Canções do Algarve
Canções do Algarve
Letras
A virgem de Guadalupe
A virgem de Guadalupe
Quando vai pela ribeira,
Descalcinha pela areia
Parece uma rianceira.
Ondinhas vêm,
Ondinhas vêm,
Ondinhas vêm do mar,
Não te vás à rianceira
Não te vás amariar.
Cada vez que passo a ponte
Sempre te encontro lavando,
A formosura que tu tens
A água a vai levando.
Ondinhas vêm,
Ondinhas vêm,
Ondinhas vêm do mar,
Não te vás à rianceira
Não te vás amariar.
Letra e música: Popular
Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, public-art, 2004)
Abalei aqui por abaixo
[ Oração à Virgem ]
Abalei aqui por abaixo
Com o três horas serão
Encontrei a Virgem Pura
Com um ramalhete na mão.
Eu lhe pedi uma folhinha
E ela me disse que não
Eu lhe tornei a pedir
E me deu seu bem do cordão.
Zebelinha tecedeira
Tece-me este cordão
Que me deu a Virgem Pura
Sexta-Feira da Paixão.
Santo Antóino é meu pai
E São Francisco é meu irmão
Os anjinhos meus parentes
Ó que linda geração!
Popular – voz masculina (Monchique, Algarve)
Recolha de José Alberto Sardinha (1981) (in CD n.º 6 de “Portugal: Raízes Musicais”, JN/BMG, 1997)
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Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.
Ai que saudade tenho do meu canto
Ai que saudade tenho do meu canto, da minha terra!
Só vejo o mar adentro e o céu a te apartar.
Ai esta vida corre e roda, roda, ai, a moer;
Não há razão, mãe, para voltar sem que fazer.
Eu hei-de ir, eu hei-de voltar à terra, ao meu lugar!
Voltar à minha mãe, ao teu regaço, ao meu penar!
Meus olhos choram longe, ai, tão cansados de esperar…
Ai esta vida corre e roda, roda, ai, a moer;
Mas eu hei-de voltar à minha terra, ao meu lugar!
Meus olhos choram longe, ai, tão cansados de esperar…
Mas eu hei-de voltar à minha terra, ao meu lugar!
Letra: Macadame
Música: Tradicional (Loulé, Algarve)
Recolha: José Alberto Sardinha (“Janeiras”, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 6 – Algarve e Ilhas, BMG/JN, 1997)
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Algarve, o nome me está lembrando
[ Santa Maria, a Sem-Par ]
Algarve, o nome me está lembrando
Algarve, e a brisa passa a cantar.
E as sombras leva-as o vento voltando.
Silêