Covilhã, Beira Baixa) Arranjos: Hélio Ribeiro e Tiago Soares Intérprete: Pé na Terra (in CD “13”, Tempestades e Macaréus, 2010)
Ó ó, São João do meio
[ Manhaninha de São João ]
Ó ó, São João do meio, Ai hei-de morar noutra rua! Ainda não tenho casa, Ai menina, arrende-me a sua!
Manhaninha de São João, Ao redor da alvorada, Jesus Cristo se passeia Ao redor da fonte clara.
Eu hei-de ir ao São João, Ai hei-de lá ir, se lá for, Ou a pé ou a cavalo Ai ou nos braços do amor.
Jesus Cristo se passeia De volta da fonte clara, E a água fica benzida E a fonte fica sagrada.
Eu hei-de ir ao São João, Ai hei-de lá ir, se lá for, Ou a pé ou a cavalo Ai ou nos braços do amor.
Manhaninha de São João, Manhaninha de São João.
Letra e música: Tradicional (Idanha-a-Nova, Beira Baixa / Moimenta da Raia, Vinhais, Trás-os-Montes) Intérprete: Segue-me à Capela Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
O que lindos olhos tem
[ Cancioneiro Tradicional da Beira Baixa ]
Intérprete: Miguel Calhaz
Ó velha, ó boa velha
[ A Velha (cantiga de roda) ]
— Ó velha, ó boa velha, Que foste fazer à feira? — Meninas, minhas meninas, Fui comprar uma cadeira, Oh ai, olaré, comprar uma cadeira.
— Ó velha, ó boa velha,
Viste lá o meu amor? — Lá o vi, minhas meninas, Na Rua do Mercador, Oh ai, olaré, na Rua do Mercador.
Letra e música: Tradicional (Penamacor, Beira Baixa) Intérprete: Musicalbi* (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012; CD “Lado Calmo”, Musicalbi, 2014) Primeira versão de Musicalbi (in CD “Musicalbi”, Discotoni, 1998)
Oh, meu amor, se te fores
[ Tosquia
Oh, meu amor, se te fores Leva-me, podendo ser: Que eu quero ir acabar Onde tu fores morrer.
Eu hei-de ir morrer cantando, Já que chorando nasci, Já que as glórias deste mundo Se acabaram para mim.
Letra e música: Tradicional (Fundão, Beira Baixa) Arranjo: Musicalbi Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)
Beira Baixa
Onde as searas cruzam o granito e a voz do longe é feita de suor. A suave beleza solitária das oliveiras raras numa encosta. A estranha consolação das giestas, tão floridas em campos desolados. E a verde esperança filha da sem esperança.
A estranha consolação das giestas, tão floridas em campos desolados. E a verde esperança filha da sem esperança.
Onde as searas
[ Beira Baixa ]
(António Salvado, in “Interior à Luz”, 1982)
Onde as searas cruzam o granito e a voz do longe é feita de suor.
A suave beleza solitária das oliveiras raras numa encosta.
A estranha consolação das giestas tão floridas em campos desolados.
E o verde esperança filho da sem esperança.
Poema: António Salvado (ligeiramente adaptado) Música: António Pedro Intérprete: Musicalbi Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)
Musicalbi no Cine-Teatro Avenida, Castelo Branco, 12/01/2019, no lançamento do CD Solidão e Xisto.
Para que quero eu olhos
Para que quero eu olhos, Senhora Santa Luzia, Se eu não vejo o meu amor Nem de noite nem de dia?
Oh és tão linda! Tu és tão fermosa Como a fresca rosa Que eu no jardim vi!
Ai dá-me um beijo P’ra matar desejos Que eu sinto por ti! Ai, que eu sinto por ti!
Ai dá-me um beijo P’ra matar desejos Que eu sinto por ti!
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016) Primeira versão: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Para Que Quero Eu Olhos”, Orfeu, 1967; 2LP “Memória de Adriano”: LP 1, Orfeu, 1983, reed. Movieplay, 1992; CD “Adriano Correia de Oliveira”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 40, Movieplay, 1994; “Obra Completa”: CD “Cantigas Portuguesas”, Movieplay, 1994, 2007)
Quatro coisas quer o amo
Quatro coisas quer o amo, ai quatro coisas quer o amo do criado que o serve: deitar tarde e erguer cedo, ai deitar tarde e erguer cedo, comer pouco e andar alegre.
Já lá abaixo vem a noite, ai já lá abaixo vem a noite, já lá vem nossa alegria; tristeza p’ra o nosso amo, ai tristeza p’ra o nosso amo que se acabou o dia.
Já o Sol se vai embora, ai já o Sol se vai embora por detrás do cabecinho; quem dera ao patrão atá-lo ai quem dera ao patrão atá-lo, na ponta de um nagalhinho.
Se ele pudesse e bem quisera, ai se ele pudesse e bem quisera fazer o dia maior, dava um nó na fita verde, ai dava um nó na fita verde, fazia parar o Sol.
Quatro coisas quer o amo, ai quatro coisas quer o amo do criado que o serve…
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016) Primeira versão: GAC – Grupo de Acção Cultural (in LP “…E Vira Bom”, Vozes na Luta, 1977, reed. Edições Valentim de Carvalho/iPlay, 2010)
Recordai, fiéis cristãos
[ Encomendação das Almas ]
Recordai, fiéis cristãos, de Jesus No dia em que estava na cruz! Aleluia! Aleluia! Lembrai-vos de quem lá tendes: Vossas mães e vossos pais! Aleluia! Aleluia! E ajudai-os a tirar: Padre-nosso e uma ave-maria! Aleluia! Aleluia! Seja p’lo amor de Deus.
Letra e música: Tradicional (Penha Garcia, Idanha-a-Nova, Beira Baixa) Intérprete: Segue-me à Capela Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Minha roda ‘stá parada Por falta de tocador; Anda roda, anda roda, Qu’ eu cá vou com meu amor!
Esta água ‘stá parada: Quem seria que a parou? Foi a mãe do meu amor Qu’ esta noite aqui passou.
Letra e música: Tradicional (Margens do rio Zêzere, provavelmente em Dornelas do Zêzere, Pampilhosa da Serra, Beira Baixa) Recolha: António Avelino Joyce (“Minha Roda ‘stá Parada”, 1938, in revista “Ocidente”, IV, Lisboa, 1939; “cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, 1981 – p. 145) Arranjo: Toni Andrade Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Dornelas do Zêzere
Santa Barburinha bendita
[ Bendito e Louvado das Trovoadas ]
— «Santa Barburinha bendita, Livrai-nos das trovoadas! Lev’as p’ra bem longe! Santa Barburinha bendita, Com um ramo de água benta Arramai esta tormenta.» Santa Bárbara pequenina Se vestiu e se calçou, Bordão na mão tomou. — «Onde vais, Santa Barburinha, Que no céu estais escrita?» — «Eu vou p’ra bem longe! Vou correr esta trovoada Onde não há pão e vinho, Nem bafo de menino! Só a serpente e as sete filhas Bebem leite de maldição E água de trovão.»
Letra e música: Tradicional (Penha Garcia, Idanha-a-Nova, Beira Baixa) Recolha: Ernesto Veiga de Oliveira Intérprete: Segue-me à Capela Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Se fôreis ao São João
[ São João ]
Se fôreis ao São João Se fôreis ao São João Ai traguei-me um São Joãozinho Ai traguei-me um São Joãozinho Se não pudéreis com um grande Se não pudéreis com um grande Ai traguei-me um mais picanino Ai traguei-me um mais picanino
São João, casai as moças São João, casai as moças Ai as que vos fazem fogueiras Ai as que vos fazem fogueiras E aquelas que não as fazem E aquelas que não as fazem Ai deixai-as ficar solteiras Ai deixai-as ficar solteiras
Eu hei-de ir ao São João Eu hei-de ir ao São João Ai o meu marido não quer Ai o meu marido não quer Deixai-o vós abalar Deixai-o vós abalar Ai eu farei o que eu quiser Ai eu farei o que eu quiser
Do São João ao São Pedro Do São João ao São Pedro Ai quatro dias, cinco são Ai quatro dias, cinco são Moças que andais à soldada Moças que andais à soldada Ai aligrai o coração Ai aligrai o coração Ai aligrai o coração Ai aligrai o coração Ai aligrai o coração
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha Versão original: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Proibido Adivinhar”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2015)
Senhora Maria
[ Moda dos Bombos ]
Senhora Maria, Senhora Maria, O seu galo canta e o meu assobia! Larilolela, e o meu assobia… Larilolela, e o meu assobia… Ó Ana vem ver, ó Ana vem ver Os peixes no mar e o mar a arder! Larilolela, e o mar a arder… Larilolela, e o mar a arder… Eu quero, eu quero, eu quero, eu quero Eu quero, eu quero, eu quero, eu queria Dormir contigo uma noite, ó Maria!… Dormir contigo uma noite, ó Maria!…
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Intérprete: Velha Gaiteira Versão discográfica de Velha Gaiteira (in CD “Velha Gaiteira”, Velha Gaiteira/Ferradura, 2010)
Velha Gaiteira
Senhora da Consolação
[ Virgem da Consolação – Senhora da Azenha ]
Senhora da Consolação, Já vos varreu a capela Ai, a gente de Salvaterra Com raminhos de marcela.
Virgem da Consolação, Vosso nome é Maria; Ai, tendes um manto de seda Com um raminho de alegria.
Ai, que tendes na vossa coroa? Que tendes na vossa coroa? Ai, uma pombinha de prata, Tem asas e não avoa.
Ai, quem vos pudera levar, Quem vos pudera eu levar Para a minha companhia Em braços, sem descansar!
Ai, quem vos pudera trazer, Quem vos pudera eu trazer Para a minha companhia Em braços, sem ninguém ver!
Virgem da Consolação Ficou à porta a chorar; Ai não, Senhora, não chores Que eu p’ró ano hei-de voltar!
Letra e música: Tradicional (Salvaterra do Extremo e Monsanto, Idanha-a-Nova, Beira Baixa) Arranjo: Musicalbi Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)
Senhora… Senhora do Almurtão
[ Senhora do Almurtão ]
Senhora… Senhora do Almurtão, (bis) Ó minha linda raiana, Voltai costas… Voltai costas a Castela, (bis) Não queirais ser castelhana!
Senhora… Senhora do Almurtão, (bis) Quem vos varreu o terreiro? Foram as… Foram as moças de Idanha (bis) Com raminhos de loureiro.
Senhora do Almurtão, Bem me podeis perdoar! Venho à vossa romaria Só p’ra cantar e bailar.
Senhora do Almurtão, Eu p’ró ano não prometo; Que me morreu um amor, Ando vestida de preto.
Letra e música: Tradicional (Idanha-a-Nova, Beira Baixa) Arranjo: Musicalbi Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)
Outra versão: Afonso Dias com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Sou da Beira
Intérprete: Adufeiras do Rancho Folclórico de Monsanto
Tenho à minha janela
[ Cantiga Bailada ]
Tenho à minha janela — eras tão bonita e eu já te não quero — O que tu não tens à tua, o que tu não tens à tua: Um vaso de manjerico — eras tão bonita e eu já te não quero — Que dá cheiro a toda a rua, que dá cheiro a toda a rua.
Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló!
Adeus, ó rua da ponte, — eras tão bonita e eu já te não quero — Calçadinha mal sigura, calçadinha mal sigura! E quando o meu amor passa — eras tão bonita e eu já te não quero — Não há pedra que não bula, não há pedra que não bula.
Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló!
As pedras do meu balcão — eras tão bonita e eu já te não quero — Estão todas a três a três, estão todas a três a três. Os meus amores de algum dia — eras tão bonita e eu já te não quero — Já os cá tenho outra vez, já os cá tenho outra vez.
Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló! Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló! Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló!
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)
Canções de Labor e Lazer
Venho da ribeira nova
[ Aventali ]
Venho da ribeira nova, Debaixo do laranjali; Já cá levo uma folhinha Debaixo do aventali.
Debaixo do aventali, Na barra do meu vestido. Anda cá ó minha amada! Deixa-me dormir contigo!
Deixa-me dormir contigo! Uma noite não é nada, Eu entro pelo escuro, E saio de madrugada.
Nem entras pelo escuro E nem sais de madrugada! Eu sou rapariga nova, Não quero andar difamada.
Venho da ribeira nova, Debaixo do laranjali; Já cá levo uma folhinha Debaixo do aventali.
Debaixo do aventali, Na barra do meu vestido. Anda cá ó minha amada! Deixa-me dormir contigo!
Deixa-me dormir contigo! Uma noite não é nada, Eu entro pelo escuro, E saio de madrugada.
Nem entras pelo escuro E nem sais de madrugada! Eu sou rapariga nova, Não quero andar difamada.
Letra e música: Tradicional (Vale de Senhora da Póvoa, Penamacor, Beira Baixa) Intérprete: O Baú com Sebastião Antunes (in CD “Achega-te”, O Baú, 2012)
Venho de macelada
[ Macelada – São João ]
Venho de macelada, Venho de colher macela, Lá dos campos do castelo, Daquela mais amarela! Venho de macelada! Olô ai larilolela, Olô ai lariloló, Venho de macelada! Venho de macelada! Venho de macelada, Venho de colher o cravo, Lá dos campos do castelo, Para dar ao namorado! Venho de macelada! Olô ai larilolela, Olô ai lariloló, Venho de macelada! Venho de macelada! Venho de macelada, Venho de colher uma flor, Lá dos campos do castelo, Para dar ao meu amor! Venho de macelada!
Olô ai larilolela, Olô ai lariloló, Venho de macelada! Venho de macelada! Olô ai larilolela, Olô ai lariloló, Venho de macelada! Venho de macelada! Se fores ao São João
Ai trazei-me um São Joãozinho! Se não puderes com um grande Ai trazei-me um mais pequenino!
São João era bom homem Ai se não fora tão velhaco; Foram três moças à fonte Ai foram três, vieram quatro.
Eu hei-de ir ao São João, Ai o meu marido não quer; Deixai-o vós abalar, Ai eu farei o que eu quiser!
Letra e música: Tradicional (Beira Baixa) Recolhas: Hubert de Fraysseix (“Macelada”) e GEFAC (“São João”) Intérprete: Segue-me à Capela
Segue me a capela
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/05/beira-baixa-castelo-branco-jardim-do-paco-episcopal.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 18:33:302024-11-02 06:44:10Canções da Beira Baixa
— «Adeus, Maria da Graça! Na Espanha foste criada, Foste a servir p’rá Póvoa, (oh ai) Lá vieste enganada.
Lá vieste enganada De Manuel Celestino; Fugiste p’ró Feijoal, (oh ai) Lá tiveste o menino.
Lá tiveste o menino, No teu ventre foi gerado; Agarraste-o pelas pernas, (oh ai) Deitaste-o p’ró telhado.
Deitaste-o p’ró telhado De sem o ninguém saber; Tens a casa rodeada, (oh ai) Já te querem vir prender.»
— «Não tenho medo à Polícia Nem à Guarda Fiscal, Só tenho medo ao juiz (oh ai) Que me leva ao tribunal.
Viva lá, senhor juiz! Tenho muito a agradecer: Deu-me cama p’ra dormir (oh ai) E casa p’ra eu viver.
Letra e música: Tradicional (Aldeia do Bispo, Guarda, Beira Alta) Informante: Júlia Costa Fonseca Recolha: Américo Rodrigues Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata* (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016) Primeira versão: César Prata (in CD “Canções do Ceguinho”, Aquilo, 2003)
Loja Meloteca, recursos musicais criativos para a infância
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
Ay eu, coitada
I Ay eu, coitada, como vivo em gram cuidado por meu amigo que ei alongado! Muito me tarda o meu amigo na Guarda! II Ay eu, coitada, como vivo em gram desejo por meu amigo que tarda e nom vejo! Muito me tarda o meu amigo na Guarda!
Poema: D. Sancho I (c. 1199) Música (reconstituição): Pedro Caldeira Cabral Intérprete: La Batalla (in “Cantigas d’Amigo”, EMI-VC, 1984, reed. 1991)
Pedro Caldeira Cabral, Cantigas d’Amigo
As façanhas do coveiro
[ O Coveiro de Pínzio ]
As façanhas do coveiro De Pínzio, lindo lugar: Desenterrava os defuntos Para a roupa lhes tirar.
Como nunca tinham visto, Tudo estava a duvidar… Até que um certo dia Lá o foram a espreitar.
Dia primeiro de Junho, Fez tão grande tirania: Defunto desenterrou Manuel Francisco Maria.
Estava o povo lastimando A morte daquele vizinho Por na vida ser honrado, Mostrava a todos carinho.
Talvez que durante a vida Nunca levasse pancada, Como lhe deu o coveiro Nos braços com uma enxada.
Roubando-lhe toda a roupa, Só com a camisa o deixou; E até os próprios sapatos Ao defunto raptou.
Letra e música: Tradicional (Castanheira, Guarda, Beira Alta) Informante: José Fortunato Recolha: César Prata Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata* (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016) Primeira versão: César Prata (in CD “Canções de Cordel”, Teatro Municipal da Guarda, 2010)
Nota: Pínzio é o nome de uma freguesia do concelho de Pinhel, distrito da Guarda.
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
De Lisboa me mandaram
[ E o Cai Di e o Cai Dá ]
De Lisboa me mandaram (E o cai di e o cai dá!) Um prato com um belo molho: (E o cai di ai dá!) As costelas de uma pulga E o coração de um piolho.
E o cai di e o cai dá! E o cai di ai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai dá!
De Lisboa me mandaram (E o cai di e o cai dá!) Quatro pêras num raminho: (E o cai di ai dá!) Como era coisa boa Comeram-nas no caminho.
E o cai di e o cai dá! E o cai di ai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai dá!
Minha mãe, p’ra me eu casar, (E o cai di e o cai dá!) Prometeu-me quanto tinha: (E o cai di ai dá!) Assim que me agarrou casada Deu-me uma agulha sem linha.
E o cai di e o cai dá! E o cai di ai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai dá!
Minha mãe, p’ra me eu casar, (E o cai di e o cai dá!) Prometeu-me três ovelhas: (E o cai di ai dá!) Uma cega, outra coxa E outra mocha sem orelhas.
E o cai di e o cai dá! E o cai di ai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai di ai dá! E o cai di e o cai dá! E o cai di ai dá!
Letra e música: Tradicional (Beira Alta) Intérprete: Ai!* (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)
Deu-se agora, há pouco tempo
[ Casório Divertido ]
Deu-se agora, há pouco tempo, Um casório divertido: A noiva mais que danada, Lá pela noite adiantada, Arrancou o nariz ao marido.
É o que acontece aos velhos Que procuram mocidade… Quando se despiu deitou E o nariz lhe arrancou Por não fazer a vontade.
Procuraram-lhe as vizinhas: — «Que fizeste ao teu Viriato?» — «Dormir com homem e ter frio, Dormir com homem e ter frio, Vale mais dormir com gato!»
Foi consultar o doutor, Disse-lhe que não tinha cura; E agora, por qualquer lado, E a chorar o desgraçado Faz uma triste figura.
Letra e música: Tradicional (Aldeia do Bispo, Guarda, Beira Alta) Informante: Júlia Costa Fonseca Recolha: Américo Rodrigues Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016) Primeira versão: César Prata (in CD “Canções do Ceguinho”, Aquilo, 2003)
E onde vais, Rosalina?
[ Rosalina ]
— «E onde vais, ó Rosalina? Onde vais que eu também vou?» — «Vou colher caldo à horta, Vou colher caldo à horta, Que a minha mãe me mandou.
Chegou ao portão da horta, Deitou-lhe um braço por cima… — «Tu andas a namorar! Tu andas a namorar! Não mo negues, Rosalina!
— «Eu não lo nego a si, Nem a si nem a ninguém; Eu vou à minha vontade, Eu vou à minha vontade, De meu pai, de minha mãe.
— «Toma lá uma facada! Vai levá-la à tua mãe! Se não casares comigo, Se não casares comigo, Não casas com mais ninguém!
Toma lá outra facada Já depois de estares morta!» Isto foi acontecido, Isto foi acontecido Ao portal da nossa horta.
Até as faces lhe cortou P’ra ninguém a conhecer; Atou-lhe um lenço ao rosto, Atou-lhe um lenço ao rosto Para o sangue não correr.
Torradas, novas torradas, E a faca corta as urtigas. Olha o que os rapazes fazem, Olha o que os rapazes fazem Por causa das raparigas!
Letra e música: Tradicional (Avelãs de Ambom, Guarda, Beira Alta) Informante: Maria dos Prazeres Ganhão Recolha: Américo Rodrigues Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata* (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016) Primeira versão: César Prata (in CD “Canções do Ceguinho”, Aquilo, 2003)
Estando a Dona Infanta
[ A Bela Infanta (romance novelesco) ]
Estando a Dona Infanta No seu jardim assentada, Com o seu pente d’oiro Seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao largo, Viu vir uma grande armada; Capitão que nela vinha Muito bem a governava.
— «Dizei-me, meu capitão Dessa tão formosa armada, Se vistes o meu marido Em terras que Deus pisava!»
— «Dizei-me, minha senhora, Os sinais que ele levava!» — «Levava cavalo branco, Selim de prata dourada; Na ponta da sua lança A cruz de Cristo levava.»
— «Pelos sinais que me deste Tal cavaleiro não vi… Mas quanto dareis, senhora, A quem o trouxera aqui?»
— «Daria tanto dinheiro Que não tem conto nem fim E as telhas do meu telhado Que são de oiro e marfim.»
— «Guardai o vosso dinheiro, Vossas telhas de marfim! Vosso marido sou eu, Reparai bem para mim!
O anel de sete pedras Que eu convosco reparti: Que é dela a outra metade? Pois a minha vê-la aqui!»
— «Andai cá, ó minhas filhas, Que o vosso pai é chegado! Abram-se os novos portões Há tanto tempo fechados! Vamos dar graças a Deus, Graças a Deus consagrado!»
Letra e música: Tradicional (Dirão da Rua, Sortelha, Sabugal, Beira Alta) Arranjo: César Prata e Vânia Couto Intérprete: César Prata e Vânia Couto Versão discográfica de César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)
Sortelha
Nasci em terras de xisto
[ Serra do Açor ]
Nasci em terras de xisto à beira do rio Ceira em lugar de balsa sem porto numa serra onde o Açor pousou em leito de feno dormi. Cresci na terra de sargaço correndo em lameiros verdejantes ouvi o sopro dos ventos junto ao correr das levadas vi noites sem luar. Ouvi histórias de bruxaria lendas de lobisomens almocreves e mouras encantadas vi sementeiras e colheitas as malhas e debulhas. Saltei fogueiras de rosmaninho acendi o madeiro de Natal cantei janeiras pelo povoado, cheirei alecrim e loureiro, bebi chá de sabugueiro. Nadei nas águas do Alva na ponte que tem três entradas em Avô, terra de poetas; cantei baladas ao luar até o galo cantar. Que importa ser acordado dos sonhos desta noite pela coruja que é a “surga” ou pelo sino da capela? Tudo isto existe, tudo isto é belo, nada mudou, tudo está como era dantes…
Letra e música: Fernando Pereira Intérprete: Real Companhia in CD “Em Forma de Abraço”, 2005)
Os três Reis do Oriente
[ São José Estava Triste (Canção de Natal) ]
Os três Reis do Oriente Toda a noite caminharam: Procuraram o Deus-Menino, Só em Belém o acharam. Quando a Belém chegaram Já toda a gente dormia: Porteiro, abri a porta, Porteiro da portaria! São José estava triste Ao ver Maria a sofrer; Um anjo do céu lhe disse: – Jesus está pra nascer! Não há graça embaladora Como a de mãe quando cria: É como Nossa Senhora, Mãe de Deus, Ave-Maria! Indo José e Maria Recensear-se a Belém, Numa noite escura e fria Nossa Senhora foi mãe.
Letra e música: Popular (Minho / Beira Litoral / Beira Alta) Recolha: José Alberto Sardinha Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002)
Maio Moço, Canto Maior
Pastoras da Estrela
Pastoras da Estrela Pastoras para Estrela vão Cantando e animadas A vida em flor Nenhum amor Que as torne malfadadas Com a Primavera A palpitar À serra vão chegar No prado verde Cheiros mil Mal rompe O sol a aurora Com mantos vão Um rancho são De moças encantadas Dançam em roda Alegres estão Saudando a alvorada Ao longe no horizonte luz O bronze aguçado Da guerra vêm Guerreiros cem O louro festejado Entram na dança Magia no ar P’la noite a repousar No Outono é hora de voltar Para a aldeia engalanada Pastoras vão Mas já não são Meninas encantadas
Cristina Branco, Sensus
Letra e música: Miguel Carvalhinho Intérprete: Cristina Branco (in CD “Sensus”, Universal, 2003)
Sei que vais ficar sozinha
[ Carta da Mãe para a Filha ]
Sei que vais ficar sozinha, Meu amor, minha filhinha, Meu anjo, minha adorada! Só pede o meu coração Que tu tenhas compaixão Da tua mãe desgraçada!
Minha filha, meu amor, Por não suportar a dor Do desgosto mais profundo, Eu morro de sofrer farta! Quando ouvires ler esta carta Eu já não sou deste mundo.
Meu amor, minha querida, Por não suportar a vida Tormentosa que levava, Morro sem soltar um “ai”! Matei-me e matei teu pai Que com outra me enganava.
Peço em minha confissão: Não me negues teu perdão, Diga o mundo o que disser! Já por ti a Deus pedi: Não sofras o que eu sofri Quando um dia fores mulher!
Música: César Prata Letra: Tradicional (Vela, Guarda, Beira Alta) Informante: Joaquim Santos Recolha: Américo Rodrigues Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016) Primeira versão: César Prata (in CD “Canções do Ceguinho”, Aquilo, 2003)
Trigo loiro
Trigo loiro, trigo loiro, Ai, quem me dera o teu valor! Que entrara no cálice de oiro, Ai, onde entra Nosso Senhor.
Trigo loiro, trigo loiro, Ai, quem me dera a tua cor! Levara a cruz ao Calvário, Ai, como fez Nosso Senhor.
Trigo loiro, trigo loiro, Ai, quem me dera o teu valor! Que entrara no cálice de oiro, Ai, onde entra Nosso Senhor.
Trigo loiro, trigo loiro, Ai, quem me dera a tua cor! Levara a cruz ao Calvário, Ai, como fez Nosso Senhor.
Trigo Loiro (cantiga de ceifa) Letra e música: Tradicional (Gonçalo, Guarda, Beira Alta) Intérprete: Ai! (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015) Outras versões com César Prata: Chuchurumel – “Canção da Ceifa” (in CD “No Castelo de Chuchurumel”, Chuchurumel/Luzlinar, 2005); Ai! (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)
Trigo loiro
Tenho Sede, Amor, Dá-me Água
[ Tenho um grande amor por ti! ]
Tenho sede, amor, dá-me água! Não me dês pela panela! Dá-me pela tua boca Que eu não tenho nojo dela!
Tenho sede, amor, dá-me água Lá da fonte do Outeiro, Que me não saiba a lodo Nem à raiz do pinheiro!
Água da fonte da aldeia, Ensina-me o teu cantar Que os meus olhos volta e meia Andam com água a chorar!
Tenho sede, amor, dá-me água! Não me dês pela panela! Dá-me pela tua boca Que eu não tenho nojo dela!
Tenho sede, amor, dá-me água Lá da fonte do Outeiro, Que me não saiba a lodo Nem à raiz do pinheiro!
Água da fonte da aldeia, Ensina-me o teu cantar Que os meus olhos volta e meia Andam com água a chorar!
Letra e música: Tradicional (Guarda, Beira Alta) Arranjo: César Prata e Vânia Couto Intérprete: César Prata e Vânia Couto* (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa) Versão discográfica de César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)
Uma casa muito velha
[ Ó Zé ]
Uma casa muito velha, ó Zé, Cheia de teias de aranha, ó Zé: Está uma bruxa num canto, ó Zé, Que te mata se te apanha, ó Zé.
Ó Zé, Ó Zé, Ó Zé, pequenino é! Ó Zé, vai lavar a cara! Vai lavar a cara! Vai lavar o pé!
Cala-te! Aí vem a raposa, ó Zé, Com o rabo muito comprido, ó Zé: Quer comer o meu menino, ó Zé, Mas eu tenho-o aqui escondido, ó Zé.
Ó Zé, Ó Zé, Ó Zé, pequenino é! Ó Zé, vai lavar a cara! Vai lavar a cara! Vai lavar o pé!
Eu vi um lobo na serra, ó Zé, Que te come se tu choras, ó Zé: Não chores mais, meu menino, ó Zé, Senão ele sabe onde moras, ó Zé.
Ó Zé, Ó Zé, Ó Zé, pequenino é! Ó Zé, vai lavar a cara! Vai lavar a cara! Vai lavar o pé!
O meu menino é bonito, ó Zé, Está farto que se lhe diga, ó Zé: «Assim bom e bonitinho, ó Zé, Um dia será feliz, ó Zé.»
Ó Zé, Ó Zé, Ó Zé, pequenino é! Ó Zé, vai lavar a cara! Vai lavar a cara! Vai lavar o pé!
Letra e música: Tradicional (Manhouce, São Pedro do Sul, Beira Alta) Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)
Vai-te embora, ó papão
Vai-te embora, ó papão, De cima desse telhado! Vai-te embora, ó papão, De cima desse telhado! Deixa dormir o menino Um soninho descansado! Deixa dormir o menino Um soninho descansado!
Vai-te embora, ó papão, De cima desse telhado! Vai-te embora, ó papão, De cima desse telhado! Deixa dormir o menino Um soninho descansado! Deixa dormir o menino Um soninho descansado!
Letra e música: Tradicional (Arganil, Beira Alta) Recolha: Rodney Gallop (1932-33, in livro “Cantares do Povo Português”, trad. António Emílio de Campos, Lisboa: Instituto para a Alta Cultura, 1937; “A Canção Popular Portuguesa”, de Fernando Lopes Graça, col. Saber, Vol. 23, Lisboa: Publicações Europa-América, 1953 – p. 61; 3.ª edição, col. Saber, Vol. 23, Mira-Sintra: Publicações Europa-América, s/d. – p. 58; “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 17) Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)
Vós chamais-me Moreninha
Vós chamais-me Moreninha, Isto é do pó do linho; Lá me vereis ao domingo Como a flor de rosmaninho.
O meu amor não é este, Não é este nem o quero; O meu tem os olhos verdes, O teu tem-nos amarelos.
Tu dizes que me queres muito, O teu querer é engano: Cortais pela minha vida Como a tesoura no pano.
Vós chamais-me Moreninha, Isto é do pó do linho; Lá me vereis ao domingo Como a flor de rosmaninho.
Letra e música: Tradicional (Malhada Sorda, Almeida, Beira Alta) Recolha: Michel Giacometti (“Maçadela do Linho”, 1969, in LP “Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1970; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 3 – Beiras, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 4 – Beiras, col. Portugal Som, Numérica, 2008) Intérprete: Musicalbi* (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012) Outra versão: O Baú (in CD “Achega-te”, O Baú, 2012)
* Musicalbi: Carlos Salvado – bandolim, boukouki, banjo, guitarra folk, guitarra eléctrica, adufe, voz Filipa Melo – voz Horácio Pio – acordeão, coros Maria Côrte – violino, harpa António Pedro – piano, percussões, voz Dario Vaz – baixo António Lourinho – bateria Gravação – Gil Duarte, no Estúdio I Som, Alcains Mistura e masterização – Jorge Barata
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/viriato.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:37:242024-11-02 06:44:55Canções da Beira Alta
A Bela Aurora chorava; Ela no pranto dizia: Já não tenho o meu amor, Minha doce companhia.
A Bela Aurora na serra Não sei como não tem medo: Faz a cama, dorme só Debaixo do arvoredo.
Aurora, meu bem, Aurora, Aurora detrás dos montes: Uma hora te não veja Meus olhos são duas fontes.
Aurora, querida Aurora, Aurora no seu jonjal: Minh’alma morre p’la tua E a tua não sei por qual.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores) Recolha/transcrição: Lígia Maria da Câmara Almeida Matos (in “Insulana”, Vol. XI, 1.° trimestre de 1955) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Loja Meloteca, recursos criativos para musicalização infantil
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
A história que eu vou contar
[ Naufrágio ]
A história que eu vou contar Ouvi-a na minha aldeia, Onde à noite a voz do mar Murmura canções na areia.
História de pescadores Do Cais Negro à Pontinha, Onde há grandes senhores Que bocejam à noitinha.
Foi o barco do Zé Tordo: Partiu à noite p’ró mar E na madrugada ao porto O seu barco sem chegar.
Encheu-se a praia de gritos Da gente da minha aldeia Ao ver o corpo do Zé Trazido na maré-cheia.
Ouvem-se vozes: «Coitado! Cinco filhos e mulher Sem uma côdea de pão, Sem um abrigo sequer!»
E no enterro, à viúva, Levando ao Zé muitas flores, Prometem-lhe a sua ajuda O povo e os grandes senhores.
Mas dois anos já são passados, Na praia da minha aldeia Vêem-se cinco crianças Brincando nuas na areia.
E da moral desta história Tirem vossas conclusões: Uma família não vive Só de boas intenções.
E da moral desta história Tirem vossas conclusões: Uma família não vive Só de boas intenções.
Letra: Cristóvão de Aguiar Música: Tradicional (Charamba) (Ilha Terceira, Açores) Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016) Versão original: Duarte & Ciríaco (in EP “Nós: Canções Populares”, Sonoplay, 1969)
Ai o pastor lá na serra
A Lira
Ai quem me dera partir
[ Tema para Margarida ]
Ai quem me dera partir Na canoa da esperança E ir ancorar noutras praias Noutros varadouros Ai quem me dera voltar A gozar dos tesouros Da felicidade que eu tinha Quando era criança
Ai quem me dera ser garça E voar no Canal Só entre o Pico e o Faial Me quedar dividida Ai quem me dera mão firme No leme da vida Ai este amor que me mirra Me mata e faz mal
Ai quem me dera de novo As certezas e os medos Ai quem me dera ter credos E não ser indiferente Ai o amor passa ao largo Da vida da gente… Ai já o tempo se escoa Como areia entre os dedos…
Ai quem me dera ser garça E voar no Canal Só entre o Pico e o Faial Me quedar dividida Ai quem me dera mão firme No leme da vida Ai este amor que me mirra Me mata e faz mal
Ai quem me dera partir Na canoa da esperança E ir ancorar noutras praias Noutros varadouros Ai quem me dera voltar A gozar dos tesouros Da felicidade que eu tinha Quando era criança
Ai quem me dera ser garça E voar no Canal Só entre o Pico e o Faial Me quedar dividida Ai quem me dera mão firme No leme da vida Ai este amor que me mirra Me mata e faz mal
Letra e música: Aníbal Raposo (para a série ficcional “Mau Tempo no Canal”, RTP-Açores, 1992) Intérprete: Vânia Dilac Versão original: Piedade Rego Costa (in CD “7 Anos de Música”, 2.ª edição, DisRego, 1992) Outras versões: Aníbal Raposo (in CD “A Palavra e o Canto”, Açor/Emiliano Toste, 2005)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Atirei, não matei caça
[ Tirana ]
Atirei, não matei caça, Lá foi meu tiro perdido. Meu tiro perdido… Meu tiro perdido… A minha pólvora queimada, O meu chumbo derretido. Atira, Tirana! Ai sempre a tirar, Mata-me aquela pombinha Que anda no calhau do mar! A linda Tirana Ai já se enterrou… A Tirana já se enterrou, Já morreu, já se enterrou. Ai já se enterrou… Ai já se enterrou… Já lá vai pelo mar fora Quem a Tirana matou.
A Tirana está no chão, Debaixo dum laranjal. Ai dum laranjal… Ai dum laranjal… Está tirando pintainhos Para a gente do Faial. Ó linda Tirana, Ai da tirania! Já me está querendo bem Quem tanto mal me queria. Eu ia p’lo mar, Ai pelo mar fora… Eu ia pelo mar fora, Nas ondas do mar parei. Ai do mar parei… Ai do mar parei… Ai ouvi cantar a Tirana Lá no palácio do rei.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores) Recolha/transcrição: João Homem Machado (in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Devagar, devagarinho
[ Pezinho ]
Devagar, devagarinho, Ficas sendo o meu amor. Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho, Meu lindo bem! Ai, põe aqui se o queres pôr! Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho, Meu lindo bem! Ai, põe aqui se o queres pôr! E ao tirar, e ao tirar o teu pezinho, Meu lindo bem, Ai, ficas sendo o meu amor. E ao tirar, e ao tirar o teu pezinho, Devagar, devagarinho, Ficas sendo o meu amor.
Devagar, devagarinho, Cada um fica com o seu. Ai, põe aqui, ai, põe aqui o teu pezinho, Meu lindo bem! Ai, põe aqui ao pé do meu! Ai, põe aqui, ai, põe aqui o teu pezinho, Meu lindo bem! Ai, põe aqui ao pé do meu! E ao tirar e ao tirar o teu pezinho, Meu lindo bem, Cada um fica com o seu. E ao tirar e ao tirar o teu pezinho, Devagar, devagarinho, Cada um fica com o seu.
Devagar, devagarinho, À moda de São Miguel! Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho, Meu lindo bem, Meu benzinho Manuel! Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho, Meu lindo bem, Meu benzinho Manuel! Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho, Meu lindo bem, À moda de São Miguel! Ai, põe aqui, ai, põe aqui o teu pezinho, Devagar, devagarinho, À moda de São Miguel!
Devagar, devagarinho, À moda de São Miguel!
Devagar, devagarinho, À moda de São Miguel!
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores) Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
E de manhã na nossa casa
[ Alvorada ]
E de manhã na nossa casa É todos os dias uma aldeia, E de manhã na nossa casa… E de manhã na nossa casa É todos os dias uma aldeia E não pegam a trabalhar, E não pegam a trabalhar E sem ter a barriga cheia, E sem ter a barriga cheia.
E quando tirar o pão do forno E ao cobrir bem com o tendal, E quando tirar o pão do forno… E quando tirar o pão do forno E ao cobrir bem com o tendal E não vá alguma cozinheira, E não vá alguma cozinheira Levar algum debaixo do avental, Levar algum debaixo do avental.
E esta casa está tão cheia, E cheia de canto a canto, Esta casa está tão cheia… E esta casa esta tão cheia, E cheia de canto a canto; Usavam de nela assistir, E usavam de nela assistir E Divino Espírito Santo, E Divino Espírito Santo.
Letra e música: Tradicional (Ilha de Santa Maria, Açores) Informantes: Maria Virgínia de Andrade, Filomena de Andrade Cabral e Virgínia de Andrade Cabral (canto), acompanhadas ao tambor e címbalos Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in 12EP “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1963; 2CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”: CD 1, faixa 3, Açor/Emiliano Toste, 2002) Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010) Primeira versão [?]: Cramol – “Alvorada de Santa Maria” (in CD “Cramol”, BMG Ariola, 1996)
Nota: «A linha melódica das folias de Santa Maria é caracterizada por valores rítmicos aparentemente pouco definíveis. Esta particularidade leva-nos a afirmar que se trata de um canto remoto trazido pelos povoadores destas ilhas, que o receberam dos seus antepassados, oriundos do Próximo Oriente (Arábia, Iraque, Síria), em resultado da fixação na Península Ibérica dos Povos que a invadiram no século VIII.
Teófilo Braga, a este propósito, refere que as folias provêm do “lingui-lingui” árabe, a Lenga-lenga ou canto narrativo mais recitado do que cantado. Ao cantador, no seu improviso, lindas rimas lhe saíam a enaltecer o Divino Espírito Santo, a elogiar o mordomo, a agradecer aos criadores ou a salientar as mãos habilidosas das cozinheiras.» (Helena Oliveira)
É esta a vez primeira
[ Charamba ]
É esta a vez primeira A vez primeira Que neste auditório canto Em nome de Deus começo De Deus começo Padre, Filho, Esp’rito Santo
A saudade é um luto Ai, é um luto É um luto, é uma afeição É um cortinado roxo Ai, é um luto Que me corta o coração
Eu cá sei, tu lá sabes E tu lá sabes O que não sabes eu sei Eu já vi andar a morte Andar a morte Às costas de um peixe-rei
Letra e música: Popular (Açores) Intérprete: Margarida Pinto (in CD “Adriano, Aqui e Agora – O Tributo”, Movieplay, 2007) Versão original: Adriano Correia de Oliveira (in “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)
É esta a vez primeira
[ Charamba ]
É esta a vez primeira, A vez primeira Que neste auditório canto; Em nome de Deus começo, De Deus começo, Padre, Filho, Esp’rito Santo.
A ausência tem uma filha, Ai tem uma filha Que se chama saudade; Eu sustento mãe e filha, Ai mãe e filha Bem contra a minha vontade.
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores) Intérprete: Afonso Dias Primeira versão: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Lira”, Orfeu, 1968) Outra versão de Adriano Correia de Oliveira (in LP “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; “Obra Completa”: CD “Cantigas Portuguesas”, Movieplay, 1994, 2007)
Em má hora
[ Saudade ]
Em má hora, em má hora, anjo querido, Me pediste uma flor… Das que eu tenho, das que eu tenho aqui são quatro, Aqui são quatro… nem uma fala de amor.
A primeira, a primeira é uma saudade Que me deram quando amei; Custa caro, custa caro, é um tesoiro, É um tesoiro que com lágrimas comprei.
A segunda, a segunda é um martírio Cujo espinho atravessou Coração, coração que a regava, Que a regava… de pranto ela murchou.
A terceira, a terceira é um cravo, É um goivo, não to dou! Fui colhê-lo, fui colhê-lo ao cemitério, Ao cemitério… entre campas vegetou.
A quarta, a quarta é uma rosa, É uma rosa, mas olha: Se eu morrer, se eu morrer e tu souberes, E tu souberes… na minha campa a desfolha!
Letra e música: Tradicional (Vila Nova do Corvo, Ilha do Corvo) Informante: Ti Pedro Cepo Recolha: Manuel Rocha (in CD “Povo Que Canta: Recolhas Etnográficas num Portugal Desconhecido (2000/2003)”, EMI-VC, 2003) Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010) Primeira versão [?]: Belaurora / voz solo de Carla Medeiros (in CD “Lágrimas de Saudade”, Açor/Emiliano Toste, 1999; 2CD “Quinze Anos de Cantigas”: CD 2, faixa 20, Açor/Emiliano Toste, 2000) Versão instrumental em viola da terra: Rafael Carvalho (in 2CD “9 ilhas, 2 Corações”: CD 1, faixa 17, Rafael Carvalho, 2018)
É manhã, não é manhã
[ Chamarrita Zaragateira (moda de baile) ]
É manhã, não é manhã, Já as chocalheiras começam A falar da vida alheia Que é o rosário que rezam.
Chamarrita, rita, rita, Eu venho contradizer Qu’eu hei-te dar um jeitinho Que a outro não hás-de querer!
Quando eu comecei a amar Foi numa segunda-feira; Fui amando e fui gostando, Levei a semana inteira.
Esta é que é a chamarrita: São garrafas, não são bilhas E aqui está como se canta A chamarrita das ilhas!
É manhã, não é manhã, Já as chocalheiras começam A falar da vida alheia Que é o rosário que rezam.
Esta é que é a chamarrita: São garrafas, não são bilhas E aqui está como se canta A chamarrita das ilhas!
Nota: «A “Chamarrita Zaragateira”, recolhida na ilha de Santa Maria por Artur Santos, parece, pela própria denominação ou interpretação do texto de cariz espirituoso, ser uma moda que chama o povo para a dança e para a diversão. O arranjo sugere-nos imagens das coscuvilheiras da aldeia, “é manhã, não é manhã, / já as ‘chocalheiras’ começam” a gastar o seu tempo “a falar da vida alheia”…» (Helena Oliveira)
Letra e música: Tradicional (Ilha de Santa Maria, Açores) Informantes: Manuel Coelho de Rezendes (canto), José de Andrade Chaves e António Augusto Cabral (violas de arame) Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in 12EP “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1963; 2CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”: CD 1, faixa 2, Açor/Emiliano Toste, 2002) Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010) Primeira versão [?]: Emiliano Toste (in CD “Andanças do Mar”, Açor/Emiliano Toste, 2002)
Esta chamarrita nova
[ Chamarrita Nova ]
Esta chamarrita nova, Esta nova chamarrita… Esta chamarrita nova, Esta nova chamarrita Bem cantada, bem bailhada, Bem cantada, bem bailhada, Bem cantada, bem bailhada, rapaz, Não há moda mais bonita!
Quem uma mãe não adora Vive já na sepultura. Quem uma mãe não adora Vive já na sepultura. O bom filho sempre chora, Sem amor não há ventura. O bom filho sempre chora, Não há amor sem ventura.
Esta chamarrita nova, Esta nova chamarrita… Esta chamarrita nova, Esta nova chamarrita Bem cantada, bem bailhada, Bem cantada, bem bailhada, Bem cantada, bem bailhada, rapaz, Não há moda mais bonita!
Quem uma mãe não adora Vive já na sepultura. Quem uma mãe não adora Vive já na sepultura. O bom filho sempre chora, Sem amor não há ventura. O bom filho sempre chora, Não há amor sem ventura.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores) Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Esta é a primeira vez, a primeira
[ Charamba ]
Esta é a vez primeira, a vez primeira Que neste auditório canto; Em nome de Deus começo, de Deus começo: Padre, Filho, Esp’rito Santo.
A ausência tem uma filha, tem uma filha Que se chama saudade; Eu sustento mãe e filha, ai mãe e filha, Bem contra a minha vontade.
Boa-noite, meus senhores, Minhas senhoras, lindas flores Que aqui estais neste salão! Que aqui estais neste salão! Eu p’ra todos vou cantar E a todos quero saudar Do fundo do coração, Do fundo do coração.
Eu vesti um vestido novo, um vestido novo Para vir aqui cantar; A Charamba está no baile, ai está no baile, E o meu bem é o meu par.
Boa-noite, meus senhores, Minhas senhoras, lindas flores Que aqui estais neste salão! Que aqui estais neste salão! Eu p’ra todos vou cantar E a todos quero saudar Do fundo do coração, Do fundo do coração.
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores) Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000) Primeira versão [?]: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Lira”, Orfeu, 1964) Outra versão de Adriano Correia de Oliveira (in LP “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; 7CD “Obra Completa”: CD “Cantigas Portuguesas”, Movieplay, 1994, Movieplay/Público, 2007) Versão instrumental em viola da terra: Rafael Carvalho (in 2CD “9 ilhas, 2 Corações”: CD 1, Rafael Carvalho, 2018)
Esta moda é bem ligeira
[ Balho da Povoação ]
Esta moda é bem ligeira: Quem a havia de inventar? Foi a filha da padeira Na cozinha a peneirar.
Não há no mundo dois mundos, Nem no céu há dois senhores: Também não pode existir Num coração dois amores.
Meu amor, se vires cair Folhas verdes na varanda, Olha que são saudades Que o meu coração te manda.
Nas ondas do teu cabelo Vou deitar-me a afogar! Eu quero que o mundo saiba Que há ondas sem ser no mar.
Quando Deus criou a rosa E fez a luz do luar, Entre as coisas mais formosas Fez a luz do teu olhar.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores) Recolha/transcrição: Francisco José Dias (in “Cantigas do Povo dos Açores”, Angra do Heroísmo: Instituto Açoriano de Cultura, 1981) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Esta noite ninguém dança
[ Manda Voltar (Chamarrita) ]
Esta noite ninguém dança, Cantador não quer cantar; Esta noite ninguém dança, Pôs-se o homem a cismar:
«Já não cabe tanta ausência Nesta terra frente ao mar; Já não cabe tanta ausência, Dura a vida, manda voltar!»
A filha do cantador Foi p’ra longe trabalhar; Não sei que vida deixou, Que vida há-de ganhar.
«Deu-me um beijo, foi-se embora, Era hora de ficar… Deu-me um beijo, foi-se embora, (Era hora) manda voltar!»
Foram novos, foram tantos, Que viola há-de tocar? Esta noite ninguém dança, A Rita não quer chamar.
Vai-te embora, mandador! Chama Rita ao seu lugar! Água fora, vai-te embora! Chama, chama, manda voltar!
P’ra que serve um mandador Que não tem em quem mandar? Esta noite ninguém dança, Cantador não quer cantar.
Vai-te embora, ó mandador! Muda a sorte, manda virar! Água fora, vai-te embora! Vira a vida, manda voltar!
Água fora, vai-te embora! Chama, chama, manda voltar! Água fora, pede, chora! Puxa, implora, manda voltar!
Letra: Catarina Gouveia Música: Tradicional (Açores) Recolha: Artur Santos Intérprete: Macadame Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Eu fui, eu fui à terra do bravo
[ O Bravo ]
Eu fui, eu fui à terra do bravo, Eu fui, eu fui à terra do bravo, (Bravo, meu bem) Para ver se embravecia: Cada vez, cada vez fiquei mais manso, Cada vez, cada vez fiquei mais manso, (Bravo, meu bem) Para a tua companhia.
Eu fui, eu fui à terra do bravo, Eu fui, eu fui à terra do bravo, (Bravo, meu bem) Quem é moiro não tem fé: Nunca vi, nunca vi gente mais brava, Nunca vi, nunca vi gente mais brava, (Bravo, meu bem) Que o gentio da Guiné.
Eu fui, eu fui à terra do bravo, Eu fui, eu fui à terra do bravo, (Bravo, meu bem) À ilha de São Tomé: Quando vi, quando vi a estrela-d’alva, Quando vi, quando vi a estrela-d’alva, (Bravo, meu bem) Aproveitei a maré.
Eu fui, eu fui ao mar às laranjas, Eu fui, eu fui ao mar às laranjas, (Bravo, meu bem) É coisa que o mar não tem: Como pode, como pode vir enxuto, Como pode, como pode vir enxuto, (Bravo, meu bem) Quem das ondas do mar vem?
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores) Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora* (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Eu já morri uma vez
[ Chamarrita (Moda de baile) ]
Eu já morri uma vez, Ai o morrer achei tão doce: Inda tornava a morrer Ai se por tua causa fosse.
Vira e volta a Chamarrita Ai p’ra o lado deste meu peito; Se vens buscar saudades Mete a mão, tira-as com jeito!
Saudades me tem posto Da grossura duma linha: Já vejo que não arribo Nem a caldos de galinha.
Vira e volta a Chamarrita Ai p’ra o lado deste meu peito; Se vens buscar saudades Mete a mão, tira-as com jeito!
Letra e música: Popular (Ilha de Santa Maria, Açores) Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Coro da Matriz de Santa Cruz da Graciosa (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Eu nasci à sexta-feira
[ Pezinho da Vila ]
Eu nasci à sexta-feira Com barbas e cabeleira Mais parecera um anti-Cristo Que até o senhor padre cura Que é um homem de sabedura Nunca tal houvera visto
Eu fui a Vila Franca Escanchado numa tranca À morte de uma galinha O que ela tinha no papo Sete cães e um macaco E um soldado da marinha
Ponha aqui o seu pezinho Devagar devagarinho Se vai à Ribeira Grande Eu tenho uma carta escrita Para ti, cara bonita Não tenho por quem lh’a mande
Eu fui à Praia da Rocha Sapato meia galocha Ver se o mar estava manso Encontrei lá uma garoupa Toda embrulhada em roupa A dormir no seu descanso
Eu fui de Lisboa a Sintra A casa da tia Jacinta P’ra me fazer uns calções Mas a pobre criatura Esqueceu-se da abertura Para as minhas precisões
Ponha aqui o seu pezinho Devagar devagarinho Se vai à Ribeira Grande Eu tenho uma carta escrita Para ti, cara bonita Não tenho por quem lh’a mande
Toda a moça que é bonita Se ela chora, se ela grita Nunca houvera de nascer É como a maçã madura Na quinta do padre cura Todos lha querem comer
Eu fui casar às Capelas Por ser fraco das canelas Com uma mulher sem nariz E esta gente das Fajãs Já me deram os parabéns Pelo casamento que eu fiz
Ponha aqui o seu pezinho Devagar devagarinho Se vai à Ribeira Grande Eu tenho uma carta escrita Para ti, cara bonita Não tenho por quem lh’a mande
Letra e música: Popular (Açores) Intérprete: Brigada Victor Jara (in “Eito Fora”, Mundo Novo/Editorial Caminho, 1977; reed. Farol, 1995)
Eu sou marinheiro
[ Irró (Erró) ]
Eu sou marinheiro, eu sou Contramestre de um vapor: Embarquei numa galera P’rás terras do meu amor.
Bate, padeirinha! Bate, padeirão! Quem quiser peixinho Vai ao barracão, Peixinho comprado Numa banda só, Folhinha rosada Num dia de irró!
Eu sou marinheiro, eu sou Contramestre de um vapor: Embarquei numa galera P’rás terras do meu amor.
S. Pedro e S. Paulo Sejais minha guia, Na terra, no mar Minha companhia! S. Pedro amado, Livrai-me, sou réu, Bolinete doirado Caído do céu!
Eu sou marinheiro, eu sou Contramestre de um vapor: Embarquei numa galera P’rás terras do meu amor.
Mastrinho sem vela Mas com bujarrona, Chapluca com Deus Cheira a manjerona; Em noite de calma Brilha a lua cheia, Canta sobre as águas A linda sereia!
Eu sou marinheiro, eu sou Contramestre de um vapor: Embarquei numa galera P’rás terras do meu amor.
Letra e música: Popular (Ilha de S. Miguel, Açores) Arranjo e orquestração: Pedro Fragoso Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & “Coro da Ressaca do Maia Folk” (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Meu delicado pezinho
Meu delicado pezinho Quando toca no caminho Logo toca o meu também Depois vamos conversando Nossos pezinhos tocando Mais felizes que ninguém
Este pé que é o teu Deve estar ao pé do meu Namorando a vida inteira O meu pé não se acomoda Quer ir com o teu à roda De toda a ilha Terceira
Nossos pezinhos rodando Passo a passo caminhando Só ouvindo a tua voz E então um pouco a medo Me disseste um segredo Que ficou só entre nós
Letra e música: Popular (Açores) Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in “Fados Velhos”, Contradança, 1987; reed. Movieplay, 1998)
Minha avó quando nasceu
[ Balho da Povoação ]
Minha avó quando nasceu Eu já tinha três semanas; Já vinha da Povoação C’um saquinho de castanhas.
Ontem à noite eu fui ao balho Mai-la minha rapariga; Eu dei-lhe um beijo na testa E um beliscão na barriga.
Minha mãe quando nasceu Eu já estava em São Vicente; Minha mãe está teimosa, Que nasceu à minha frente.
Oh, que linda rosa é esta Tenho eu ao pé de mim! P’lo cheirinho que ela deita Parece que veio do jardim.
Nesta terra não é uso Ir pedir a filha ao pai: Vai-se p’la escada acima, «Senhor sogro, já cá vai!»
O balho da Povoação Quem havia de inventar? Foi a filha da padeira Toda a noite a peneirar.
Letra e música: Popular (ilha de São Miguel, Açores) Arranjo: António Prata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Fados Velhos”, Contradança, 1986, reed. Movieplay, 1998) Segunda versão da Ronda dos Quatro Caminhos – “Fado da Povoação” (in 2CD “Alçude”: CD 2, Ovação, 2001)
Não planteis a saudade
[ Saudade ]
Não planteis a saudade, Que a saudade é má flor! Que uma viva saudade, Que uma viva saudade, Que uma viva… Que uma viva saudade Me matou o meu amor.
Ó tirana saudade, Onde tu foste nascer?! No peito do meu amor No peito do meu amor No peito… No peito do meu amor Que mo deixaste a sofrer.
Saudade, terna saudade, Emblema do meu viver, Companheira da minh’alma, Companheira da minh’alma, Companheira… Companheira da minh’alma, Só morres quando eu morrer.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores) Intérprete: Musica Nostra* (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)
No berço que a ilha encerra
[ Chamateia ]
No berço que a ilha encerra Bebo as rimas deste canto No mar alto desta terra Nada a razão do meu pranto
Mas no terreiro da vida O jantar serve de ceia E mesmo a dor já sentida Dá lugar à Sapateia
Oh meu bem, oh Chamarrita Meu alento vai e vem Vou embarcar nesta dança Sapateia, oh meu bem
Se a Sapateia não der Pra acalmar minha alma inquieta Estou pró que der e vier Nas voltas da Chamarrita
Chamarrita, Sapateia Eu quero é contradizer O aperto desta bruma Que às vezes me quer vencer
Oh meu bem, oh Chamarrita Meu alento vai e vem Vou embarcar nesta dança
António Zambujo, Outro Sentido
Letra: António Melo Cruz (inspirado nas tradicionais “Chamarrita” e “Sapateia”) Música: Luís Alberto Bettencourt Intérprete: António Zambujo (in CD “Outro Sentido”, Ocarina, 2007)
No berço que a ilha encerra
[ Chamateia ]
No berço que a ilha encerra Bebo as rimas deste canto; No mar alto desta terra Nada a razão do meu pranto.
Mas no terreiro da vida O jantar serve de ceia, E mesmo a dor mais sentida Dá lugar à chamateia.
Oh meu bem! Oh chamarrita! Meu alento vai e vem, Vou embarcar nesta dança, Sapateia, oh meu bem!
Se a sapateia não der P’ra acalmar minh’alma inquieta, Estou p’ró que der e vier Nas voltas da chamarrita.
Chamarrita, sapateia! Eu quero é contradizer O aperto desta bruma Que às vezes me quer vencer.
Oh meu bem! Oh chamarrita! Meu alento vai e vem, Vou embarcar nesta dança, Sapateia, oh meu bem!
Letra: António Melo Sousa Música: Luís Alberto Bettencourt Arranjo: Carlos Guerreiro Intérprete: Gaiteiros de Lisboa Versão discográfica dos Gaiteiros de Lisboa, com Filipa Pais e João Afonso (in CD “Bestiário”, Uguru, 2019) Versão original: José Ferreira, Carlos Medeiros e Luísa Alves (in LP “Balada do Atlântico”, DisRego, 1987; 2LP “O Barco e o Sonho | Balada do Atlântico | Xailes Negros”: LP 1, Philips/Polygram, 1989; CD “7 Anos de Música”, 2.ª edição, DisRego, 1992)
Gaiteiros de Lisboa, Bestiário
No berço que a ilha encerra
[ Chamateia ]
No fundo do mar ondoso
[ Pezinho, Ai, Ai, Meu Amor ]
No fundo do mar ondoso, (ai, ai, meu amor) Na concha mais delicada, Foi gravar a natureza (ai, ai, meu amor) O nome da minha amada.
Teu nome escrevi na areia (ai, ai, meu amor) Que banha o vizinho mar; Eu vi as ondas, pulando, (ai, ai, meu amor) Teu nome virem beijar.
A maré que vem de longe (ai, ai, meu amor) Bate na pedra, embranquece; Este nosso bem-querer (ai, ai, meu amor)
Só no olhar se conhece.
Abre-te, mar, faz carreiro (ai, ai, meu amor) Que eu não venho fazer guerra! Venho ver se os peixes amam (ai, ai, meu amor) Como a gente cá na terra.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores) Recolha/transcrição: Manuel Tavares Canário (1.ª quadra, in “Balhos Micaelenses”, 1901) e Armando Côrtes-Rodrigues (2.ª e 3.ª quadras, in “Cancioneiro Geral dos Açores”, Angra do Heroi´smo: Direcc¸a~o Regional dos Assuntos Culturais, 1982) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Ó água do mar
[ Mar Salgado ]
Ó água do mar, salgada, Porque não adocicais? Correm fontes e ribeiras… Salgada cada vez mais.
Não há vida mais tirana Do que a do homem do mar: Nas ondas a morte à vista, Em casa a fome a matar.
O mar tem ondas medonhas Que levantam o furacão; Eu tenho medo sem fim Do mar do meu coração.
Ó água do mar, salgada, Porque não adocicais? Correm fontes e ribeiras… Salgada cada vez mais.
O mar tem ondas medonhas Que levantam o furacão; Eu tenho medo sem fim Do mar do meu coração.
Letra: Tradicional (Açores) Música: Macadame Intérprete: Macadame* (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
O fado batuque
[ Fado Batuque ]
O fado batuque foi correr a ilha P’ra arranjar dinheiro p’ra casar a filha.
Ó senhora Ana, ó senhora Aninha, Acautele o galo das minhas galinhas!
O fado batuque já era velhinho, Mas inda emborcava um pote de vinho.
O fado batuque tanto batucou, Mesmo a batucar a vida acabou.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Ó meu bem, se tu te fores
[ Meu Bem ]
Primeira versão [?]: Tonicha, arr. Jorge Palma (in LP “Cantigas Populares”, Orfeu, 1976) Ó meu bem, se tu te fores Como dizem que te vais, Deixa-me o teu nome escrito Numa pedrinha do cais!
Meu amor, na tua ausência Nunca deixes de escrever Duas linhas ao teu bem, Que por ti fica a sofrer!
Ó meu bem, quando te foste, Sete lenços alaguei Mai-la manga da camisa… E dizem que não chorei!
Meu amor, na tua ausência Nunca deixes de escrever Duas linhas ao teu bem, Que por ti fica a sofrer!
Ó meu bem, se tu te fores Como dizem que te vais, Deixa-me o teu nome escrito Numa pedrinha do cais!
Meu amor, na tua ausência Nunca deixes de escrever Duas linhas ao teu bem, Que por ti fica a sofrer!
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores) Intérprete: Helena Oliveira* com José Medeiros (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Nota: «Quem analisar a canção “Meu Bem” à luz da sensibilidade, por certo que vai encontrar-lhe um dos mais belos motivos dos cantares açorianos. As notas deslizam, cantam as emoções que o amor vai gerando num suave e doce clamor: “Ó meu bem, se tu te fores / como dizem que te vais, / deixa-me o teu nome escrito / numa pedra do cais!”.
Oh água do mar
[ Mar Salgado ]
Oh água do mar, salgada, Porque não adocicais? Correm fontes e ribeiras… Salgada cada vez mais.
Não há vida mais tirana Do que a do homem do mar: Nas ondas a morte à vista, Em casa a fome a matar.
O mar tem ondas medonhas Que levantam o furacão; Eu tenho medo sem fim Do mar do meu coração.
Oh água do mar, salgada, Porque não adocicais? Correm fontes e ribeiras… Salgada cada vez mais.
Não há vida mais tirana Do que a do homem do mar: Nas ondas a morte à vista, Em casa a fome a matar.
O mar tem ondas medonhas Que levantam o furacão; Eu tenho medo sem fim Do mar do meu coração.
Letra: Tradicional (Açores) Música: Macadame Intérprete: Macadame Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Ó mãe, acende uma candeia
[ Balada da Candeia ]
Ó mãe, acende uma candeia Que tenho medo desta noite tão escura Ó mãe, acende uma candeia Que tenho medo do assombro da lonjura Nuvem negra na manhã Se chover, há-de escampar Traz um búzio, minha irmã Quero ouvir a voz do mar Faça chuva, faça sol Nesta longa travessia Hás-de ser o meu farol Hás-de ser a minha guia
Ó mãe, acende uma candeia Que tenho medo desta noite tão escura Ó mãe, acende uma candeia Que tenho medo do assombro da lonjura Triste sorte a do soldado Lutas, guerras, perdições Triste sonho amputado Onde morrem as canções Rio de tantos venenos De zagaias e punhais Selva de tantos enganos Aziagos, tão fatais
Ó mãe, acende uma candeia Que tenho medo desta noite tão escura Ó mãe, acende uma candeia Que tenho medo do assombro da lonjura
Letra e música: José Medeiros (Ao João Lóio, à Regina Castro e ao Fernando Rangel) Arranjo: José Medeiros, com a colaboração de todos os músicos Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 2, Algarpalcos, 2010)
Ó meu bem se tu te fores
[ Canção Longe ]
Ó meu bem se tu te fores Como dizem que te vais Deixa-me o teu nome escrito Numa pedrinha do cais
Quando o meu mano se foi Sete lenços alaguei Mai-la manga da camisa E dizem que não chorei
Meu amor vem sobre as ondas Meu amor vem sobre o mar Ai quem me dera morrer Nas águas do teu olhar
Letra: Popular (Açores) Música: José Afonso Intérprete: José Afonso (in “Baladas e Canções”, de José Afonso, Ofir, 1967; reed. EMI-VC, 1997)
O meu nome é Ismael
[ Moby Dick (A Canção de Ismael) ]
O meu nome é Ismael Já me vou fazer ao mar Vou às sete partidas do mundo Tempo de zarpar Nesta barca baleeira Levo a lança e o arpão Das Américas aos mares do sul Minha assombração Das canções de marinhagem
Sei de lendas e rumores, Quem será o trancador de Moby Dick? As canções de marinhagem Rasgando o mar dos Açores, Quem será o matador de Moby Dick? Já se avista um cachalote Rema, rema, remador Meu desencontrado coração Parece um tambor Na esteira, no meu bote Meu alento, meu afã Rema, rema, vamos arpoar O Leviatã
Ó serpente fugidia Dos abismos do mar, Já escuto este clamor: É Moby Dick! Assombrada profecia Vens do fundo do mar Reconheço com temor que é Moby Dick! Ó Ahab, ó velho lobo Comandante desta nau Coração de ferro, olhar de fogo E perna de pau Já conheço a tua lei Ó sombrio caçador Só a morte da baleia branca Mata a tua dor Ó sombrio capitão Teu intento é fatal Hás-de ser o trancador de Moby Dick Ó sombrio capitão Teu sangrento ritual Vais morrer no teu rancor por Moby Dick
Letra e música: José Medeiros Arranjo: Paulo Borges Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 1, Algarpalcos, 2010)
Ó sapateia, teia, teia
[ (Sapateia, Teia, Teia) ]
Ó sapateia, teia, teia que me prende Neste novelo de tantas inquietações Amarga e doce minha lira que se acende Nesta viola que há-de ter dois corações
Pedras tão negras tatuadas pelo vento Pedras queimadas pelo rocio do mar São sentinelas da saudade, do lamento De estar tão longe, meu amor, do teu olhar
Vai, minha galera Navegar o mar imenso Nas marés que o tempo amanheceu Nesta longa espera Sei que ainda te pertenço Pois sei que a nossa lira não morreu
Ó sapateia, teia, teia que me prende Neste novelo de tantas inquietações Amarga e doce minha lira que se acende Nesta viola que há-de ter dois corações
Pedras tão negras tatuadas pelo vento Pedras queimadas pelo rocio do mar São sentinelas da saudade, do lamento De estar tão longe, meu amor, do teu olhar
Vai, minha galera Navegar o mar imenso Nas marés que o tempo amanheceu Nesta longa espera Sei que ainda te pertenço Pois sei que a nossa lira não morreu
Letra e música: José Medeiros (Ao Hermenegildo Galante) Arranjo: Paulo Borges e José Medeiros Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 1, Algarpalcos, 2010)
Oh rema, rema oh, companheiro!
[ Baleeiros de New Bedford ]
Oh rema, rema oh, companheiro! Vem celebrar a luz da manhã! Do meu amor fiquei prisioneiro, O seu olhar será meu talismã.
Sei que vou zarpar. Adeus, adeus, ó minha amada! Vou vencer marés e assombração. Sei que vou zarpar. Hei-de remar de madrugada Ao compasso do teu coração. Vou vencer marés e assombração.
Hei-de subir às gáveas do vento, Serpentear as danças do mar. O meu arpão será o meu sustento, Minha galera será o meu solar.
Sei que vou zarpar. Adeus, adeus, ó minha amada! Vou vencer marés e assombração. Sei que vou zarpar. Hei-de remar de madrugada Ao compasso do teu coração. Vou vencer marés e assombração.
Letra e música: José Medeiros Arranjo: Carlos Guerreiro Intérprete: Gaiteiros de Lisboa Versão original: Gaiteiros de Lisboa com José Medeiros (in CD “Bestiário”, Uguru, 2019)
Nota: «Tema criado para série televisiva “O Livreiro de Santiago” (RTP-Açores, 2014), de José Medeiros.» (Carlos Guerreiro)
Os teus olhos negros
[ Olhos Pretos (ou Olhos Negros) ]
Os teus olhos negros, negros, São gentios, são gentios da Guiné: Ai, da Guiné por serem negros, Da Guiné por serem negros, Gentios por não ter fé.
Os meus olhos, de chorar, Ai, de chorar, Fizeram covas no chão. Choram por ti, choram por ti Choram por ti. E os teus por quem chorarão?
Choram por ti, choram por ti Choram por ti. E os teus por quem chorarão?
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores) Intérprete: Musica Nostra* (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)
Os teus olhos são brilhantes
[ Olhos Negros ]
Os teus olhos são brilhantes, semelhantes aos luzeiros que o céu tem; os olhos negros eu preferi e nunca vi, de outros mais lindos, ninguém.
Os teus olhos negros, negros…
Os teus olhos negros, negros, são gentios, são gentios da Guiné; ai da Guiné por serem negros, da Guiné por serem negros, gentios por não terem fé.
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores) Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Quando o Menino nasceu
[ Canto de peditório ]
Quando o Menino nasceu (Ai) P’ra salvar a toda a gente, Uma estrela apareceu (Ai) Aos três Reis do Oriente.
Quando a estrela avistaram, (Ai) Compreenderam-na bem: Sem demora caminharam (Ai) Atrás dela p’ra Belém.
Quando o Menino nasceu P’ra salvar a toda a gente…
O Menino foi dormir; (Ai) Ninguém o vem acordar Pois só os anjos do Céu (Ai) O podem vir visitar.
Sete estrelas nos guiam (Ai) Todas a par com a Lua: Nossa Senhora no meio, (Ai) Mais formosa que nenhua. [ Quando o Menino nasceu…
Letra e música: Popular (Lomba do Pomar – Povoação, Ilha de S. Miguel, Açores) Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Coro Pactis (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Ronda dos Quatro Caminhos”, Rádio Triunfo, 1984, reed. Movieplay, 1997)
Quero-te bem
Quero-te bem, quero-te bem porque quero, Quero-te bem porque és o meu amor; Quero-te bem, quero-te bem porque quero, Queira ou não queira a razão.
Quero-te bem sobre o bem Com todo o meu bem-querer; Quero-te bem dentro da alma Sem te dar a entender.
Quero-te bem, quero-te bem sobre o bem, Sobre o bem, sobre o bem a bem-querer; Quero-te bem, quero-te bem, já te disse, Hei-de amar-te até morrer!
Quero-te bem sobre o bem Com todo o meu bem-querer; Quero-te bem dentro da alma Sem te dar a entender.
Quero-te bem sobre o bem Com todo o meu bem-querer; Quero-te bem dentro da alma Sem te dar a entender.
Quero-te bem, quero-te bem porque quero, Quero-te bem porque és o meu amor; Quero-te bem, quero-te bem porque quero, Queira ou não queira a razão.
Quero-te bem sobre o bem Com todo o meu bem-querer; Quero-te bem dentro da alma Sem te dar a entender.
Quero-te tanto, quero-te tanto, meu bem! Dizer-te o quanto, dizer-te o quanto eu não sei; Quero-te ter, quero-te ter sobre o peito Onde bate o coração!
Quero-te bem sobre o bem, Sobre bem a bem-querer; Quero-te bem, já te disse, Hei-de amar-te até morrer!
Quero-te bem sobre o bem, Sobre bem a bem-querer; Quero-te bem, já te disse, Hei-de amar-te até morrer!
Macadame, Firmamento
Letra: Tradicional (Açores) Música: Macadame Intérprete: Macadame Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Rema para lá
[ O Rema ]
Rema para lá, lanchinha, Lanchinha de quatro remos! Que amanhã é dia santo, Temos tempo, falaremos.
Rema, que rema! Vamos ao mar às tainhas! No mar se apanham: Ou gradas ou miudinhas.
Rema para lá, lanchinha! Rema bem, ó remador! Que nessa lanchinha vai Para longe o meu amor.
Rema, que rema! Vamos ao mar às bicudas! No mar se apanham Miudinhas e graúdas.
Quando eu era lancha nova, Ia muita vez ao mar; Agora que já sou velha ‘Stou posta de quilha ao ar.
Rema, que rema! Vamos ao mar às cavalas! No mar se apanham, Vamos ao mar apanhá-las!
Já fui mestre, mandei barco, Marinheiro de abalada; Agora que já sou velho Só ganho meia soldada.
Rema, que rema! Vamos ao mar à sardinha! No mar se apanha Muito grada e miudinha.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores) Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora* (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Roda, roda, rotativa
Roda, roda, rotativa Roda, roda, rotativa Teu cantar é um lamento Meu coração à deriva Meu coração à deriva Como um peixe catavento Roda, roda, rotativa Roda, roda, rotativa Teu cantar é sempre igual Repetida narrativa Repetida narrativa Rotineiro ritual Vai, António Malaquias Vai, António Malaquias Já é tempo de zarpar De rasgar as levadias De rasgar as levadias E os segredos que há no mar
Vai, António Malaquias Vai, António Malaquias Já é tempo de zarpar De rasgar as levadias De rasgar as levadias E os segredos que há no mar
A rotativa do tempo A imprimir sonhos e quimeras Neste tão cinzento quotidiano Enquanto as luzes da cidade Vão coreografando a sua dança de sombras Dança de sombras, rasgos de luz… Vai, António Malaquias! Recusa a tua solidão Que há um batel à tua espera! Olha! Olha o sorriso da lua nas criptomérias Enfeitando a noite de miragens e de segredos! Vai, António Malaquias! Vai!
Letra e música: José Medeiros Arranjo: José Medeiros, com a colaboração de todos os músicos Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 2, Algarpalcos, 2010)
José Medeiros
Rola, rola, São Gonçalo
[ São Gonçalo ]
Rola, rola, São Gonçalo, Santo de Jesus querido! Já fostes santificado Antes que fosseis nascido.
São Gonçalo me chamou De cima do seu balcão: Ai, que fosse jantar com ele Uma perna de leitão.
Rola, rola, São Gonçalo! Rola por aí abaixo! Que eu perdi um bem que tinha E ando a ver se o acho.
São Gonçalo me chamou Da janela da cozinha: Ai, que fosse jantar com ele Uma canja de galinha.
Rola, rola, São Gonçalo, Santo de Jesus querido! Já fostes santificado Antes que fosseis nascido.
São Gonçalo de Amarante É santo casamenteiro, Ai, mas só quer casar as velhas E às novas diz que é solteiro.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores) Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora* (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Sapatos p’rá sapateia
[ Sapateia ]
Sapatos p’rá sapateia, P’ra bem sapatear! Que quem melhor sapateia É quem melhor sabe amar.
O meu amor é um anjo Que a Deus do Céu agradeço: Já mo quiseram comprar, Ai, anjos do Céu não têm preço.
Grupo de Cantares Belaurora, da maior e da mais alta
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores) Recolha/transcrição: ? (acervo do Museu Carlos Machado, Ponta Delgada) Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
S. Gonçalo dos milagres
[ S. Gonçalo Viageiro ]
S. Gonçalo dos milagres Que mal te fizemos nós, Que ainda estamos solteiros Podendo já ser avós?!
Prometi a S. Gonçalo Que lhe dava uma tijela… Mas não tenho senão uma, Se lha dou fico sem ela.
S. Gonçalo me chamou Pela porta da cozinha Para ir jantar com ele Uma perna de galinha.
Já está velho S. Gonçalo, De velho caiu-lhe os dentes; Deus dê saúde às moças Que lhe deram papas quentes!
Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana, Sopas do Espírito Santo
Letra e música: Popular (Açores) Arranjo: António Prata e Carlos Barata Orquestração: Vasco Pearce de Azevedo Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Grupo Coral da Horta (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996; CD “A Arte e a Música”, Universal. 2004)
Sol baixinho
[ Moda de baile ]
Sol baixinho, sol baixinho, Sol baixinho também queima; Eu hei-de amar, sol baixinho, Só p’ra seguir uma teima.
Cravo branco, não me prendas, Que eu não tenho quem me solte! Não sejas tu, cravo branco, Causante da minha morte!
O meu pai é tocador, Minha mãe é cantadeira: Eu sou filho deles ambos, Canto da mesma maneira.
Eu gosto muito de estar Onde estão as raparigas: Uma canta, outra baila E a outra ouve as cantigas.
Letra e música: Popular (ilha de Santa Maria, Açores) Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Açor/Emiliano Toste, 2002) [canta Virgínia de Andrade Cabral, acompanhada por violas de arame tocadas por António Augusto Cabral e João Soares Arranjo: António Prata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996) Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos com Orquestra Sinfonietta de Lisboa (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005)
Tira, Tirana
[ Tirana ]
Tira, Tirana! Tira, Tirana! Tirana, tira, Tirana, Tirana do sentimento! Abre, Tirana, abre os teus braços! Tirana, abre os teus braços! Quero entrar para dentro.
Ía Tirana, eu ía p’lo mar, Eu ía pelo mar fora; A meio do mar parei: Ouvi, Tirana, cantar a Tirana, Ouvi cantar a Tirana Lá no palácio do rei.
Tira, Tirana! Tira Tirana! Tirana, tira, Tirana! Tirana, torna a tirar! Vem ver, Tirana, o meu padecer! Ver ver o meu padecer! Vem ver o meu acabar!
Atira, Tirana! Atira, Tirana! Tirana, atira, Tirana! Tirana vem ver, vem ver! Vem ver, Tirana! Vem ver, Tirana! E verás como se morre Se se acaba por morrer.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Jorge, Açores) Intérprete: Musica Nostra* (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)
Tuque, batuque
[ Batuque (Moda de baile) ]
Tuque, batuque, Batuque, meu bem! Quem me dera ter O que o batuque tem…
Tuque, batuque, Torna a batucar! Meninas bonitas Vão p’ra o seu lugar.
Tuque, batuque, Por trás do frontal… Perdi uma agulha, Achei um dedal.
Tuque, batuque, De noite ao serão… Ouvem-se violas, Que lindas que são!
Tuque, batuque, De noite ao serão… Ouvem-se violas, Que lindas que são!
Tuque, batuque, Torna a batucar! Meninas bonitas Vão p’ra o seu lugar.
Letra e música: Popular (Ilha de Santa Maria, Açores) Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Coro da Associação José Damião de Almeida (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Cantigas do Sete-Estrelo”, Rádio Triunfo, 1985, reed. Movieplay, 1997) Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Uma Noite de Música Tradicional”, Polygram, 1993; CD “A Arte e a Música”, Universal. 2004)
Vai de roda
[ Canção dançada ou ‘moda’ de baile ]
Vai de roda, vai de roda! Vai de roda com primori! Daqui desta região, De quem há-de ser meu amori.
Hei-de cantar e bailar Enquanto vida tiveri; E depois, quando eu morrer, Que cante e baile quem quiseri.
Os olhos do meu amor São grãos de trigo na eira, Semeados ao domingo E nados à segunda-feira.
Vai de roda, vai de roda! Vai de roda com primori! Daqui desta região, De quem há-de ser meu amori.
Hei-de cantar e bailar Enquanto vida tiveri; E depois, quando eu morrer, Que cante e baile quem quiseri.
Os olhos do meu amor São grãos de trigo na eira, Semeados ao domingo E nados à segunda-feira.
Letra e música: Tradicional (ilha de S. Miguel, Açores) Recolha: Artur Santos (campanha de 1960) (in 4CD “O Folclore Musical nas ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de S. Miguel”: CD 2, Açor/Emiliano Toste, 2001) Intérprete: Macadame Primeira versão de Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Viola, minha viola
Viola, minha viola Tu comes comigo à mesa; Tu és a minha alegria, Quando eu tenho tristeza.
Viola, minha viola, Viola que eu tanto adoro: Porque ris quando rio? Porque choras quando choro?
Os dois corações abertos Da viola, tão riquinhos, Um é meu, o outro é teu, Como os dela bem juntinhos.
Letra: cancioneiro dos Açores
Viva o vinho rescendente
[ Ai Vinho do Pico ]
Viva o vinho rescendente Que cresceu ao pé do mar E se esvai tão de repente Porque tem bom paladar!
Atlantis à flor da água Tem Arinto lá no monte; Vou beber a minha mágoa No Czar da tua fonte.
O vinho acende o desejo, Basalto, aquela emoção… O Merlot sabe ao beijo Deste amor, pura afeição.
Dono da casa, amiguinho, Tu não me dês uma nega: Vamos lá provar o vinho Que há na tua linda adega!
Letra: Victor Rui Dores Música: Popular (Chamarrita do Pico, Açores) Arranjo: Luís Bettencourt Intérprete: Carlos Alberto Moniz Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 2, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)
A cana verde no mar Anda à roda do vapor; Ainda está p’ra nascer Quem há-de ser meu amor.
A roupa do marinheiro Não é lavada no rio: É lavada no mar-alto À sombra do seu navio.
À sombra do seu navio, À sombra do seu vapor; Não é lavada no rio A roupa do meu amor.
O meu amor foi-se embora Sem se despedir de mim; Que o mar se transforme em rosas E o seu barco num jardim.
A roupa do marinheiro Não é lavada no rio: É lavada no mar-alto À sombra do seu navio.
À sombra do seu navio, À sombra do seu vapor.
Letra e música: Tradicional (Minho) Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Loja Meloteca, recursos musicais criativos para a infância
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
A saia da Carolina
A saia da Carolina Tem um lagarto pintado; Quando a Carolina baila O lagarto dá ao rabo.
Bailaste, Carolina? Bailei, sim senhor. Diz-me com quem bailaste? Bailei com o meu amor.
Bailei com o meu amor, Bailei com o meu amor. Bailaste, Carolina? Bailei, sim senhor.
A Carolina é uma tola Que tudo faz ao revés: Veste-se pela cabeça E veste-se pelos pés.
Bailaste, Carolina? Bailei, sim senhor. Diz-me com quem bailaste? Bailei com o meu amor.
Bailei com o meu amor, Bailei com o meu amor. Bailaste, Carolina? Bailei, sim senhor.
Bailaste, Carolina? Bailei, sim senhor. Diz-me com quem bailaste? Bailei com o meu amor.
Bailei com o meu amor, Bailei com o meu amor. Bailaste, Carolina? Bailei, sim senhor.
O senhor cura nos baila Porque tem uma coroa. Baile, senhor cura, baile Que Deus tudo lhe perdoa!
Bailaste, Carolina? Bailei, sim senhor. Diz-me com quem bailaste? Bailei com o meu amor.
Bailei com o meu amor, Bailei com o meu amor. Bailaste, Carolina? Bailei, sim senhor.
Letra e música: Tradicional galaico-portuguesa Intérprete: Arrefole (in CD “Veículo Climatizado”, Açor/Emiliano Toste, 2006)
As sete mulheres do Minho
As sete mulheres do Minho, mulheres de grande valor armadas de fuso e roca correram com o regedor.
Essa mulher lá do Minho que da foice fez espada há-de ter na lusa história uma página doirada.
Viva a Maria da Fonte com as pistolas na mão para matar os Cabrais que são falsos à nação.
Letra: Popular Música: José Afonso Intérprete: Erva de Cheiro (in CD “Que Viva o Zeca”, 2007) Versão original: José Afonso (in “Fura Fura”, 1979)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Entre sombras misteriosas
[ Havemos de ir a Viana ]
Intérprete: Cuca Roseta
https://www.youtube.com/watch?v=FK-viRKqsKI
Flecha
Bate, bate, coração, Como um comboio a vapor! Vou de comboio a Monção P’ra falar ao meu amor.
Na vidraça Tudo passa; Pouca terra, terra vai, ó ai! Entra a saca, Sai a vaca, Dorme a filha, fuma o pai, ó ai!
Voa, Flecha, voa! Companheiro do rio Minho, Por terras de verde vinho Flecha vai.
O meu amor vai lá estar, Combinámos na estação; Lá vai o Flecha a apitar A caminho de Monção.
Na vidraça Tudo passa; Pouca terra, terra vai, ó ai! Entra a saca, Sai a vaca, Dorme a filha, fuma o pai, ó ai!
Voa, Flecha, voa! Companheiro do rio Minho, Por terras de verde vinho Flecha vai.
Com a força do calor Ou com um frio de rachar, Vou de Monção a Valença Até Caminha ver o mar.
Na vidraça Tudo passa; Pouca terra, terra vai, ó ai! Entra a saca, Sai a vaca, Dorme a filha, fuma o pai, ó ai!
Voa, Flecha, voa! Companheiro do rio Minho, Por terras de verde vinho Flecha vai.
Letra e música: Carlos Guerreiro Arranjo: Carlos Guerreiro Intérprete: Gaiteiros de Lisboa Versão original: Gaiteiros de Lisboa com Segue-me à Capela (in CD “Bestiário”, Uguru, 2019)
Nota: «Tema composto para um espectáculo de comemoração do centenário do comboio Flecha, que uniu Valença do Minho a Monção, organizado pela Câmara Municipal de Monção.» (Carlos Guerreiro)
Rio Minho
Meninas, vamos ao Vira
[ Vira do Minho ]
Intérprete: Cuca Roseta
https://www.youtube.com/watch?v=M3pZ5kE2D8o
Oh! Eh!
[ Cantilenas da Pedra ]
Oh! Eh! Oh! Eh! Oh! Oh! E oh pedrinha, oh!
Oh! Eh! Oh! Eh! Oh! Oh! E oh vira lá, oh!
Oh! Eh! Oh! Eh! Oh! Oh! Anda penedo, oh!
Oh pedra, oh! Minha roladeira, opa! Rola bem, pedra, vai-te! Que eu te empurro, opa!
Oh pedra, oh! Rola bem o teu leito! Rola bem ao meu mando Que eu te empurro com jeito!
Oh pedra, oh! Esta é a nossa surriba! Oh pedra, opa! Vai-te pelo monte arriba!
Oh pedra, oh! Minha menina, opa! Atrás do rapazote, Quem te afina? Opa!
Oh pedra, oh! Gosto do entremês! Oh pedra, opa! Gira mais uma vez!
Oh! Eh! Oh! Eh!
Letra e música: Tradicional (Horto, Póvoa de Lanhoso, Minho) Recolha: Michel Giacometti (“Cantilena de Pedreiro”, in LP “Minho”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1963; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 1 – Minho, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 2 – Minho, col. Portugal Som, Numérica, 2008) / Michel Giacometti (in série documental “Povo Que Canta”, ep. “Canto de Trabalho na Pedreira”, RTP-1, 11 Nov. 1973 Intérprete: Ai! (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015) Outra versão com César Prata: César Prata – “Cantilena de Pedreiro” / vozes de Cândido Alpendre e Edite Santos (in CD “Futuras Instalações”, César Prata/RequeRec, 2014)
Este linho é mourisco
[(Cantiga para maçar o linho)]
Este linho é mourisco, a fita dele namora. Quem daqui não tem amores tire o chapéu, vá-se embora!
Ai larila, ai lolela, ai lolela, ai meu bem! Regala-te, ó meu amor, regala-te e passa bem!
Ó minha mãe dos trabalhos, para quem trabalho eu? Trabalho, mato o meu corpo, não tenho nada de meu.
Ai larila, ai lolela, ai lolela, ai meu bem! Regala-te, ó meu amor, regala-te e passa bem!
Este linho é mourisco, Este linho é mourisco, Este linho é mourisco, Este linho…
Mondadeiras lá de baixo, maçai o meu linho bem! Não olheis para a portela, que a merenda logo vem!
Ai larila, ai lolela, ai lolela, ai meu bem! Regala-te, ó meu amor, regala-te e passa… passa bem!
Letra e música: Tradicional (Póvoa de Lanhoso, Minho) Recolha: Gonçalo Sampaio (1890-1925, in “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 139) Intérprete: Canto Ondo (in CD “Entre o Alto do Peito e as Campainhas da Garganta”, A Monda – Associação Cultural/Canto Ondo, 2016)
Já no céu não há estrelas
[ A Manhã Vai Rindo ]
Já no céu não há estrelas Senão uma ao pé da Lua; Nem há no mundo que eu saiba Cara mais linda que a tua.
O Sol prometeu à Lua Uma fita de mil cores: Quando o Sol promete prendas, Que fará quem tem amores.
Vamos seguindo Por esses campos fora, Que a manhã vai rindo Nos lábios da aurora.
As estrelas pequeninas Fazem o céu bem composto; Assim são os sinais pretos, Menina, nesse teu rosto.
O Sol é a caixa d’ouro, A Lua é a fechadura; As estrelas são a chave Que fecham minha ventura.
Vamos seguindo Por esses campos fora, Que a manhã vai rindo Nos lábios da aurora.
Se os campos todos falassem, Que diriam os rochedos? Então se descobririam Nossos primeiros segredos.
Se estas árvores falassem, Qualquer delas te diria Que a cantar por ti chamava, Que a chorar por ti vivia.
Vamos seguindo Por esses campos fora, Que a manhã vai rindo Nos lábios da aurora.
Os corações não se vendem, São coisas de alto valor: Não se vendem por dinheiro, Rendem-se à força do amor.
Já no céu não há estrelas Senão uma ao pé da Lua; Nem há no mundo que eu saiba Cara mais linda que a tua.
Vamos seguindo Por esses campos fora, Que a manhã vai rindo Nos lábios da aurora.
Letra e música: Popular (recolhida em Carvalhais de Gondolim, em 1892) (in “Cancioneiro de Músicas Populares”, Vol. I, de César das Neves e Gualdino de Campos, Porto: Empresa Editora César, Campos & C.ª, 1893 – p. 29) Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)
Meninas, vamos ao vira
[ Vira do Minho ]
Meninas, vamos ao vira (ó ai) que o vira é coisa boa! Eu já vi dançar o vira (ó ai) Às meninas de Lisboa.
O vira que vira e torna a virar! As voltas do vira são boas de dar. O vira que vira e torna a virar! As voltas do vira são boas de dar.
Meninas, vamos ao vira (ó ai) que o vira é coisa linda! Eu já vi dançar o vira (ó ai) às meninas de Coimbra.
O vira que vira e torna a virar! As voltas do vira são boas de dar. O vira que vira e torna a virar! As voltas do vira são boas de dar.
Meninas, vamos ao vira (ó ai) que o vira é coisa bela! Eu já vi dançar o vira (ó ai) às meninas de Palmela.
O vira que vira, o vira virou! As voltas do vira são eu quem as dou. O vira que vira, o vira virou! As voltas do vira são eu quem as dou.
Meninas, vamos ao vira (ó ai) que o vira é coisa boa! Eu já vi dançar o vira (ó ai) às meninas de Lisboa.
O vira que vira e torna a virar! As voltas do vira são boas de dar. O vira que vira e torna a virar! As voltas do vira são boas de dar.
Letra e música: Tradicional (Minho) Intérprete: Karrossel (in CD “Karrossel”, Karrossel/MU – Associação Cultural, 2014)
Negrinha, minha negrinha
Negrinha, minha negrinha, Ó negrinha, Coletinho de fustão, Trá-lo bem apertadinho, Ó negrinha, Que te aperte o coração!
Os teus olhos negros, negros, Ó negrinha, São gentios da Guiné; Gentios por serem falsos, Ó negrinha, Falsos por não terem fé.
Eu gosto da cor morena, Ó negrinha, Que mimosa me arrebata; Essa cor é tão faceira, Ó negrinha, Mulatinha, que me mata.
Eu gosto desses teus olhos, Ó negrinha, Se p’ra mim os queres volver; Esses olhos luminosos, Ó negrinha, Dizem sim até morrer.
Letra e música: Popular (Minho) (in “Cancioneiro Minhoto”, de Gonçalo Sampaio, 1940) Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)
Ó meu amor, se tu queres
[ Penas Tem Quem Tem Amores ]
Ó meu amor, se tu queres Que a minha alma seja tua, Dá passadas, perde o teu tempo Se é teu gosto, mas continua!
O meu pouco vale muito, O teu muito vale nada: Mesmo sendo eu pobrezinha, Sou para ti mal empregada.
Penas tem quem tem amores, Penas tem quem os não tem: É certo que cá neste mundo Sem ter penas não há ninguém.
Se os passarinhos vendessem As penas que Deus lhes deu, Também eu venderia as minhas Que ninguém as tem mais que eu.
Letra: Popular (Minho) Música: Sílvio Pleno Intérprete: Tereza Tarouca* (in LP “Folclore”, RCA Victor, 1975; 2LP “Álbum de Recordações”: LP 2, Polydor/PolyGram, 1985; CD “Temas de Ouro da Música Portuguesa”, Polydor/PolyGram, 1992)
Ó minha caninha verde
Ó minha caninha verde, Verde caninha madura: Tu és minha tão-somente, Ninguém mais te dirá sua.
Tu és minha… Tu és minha tão-somente, Ninguém mais… Ninguém mais te dirá sua.
Ó i ó ai, ninguém mais te dirá sua, Tu és minha tão-somente, Ninguém mais te dirá sua.
Ó minha caninha verde, Verde cana de encantar, Aqui estou à tua beira: Quem está bem, deixa-se estar.
Aqui estou… Aqui estou à tua beira: Quem está bem… Quem está bem, deixa-se estar.
Ó i ó ai, ninguém mais te dirá sua, Tu és minha tão-somente, Ninguém mais te dirá sua.
Ó minha caninha verde, Verde caninha em botão: Aqui estou à tua beira, Prenda do meu coração.
Aqui estou… Aqui estou à tua beira, Prenda do… Prenda do meu coração.
Ó i ó ai, ninguém mais te dirá sua, Tu és minha tão-somente, Ninguém mais te dirá sua.
Letra e música: Tradicional (Minho) Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)
Ó minha Rosinha
Ó minha Rosinha, Eu hei-de te amar De dia ao sol, De noite ao luar!
De noite ao luar, De noite ao luar; Ó minha Rosinha, Eu hei-de te amar!
Ai ó ai ó larilolai, ai ó ai ó larilolela! Ai ó ai ó larilolai, ai ó ai ó larilolela!
Ó minha Rosinha, Eu hei-de, hei-de ir Jurar a verdade! Eu não sei mentir.
Eu não sei mentir, Eu não sei mentir; Ó minha Rosinha, Eu hei-de, hei-de ir!
Ai ó ai ó larilolai, ai ó ai ó larilolela! Ai ó ai ó larilolai, ai ó ai ó larilolela!
Letra e música: Tradicional (Minho) Intérprete: Karrossel (in CD “Karrossel”, Karrossel/MU – Associação Cultural, 2014)
Ó rosa, ó linda rosa
[ Rosa de Alexandria ]
Ó rosa, ó linda rosa, Ó rosa de Alexandria, Eras a mais linda rosa Que andava na romaria!
Ó rosa, ó linda rosa, Ó rosa da Oliveira, Eras a mais linda rosa Que andava na brincadeira!
Ó rosa, ó linda rosa, Bela rosa em botão, Eras a mais linda rosa Que andava na bailação!
Ó rosa, ó linda rosa, Ó rosa tão bela assim, Eras a mais linda rosa Que nasceu nalgum jardim!
Eras a mais linda rosa Que nasceu nalgum jardim!
Letra e música: Popular (Minho) (in “Cancioneiro Minhoto”, de Gonçalo Sampaio, 1940) Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)
O Sete-Estrelo vai alto
O Sete-Estrelo vai alto, Mais alto vai o luar; Mais alta vai a fortuna Que Deus tem para me dar.
Ai leva arriba, Que Deus tem para me dar.
O Sete-Estrelo caiu Numa pocinha do chão; Que com saudades de ti Chorou o meu coração.
Ai leva arriba, Chorou o meu coração.
O Sol é a porta do céu, A Lua é a fechadura; As estrelas são as chaves Com que fecha a noite escura.
Ai leva arriba, Com que fecha a noite escura.
Ai leva arriba, Com que fecha a noite escura.
Letra e música: Popular (Minho) (in “Cancioneiro Minhoto”, de Gonçalo Sampaio, 1940) Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)
Quem fora o oiro que levas
[ O Verde do Minho ]
Quem fora o oiro que levas Quem fora o oiro que levas No preto do teu corpete Quem fora o oiro que levas Até o sol brilha nas trevas E não é do vinho verde
Bailei o vira contigo Bailei o vira contigo Bailei tanto, deu-me sede Pedi-te um beijo mendigo Pedi-te um beijo mendigo Só me deste vinho verde
Ó malhão, malhão, Qual é o bom vinho? Ó malhão, malhão, Qual é o bom vinho? Olha que pergunta! Ó trlim tim tim, O verde do Minho. Olha que pergunta! Ó trlim tim tim, O verde do Minho.
Olhai esta malga e vede Olhai esta malga e vede Ingénuas meiguices loucas A malga do vinho verde Olhai esta malga e vede Bebida por duas bocas
Verde terra, verde vinho Verde terra, verde vinho No teu corpo de menina Teus lábios são alvarinho Teus lábios são alvarinho Os teus olhos verde sina
Ó malhão, malhão, Qual é o bom vinho? Ó malhão, malhão, Qual é o bom vinho? Olha que pergunta! Ó trlim tim tim, O verde do Minho. Olha que pergunta! Ó trlim tim tim, O verde do Minho.
Vinho verde, verde Minho Vinho verde, verde Minho Verdes serras, verdes campos Quando pisas o caminho Quando pisas o caminho Até vejo pirilampos
Céu azul do verde Minho Céu azul do verde Minho Ó trlim tim tim do malhão Vinho verde, verde vinho Céu azul do verde Minho Só paixão, paixão, paixão
Ó malhão, malhão, Qual é o bom vinho? Ó malhão, malhão, Qual é o bom vinho? Olha que pergunta! Ó trlim tim tim, O verde do Minho. Olha que pergunta! Ó trlim tim tim, O verde do Minho. Olha que pergunta! Ó trlim tim tim, O verde do Minho.
Letra: Vasco Pereira da Costa Música: Carlos Alberto Moniz Intérprete: Carlos Alberto Moniz Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 1, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)
São João perdeu
São João perdeu, perdeu… Ai São João que perderia? Perdeu o lenço da mão Ai, ai à vinda da romaria.
São João, se bem soubera Ai quando era o seu dia, Descia do Céu à Terra Ai com prazer e alegria.
Letra e música: Tradicional (Ponte de Lima, Minho) Intérprete: Segue-me à Capela Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Tenho um amor em Viana
[ Vira de Viana ]
Tenho um amor em Viana, Ai, tenho outro em Ponte de Lima: O de Viana não presta, Ai, o outro é coisa fina.
Meu amor disse que vinha Ai, antes que a Lua viesse. A Lua já aí vem, Ai, meu amor não aparece.
Se quereis que eu cante agora Ai, dai-me vinho ou dinheiro, Que a minha gargantinha Ai, não é fole de ferreiro.
Já lá em baixo vem a noite, Ai, já lá vem minha alegria Para ver o meu amor Ai, que eu já não posso de dia.
Letra e música: Tradicional (Minho) Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)
Viana do Castelo (Santa Luzia)
Uma pêra
Uma pêra, duas pêras, Três pêras no ramalhinho; Uma é minha, outra é tua, Outra é do meu amorzinho.
A folha do castanheiro Tem biquinhos como a renda; Quem tem um amor bonito Não pode ter melhor prenda.
Adeus, que me vou embora, Já me parece que é bem, Que o muito cantar enfada E o pouco parece bem.
Letra e música: Tradicional (Ponte de Lima, Minho) Intérprete: Segue-me à Capela Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/folclore-de-viana_traje-de-afife.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:25:582024-11-02 06:58:13Canções do Minho
A flor da branca amora Cai na água, faz-se em espuma; Aqui está quem te namora Sem falsidade nenhuma.
Lá nos campos, verdes campos, Eu fui apanhar marcela, Daquela mais miudinha, Daquela mais amarela.
Daquela mais amarela, Daquela mais miudinha, Lá nos campos, verdes campos, A marcela, marcelinha.
Fui beber à clara fonte, Por baixo da flor da murta; Fui mais por ver os teus olhos, Que a sede não era muita.
Lá nos campos, verdes campos, Eu fui apanhar marcela, Daquela mais miudinha, Daquela mais amarela.
Daquela mais amarela, Daquela mais miudinha, Lá nos campos, verdes campos, A marcela, marcelinha.
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Intérprete: Afonso Dias Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
A flor da branca amora
[ Marcela, Marcelinha ]
A flor da branca amora Cai na água, faz-se em espuma; Aqui está quem te namora Sem falsidade nenhuma.
Lá nos campos, verdes campos, Eu fui apanhar marcela, Daquela mais miudinha, Daquela mais amarela.
Daquela mais amarela, Daquela mais miudinha, Lá nos campos, verdes campos, A marcela, marcelinha.
Fui beber à clara fonte, Por baixo da flor da murta; Fui mais por ver os teus olhos, Que a sede não era muita.
Lá nos campos, verdes campos, Eu fui apanhar marcela, Daquela mais miudinha, Daquela mais amarela.
Daquela mais amarela, Daquela mais miudinha, Lá nos campos, verdes campos, A marcela, marcelinha.
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Intérprete: Afonso Dias Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Loja Meloteca, recursos criativos para musicalização infantil
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
A luta é de quem trabalha
[ Ceifeira ]
A neve já está bem perto
[ O Padrinho ]
A neve já está bem perto Daquela grande montanha Virgem Maria é a mãe E São José a acompanha
São José a acompanha E acompanha o Deus Menino Virgem Maria é a mãe E São José é o padrinho
Diabo a Sete
Letra e música: Tradicional (Elvas, Alto Alentejo) Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Parainfernália”, Açor/Emiliano Toste, 2007)
Adeus, malvas
[ O Triste ]
Adeus, malvas… Adeus, malvas… Adeus, malvas do Rossio! Tarde ou nun… Tarde ou nunca as pisarei.
Adeus, moças… Adeus, moças… Adeus, moças do meu tempo! Tarde ou nun… Tarde ou nunca voltarei.
Ó Triste, ó Triste, Ó Triste, três vezes triste! Ó Triste, ó Triste, P’ra onde irá?
O rico… O rico… O rico se compadeça Da desgra… Da desgraça do Zé Brás.
A desgraça… A desgraça… A desgraça do Zé Brás Foi a mor… Foi a morte do Paneiro.
Com um lenço… Com um lenço… Com um lenço se enforcou Às grades… Às grades do Limoeiro.
Algum dia eu era
[ Erva-Cidreira ]
Algum dia eu era, E agora já não, Da tua roseira O melhor botão.
Ó erva-cidreira Que estás no alpendre, Quanto mais se rega Mais a folha pende.
Mais a folha pende, Mais a rosa cheira; Que ‘tás no alpendre, Ó erva-cidreira.
Os olhos que olham P’ró chão de repente, Esses é que são Os que enganam a gente.
Ó erva-cidreira Que estás no alpendre, Quanto mais se rega Mais a folha pende.
Mais a folha pende, Mais a rosa cheira; Que ‘tás no alpendre, Ó erva-cidreira.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda e Ruben Alves Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)
Anda cá
[ Pombinha Branca ]
Anda cá, se tu queres ver! Verás o que ainda não viste: Verás dois olhos alegres Chorando lágrimas tristes.
Oh minha pombinha branca, Onde queres, amor, que eu vá? É de noite, faz escuro, Eu sozinho não vou lá.
Eu sozinho não vou lá, Eu sozinho lá não vou; Oh minha pombinha branca, P’ra te amar inda aqui estou.
No quarto aonde eu durmo Tudo são penas voando: Umas causadas por mim, Outras estás-mas tu causando.
Oh minha pombinha branca, Onde queres, amor, que eu vá? É de noite, faz escuro, Eu sozinho não vou lá.
Eu sozinho não vou lá, Eu sozinho lá não vou; Oh minha pombinha branca, P’ra te amar inda aqui estou.
Letra e música: Tradicional do Baixo Alentejo (aprendida com o grupo Modas à Margem do Tempo, em Évora) Arranjo: Celina da Piedade e músicos participantes Intérprete: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD1, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)
Anda cá, José se queres
Anda cá, José se queres a tua roupa lavada, ai, paga a uma lavadeira qu’eu não sou tua criada.
Qu’eu não sou tua criada, qu’eu não sou criada tua. Ai, Ó José se me não queres, ai, põe o chapéu, vai prá rua.
Põe o chapéu, vai prá rua, põe o chapéu, vai prá estrada. Ai, anda cá, José se queres ai, a tua roupa lavada.
(Popular – Alentejo)
Aqui ninguém tem trabalho
[ Terra de Catarina (Baleizão, Baleizão)]
Aqui ninguém tem trabalho E há muito para fazer: Vieram de toda a parte, Não tinham pão p’ra comer.
Ó Baleizão, Baleizão! Ó terra de Catarina, Onde nasceu e morreu Por uma bala assassina, Por uma bala assassina Cravada no coração; Ó terra de Catarina! Ó Baleizão, Baleizão!
Tinha no peito a coragem, Trazia os filhos na mão; Ó terra de Catarina! Ó Baleizão, Baleizão!
Ó Baleizão, Baleizão!
Ó terra de Catarina, Onde nasceu e morreu Por uma bala assassina, Por uma bala assassina Cravada no coração; Ó terra de Catarina! Ó Baleizão, Baleizão!
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
A ribeira quando enche
A ribeira quando enche Leva o junco acamado Traz-me tu em teu sentido Que eu te trago em meu cuidado
A ribeira quando enche Vai de pedrinha em pedrinha O homem que leva a barca Leva seu bem na barquinha
Leva seu bem na barquinha Inda lhe digo outra vez Quem namora sempre alcança Um beijinho, dois ou três
Dizem que a folha do trigo É maior que a da cevada Também a minha amizade Ao pé da tua é dobrada
(Popular – Alentejo)
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Canções do Alentejo
Canções do Alentejo
Acorda se estás dormindo
[ Janeiras de Évora ]
(Chegada à porta)
Acorda se estás dormindo Nesse sono tão profundo, Às portas te estão pedindo P’rás almas do outro mundo.
E as almas do outro mundo Batem aos vossos portados, Acorda se queres ouvir Das almas os tristes brados.
Tristes brados dão as almas Isto é tudo bem certo, P’ra quem vive arrependido Está o sacramento aberto.
As almas do outro mundo, Elas te mandam pedir, Que lhes leves as esmolas Q’elas não podem cá vir.
(Despedida)
E as esmolas que vós destes, Se as destes com devoção, Na terra terás o prémio Lá no céu a salvação.
Letra e música: Popular (Alto Alentejo) Recolha: Fernando Costa (em Évora, junto da Sra. Helena Jesus Grilo) Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, public-art, 2004)
Adeus, Maria
— «Adeus, Maria, até quando, Eu até quando não sei; Cá ando no Ultramar, a pensar No dia em que voltarei.
Espera por mim, se quiseres… Faz o que tu entenderes; Acho que deves pensar em casar, Eu posso por cá morrer.
Ninguém o pode saber, É uma carta fechada… E depois te chamarão, pois então, Viúva sem seres casada.»
— «Ó António, Deus te guie Nos campos do Ultramar! Eu penso em ti, cá solteira, há quem queira Se tu nunca mais voltares.
Espero por ti, meu amor, Eu d’outro não quero ser! Nunca mais me casarei, que eu bem sei, Serei tua até morrer!
A carta que me mandaste Com um conselho imprudente… Meu amor, para contigo eu te digo: ‘Inda fiquei mais ardente.»
Meu amor, para contigo eu te digo: ‘Inda fiquei mais ardente.»
Letra: António Pardelha Música: Monda Intérprete: Monda Versão original: Monda com Katia Guerreiro (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)
Ai lei ai lari lari ló lé
[ O Deus Menino ]
Ai lei ai lari lari ló lé, Jesus, Maria, Jesus, Maria, José
Entrai pastorinhos, entrai Por esses portais sagrados. Vindo ver a Deus Menino, Numas palhinhas, Numas palhinhas deitado.
Se quereis criado, Tratai-o com mimo, Dêem-lhe leite, Que ele é pequenino, Tragam-lhe leite, Para o Deus menino.
Letra e música: Popular (Baixo Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ceifeiros de Cuba” (in CD “Musical Traditions of Portugal”, Ed. Smithsonian Folkways, 1994)
Alecrim, alecrim aos molhos
Alecrim, alecrim aos molhos por causa de ti choram os meus olhos
Ai, meu amor, quem te disse a ti que a flor do monte era o alecrim
Alecrim, alecrim doirado que nasce no monte sem ser semeado
Ai, meu amor, quem te disse a ti que a flor do monte era o alecrim
Letra e música: Popular (Baixo Alentejo) Versão instrumental: Opus Ensemble (in “Temas do cancioneiro Português”, EMI Classics, 1987, reed. 1998)
Almodôvar, nossa terra
Almodôvar, nossa terra Quando eu de ti vivo ausente O meu coração encerra Uma saudade ardente
Uma saudade ardente O meu coração encerra Quando eu de ti vivo ausente Almodôvar nossa terra
(Popular – Baixo Alentejo)
Ao passar a ribeirinha
[ Água Sobe, Água Desce ]
Ao passar a ribeirinha, Água sobe, água desce; Dei a mão ao meu amor Antes que ninguém soubesse.
Se tu és o meu amor, Dá-me cá abraços teus! Se não és o meu amor, Saúdinha, adeus, adeus!
À frente do amor, Brincas tu, brincarei eu; Anda cá para meus braços! Ninguém te quer mais do que eu.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Ao romper da bela aurora
Ao romper da bela aurora Sai o pastor da choupana Vem gritando em altas vozes Muito padece quem ama
Muito padece quem ama Mais padece quem adora Sai o pastor da choupana Ao romper da bela aurora
Toda a vida fui pastor Toda a vida guardei gado Tenho uma nódoa no peito De me encostar ao cajado
Ao romper da bela aurora Sai o pastor da choupana Vem gritando em altas vozes Muito padece quem ama
Muito padece quem ama Mais padece quem adora Sai o pastor da choupana Ao romper da bela aurora
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Ganhões de Castro Verde (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, ACA “Os Ganhões”, 1997)
Aqui onde canto e ardo
[ Passarinho da charneca ]
Aqui onde canto e ardo entre papoulas e cardo. Sete palmos de charneca são o tamanho de um home medido em anos de fome, pesado em anos de seca, esquecido que teve nome e que, sendo a morte certa, vida desta não é d’home, vida desta não é d’home, passarinho da charneca.
Passarinho da charneca entrou na gaiola aberta. Já tem os olhos cegados para que cante melhor que o dono não é cantor. Traz os colmilhos cerrados vontades de mandador e porque é dos mal mandados julga assim mandar melhor nos que lhe estão sujeitados, passarinho da charneca.
Criei o corpo comendo desta terra da charneca ao entrar na cova aberta. Só estou pagando o que devo, eu sou devedor à terra. A terra me está devendo, a terra me está devendo. A terra paga-me em vida, Eu pago à terra em morrendo, eu pago à terra em morrendo, passarinho da charneca.
Letra: Tradicional – Alentejo / João Pedro Grabato Dias Música: Amélia Muge Intérprete: Amélia Muge (in CD “Todos os Dias”, Columbia/Sony, 1994)
Às vezes me ponho eu
[ A Vila de Castro Verde ]
Às vezes me ponho eu Na minha vida a pensar: Quem eu era, quem eu sou, Ao que eu havia de chegar!
A vila de Castro Verde És uma estrela brilhante: Como ela outra não há, És a mesma que eras dantes.
És a mesma que eras dantes Desta vila aproximada; És uma estrela brilhante Que está na História gravada.
Ó coração, não te assustes! Quando ouvires cantar bem, Entra e pede licença Para cantares também!
A vila de Castro Verde És uma estrela brilhante: Como ela outra não há, És a mesma que eras dantes.
És a mesma que eras dantes Desta vila aproximada; És uma estrela brilhante Que está na História gravada.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
As vozes da minha fala
[ Portel Estás Satisfeito ]
As vozes da minha fala, Como eram já não são: Fazem a mesma diferença Que o Inverno faz do Verão.
Portel estás satisfeito Em ver teus filhos brilhar, E até choras de contente Em os ouvindo cantar.
Minha fala é baixinha, Não a posso alevantar; E mesmo assim, sendo baixinha, Já m’a quiseram comprar.
Portel estás satisfeito Em ver teus filhos brilhar, E até choras de contente Em os ouvindo cantar.
Em os ouvindo cantar Até bate a mão no peito; Em ver teus filhos brilhar Portel estás satisfeito.
Brota a água
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
A ciência que o mar tem Não tem nada de pasmar: Não há regato nem rio Que ao mar não vá parar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre com Janita Salomé (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre com Janita Salomé (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Caminhos do Alentejo
Caminhos do Alentejo. Terra bravia de fomes com piteiras aceradas como pontas de navalhas em esperas de encruzilhadas! Caminhos do Alentejo. Desde valados e sebes, searas, vilas, aldeias e chuvas e descampados — caminhos do Alentejo desde menino vos piso!
Poema: Manuel da Fonseca (excerto inicial da parte I de “Para um poema a Florbela”) Música: Paulo Ribeiro Arranjo: Jorge Moniz Intérprete: Paulo Ribeiro Versão original: Paulo Ribeiro com Vitorino (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)
Campaniça do despique
Campaniça do despique, Na venda e bailes de roda: Dedilhando o improviso Ou trauteando uma moda.
Na rua do velho monte, Com as moças a bailar Os passos simples duma dança E a viola a dedilhar.
Nas feiras e romarias, Na serra e no alambique, Na venda e bailes de roda: Campaniça do despique.
O tocador da viola É feio mas toca bem; Se não casar por a prenda, Formosura não a tem!
Campaniça do despique, Na venda e bailes de roda: Dedilhando o improviso, Ou trauteando uma moda.
Na rua do velho monte, Com as moças a bailar Os passos simples duma dança E a viola a dedilhar.
Nas feiras e romarias, Na serra e no alambique, Na venda e bailes de roda: Campaniça do despique.
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Canta alentejano
Canta alentejano, canta, o teu canto é oração, tens a alma na garganta solidão, ai não, ai não!
Solidão, ai não, ai não! Quem canta, seu mal espanta. O teu canto é oração: canta, alentejano, canta!
Eu gosto muito de ouvir cantar a quem aprendeu. Houvera quem me ensinara, quem aprendia era eu!
Popular alentejano
Cantam as filhas da Rosa
[ Filhas da Rosa ]
Cantam as filhas da Rosa, Respondem lá do jardim: Olaré, quem canta, canta assim!
A minha fala não é A mesma que era algum dia: Quem ouvia a minha fala E o meu nome conhecia.
Cantam as filhas da Rosa, Respondem lá do jardim: Olaré, quem canta, canta assim!
E o cantar parece bem, E é uma prenda bonita: Não empobrece ninguém Assim como não enrica.
Cantam as filhas da Rosa, Respondem lá do jardim: Olaré, quem canta, canta assim!
Se eu soubesse cantar bem Nunca estaria calado; Mesmo assim cantando mal Não vivo desmarginado.
Cantam as filhas da Rosa, Respondem lá do jardim: Olaré, quem canta, canta assim!
Não julgues por eu cantar Que a vida alegre me corre; Eu sou como o passarinho: Tanto canta até que morre.
Cantam as filhas da Rosa, Respondem lá do jardim: Olaré, quem canta, canta assim!
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha com grupo Alma Alentejana (in CD “Proibido Adivinhar”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2015)
Chamava-se Catarina
Em Memória de uma Camponesa Assassinada – Cantar Alentejano
Chamava-se Catarina, O Alentejo a viu nascer; Serranas viram-na em vida, Baleizão a viu morrer.
Ceifeiras na manhã fria Flores na campa lhe vão pôr; Ficou vermelha a campina Do sangue que então brotou.
Acalma o furor, campina, Que o teu pranto não findou! Quem viu morrer Catarina Não perdoa a quem matou.
Aquela pomba tão branca Todos a querem p’ra si; Ó Alentejo queimado, Ninguém se lembra de ti!
Aquela andorinha negra Bate as asas p’ra voar; Ó Alentejo esquecido, Inda um dia hás-de cantar!
Letra: António Vicente Campinas Música: Carlos Paredes (“Em Memória de uma Camponesa Assassinada”) e José Afonso (“Cantar Alentejano”) Intérprete: Mariana Abrunheiro com o Grupo Coral “Estrelas do Sul” de Portel (in Livro/CD “Cantar Paredes”, Mariana Abrunheiro/BOCA – Palavras Que Alimentam, 2015) Versão original (“Em Memória de uma Camponesa Assassinada”): Carlos Paredes (1973) (in CD “Na Corrente”, EMI-VC, 1996, Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/4CD “O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993”: CD3 – “Danças”, EMI-VC, 2003) Versão original (“Cantar Alentejano”): José Afonso (in LP “Cantigas do Maio”, Orfeu, 1971, 1982, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art’Orfeu Media, 2012)
Como podem ser iguais
[ Só Uma Pena Me Existe ]
[Cantiga:] Como podem ser iguais Os dedos das nossas mãos, Se há filhos dos mesmos pais Que não parecem irmãos?
[Moda:] Só uma pena me existe, Minha doce saudade: É olhar para o teu rosto, Ver-te assim tão pouca idade.
Ver-te assim tão pouca idade, Ver-te assim tão criancinha; Só uma pena me existe, Minha doce jovenzinha.
[Cantiga:] Lá por trás daquele outeiro, Nasce o sol e nasce a lua; Ando à procura, não acho Cara mais linda que a tua.
[Moda:] Só uma pena me existe, Minha doce saudade: É olhar para o teu rosto, Ver-te assim tão pouca idade.
Ver-te assim tão pouca idade, Ver-te assim tão criancinha; Só uma pena me existe, Minha doce jovenzinha.
Só uma pena me existe, Minha doce saudade: É olhar para o teu rosto, Ver-te assim tão pouca idade.
Ver-te assim tão pouca idade, Ver-te assim tão criancinha; Só uma pena me existe, Minha doce jovenzinha.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda e Ruben Alves Intérprete: Monda Versão original: Monda com Rui Veloso (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)
Dançando, puleando
Dançando, puleando, brinca mais ele! Dançando, puleando, brinca mais ela! Dançando, puleando, brinca mais ele! És uma rosa amarela!
Anda daí, vem dançar Em cima deste ladrilho! Anda agora muito em moda Colher a flor ao junquilho.
Dançando, puleando, brinca mais ele! Dançando, puleando, brinca mais ela! Dançando, puleando, brinca mais ele! És uma rosa amarela!
Quando eu vejo uma velhinha Com as saias a arrojar, Lembra-me a minha avozinha No seu modesto trajar.
Dançando, puleando, brinca mais ele! Dançando, puleando, brinca mais ela! Dançando, puleando, brinca mais ele! És uma rosa amarela!
Dizem do amor que mata… Ai quem me dera morrer! Vale mais morrer de amores Do que de amores padecer.
Dançando, puleando, brinca mais ele! Dançando, puleando, brinca mais ela! Dançando, puleando, brinca mais ele! És uma rosa amarela!
Dançando, puleando, brinca mais ele! Dançando, puleando, brinca mais ela! Dançando, puleando, brinca mais ele! És uma rosa amarela!…
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Arranjo: Artesãos da Música Intérprete: Artesãos da Música Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)
De dia sonho contigo
[ Vira do Dia ]
De dia sonho contigo, À noite aqui te quero; Esquecer-te não consigo, De não te ter desespero.
Oh meu amor, quem te vira Trinta dias cada mês, Sete dias da semana, Cada instante uma vez!
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Acordo, sonho contigo, Fecho os olhos, só te vejo; Firme como o firmamento Só o bem que nos desejo.
É num sonho que começa O amor na vida inteira; Quem me dera viver sempre A sonhar desta maneira.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
É num sonho que começa O amor na vida inteira; Quem me dera viver sempre A sonhar desta maneira.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Letra: Tradicional do Alentejo, Macadame e Catarina Gouveia Música: Macadame Intérprete: Macadame Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Debaixo do lenço azul
[ Maria Campaniça ]
Debaixo do lenço azul com sua barra amarela os lindos olhos que tem! Mas o rosto macerado de andar na ceifa e na monda desde manhã ao sol-posto, mas o jeito de mãos torcendo o xaile nos dedos é de mágoa e abandono… Ai Maria Campaniça, levanta os olhos do chão que eu quero ver nascer o sol!
Poema: Manuel da Fonseca (in “Rosa-dos-Ventos”, Lisboa: Imprensa Baroeth, 1940; “Poemas Completos”, Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1958; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 3.ª edição, Lisboa: Portugália Editora, 1969 – p. 38; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 60) Música: Paulo Ribeiro Arranjo: Jorge Moniz Intérprete: Paulo Ribeiro Versão original: Paulo Ribeiro (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)
Deixei de olhar p’ra quem fui
[ Cantiga do Tempo Novo ]
Deixei de olhar p’ra quem fui, Do passado estou ausente; Às vezes mais vale a pena Rir de tudo o que faz pena Da alma triste da gente.
Vou lançar mãos à aventura, Correr noutra direcção; Quanto mais nos lamentamos Ainda mais presos ficamos E nos dói o coração.
Quando me ponho a pensar Em alguém que tanto quis, Já não me sento a chorar E até me dá p’ra cantar Modas que um dia lhe fiz.
Agora sinto-me livre, Sem nada p’ra me prender: E vou pela estrada fora Rumo ao sul, vou sem demora, Basta o sol p’ra me aquecer.
A nossa vida é um mar Com muitas marés e vagas: Não temos nada a perder, O melhor mesmo é viver Combatendo as nossas mágoas.
Tenho o mundo à minha espera, Há ilhas por descobrir: E há uma vontade nova, Um tempo que se renova, Novo amor que vai surgir.
Letra e música: Paulo Ribeiro Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016) Versão original: Paulo Ribeiro com o Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” (in CD “Aqui Tão Perto do Sol”, EMI-VC, 2002) Outra versão de Paulo Ribeiro (in CD “Canções 1998-2002”, Paulo Ribeiro, 2014)
Deste-me uma pêra verde
[ Calimero e a Pêra Verde (hanter-dro) ]
Deste-me uma pêra verde, Estava a meio de amadurar; Pêra verde, minha verde pêra, Não me venhas enganar!
Não me venhas enganar! A mim não me enganas, não! Pêra verde, minha verde pêra, Amor do meu coração.
O amor quando se perde É como a nódoa da amora: Só com outra amora verde A nódoa se vai embora.
Deste-me uma pêra verde, Estava a meio de amadurar; Pêra verde, minha verde pêra, Não me venhas enganar!
Não me venhas enganar! A mim não me enganas, não! Pêra verde, minha verde pêra, Amor do meu coração.
Pediste-me uma laranja, Meu pai não tem laranjal; Se queres um limão doce Vai à porta do meu quintal!
Deste-me uma pêra verde, Estava a meio de amadurar; Pêra verde, minha verde pêra, Não me venhas enganar!
Não me venhas enganar! A mim não me enganas, não! Pêra verde, minha verde pêra, Amor do meu coração.
Deste-me uma pêra verde, Estava a meio de amadurar; Pêra verde, minha verde pêra, Não me venhas enganar!
Não me venhas enganar! A mim não me enganas, não! Pêra verde, minha verde pêra, Amor do meu coração.
Letra: Tradicional do Baixo Alentejo (aprendida com Pedro Mestre e o grupo coral feminino “As Papoilas do Corvo”) Música: Pascale Rubens (para o duo Naragonia) + Tradicional do Baixo Alentejo (aprendida com Pedro Mestre e o grupo coral feminino “As Papoilas do Corvo”) Intérprete: Celina da Piedade Versões originais: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD 1, Celina da Piedade/Melopeia, 2012) Celina da Piedade com Naragonia (in 2CD “Em Casa”: CD2, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)
Diz a laranja ao limão
Diz a laranja ao limão: “Qual de nós será mais doce?” Sou fiel ao meu amor, Assim ele p’ra mim fosse.
Assim ele p’ra mim fosse, Fiel ao meu coração; “Qual de nós será mais doce?”, Diz a laranja ao limão.
Diz a laranja ao limão: “Qual de nós será mais doce?” Sou fiel ao meu amor, Assim ele p’ra mim fosse.
Assim ele p’ra mim fosse, Fiel ao meu coração; “Qual de nós será mais doce?”, Diz a laranja ao limão.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda e Ruben Alves Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016) Primeira versão: Vitorino (in LP “Não Há Terra Que Resista: Contraponto”, Orfeu, 1979, reed. Movieplay, 1991)
Dizem pr’aí que chegou
[ Maria da Rocha ]
Dizem pr’aí que chegou A liberdade apressada; Eu inda não dei por nada, Continuo sendo o que sou.
No Alentejo eu trabalho Cultivando a dura terra; Vou fumando o meu cigarro, Vou cumprindo o meu horário Lançando a semente à terra.
Maria da Rocha, Do alto rochedo. Quem namora a Rocha, Quem namora a Rocha Namora sem medo.
Namora sem medo, Medo de ninguém. Maria da Rocha, Maria da Rocha, Da Rocha, meu bem.
Quem me dera a lua Que nasce no mar: Fosse à tua rua De véu branco e nua P’ra te namorar.
P’ra te namorar, Quem me dera um dia Guardar o luar Que tens no olhar, Meu amor, Maria.
Maria da Rocha, Do alto rochedo. Quem namora a Rocha, Quem namora a Rocha Namora sem medo.
Namora sem medo, Medo de ninguém. Maria da Rocha, Maria da Rocha, Da Rocha, meu bem.
Letra: Vitorino (quadra “Dizem pr’aí que chegou”), Popular (Alentejo), e João Monge (quintilhas “Quem me dera a lua” e “P’ra te namorar”) Música: Popular (Alentejo) Intérprete: Duarte Versão original: Duarte (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Dorme, meu menino d’oiro
[ Aurora Tem um Menino ]
Dorme, meu menino d’oiro! Oh meu lindo amor! Não chores a tua sorte, Oh meu lindo amor! Oh meu lindo bem!
Que eu de ti nunca me perco, Oh meu lindo amor! Minha estrela do norte, Oh meu lindo amor! Oh meu lindo bem!
Aurora tem um menino Mas tão pequenino; O pai quem será? É o Zé da Aroeira Que vai p’rá Figueira, Mais tarde virá.
No adro de São Vicente, Onde há tanta gente, Aurora não está; Cala-te, Aurora, não chores, Que o pai da criança Mais tarde virá!
Cala-te, Aurora, não chores, Que o pai da criança Mais tarde virá!
Letra: Tradicional do Alentejo, e Celina da Piedade e Alex Gaspar (duas estrofes iniciais) Música: Tradicional do Alentejo Intérprete: Celina da Piedade Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)
É alegre e sonhadora
[ Andei a guardar o gado ]
É alegre e sonhadora A canção alentejana: Cantada ao romper de aurora Nas margens do Guadiana.
Andei a guardar o gado Em tempos que já lá vão: Deixei a vida do campo, Trabalho na construção.
Trabalho na construção, Já não me encosto ao cajado; Em tempos que já lá vão Andei a guardar o gado.
O Alentejo é que é O celeiro da nação; Nós somos alentejanos, Somos da terra do pão.
Andei a guardar o gado Em tempos que já lá vão: Deixei a vida do campo, Trabalho na construção.
Trabalho na construção, Já não me encosto ao cajado; Em tempos que já lá vão Andei a guardar o gado.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
É linda a dama a dançar
[ A vinda do rei a Beja ]
É linda a dama a dançar É linda a rosa em botão É lindo o Sol a raiar Na linda manhã de Verão
Ai que festa! Que linda festa! Como esta não se usou A vinda do Rei a Beja Foi o que mais m’agradou
Viva o Rei, viva a Rainha Vivam todos com prazer Uma festa como esta Já Beja não torna a ver
Desejava, desejava Ninguém sabe o meu desejo Desejava, linda rosa Em teu rosto dar um beijo
(Popular – Baixo Alentejo)
É tão lindo ver no campo
[ Trigueirinha alentejana ]
É tão lindo ver no campo Tão linda ceifando Trigueirinha alentejana Numa mão levas a foice Tão linda ceifando Noutra canudos de cana
Com seu traje à camponesa Tão linda ceifando Sempre de chapéu ao lado Cantando lindas cantigas Tão linda ceifando As espigas do pão sagrado
(Popular – Alentejo)
Entrai, pastores
Entrai, pastores, entrai Por este portal sagrado! Vinde ver o Deus-Menino Entre palhinhas deitado!
Li, ai li, ai li, ai lé! Jesus, Maria, José.
Entre os portais de Belém Está uma árvore de Jassé, Com três letrinhas que dizem: Jesus, Maria, José.
Li, ai li, ai li, ai lé! O Menino nascido é.
Letra e música: Tradicional (Peroguarda, Ferreira do Alentejo, Baixo Alentejo) Recolha: Michel Giacometti (“Entrai, pastores, entrai”, in LP “Alentejo”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1965; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 4 – Alentejo, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 5 – Alentejo, col. Portugal Som, Numérica, 2008) Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)
Estando eu na minha loja
[ João Brandão ]
Estando eu na minha loja, Encostado ao meu balcão, Mais brando… Encostado ao meu balcão,
Ouvi uma voz dizer: «Vais preso, João Brandão!» Mais brando… «Vais preso, João Brandão!»
Passarinho prisioneiro, Pela tua liberdade; Mais brando… Pela tua liberdade.
Eu cantando peço a Deus: Não haja aqui falsidade! Mais brando… Não haja aqui falsidade!
Estando eu na minha loja, Encostado ao meu balcão, Mais brando… Encostado ao meu balcão,
Ouvi uma voz dizer: «Vais preso, João Brandão!» Mais brando… «Vais preso, João Brandão!» Mais brando… «Vais preso, vais p’rá prisão!»
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Eu aprendi a cantar
[ Mondadeira Alentejana ]
[Cantiga primeira:]
Eu aprendi a cantar Lavrando em terra molhada, Lá na solidão dos campos Pensando em ti minha amada.
[Moda:]
Mondadeira alentejana Com seu lenço tapa o rosto: Anda à calma, chuva e vento Desde o nascer ao sol-posto.
Desde o nascer ao sol-posto, Do trabalho nasce a fama; Com seu lenço tapa o rosto, Mondadeira alentejana.
[Cantiga segunda:]
É alegre e sonhadora A canção alentejana: Cantada ao romper de aurora Nas margens do Guadiana.
[Moda:]
Mondadeira alentejana Com seu lenço tapa o rosto: Anda à calma, chuva e vento Desde o nascer ao sol-posto.
Desde o nascer ao sol-posto, Do trabalho nasce a fama; Com seu lenço tapa o rosto, Mondadeira alentejana.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
* Ponto – Manuel Pancadas Alto – Manuel Pontes
Eu ia não sei p’ra onde
[ Que Bonito Que Seria ]
Eu ia não sei p’ra onde, Encontrei não sei quem era: Encontrei o mês de Abril Procurando a Primavera.
Que bonito que seria Se houvesse compreensão: Os Homens não se matavam E davam-se como irmãos.
É tão linda a liberdade Até que chegou o dia; Se houvesse compreensão Então, que bonito que seria!
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Eu ouvi um passarinho
[ Alentejo ]
1. Eu ouvi um passarinho às quatro da madrugada, Cantando lindas cantigas à porta da sua amada.
2. Ao ouvir cantar tão bem a sua amada chorou. Às quatro da madrugada o passarinho cantou.
3. Alentejo quando canta, vê quebrada a solidão; traz a alma na garganta e o sonho no coração.
4. Alentejo, terra rasa, toda coberta de pão; a sua espiga doirada lembra mãos em oração.
Eu só quero que me fales
[ Afã ]
Eu só quero que me fales De cantigas e de vinho; Deixa lá e não te rales, Deus perdoa o descaminho!
Eu só quero que me fales De cantigas e de vinho; Deixa lá e não te rales, Deus perdoa o descaminho!
Deixa essa gente vã Com conversas e intrigas. Elas não interessam nada Pois o meu maior afã É beber minha golada De vinho na tarde vã, Ao som de belas cantigas.
Poema: Al-Mu’tamid (1040-1095); trad. Adalberto Alves (in “O Meu Coração É Árabe: A Poesia Luso-Árabe”, Lisboa: Assírio & Alvim, 1987, 2.ª edição, 1991 – p. 151) Música: Paulo Ribeiro e Pedro Frazão Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016) [gravado na sala A Bruxa Teatro, Évora, Fev. 2017 ] Versão original: Anonimato (in CD “Anonimato”, Heaven Sound, 1993) Outras versões: Paulo Ribeiro (in CD “Aqui Tão Perto do Sol”, EMI-VC, 2002); Paulo Ribeiro (in CD “Canções 1998-2002”, Paulo Ribeiro, 2014)
Eu subi àquele monte
[ Altinho ]
Eu subi àquele monte para ver se te esquecia; Quanto mais alta estava mais o meu amor crescia.
Quero ir para o altinho que eu daqui não vejo bem; Quero ir ver o meu amor se ele adora mais alguém.
Se ele adora mais alguém, se ele me ama a mim sozinha, que eu daqui não vejo bem, quero ir para o altinho.
que eu daqui não vejo bem, quero ir para o altinho.
Letra: Tradicional do Alentejo, e Celina da Piedade e Alex Gaspar (quadra “Eu subi àquele monte”) Música: Tradicional do Alentejo, e Toon Van Mierlo e Pascale Rubens Intérprete: Celina da Piedade Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)
Évora doce
Évora doce Negro vestido Por capelinhas Cercada d’ouro Trigo em tesouro Mulher rainha
Guardas histórias Guerras e amores Por ti vividas E tens no quarto Cercando a praça Mil avenidas
São tuas mágoas Que são escutadas Quando da Sé Por entre as horas Amargurada Bates o pé
E os teus cabelos Ficam mais belos Quando tu vês Capas traçadas Numa guitarra Cantando o que és
Évora doce Negro vestido Por capelinhas Cercada d’ouro Trigo em tesouro Mulher rainha
Envergonhada Se o Alentejo Lhe pede um beijo E às escondidas P’ra ninguém ver Mata o desejo
Letra e música: Duarte Intérprete: Duarte (in CD “Aquelas coisas da Gente”, JBJ & Viceversa, 2009) Primeira versão: Duarte (in CD “Fados Meus”, Ovação, 2004)
Fez sábado quinta-feira
Fez sábado quinta-feira, P’ra lá d’Évora três semanas, Estive dez dias num Verão Nas Américas Romanas.
Embarquei em dois caleiros Na baía de Lisboa; Arribei, fui dar a Goa, Desembarquei em Alenquer; Casei com sete mulheres, Falta uma p’rá primeira; Fui dar à Ilha Terceira, Com três dias numa hora; Abalei e vim-me embora, Fez sábado quinta-feira.
Agarrei nos alforginhos, Pus um pão em quatro enxacas, Na gamela duas vacas E na borracha toucinho; Um açafate com vinho, Trinta metros de banana; Dei passos à americana, Fui passar a Ayamonte; Abalei hoje, cheguei ontem P’ra lá d’Évora três semanas.
Eu já estive em Erapouca, Numa ocharia empregado; Foi-se um carro carregado Numa abóbora canoca; Um mosquito com um boi na boca Cem léguas em proporção; Atirei-lhe um bofetão Que pelo ar o fez ir; À espera dele cair Estive dez dias num Verão.
Fui soldado, assentei praça No 15 de Sapadores; Maquinista de vapores Na carreira de Alcobaça; Venci o Forte da Graça, Também a Vila de Terena E as províncias arraianas, Venci toda a nobrezia; Bati-me com a Turquia Nas Américas Romanas.
Fez sábado quinta-feira, P’ra lá d’Évora três semanas, Estive dez dias num Verão Nas Américas Romanas.
Letra: Popular Música: José Manuel David Arranjo e direcção musical: José Manuel David Intérprete: Gaiteiros de Lisboa com Luís Espinho e João Paulo Sousa (Adiafa) (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012)
Foi Conde da Vidigueira
[ Conde da Vidigueira ]
Foi Conde da Vidigueira Um herói alentejano Com seus barcos de madeira Não temeu o oceano
Esse herói de grande fama Na Índia içou bandeira O grande Vasco da Gama Foi Conde da Vidigueira
(Popular – Vidigueira, Baixo Alentejo)
Folheia-se o caderno e eis o sul
[ Alentejo ]
Folheia-se o caderno e eis o sul E o sul é a palavra. E a palavra Desdobra-se No espaço com suas letras de Solstício e de solfejo Além de ti Além do Tejo
Verás o rio e talvez o azul Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio Mas aquela grande linha onde o abstracto Começa lentamente a ser o Sul
Outro é o tempo Outra a medida
Tão grande a página Tão curta a escrita
Entre o achigã e a perdiz Entre chaparro e choupo
Tanto país E tão pouco
Solidão é companheira E de senhor são seus modos Rei do céu de todos E de chão nenhum
À sombra de uma azinheira Há sempre sombra para mais um
Na brancura da cal o traço azul Alentejo é a última utopia
Todas as aves partem para o sul Todas as aves: como a poesia
Manuel Alegre (Alentejo e ninguém)
Gosto muito dos teus olhos
[ O Mocho ]
Gosto muito dos teus olhos, ó Maria, Muito mais gosto dos meus; Se não fossem os meus olhos, ó Maria, Não podia amar os teus.
O triste do mocho piava, Ó lari, lariava, Em cima da melancia, ó Maria; Maria, Maria, Maria Capitôa Dos montes, tiroli, ó terrim, tim, tim; As mulheres são a alegria de mim.
Eu não quero mais amar, ó Maria, Que eu do amar tenho medo; Eu não quero arriscar, ó Maria, A pagar o que eu não devo.
O triste do mocho piava, Ó lari, lariava, Em cima da melancia, ó Maria; Maria, Maria, Maria Capitôa Dos montes, tiroli, ó terrim, tim, tim; As mulheres são a alegria de mim.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)
Grândola, vila morena
Grândola, vila morena, terra da fraternidade, o povo é quem mais ordena dentro de ti, ó cidade.
Dentro de ti, ó cidade, o povo é quem mais ordena, terra da fraternidade, Grândola, vila morena.
Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade, Grândola, vila morena, t erra da fraternidade.
Terra da fraternidade, Grândola, vila morena, em cada rosto igualdade, o povo é quem mais ordena.
À sombra duma azinheira que já não sabia a idade, jurei ter por companheira, Grândola, a tua vontade.
Grândola, a tua vontade jurei ter por companheira, à sombra duma azinheira que já não sabia a idade.
Letra e música: José Afonso Intérprete: José Afonso (in “Cantigas do Maio”, Orfeu, 1971; reed. Movieplay, 1987)
Há ondas, meu bem
[ Sou das Ondas ]
Há ondas, meu bem, há ondas, Há ondas sem ser no mar: Há ondas no teu cabelo, Há ondas no teu olhar.
Sou das ondas, sou das ondas, Sou das ondas, sou do mar; Meu amor já me deixou, Meu amor vai-me deixar.
Nas ondas do mar, lá fora, Aprendi eu a cantar Numa barquinha doirada, Ó meu bem, a navegar.
Há ondas, meu bem, há ondas, Há ondas sem ser no mar: Há ondas no teu cabelo, Há ondas no teu olhar.
Sou das ondas, sou das ondas, Sou das ondas, sou do mar; Meu amor já me deixou, Meu amor vai-me deixar.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Paulo Ribeiro
Há um sobreiro velhinho
[ Sobreiro Velhinho ]
Há um sobreiro velhinho Que nasceu à meia-encosta: É a casa dos pardais, Malhada dos animais, Faz sombra que o pastor gosta.
Faz sombra que o pastor gosta Nos dias quentes de Verão; Põe o seu gado ao acarro, Da cortiça faz um tarro, Corta a lenha, faz carvão.
Corta a lenha, faz carvão E nasce um novo raminho Da Primavera ao Inverno; Deus queira que seja eterno, Há um sobreiro velhinho.
O sobreiro é obrigado A sustentar a cortiça; Quem não ama de vontade, Seja qual for a idade, Não se obriga por justiça.
Há um sobreiro velhinho Que nasceu à meia-encosta: É a casa dos pardais, Malhada dos animais, Faz sombra que o pastor gosta.
Faz sombra que o pastor gosta Nos dias quentes de Verão; Põe o seu gado ao acarro, Da cortiça faz um tarro, Corta a lenha, faz carvão.
Corta a lenha, faz carvão E nasce um novo raminho Da Primavera ao Inverno; Deus queira que seja eterno, Há um sobreiro velhinho.
Letra e música: Martinho Marques Arranjo: José Manuel David Intérprete: Pedro Mestre com Pedro Calado & Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre com Pedro Calado & Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Já lá vem o Sol nascendo
[ Sarapateado ]
Já lá vem o Sol nascendo Por entre as nuvens sombrias; Como pode o Sol ser velho Se nasce todos os dias?
Se eu for presa por cantar Não calarei a garganta! Eu sou como o passarinho Que até na gaiola canta.
Ai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Ai sim, meu bem, sarapateado.
Meu coração é um quarto Que tudo lhe cabe dentro: Vai ouvindo, arrecadando… Falará quando for tempo.
Ai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Ai sim, meu bem, sarapateado.
Semeei no meu jardim… Só cravos são mais de mil; Os cravos que lá nasceram São cravos do mês de Abril.
Ai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Ai sim, meu bem, sarapateado.
Ai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Ai sim, meu bem, sarapateado.
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Recolhas: José Alberto Sardinha (1984, “Portugal – Raízes Musicais”: CD5 – Estremadura, Ribatejo e Alentejo, BMG/JN, 1997) e José Leite de Vasconcelos (quadras “Já lá vem o Sol nascendo”, “Meu coração é um quarto” e “Semeei no meu jardim”, in “Cancioneiro Popular Português”, 3 vols., Coimbra: Universidade de Coimbra, 1975-1984) Intérprete: Macadame (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa) Primeira versão de Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Já são horas da merenda
Já são horas da merenda; Ai, vamo-nos a merendar Gaspachinho com vinagre, Ai, para o peito refrescar!
Já se vai o Sol a pôr Ai, para trás do cabecinho; Bem quisera o nosso amo Ai, prendê-lo c’um baracinho.
Já são horas da merenda; Ai, vamo-nos a merendar Gaspachinho com vinagre, Ai, para o peito refrescar!
Já se vai o Sol a pôr Ai, para trás do cabecinho; Bem quisera o nosso amo Ai, prendê-lo c’um baracinho.
Letra e música: Tradicional Recolha: Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça Intérprete: Macadame Primeira versão de Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Lá nos campos
[ Eu fui apanhar marcela ]
Lá nos campos, verdes campos Eu fui apanhar marcela Daquela mais miudinha Daquela mais amarela
Daquela mais amarela Daquela mais miudinha Lá nos campos, verdes campos A marcela, a marcelinha
(Popular – Alentejo)
Lá traz a cegonha
[ Popular alentejana ]
Lá traz a cegonha no bico o raminho. Que seja bem-vinda branquinha, tão linda ao seu velho ninho.
Senhora cegonha, como tem passado? Não há quem a veja voar p’rá Igreja, pousar no telhado.
Quando chega o Outono e o bando levanta, anuncia a hora que se vai embora, leva a meia branca.
Lá vai Serpa, lá vai Moura
[ Se Fores ao Alentejo ]
Lá vai Serpa, lá vai Moura E as Pias ficam no meio; Em chegando à minha terra Não há que haver arreceio.
Não há que haver arreceio, Lá vai Serpa, lá vai Moura, Lá vai Serpa, lá vai Moura E as Pias ficam no meio.
Se fores ao Alentejo, Não leves vinho nem pão! Leva o coração aberto E o teu filho pela mão!
Se fores ao Alentejo, Não leves vinho nem pão! Leva a rosa da justiça E o teu filho pela mão!
Lá vai Serpa, lá vai Moura E as Pias ficam no meio; Em chegando à minha terra Não há que haver arreceio.
Não há que haver arreceio, Lá vai Serpa, lá vai Moura, Lá vai Serpa, lá vai Moura E as Pias ficam no meio.
Letra: Popular (Baixo Alentejo) e Eduardo Olímpio Música: Edmundo Silva Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Lá vai uma embarcação
Lá vai uma embarcação Por esses mares fora; Por aqueles que lá vão Há muita gente que chora.
Há muita gente que chora Com mágoas no coração; Por esses mares fora Lá vai uma embarcação.
Ó mar alto, ó mar alto, Ó mar alto sem ter fundo! Mais vale andar no mar alto Que nem nas bocas do mundo.
Lá vai uma embarcação Por esses mares fora; Por aqueles que lá vão Há muita gente que chora.
Há muita gente que chora Com mágoas no coração; Por esses mares fora Lá vai uma embarcação.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006) Outra versão: Rão Kyao & Os Ganhões de Castro Verde (in CD “Rão Kyao & Riccardo Tesi: Live in Sete Sóis”, Associação Sete Sóis Sete Luas, 2005)
Lembra-me o tempo passado
[ O Almocreve ]
Lembra-me o tempo passado, Tudo se vai acabando: O boi puxando o arado, O almocreve cantando…
O almocreve cantando Semeando o verde prado. Quando vejo alguém lavrando Lembra-me o tempo passado.
A vida do almocreve É uma vida arriscada: Ao descer uma ladeira, Ao cerrar duma carrada.
Lembra-me o tempo passado, Tudo se vai acabando: O boi puxando o arado, O almocreve cantando…
O almocreve cantando Semeando o verde prado. Quando vejo alguém lavrando Lembra-me o tempo passado.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Linda cara que tu tens
[ Fadinho Alentejano ]
Linda cara que tu tens, já sei, Quando chegas noite fora. À espera à porta de casa, Está o teu pai que te adora.
Lindos olhos tem o mocho, piu, Quando a noite vem chegando. P’ra deixar passar a noite, Uma moda eu vou cantando.
Muda a água às azeitonas, Rega bem os teus tomates, Tem lá cuidado com a horta! O cravo já está no vaso, Sim, senhora, por acaso.
Abalaste para Lisboa, pois, Deixaste-me ao pé da porta. Tu seguiste o teu caminho, A minha alma ficou torta.
Quando cheguei ao Barreiro, já fui, Lisboa estava fechada. Voltei p’ra casa a cantar, Uma vida abençoada.
Muda a água às azeitonas, Rega bem os teus tomates, Tem lá cuidado com a horta! O cravo já está no vaso, Sim, senhora, por acaso.
Letra e música: Paulo de Carvalho Intérprete: Ricardo Ribeiro Versão original: Ricardo Ribeiro com o Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Hoje É Assim, Amanhã Não Sei”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2016)
Maldita sociedade
[ Camponês Alentejano ]
Maldita sociedade, Estás tão mal organizada: Quem não trabalha tem tudo, Quem trabalha não tem nada!
Camponês alentejano, Camponês agricultor: Tu trabalhas todo o ano, Dás produto ao lavrador.
Dás produto ao lavrador, Tua vida é um engano: É tão triste o teu valor, Camponês alentejano!
Todo o homem que trabalha Não deve nada a ninguém: Aquele que nada faz Deve tudo quanto tem.
Camponês alentejano, Camponês agricultor: Tu trabalhas todo o ano, Dás produto ao lavrador.
Dás produto ao lavrador, Tua vida é um engano: É tão triste o teu valor, Camponês alentejano!
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Mariana canta ao despique
[ Ti Mariana ]
Mariana canta ao despique: Fez do cante a sua lida, Ali p’rós lados de Ourique, Nessa planície perdida.
Nessa planície perdida, Nesse Alentejo adorado, Ti Mariana achou a vida E fez do cante o seu fado.
E fez do cante o seu fado, Cantando com o coração; As modas vão dando brado Ao velho estilo baldão.
Quem canta seu mal espanta, É o ditado que o diz; Cantar afina a garganta, Povo que canta é feliz.
Mariana canta ao despique: Fez do cante a sua lida, Ali p’rós lados de Ourique, Nessa planície perdida.
Nessa planície perdida, Nesse Alentejo adorado, Ti Mariana achou a vida E fez do cante o seu fado.
E fez do cante o seu fado, Cantando com o coração; As modas vão dando brado Ao velho estilo baldão.
A viola campaniça, Em meus dedos dedilhando, Acompanha sem preguiça Qualquer Mariana cantando.
Mariana canta ao despique: Fez do cante a sua lida, Ali p’rós lados de Ourique, Nessa planície perdida.
Nessa planície perdida, Nesse Alentejo adorado, Ti Mariana achou a vida E fez do cante o seu fado.
E fez do cante o seu fado, Cantando com o coração; As modas vão dando brado Ao velho estilo baldão.
Letra: Rosa Guerreiro Dias Música: José Manuel David Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Menina estás à janela
Menina estás à janela Com o teu cabelo à lua Não me vou daqui embora Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda dela Com o teu cabelo à lua Menina estás à janela
Os olhos requerem olhos E os corações, corações E os meus requerem os teus Em todas as ocasiões
Letra e música: Popular (Alentejo) Recolha e adaptação: Vitorino Intérprete: Vitorino Versão original: Vitorino (in “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975; reed. Movieplay, 1999) Versão instrumental: Opus Ensemble (in “Temas do cancioneiro Português”, EMI Classics, 1987; reed. 1998)
Mértola dormia frente ao Guadiana
[ Em Mértola ]
Mértola dormia frente ao Guadiana branca, branca, branca torre de menagem, torre de vigia de quem mais se ama iam nas pedrinhas, pequeninos rios do suor da terra alentejana para lá dos montes, pertinho da raia onde a terra passa a ser estranha
Com um sol a pique frente a uma mesquita branca, branca, branca subindo ao castelo, subindo à vigia vendo o panorama pr’além das muralhas, para aquém dos montes prendiam-se os olhos à bonita ficavam nos verdes, ficavam nos brancos ficavam nos tempos da Moirama
Suando pestanas, frente a uma cegonha branca, branca, branca Mértola corria frente ao Guadiana por quem se derrama o sol que há nos olhos, o mel que há no peito a dor que há no corpo de quem sonha com o sabor das ervas, no cheiro das águas no voltar a ver a quem mais se ama
Ia viajante frente à moradia branca, branca, branca ia sendo moira, noiva tão serena e alma cigana o lenço voando, batia no rosto no silêncio olhava o que não via para lá da terra, para lá dos montes nunca mais veria a tarde calma
Mértola dormia frente ao Guadiana branca, branca, branca torre de vigia, torre de menagem a quem mais se ama iam nas pedrinhas, pequeninos rios do amor à terra alentejana para lá dos montes, pertinho da raia onde a terra passa a ser Espanha
Poema e música: Teresa Muge Intérprete: Amélia Muge (in CD “Múgica”, UPAV, 1992)
Minha mãe, estou de abalada
[ Minha Mãe, Sou um Mainante ]
Minha mãe, estou de abalada: Parto já, neste instante; Adeus, minha mãe amada, Vou p’rá vida de mainante.
De manta ao ombro e bordão, Trilho caminhos de amargura: Tenho fome, não tenho pão, Durmo assim na noite escura.
Rompe o sol de manhãzinha E o povoado é distante: Cantando p’ra ti, mãezinha, Esta vida de mainante.
As lágrimas não me apagam As queixas e os martírios: Só as estrelas acalmam, À noite, os meus delírios.
De manta ao ombro e bordão, Trilho caminhos de amargura: Tenho fome, não tenho pão, Durmo assim na noite escura.
Rompe o sol de manhãzinha E o povoado é distante: Cantando p’ra ti, mãezinha, Esta vida de mainante.
O meu chão é chão barrento Pisado com ternura, De quem dorme ao relento E faz dele a sepultura.
Letra: Romão Janeiro Música: Paulo Ribeiro Intérprete: Paulo Ribeiro Versão original: Grupo Coral “Os Mainantes” de Pias (in CD “Entre Mestres e Aprendizes”, de Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” & “Os Mainantes”, Açor/Emiliano Toste, 2016)
Moreninha alentejana
– Moreninha alentejana, quem te fez, morena, assim? – Foi o sol da Primavera que caía sobre mim.
Que caía sobre mim, que andava a ceifar o trigo. – Moreninha alentejana, por que não casas comigo?
Por que não casas comigo? Por que não casas com ela? – Quem te fez, morena, assim? – Foi o sol da Primavera.
Morreu Francisco Romão
[ Francisco Romão ]
Morreu Francisco Romão Que pelas ruas cantava; Já morreu aquele amigo Que era quem tanto estimava.
Que era quem tanto estimava, Que era quem estimava tanto. Morreu Francisco Romão, Já pelas ruas não canto.
Morreu Francisco Romão Que pelas ruas cantava; Já morreu aquele amigo Que era quem tanto estimava.
Que era quem tanto estimava, Que era quem estimava tanto. Morreu Francisco Romão, Já pelas ruas não canto.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra* (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
TERRA
Luz que actua
[ Gaia de Saia ]
Luz que actua, Lua cheia em ti, faz querer viver mais Expões o corpo receptivo à noite, dons de fértil musa
Iluminar põe o clima a subir, noite de clara Lua Numa dança de saia rodada a sorrir, que essa tua vida é tua
Mãe dos homens que gera vida e luz Gaia Deusa, musa, Mulher nua Não se tomba, não se deixa cair Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua
Mãos de força vergam o tempo a teimar, a lutar sem desistir Tais direitos nem se devem questionar, direito a se expressar
Ser um ventre e um colo protector, e voluntária na sua dor Ser mulher é existir entre os iguais, é resistir muito mais
Mãe dos homens que gera vida e luz Gaia Deusa, musa, Mulher nua Não se tomba, nem se deixa cair Que essa tua vida é tua, vida é tua
Mãe dos homens que gera vida e luz Gaia Deusa, Mulher nua Não se tomba, nem se deixa cair Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua
Letra e música: Luís Pucarinho Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Nunca Marta pressentiu
[ Marta Encruzilhada ]
Nunca Marta pressentiu A reboque bem sentada Que o trilho que faz um desvio Fosse dar à sua estrada
Nunca o sol a torriscou Nunca à chuva foi molhada Nunca ao vento esteve ao frio E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o bem esteve tão mal E nunca o mal veio de frente Não se faz vida do nada Não se faz do nada gente
E não se faz do nada gente
E nesse trilho com desvio O seu reboque não passava E nunca antes Marta sentiu E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o sol a torriscou E nunca à chuva foi molhada E nunca ao vento esteve ao frio E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o bem esteve tão mal E nunca o mal veio de frente E não se faz vida do nada E não se faz do nada gente
E não se faz do nada gente E não se faz…
E nunca o sol a torriscou Nunca à chuva foi molhada Nunca ao vento esteve ao frio E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o bem esteve tão mal E nunca o mal veio de frente E não se faz vida do nada E não se faz do nada gente
E nunca o sol a torriscou Nunca à chuva foi molhada Nunca ao vento esteve ao frio E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o bem esteve tão mal E nunca o mal veio de frente Não se faz vida do nada E não se faz do nada gente
Letra e música: Luís Pucarinho Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Luís Pucarinho, SaiArodada
* Luís Pucarinho – guitarras e voz Afonso Castanheira – contrabaixo Jéssica Pina – trompete Mário Lopes – bateria e pad Ideia original e produção – Luís Pucarinho Gravado em A’MAR Estúdios (Baleal, Peniche), Estúdio Azul (Évora), Estúdio Nuno e Jaime Romano (Alcácer do Sal) e Estúdio Pé-de-Vento (Foros de Salvaterra, Salvaterra de Magos), de 2016 a 2018 Mistura – Luís Pucarinho e Fernando Nunes (Estúdio Pé-de-Vento) Masterização – Fernando Nunes
Na sociologia do vinho
Na sociologia do vinho é que se brinda! É de azeite a gordura que agradece a quentura da lã ventre de linho e o gosto da azeitona verde, verde.
No suor do cajado lã de ovelha firma-se o peito, esteva velha.
Nas patas do rafeiro é que se alonga a geometria do sul desfeita em cal e a rijeza dos nervos já perdida.
A cegonha já acena um bater de asas. Sangrado o campo, mirradas são as casas. Não são homens; são sombra toda sal, Só vultos de lentidão ferida.
É no traço do sul que mais se acolhe o ermo das lonjuras desenhadas: A sombra, o silêncio e a tristeza de tristezas mal balbuciadas.
Geométrico sul, cal e planura Loiro de água verde adormecida. Quem te dará um alento uma saída de alma clara em escancarada alvura?
Só no cantar do sul o tempo dura…
Letra: Afonso Dias Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Namorei sempre à tardinha
[ A Moda do Chegadinho ]
Namorei sempre à tardinha Certas moças da minha aldeia: Fosse magra, fosse gordinha, Bonita ou menos feia.
Chegadinha, chegadinha a mim, Chegadinho, chegadinho a ela; Chegadinho, chegadinha, chegadinhos Ao postigo e à janela.
Brinquei com uma, brinquei com duas, Duas, três, quatro ou cinco; Brinquei contigo, brinquei com ela, Já sou casado e agora já não brinco.
Chegadinha, chegadinha a mim, Chegadinho, chegadinho a ela; Chegadinho, chegadinha, chegadinhos Ao postigo e à janela.
Sou casado e com juízo, Mas não deixo de pensar Quando vejo moças catitas À janela a namorar.
Chegadinha, chegadinha a mim, Chegadinho, chegadinho a ela; Chegadinho, chegadinha, chegadinhos Ao postigo e à janela.
Letra e música: Francisco Naia Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Namorei uma costureira
[ Zuca, Zuca ]
Namorei uma costureira Pelo buraco da chave; Ela estava zuca, zuca, Ela estava zuca, zuca; “Esta porta não se abre!”
“Esta porta não se abre, Ela é muito má de abrir!” Ela estava zuca, zuca, Ela estava zuca, zuca, E a mamã estava dormir.
A mamã estava a dormir, E a mamã estava deitada; Ela estava zuca, zuca, Ela estava zuca, zuca, Era já de madrugada.
Era já de madrugada, Era ao nascer do Sol; Ela estava zuca, zuca, Ela estava zuca, zuca, E o cu dela era um fole.
O cu dela era um fole E a barriga era um sarilho; Ela estava zuca, zuca, Ela estava zuca, zuca Com o dedo no gatilho.
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Adaptação: Pedro Mestre Arranjo: José Manuel David Intérprete: Pedro Mestre* (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Não é a ceifa que mata
Terra Sagrada do Pão
Não é a ceifa que mata Nem os calores do Verão É a erva unha-gata O cardo pica na mão
Alentejo, Alentejo Terra sagrada do pão Eu hei-de ir ao Alentejo Inda que seja no Verão
Ver o doirado do trigo Na imensa solidão Alentejo, Alentejo Terra sagrada do pão
Eu sou devedor à terra A terra me está devendo A terra paga-me em vida Eu pago à terra em morrendo
(Popular – Alentejo)
Não quero mais nada no mundo
[ Nos Campos de Castro Verde ]
[Cantiga:]
Não quero mais nada no mundo Senão uma sepultura: Para sepultar meus olhos Que nasceram sem ventura.
[Moda:]
Nos campos de Castro Verde Houve uma grande batalha: Onde D. Afonso Henriques Ganhou a sua medalha.
Ganhou a sua medalha, Sem abrigo de parede: Deu a luz a Portugal Nos campos de Castro Verde.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006) Outra versão do Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994)
Nasce o Sol no Alentejo
Nasce o Sol no Alentejo, Nasce água clara na fonte; Nasce em mim a saudade Da lareira do teu monte.
Quem me dera ser o trigo Que ciranda na peneira, E poder andar contigo Cirandando a vida inteira.
Não há cravo como o branco Que até no cheirar é doce, Nem amor como o primeiro Se ele fingido não fosse.
Pelas estrelas da noite Regulam-se os marinheiros, E eu pelos teus lindos olhos Que são astros mais certeiros.
Às ceifeiras nunca digas Madrigais no teu cantar, Pois se vão em tais cantigas Fica o trigo por ceifar.
Eu não sei por que motivo Tu me recusas um beijo!… Ao menos sei porque vivo Tão preso ao teu Alentejo.
Ronda dos Quatro Caminhos, Outras Terras
Letra e música: Popular (Alentejo) Recolha: José Alberto Sardinha Arranjo: António Prata, com Carlos Barata e Pedro Fragoso Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD1, Ovação, 2001) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Outras Terras”, Ronda dos Quatro Caminhos, 1999)
No Alentejo eu trabalho
[ É tão grande o Alentejo ]
No Alentejo eu trabalho Cultivando a dura terra; Vou fumando o meu cigarro, Vou cumprindo o meu horário Lá na encosta da serra.
É tão grande o Alentejo, Tanta terra abandonada! A terra é que dá o pão: Para bem desta nação Devia ser cultivada.
Tem sido sempre esquecido À margem ao sul do Tejo: Há gente desempregada, Tanta terra abandonada! É tão grande o Alentejo!
Trabalha, homem, trabalha Se queres ter o teu valor! Os calos são os anéis, Os calos são os anéis Do homem trabalhador.
É tão grande o Alentejo, Tanta terra abandonada! A terra é que dá o pão: Para bem desta nação Devia ser cultivada.
Tem sido sempre esquecido À margem ao sul do Tejo: Há gente desempregada, Tanta terra abandonada! É tão grande o Alentejo!
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006) Outra versão: Dulce Pontes & Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Primeiro Canto”, de Dulce Pontes, Polydor B.V. the Netherlands/Universal, 1999; CD “O Círculo Que Leva a Lua”, do Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003)
No nosso Alentejo
[ Trigueira de raça ]
No nosso Alentejo é tão lindo ouvir cantar as ceifeiras, ver as mondadeiras no campo a sorrir.
Trigueira de raça, quem te fez assim ceifando os trigais, ouvindo os teus ais com pena de mim?
Eu por ti chorando alegre e cantando sinto o teu desejo, linda trigueirinha, linda alentejana, dá-me cá um beijo.
À sombra da silva é que eu adormeço sonhando contigo. Linda alentejana, eu não te mereço.
Popular Alentejano
No tempo da Primavera
No tempo da Primavera, há lindas flores no prado. Canta, ó lindo passarinho, ao nascer do sol doirado.
Ao nascer do Sol doirado, Ó meu amor, quem me dera, Pisando os mimosos prados No tempo da Primavera.
Letra e música: Popular (Baixo Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ceifeiros de Cuba” (in CD “Musical Traditions of Portugal”, col. Traditional Music of the World, vol. 9, Smithsonian Folkways/International Institute for Traditional Music, 1994)
Nove casas
[ Aldeia ]
Nove casas, duas ruas, ao meio das ruas um largo, ao meio do largo um poço de água fria.
Tudo isto tão parado e o céu tão baixo que quando alguém grita para longe um nome familiar se assustam pombos bravos e acordam ecos no descampado.
Poema: Manuel da Fonseca (in “Planície”, Coimbra: Novo cancioneiro, 1941; “Poemas Completos”, Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1958; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 2.ª edição, Lisboa: Portugália Editora, 1963 – p. 93; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 106) Música: Paulo Ribeiro Intérprete: Paulo Ribeiro com Manuel João Vieira (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)
Poemas de Manuel da Fonseca, canções de Paulo Ribeiro
Ó Alentejo dos pobres
[ Margem Sul (Canção Patuleira) ]
Ó Alentejo dos pobres, reino da desolação, não sirvas quem te despreza, é tua a tua nação.
Não vás a terras alheias lançar sementes de morte. É na terra do teu pão que se joga a tua sorte.
Terra sangrenta de Serpa, terra morena de Moura, vilas de angústia em botão, doce raiva em Baleizão.
Ó margem esquerda do Verão mais quente de Portugal, margem esquerda deste amor feito de fome e de sal.
A foice dos teus ceifeiros trago no peito gravada, ó minha terra morena como bandeira sonhada.
Terra sangrenta de Serpa, terra morena de Moura, vilas de angústia em botão, doce raiva em Baleizão.
Adriano Correia de Oliveira, Margem Sul
Poema: Urbano Tavares Rodrigues Música: Adriano Correia de Oliveira Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in “Margem Sul”, Orfeu, 1967; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)
Ó Ana
Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Dá um jeitinho à cintura! Lá na tua terra, ó Ana, Nem a tua mãe te atura!
Nem a tua mãe te atura Nem o S. Bartolomeu! Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Tu és minha e eu sou teu!
Tu és minha e eu sou teu! Eu sou teu e tu és minha! Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Dá lá mais uma voltinha!
Muito gosto eu de ver As pernas às raparigas: Se são grossas ou delgadas, Se são curtas ou compridas!
Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Dá um jeitinho à cintura! Lá na tua terra, ó Ana, Nem a tua mãe te atura!
Nem a tua mãe te atura Nem o S. Bartolomeu! Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Tu és minha e eu sou teu!
Tu és minha e eu sou teu! Eu sou teu e tu és minha! Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Dá lá mais uma voltinha!
Meu amor é pequenino: Às escuras não no acho; Uma pulga deu-lhe um coice: Deitou-o da cama abaixo.
Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Dá um jeitinho à cintura! Lá na tua terra, ó Ana, Nem a tua mãe te atura!
Nem a tua mãe te atura Nem o S. Bartolomeu! Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Tu és minha e eu sou teu!
Tu és minha e eu sou teu! Eu sou teu e tu és minha! Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Dá lá mais uma voltinha!
Já dormi na tua cama, Já mijei no teu penico, Já te tirei três vinténs… Nem por isso estou mais rico.
Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Dá um jeitinho à cintura! Lá na tua terra, ó Ana, Nem a tua mãe te atura!
Nem a tua mãe te atura Nem o S. Bartolomeu! Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Tu és minha e eu sou teu!
Tu és minha e eu sou teu! Eu sou teu e tu és minha! Ó Ana, ó Ana, ó Ana, Dá lá mais uma voltinha!
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Arranjo: Artesãos da Música Intérprete: Artesãos da Música Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)
Ó águia que vais tão alta
Ó águia que vais tão alta, voando de pólo em pólo, leva-me ao céu onde eu tenho a mãe que me trouxe ao colo.
A mãe que me trouxe ao colo ficou-me fazendo falta, voando de pólo em pólo, ó águia que vais tão alta.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
O Alentejo é que é
[ Cidades, Vilas e Montes ]
O Alentejo é que é O celeiro da nação; Nós somos alentejanos, Nós somos alentejanos, Somos da terra do pão.
É linda a Reforma Agrária Nos campos do Alentejo: Aumentou a produção, Deu para todos mais pão, É isso que eu mais invejo.
Cidades, vilas e montes, Unidade a trabalhar: Só assim a reacção, Gente má sem coração, Nunca mais pode passar.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, ?; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
O Alentejo não tem sombras
[ As Flores da Nossa Terra ]
O Alentejo não tem sombras Se não as que vêm do céu; E o camponês tem abrigo, E o camponês tem abrigo Às abas do seu chapéu.
Flores da nossa terra Que abandonaram as mães Numa linda romaria Feita com muita alegria: Foram dar a Guimarães.
Foram dar a Guimarães, Recordação que se encerra; Abandonaram as mães E foram a Guimarães Flores da nossa terra.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, ?; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Ó Estação de Ourique
Ó Estação de Ourique Onde eu tive amores! Onde há pirolitos E também há flores.
Tem um largo ao meio Mesmo na estação, Param os comboios Que vão p’ra Garvão.
Salta a malta nova Vinda no furgão; Grita o maquinista E o chefe da estação.
E os moços pequenos Sempre a saltitar; Ficam para o balho, Querem é dançar!
Vêm do Carregueiro Casével e Aivados; Da vila de Ourique Chegam convidados.
Muito bem trajados De Castro chegando, Vêm cantadores Modas entoando.
Cantam aos amores Que estão espreitando; E a tasca do Mendes Já está esperando.
Ali num cantinho Vão servindo copos: Há sempre bom vinho Chouriço e tremoços.
O chefe da estação Junta a filharada Com banjos, violão E voz afinada.
Começam as danças No Salão dos Nobres: Velhos e crianças E ricos e pobres.
Ai a balhação! Aì a brincadeira! Já está na estação O comboio p’rá Funcheira.
Seguem seus destinos, Uns ficam deitados: Parecem meninos Muito embriagados.
Ó Estação de Ourique Onde eu tive amores! Onde há pirolitos E também há flores.
Tem um largo ao meio Mesmo na estação, Param os comboios Que vão p’ra Garvão.
Salta a malta nova Vinda no furgão; Grita o maquinista E o chefe da estação.
E os moços pequenos Sempre a saltitar; Ficam para o balho, Querem é dançar!
Letra e música: Francisco Naia Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
O mar deixou o Alentejo
[ Se fores ao Alentejo ]
O mar deixou o Alentejo onde trouxe canções de oiro mas volta a matar saudades mas ondas do trigo loiro.
Se fores ao Alentejo, vai vai vai vai vai. Não te esqueças, dá-lhe um beijo, ai ai ai ai.
Nas capelas e nos montes há sorrisos de brancura onde fala a voz de Deus na voz da cal e da alvura.
Sobe o sol e abrasa a terra a fecundar as espigas à sombra das azinheiras na dolência das cantigas.
Por lonjuras e planuras, oh solidão, solidão, eu quero paz no trabalho p’ra poder ganhar o pão.
Popular do Alentejo
Ó moças façam arquinhos
Arquinhos (II)
Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas! P’ra passar o meu benzinho, P’ra passar a minha amada.
P’ra passar a minha amada, P’ra passar o meu benzinho, Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas!
Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas! P’ra passar o meu benzinho, P’ra passar a minha amada.
P’ra passar a minha amada, P’ra passar o meu benzinho, Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas!
Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas! P’ra passar o meu benzinho, P’ra passar a minha amada.
P’ra passar a minha amada, P’ra passar o meu benzinho, Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas!
Cadernos de Danças do Alentejo
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
O Sol é que alegra o dia
[ Menina Florentina ]
O Sol é que alegra o dia Pela manhã quando nasce Ai de nós o que seria Se o Sol um dia faltasse
Ó menina Florentina És a flor que em meu peito domina Seu amante delirante De viagem chegou neste instante
Já cá está o tiroliroliro tiroliroliro Já cá está o tiroliroliro tiroliroló Já cá está o tiroliroliro ó amor Tiroliroliro abre a porta, ó branca flor
Não me inveja de quem tem Carros, parelhas e montes Só me inveja de quem bebe Água em todas as fontes
Ó menina Florentina És a flor que em meu peito domina Seu amante delirante De viagem chegou neste instante
Já cá está o tiroliroliro tiroliroliro Já cá está o tiroliroliro tiroliroló Já cá está o tiroliroliro ó amor Tiroliroliro abre a porta, ó branca flor
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Janita Salomé / Grupo “Vozes do Sul”* (in CD “Vozes do Sul: uma celebração do cante alentejano” , Capella, 2000)
Ó terra morena deitada ao sol
[ Fado do Alentejo ]
Ó terra morena deitada ao sol, Quero ser a alma do ganhão, Cheia de horizonte, cântico de fonte, Catedral do trigo, azeite e pão!
Ó terra morena deitada ao sol, Quero ser a alma da cegonha Que sobe no vento e ouve o lamento Do homem que, ao sul, trabalha e sonha!
Alentejo das casas de cal, Alentejo do sobro e do sal; Alentejo poejo, alecrim, Alentejo das terras sem fim.
Ó terra morena deitada ao sol, Quero ser a alma do sobreiro: Estática, selvagem, dona da paisagem Afrontando o tempo a corpo inteiro!
Alentejo das casas de cal, Alentejo do sobro e do sal; Alentejo poejo, alecrim, Alentejo das terras sem fim.
Ó terra morena deitada ao sol, Quero ser a alma do ganhão, Cheia de horizonte, cântico de fonte, Catedral do trigo, azeite e pão!
Letra: Rosa Lobato de Faria Música: Rão Kyao Arranjo: Rabih Abou-Khalil Intérprete: Ricardo Ribeiro* (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013) Primeira versão de Ricardo Ribeiro: Rão Kyao & Ricardo Ribeiro (in 2CD “Em’Cantado”: CD 1, Universal, 2009) Versão original: Manuel de Almeida – “Alma do Ganhão” (in CD “Fado”, Movieplay, 1996)
Olha o passarinho
Letra e música: Popular do Alentejo Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Terra de Abrigo”, Ocarina, 2003) .
Olha o passarinho que bem que ele canta. Quando está cantando, parece que tem uma guitarra na garganta.
E olha o rouxinol vai fazer o ninho dentro do balsedo p’ra cantar sem medo, olha o passarinho!
E a moda vai alta, não lhe posso chegar. Cantem-na baixinho, mais devagarinho que eu quero cantar.
Olhos marotos
[ Vai Colher a Silva ]
Olhos marotos Que já foram meus Agora são doutro Paciência adeus
Vai colher a silva Vai lindo amor vai Se ela te picar Não digas ai ai
Não digas ai ai Não digas ai ui Vai colher a silva Vai que eu também já fui
Ó coração praia Das embarcações Onde desembarcam As minhas paixões
Vai colher a silva Vai lindo amor vai Se ela te picar Não digas ai ai
Não digas ai ai Não digas ai ui Vai colher a silva Vai que eu também já fui
Letra e música: Popular (Baixo Alentejo) Arranjo: Pedro Fragoso Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos / Grupo Coral Guadiana de Mértola (in CD “Sulitânia”, Ocarina, 2007)
Oliveira e Parreirinha
[ A Tasca do Encalha ]
Oliveira e Parreirinha Encontram o Tó Careca: Com a dor que se avizinha Vão beber uma caneca.
Dão a mão ao Zé Padeiro, E o braço ao Quim Margarida; Chamam o Chico Pedreiro, Vão afogar-se em bebida.
Abraçam-se p’lo caminho, Até à Tasca do Encalha: Lá o tintol é fresquinho E à volta ninguém se espalha.
Tintol, caracol, Tintão, carrascão, Com rodelas de limão; Verdinho, verducho, Verdete, verdacho, Mas que graça que eu te acho!
Venha lá outra rodada Com tapinhas e tremoços! O tintol é tão maduro Que até arreganha os ossos.
Vira lá mais um copinho! Tira outro do briol! Traz alcagoita torrada E um pires de caracol!
Diz o Quim para o Oliveira, Pondo um ar grave no rosto: «Que uma boa bebedeira Mata-nos qualquer desgosto!»
Tintol, caracol, Tintão, carrascão, Com rodelas de limão; Verdinho, verducho, Verdete, verdacho, Mas que graça que eu te acho!
Mas que graça que eu te acho!…
Letra e música: Francisco Naia Intérprete: Francisco Naia com Vitorino (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Ora ponha aqui
[ Pezinho dos Caçadores ]
Ora ponha aqui, Ora ponha aqui o seu pezinho! Ora ponha aqui, Ora ponha aqui ao pé do meu!
Ai ao tirar, Ai ao tirar o seu pezinho, Ai um abraço, E um abraço lhe dou eu!
Ai dizem mal, Ai dizem mal dos caçadores, Ai por matarem, Por matarem os pardais…
Ai os teus olhos, Os teus olhos, meu amor, Ainda matam, Ainda matam muito mais!
Ora ponha aqui, Ponha aqui o seu pezinho! Ora ponha aqui, Ponha aqui ao pé do meu!
Ai ai ao tirar, Ao tirar o seu pezinho, Um abraço lhe dou eu!
Ai dizem mal, Dizem mal dos caçadores, Por matarem os pardais…
Os teus olhos, meu amor, Ainda matam, Ainda matam muito mais!
Ora ponha aqui o seu pezinho! Ora ponha aqui ao pé do meu!
Ao tirar o seu pezinho, Ai um abraço lhe dou eu!
Ai dizem mal dos caçadores, Por matarem os pardais…
Os teus olhos, meu amor, Ainda matam muito mais!
Letra e música: Tradicional (Ourique / Castro Verde, Baixo Alentejo) Informantes: Manuel Bento (Aldeia Nova, Ourique) e Pedro Mestre (Sete, Castro Verde) Recolha: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 53) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Olival alentejano
Papoilas vermelhas
[ Querido Alentejo ]
Papoilas vermelhas Criadas ao vento São cravos de Abril: Deixai-os florir No meu pensamento.
Querido Alentejo, Minha terra amada: Eu nunca me esqueço De seres Alentejo, És sempre lembrada.
Teus cravos vermelhos Já não murcharão; Tens o privilégio De seres Alentejo, Celeiro da nação.
Vem o mês de Abril, Cresce a saudade; Vem o nosso povo E a cantar de novo: «Viva a liberdade!»
Querido Alentejo, Minha terra amada: Eu nunca me esqueço De seres Alentejo, És sempre lembrada.
Teus cravos vermelhos Já não murcharão; Tens o privilégio De seres Alentejo, Celeiro da nação.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Pelo toque da viola
Intérprete: Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento
Penteei o meu cabelo
[Moda:]
Penteei o meu cabelo, Penteei-o para trás, Com uma travessa nova Que me deu o meu rapaz.
Que me deu o meu rapaz Toda cheia de pedrinhas; Penteei o meu cabelo, Ficou-me todo às ondinhas.
Ficou-me todo às ondinhas, Ficou-me todo ondulado; Penteei o meu cabelo Para trás e para o lado.
[ Cantiga: ]
Há ondas, meu bem, há ondas, Há ondas sem ser no mar: Há ondas no teu cabelo, Há ondas no teu olhar.
Penteei o meu cabelo, Penteei-o para trás, Com uma travessa nova Que me deu o meu rapaz.
Que me deu o meu rapaz Toda cheia de pedrinhas; Penteei o meu cabelo, Ficou-me todo às ondinhas.
Ficou-me todo às ondinhas, Ficou-me todo ondulado; Penteei o meu cabelo Para trás e para o lado.
[ Cantiga: ]
Há ondas, meu bem, há ondas, Há ondas sem ser no mar: Há ondas no teu cabelo, Há ondas no teu olhar.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013) [Gravado no Festival Andanças, Castelo de Vide, 21 Ago. 2013 Introdução: Grupo Coral Feminino “As Papoilas do Corvo”, ensaiado por Pedro Mestre
Por eu ser alentejano
[ Há Lobos Sem Ser na Serra ]
Por eu ser alentejano, Alguém me chamou ladrão: Foi o que eu nunca chamei A quem me roubava o pão.
Há lobos sem ser na serra, Eu ainda não sabia… Debaixo do arvoredo Trabalham com valentia.
Trabalham com valentia Cada um na sua arte; Eu ainda não sabia: Há lobos em toda parte.
Maldita sociedade, Estás tão mal organizada: Quem não trabalha tem tudo, Quem trabalha não tem nada!
Há lobos sem ser na serra, Eu ainda não sabia… Debaixo do arvoredo Trabalham com valentia.
Trabalham com valentia Cada um na sua arte; Eu ainda não sabia: Há lobos em toda parte.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Quando eu tinha 15 anos
[ Camponês alentejano ]
Intérprete: Grupo Coral Vozes da Aldeia
Quando o melro assobia
[ Castro Verde É Nossa Terra ]
Quando o melro assobia, Escondido nos silvados: Quer de noite, quer de dia, São lindos os seus trinados.
Castro Verde é nossa terra! Ai quem nos dera lá estarmos agora P’rá mocidade, com saudade, Ouvir cantar como ouvi outrora.
Terra bela Tão desejada! Casa singela De branco caiada!
Eu nunca esqueço Que foste meu berço, Lindo cantinho Desta pátria amada!
Grupo Coral de Castro Verde “Os Ganhões da nossa terra”
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Castro Verde É Nossa Terra”, Valentim de Carvalho, 1975; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Que é da casaquinha?
[ Casaquinha (dança marcada) ]
Que é da casaquinha? (Oli doli doli dó!) Está toda rasgada. (Ó purum pum pum!)
Já não vai à missa, (Oli doli doli dó!) Sem ser amanhada. (Ó purum pum pum!)
Que é da casaquinha? (Oli doli doli dó!) Está toda rasgada. (Ó purum pum pum!)
Já não vai à missa, (Oli doli doli dó!) Sem ser amanhada. (Ó purum pum pum!)
Que é da casaquinha? (Oli doli doli dó!) Está toda rasgada. (Ó purum pum pum!)
Já não vai à missa, (Oli doli doli dó!) Sem ser amanhada. (Ó purum pum pum!)
Que é da casaquinha? (Oli doli doli dó!) Está toda rasgada. (Ó purum pum pum!)
Já não vai à missa, (Oli doli doli dó!) Sem ser amanhada. (Ó purum pum pum!)
Que é da casaquinha? (Oli doli doli dó!) Está toda rasgada. (Ó purum pum pum!)
Já não vai à missa, (Oli doli doli dó!) Sem ser amanhada. (Ó purum pum pum!)
Que é da casaquinha? (Oli doli doli dó!) Está toda rasgada. (Ó purum pum pum!)
Já não vai à missa, (Oli doli doli dó!) Sem ser amanhada. (Ó purum pum pum!)
Letra e música: Tradicional (Ourique / Castro Verde, Baixo Alentejo) Informantes: Manuel Bento (Aldeia Nova, Ourique) e Pedro Mestre (Sete, Castro Verde) Recolhas: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 46-48) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Quem disse que o Alentejo
[ É Tarde, Vou-me Deitar ]
Quem disse que o Alentejo Vive de costas p’ró mar Não viu aquilo que eu vejo Não viu aquilo que eu vejo Nas ondas do teu olhar
Ceifeira, os teus cabelos Enrodilhados ao vento São baraços de novelos São baraços de novelos Que esvoaçam pelo tempo
São teus olhos dois barquinhos Onde vão pescar os meus Como as searas do mar Como as searas do mar Que se agitam num adeus É tarde, vou-me deitar É tarde, vou-me deitar e sonhar com os olhos teus É tarde, vou-me deitar É tarde, vou-me deitar e sonhar com os olhos teus
Lá longe, no horizonte Onde o Sol se vai deitar O trigo serve de ponte O trigo serve de ponte Entre a terra e entre o mar
De dia guardo o rebanho À noite sou marinheiro Faço veleiros com sonhos Faço veleiros com sonhos Navego por mar trigueiro
São teus olhos dois barquinhos Onde vão pescar os meus Como as searas do mar Como as searas do mar Que se agitam num adeus É tarde, vou-me deitar É tarde, vou-me deitar e sonhar com os olhos teus É tarde, vou-me deitar É tarde, vou-me deitar e sonhar com os olhos teus
É tarde, vou-me deitar É tarde, vou-me deitar e sonhar com os olhos teus É tarde, vou-me deitar É tarde, vou-me deitar e sonhar com os olhos teus É tarde, vou-me deitar É tarde, vou-me deitar e sonhar com os olhos teus É tarde, vou-me deitar É tarde, vou-me deitar e sonhar com os olhos teus
Luís Galrito, Menino do Sonho Pintado
Letra e música: Paulo Abreu de Lima Intérprete: Luís Galrito com João Afonso (in CD “Menino do Sonho Pintado”, Kimahera, 2018)
Quem trabalha e mata a fome
[ Bem Podia a Andorinha ]
Quem trabalha e mata a fome Não come o pão de ninguém; Mas quem não trabalha e come, Come sempre o pão de alguém.
Bem podia a andorinha Fazer paragem no chão; Bem podia o meu amor Ser firme ao meu coração.
Ser firme ao meu coração, Ser firme e não me enganar; Bem podia a andorinha Fazer paragem no ar.
Bem podia quem tem muito Repartir por quem não tem: O rico ficava rico E o pobre ficava bem.
Bem podia a andorinha Fazer paragem no chão; Bem podia o meu amor Ser firme ao meu coração.
Ser firme ao meu coração, Ser firme e não me enganar; Bem podia a andorinha Fazer paragem…
Letra: António Aleixo (1.ª quadra) e tradicional do Baixo Alentejo Música: Tradicional (Baixo Alentejo) Intérprete: Afonso Dias Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Quem tiver olhos azuis
[ Fui-te Ver, Estavas Lavando ]
[ Cantiga: ]
Quem tiver olhos azuis Bem os pode arrecadar: Os olhos azuis são poucos, São custosos de alcançar.
[ Moda: ]
Fui-te ver, estavas lavando No rio sem assabão; Lavas em água de rosas, Fica-te o cheiro na mão.
Fica-te o cheiro na mão, Fica-te o cheiro no fato; Se eu morrer e tu ficares, Adora-me o meu retrato!
Adora-me o meu retrato, Adora meu coração! Fui-te ver, estavas lavando No rio sem assabão.
[ Cantiga: ]
Menina, tire a camisa [bis] Que tem à sua janela! A camisa sem a dona [bis] Lembra-me a dona sem ela.
[ Moda: ]
Fui-te ver, estavas lavando No rio sem assabão; Lavas em água de rosas, Fica-te o cheiro na mão.
Fica-te o cheiro na mão, Fica-te o cheiro no fato; Se eu morrer e tu ficares, Adora-me o meu retrato!
Adora-me o meu retrato, Adora meu coração! Fui-te ver, estavas lavando No rio sem assabão.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda e Ruben Alves Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)
Quero ir para o altinho
[ Moda: ]
Quero ir para o altinho Que eu daqui não vejo bem; Quero ir ver do meu amor Se ele adora mais alguém.
Se ele adora mais alguém Ou se ele ama a mim sozinho; Que eu daqui não vejo bem, Quero ir para o altinho.
[ Cantiga: ]
A alegria de uma vida É amar só o nosso bem; Nasce a dor e fica a vida Sem sentido e sem ninguém.
Fica a vida sem sentido E só a morte é companheira; Ai de mim, o que farei Agora com a vida inteira?!
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Arranjo: António Prata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Amores de Maio”, Contradança, 1986, reed. Ovação, 1992, 1997)
Ribeira vai cheia
Ribeira vai cheia e o barco não anda. Tenho o meu amor lá daquela banda.
Lá daquela banda e eu cá deste lado; ribeira vai cheia e o barco parado.
(Popular – Alentejo)
Roendo uma laranja na falésia
[ Porto Covo ]
Roendo uma laranja na falésia Olhando o mundo azul à minha frente, Ouvindo um rouxinol nas redondezas, No calmo improviso do poente
Em baixo fogos trémulos nas tendas Ao largo as águas brilham como prata E a brisa vai contando velhas lendas De portos e baías de piratas
Havia um pessegueiro na ilha Plantado por um vizir de Odemira Que dizem que por amor se matou novo Aqui, no lugar de Porto Covo
A lua já desceu sobre esta paz E reina sobre todo este luzeiro À volta toda a vida se compraz Enquanto um sargo assa no brazeiro
Ao longe a cidadela de um navio Acende-se no mar como um desejo Por trás de mim o bafo do destino Devolve-me à lembrança do Alentejo
Havia um pessegueiro na ilha Plantado por um vizir de Odemira Que dizem que por amor se matou novo Aqui, no lugar de Porto Covo
Roendo uma laranja na falésia Olhando à minha frente o azul escuro Podia ser um peixe na maré Nadando sem passado nem futuro
Havia um pessegueiro na ilha Plantado por um vizir de Odemira Que dizem que por amor se matou novo Aqui, no lugar de Porto Covo
Rui Veloso, O Concerto Acústico
Letra: Carlos Tê Música: Rui Veloso Intérprete: Rui Veloso (in “Rui Veloso”, EMI-VC, 1986; “Ao Vivo”, EMI-VC, 1988; “O Concerto Acústico”, EMI, 2003)
Rompe a aurora
[ Primavera alentejana ]
Rompe a aurora, nasce o dia iluminando o montado. Como um hino à alegria ouve-se balir o gado.
Roxo, verde e amarelo, olho à volta é o que vejo. Não há nada assim tão belo, ó meu querido Alentejo.
Refrão: Lindos campos verdejantes matizados de papoilas, já não são como eram antes mondados pelas moçoilas.
Perfumados de poejo os campos de solidão, é assim o Alentejo que trago no coração.
O melro canta no silvado, o grilo no buraquinho, e eu por ti apaixonado, Alentejo, meu cantinho.
Roda Pé, Escarpados Caminhos
Refrão
Poema: Hermínia Gaidão Costa (em memória de Margarida Gaidão) Música: Hermínia Costa / Rodapé Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, 2004
Rosa Branca Desmaiada
Rosa branca desmaiada, Onde deixaste o cheiro? Deixei-o no meu quintal, À sombra do limoeiro.
À sombra do limoeiro, Por não ter sido regada. Onde deixaste o cheiro, Rosa branca desmaiada?
Ó luar da meia-noite, Não digas à minha amada Que eu passei à rua dela Às quatro da madrugada!
Às quatro da madrugada Que eu passei à rua dela. Ó luar da meia-noite, Não digas à minha amada!
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)
Roubei-te um beijo
Intérprete: De Moda em Moda
Rouxinol repenica o cante
Rouxinol repenica o cante ao passar da passadeira. Nunca mais tornas a Beja, oh ai, sem passares à Vidigueira,
sem passares à Vidigueira, sem ires beber ao falcante e ao passar da passadeira, oh ai, rouxinol repenica o cante.
Eu gosto muito de ouvir cantar a quem aprendeu. Se houvera quem me ensinara, oh ai, quem aprendia era eu.
Rouxinol repenica o cante ao passar da passadeira. Nunca mais tornas a Beja, oh ai, sem passares à Vidigueira.
Sem passares à Vidigueira, sem ires beber ao falcante e ao passar da passadeira, oh ai, rouxinol repenica o cante.
Letra e música: Popular; adaptação: Vitorino Intérprete: Vitorino (in “Os Malteses”, Orfeu, 1977; “Negro Fado”, EMI-VC, 1988)
Vitorino, Os Malteses
Santa Cruz é a nossa terra
Santa Cruz é a nossa terra Beja é o nosso distrito, O concelho é Almodôvar Não há nada mais bonito.
Santa Cruz é a nossa terra Rodeada de olivais, Com suas casas branquinhas E os seus antigos beirais.
E os seus antigos beirais É a nossa tradição, Santa Cruz é a nossa terra Terra da nossa paixão.
Aldeia de Santa Cruz É terra que eu mais invejo, Ficas à beira da serra Mesmo ao sul do Alentejo.
Santa Cruz é a nossa terra Rodeada de olivais, Com suas casas branquinhas E os seus antigos beirais.
E os seus antigos beirais É a nossa tradição, Santa Cruz é a nossa terra Terra da nossa paixão.
(Popular – Santa Cruz, Baixo Alentejo)
Santa Vitória, Ervidel
[ O Homem da Campaniça (Ao Ricardo Fonseca) ]
Santa Vitória, Ervidel: Minha cantiga é castiça, Minha voz doce de mel, Meus dedos na campaniça.
Rosa, Mariana, Maria: Todas me ouviram cantar, Fosse de noite ou de dia Ou com um sol de abrasar.
Rasguei modas e cantares, Dízimas disse, que eu fiz; Andei por muitos lugares Ora alegre ora infeliz.
Andei com moças brejeiras, Mulheres feitas, ricas donas; Dormi com elas nas eiras E na apanha de azeitonas.
Inda hoje eu sou falado Da serra à charneca inteira, Pelo homem da campaniça Tocando à sua maneira.
Com a minha campaniça Nas tabernas, no baldão, Toda a gente me conhece De Beja a Corte Malhão…
Letra e música: Francisco Naia Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Sambombita, sambombita
Sambombita, sambombita Yo te tengo que romper! A la puerta de mi novia No quisiste tocar bien.
Abre la tristeza que pasa por mi, Las mozas del baile me dicen así:
Pandereterita, moza, Pandereterás, No te vayas Sí no quieres Que yo me muera!
Esta noche es Nochebuena, Es noche de hacer briñuelos; Mas mi madre no los hace Porque no tiene dinero.
Abre la tristeza que pasa por mi, Las mozas del baile me dicen así:
Pandereterita, moza, Pandereterás, No te vayas Sí no quieres Que yo me muera!
Los ratones de mi casa Tienen la fea costumbre De rascar a los cojones Con el gancho de la lumbre.
Abre la tristeza que pasa por mi, Las mozas del baile me dicen así:
Pandereterita, moza, Pandereterás, No te vayas Sí no quieres Que yo me muera!
Al subir las escaleras Te vi las ligas azules, Y un poco más arriba… Sábado, domingo y lunes.
Abre la tristeza que pasa por mi, Las mozas del baile me dicen así:
Pandereterita, moza, Pandereterás, No te vayas Sí no quieres Que yo me muera!
Letra e música: Tradicional (Barrancos, Baixo Alentejo) Arranjo: Artesãos da Música Intérprete: Artesãos da Música Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)
São chegados os Três Reis
[ Reis ]
São chegados os Três Reis à porta do lavrador Se tem a mulher bonita a filha é uma flor
Que cavalos são aqueles que fazem sombra no Mar São os três do Oriente que a Jesus vão adorar
O menino chora, chora porque anda descalcinho Haja quem lhe dê as meias que eu lhe dou os sapatinhos
Nossa Senhora lavava e São José estendia E o menino chorava com o frio que fazia
Calai-vos meu menino calai-vos meu amor Isto são navalhinhas que cortam sem dor
Saíram as três Marias de noite pelo luar Em busca do Deus menino sem No poderem achar
Foram-No achar em Roma vestidinho no altar Com cálix d’oiro na mão missa nova quer cantar
E dai-la esmola e… e dai-la esmola bem dada Para quem, para quem vier pedir que ela lhe, que ele lhe sirva de escada Para quando, para quando ao céu subir
Letra e música: Popular (Redondo – Alentejo) Intérprete: Janita Salomé / cantadores de Redondo* (in CD “Vozes do Sul: uma celebração do cante alentejano”, Capella, 2000)
Se eu for preso por cantar
[ Sarapateado ]
Se eu for preso por cantar Não calarei a garganta; Eu sou como o passarinho Que até na gaiola canta.
Vai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Vai sim, meu bem, sarapateado. [bis]
À porta da minha sogra Vem uma silva nascendo; Todos passam, não se enleiam, Só eu na silva me prendo.
Vai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Vai sim, meu bem, sarapateado. [bis]
Vai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Vai sim, meu bem, sarapateado. [4x]
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Há lobos sem ser na serra, Cantares do Sul e da Utopia
Se fores ao Alentejo
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão: Leva o coração aberto, E ao lado do coração Leva a rosa da justiça E o teu filho pela mão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão. Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão: Leva o teu braço liberto Para abraçar teu irmão; Esse irmão que está tão perto Do teu aperto de mão E que tão longe amanhece Nos campos da solidão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão: Leva a alegria de seres Irmão de quem vai parir Uma seara de trigo, Uma charneca a florir, Um rebanho e um abrigo E um amanhã que há-de vir Como se fosse outro amigo Dentro do sol, a sorrir.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão: Leva o coração aberto E o teu filho pela mão. Leva o coração aberto E o teu filho pela mão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão. Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão.
Letra: Eduardo Olímpio Música: Carlos Alberto Moniz Intérprete: Carlos Alberto Moniz Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 2, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)
Se fores ao mar pescar
Se fores ao mar pescar, Pesca-me uma margarida! Margarida, és meu amor, Que andava no mar perdida.
Que andava no mar perdida, No meio de água salgada; Pesca-me uma margarida, Margarida, és minha amada!
Letra e música: Tradicional (Beja, Baixo Alentejo) Recolha: Michel Giacometti (in LP “Alentejo”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1965; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 4 – Alentejo, Strauss, 1998) Intérprete: Macadame* (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Semeei salsa ao reguinho
[ Semear Salsa ao Reguinho ]
Semeei salsa ao reguinho Hortelã daquela banda Para lograr os teus carinhos Tive que andar em demanda
Tive que andar em demanda Para lograr os teus carinhos Hortelã daquela banda Semeei salsa ao reguinho
Não julgues por eu cantar Que a vida alegre me corre Eu sou como um passarinho Tanto canta até que morre
Letra e música: Popular (Alentejo) Recolha e arranjo: Vitorino Intérprete: Vitorino (in “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975; reed. Movieplay, 1999; CD “Ao Vivo A Preto e Branco”, Magic Music/Som Livre, 2007)
Vitorino, Semear Salsa ao Reguinho
Senhora que és padroeira
[ Nossa Senhora do Carmo ]
Senhora que és padroeira Da nossa terra hospitaleira
Nossa Senhora do Carmo Que está no seu altar Todos lá vamos ajoelhar E a cantar, a cantar Vamos rezar
Oremos p’la nossa voz Nossa Senhora rogai por nós
Nossa Senhora do Carmo Que está no seu altar Todos lá vamos ajoelhar E a cantar, a cantar Vamos rezar
Unidos a uma voz Nossa Senhora rogai por nós
Nossa Senhora do Carmo Que está no seu altar Todos lá vamos ajoelhar E a cantar, a cantar Vamos rezar
(Popular – Alentejo)
Silva, Silva, Enleio, Enleio
Castro Verde
[ dança encadeada ]
Moda:
Silva, silva, enleio, enleio! Silva, silva, enleado, enleado! Não me venhas cá dizer, Ó sim, sim, meu bem-amado!
Ó sim, sim, meu bem-amado! Ó sim, sim, ó meu recreio! Silva, silva, enleado, enleado! Silva, silva, enleio, enleio!
Letra e música: Tradicional (Castro Verde, Baixo Alentejo) Informantes: Grupo Coral Feminino “As Atabuas” (São Marcos da Ataboeira, Castro Verde) e Pedro Mestre (Sete, Castro Verde) Recolha: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 42-45) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Castro Verde
Solidão, ai dão, ai dão
Solidão, ai dão, ai dão, Para mim quer sim, quer não; Vem a morte e leva a gente, Quem não há-de ter paixão?
Quem não há-de ter paixão? Quem paixão não há-de ter? Solidão, ai dão, ai dão, Resistir até morrer.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Bernardo Charrua “Calabaça” (in CD “Monda”, de Monda*, Monda/Tánaforja, 2016)
Suspirava por te ver
[ Ó Menina Florentina ]
Suspirava por te ver, Já matei a saudade. Muito custa uma ausência P’ra quem ama na verdade.
Ó menina Florentina, És a flor que em meu peito domina! Seu amante, delirante, De viagem chegou nesse instante.
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé! Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló! Já cá está tiro-liro-li, meu amor, Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!
Anda cá para meus braços, Se tu vida queres ter! Os meus braços dão saúde A quem está para morrer.
Ó menina Florentina, És a flor que em meu peito domina! Seu amante, delirante, De viagem chegou nesse instante.
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé! Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló! Já cá está tiro-liro-li, meu amor, Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!
Graças a Deus que chegou Quem eu desejava ver: Deu palavra, não faltou, Assim é que deve ser.
Ó menina Florentina, És a flor que em meu peito domina! Seu amante, delirante, De viagem chegou nesse instante.
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé! Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló! Já cá está tiro-liro-li, meu amor, Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)
Tá preso o João Brandão
[ Mais Brando João Brandão ]
‘Tá preso o João Brandão Às grades do Limoeiro; Mais brando… Às grades do Limoeiro.
Era rico, agora é pobre… Olha o que faz o dinheiro! Mais brando… Olha o que faz o dinheiro!
Estando eu na minha loja, Encostadinho ao balcão, Mais brando… Encostadinho ao balcão,
Ouvi uma voz dizer: “‘Tá preso o João Brandão.” Mais brando… “‘Tá preso o João Brandão.”
Ouvi uma voz dizer: “‘Tá preso o João Brandão.” Mais brando… Mais Brando João Brandão.
Monda – grupo de cante alentejano
Letra: Popular (Alentejo) Música: Monda Intérprete: Monda com o Grupo de cantadores de Portel (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)
Trago um jardim no sentido
[ Jardim dos Sentidos ]
Trago um jardim no sentido, Por ter sentido o que sinto: Amor que não faz sentido Num coração louco e faminto.
No jardim do meu sentido Nascem cravos cardinais; Também eu nasci no mundo P’ra te querer cada vez mais.
No jardim do rei há rosas, Também há malvas de cheiro; Não há luz como a do dia, Nem amor como o primeiro.
Coração louco e faminto, Rosa que tenho sentido; Jardim que anda perdido, Por ter sentido o que sinto.
No jardim do meu sentido Nascem cravos cardinais; Também eu nasci no mundo P’ra te querer cada vez mais.
No jardim do rei há rosas, Também há malvas de cheiro; Não há luz como a do dia, Nem amor como o primeiro.
Por ter sentido o que sinto, Amor que não faz sentido, Jardim que anda perdido, Trago um jardim no sentido.
No jardim do meu sentido Nascem cravos cardinais; Também eu nasci no mundo P’ra te querer cada vez mais.
No jardim do rei há rosas, Também há malvas de cheiro; Não há luz como a do dia, Nem amor como o primeiro.
Trago um jardim no sentido…
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre com António Zambujo (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre com António Zambujo (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Uma estrela se foi pôr
[ Canção ao Menino ]
Uma estrela se foi pôr Em cima duma cabana A cabana era pequena Não cabiam todos três Adoravam o menino Cada um da sua vez
E abram-se lá essas portas Ainda não estão bem abertas Que nasceu o Deus menino Vou-lhe dar as Boas Festas
Boas Festas meus senhores Boas Festas lhes vou dar Que nasceu o Deus menino Alta noite de Natal
E alta Noite de Natal Noite de santa alegria Que nasceu o Deus menino Filho da Virgem Maria
Senhora dona da casa Deixe-se estar que está bem Mande-nos dar a esmola Por essa rosa que aí tem
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in CD “Terra de Abrigo”, Ocarina, 2003)
Ronda dos Quatro Caminhos, Terra de Abrigo
Vai ao centro, vai ao meio
Vai ao centro, vai ao meio! Agora vou andar Com o meu amor em passeio; Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Vá de roda, cantem todas Cada qual sua cantiga! Eu também cantarei, Eu também cantarei uma Que a mocidade me obriga.
Vá de roda, cantem todas Cada qual sua cantiga! Que eu também cantarei uma Que a mocidade me obriga.
Vai ao centro…
[ Moda: ]
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar.
[ Cantiga: ]
Vá de roda, cantem todos Cada qual sua cantiga! Que eu também cantarei uma Que a mocidade me obriga.
[ Moda: ]
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar.
[ Moda: ]
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar.
[ Cantiga: ]
Minha mãe, p’ra m’eu casar, Ofereceu-me uma panela; Depois de me ver casada, Partiu-me a cara com ela.
[ Moda: ]
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Vai colher a rosa
Vai colher a rosa Vai colhê-la, vai. Se ela te picar Não digas ai ai.
Não digas ai ai Não digas ai ui Vai colher a rosa Vai, vai que eu também fui.
O meu lindo amor Já não me visita É certo que tem Outra mais bonita.
Outra mais bonita Outro bem querer. O meu lindo amor Já não me vem ver.
(Popular – Alentejo)
Vamos nós seguindo
Vamos nós seguindo, por esses campos fora… Que a manhã vem vindo dos lados da aurora.
Dos lados da aurora a manhã vem vindo. Por esses campos fora, vamos nós seguindo.
(Popular – Alentejo)
Venho da ilha dos vidros
[ Ilha dos Vidros ]
[Moda:]
Venho da ilha dos vidros, Da praia dos diamantes; Vivo no mundo perdido Pelos teus olhos brilhantes.
Pelos teus olhos brilhantes, Pelo teu rosto de prata; Ter amores não me custa, Deixá-los é que me mata.
[Cantiga:]
Os teus olhos é que são A causa de eu te querer bem: Que não me deixam tomar Amizade a mais ninguém.
[Moda:]
Venho da ilha dos vidros, Da praia dos diamantes; Vivo no mundo perdido Pelos teus olhos brilhantes.
Pelos teus olhos brilhantes, Pelo teu rosto de prata; Ter amores não me custa, Deixá-los é que me mata.
[Cantiga:]
A paixão me há-de matar, É o mais certo que eu tenho: Não me há-de deixar gozar Um amor que eu faço empenho.
[Moda:]
Venho da ilha dos vidros, Da praia dos diamantes; Vivo no mundo perdido Pelos teus olhos brilhantes.
Pelos teus olhos brilhantes, Pelo teu rosto de prata; Ter amores não me custa, Deixá-los é que me mata.
Venho da ilha dos vidros, Da praia dos diamantes; Vivo no mundo perdido Pelos teus olhos brilhantes.
Pelos teus olhos brilhantes, Pelo teu rosto de prata; Ter amores não me custa, Deixá-los é que me mata.
Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo) Arranjo: José Manuel David Intérprete: Pedro Mestre* com cantadores do Sul (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outras versões com Pedro Mestre: Grupo de Violas Campaniças (in CD “Ilha dos Vidros”, Associação de Cante Alentejano “Os Cardadores”, 2006); 4uatro ao Sul (in CD “Demudado em Tudo”, 4uatro ao Sul/Ocarina, 2011); Pedro Mestre com 4uatro ao Sul (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Pedro Mestre, Campaniça do Despique
Vim do campo
[ Tira o Capotinho ]
Vim do campo, já ceei; Hoje vou dar uma voltinha: Vou à venda, bebo um copo, Regresso de manhãzinha.
Esta noite, nem me eu deito Sem primeiro ouvir cantar; Gosto de ouvi-lo bem feito E em certo particular.
Tira o capotinho, sim, sim! Esta noite havemos ver; Tira o capotinho, sim, sim, Esta noite ao amanhecer!
Esta noite soprou vento Com pontinhas de suão: Abriram-se as rosas todas Dentro do teu coração.
Para ver a minha amada, Espreitei à sua janela; Ela já estava deitada, Fui-me embora a pensar nela.
Tira o capotinho, sim, sim! Esta noite havemos ver; Tira o capotinho, sim, sim, Esta noite ao amanhecer!
O cantar de madrugada É uma coisa excelente: Acorda quem está dormindo, Alegra quem está doente.
Toda a noite eu andei Por estradas tão medonhas, Sempre sonhando contigo; Só comigo tu não sonhas…
Tira o capotinho, sim, sim! Esta noite havemos ver; Tira o capotinho, sim, sim, Esta noite ao amanhecer!
Letra: Popular (Baixo Alentejo) e Francisco Naia Música: Popular (Baixo Alentejo) Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Francisco Naia e a Ronda Campaniça
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/alentejo-foto-winelands-portugal.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-09 16:26:122024-04-08 15:06:33Canções do Baixo Alentejo
Loja Meloteca, recursos criativos para musicalização infantil
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos.
Adeus, malvas
[ O Triste ]
Adeus, malvas… Adeus, malvas… Adeus, malvas do Rossio! Tarde ou nun… Tarde ou nunca as pisarei.
Adeus, moças… Adeus, moças… Adeus, moças do meu tempo! Tarde ou nun… Tarde ou nunca voltarei.
Ó Triste, ó Triste, Ó Triste, três vezes triste! Ó Triste, ó Triste, P’ra onde irá?
O rico… O rico… O rico se compadeça Da desgra… Da desgraça do Zé Brás.
A desgraça… A desgraça… A desgraça do Zé Brás Foi a mor… Foi a morte do Paneiro.
Com um lenço… Com um lenço… Com um lenço se enforcou Às grades… Às grades do Limoeiro.
Ainda trago um gosto a trigo
[ Toada do Alentejo ]
Ainda trago um gosto a trigo atrás de mim Que se me agarrou à alma ao nascer Sou como um carreiro longe de ter fim Como quem ceifou searas sem saber
Sou lá de onde ninguém fala, das marés De onde o horizonte queima o olhar Por paixão ainda trago a arder nos pés O calor de uma seara por cortar
Já cantei desde a nascente até à hora do sol-pôr Já naveguei nas ribeiras ao luar Ai Alentejo quem te amou não te esqueceu Inda se ouvem os teus ecos nas cantilenas do sol
O sol deu-me histórias velhas p’ra contar Que eu guardei de manhãzinha ao pé dum rio Em Janeiro roubei mantas ao luar E a um pastor roubei um tarro e um assobio
Já corri atrás dos corvos Já me escondi nos trigais Ouvi rolas nos sobreiros a arrulhar Ai Alentejo quem te amou não te esqueceu Inda se ouvem os teus ecos cada vez que a lua cai
Letra e música: Sebastião Antunes Arranjo: Gonçalo Pratas Intérprete: Sebastião Antunes* com Pedro Mestre (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017) Versão original: Quadrilha (in CD “Quarto Crescente”, Vachier & Associados/Ovação, 1999; CD “Lembranças do Meu Alentejo” (compilação), Ovação, 2012)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Algum dia eu era
[ Erva-Cidreira ]
Algum dia eu era, E agora já não, Da tua roseira O melhor botão.
Ó erva-cidreira Que estás no alpendre, Quanto mais se rega Mais a folha pende.
Mais a folha pende, Mais a rosa cheira; Que ‘tás no alpendre, Ó erva-cidreira.
Os olhos que olham P’ró chão de repente, Esses é que são Os que enganam a gente.
Ó erva-cidreira Que estás no alpendre, Quanto mais se rega Mais a folha pende.
Mais a folha pende, Mais a rosa cheira; Que ‘tás no alpendre, Ó erva-cidreira.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda e Ruben Alves Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)
Anda cá
[ Pombinha Branca ]
Anda cá, se tu queres ver! Verás o que ainda não viste: Verás dois olhos alegres Chorando lágrimas tristes.
Oh minha pombinha branca, Onde queres, amor, que eu vá? É de noite, faz escuro, Eu sozinho não vou lá.
Eu sozinho não vou lá, Eu sozinho lá não vou; Oh minha pombinha branca, P’ra te amar inda aqui estou.
No quarto aonde eu durmo Tudo são penas voando: Umas causadas por mim, Outras estás-mas tu causando.
Oh minha pombinha branca, Onde queres, amor, que eu vá? É de noite, faz escuro, Eu sozinho não vou lá.
Eu sozinho não vou lá, Eu sozinho lá não vou; Oh minha pombinha branca, P’ra te amar inda aqui estou.
Letra e música: Tradicional do Baixo Alentejo (aprendida com o grupo Modas à Margem do Tempo, em Évora) Arranjo: Celina da Piedade e músicos participantes Intérprete: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD1, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)
Anda cá, José se queres
Anda cá, José se queres a tua roupa lavada, ai, paga a uma lavadeira qu’eu não sou tua criada.
Qu’eu não sou tua criada, qu’eu não sou criada tua. Ai, Ó José se me não queres, ai, põe o chapéu, vai prá rua.
Põe o chapéu, vai prá rua, põe o chapéu, vai prá estrada. Ai, anda cá, José se queres ai, a tua roupa lavada.
(Popular – Alentejo)
Aqui ninguém tem trabalho
[ Terra de Catarina (Baleizão, Baleizão)]
Aqui ninguém tem trabalho E há muito para fazer: Vieram de toda a parte, Não tinham pão p’ra comer.
Ó Baleizão, Baleizão! Ó terra de Catarina, Onde nasceu e morreu Por uma bala assassina, Por uma bala assassina Cravada no coração; Ó terra de Catarina! Ó Baleizão, Baleizão!
Tinha no peito a coragem, Trazia os filhos na mão; Ó terra de Catarina! Ó Baleizão, Baleizão!
Ó Baleizão, Baleizão!
Ó terra de Catarina, Onde nasceu e morreu Por uma bala assassina, Por uma bala assassina Cravada no coração; Ó terra de Catarina! Ó Baleizão, Baleizão!
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
A ribeira quando enche
A ribeira quando enche Leva o junco acamado Traz-me tu em teu sentido Que eu te trago em meu cuidado
A ribeira quando enche Vai de pedrinha em pedrinha O homem que leva a barca Leva seu bem na barquinha
Leva seu bem na barquinha Inda lhe digo outra vez Quem namora sempre alcança Um beijinho, dois ou três
Dizem que a folha do trigo É maior que a da cevada Também a minha amizade Ao pé da tua é dobrada
(Popular – Alentejo)
Acorda se estás dormindo
[ Janeiras de Évora ]
(Chegada à porta)
Acorda se estás dormindo Nesse sono tão profundo, Às portas te estão pedindo P’rás almas do outro mundo.
E as almas do outro mundo Batem aos vossos portados, Acorda se queres ouvir Das almas os tristes brados.
Tristes brados dão as almas Isto é tudo bem certo, P’ra quem vive arrependido Está o sacramento aberto.
As almas do outro mundo, Elas te mandam pedir, Que lhes leves as esmolas Q’elas não podem cá vir.
(Despedida)
E as esmolas que vós destes, Se as destes com devoção, Na terra terás o prémio Lá no céu a salvação.
Letra e música: Popular (Alto Alentejo) Recolha: Fernando Costa (em Évora, junto da Sra. Helena Jesus Grilo) Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, public-art, 2004)
Adeus, Maria
— «Adeus, Maria, até quando, Eu até quando não sei; Cá ando no Ultramar, a pensar No dia em que voltarei.
Espera por mim, se quiseres… Faz o que tu entenderes; Acho que deves pensar em casar, Eu posso por cá morrer.
Ninguém o pode saber, É uma carta fechada… E depois te chamarão, pois então, Viúva sem seres casada.»
— «Ó António, Deus te guie Nos campos do Ultramar! Eu penso em ti, cá solteira, há quem queira Se tu nunca mais voltares.
Espero por ti, meu amor, Eu d’outro não quero ser! Nunca mais me casarei, que eu bem sei, Serei tua até morrer!
A carta que me mandaste Com um conselho imprudente… Meu amor, para contigo eu te digo: ‘Inda fiquei mais ardente.»
Meu amor, para contigo eu te digo: ‘Inda fiquei mais ardente.»
Letra: António Pardelha Música: Monda Intérprete: Monda Versão original: Monda com Katia Guerreiro (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)
Ao passar a ribeirinha
[ Água Sobe, Água Desce ]
Ao passar a ribeirinha, Água sobe, água desce; Dei a mão ao meu amor Antes que ninguém soubesse.
Se tu és o meu amor, Dá-me cá abraços teus! Se não és o meu amor, Saúdinha, adeus, adeus!
À frente do amor, Brincas tu, brincarei eu; Anda cá para meus braços! Ninguém te quer mais do que eu.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Ao romper da bela aurora
Ao romper da bela aurora Sai o pastor da choupana Vem gritando em altas vozes Muito padece quem ama
Muito padece quem ama Mais padece quem adora Sai o pastor da choupana Ao romper da bela aurora
Toda a vida fui pastor Toda a vida guardei gado Tenho uma nódoa no peito De me encostar ao cajado
Ao romper da bela aurora Sai o pastor da choupana Vem gritando em altas vozes Muito padece quem ama
Muito padece quem ama Mais padece quem adora Sai o pastor da choupana Ao romper da bela aurora
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Ganhões de Castro Verde (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, ACA “Os Ganhões”, 1997)
Aqui onde canto e ardo
[ Passarinho da charneca ]
Aqui onde canto e ardo entre papoulas e cardo. Sete palmos de charneca são o tamanho de um home medido em anos de fome, pesado em anos de seca, esquecido que teve nome e que, sendo a morte certa, vida desta não é d’home, vida desta não é d’home, passarinho da charneca.
Passarinho da charneca entrou na gaiola aberta. Já tem os olhos cegados para que cante melhor que o dono não é cantor. Traz os colmilhos cerrados vontades de mandador e porque é dos mal mandados julga assim mandar melhor nos que lhe estão sujeitados, passarinho da charneca.
Criei o corpo comendo desta terra da charneca ao entrar na cova aberta. Só estou pagando o que devo, eu sou devedor à terra. A terra me está devendo, a terra me está devendo. A terra paga-me em vida, Eu pago à terra em morrendo, eu pago à terra em morrendo, passarinho da charneca.
Letra: Tradicional – Alentejo / João Pedro Grabato Dias Música: Amélia Muge Intérprete: Amélia Muge (in CD “Todos os Dias”, Columbia/Sony, 1994)
Às vezes me ponho eu
[ A Vila de Castro Verde ]
Às vezes me ponho eu Na minha vida a pensar: Quem eu era, quem eu sou, Ao que eu havia de chegar!
A vila de Castro Verde És uma estrela brilhante: Como ela outra não há, És a mesma que eras dantes.
És a mesma que eras dantes Desta vila aproximada; És uma estrela brilhante Que está na História gravada.
Ó coração, não te assustes! Quando ouvires cantar bem, Entra e pede licença Para cantares também!
A vila de Castro Verde És uma estrela brilhante: Como ela outra não há, És a mesma que eras dantes.
És a mesma que eras dantes Desta vila aproximada; És uma estrela brilhante Que está na História gravada.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
As vozes da minha fala
[ Portel Estás Satisfeito ]
As vozes da minha fala, Como eram já não são: Fazem a mesma diferença Que o Inverno faz do Verão.
Portel estás satisfeito Em ver teus filhos brilhar, E até choras de contente Em os ouvindo cantar.
Minha fala é baixinha, Não a posso alevantar; E mesmo assim, sendo baixinha, Já m’a quiseram comprar.
Portel estás satisfeito Em ver teus filhos brilhar, E até choras de contente Em os ouvindo cantar.
Em os ouvindo cantar Até bate a mão no peito; Em ver teus filhos brilhar Portel estás satisfeito.
Brota a água
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
A ciência que o mar tem Não tem nada de pasmar: Não há regato nem rio Que ao mar não vá parar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre com Janita Salomé (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre com Janita Salomé (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Caminhos do Alentejo
Caminhos do Alentejo. Terra bravia de fomes com piteiras aceradas como pontas de navalhas em esperas de encruzilhadas! Caminhos do Alentejo. Desde valados e sebes, searas, vilas, aldeias e chuvas e descampados — caminhos do Alentejo desde menino vos piso!
Poema: Manuel da Fonseca (excerto inicial da parte I de “Para um poema a Florbela”) Música: Paulo Ribeiro Arranjo: Jorge Moniz Intérprete: Paulo Ribeiro Versão original: Paulo Ribeiro com Vitorino (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)
Campaniça do despique
Campaniça do despique, Na venda e bailes de roda: Dedilhando o improviso Ou trauteando uma moda.
Na rua do velho monte, Com as moças a bailar Os passos simples duma dança E a viola a dedilhar.
Nas feiras e romarias, Na serra e no alambique, Na venda e bailes de roda: Campaniça do despique.
O tocador da viola É feio mas toca bem; Se não casar por a prenda, Formosura não a tem!
Campaniça do despique, Na venda e bailes de roda: Dedilhando o improviso, Ou trauteando uma moda.
Na rua do velho monte, Com as moças a bailar Os passos simples duma dança E a viola a dedilhar.
Nas feiras e romarias, Na serra e no alambique, Na venda e bailes de roda: Campaniça do despique.
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Canta alentejano
Canta alentejano, canta, o teu canto é oração, tens a alma na garganta solidão, ai não, ai não!
Solidão, ai não, ai não! Quem canta, seu mal espanta. O teu canto é oração: canta, alentejano, canta!
Eu gosto muito de ouvir cantar a quem aprendeu. Houvera quem me ensinara, quem aprendia era eu!
Popular alentejano
Chamava-se Catarina
Em Memória de uma Camponesa Assassinada – Cantar Alentejano
Chamava-se Catarina, O Alentejo a viu nascer; Serranas viram-na em vida, Baleizão a viu morrer.
Ceifeiras na manhã fria Flores na campa lhe vão pôr; Ficou vermelha a campina Do sangue que então brotou.
Acalma o furor, campina, Que o teu pranto não findou! Quem viu morrer Catarina Não perdoa a quem matou.
Aquela pomba tão branca Todos a querem p’ra si; Ó Alentejo queimado, Ninguém se lembra de ti!
Aquela andorinha negra Bate as asas p’ra voar; Ó Alentejo esquecido, Inda um dia hás-de cantar!
Letra: António Vicente Campinas Música: Carlos Paredes (“Em Memória de uma Camponesa Assassinada”) e José Afonso (“Cantar Alentejano”) Intérprete: Mariana Abrunheiro com o Grupo Coral “Estrelas do Sul” de Portel (in Livro/CD “Cantar Paredes”, Mariana Abrunheiro/BOCA – Palavras Que Alimentam, 2015) Versão original (“Em Memória de uma Camponesa Assassinada”): Carlos Paredes (1973) (in CD “Na Corrente”, EMI-VC, 1996, Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/4CD “O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993”: CD3 – “Danças”, EMI-VC, 2003) Versão original (“Cantar Alentejano”): José Afonso (in LP “Cantigas do Maio”, Orfeu, 1971, 1982, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art’Orfeu Media, 2012)
Como podem ser iguais
[ Só Uma Pena Me Existe ]
[Cantiga:] Como podem ser iguais Os dedos das nossas mãos, Se há filhos dos mesmos pais Que não parecem irmãos?
[Moda:] Só uma pena me existe, Minha doce saudade: É olhar para o teu rosto, Ver-te assim tão pouca idade.
Ver-te assim tão pouca idade, Ver-te assim tão criancinha; Só uma pena me existe, Minha doce jovenzinha.
[Cantiga:] Lá por trás daquele outeiro, Nasce o sol e nasce a lua; Ando à procura, não acho Cara mais linda que a tua.
[Moda:] Só uma pena me existe, Minha doce saudade: É olhar para o teu rosto, Ver-te assim tão pouca idade.
Ver-te assim tão pouca idade, Ver-te assim tão criancinha; Só uma pena me existe, Minha doce jovenzinha.
Só uma pena me existe, Minha doce saudade: É olhar para o teu rosto, Ver-te assim tão pouca idade.
Ver-te assim tão pouca idade, Ver-te assim tão criancinha; Só uma pena me existe, Minha doce jovenzinha.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda e Ruben Alves Intérprete: Monda Versão original: Monda com Rui Veloso (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)
De dia sonho contigo
[ Vira do Dia ]
De dia sonho contigo, À noite aqui te quero; Esquecer-te não consigo, De não te ter desespero.
Oh meu amor, quem te vira Trinta dias cada mês, Sete dias da semana, Cada instante uma vez!
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Acordo, sonho contigo, Fecho os olhos, só te vejo; Firme como o firmamento Só o bem que nos desejo.
É num sonho que começa O amor na vida inteira; Quem me dera viver sempre A sonhar desta maneira.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
É num sonho que começa O amor na vida inteira; Quem me dera viver sempre A sonhar desta maneira.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Nasce o dia, vem a noite, Põe-se o Sol, torna-se a pôr; Vejo-te, torno-te a ver Cada vez com mais amor.
Letra: Tradicional do Alentejo, Macadame e Catarina Gouveia Música: Macadame Intérprete: Macadame Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Debaixo do lenço azul
[ Maria Campaniça ]
Debaixo do lenço azul com sua barra amarela os lindos olhos que tem! Mas o rosto macerado de andar na ceifa e na monda desde manhã ao sol-posto, mas o jeito de mãos torcendo o xaile nos dedos é de mágoa e abandono… Ai Maria Campaniça, levanta os olhos do chão que eu quero ver nascer o sol!
Poema: Manuel da Fonseca (in “Rosa-dos-Ventos”, Lisboa: Imprensa Baroeth, 1940; “Poemas Completos”, Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1958; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 3.ª edição, Lisboa: Portugália Editora, 1969 – p. 38; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 60) Música: Paulo Ribeiro Arranjo: Jorge Moniz Intérprete: Paulo Ribeiro Versão original: Paulo Ribeiro (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)
Deixei de olhar p’ra quem fui
[ Cantiga do Tempo Novo ]
Deixei de olhar p’ra quem fui, Do passado estou ausente; Às vezes mais vale a pena Rir de tudo o que faz pena Da alma triste da gente.
Vou lançar mãos à aventura, Correr noutra direcção; Quanto mais nos lamentamos Ainda mais presos ficamos E nos dói o coração.
Quando me ponho a pensar Em alguém que tanto quis, Já não me sento a chorar E até me dá p’ra cantar Modas que um dia lhe fiz.
Agora sinto-me livre, Sem nada p’ra me prender: E vou pela estrada fora Rumo ao sul, vou sem demora, Basta o sol p’ra me aquecer.
A nossa vida é um mar Com muitas marés e vagas: Não temos nada a perder, O melhor mesmo é viver Combatendo as nossas mágoas.
Tenho o mundo à minha espera, Há ilhas por descobrir: E há uma vontade nova, Um tempo que se renova, Novo amor que vai surgir.
Letra e música: Paulo Ribeiro Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016) Versão original: Paulo Ribeiro com o Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” (in CD “Aqui Tão Perto do Sol”, EMI-VC, 2002) Outra versão de Paulo Ribeiro (in CD “Canções 1998-2002”, Paulo Ribeiro, 2014)
Deixo-te ao postigo
[ Amores de Jericó ]
Deixo-te ao postigo Um lenço e uma rosa; Vou partir p’ra longe, Partir sem demora.
Não chores por mim! Eu não o mereço: Sou sombra fugaz Mas não te esqueço.
Não queiras saber O que eu não te digo: Sou fora-da-lei, Sou mais que um bandido.
Não venhas por mim Que eu não sei amar! Com a faca nos dentes Meu verbo é zarpar.
O Sol já desponta, Vai-se a madrugada: O perigo espreita; Adeus, minha amada!
Não quero teus ais, Ouve o que eu te digo: Ande eu onde andar, Estarás sempre comigo.
Não queiras saber O que eu não te digo: Sou fora-da-lei, Sou mais que um bandido.
Não venhas por mim Que eu não sei amar! Com a faca nos dentes Meu verbo é zarpar.
Não queiras saber O que eu não te digo: Sou fora-da-lei, Sou mais que um bandido.
Não venhas por mim Que eu não sei amar! Com a faca nos dentes Meu verbo é zarpar.
Letra e música: Celina da Piedade e Alex Gaspar Intérprete: Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)
Diz a laranja ao limão
Diz a laranja ao limão: “Qual de nós será mais doce?” Sou fiel ao meu amor, Assim ele p’ra mim fosse.
Assim ele p’ra mim fosse, Fiel ao meu coração; “Qual de nós será mais doce?”, Diz a laranja ao limão.
Diz a laranja ao limão: “Qual de nós será mais doce?” Sou fiel ao meu amor, Assim ele p’ra mim fosse.
Assim ele p’ra mim fosse, Fiel ao meu coração; “Qual de nós será mais doce?”, Diz a laranja ao limão.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda e Ruben Alves Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016) Primeira versão: Vitorino (in LP “Não Há Terra Que Resista: Contraponto”, Orfeu, 1979, reed. Movieplay, 1991)
Dizem pr’aí que chegou
[ Maria da Rocha ]
Dizem pr’aí que chegou A liberdade apressada; Eu inda não dei por nada, Continuo sendo o que sou.
No Alentejo eu trabalho Cultivando a dura terra; Vou fumando o meu cigarro, Vou cumprindo o meu horário Lançando a semente à terra.
Maria da Rocha, Do alto rochedo. Quem namora a Rocha, Quem namora a Rocha Namora sem medo.
Namora sem medo, Medo de ninguém. Maria da Rocha, Maria da Rocha, Da Rocha, meu bem.
Quem me dera a lua Que nasce no mar: Fosse à tua rua De véu branco e nua P’ra te namorar.
P’ra te namorar, Quem me dera um dia Guardar o luar Que tens no olhar, Meu amor, Maria.
Maria da Rocha, Do alto rochedo. Quem namora a Rocha, Quem namora a Rocha Namora sem medo.
Namora sem medo, Medo de ninguém. Maria da Rocha, Maria da Rocha, Da Rocha, meu bem.
Letra: Vitorino (quadra “Dizem pr’aí que chegou”), Popular (Alentejo), e João Monge (quintilhas “Quem me dera a lua” e “P’ra te namorar”) Música: Popular (Alentejo) Intérprete: Duarte Versão original: Duarte (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Dorme, meu menino d’oiro
[ Aurora Tem um Menino ]
Dorme, meu menino d’oiro! Oh meu lindo amor! Não chores a tua sorte, Oh meu lindo amor! Oh meu lindo bem!
Que eu de ti nunca me perco, Oh meu lindo amor! Minha estrela do norte, Oh meu lindo amor! Oh meu lindo bem!
Aurora tem um menino Mas tão pequenino; O pai quem será? É o Zé da Aroeira Que vai p’rá Figueira, Mais tarde virá.
No adro de São Vicente, Onde há tanta gente, Aurora não está; Cala-te, Aurora, não chores, Que o pai da criança Mais tarde virá!
Cala-te, Aurora, não chores, Que o pai da criança Mais tarde virá!
Letra: Tradicional do Alentejo, e Celina da Piedade e Alex Gaspar (duas estrofes iniciais) Música: Tradicional do Alentejo Intérprete: Celina da Piedade Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)
É alegre e sonhadora
[ Andei a guardar o gado ]
É alegre e sonhadora A canção alentejana: Cantada ao romper de aurora Nas margens do Guadiana.
Andei a guardar o gado Em tempos que já lá vão: Deixei a vida do campo, Trabalho na construção.
Trabalho na construção, Já não me encosto ao cajado; Em tempos que já lá vão Andei a guardar o gado.
O Alentejo é que é O celeiro da nação; Nós somos alentejanos, Somos da terra do pão.
Andei a guardar o gado Em tempos que já lá vão: Deixei a vida do campo, Trabalho na construção.
Trabalho na construção, Já não me encosto ao cajado; Em tempos que já lá vão Andei a guardar o gado.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
É tão lindo ver no campo
[ Trigueirinha alentejana ]
É tão lindo ver no campo Tão linda ceifando Trigueirinha alentejana Numa mão levas a foice Tão linda ceifando Noutra canudos de cana
Com seu traje à camponesa Tão linda ceifando Sempre de chapéu ao lado Cantando lindas cantigas Tão linda ceifando As espigas do pão sagrado
(Popular – Alentejo)
Estando eu na minha loja
[ João Brandão ]
Estando eu na minha loja, Encostado ao meu balcão, Mais brando… Encostado ao meu balcão,
Ouvi uma voz dizer: «Vais preso, João Brandão!» Mais brando… «Vais preso, João Brandão!»
Passarinho prisioneiro, Pela tua liberdade; Mais brando… Pela tua liberdade.
Eu cantando peço a Deus: Não haja aqui falsidade! Mais brando… Não haja aqui falsidade!
Estando eu na minha loja, Encostado ao meu balcão, Mais brando… Encostado ao meu balcão,
Ouvi uma voz dizer: «Vais preso, João Brandão!» Mais brando… «Vais preso, João Brandão!» Mais brando… «Vais preso, vais p’rá prisão!»
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Eu ia não sei p’ra onde
[ Que Bonito Que Seria ]
Eu ia não sei p’ra onde, Encontrei não sei quem era: Encontrei o mês de Abril Procurando a Primavera.
Que bonito que seria Se houvesse compreensão: Os Homens não se matavam E davam-se como irmãos.
É tão linda a liberdade Até que chegou o dia; Se houvesse compreensão Então, que bonito que seria!
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Eu ouvi um passarinho
[ Alentejo ]
1. Eu ouvi um passarinho às quatro da madrugada, Cantando lindas cantigas à porta da sua amada.
2. Ao ouvir cantar tão bem a sua amada chorou. Às quatro da madrugada o passarinho cantou.
3. Alentejo quando canta, vê quebrada a solidão; traz a alma na garganta e o sonho no coração.
4. Alentejo, terra rasa, toda coberta de pão; a sua espiga doirada lembra mãos em oração.
Eu só quero que me fales
[ Afã ]
Eu só quero que me fales De cantigas e de vinho; Deixa lá e não te rales, Deus perdoa o descaminho!
Eu só quero que me fales De cantigas e de vinho; Deixa lá e não te rales, Deus perdoa o descaminho!
Deixa essa gente vã Com conversas e intrigas. Elas não interessam nada Pois o meu maior afã É beber minha golada De vinho na tarde vã, Ao som de belas cantigas.
Poema: Al-Mu’tamid (1040-1095); trad. Adalberto Alves (in “O Meu Coração É Árabe: A Poesia Luso-Árabe”, Lisboa: Assírio & Alvim, 1987, 2.ª edição, 1991 – p. 151) Música: Paulo Ribeiro e Pedro Frazão Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016) [gravado na sala A Bruxa Teatro, Évora, Fev. 2017 ] Versão original: Anonimato (in CD “Anonimato”, Heaven Sound, 1993) Outras versões: Paulo Ribeiro (in CD “Aqui Tão Perto do Sol”, EMI-VC, 2002); Paulo Ribeiro (in CD “Canções 1998-2002”, Paulo Ribeiro, 2014)
Eu subi àquele monte
[ Altinho ]
Eu subi àquele monte para ver se te esquecia; Quanto mais alta estava mais o meu amor crescia.
Quero ir para o altinho que eu daqui não vejo bem; Quero ir ver o meu amor se ele adora mais alguém.
Se ele adora mais alguém, se ele me ama a mim sozinha, que eu daqui não vejo bem, quero ir para o altinho.
que eu daqui não vejo bem, quero ir para o altinho.
Letra: Tradicional do Alentejo, e Celina da Piedade e Alex Gaspar (quadra “Eu subi àquele monte”) Música: Tradicional do Alentejo, e Toon Van Mierlo e Pascale Rubens Intérprete: Celina da Piedade Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)
Évora doce
Évora doce Negro vestido Por capelinhas Cercada d’ouro Trigo em tesouro Mulher rainha
Guardas histórias Guerras e amores Por ti vividas E tens no quarto Cercando a praça Mil avenidas
São tuas mágoas Que são escutadas Quando da Sé Por entre as horas Amargurada Bates o pé
E os teus cabelos Ficam mais belos Quando tu vês Capas traçadas Numa guitarra Cantando o que és
Évora doce Negro vestido Por capelinhas Cercada d’ouro Trigo em tesouro Mulher rainha
Envergonhada Se o Alentejo Lhe pede um beijo E às escondidas P’ra ninguém ver Mata o desejo
Letra e música: Duarte Intérprete: Duarte (in CD “Aquelas coisas da Gente”, JBJ & Viceversa, 2009) Primeira versão: Duarte (in CD “Fados Meus”, Ovação, 2004)
Fez sábado quinta-feira
Fez sábado quinta-feira, P’ra lá d’Évora três semanas, Estive dez dias num Verão Nas Américas Romanas.
Embarquei em dois caleiros Na baía de Lisboa; Arribei, fui dar a Goa, Desembarquei em Alenquer; Casei com sete mulheres, Falta uma p’rá primeira; Fui dar à Ilha Terceira, Com três dias numa hora; Abalei e vim-me embora, Fez sábado quinta-feira.
Agarrei nos alforginhos, Pus um pão em quatro enxacas, Na gamela duas vacas E na borracha toucinho; Um açafate com vinho, Trinta metros de banana; Dei passos à americana, Fui passar a Ayamonte; Abalei hoje, cheguei ontem P’ra lá d’Évora três semanas.
Eu já estive em Erapouca, Numa ocharia empregado; Foi-se um carro carregado Numa abóbora canoca; Um mosquito com um boi na boca Cem léguas em proporção; Atirei-lhe um bofetão Que pelo ar o fez ir; À espera dele cair Estive dez dias num Verão.
Fui soldado, assentei praça No 15 de Sapadores; Maquinista de vapores Na carreira de Alcobaça; Venci o Forte da Graça, Também a Vila de Terena E as províncias arraianas, Venci toda a nobrezia; Bati-me com a Turquia Nas Américas Romanas.
Fez sábado quinta-feira, P’ra lá d’Évora três semanas, Estive dez dias num Verão Nas Américas Romanas.
Letra: Popular Música: José Manuel David Arranjo e direcção musical: José Manuel David Intérprete: Gaiteiros de Lisboa com Luís Espinho e João Paulo Sousa (Adiafa) (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012)
Folheia-se o caderno e eis o sul
[ Alentejo ]
Folheia-se o caderno e eis o sul E o sul é a palavra. E a palavra Desdobra-se No espaço com suas letras de Solstício e de solfejo Além de ti Além do Tejo
Verás o rio e talvez o azul Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio Mas aquela grande linha onde o abstracto Começa lentamente a ser o Sul
Outro é o tempo Outra a medida
Tão grande a página Tão curta a escrita
Entre o achigã e a perdiz Entre chaparro e choupo
Tanto país E tão pouco
Solidão é companheira E de senhor são seus modos Rei do céu de todos E de chão nenhum
À sombra de uma azinheira Há sempre sombra para mais um
Na brancura da cal o traço azul Alentejo é a última utopia
Todas as aves partem para o sul Todas as aves: como a poesia
Manuel Alegre (Alentejo e ninguém)
Gosto muito dos teus olhos
[ O Mocho ]
Gosto muito dos teus olhos, ó Maria, Muito mais gosto dos meus; Se não fossem os meus olhos, ó Maria, Não podia amar os teus.
O triste do mocho piava, Ó lari, lariava, Em cima da melancia, ó Maria; Maria, Maria, Maria Capitôa Dos montes, tiroli, ó terrim, tim, tim; As mulheres são a alegria de mim.
Eu não quero mais amar, ó Maria, Que eu do amar tenho medo; Eu não quero arriscar, ó Maria, A pagar o que eu não devo.
O triste do mocho piava, Ó lari, lariava, Em cima da melancia, ó Maria; Maria, Maria, Maria Capitôa Dos montes, tiroli, ó terrim, tim, tim; As mulheres são a alegria de mim.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)
Grândola, vila morena
Grândola, vila morena, terra da fraternidade, o povo é quem mais ordena dentro de ti, ó cidade.
Dentro de ti, ó cidade, o povo é quem mais ordena, terra da fraternidade, Grândola, vila morena.
Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade, Grândola, vila morena, t erra da fraternidade.
Terra da fraternidade, Grândola, vila morena, em cada rosto igualdade, o povo é quem mais ordena.
À sombra duma azinheira que já não sabia a idade, jurei ter por companheira, Grândola, a tua vontade.
Grândola, a tua vontade jurei ter por companheira, à sombra duma azinheira que já não sabia a idade.
Letra e música: José Afonso Intérprete: José Afonso (in “Cantigas do Maio”, Orfeu, 1971; reed. Movieplay, 1987)
Há ondas, meu bem
[ Sou das Ondas ]
Há ondas, meu bem, há ondas, Há ondas sem ser no mar: Há ondas no teu cabelo, Há ondas no teu olhar.
Sou das ondas, sou das ondas, Sou das ondas, sou do mar; Meu amor já me deixou, Meu amor vai-me deixar.
Nas ondas do mar, lá fora, Aprendi eu a cantar Numa barquinha doirada, Ó meu bem, a navegar.
Há ondas, meu bem, há ondas, Há ondas sem ser no mar: Há ondas no teu cabelo, Há ondas no teu olhar.
Sou das ondas, sou das ondas, Sou das ondas, sou do mar; Meu amor já me deixou, Meu amor vai-me deixar.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Paulo Ribeiro
Há um sobreiro velhinho
[ Sobreiro Velhinho ]
Há um sobreiro velhinho Que nasceu à meia-encosta: É a casa dos pardais, Malhada dos animais, Faz sombra que o pastor gosta.
Faz sombra que o pastor gosta Nos dias quentes de Verão; Põe o seu gado ao acarro, Da cortiça faz um tarro, Corta a lenha, faz carvão.
Corta a lenha, faz carvão E nasce um novo raminho Da Primavera ao Inverno; Deus queira que seja eterno, Há um sobreiro velhinho.
O sobreiro é obrigado A sustentar a cortiça; Quem não ama de vontade, Seja qual for a idade, Não se obriga por justiça.
Há um sobreiro velhinho Que nasceu à meia-encosta: É a casa dos pardais, Malhada dos animais, Faz sombra que o pastor gosta.
Faz sombra que o pastor gosta Nos dias quentes de Verão; Põe o seu gado ao acarro, Da cortiça faz um tarro, Corta a lenha, faz carvão.
Corta a lenha, faz carvão E nasce um novo raminho Da Primavera ao Inverno; Deus queira que seja eterno, Há um sobreiro velhinho.
Letra e música: Martinho Marques Arranjo: José Manuel David Intérprete: Pedro Mestre com Pedro Calado & Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre com Pedro Calado & Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Já são horas da merenda
Já são horas da merenda; Ai, vamo-nos a merendar Gaspachinho com vinagre, Ai, para o peito refrescar!
Já se vai o Sol a pôr Ai, para trás do cabecinho; Bem quisera o nosso amo Ai, prendê-lo c’um baracinho.
Já são horas da merenda; Ai, vamo-nos a merendar Gaspachinho com vinagre, Ai, para o peito refrescar!
Já se vai o Sol a pôr Ai, para trás do cabecinho; Bem quisera o nosso amo Ai, prendê-lo c’um baracinho.
Letra e música: Tradicional Recolha: Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça Intérprete: Macadame Primeira versão de Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Lá nos campos
[ Eu fui apanhar marcela ]
Lá nos campos, verdes campos Eu fui apanhar marcela Daquela mais miudinha Daquela mais amarela
Daquela mais amarela Daquela mais miudinha Lá nos campos, verdes campos A marcela, a marcelinha
(Popular – Alentejo)
Lá traz a cegonha
[ Popular alentejana ]
Lá traz a cegonha no bico o raminho. Que seja bem-vinda branquinha, tão linda ao seu velho ninho.
Senhora cegonha, como tem passado? Não há quem a veja voar p’rá Igreja, pousar no telhado.
Quando chega o Outono e o bando levanta, anuncia a hora que se vai embora, leva a meia branca.
Lá vai uma embarcação
Lá vai uma embarcação Por esses mares fora; Por aqueles que lá vão Há muita gente que chora.
Há muita gente que chora Com mágoas no coração; Por esses mares fora Lá vai uma embarcação.
Ó mar alto, ó mar alto, Ó mar alto sem ter fundo! Mais vale andar no mar alto Que nem nas bocas do mundo.
Lá vai uma embarcação Por esses mares fora; Por aqueles que lá vão Há muita gente que chora.
Há muita gente que chora Com mágoas no coração; Por esses mares fora Lá vai uma embarcação.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006) Outra versão: Rão Kyao & Os Ganhões de Castro Verde (in CD “Rão Kyao & Riccardo Tesi: Live in Sete Sóis”, Associação Sete Sóis Sete Luas, 2005)
Lembra-me o tempo passado
[ O Almocreve ]
Lembra-me o tempo passado, Tudo se vai acabando: O boi puxando o arado, O almocreve cantando…
O almocreve cantando Semeando o verde prado. Quando vejo alguém lavrando Lembra-me o tempo passado.
A vida do almocreve É uma vida arriscada: Ao descer uma ladeira, Ao cerrar duma carrada.
Lembra-me o tempo passado, Tudo se vai acabando: O boi puxando o arado, O almocreve cantando…
O almocreve cantando Semeando o verde prado. Quando vejo alguém lavrando Lembra-me o tempo passado.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Linda cara que tu tens
[ Fadinho Alentejano ]
Linda cara que tu tens, já sei, Quando chegas noite fora. À espera à porta de casa, Está o teu pai que te adora.
Lindos olhos tem o mocho, piu, Quando a noite vem chegando. P’ra deixar passar a noite, Uma moda eu vou cantando.
Muda a água às azeitonas, Rega bem os teus tomates, Tem lá cuidado com a horta! O cravo já está no vaso, Sim, senhora, por acaso.
Abalaste para Lisboa, pois, Deixaste-me ao pé da porta. Tu seguiste o teu caminho, A minha alma ficou torta.
Quando cheguei ao Barreiro, já fui, Lisboa estava fechada. Voltei p’ra casa a cantar, Uma vida abençoada.
Muda a água às azeitonas, Rega bem os teus tomates, Tem lá cuidado com a horta! O cravo já está no vaso, Sim, senhora, por acaso.
Letra e música: Paulo de Carvalho Intérprete: Ricardo Ribeiro Versão original: Ricardo Ribeiro com o Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Hoje É Assim, Amanhã Não Sei”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2016)
Maldita sociedade
[ Camponês Alentejano ]
Maldita sociedade, Estás tão mal organizada: Quem não trabalha tem tudo, Quem trabalha não tem nada!
Camponês alentejano, Camponês agricultor: Tu trabalhas todo o ano, Dás produto ao lavrador.
Dás produto ao lavrador, Tua vida é um engano: É tão triste o teu valor, Camponês alentejano!
Todo o homem que trabalha Não deve nada a ninguém: Aquele que nada faz Deve tudo quanto tem.
Camponês alentejano, Camponês agricultor: Tu trabalhas todo o ano, Dás produto ao lavrador.
Dás produto ao lavrador, Tua vida é um engano: É tão triste o teu valor, Camponês alentejano!
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Maldita sociedade, estás tão mal organizada
[ Há Lobos sem Ser na Serra ]
Maldita sociedade, Estás tão mal organizada! Quem não trabalha tem tudo, Quem trabalha não tem nada.
Há lobos sem ser na serra, Eu ainda não sabia; Debaixo de um arvoredo Trabalham com valentia.
Trabalham com valentia Cada qual a sua terra; Eu ainda não sabia Que há lobos sem ser na serra.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Mariana canta ao despique
[ Ti Mariana ]
Mariana canta ao despique: Fez do cante a sua lida, Ali p’rós lados de Ourique, Nessa planície perdida.
Nessa planície perdida, Nesse Alentejo adorado, Ti Mariana achou a vida E fez do cante o seu fado.
E fez do cante o seu fado, Cantando com o coração; As modas vão dando brado Ao velho estilo baldão.
Quem canta seu mal espanta, É o ditado que o diz; Cantar afina a garganta, Povo que canta é feliz.
Mariana canta ao despique: Fez do cante a sua lida, Ali p’rós lados de Ourique, Nessa planície perdida.
Nessa planície perdida, Nesse Alentejo adorado, Ti Mariana achou a vida E fez do cante o seu fado.
E fez do cante o seu fado, Cantando com o coração; As modas vão dando brado Ao velho estilo baldão.
A viola campaniça, Em meus dedos dedilhando, Acompanha sem preguiça Qualquer Mariana cantando.
Mariana canta ao despique: Fez do cante a sua lida, Ali p’rós lados de Ourique, Nessa planície perdida.
Nessa planície perdida, Nesse Alentejo adorado, Ti Mariana achou a vida E fez do cante o seu fado.
E fez do cante o seu fado, Cantando com o coração; As modas vão dando brado Ao velho estilo baldão.
Letra: Rosa Guerreiro Dias Música: José Manuel David Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Menina estás à janela
Menina estás à janela Com o teu cabelo à lua Não me vou daqui embora Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua Sem levar uma prenda dela Com o teu cabelo à lua Menina estás à janela
Os olhos requerem olhos E os corações, corações E os meus requerem os teus Em todas as ocasiões
Letra e música: Popular (Alentejo) Recolha e adaptação: Vitorino Intérprete: Vitorino Versão original: Vitorino (in “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975; reed. Movieplay, 1999) Versão instrumental: Opus Ensemble (in “Temas do cancioneiro Português”, EMI Classics, 1987; reed. 1998)
Mértola dormia frente ao Guadiana
[ Em Mértola ]
Mértola dormia frente ao Guadiana branca, branca, branca torre de menagem, torre de vigia de quem mais se ama iam nas pedrinhas, pequeninos rios do suor da terra alentejana para lá dos montes, pertinho da raia onde a terra passa a ser estranha
Com um sol a pique frente a uma mesquita branca, branca, branca subindo ao castelo, subindo à vigia vendo o panorama pr’além das muralhas, para aquém dos montes prendiam-se os olhos à bonita ficavam nos verdes, ficavam nos brancos ficavam nos tempos da Moirama
Suando pestanas, frente a uma cegonha branca, branca, branca Mértola corria frente ao Guadiana por quem se derrama o sol que há nos olhos, o mel que há no peito a dor que há no corpo de quem sonha com o sabor das ervas, no cheiro das águas no voltar a ver a quem mais se ama
Ia viajante frente à moradia branca, branca, branca ia sendo moira, noiva tão serena e alma cigana o lenço voando, batia no rosto no silêncio olhava o que não via para lá da terra, para lá dos montes nunca mais veria a tarde calma
Mértola dormia frente ao Guadiana branca, branca, branca torre de vigia, torre de menagem a quem mais se ama iam nas pedrinhas, pequeninos rios do amor à terra alentejana para lá dos montes, pertinho da raia onde a terra passa a ser Espanha
Poema e música: Teresa Muge Intérprete: Amélia Muge (in CD “Múgica”, UPAV, 1992)
Minha mãe, estou de abalada
[ Minha Mãe, Sou um Mainante ]
Minha mãe, estou de abalada: Parto já, neste instante; Adeus, minha mãe amada, Vou p’rá vida de mainante.
De manta ao ombro e bordão, Trilho caminhos de amargura: Tenho fome, não tenho pão, Durmo assim na noite escura.
Rompe o sol de manhãzinha E o povoado é distante: Cantando p’ra ti, mãezinha, Esta vida de mainante.
As lágrimas não me apagam As queixas e os martírios: Só as estrelas acalmam, À noite, os meus delírios.
De manta ao ombro e bordão, Trilho caminhos de amargura: Tenho fome, não tenho pão, Durmo assim na noite escura.
Rompe o sol de manhãzinha E o povoado é distante: Cantando p’ra ti, mãezinha, Esta vida de mainante.
O meu chão é chão barrento Pisado com ternura, De quem dorme ao relento E faz dele a sepultura.
Letra: Romão Janeiro Música: Paulo Ribeiro Intérprete: Paulo Ribeiro Versão original: Grupo Coral “Os Mainantes” de Pias (in CD “Entre Mestres e Aprendizes”, de Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” & “Os Mainantes”, Açor/Emiliano Toste, 2016)
Moreninha alentejana
– Moreninha alentejana, quem te fez, morena, assim? – Foi o sol da Primavera que caía sobre mim.
Que caía sobre mim, que andava a ceifar o trigo. – Moreninha alentejana, por que não casas comigo?
Por que não casas comigo? Por que não casas com ela? – Quem te fez, morena, assim? – Foi o sol da Primavera.
Na sociologia do vinho
Na sociologia do vinho é que se brinda! É de azeite a gordura que agradece a quentura da lã ventre de linho e o gosto da azeitona verde, verde.
No suor do cajado lã de ovelha firma-se o peito, esteva velha.
Nas patas do rafeiro é que se alonga a geometria do sul desfeita em cal e a rijeza dos nervos já perdida.
A cegonha já acena um bater de asas. Sangrado o campo, mirradas são as casas. Não são homens; são sombra toda sal, Só vultos de lentidão ferida.
É no traço do sul que mais se acolhe o ermo das lonjuras desenhadas: A sombra, o silêncio e a tristeza de tristezas mal balbuciadas.
Geométrico sul, cal e planura Loiro de água verde adormecida. Quem te dará um alento uma saída de alma clara em escancarada alvura?
Só no cantar do sul o tempo dura…
Letra: Afonso Dias Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Namorei sempre à tardinha
[ A Moda do Chegadinho ]
Namorei sempre à tardinha Certas moças da minha aldeia: Fosse magra, fosse gordinha, Bonita ou menos feia.
Chegadinha, chegadinha a mim, Chegadinho, chegadinho a ela; Chegadinho, chegadinha, chegadinhos Ao postigo e à janela.
Brinquei com uma, brinquei com duas, Duas, três, quatro ou cinco; Brinquei contigo, brinquei com ela, Já sou casado e agora já não brinco.
Chegadinha, chegadinha a mim, Chegadinho, chegadinho a ela; Chegadinho, chegadinha, chegadinhos Ao postigo e à janela.
Sou casado e com juízo, Mas não deixo de pensar Quando vejo moças catitas À janela a namorar.
Chegadinha, chegadinha a mim, Chegadinho, chegadinho a ela; Chegadinho, chegadinha, chegadinhos Ao postigo e à janela.
Letra e música: Francisco Naia Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Não é a ceifa que mata
Terra Sagrada do Pão
Não é a ceifa que mata Nem os calores do Verão É a erva unha-gata O cardo pica na mão
Alentejo, Alentejo Terra sagrada do pão Eu hei-de ir ao Alentejo Inda que seja no Verão
Ver o doirado do trigo Na imensa solidão Alentejo, Alentejo Terra sagrada do pão
Eu sou devedor à terra A terra me está devendo A terra paga-me em vida Eu pago à terra em morrendo
(Popular – Alentejo)
Nasce o Sol no Alentejo
Nasce o Sol no Alentejo, Nasce água clara na fonte; Nasce em mim a saudade Da lareira do teu monte.
Quem me dera ser o trigo Que ciranda na peneira, E poder andar contigo Cirandando a vida inteira.
Não há cravo como o branco Que até no cheirar é doce, Nem amor como o primeiro Se ele fingido não fosse.
Pelas estrelas da noite Regulam-se os marinheiros, E eu pelos teus lindos olhos Que são astros mais certeiros.
Às ceifeiras nunca digas Madrigais no teu cantar, Pois se vão em tais cantigas Fica o trigo por ceifar.
Eu não sei por que motivo Tu me recusas um beijo!… Ao menos sei porque vivo Tão preso ao teu Alentejo.
Letra e música: Popular (Alentejo) Recolha: José Alberto Sardinha Arranjo: António Prata, com Carlos Barata e Pedro Fragoso Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD1, Ovação, 2001) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Outras Terras”, Ronda dos Quatro Caminhos, 1999)
No Alentejo eu trabalho
[ É tão grande o Alentejo ]
No Alentejo eu trabalho Cultivando a dura terra; Vou fumando o meu cigarro, Vou cumprindo o meu horário Lá na encosta da serra.
É tão grande o Alentejo, Tanta terra abandonada! A terra é que dá o pão: Para bem desta nação Devia ser cultivada.
Tem sido sempre esquecido À margem ao sul do Tejo: Há gente desempregada, Tanta terra abandonada! É tão grande o Alentejo!
Trabalha, homem, trabalha Se queres ter o teu valor! Os calos são os anéis, Os calos são os anéis Do homem trabalhador.
É tão grande o Alentejo, Tanta terra abandonada! A terra é que dá o pão: Para bem desta nação Devia ser cultivada.
Tem sido sempre esquecido À margem ao sul do Tejo: Há gente desempregada, Tanta terra abandonada! É tão grande o Alentejo!
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006) Outra versão: Dulce Pontes & Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Primeiro Canto”, de Dulce Pontes, Polydor B.V. the Netherlands/Universal, 1999; CD “O Círculo Que Leva a Lua”, do Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003)
No nosso Alentejo
[ Trigueira de raça ]
No nosso Alentejo é tão lindo ouvir cantar as ceifeiras, ver as mondadeiras no campo a sorrir.
Trigueira de raça, quem te fez assim ceifando os trigais, ouvindo os teus ais com pena de mim?
Eu por ti chorando alegre e cantando sinto o teu desejo, linda trigueirinha, linda alentejana, dá-me cá um beijo.
À sombra da silva é que eu adormeço sonhando contigo. Linda alentejana, eu não te mereço.
Popular Alentejano
No tempo da Primavera
No tempo da Primavera, há lindas flores no prado. Canta, ó lindo passarinho, ao nascer do sol doirado.
Ao nascer do sol doirado, ó meu amor, quem me dera pisando os mimosos prados no tempo da Primavera.
Ó Alentejo dos pobres
[ Margem Sul (Canção Patuleira) ]
Ó Alentejo dos pobres, reino da desolação, não sirvas quem te despreza, é tua a tua nação.
Não vás a terras alheias lançar sementes de morte. É na terra do teu pão que se joga a tua sorte.
Terra sangrenta de Serpa, terra morena de Moura, vilas de angústia em botão, doce raiva em Baleizão.
Ó margem esquerda do Verão mais quente de Portugal, margem esquerda deste amor feito de fome e de sal.
A foice dos teus ceifeiros trago no peito gravada, ó minha terra morena como bandeira sonhada.
Terra sangrenta de Serpa, terra morena de Moura, vilas de angústia em botão, doce raiva em Baleizão.
Poema: Urbano Tavares Rodrigues Música: Adriano Correia de Oliveira Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in “Margem Sul”, Orfeu, 1967; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)
Ó águia que vais tão alta
Ó águia que vais tão alta, voando de pólo em pólo, leva-me ao céu onde eu tenho a mãe que me trouxe ao colo.
A mãe que me trouxe ao colo ficou-me fazendo falta, voando de pólo em pólo, ó águia que vais tão alta.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
O Alentejo é que é
[ Cidades, Vilas e Montes ]
O Alentejo é que é O celeiro da nação; Nós somos alentejanos, Nós somos alentejanos, Somos da terra do pão.
É linda a Reforma Agrária Nos campos do Alentejo: Aumentou a produção, Deu para todos mais pão, É isso que eu mais invejo.
Cidades, vilas e montes, Unidade a trabalhar: Só assim a reacção, Gente má sem coração, Nunca mais pode passar.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, ?; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
O Alentejo não tem sombras
[ As Flores da Nossa Terra ]
O Alentejo não tem sombras Se não as que vêm do céu; E o camponês tem abrigo, E o camponês tem abrigo Às abas do seu chapéu.
Flores da nossa terra Que abandonaram as mães Numa linda romaria Feita com muita alegria: Foram dar a Guimarães.
Foram dar a Guimarães, Recordação que se encerra; Abandonaram as mães E foram a Guimarães Flores da nossa terra.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, ?; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Ó Estação de Ourique
Ó Estação de Ourique Onde eu tive amores! Onde há pirolitos E também há flores.
Tem um largo ao meio Mesmo na estação, Param os comboios Que vão p’ra Garvão.
Salta a malta nova Vinda no furgão; Grita o maquinista E o chefe da estação.
E os moços pequenos Sempre a saltitar; Ficam para o balho, Querem é dançar!
Vêm do Carregueiro Casével e Aivados; Da vila de Ourique Chegam convidados.
Muito bem trajados De Castro chegando, Vêm cantadores Modas entoando.
Cantam aos amores Que estão espreitando; E a tasca do Mendes Já está esperando.
Ali num cantinho Vão servindo copos: Há sempre bom vinho Chouriço e tremoços.
O chefe da estação Junta a filharada Com banjos, violão E voz afinada.
Começam as danças No Salão dos Nobres: Velhos e crianças E ricos e pobres.
Ai a balhação! Aì a brincadeira! Já está na estação O comboio p’rá Funcheira.
Seguem seus destinos, Uns ficam deitados: Parecem meninos Muito embriagados.
Ó Estação de Ourique Onde eu tive amores! Onde há pirolitos E também há flores.
Tem um largo ao meio Mesmo na estação, Param os comboios Que vão p’ra Garvão.
Salta a malta nova Vinda no furgão; Grita o maquinista E o chefe da estação.
E os moços pequenos Sempre a saltitar; Ficam para o balho, Querem é dançar!
Letra e música: Francisco Naia Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
O mar deixou o Alentejo
[ Se fores ao Alentejo ]
O mar deixou o Alentejo onde trouxe canções de oiro mas volta a matar saudades mas ondas do trigo loiro.
Se fores ao Alentejo, vai vai vai vai vai. Não te esqueças, dá-lhe um beijo, ai ai ai ai.
Nas capelas e nos montes há sorrisos de brancura onde fala a voz de Deus na voz da cal e da alvura.
Sobe o sol e abrasa a terra a fecundar as espigas à sombra das azinheiras na dolência das cantigas.
Por lonjuras e planuras, oh solidão, solidão, eu quero paz no trabalho p’ra poder ganhar o pão.
Popular do Alentejo
Ó meu São João Baptista
[ São João de Alpalhão ]
Ó meu São João Baptista! Ó meu Baptista João! Vamos ir à água nova Na noite de São João!
São João baptiza Cristo, Cristo baptiza João: Ambos foram baptizados Lá no rio do Jordão.
São João p’ra ver as moças Fez uma fonte de prata; As moças não vão a ela, São João todo se mata.
Meu divino São João Que na mão tem a bandeira! Vamos ir ao rosmaninho P’ra fazermos uma fogueira!
Letra e música: Tradicional (Alpalhão, Nisa, Alto Alentejo) Intérprete: Segue-me à Capela Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Ó Minha Amora Madura
Ó minha amora madura, Ai diz-me quem te amadurou. Foi o sol, foi a geada, Ai foi o calor que ela apanhou.
Ó minha amora madura, Ai diz-me quem te amadurou. Foi o sol, foi a geada, Ai foi o calor que ela apanhou.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016) Primeira versão: José Afonso (in LP “Eu Vou Ser Como a Toupeira”, Orfeu, 1972, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art’Orfeu Media, 2012)
Ó moças façam arquinhos
Arquinhos (II)
Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas! P’ra passar o meu benzinho, P’ra passar a minha amada.
P’ra passar a minha amada, P’ra passar o meu benzinho, Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas!
Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas! P’ra passar o meu benzinho, P’ra passar a minha amada.
P’ra passar a minha amada, P’ra passar o meu benzinho, Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas!
Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas! P’ra passar o meu benzinho, P’ra passar a minha amada.
P’ra passar a minha amada, P’ra passar o meu benzinho, Ó moças façam arquinhos! Ó moças façam arcadas!
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
O Sol é que alegra o dia
[ Menina Florentina ]
O Sol é que alegra o dia Pela manhã quando nasce Ai de nós o que seria Se o Sol um dia faltasse
Ó menina Florentina És a flor que em meu peito domina Seu amante delirante De viagem chegou neste instante
Já cá está o tiroliroliro tiroliroliro Já cá está o tiroliroliro tiroliroló Já cá está o tiroliroliro ó amor Tiroliroliro abre a porta, ó branca flor
Não me inveja de quem tem Carros, parelhas e montes Só me inveja de quem bebe Água em todas as fontes
Ó menina Florentina És a flor que em meu peito domina Seu amante delirante De viagem chegou neste instante
Já cá está o tiroliroliro tiroliroliro Já cá está o tiroliroliro tiroliroló Já cá está o tiroliroliro ó amor Tiroliroliro abre a porta, ó branca flor
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Janita Salomé / Grupo “Vozes do Sul”* (in CD “Vozes do Sul: uma celebração do cante alentejano” , Capella, 2000)
Ó terra morena deitada ao sol
[ Fado do Alentejo ]
Ó terra morena deitada ao sol, Quero ser a alma do ganhão, Cheia de horizonte, cântico de fonte, Catedral do trigo, azeite e pão!
Ó terra morena deitada ao sol, Quero ser a alma da cegonha Que sobe no vento e ouve o lamento Do homem que, ao sul, trabalha e sonha!
Alentejo das casas de cal, Alentejo do sobro e do sal; Alentejo poejo, alecrim, Alentejo das terras sem fim.
Ó terra morena deitada ao sol, Quero ser a alma do sobreiro: Estática, selvagem, dona da paisagem Afrontando o tempo a corpo inteiro!
Alentejo das casas de cal, Alentejo do sobro e do sal; Alentejo poejo, alecrim, Alentejo das terras sem fim.
Ó terra morena deitada ao sol, Quero ser a alma do ganhão, Cheia de horizonte, cântico de fonte, Catedral do trigo, azeite e pão!
Letra: Rosa Lobato de Faria Música: Rão Kyao Arranjo: Rabih Abou-Khalil Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013) Primeira versão de Ricardo Ribeiro: Rão Kyao & Ricardo Ribeiro (in 2CD “Em’Cantado”: CD 1, Universal, 2009) Versão original: Manuel de Almeida – “Alma do Ganhão” (in CD “Fado”, Movieplay, 1996)
Olha o passarinho
Olha o passarinho que bem que ele canta. Quando está cantando, parece que tem uma guitarra na garganta.
E olha o rouxinol vai fazer o ninho dentro do balsedo p’ra cantar sem medo, olha o passarinho!
E a moda vai alta, não lhe posso chegar. Cantem-na baixinho, mais devagarinho que eu quero cantar.
Letra e música: Popular do Alentejo Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Terra de Abrigo”, Ocarina, 2003) .
Oliveira e Parreirinha
[ A Tasca do Encalha ]
Oliveira e Parreirinha Encontram o Tó Careca: Com a dor que se avizinha Vão beber uma caneca.
Dão a mão ao Zé Padeiro, E o braço ao Quim Margarida; Chamam o Chico Pedreiro, Vão afogar-se em bebida.
Abraçam-se p’lo caminho, Até à Tasca do Encalha: Lá o tintol é fresquinho E à volta ninguém se espalha.
Tintol, caracol, Tintão, carrascão, Com rodelas de limão; Verdinho, verducho, Verdete, verdacho, Mas que graça que eu te acho!
Venha lá outra rodada Com tapinhas e tremoços! O tintol é tão maduro Que até arreganha os ossos.
Vira lá mais um copinho! Tira outro do briol! Traz alcagoita torrada E um pires de caracol!
Diz o Quim para o Oliveira, Pondo um ar grave no rosto: «Que uma boa bebedeira Mata-nos qualquer desgosto!»
Tintol, caracol, Tintão, carrascão, Com rodelas de limão; Verdinho, verducho, Verdete, verdacho, Mas que graça que eu te acho!
Mas que graça que eu te acho!…
Letra e música: Francisco Naia Intérprete: Francisco Naia com Vitorino (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Ora ponha aqui
[ Pezinho dos Caçadores ]
Ora ponha aqui, Ora ponha aqui o seu pezinho! Ora ponha aqui, Ora ponha aqui ao pé do meu!
Ai ao tirar, Ai ao tirar o seu pezinho, Ai um abraço, E um abraço lhe dou eu!
Ai dizem mal, Ai dizem mal dos caçadores, Ai por matarem, Por matarem os pardais…
Ai os teus olhos, Os teus olhos, meu amor, Ainda matam, Ainda matam muito mais!
Ora ponha aqui, Ponha aqui o seu pezinho! Ora ponha aqui, Ponha aqui ao pé do meu!
Ai ai ao tirar, Ao tirar o seu pezinho, Um abraço lhe dou eu!
Ai dizem mal, Dizem mal dos caçadores, Por matarem os pardais…
Os teus olhos, meu amor, Ainda matam, Ainda matam muito mais!
Ora ponha aqui o seu pezinho! Ora ponha aqui ao pé do meu!
Ao tirar o seu pezinho, Ai um abraço lhe dou eu!
Ai dizem mal dos caçadores, Por matarem os pardais…
Os teus olhos, meu amor, Ainda matam muito mais!
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Papoilas vermelhas
[ Querido Alentejo ]
Papoilas vermelhas Criadas ao vento São cravos de Abril: Deixai-os florir No meu pensamento.
Querido Alentejo, Minha terra amada: Eu nunca me esqueço De seres Alentejo, És sempre lembrada.
Teus cravos vermelhos Já não murcharão; Tens o privilégio De seres Alentejo, Celeiro da nação.
Vem o mês de Abril, Cresce a saudade; Vem o nosso povo E a cantar de novo: «Viva a liberdade!»
Querido Alentejo, Minha terra amada: Eu nunca me esqueço De seres Alentejo, És sempre lembrada.
Teus cravos vermelhos Já não murcharão; Tens o privilégio De seres Alentejo, Celeiro da nação.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Moda:
Penteei o meu cabelo, Penteei-o para trás, Com uma travessa nova Que me deu o meu rapaz.
Que me deu o meu rapaz Toda cheia de pedrinhas; Penteei o meu cabelo, Ficou-me todo às ondinhas.
Moda:
Penteei o meu cabelo, Penteei-o para trás, Com uma travessa nova Que me deu o meu rapaz.
Que me deu o meu rapaz Toda cheia de pedrinhas; Penteei o meu cabelo, Ficou-me todo às ondinhas.
Ficou-me todo às ondinhas, Ficou-me todo ondulado; Penteei o meu cabelo Para trás e para o lado.
Cantiga:
Há ondas, meu bem, há ondas, Há ondas sem ser no mar: Há ondas no teu cabelo, Há ondas no teu olhar.
Moda:
Penteei o meu cabelo, Penteei-o para trás, Com uma travessa nova Que me deu o meu rapaz.
Que me deu o meu rapaz Toda cheia de pedrinhas; Penteei o meu cabelo, Ficou-me todo às ondinhas.
Ficou-me todo às ondinhas, Ficou-me todo ondulado; Penteei o meu cabelo Para trás e para o lado.
Cantiga:
Há ondas, meu bem, há ondas, Há ondas sem ser no mar: Há ondas no teu cabelo, Há ondas no teu olhar.
Moda:
Penteei o meu cabelo, Penteei-o para trás, Com uma travessa nova Que me deu o meu rapaz.
Que me deu o meu rapaz Toda cheia de pedrinhas; Penteei o meu cabelo, Ficou-me todo às ondinhas.
Ficou-me todo às ondinhas, Ficou-me todo ondulado; Penteei o meu cabelo Para trás e para o lado.
Cantiga:
Há ondas, meu bem, há ondas, Há ondas sem ser no mar: Há ondas no teu cabelo, Há ondas no teu olhar.
Caderno de Danças do Alentejo
Por eu ser alentejano
[ Há Lobos Sem Ser na Serra ]
Por eu ser alentejano, Alguém me chamou ladrão: Foi o que eu nunca chamei A quem me roubava o pão.
Há lobos sem ser na serra, Eu ainda não sabia… Debaixo do arvoredo Trabalham com valentia.
Trabalham com valentia Cada um na sua arte; Eu ainda não sabia: Há lobos em toda parte.
Maldita sociedade, Estás tão mal organizada: Quem não trabalha tem tudo, Quem trabalha não tem nada!
Há lobos sem ser na serra, Eu ainda não sabia… Debaixo do arvoredo Trabalham com valentia.
Trabalham com valentia Cada um na sua arte; Eu ainda não sabia: Há lobos em toda parte.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Quando o melro assobia
[ Castro Verde É Nossa Terra ]
Quando o melro assobia, Escondido nos silvados: Quer de noite, quer de dia, São lindos os seus trinados.
Castro Verde é nossa terra! Ai quem nos dera lá estarmos agora P’rá mocidade, com saudade, Ouvir cantar como ouvi outrora.
Terra bela Tão desejada! Casa singela De branco caiada!
Eu nunca esqueço Que foste meu berço, Lindo cantinho Desta pátria amada!
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Castro Verde É Nossa Terra”, Valentim de Carvalho, 1975; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Quem tiver olhos azuis
[ Fui-te Ver, Estavas Lavando ]
[ Cantiga: ]
Quem tiver olhos azuis Bem os pode arrecadar: Os olhos azuis são poucos, São custosos de alcançar.
[ Moda: ]
Fui-te ver, estavas lavando No rio sem assabão; Lavas em água de rosas, Fica-te o cheiro na mão.
Fica-te o cheiro na mão, Fica-te o cheiro no fato; Se eu morrer e tu ficares, Adora-me o meu retrato!
Adora-me o meu retrato, Adora meu coração! Fui-te ver, estavas lavando No rio sem assabão.
[ Cantiga: ]
Menina, tire a camisa [bis] Que tem à sua janela! A camisa sem a dona [bis] Lembra-me a dona sem ela.
[ Moda: ]
Fui-te ver, estavas lavando No rio sem assabão; Lavas em água de rosas, Fica-te o cheiro na mão.
Fica-te o cheiro na mão, Fica-te o cheiro no fato; Se eu morrer e tu ficares, Adora-me o meu retrato!
Adora-me o meu retrato, Adora meu coração! Fui-te ver, estavas lavando No rio sem assabão.
Letra e música: Popular (Alentejo) Arranjo: Monda e Ruben Alves Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)
Ribeira vai cheia
Ribeira vai cheia e o barco não anda. Tenho o meu amor lá daquela banda.
Lá daquela banda e eu cá deste lado; ribeira vai cheia e o barco parado.
(Popular – Alentejo)
Rompe a aurora
[ Primavera alentejana ]
Rompe a aurora, nasce o dia iluminando o montado. Como um hino à alegria ouve-se balir o gado.
Roxo, verde e amarelo, olho à volta é o que vejo. Não há nada assim tão belo, ó meu querido Alentejo.
Refrão: Lindos campos verdejantes matizados de papoilas, já não são como eram antes mondados pelas moçoilas.
Perfumados de poejo os campos de solidão, é assim o Alentejo que trago no coração.
O melro canta no silvado, o grilo no buraquinho, e eu por ti apaixonado, Alentejo, meu cantinho.
Refrão
Poema: Hermínia Gaidão Costa (em memória de Margarida Gaidão) Música: Hermínia Costa / Rodapé Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, 2004)
Rouxinol repenica o cante
Rouxinol repenica o cante ao passar da passadeira. Nunca mais tornas a Beja, oh ai, sem passares à Vidigueira,
sem passares à Vidigueira, sem ires beber ao falcante e ao passar da passadeira, oh ai, rouxinol repenica o cante.
Eu gosto muito de ouvir cantar a quem aprendeu. Se houvera quem me ensinara, oh ai, quem aprendia era eu.
Rouxinol repenica o cante ao passar da passadeira. Nunca mais tornas a Beja, oh ai, sem passares à Vidigueira.
Sem passares à Vidigueira, sem ires beber ao falcante e ao passar da passadeira, oh ai, rouxinol repenica o cante.
Letra e música: Popular; adaptação: Vitorino Intérprete: Vitorino (in “Os Malteses”, Orfeu, 1977; “Negro Fado”, EMI-VC, 1988)
Santa Vitória, Ervidel
[ O Homem da Campaniça (Ao Ricardo Fonseca) ]
Santa Vitória, Ervidel: Minha cantiga é castiça, Minha voz doce de mel, Meus dedos na campaniça.
Rosa, Mariana, Maria: Todas me ouviram cantar, Fosse de noite ou de dia Ou com um sol de abrasar.
Rasguei modas e cantares, Dízimas disse, que eu fiz; Andei por muitos lugares Ora alegre ora infeliz.
Andei com moças brejeiras, Mulheres feitas, ricas donas; Dormi com elas nas eiras E na apanha de azeitonas.
Inda hoje eu sou falado Da serra à charneca inteira, Pelo homem da campaniça Tocando à sua maneira.
Com a minha campaniça Nas tabernas, no baldão, Toda a gente me conhece De Beja a Corte Malhão…
Letra e música: Francisco Naia Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
São chegados os Três Reis
[ Reis ]
São chegados os Três Reis à porta do lavrador Se tem a mulher bonita a filha é uma flor
Que cavalos são aqueles que fazem sombra no Mar São os três do Oriente que a Jesus vão adorar
O menino chora, chora porque anda descalcinho Haja quem lhe dê as meias que eu lhe dou os sapatinhos
Nossa Senhora lavava e São José estendia E o menino chorava com o frio que fazia
Calai-vos meu menino calai-vos meu amor Isto são navalhinhas que cortam sem dor
Saíram as três Marias de noite pelo luar Em busca do Deus menino sem No poderem achar
Foram-No achar em Roma vestidinho no altar Com cálix d’oiro na mão missa nova quer cantar
E dai-la esmola e… e dai-la esmola bem dada Para quem, para quem vier pedir que ela lhe, que ele lhe sirva de escada Para quando, para quando ao céu subir
Letra e música: Popular (Redondo – Alentejo) Intérprete: Janita Salomé / cantadores de Redondo (in CD “Vozes do Sul: uma celebração do cante alentejano”, Capella, 2000)
São saias
[ Saias dos Foros ]
São saias, meu bem, são saias; São saias que andam na moda. Segura-te, amor, não caias Qu’ elas têm pouca roda!
Segura-te, amor, não caias Qu’ elas têm pouca roda! São saias, meu bem, são saias; São saias que andam na moda.
Oh maçã encarnadinha Bicada do rouxinol, Se não fosses tão baixinha Eras mais linda que o Sol!
Se não fosses tão baixinha Eras mais linda que o Sol, Oh maçã encarnadinha Bicada do rouxinol!
Nos foros da Fonte Santa Não se pode namorar: De dia as velhas à porta, À noite os cães a ladrar.
De dia as velhas à porta, À noite os cães a ladrar. Nos foros da Fonte Santa Não se pode namorar.
Estas é que são as saias Que cantam em Portugal: Trouxeram-nas as ceifeiras Na ponta do avental.
Trouxeram-nas as ceifeiras Na ponta do avental; Estas é que são as saias Que cantam em Portugal.
Letra e música: Tradicional (Alto Alentejo) Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)
Alto Alentejo, Castelo de Évora Monte
São João se adormiceu
São João se adormiceu No colo da sua tia; Ricorda, João, ricorda, Que amanhã é o teu dia!
No altar di São João Há um copi de água benta; São João subiu ao Céu A pidiri por toda a gente.
Letra e música: Tradicional (Reguengos de Monsaraz, Alto Alentejo) Recolha: Michel Giacometti (in “Portuguese Folk Music”: CD 4 – Alentejo, Strauss, 1998; “Música Regional Portuguesa”: CD 5 – Alentejo, col. Portugal Som, Numérica, 2008) Intérprete: O Baú (in CD “Achega-te”, O Baú, 2012)
São saias, senhor
[ Saias de Abril ]
São saias, senhor, são saias Para varar ao sol-pôr; Se não varas as searas O balho será pior.
As portas que Abril abriu Ninguém as pode fechar; Se não fosse a liberdade Não podia aqui cantar.
São saias, senhor, são saias Para varar ao sol-pôr; Se não varas as searas O balho será pior.
As portas que Abril abriu Ninguém as pode fechar; Se não fosse a liberdade Não podia aqui pensar.
São saias, senhor, são saias Para varar ao sol-pôr; Se não varas as searas O balho será pior.
São saias, senhor, são saias Para varar ao sol-pôr; Se não varas as searas O balho será pior.
Letra: Tradicional do Alto Alentejo (refrão) e Há Lobos Sem Ser na Serra Música: Tradicional (Alto Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016) Primeira versão: Vitorino com Sheila Charlesworth – “São Saias, Senhor, São Saias” (in LP “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975, reed. Movieplay, 1999; CD “Vitorino”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 43, Movieplay, 1994)
Se a morte fosse interesseira
[ Canta o Melro no Silvado – Amora Madura ]
Se a morte fosse interesseira, Ai de nós o que seria: O rico comprava a morte, Só o po… só o pobre é que morria.
Canta o melro no silvado E o rouxinol na ribeira; Ó minha pombinha branca, Quero ir… quero ir à tua beira.
Quero ir à tua beira, Quero viver a teu lado; Rola o pombo na azinheira, Canta o par… canta o pardal no telhado.
Ó minha amora madura quem foi que te amadurou? Foi o sol e foi a lua (Ó rique tique, piquenino) e o calor que ela apanhou.
E o calor que ela apanhou lá naquela chapadinha; Ó minha amora madura, (Ó rique tique, piquenino) minha amora madurinha.
Ó minha amora madura quem foi que te amadurou? Foi o sol e foi a lua (Ó rique tique, piquenino) e o calor que ela apanhou.
E o calor que ela apanhou lá naquela chapadinha; Ó minha amora madura, (Ó rique tique, piquenino) minha amora madurinha.
Letra e música: Tradicional (“Canta o Melro no Silvado” – Alentejo / “Amora Madura” – Tôr, Loulé, Algarve) Intérprete: Afonso Dias* (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Se eu for preso por cantar
[ Sarapateado ]
Se eu for preso por cantar Não calarei a garganta; Eu sou como o passarinho Que até na gaiola canta.
Vai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Vai sim, meu bem, sarapateado. [bis]
À porta da minha sogra Vem uma silva nascendo; Todos passam, não se enleiam, Só eu na silva me prendo.
Vai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Vai sim, meu bem, sarapateado. [bis]
Vai sim, meu bem, sarapatear! Quem quiser bailar traga bom calça…, Traga bom calça…, traga bom calçado! Vai sim, meu bem, sarapateado. [4x]
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Se fores ao Alentejo
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão: Leva o coração aberto, E ao lado do coração Leva a rosa da justiça E o teu filho pela mão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão. Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão: Leva o teu braço liberto Para abraçar teu irmão; Esse irmão que está tão perto Do teu aperto de mão E que tão longe amanhece Nos campos da solidão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão: Leva a alegria de seres Irmão de quem vai parir Uma seara de trigo, Uma charneca a florir, Um rebanho e um abrigo E um amanhã que há-de vir Como se fosse outro amigo Dentro do sol, a sorrir.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão: Leva o coração aberto E o teu filho pela mão. Leva o coração aberto E o teu filho pela mão.
Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão. Se fores ao Alentejo Não leves vinho nem pão.
Letra: Eduardo Olímpio Música: Carlos Alberto Moniz Intérprete: Carlos Alberto Moniz Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 2, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)
Semeei salsa ao reguinho
[ Semear Salsa ao Reguinho ]
Semeei salsa ao reguinho Hortelã daquela banda Para lograr os teus carinhos Tive que andar em demanda
Tive que andar em demanda Para lograr os teus carinhos Hortelã daquela banda Semeei salsa ao reguinho
Não julgues por eu cantar Que a vida alegre me corre Eu sou como um passarinho Tanto canta até que morre
Letra e música: Popular (Alentejo) Recolha e arranjo: Vitorino Intérprete: Vitorino (in “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975; reed. Movieplay, 1999; CD “Ao Vivo A Preto e Branco”, Magic Music/Som Livre, 2007)
Senhora que és padroeira
[ Nossa Senhora do Carmo ]
Senhora que és padroeira Da nossa terra hospitaleira
Nossa Senhora do Carmo Que está no seu altar Todos lá vamos ajoelhar E a cantar, a cantar Vamos rezar
Oremos p’la nossa voz Nossa Senhora rogai por nós
Nossa Senhora do Carmo Que está no seu altar Todos lá vamos ajoelhar E a cantar, a cantar Vamos rezar
Unidos a uma voz Nossa Senhora rogai por nós
Nossa Senhora do Carmo Que está no seu altar Todos lá vamos ajoelhar E a cantar, a cantar Vamos rezar
(Popular – Alentejo)
Sol baixinho
[ Moda de baile ]
Sol baixinho, sol baixinho, Sol baixinho também queima; Eu hei-de amar, sol baixinho, Só p’ra seguir uma teima.
Cravo branco, não me prendas, Que eu não tenho quem me solte! Não sejas tu, cravo branco, Causante da minha morte!
O meu pai é tocador, Minha mãe é cantadeira: Eu sou filho deles ambos, Canto da mesma maneira.
Eu gosto muito de estar Onde estão as raparigas: Uma canta, outra baila E a outra ouve as cantigas.
Letra e música: Popular (ilha de Santa Maria, Açores) Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Açor/Emiliano Toste, 2002) [canta Virgínia de Andrade Cabral, acompanhada por violas de arame tocadas por António Augusto Cabral e João Soares Arranjo: António Prata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001) Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996) Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos com Orquestra Sinfonietta de Lisboa (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005) [ao vivo na TV Galicia com as Adufeiras de Monsanto, vozes do Alentejo e Orquestra Sinfonietta de Lisboa
Solidão, ai dão, ai dão
Solidão, ai dão, ai dão, Para mim quer sim, quer não; Vem a morte e leva a gente, Quem não há-de ter paixão?
Quem não há-de ter paixão? Quem paixão não há-de ter? Solidão, ai dão, ai dão, Resistir até morrer.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Bernardo Charrua “Calabaça” (in CD “Monda”, de Monda*, Monda/Tánaforja, 2016)
Suspirava por te ver
[ Ó Menina Florentina ]
Suspirava por te ver, Já matei a saudade. Muito custa uma ausência P’ra quem ama na verdade.
Ó menina Florentina, És a flor que em meu peito domina! Seu amante, delirante, De viagem chegou nesse instante.
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé! Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló! Já cá está tiro-liro-li, meu amor, Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!
Anda cá para meus braços, Se tu vida queres ter! Os meus braços dão saúde A quem está para morrer.
Ó menina Florentina, És a flor que em meu peito domina! Seu amante, delirante, De viagem chegou nesse instante.
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé! Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló! Já cá está tiro-liro-li, meu amor, Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!
Graças a Deus que chegou Quem eu desejava ver: Deu palavra, não faltou, Assim é que deve ser.
Ó menina Florentina, És a flor que em meu peito domina! Seu amante, delirante, De viagem chegou nesse instante.
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé! Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló! Já cá está tiro-liro-li, meu amor, Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)
Tá preso o João Brandão
[ Mais Brando João Brandão ]
‘Tá preso o João Brandão Às grades do Limoeiro; Mais brando… Às grades do Limoeiro.
Era rico, agora é pobre… Olha o que faz o dinheiro! Mais brando… Olha o que faz o dinheiro!
Estando eu na minha loja, Encostadinho ao balcão, Mais brando… Encostadinho ao balcão,
Ouvi uma voz dizer: “‘Tá preso o João Brandão.” Mais brando… “‘Tá preso o João Brandão.”
Ouvi uma voz dizer: “‘Tá preso o João Brandão.” Mais brando… Mais Brando João Brandão.
Letra: Popular (Alentejo) Música: Monda Intérprete: Monda com o Grupo de cantadores de Portel (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)
Trago um jardim no sentido
[ Jardim dos Sentidos ]
Trago um jardim no sentido, Por ter sentido o que sinto: Amor que não faz sentido Num coração louco e faminto.
No jardim do meu sentido Nascem cravos cardinais; Também eu nasci no mundo P’ra te querer cada vez mais.
No jardim do rei há rosas, Também há malvas de cheiro; Não há luz como a do dia, Nem amor como o primeiro.
Coração louco e faminto, Rosa que tenho sentido; Jardim que anda perdido, Por ter sentido o que sinto.
No jardim do meu sentido Nascem cravos cardinais; Também eu nasci no mundo P’ra te querer cada vez mais.
No jardim do rei há rosas, Também há malvas de cheiro; Não há luz como a do dia, Nem amor como o primeiro.
Por ter sentido o que sinto, Amor que não faz sentido, Jardim que anda perdido, Trago um jardim no sentido.
No jardim do meu sentido Nascem cravos cardinais; Também eu nasci no mundo P’ra te querer cada vez mais.
No jardim do rei há rosas, Também há malvas de cheiro; Não há luz como a do dia, Nem amor como o primeiro.
Trago um jardim no sentido…
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre com António Zambujo (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre com António Zambujo (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Uma estrela se foi pôr
[ Canção ao Menino ]
Uma estrela se foi pôr Em cima duma cabana A cabana era pequena Não cabiam todos três Adoravam o menino Cada um da sua vez
E abram-se lá essas portas Ainda não estão bem abertas Que nasceu o Deus menino Vou-lhe dar as Boas Festas
Boas Festas meus senhores Boas Festas lhes vou dar Que nasceu o Deus menino Alta noite de Natal
E alta Noite de Natal Noite de santa alegria Que nasceu o Deus menino Filho da Virgem Maria
Senhora dona da casa Deixe-se estar que está bem Mande-nos dar a esmola Por essa rosa que aí tem
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in CD “Terra de Abrigo”, Ocarina, 2003)
‘Tá preso o João Brandão
Mais Brando João Brandão
‘Tá preso o João Brandão Às grades do Limoeiro; Mais brando… Às grades do Limoeiro.
Era rico, agora é pobre… Olha o que faz o dinheiro! Mais brando… Olha o que faz o dinheiro!
Estando eu na minha loja, Encostadinho ao balcão, Mais brando… Encostadinho ao balcão,
Ouvi uma voz dizer: “Está preso o João Brandão.” Mais brando… “Está preso o João Brandão.”
Ouvi uma voz dizer: “‘Tá preso o João Brandão.” Mais brando… Mais Brando João Brandão.
Letra: Popular (Alentejo) Música: Monda Intérprete: Monda com o Grupo de cantadores de Portel (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)
Vai ao centro, vai ao meio
Vai ao centro, vai ao meio! Agora vou andar Com o meu amor em passeio; Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Vá de roda, cantem todas Cada qual sua cantiga! Eu também cantarei, Eu também cantarei uma Que a mocidade me obriga.
Vá de roda, cantem todas Cada qual sua cantiga! Que eu também cantarei uma Que a mocidade me obriga.
Vai ao centro…
[ Moda: ]
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar.
[ Cantiga: ]
Vá de roda, cantem todos Cada qual sua cantiga! Que eu também cantarei uma Que a mocidade me obriga.
[ Moda: ]
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar.
[ Moda: ]
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar.
[ Cantiga: ]
Minha mãe, p’ra m’eu casar, Ofereceu-me uma panela; Depois de me ver casada, Partiu-me a cara com ela.
[ Moda: ]
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar.
Letra e música: Tradicional (Alentejo) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Vai colher a rosa
Vai colher a rosa Vai colhê-la, vai. Se ela te picar Não digas ai ai.
Não digas ai ai Não digas ai ui Vai colher a rosa Vai, vai que eu também fui.
O meu lindo amor Já não me visita É certo que tem Outra mais bonita.
Outra mais bonita Outro bem querer. O meu lindo amor Já não me vem ver.
(Popular – Alentejo)
Vamos nós seguindo
Vamos nós seguindo, por esses campos fora… Que a manhã vem vindo dos lados da aurora.
Dos lados da aurora a manhã vem vindo. Por esses campos fora, vamos nós seguindo.
(Popular – Alentejo)
Verão
[ Verão, Alentejo e os Homens ]
Verão, A brasa dourada e celeste Queima este solo agreste Doirando mais a espigas; Ceifeiros, corpos curvados Cortando e atando em molhos A bênção loira da vida.
Meu Alentejo, Enquanto isto se processa, O sol ferino e sem pressa Queima mais a tez bronzeada; O suor rasga a camisa, Homem queimado mais fica, E a vida é feita de brasas.
O calor caustica os corpos, Os ceifeiros vão ceifando Sem parar o seu labor; O seu cantar é dolente, É certo que é boa gente, É verdade e tem mais sol.
Música: Manuel Conde Fialho Letra: Egídio Manuel dos Santos
(Informação de Nelson Conde, filho de Manuel Conde Fialho)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/03/alto-alentejo_castelo-de-evora-monte.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:21:202024-11-02 06:51:03Canções do Alto Alentejo
Nesta terra há um rio antigo de saudade que nos dá vida e sonho e encantamento e a paz que o campo tem e a verdade de quem vive outro sítio, outro momento.
Ter o Tejo aqui, assim, ao pé da porta é um berço de força e de saber. Traz-se ao peito o gosto da paixão enquanto o sol nos fala ao entardecer.
Viver assim é outro modo, outra maneira, outra vida, outro sonho a comandar. Passa o tempo escorregando à minha beira, cantam-se fados à noite para lembrar
E o sol e a gente e o campo e a cidade e a cheia, esse chão de água a cobrir tudo e a alma imensa de um povo sem idade não mudes tu, meu povo, que eu não mudo.
Nesta pátria Ribatejo se ama e canta se dança, se trabalha e se resiste e onde o peito alcance haverá chama ninguém é mais alegre nem mais triste.
E doce e forte e sereno ao mesmo tempo como os cavalos ao longe, ao pôr do sol existe aqui um templo que é eterno na lenda e no feitiço do Almourol.
E o sol e a gente e o campo e a cidade e a cheia, esse chão de água a cobrir tudo e a alma imensa de um povo sem idade não mudes tu, meu povo, que eu não mudo.
Letra e música: Pedro Barroso Intérprete: João Chora (in CDs “João Chora”, 1999; “Ao Vivo na Chamusca”, 2001)
Loja Meloteca, recursos musicais criativos para a infância
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
No Ribatejo
[ Canção do Ribatejo ]
Intérprete: João Chora
João Chora
João Chora, cantor
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/campinos-foto-folclore-pt.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:10:022023-05-02 12:28:40Canções do Ribatejo
Loja Meloteca, recursos criativos para musicalização infantil
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
Ai que saudade tenho do meu canto
Ai que saudade tenho do meu canto, da minha terra! Só vejo o mar adentro e o céu a te apartar.
Ai esta vida corre e roda, roda, ai, a moer; Não há razão, mãe, para voltar sem que fazer.
Eu hei-de ir, eu hei-de voltar à terra, ao meu lugar! Voltar à minha mãe, ao teu regaço, ao meu penar!
Meus olhos choram longe, ai, tão cansados de esperar… Ai esta vida corre e roda, roda, ai, a moer; Mas eu hei-de voltar à minha terra, ao meu lugar!
Meus olhos choram longe, ai, tão cansados de esperar… Mas eu hei-de voltar à minha terra, ao meu lugar!
Letra: Macadame Música: Tradicional (Loulé, Algarve) Recolha: José Alberto Sardinha (“Janeiras”, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 6 – Algarve e Ilhas, BMG/JN, 1997) Intérprete: Macadame Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Algarve, o nome me está lembrando
[ Santa Maria, a Sem-Par ]
Algarve, o nome me está lembrando Algarve, e a brisa passa a cantar. E as sombras leva-as o vento voltando. Silêncio, dizem as ondas do mar.
Morenas em bandos sobre açoteias Janelas abertas sobre um palmar Já vejo de longe as altas ameias Já vejo Santa Maria, a Sem-Par.
Algarve, jardim de rosas vermelhas Algarve, brancura de pedra e cal Cidade dentro dum pátio sem telhas Dormindo debaixo de um laranjal.
Nas praias, dedos de finas areias Teu nome lembram ao vento a passar Já vejo de longe as altas ameias Já vejo Santa Maria, a Sem-Par.
Letra: José Afonso Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Algarve, serras mansas
Algarve, serras mansas onduladas aos poucos aplanando-se em campinas, praias de areia e rochas arrendadas, verdes sapais e manchas de salinas
E o mar, mais pronto a calmas que a furores às traineiras levando os pescadores, peixes brilhando em raras pedrarias e o mar, mais pronto a calmas que a furores
Às traineiras levando os pescadores peixes brilhando em raras pedrarias, matos floridos, árvores variadas, farrobas, figos, amêndoas e citrinas.
Terras vermelhas, hortas afogadas n’águas doces de noras e de minas e o céu, tonto de sol, pintado a cores de inverosímeis, múltiplos fulgores
Jardim das mil e uma fantasias e o céu, tonto de sol, pintado a cores de inverosímeis, múltiplos fulgores, jardim das mil e uma fantasias.
Letra: António Balté Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Atira, caçador, atira
Atira, caçador, atira, Lá no meio da parada! O meu amor é galucho, Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada, Atira, não mata ninguém, Lá no meio da parada Do quartel de Belém.
Atira, caçador, atira, Lá no meio da parada! O meu amor é galucho, Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada, Atira, não mata ninguém, Lá no meio da parada Do quartel de Belém.
Eu fui caçar à tapada, Cheguei lá muito feliz; Encontrei a minha amada E matei uma perdiz.
Sou galucho de infantaria, Sou tropa no Alentejo E sinto muita alegria Quando na rua te vejo.
Atira, caçador, atira, Lá no meio da parada! O meu amor é galucho, Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada, Atira, não mata ninguém, Lá no meio da parada Do quartel de Belém.
Eu fui-te ver ao montado Sentada à porta do monte, Com os teus olhos brilhantes À espreita do horizonte.
Tinhas um sorriso aberto Perfumando a atmosfera; Eras a mais linda flor Que me trouxe a Primavera.
Atira, caçador, atira, Lá no meio da parada! O meu amor é galucho, Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada, Atira, não mata ninguém, Lá no meio da parada Do quartel de Belém.
Letra: Popular e Francisco Naia Música: Popular Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Canta na beirada andorinha
[ Laranjinha Doce ]
Canta na beirada andorinha Chega a primavera e o amor Uma vida inteira Duas à espera Noites sem dormir p’ra um beijo teu
Mil horas passadas sem saber Horas, dias sem fim, o meu amor Cantando dizia, noite e melodia Pareceu-me um ano Um só dia
Está chegando o tempo [do] ramo em flor Laranjinha doce, meu amor Espero por ti Canto por aí Vem cair, à noite, nos braços meus Espero por ti Canto por aí Vem cair, à noite, nos braços meus
Letra e música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Da beira-sonho lês
[ Amante do Mar ]
Da beira-sonho lês o mar que tens aos pés Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo; poiso de mareantes albergaste infantes e à aventura afrontaste o mar alto; de pele salgada vens com o ar quente de quem dos horizontes bebe o cheiro e a magia; ó loira do meu Sul minha fronteira azul cais de embarque, proa e guia.
Fronteira de sonhos aberta para o mar em jeito sensual e quente; velha majestade com a tua idade devias ser mais prudente; tiveste aventuras e hoje com as loucuras do teu passado altaneiro ainda continuas amante do mar e amor de marinheiro.
Da beira-sonho lês o mar que tens aos pés Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo; poiso de mareantes albergaste infantes e à aventura afrontaste o mar alto; de pele salgada vens com o ar quente de quem dos horizontes bebe o cheiro e a magia; ó loira do meu sul minha fronteira azul cais de embarque, proa e guia.
Fronteira de sonhos aberta para o mar em jeito sensual e quente; velha majestade com a tua idade devias ser mais prudente; tiveste aventuras e hoje com as loucuras do teu passado altaneiro ainda continuas amante do mar e amor de marinheiro.
Da beira-sonho lês o mar que tens aos pés Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo; poiso de mareantes albergaste infantes e à aventura afrontaste o mar alto; de pele salgada vens com o ar quente de quem dos horizontes bebe o cheiro e a magia; ó loira do meu Sul minha fronteira azul cais de embarque, proa e guia.
Letra e música: Afonso Dias Poema dito da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen (excerto de “Lagos II”, 1975, in “O Nome das Coisas”, Lisboa: Moraes Editores, 1977) Intérprete: Afonso Dias com Tânia Silva (in CD “O Mar ao Fundo”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2015)
Da serra veste perfumes
[ De Sol a Sul ]
Da serra veste perfumes, do levante inquietações. Do tempo lhe vêm famas do mar as consolações.
Velha Romana, Tuaregue, maruja, aventureira, dos mares sabida e da vida sabe tudo, de matreira.
Minha loira, meu azul faz-te ao mar, despe esse manto de nevoeiro e de sal, desnuda-te do quebranto de seres ponto de partir.
Navega com rumo a ti, descobre-te em Portugal, teu porto é de hoje e aqui. Velhas profecias, meu 29 de Agosto. Meu queijo de figo, sueste agreste, sol posto. Meu Infante navegante. Cheiro a sardinha no rosto. Cidade, eu te escuto tu me acolhes, tu me afagas. Regaço de mãe, doce carícia de algas. Varanda de sol a sul. Gente firme não se cala. Que o sonho se faça pouco a pouco, passo a passo. Que a tristeza afogue na largueza dum abraço. Que a alegria canse este cansaço. É hoje que a gente vai dizer como é que quer, seja o bicho homem ou o bicho seja mulher. E que venha por bem quem vier.
Letra e música: Afonso Dias Intérprete: Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul“, Concertante, 1999; CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Lendas do País do Sul
Deus te salve, ó Rosa
– Deus te salve, ó Rosa Claro Serafim, Pastora formosa, Que fazeis aqui? – Estou guardando o meu gado, Que eu aqui “deixi”.
– Deixai vosso gado, Que eu o guardarei, Quero ser vosso criado, Linda flor, meu bem.
– Não quero criados De meias de seda; Não quero que as “arrompa” Cá por estas estevas.
– Sapato e meia, Tudo “arromparei”, Para ser vosso criado, Linda flor, meu bem.
– Vá-se já embora, (E) não me dê mais penas, Que daqui a nada vem meu amo Trazer-me a merenda.
– Venha cá, senhora, (E) Venha cá correndo Que o amor é louco Já me vai vencendo…
Letra e música: Tradicional (Aljezur – Algarve) Recolha: Michel Giacometti Intérprete: Chuchurumel (in CD “Posta Restante”, Edição de autor, 2007)
Chuchurumel, Posta Restante
Eia, Abu Bacre
[ Evocação a Silves ]
Eia, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes se, como penso, ainda se recordam de mim.
Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel que sente perpétua saudade daquele alcácer.
Ali moravam guerreiros como leões e brancas gazelas. E em que belas selvas e em que belos covis.
Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado brancas e morenas que produziam na minha alma o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!
Quantas noites passei deliciosamente junto a um recôncavo do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!
O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.
As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.
Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.
Eduardo Ramos, Cantico para Al Mutamid
Poema de Al-Mutamid (in “Portugal na Espanha Árabe”, vol. 1 – Geografia e Cultura, de António Borges Coelho, 1989) Recitado por Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul”, Concertante, 1999) Outras versões: António Baeta de Oliveira / Eduardo Ramos (in CD “Andalusino”, InforArte, 1999); Eduardo Ramos (in CD “Cântico para Al-Mutamid”, Ed. de Autor, 2005)
Eu já fui à tua horta
Eu já fui à tua horta Eu já fui teu hortelão Já comi da tua fruta Não sei s’outros comeram ou não
Já foste à minha horta Mas eu nunca lá te vi Já comeste da minha fruta Só num vento que t’eu vi
‘Tás pr’aí de boca aberta Cara de sardinha crua Se esta casa fosse minha Punha-te já no meio da rua
Letra e música: Popular (Algarve) Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)
Moçoilas, Já cá vai roubado
Faça “ai, ai”, meu menino
[ Embalo do Algarve ]
Faça “ai, ai”, meu menino, Que a mãezinha logo vem! Foi lavar os cueirinhos À fontinha de Belém.
Vai-te embora, papá negro, De cima desse telhado! Deixa dormir o menino, Está no sono descansado.
Embala, José, embala! Embala suavemente, Entretendo o inocente Com esta cantiga em verso!
Dorme, dorme, meu menino, Que a mãezinha logo vem! Dorme, dorme, meu menino, Que a mãezinha, ai, logo vem!
Letra e música: Tradicional (Alvor, Portimão, Algarve) Recolha: Michel Giacometti (“Faça ‘ai, ai’, meu menino”, in LP “Algarve”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1962; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 5 – Algarve, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 6 – Algarve, col. Portugal Som, Numérica, 2008) Intérprete: Segue-me à Capela* Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Ir à bóia de Santana
[ Bóia de Sentença ]
Ir à bóia de Santana Tinha a sentença rezada Essa bóia da sentença Que por mim foi baptizada
Quem me rezou a sentença Foi o meu patrão ratado Tem mesmo cara de fome E tem o nariz furado
Medicamentos me pôs Lá na caixa de farmácia P’ra os senhores vou contar Até lhe acham graça
Um pouco de algodão E “eneivaquim” contada Pôs umas gotas de álcool De mercúrio não me deu nada
Lá parti para a viagem P’ra Freetown, ir pescar Ir à ilha das bananas São muitas horas p’lo mar
Tudo pode acontecer Pode vir bem ou vir mal Pode a gente adoecer Ou apanhar temporal
Quando os patrões se opuseram Esses homens nem falaram Lá foram para a sentença Foram e nem piaram
Esses que vão p’ra a sentença Vão porque são obrigados Mas a mim não mandam eles Comigo estão enganados
Tanto que eles diziam E nada os via fazer Essas palavras serviam P’ra outros homens perder
Garganta de rouxinóis Com olhinhos de aldrabões Dentes de mentirosos E boca de trapalhões
Garganta de rouxinóis Com olhinhos de aldrabões Dentes de mentirosos E boca de trapalhões
Letra: Hermínio José Machado Música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
“Leva, Leva!” (in LP “Algarve”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1962; “Portuguese Folk Music”: CD 5 – Algarve, Portugal Som/Strauss, 1998; “Música Regional Portuguesa”: CD 6 – Algarve, Portugal Som/Numérica, 2008)
Manelzinho
Manelzinho, ora você chora… Você chora, alguém lhe deu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Tocam nos sinos no Porto E o meu coração é teu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Manelzinho, ora você chora… Você chora, alguém lhe deu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Anda lá para diante Que eu atrás de ti não vou! Não me pede o coração Amar a quem me deixou.
Manelzinho, ora você chora… Você chora, alguém lhe deu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Manelzinho, ora você chora… Você chora, alguém lhe deu. Qual seria a falsa ingrata Que o Manelzinho ofendeu?
Letra e música: Tradicional (Algarve) Arranjo: Artesãos da Música Intérprete: Artesãos da Música Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)
Mestre Zé cantou um dia
[ Faz Cá Falta a Armação ]
Mestre Zé cantou um dia Teu nome, Maria Faia Pouca gente então sabia Dos índios da Meia-Praia Gente honrada e lutadora Em Lagos, Luz e meia arraia
Também nós somos do Sul Da Vila Santa Luzia Já cá canta o Ti Saul E a velha sabedoria Faz cá falta a armação O saveiro e o calão
Os velhos lobos do mar Que agora ficam em terra Mandou a Europa de lá Abateram embarcações Os senhores da nova guerra Mandam mais, são os patrões
Em Espanha fazem-se ao mar E nós parados a ver Na lota manda o espanhol Onde exerce o seu poder Enfrentemos mar e sol Mais vale quebrar que torcer
Se há fé de tudo mudar Em cada volta do mundo Se o sal da baixa-mar É igual ao que há no fundo Vamos de novo lutar Com a força do deus Neptuno
Também nós somos do Sul Da Vila Santa Luzia Já cá canta o Ti Saul E a velha sabedoria Faz cá falta a armação O saveiro e o calão
Letra: Nuno Manuel Faria Música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Meu Algarve, cheio de luz
Meu Algarve, cheio de luz, és o sol que me ilumina, u ma estrela que reluz, o amor que me domina.
És o meu sol branco e doirado a tua luz me seduz, paraíso inconquistado, meu Algarve, minha luz.
És o sol que me ilumina, minha flor, meu girassol, a semente que germina, meu Algarve, cheio de sol.
És uma estrela a brilhar a minha constelação, um jardim à beira-mar, a minha flor em botão.
Letra: Maria José Fraqueza Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Meu Algarve das baladas
[ Corridinho, corridinho ]
Meu Algarve das baladas Não és bem como te cantam Mais que moiras encantadas Tens moiras que nos encantam
Corridinho, corridinho Antes que a morte apareça Corridinho, corridinho Vamos lá viver depressa.
Cava a terra, pisa o mosto Puxa a rede e continua A ‘balhar’ até dá gosto O suor que a gente sua
Corre, pula, rodopia Até manhanita, moça Já alugámos o dia Mas a noite é toda nossa.
Tia Anica da Fuzeta Tia Anica de Loulé Da barra da saia preta Ou da caixa de rapé.
Fala, fala se és capaz Cantorica, bailarica, Que no céu não poderás Já sem corpo, Tia Anica
Letra: Leonel Neves Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Meu Algarve encantador
I. Meu Algarve encantador, P’ra o poeta e p’ra o pintor Tens motivos de sobejo… Até eu, se tivesse arte, Queria ao mundo mostrar-te Como te sinto e te vejo.
II. Meu Algarve encantador, A parte da tua alegria, Tens o encanto, a magia, Das amendoeiras em flor.
III. Meu q’rido Algarve, em Janeiro, Ao turista endinheirado, Escondes o corpo ulcerado No fatinho domingueiro.
IV. Só vêem flores os olhos Desses ilustres senhores, Mas no Algarve, os abrolhos São muito mais do que as flores.
V. Mas quem, como eu, o conhece, Sabe que ele, infelizmente, Por dentro é muito diferente Do que por fora parece.
(António Aleixo, in Este Livro Que Vos Deixo, 1969)
Milho verde, milho verde
Deu-me a mim muito trabalho
Milho verde, milho verde Milho verde, maçaroca À sombra do milho verde Namorei uma cachopa
Namorei uma cachopa Namorei um rapazinho À sombra do milho verde Milho verde, miudinho
Milho verde, milho verde Milho verde, folha larga À sombra do milho verde Namorei uma fidalga
Namorei uma fidalga Namorei o meu amor Milho verde, milho verde E à sombra não faz calor
Nem chove nem faz calor Nem chove nem cai orvalho E o amor para ser meu Deu-me a mim muito trabalho
Letra e música: Popular (Algarve) Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)
Não há noite mais alegre
Não há noite mais alegre Que a noite de Natal Onde nasceu Deus Menino Antes do galo cantar
Deu o galo três cantadas Deu o menino nascido Bendito seja o ventre Qu’o trouxe nove meses escondido
E a mula como era maldosa Destapava-o com a ferradura Mas o boi como era manso Destapava-o com a armadura
Deus a bem disse ao aboio Deus lhe deu a bênção Toda a terra aqui milagre Toda ela cheira a pão
Sejam altas, sejam baixas Sejam nada as dê lição Cada bago dê um moio Cada moio dê um milhão
Letra e música: Popular (Algarve) Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro; José Martins Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado “, 2001)
No Garb realça o azul deuses morenos
As Hespérides são moças algarvias
No Garb realça o azul deuses morenos À doçura dos figos submetidos. Vieram gregos. Ficaram Sarracenos. Nardos enfolham seus nomes esquecidos.
À noite ordenham luas nos terraços, Dão leite à sombra. Abrolham os perfumes. Silêncio. Só de um lírio ouvem-se os passos. Madruga a pesca, rompe um mar de lumes.
Esvoaçam suas túnicas de abelhas Entre vinhas, seus bêbados recintos; E quando a amendoeira nas orelhas Põe flores, deram-lhe os deuses esses brincos.
Vem de turbante o sol e toma posse De corpos, cactos, milhos e vinhedos. Excita o açúcar na batata-doce E despe as almas gregas dos penedos.
Ouro firme, crepúsculos de cinabre Senhorio de azul. Balcões mouriscos. Ferve a prata na pesca. O cheiro abre No ar quente uma vulva de mariscos.
Jardins da Hespéria? Ninfeu de ondas macias, O mar. As ninfas guardam os pomares. As Hespérides são moças algarvias Todas jasmim, da testa aos calcanhares.
Garb de praia e pele magia e lendas, Branco de extasiadas geometrias. Absorto o tempo. São gregas as calendas Com pálpebras de mouras gelosias.
Laranjas, cal, areia e rocha ardente Têm sede da luz que dá mais vida. Índigos deuses. Ardor. Tudo é presente. Causa clara de beira-mar garrida.
Poema de Natália Correia (in “O Armistício”, 1985) Recitado por Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002) Outra Versão: Carla Moreira / Trupe Barlaventina (in CD “O Perfume da Palavra”, Concertante, 1999)
No Palácio das Varandas
[ Do Palácio das Varandas ]
No Palácio das Varandas namorei moiras de sonho escrevi meus versos de luz. De ruiva cor eram o trono e o sangue que me sangraram com espadas sombras de cruz. Naveguei Arade abaixo ‘té ao azul que gritava Valentias de aventura.
Em preparos de abalada do abrigo da enseada fiz-me ao sonho e à sepultura trepei agruras de pedra espojei-me em areias de seda nadei águas de amargura Levei os cheiros do monte plantei estevas no horizonte flori o mar e a lonjura.
Num tempo antigo de igreja a santidade da inveja impôs-se a golpes de espada, neste sul, do sul sobeja mais geometria das almas do que agressões de cruzada. O Guadiana é travesso e faz caber num só verso um povo de duas águas.
Em capital de canções manda o baile de emoções esta orgia de poetas. A velha Garb se ufana de em mistérios ser estranha como convém aos profetas. A velha Garb se ufana de em mistérios ser estranha como convém aos profetas.
Hoje o Garb é ribeirinho e o montanheiro, sozinho é velhice e sais de pedra. Da beira-mar para o sol há que acender o farol do norte que aponta a serra. Da beira-mar para o sol há que acender o farol do norte que aponta a serra.
Letra: Afonso Dias Música: Alfredo Correeiro Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Nome de Maria
Nome de Maria Tão bonito é Salva-me a minha alma Que ela vossa é
Que ela vossa é Sempre o há-de ser Salva-me a minha alma Quando eu morrer
Quando eu morrer Quando eu acabar Salva-me a minha alma Para bom lugar
Para bom lugar Para o Paraíso Salva-me a minha alma Dia do Juízo
Dia do Juízo Para a eternidade Salva-me a minha alma Mãe da Piedade
Mãe da Piedade Senhora das Dores Salva-me a minha alma Mãe dos pecadores
Mãe dos pecadores Senhora da Luz Salva-me a minha alma Meu doce Jesus
Meu doce Jesus Mãe do Nazareno Salva-me a minha alma Para sempre, Ámen.
E Jesus é meu E eu quero ser vosso Por isso lhe rezo Este Pai-Nosso.
Popular – voz feminina (Monchique, Algarve) Recolha de José Alberto Sardinha (1981) (in CD n.º 6 de “Portugal: Raízes Musicais”, JN/BMG, 1997)
Ó água que vais correndo
[ Verde-Gaio ]
Ó água que vais correndo Mansamente vagarosa, Passa pelo meu jardim, Rega-me lá uma rosa!
Água da Fóia corre alta, Por canais vai à cidade; Eu não sou rica, mas tenho Amores à minha vontade.
O ladrão do Verde-Gaio Foi-se gabar à rainha Que era dono do morgado E nem sequer sapatos tinha.
E nem sequer sapatos tinha Nem dinheiro para os comprar; O ladrão do Verde-Gaio Foi-me falso no amar.
Eu tenho à minha janela O que tu não tens à tua: Um vaso de violetas Que perfuma toda a rua.
Bem sei que me andais mirando Por debaixo do chapéu; Se eu não sou do vosso gosto Quem quer anjos vai ao céu.
O ladrão do Verde-Gaio Foi-se gabar à rainha Que era dono do morgado E nem sequer sapatos tinha.
E nem sequer sapatos tinha Nem dinheiro para os comprar; O ladrão do Verde-Gaio Foi-me falso no amar.
O ladrão do Verde-Gaio Foi-se gabar à rainha Que era dono do morgado E nem sequer sapatos tinha.
E nem sequer sapatos tinha Nem dinheiro para os comprar; O ladrão do Verde-Gaio Foi-me falso no amar.
Letra e música: Tradicional (Algarve) Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
O Algarve é branco
O Algarve é branco, manchado De espuma branca do mar Quando o mar endiabrado Anda com ela a brincar
O Algarve é branco Nas belas chaminés tão rendilhadas Das suas casas singelas Todas de branco caiadas
O Algarve é branco nas praias Quando as ondas, uma a uma As vestem de brancas saias Feitas de rendas de espuma
O Algarve é branco Nas velas dos seus barcos navegando Em mar azul, sem procelas Que de branco o vão pintando
O Algarve é branco nos dias Que as amendoeiras em flor Lembram neve em terras frias Tão semelhantes na cor
O Algarve é branco À noitinha, quando a lua, ao despertar, Enche a paisagem inteirinha De luz branca de luar
O Algarve é branco À noitinha, quando a lua, ao despertar, Enche a paisagem inteirinha De luz branca de luar
Letra: Elisa Maçanita Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Ó Maria, vem bailar
[ Bailarico Algarvio (Corridinho) ]
– Ó Maria, vem bailar o corridinho! – Ó Manel, não me faltes ao respeito! – Ó Maria, que as penas do teu peitinho… E eu não sou Maneleto! – Ó Maneleto, que eu já te tenho dito: Cá comigo só se baila com preceito! – Ó Maria, não sejas tão esquisita, Que bailamos ao toque da concertina! Raios me parta se há alguma mais bonita, Ai que tem como tu a pele tão fina…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem! Andas no ar como uma pena levezinha. Só tenho pena que as penas que o peito tem, Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem! Andas no ar como uma pena levezinha. Só tenho pena que as penas que o peito tem, Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
– Ó Maria, vem bailar o corridinho! – Ó Manel, não me faltes ao respeito! – Ó Maria, que as penas do teu peitinho… E eu não sou Maneleto! – Ó Maneleto, que eu já te tenho dito: Cá comigo só se baila com preceito! – Ó Maria, não sejas tão esquisita, Que bailamos ao toque da concertina! Raios me parta se há alguma mais bonita, Ai que tem como tu a pele tão fina…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem! Andas no ar como uma pena levezinha. Só tenho pena que as penas que o peito tem, Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem! Andas no ar como uma pena levezinha. Só tenho pena que as penas que o peito tem, Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
Letra e música: Tradicional (Tavira, Algarve) Recolha: Grupo Folclórico de Tavira Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)
Cardo-roxo, Alvorada
O Sol é que alegra o dia
[ Arquinhos ]
Cantiga:
O Sol é que alegra o dia Pela manhã quando nasce; Ai de nós o que seria Se o Sol um dia faltasse!
Moças, façam arquinhos! Moças, façam arcadas P’ra passar o meu benzinho, P’ra passar a minha amada!
P’ra passar a minha amada, O meu benzinho, Moças, arquinhos! Moças, arcadas!
P’ra passar o meu benzinho, A minha amada, | Moças, arquinhos! Moças, arcadas!
O meu benzinho…
A minha amada…
Arquinhos (dança de roda) Letra e música: Tradicional (Ourique / Castro Verde, Alentejo) Informantes: Grupo Coral e Etnográfico “As Papoilas do Corvo” (Aldeia do Corvo), Manuel Bento (Aldeia Nova) e Pedro Mestre (Sete) Recolha: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 36-37) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Ó Sol, vibrante sol
[ O meu Algarve ]
Ó Sol, vibrante sol, do meu Algarve de oiro, que fazes palpitar os peitos e os jardins no mesmo grande amor, fecundo, imorredoiro, que rebenta, na Vida, em olhos e jasmins: ó Sol que pões no Céu um brilho violento e fazes chamejar, ao longe, os horizontes, que pões fogo no ar e pões brasas no vento e que vais calcinar a epiderme aos montes, adoro a tua luz vigorosa e sadia, que modula no campo a música das cores, que rega, em nossa alma, os cactos da Alegria e esculpe nas sementes os bustos das flores. Cai-me sobre o olhar: banha-me em teu fulgor, ó Sol que pões no Céu um latejante azul: Dá-me a tua alegria e dá-me o teu vigor, ó Sol, imortal sol, do meu país do Sul…
Poema (excerto): João Lúcio (in “O Meu Algarve”, 1905) Música: Pedro Guerreiro Intérprete: Carla Moreira / Trupe Barlaventina (in CD ” Lendas do País do Sul “, Concertante, 1999)
Olá vizinha prenda o seu galo
Olá vizinha prenda o seu galo Qu’a minha galinha ricócó Quer namorá-lo Quer namorá-lo Eu não m’importa Galo à janela ricócó Galinha à porta
Cró, cró, cró A galinha foi-se embora E o galinho ficou só
Letra e música: Popular (Algarve) Arranjo: Margarida Guerreiro; Teresa Muge Vassouras: Eduarda Alves, Margarida Guerreiro, Teresa Colaço, Teresa Muge Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)
Perguntei ao Sol
[ Ponta nova do Algarve ]
Perguntei ao Sol se viu E à lua se conheceu, Às estrelas se encontraram Um amor que já foi meu.
Ponta nova do Algarve Está feita numa romã, Onde o meu amor passeia Domingo pela manhã.
Domingo pela manhã Na segunda-feira à tarde, Está feita numa romã Ponta nova do Algarve.
O meu amor é aquele Que não me tira o chapéu, Tem a porta para a rua E o telhado para o céu.
Ponta nova do Algarve Está feita numa romã, Onde o meu amor passeia Domingo pela manhã.
Domingo pela manhã Na segunda-feira à tarde, Está feita numa romã Ponta nova do Algarve.
Letra e música: Popular (Algarve) Recolha: José Alberto Sardinha (Castro Marim, 1994) (in CD n.º 6 de “Portugal – Raízes Musicais”, ed. JN/BMG, 1997) Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Parainfernália”, Açor/Emiliano Toste, 2007)
Praia da Rocha
[ Fado de Portimão ]
Praia da Rocha, guitarra Doirada que o mar dedilha Ferragudo e a maravilha Do castelo junto à barra
Mas quer chova ou faça sol Quer o mar deixe ou não deixe A cidade é um anzol Portimão sonha com peixe
Como a foz do rio Arade Como o cais de Portimão Há-de haver tão lindos, há-de, Mas mais lindos é que não.
Ah! Se o luar não vier Às redes de Portimão Luar de peixe a morrer Antes do fim do Verão.
“Vá fome” Diz Zé Fataça Que outrora foi pescador E é agora engraxador Junto ao coreto da praça
Então a fome é verdade E alguns vão buscar seu pão A mil léguas do Arade E do cais de Portimão.
Como a foz do rio Arade Como o cais de Portimão Há-de haver tão lindos, há-de, Mas mais lindos é que não.
Letra: Leonel Neves Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Quatro horas da madrugada
[ Naufragou Valentina ]
Quatro horas da madrugada Barcos p’rá pesca iam Naufragou Valentina Barco de Santa Luzia
Apelido Cavalo Raio Que tanta fama deixou À barra de Vila Real Esse barco naufragou
Veio o vento de repente Que nem um remate de bola O barco que os salvou Foi uma parelha espanhola
Aldemiro de Mateus Seria o primeiro a faltar Pela forte maresia Arrebatado pelo mar
Manuel Milho e Joaquim De suas mulheres se lembraram Até que chegou a parelha Que os naufragados salvava
Naufragou Valentina Barco de Santa Luzia O barco que os salvou Barco de Punta Umbria
Para que fique na ideia Esta grande e triste imagem Se chegarem a naufragar Nunca percam a coragem
Com toda a força gritava Na maior aflição O mestre fez desmerecer A sua tripulação
Naufragou Valentina Barco de Santa Luzia O barco que os salvou Barco de Punta Umbria
Naufragou Valentina Barco de Santa Luzia O barco que os salvou Barco de Punta Umbria
Letra: Hermínio José Machado Música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Quem vive nos ardis da ilusão
Quem vive nos ardis da ilusão E, assim, vai fugindo do amigo Poderá encontrar consolação?
Quando será que estarei Livre de desdém tão fero Cujos fortes esquadrões Me dão guerra que eu não quero. Juro pela luz altaneira Que em suas tranças se divisa: Não sou cobra traiçoeira Das que mudam de camisa.
De negras madeixas Amo uma gazela Um sol é o seu rosto E palmeira é ela De ancas opulentas. Há entre seus lábios De néctar o gosto. Ó sede, se intentas Sua boca beijar Não o vais lograr. Ó sede, se intentas Sua boca beijar.
No encanto não tem Rival tal senhora, E fora do sonho, Quem bela assim fora? Qual espadas seus olhos Lhe brilham; e rosas Lhe enfeitam a face Na sombra vistosas Mas se as vais olhar As farás murchar. Lhe enfeitam a face Na sombra as rosas.
Dá paz ao ardor De quem te deseja. Contenta o amor E faz dom de ti, Vamos lá, sorri, Quando a boca beija. Me disse na hora: “Pecar me refreia” Respondi-lhe: “Ora! Não é coisa feia.” Me disse na hora: “Pecar me refreia”
Uma vez era noite De bem longa festa. Eu adormeci E ela acordou-me com esta: “Teu sono vai longo, Toca a levantar!” Então me beijou E eu pus-me a cantar: “Fazem reviver Teus lábios a arder!”. Então me beijou E eu pus-me a cantar.
Dá paz ao ardor De quem te deseja. Contenta o amor E faz dom de ti, Vamos lá, sorri, Quando a boca beija. Me disse na hora: “Pecar me refreia” Respondi-lhe: “Ora! Não é coisa feia.” Me disse na hora: “Pecar me refreia”
Uma vez era noite De bem longa festa. Eu adormeci E ela acordou-me com esta: “Teu sono vai longo, Toca a levantar!” Então me beijou E eu pus-me a cantar: “Fazem reviver Teus lábios a arder!”. Então me beijou E eu pus-me a cantar.
Eduardo Ramos, Andalusino
Poema (adaptado): Al-Mutamid (in “O Meu Coração é Árabe”, de Adalberto Alves) Música: Eduardo Ramos Intérprete: Eduardo Ramos (in CD “Andalusino”, InforArte, 1999; CD “Cântico para Al-Mutamid”, Ed. de Autor, 2005)
Rio Guadiana
Rio Guadiana, que vais p’ró mar Correm-te as águas tão gentis Em terra estranha… Toma cuidado, olha que em Espanha Criam-se as mágoas que me inquietam Dum pesadelo…
Frescas manhãs em Abril Onde andarão lembranças mil…
Clara Joana foi-se hoje embora Deixa a saudade num portado Ninguém a chora A felicidade é coisa simples Vai de barquinha rio abaixo Nunca mais torna…
Frescas manhãs em Abril Onde andarão lembranças mil…
Espelho da cara da nossa gente Tira a confiança a quem te mente Ai se te vejo no Alentejo Sem laranjais, sem trigo d’oiro És a fonte dos meus receios
Frescas manhãs em Abril Onde andarão lembranças mil…
Vitorino, Flor de la Mar
Letra e música: Vitorino Intérprete: Vitorino (in “Flor de La Mar”, EMI-VC, 1983; reed. 1992)
Siga a roda, siga ela
[ Romance da Donzela Guerreira ]
(“Siga a roda, siga ela, Que agora se vai contar A história duma donzela Que à guerra vai guerrear!”)
– As guerras se apregoaram Entre França e Aragão: Ai de mim que já sou velho, Sem ter um filho varão!… Sem ter um filho varão!…
Responde a filha mais moça Com toda a resolução: – Venham armas e cavalos Que eu serei filho varão. –
(“A roda sempre a girar, Que a história vai começar!”) – Tendes as tranças compridas, Filha, conhecer-vos-ão. – Venham pentes e tesouras, Vê-las-eis cair no chão! Vê-las-eis cair no chão!
– Tendes os olhos garridos, Filha, conhecer-vos-ão. – Quando passar pela armada Porei os olhos no chão!
(“Vai rodando sem parar, Que o baile está a animar!”)
– Tendes peitos muito altos, Filha, conhecer-vos-ão. – Venham fardas apertadas, Que eles logo abaixarão! Que eles logo abaixarão!
– Tendes as mãos muito finas, Filha, conhecer-vos-ão. – Venham já guantes de ferro, De lá nunca sairão!
(“A donzela triunfou E prá guerra caminhou! Logo o capitão da armada Dos seus olhos se encantou… E julgando-a disfarçada, Em casa se aconselhou.”)
– Convidai-o vós, meu filho, Para convosco dormir; Que se ele for mulher, Não se há-de querer despir.
– Linda cama pra mulher, Mas ai, quem a fora convidar… Mas dois homens numa cama? Quem os mandará açoitar!
(“Sem mais nada descobrir, Torna ele a insistir.”)
– Convidai-o vós, meu filho, Para ir ao rio nadar; Que se ele for mulher, Logo se há-de acobardar.
– Águas doces são pra damas, Mas ai, quem as fora convidar… Porém, não servem pra homens Senão as águas do mar!
(“Roda agora c’o seu par, Que a história vai terminar!”)
Monta, monta, cavaleiro, Se me queres acompanhar; Se quereis ser o meu marido, Minha mão te quero dar! Minha mão te quero dar!
Sete anos andei na guerra Mas ai, E fiz de filho varão; Ninguém me conheceu nunca Senão o meu capitão: Conheceu-me pelos olhos, Que por outra coisa não!
Letra: Tradicional Música: Vítor Reino Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002) Outras versões: Amélia Muge – Donzela Guerreira (in CD “Novas Vos Trago”, Tradisom, 1998); José Barros e Navegante – “Donzela que vai à guerra” (in CD “Rimances”, JBN, 2001)
Tem o poial de um vizinho
[ Toada de Aljezur ]
Tem o poial de um vizinho o telhado de outro ao fundo: entre eles passa um caminho de ambos e de todo o mundo.
Topo das casas-escadas: Castelo, quem lá te pôs? Cobres moiras encantadas, descobres várzeas de arroz.
Sonhar rosas, pedir cravos bom é que aos pobres se oiça… Que os corpos sejam escravos, as almas são outra loiça!
Que os corpos sejam escravos, as almas são outra loiça! Sonhar rosas, pedir cravos bom é que aos pobres se oiça…
Eis a capital da Serra do Espinhaço de Cão! Mato com nódoas de terra, muita pedra, pouco pão.
Mato com nódoas de terra, muita pedra, pouco pão. Eis a capital da Serra do Espinhaço de Cão!
Vila de Aljezur, arrasada sejas de cravos e rosas até às igrejas!
(Se nada valem os montes que o concelho anda a lavrar, talvez venda os horizontes que tem à beira do mar…)
(Talvez venda os horizontes que tem à beira do mar… Se nada valem os montes que o concelho anda a lavrar.)
Vila de Aljezur, arrasada sejas de cravos e rosas até às igrejas!
Que faz tanta casa junta subindo uma encosta louca? Diz talvez que a gente é muita, diz talvez que a terra é pouca.
Diz talvez que a gente é muita, diz talvez que a terra é pouca. Que faz tanta casa junta subindo uma encosta louca?
Vila de Aljezur, arrasada sejas de cravos e rosas até às igrejas!
Letra: Leonel Neves Música: Afonso Dias Intérprete: Afonso Dias com Tânia Silva (in CD “O Mar ao Fundo”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2015)
Vai, minha lanchinha à vela
[ Lanchinha à Vela ]
Vai, minha lanchinha à vela Lá longe o horizonte Vejo nuvens de esperança Notícias de Levante
Se o mar a mim me engana Tormentas, tempestades Vai, minha lanchinha à vela Antes que seja tarde
Trago cheiro a maresia Gengibre e fruta sã Levo a brisa pela proa Rainha, minha romã
Vai, minha lanchinha à vela Que a noite não tem fim Vai buscar a chama eterna Canela e alecrim
Vai, minha lanchinha, vai Por mares e marés Vai em busca de bonança Mostrar quem tu és
Vai, minha lanchinha à vela Lá longe o horizonte Vejo nuvens de esperança Notícias de Levante [3x]
Letra e música: José Francisco Vieira Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Vê-se ranchos de raparigas
[ Al Algarve ]
Vê-se ranchos de raparigas a desfolhar uma rosa, cantando lindas cantigas, formando bailes de roda.
Refrão:
Ai, Algarve, tens amendoeiras floridas! Ai, Algarve, tens o nome da canção! Ai, Algarve, tens tão lindas raparigas! Ai, Algarve, tens tão lindo Portimão!
Envolvidas na canção fazem arraiais de feira, gritam “viva Portimão”, viva a flor da amendoeira.
Envolvida nas cantigas só eu ficarei no pó que as amendoeiras despidas causam pena, metem dó.
Letra: Anónimo Música: António Vinagre Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Vimos dar as Boas Festas
Vimos dar as Boas Festas, Já que Deus as nos deixou: É nascido o Deus-Menino, De manhã se baptizou.
Depois dele baptizado Nesse tão humano dia, Para a Glória foi levado Com prazer e alegria.
Letra e música: Popular (Algarve / Estremadura) Recolha: José Alberto Sardinha Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/algarve-foto-sapo-viagens.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:11:402024-11-02 06:49:11Canções do Algarve
Loja Meloteca, recursos criativos para musicalização infantil
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
A ponta de São Lourenço
A ponta de São Lourenço É mais além um nadinha Foi onde o rei deu à costa Dentro das pernas da rainha.
Adeus ilha da Madeira As costas te vou voltando Não sei o que deixo nela Que os meus olhos vão chorando.
À Paúl tão grande Ao longe parece bem Eu só queria ter O que no Paúl tem.
A semana a cobiçar
[ Mourisca do Caniçal ]
A semana a cobiçar, De amor ela me cobiça… Se não lograr os teus olhos Domingo não vou à missa!
No adro da igreja, naquele apertão, O lenço que tinha roubaram-mo da mão. Garota de seda de trinta mil cores… Quem deitavas, velha, a voz de namoro?
Se não sabes onde eu moro… Eu moro ali além, Numa casinha de palha, Sozinho mais minha mãe.
No adro da igreja, naquele apertão, O lenço que tinha roubaram-mo da mão. Garota de seda de trinta mil cores… Quem deitavas, velha, a voz de namoro?
Ó senhor de longe, longe, Ó senhor, d’onde vens? Venho passar o Natal, Natal, a casa da minha mãe. Quem não entrar no caminho P’ró ano já cá não vem.
No adro da igreja, naquele apertão, O lenço que tinha roubaram-mo da mão. Garota de seda de trinta mil cores… Quem deitavas, velha, a voz de namoro?
São quatro p’ra baile E cinco p’ra perto; Eu brinco contigo E dá-me tudo certo.
Letra e música: Tradicional (Madeira) Recolha: Artur Andrade e António Aragão Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000) Primeira versão [?]: Encontros da Eira (in CD “Retalhos de Tradição”, Almasud Records, 1998; CD “O Melhor dos Encontros da Eira”, Vidisco, 2002)
Caniçal (Madeira)
Da minha janela à tua
Da minha janela à tua Do teu coração ao meu Podia andar um navio O navegador seria eu.
Ó mar alto, ó mar alto Ó mar alto sem ter fundo Mais vale andar no mar alto Que andar nas bocas do mundo.
Quando o sobreiro der baga A cortiça for para o fundo Então se há-de acabar Estas más línguas do mundo.
Se o mar fosse de azeite Como é de água salgada Eu ia lá fora e vinha Sem pagar frete nem nada.
Sem pagar frete nem nada Meu amor para o Brasil Não pagava o passaporte Meu amor sem de lá vir.
O meu amor me deixou só Para amar outra menina Mas as lágrimas que eu choro Sai-me da testa para cima.
O meu amor me deixou só Não por nada que eu fizesse Foi só para amar uma louca Isto é, casos que acontecem.
Trabalhai, dobrai o corpo Se queres ser alguém Olhai que nas eras de hoje Quem não trabalha não tem.
Casei-me para descansar Tomei dobrada canseira Mais valia que eu tivesse Em casa do meu pai solteira.
Tu dizes que eu sou tua Em que papel assinei O mundo dá muita volta Deus sabe eu de quem serei.
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Embala, preta, embala
[ Embalo da Madeira ]
Embala, preta, embala! Embala-m’ esta menina, Que a menina vai dormir Porqu’ ela é pequenina!
E também tu, Maria, Pede àquela cotovia Que fale mais devagar, Não vá João acordar!
Calai-vos, águas do moinho! Mário, fala mais baixinho! Deixa o menino dormir, ’tá no primeiro soninho.
Letra e música: Tradicional (Serra d’Água, Madeira) Informante: Serafina da Silva (canto) Recolha: Manuel Rocha (“Embalo”, in CD “Povo Que Canta: Recolhas Etnográficas num Portugal Desconhecido (2000/2003)”, faixa 11, EMI-VC, 2003) Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Era um anjo
Era um anjo, era um anjo Meu Deus que eu tanto amei Confesso que ainda o amo E nunca o esquecerei.
Eu subi à ameixieira Para apanhar uma ameixa Arranjei um pechãozinho O pai quer, a mão não deixa.
Nevoeiro, nevoeiro Vai pr’a trás do teu palheiro, Que hoje faço-te um bolo E amanhã faço um brindeiro.
Ah mê Deus qu’eu já não posso Subir a esta ladeira Quand’eu chegar ao chãozinho Eu vou dar uma carreira.
Há três dias que eu não como Há quatro que não bebo vinho Há cinco que eu não alcanço Da tua boca um beijinho.
Esta é a moda da Ciranda
[ A Ciranda ]
Esta é a moda da Ciranda É uma moda bem ligeira Pra juntar as raparigas, Como o trigo na joeira.
Coro
Ó Ciranda, ó cirandinha, Vamos nos a cirandar Vamos dar a meia volta, Meia volta vamos dar. Vamos dar a outra meia, Adiante troca o par.
Adiante e troca o par, Que o meu par já está trocado. O amor que Deus me deu, Aqui o tenho a meu lado.
A ciranda me convida Para eu ir ao Cirão Fiar uma maçaroca Do mais fino algodão.
Vamos cantar a ciranda Para animar este povo Para alegria de todos Desde o mais velho ao mais novo.
Estava a bela infanta
[ Cantiga da guerra ]
Estava a bela Infanta No seu jardim assentada Com pente de ouro fino Os seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar Viu vir uma grande armada Capitão que nela vinha Muito bem a guardava.
Dizei-me vós capitão Dessa tão formosa armada Se vistes o meu marido Na terra que Deus pisava.
Anda tanto cavalheiro Naquela terra sagrada Mas dizei-me vós senhora Os sinais que ele levava.
Levava cavalo branco De selim de prata dourada Na ponta da sua lança A cruz ele levava.
Eu sou de cá
Eu sou de cá, você de lá Sou do lado da lagoa De dia não tenho tempo Há noite vou de canoa.
Dei um beijo, ela zangou-se Dei outro ela sorriu O terceiro que lhe dei Foi ela que me pediu.
Refrão
Eu queria passar o rio Do rio da Assomada Eu queria falar com a moça A velha é que me atrapalha.
Refrão
Dei um beijo numa preta Cheirou-me a café torrado Foi o beijo mais gostoso Que a minha boca têm dado.
Refrão
A minha canoazinha Que anda à roda de vapor Ainda está para nascer Quem vai ser o meu amor.
Refrão
No meio daquele mar Está uma parreira de uvas Não há faca que as corte Lá se perdem de maduras.
Foram dizer a meu pai
Foram dizer a meu pai Que eu namorava bem Também o meu pai no seu tempo Namorou a minha mãe.
Se eu quisesse amores Tinha mais de um cento Bonecos de palha Cabeças de vento.
O meu amor ontem à noite Pela vida me jurou Que se ia deitar ao mar Se ele vai eu cá não vou.
Foram dizer ao meu pai Que eu namorava alto Também meu pai no seu tempo Namorou três e quatro.
No tempo que eu te amava Não amava a mais ninguém Amava noventa e nove Contigo fazia cem.
Foram dizer a meu pai Que eu casava no Lanço Leve diabo quem lhe disse Que nunca tenha descanso.
Dizes que te vais embora O meu coração não te quita Se eu procurar hei-de achar Outra cara mais bonita.
Não passes à minha porta Nem a pé nem a cavalo Que o meu pai é lavrador Não quer genro fidalgo.
No meio daquele mar Está um pinheiro florido Não há nada mais bonito Que a mulher e o seu marido.
Se eu quisesse amores Que me têm dado Tinha a casa cheia Até ao telhado.
O anel que tu me deste Era de vidro e quebrou-se A amizade que eu te tinha Era de água e derramou-se.
Subi à ameixieira Para apanhar uma bela ameixa Fui falar à rapariga O pai quer a mãe não deixa.
Deitei o limão correndo À tua porta parou Quando o limão tem malícia Que fará quem o deitou.
Ó meu amor vem cá à noite Tenho ceia para te dar É café e milho frito E beijinhos ao caminhar.
Se fores daqui para fora Diz para que terra vais Deixa-me o teu nome escrito Numa pedrinha no cais.
Meu amor, ó meu amor Que agravo de mim tiveste? O terreiro já tem erva Há tanto que aqui não vieste.
O meu amor diz que vinha Diz que vinha, mas não veio Amanhã pelas nove horas Tenho carta no correio.
O meu amor vai-se embora Não vale a pena chorar A melhor coisa a fazer É pôr outro em seu lugar.
Já lá vai o sol abaixo Com Maria pela mão Maria vai rosadinha Manuel cor de limão.
Rapariga do diabo Deus te queira dar saúde Andava para te enganar Rapariga nunca pude.
Tenho um castanheiro na serra Não lhe ponhas o machado Que a sombra do castanheiro Tem o meu amor deitado.
Ajudai-me a cantar Que eu não posso cantar só O meu coração magoado Só dele pode haver dó.
Os meus olhos de chorar Já nenhuma graça tem Já avisei os meus olhos Que não chorem por ninguém.
Dei-lhe um limão correndo Pela rua nova abaixo Quanto mais o limão corre Quantos mais amores acho.
Madeira
Madeira É tão linda assim É como uma linda rosa Plantada no meu jardim.
Madeira toda Cercada de mar Toda ela é um jardim Para os Madeirenses cheirar.
Os que visitam a Madeira Ficam muito encantados Em ver as lindas montanhas E os seus lindos prados.
A Madeira é um jardim No mundo não há igual Suas belezas não têm fim É filha de Portugal.
Nas serras do norte Respiramos ar puro Eu muito lá passei É por isso que eu juro.
Fazem-se muitos remédios Com o mel das abelhinhas Quando dão à luz os bebés As mulheres ficam meninas.
Madeira és Para mim um jardim em flor Onde colhi muitas flores Para o altar do Senhor.
Madeira em ti Está minha terra natal Onde vivi e aprendi A fugir de todo o mal.
Meu amor, o teu lencinho
Meu amor o teu lencinho Guardo com muito carinho Nunca mais te esqueças dele Recorda na despedida.
Quando a minha partida Me acenas com ele. Vou pedir à Virgem Santa Que me dê coragem tanta.
Que abrande a minha dor Desse seu branco lencinho Ter enxerga do bercinho Onde embala o nosso amor.
Não sei o que fiz à Lua
Não sei o que fiz à Lua Não me dá no terreiro Vou mandá-la prender Nas grades de um limoeiro.
Não sei o que fiz à Lua Não me dá claridade Vou mandá-la prender Na cadeia da cidade.
Amarrei o sol à lua Na ponta de um guardanapo O sol era pequenino Fugiu-me para um buraco.
Não te encostes à parreira
[ Em Tempo de Vindimas ]
Não te encostes à parreira Qu’a parreira larga pó! Encosta-te à minha cama: Sou solteiro e durmo só!
Ai, venha vinho, venha vinho! Venha mais meio galão! Quem quiser beber vinho Ponha a boca ao garrafão.
Ai, venha vinho, venha vinho! Venha mais meia canada! Quem quiser beber vinho Ponha a boca na levada.
Ai Maria! Ai Maria! Não é coisa que se faça: Tu queres é beber o vinho Daqui da minha cabaça.
Minha mãe não quer que eu beba Nem vinho nem aguardente; Nada no mundo me alegra, Só contigo estou contente.
Se tu quiseres qu’eu cante, Dá-me um copo de vinho! Que o vinho é coisa santa, Faz o cantar miudinho!
Se os senhores querem qu’eu cante, Dêem-me vinho ou dinheiro! Qu’esta minha gargantinha Não é fole de ferreiro!
Se os senhores querem qu’eu cante, Dêem-me vinho ou dinheiro! Qu’esta minha gargantinha Não é fole de ferreiro!
Letra: Popular (quadras recolhidas por Lília Mata, no Sítio da Ribeira dos Pretetes, Caniço, Santa Cruz, Ilha da Madeira) Música: Carlos Alberto Moniz Intérprete: Carlos Alberto Moniz Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 2, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)
No meio daquele mar
No meio daquele mar Tem uma parreira de uvas Não há faca que as corte Já se perdem de maduras.
A parreira dá-me um cacho O cacho dá-me um baguinho Quero fazer água pé Já que meu pai não tem vinho.
Vim-me embora para a cidade Que o campo já me aborrece Dentro da cidade eu tenho Quem penas por mim padece.
Subi ao céu numa escada E desci num cacho de uvas Só Deus é que pode ajudar Estas pobres viúvas.
Meu amor vem cá à noite Tenho uma coisa para lhe dar Cafezinho, milho frito E um beijinho ao caminhar.
O meu amor era um cravo
O meu amor era um cravo Que aquele craveiro deu E todo o mundo tem inveja Daquele cravo ser meu.
Mandei fazer um jaleque No Pico da Band’Além Se não casares comigo Não casas com mais ninguém.
Maria porque não tens Uma cédula com’as outras? A vontade era boa… As moedas eram poucas!
Ó minha mãe
Ó minha mãe, minha mãe Não me chame sua folha Chama-me uma destravada Que nasci para a triste vida.
Minha mãe, minha mãe Triste vida sem mulher É bonita corre a fama É feia ninguém a quer.
Lua, lua Lua, luar Pega o meu filhinho Ajuda-me a criar.
Quando eu era pequenina Minha mãe me aninhava Até eu adormecia Com beijos que ela me dava.
Manuel mais Maria São filhos da mesma mãe Manuel é mais bonito Maria que culpa tem?
Quando eu nasci à noite Nem uma estrela brilhava A lua minha madrinha Lá no céu me alumiava.
Oh meu amor
Oh meu amor, meu querido, Amor do meu coração, Quem me dera te poder ver, Que nunca mais te vi não.
Se tu visses o que eu vi, Lá no Rio de Janeiro, O macaco a bater palmas, Na testa do sapateiro.
Mariquinhas da levada, Rega o teu manjericão, Que hoje eu sou levadeiro, Amanhã serei ou não.
Quando estiver a morrer
Quando estiver para morrer E para deixar esta vida Jesus, Maria e José Hão-de ser minha guarida.
Hão-de rodear-me o leito Com carinho maternal P’ra que as forças do inferno Não possam fazer-lhe mal.
Jesus e a mãe santíssima Mais o meu Pai São José Com amor hão-de dizer-me: Não foi vã a tua fé.
Todos três hão-de fazer-me Ao morrer Cruz na testa, São José fechar-me os olhos A morte para mim é festa.
Que bom é deixar o mundo Amparado por teus pés Maria, Jesus e José Não me deixarão jamais.
São Vicente
[ Hino de São Vicente ]
São Vicente, São Vicente Capelinha à beira mar Não esqueças São Vicente Ande lá por onde andar.
Vem cá assim Não fujas de ao pé de mim Vem cá assim Não fujas de ao pé de mim.
Com o povo de São Vicente Nem a polícia se mete Vamos todos prá rambóia Nem que chovam canivetes.
São Vicente, te és linda terra
São Vicente tu és linda terra Tu és minha, tu és singular Não esqueças São Vicente Andes lá por onde andar
Tens costumes bem antigos Que honram a tua gente Por toda a parte tem fama O jaqué de São Vicente
Tuas serras alterneiras Olhando o fundo da ribeira Tuas paisagens verdejantes As mais lindas da Madeira.
São Vicente mora no calhau Casinha de pedra portinha de pau.
Sapato que a mim não serve
Sapato que a mim não serve, Fora do meu pé deitei, Não mim importa que outro logre, Amores que eu rejeitei.
Se eu tivesse não pedia, Coisa nenhuma a ninguém, Como não tenho peço, Uma filha a quem as tem.
Ó melro-preto vadio, Vai cantar a onde quer, É como o rapaz solteiro, Enquanto não tem mulher.
Namorar não é pecado, A quem é desimpedido, Namorar homens casados, É um desvairado sentido.
Em frente de mim estão olhos Olhos que me estão matando Tu vais dar contas a Deus Das penas que me estás dando.
Todas nós formamos berço
Todas nós formamos um berço Para Jesus adormecer Em nós todas um sacrário Para conosco ele cantar.
Trigo louro, trigo louro Empresta-me a tua cor Quero ir ao Calisberto Servir a Nosso Senhor.
Cantiguinhas que eu sabia Todas o vento me levou Só as de Nossa Senhora Na memória me ficou.
Carlos Alberto Moniz
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/madeira-cabo-girao.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:13:052024-11-02 06:48:05Canções da Madeira
Loja Meloteca, recursos musicais criativos para a infância
Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
Ao correr da queda de água
[ Fraga da Pena ]
Ao correr da queda de água Fui lavar o sentimento: Deixei acalmar a mágoa Enquanto escutava o vento.
A saltar entre os penedos, As águas vão ensinando As lembranças e os segredos Que a serra vai murmurando.
E as penas quem as apaga Para a alma ficar serena? Penas grandes como a fraga São como a Fraga da Pena.
E as penas quem as apaga Para a alma ficar serena? Penas grandes como a fraga São como a Fraga da Pena.
Enquanto a tarde se deita Nas sombras da penedia, A água aos poucos ajeita O raiar do novo dia.
Trigueira de água nos dedos Desce da serra apressada: Vem a cantar pelos penedos Para me saudar à chegada.
Enquanto a noite me afaga, Enquanto a lua me acena, Adormeço ao som da fraga: Ao som da Fraga da Pena.
Enquanto a noite me afaga, Enquanto a lua me acena, Adormeço ao som da fraga: Ao som da Fraga da Pena.
E as penas quem as apaga Para a alma ficar serena? Penas grandes como a fraga São como a Fraga da Pena.
Enquanto a noite me afaga, Enquanto a lua me acena, Adormeço ao som da fraga: Ao som da Fraga da Pena.
Letra: Sebastião Antunes Música: Fernando Pereira Intérprete: Real Companhia Versão original: Real Companhia com Ana Laíns (in CD “Serranias”, Tê, 2013; CD “20 Anos Já Cá Cantam” (compilação), Tê, 2016)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Eu fui à barra do Porto
[ Real Caninha ]
Eu fui à barra do Porto Com vento norte-suão, Ó real caninha! Com vento norte-suão, Só para ver se alcançava A filha do capitão.
Eu fui à barra do Porto Com vento norte-nordeste, Ó real caninha! Com vento norte-nordeste, Só para ver se alcançava A filha do contramestre.
Tenho rendas que me rendem, Não quero mais trabalhar, Ó real caninha! Não quero mais trabalhar; Tenho um navio no Porto Com janelas para o mar.
Eu fui à barra do Porto Com vento norte-suão, Ó real caninha! Com vento norte-suão, Só para ver se alcançava A filha do capitão.
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Intérprete: Toques do Caramulo Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Toques do Caramulo É ao Vivo!”, d’Orfeu Associação Cultural, 2007)
Eu fui p’ra aqui convidado
[ Passar de Mão ]
Depois de uma recolha na Serra do Baixo Caramulo levada a cabo por um grupo de aguedenses, liderado por Américo Fernandes, efectuou-se um agradável convívio durante o qual o repentista José Carlos, da aldeia de Falgaroso, da paróquia de Belazaima do Chão, porém da freguesia de Castanheira do Vouga, acompanhado pelo fundo de um regador de onde os seus dedos grossos retiraram um delicado batuque fadista, cantou os seguintes versos:
Eu fui p’ra aqui convidado P’ra cantar modas antigas, Mas em troca das cantigas Fui muito bem tratado: Enfardei leitão assado; Buer, também buí bem. Já dizia a minha mãe: «Filho, ocupa o teu lugar! Se houver tolos a pagar, Não gastes nem um vintém!»
É teoria acertada, Aproveito a ocasião; Se me chamarem lambão Até nem me importo nada. À troca da desgarrada Já comi um bom jantar; Mas não posso cá voltar, Pois é essa a minha pena: À conta da minha cena Ninguém me volta a convidar.
Mas, como eu, estão cá tantos, Não vieram fazer nada: Encheram foi a malvada, Beberam tintos e brancos; Fora de casa são francos, Comem até rebentar, Engolem sem mastigar… Ah, que grande sofreguidão! Se lhes dá uma congestão, Ninguém os pode salvar.
E estes senhores da Bairrada Vieram muito enganados: Pagam a conta, coitados, E não aprenderam nada; Levam música gravada Que não dá p’ra aproveitar, Só se for p’ra recordar O malogro deste dia, É p’ra perderem a mania De quererem coleccionar.
Letra: Tradicional (Falgarosa, Castanheira do Vouga, Águeda, Beira Litoral) Informante: José Carlos Recolha: Américo Fernandes (in “cancioneiro do Concelho de Águeda”, Org. Amílcar da Fonseca Morais, Câmara Municipal de Águeda, 2011 – p. 60-61) Música: Tradicional (Beira Litoral) Arranjo: Luís Fernandes Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)
Eu no mar e tu no mar
[ É um ar que lhe dá ]
Eu no mar e tu no mar Ai, andamos ambos perdidos: Eu no mar desses teus olhos, Ai, tu no mar dos meus sentidos.
É um ar que lhe dá, É um ar que lhe deu; Ai, é um ar que lhe dá, Quem vira sou eu.
Quem me fora linho fino Ai, ou retrós de qualquer cor Para andar no teu peitinho Ai, a servir de apertador.
É um ar que lhe dá, É um ar que lhe deu; Ai, é um ar que lhe dá, Quem vira sou eu.
Julgavas que eu te queria, Ai, olha o engano do mundo: É que os meus olhos já navegam Ai, noutro pocinho mais fundo.
É um ar que lhe dá, É um ar que lhe deu; Ai, é um ar que lhe dá, Quem vira sou eu.
As noras gemem coitadas Ai, quando lhes falta a corrente: Também eu gemo e suspiro Ai, quando tenho o amor ausente.
É um ar que lhe dá, É um ar que lhe deu; Ai, é um ar que lhe dá, Quem vira sou eu.
É um ar que lhe dá…
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)
Fala-me, Rosa
Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha. Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha.
Coradinha, olé, ó linda, Coradinha, olé limão! Toma lá esta laranja Que eu dou-te o meu coração!
Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha. Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha.
Quem perdeu o que eu achei: Um lencinho de assoar? Tinha três nós de ciúme, Custaram-me a desatar.
Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha. Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha.
Coradinha, olé, ó linda, Coradinha, olé limão! Dá-me os teus braços, ó Rosa, Que eu dou-te o meu coração!
Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha. Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha.
Quem perdeu o que eu achei: Um lencinho quase novo? Em cada ponta um suspiro E no meio um ai que eu morro.
Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha. Fala-me, Rosa, a mim sozinha! Verás como ficas coradinha.
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)
Morro de amor pelas águas da ria
[ Fado Moliceiro ]
Morro de amor pelas águas da ria; esta espuma de dor eu não sabia.
Sou moliceiro do teu lodo fecundo; sou a Ria de Aveiro, o sal do mundo.
Vara comprida, tamanho da vida; braço de mar, a lavrar, a lavrar.
Morro de amor nesta rede que teço e é no sal do suor que eu aconteço.
Para além da salina o horizonte me ensina que há muito mar, muito mar para lavrar! para lavrar!
Poema: José Carlos Ary dos Santos Música: Carlos Paredes Intérprete: Mariana Abrunheiro (in Livro/CD “Cantar Paredes”, Mariana Abrunheiro/BOCA – Palavras Que Alimentam, 2015) Versão original: Carlos do Carmo (in LP “Um Homem no País”, Philips/Polygram, 1983, reed. Philips/Polygram, 1984, Universal, 2000, 2013; Livro/4CD “O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993”: CD5 – “Improvisos”, EMI-VC, 2003)
Nasci em terras de xisto
[ Serra do Açor ]
Nasci em terras de xisto À beira do rio Ceira Em lugar de Balsa sem Porto Numa Serra onde o Açor pousou Em leito de feno dormi
Cresci na terra do Sorgaço Correndo em lameiros verdejantes Ouvi o sopro dos ventos Junto ao correr das levadas Vi noite sem luar
Ouvi histórias de bruxaria Lendas de lobisomens D’almocreves e mouras encantadas Vi sementeiras e colheitas As malhas e debulhas
Saltei fogueiras de rosmaninho Acendi o madeiro de Natal Cantei janeiras pelo povoado Cheirei alecrim e loureiro Bebi chá de sabugueiro
Nadei nas águas do Alva Na ponte que tem três entradas Em Avô, terra de poetas, Cantei baladas ao luar Até o galo cantar
Que importa ser acordado Dos sonhos desta noite Pela coruja que é a Surga Ou pelo sino da capela Tudo isto existe, tudo isto é belo Nada mudou, tudo está como era dantes…
Letra e música: Fernando Pereira Intérprete: Real Companhia Versão anterior: Real Companhia (in CD “Serranias”, Tê, 2013; Versão original: Real Companhia (in CD “Real Companhia”, Profissom, 1997; CD “20 Anos Já Cá Cantam” (compilação), Tê, 2016) Outras versões: Real Companhia (in CD “Em Tons de Pastel”, Tê, 2004); Real Companhia (in CD “Em Forma de Abraço”, Tê, 2005)
Nunca te ouvira
[ Ó Pedras Desta Calçada ]
Nunca te ouvira, nem conhecera, Nunca te eu dera um sinal de amor: Vem aos meus braços que eu dou-te um beijo! Vem os meus beijos, linda flor!
Ó pedras desta calçada, Levantai-vos e dizei Quem vos passeia à noite, Que de dia eu bem sei!
Ó pedras desta calçada, Levantai-vos e dizei Quem vos passeia à noite, Que de dia eu bem sei!
Nunca te ouvira, nem conhecera, Nunca te eu dera um sinal de amor: Aos meus braços, aos meus beijos, Aos meus braços, linda flor!
Ó pedras desta calçada, Levantai-vos e dizei Quem vos passeia à noite, Que de dia eu bem sei!
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Intérprete: Toques do Caramulo Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Toques do Caramulo É ao Vivo!”, d’Orfeu Associação Cultural, 2007)
Ó Bairrada
[ Vira Bairrês ]
Ó Bairrada, ó Bairrada, Terra da minha Paixão, Onde eu tenho os meus amores, Ninguém me diga que não! Terra da Minha Paixão!
Corri Arcos e Três Arcos, Famalicão, Anadia… Ao cruzeiro de Sangalhos Fui encontrar quem eu queria; Famalicão, Anadia…
Almas Santas da Areosa, Dizei-me onde morais Entre Aguada e Vidoeiro, No meio dos pinheirais! Dizei-me onde morais!
Letra e música: Tradicional (Bairrada, Beira Litoral) Arranjo: Luís Fernandes Intérprete: Toques do Caramulo Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)
O brio das raparigas
O brio das raparigas, Ela é minha namorada; Ó i ó ai, diz a filha para a mãe: Ó i ó ai, quero uma saia bordada.
Quero uma saia bordada, Também quero fina meia; Ó i ó ai, sapatinho à papo-seco, Ó i ó ai, é bonita, não é feia.
O meu amor não é este O meu amor traz chapéu; Ó i ó ai, o meu amor ao pé deste Ó i ó ai, parece um anjo do Céu.
O brio do rapaz novo É o chapéu derrubado; Ó i ó ai, corrente d’ouro ao peito, Ó i ó ai, o cabelo ondulado.
Não sei se te diga “adeus”, Se te diga “vou-me embora”; Ó i ó ai, dizer adeus é saudoso, Ó i ó ai, quem diz adeus logo chora.
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Intérprete: Toques do Caramulo com Sara Vidal (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)
O lugar de Macieira
O lugar de Macieira (ó ai ó larilolela) Tem ladeiras a subir: (ó ai) Quem lá tem os seus amores, (ó ai ó larilolela) Vai ao céu e torna a vir. (ó ai)
O lugar de Outeiro da Vila (ó ai ó larilolela) Tem carreiros de formigas (ó ai) Aonde os rapazes vão (ó ai ó larilolela) Vigiar as raparigas. (ó ai)
O lugar de Macieira (ó ai ó larilolela) Tem ladeiras a subir: (ó ai) Quem lá tem os seus amores, (ó ai ó larilolela) Vai ao céu e torna a vir. (ó ai)
O lugar de Outeiro da Vila (ó ai ó larilolela) Tem carreiros de formigas (ó ai) Aonde os rapazes vão (ó ai ó larilolela) Vigiar as raparigas. (ó-ó-ó ai)
Quem está sem amores sou eu; (larilolela) Paciência, ó coração! (ó ai) Não tenho p’ra quem olhar, (ó ai ó larilolela) Deito os meus olhos ao chão. (ó-ó-ó ai)
Na Urgueira nasce o Sol, (ó ai ó larilolela) No Ribeiro faz calor; (ó ai) No lugar de Macieira (ó ai ó larilolela) É que brilha o meu amor. (ó-ó-ó ai)
Quem está sem amores sou eu; (ó ai ó larilolela) Paciência, ó coração! (ó ai) Não tenho p’ra quem olhar, (ó ai ó larilolela) Deito os meus olhos ao chão. (ó ai)
Na Urgueira nasce o Sol, (ó ai ó larilolela) No Ribeiro faz calor; (ó ai) No lugar de Macieira (ó ai ó larilolela) É que brilha o meu amor. (ó-ó-ó ai)
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Arranjo: Luís Fernandes Intérprete: Toques do Caramulo Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo, com Elíseo Parra (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)
Macieira de Alcoba
Ó trigueirinha
Ó trigueirinha, trigueirinha engraçada, Ó trigueirinha, só tu és a minha amada! Ó trigueirinha, trigueirinha do calor, Ó trigueirinha, só tu és o meu amor!
Chamaste-me trigueirinha… Trigueirinha é do pó da eira; Hás-de me ver ao domingo Como a rosa na roseira.
Ó trigueirinha, trigueirinha engraçada, Ó trigueirinha, só tu és a minha amada! Ó trigueirinha, trigueirinha do calor, Ó trigueirinha, só tu és o meu amor!
Trigueirinha engraçada Todo o mundo a cobiça: Como domingo na igreja Quem a vê não ouve a missa.
Ó trigueirinha, trigueirinha engraçada, Ó trigueirinha, só tu és a minha amada! Ó trigueirinha, trigueirinha do calor, Ó trigueirinha, só tu és o meu amor!
Trigueirinha, trigueirinha, Assim me chama o meu Pedro… Não sou linda de espantar Nem feia que meta medo.
Ó trigueirinha engraçada, Ó trigueirinha, só tu és a minha amada! …do calor, Ó trigueirinha, ó meu amor!
Ó trigueirinha engraçada, Ó trigueirinha, só tu és a minha amada! …do calor, Ó trigueirinha, ó meu amor!
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)
Olé, ó senhora mãe
Olé, ó senhora mãe, Aquela menina agrada-me bem! Olé, ó senhora mãe!
Olé, ó senhor, dai, dai Uma esmola a mim, que eu não tenho pai! Olé, ó senhor, dai, dai!
Letra e música: Tradicional (Talhadas, Sever do Vouga, Beira Litoral) Recolha: Michel Giacometti (in LP “Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1970; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 3 – Beiras, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 4 – Beiras, col. Portugal Som, Numérica, 2008) Intérprete: Segue-me à Capela (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa) Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Olha para a água!
Olha para a água! Ri-te para mim! Põe o pé na areia! Faz assim, assim!
Meu amor não anda Nada satisfeito: Põe o pé na areia, Faz assim a eito
Olha para a água! Ri-te para mim! Põe o pé na areia! Faz assim, assim!
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Intérprete: Toques do Caramulo com o Coro Infantil EMtrad (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)
Onde vais, Maria Alice?
[ Maria Alice ]
«Onde vais, Maria Alice? Onde vais tu a chorar?» Vou chamar o meu marido, Está na taberna a jogar.
Está na taberna a jogar Com uma grande bebedeira: Se eu casei para estar sozinha Mais valia estar solteira.
Mais valia estar solteira, Solteirinha estava bem: Estava à sombra de meu pai, Carinhos de minha mãe.
«Onde vais, Maria Alice? Onde vais tu a chorar?» Ai! ai! ai! Ai! ai! ai! Ai! ai! ai!
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Arranjo: Luís Fernandes Intérprete: Toques do Caramulo Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)
Pedrinhas da fonte
Pedrinhas da fonte cheiram a limão, Eu tenho na sina de amar o João.
Pedrinhas da fonte cheiram a café, Eu tenho na sina de amar o José.
Sim, sim, Mariquinhas, sim! Não, não, Mariquinhas, não! Deixa amar quem ama, Não tenhas paixão!
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Intérprete: Toques do Caramulo com Sara Vidal (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)
Padre-Nosso que organizais festas
[ Padre-Nosso dos Músicos ]
Padre-Nosso que organizais festas: Santificado seja o vosso dinheiro; Venha a nós o vosso arame; Seja feita a nossa vontade tanto no salão como no coreto;
Perdoai-nos algum toque falso Ou alguma nota desafinada, Assim como nós vos perdoamos o pedido de abatimento no preço, E livrai-nos de festas gratuitas e a seco.
Ámen.
Letra: Tradicional (Águeda, Beira Litoral) Informante: David Fernandes Música: Hermeto Pascoal Intérpretes: David Fernandes / Hermeto Pascoal & Aline Morena (2009, in CD “Mexe!”, de Toques do Caramulo, faixa 6, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)
Senhora do Livramento
Senhora do Livramento, Livrai o meu namorado Que me vai deixar sozinha Ai meu Jesus, ai meu Jesus! Pela vida de soldado!
As vossas tranças, Senhora, São loiras como as espigas; Senhora do Livramento, Ai meu Jesus, ai meu Jesus! Protegei as raparigas!
Hei-de bordar a toalha, Senhora, do vosso altar, E a camisa do meu noivo Ai meu Jesus, ai meu Jesus! Quando me for a casar.
Senhora do Livramento… Senhora do Livramento…
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Arranjo: Luís Fernandes e Manuel Maio Intérprete: Toques do Caramulo Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)
Toma lá esta Laranja!
[ Laranjinha ]
Toma lá esta Laranja! Não digas que eu que ta dei! Eu não tenho um laranjal, Dizem que eu que a roubei.
Dizem que eu que a roubei E acredita o povo todo; A laranja foi criada No laranjal do meu sogro.
No laranjal do meu sogro, No quintal da minha avó: O laranjal do meu sogro Deu esta laranja só.
Letra e música: Tradicional (Beira Litoral) Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)
Letra e música: Tradicional (“Verde-Gaio” de Casal d’Álvaro, Espinhel, Águeda, Beira Litoral) Arranjo: Luís Fernandes Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)
Gaio-verde
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/aveiro.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-06 23:15:032024-11-02 06:46:59Canções da Beira Litoral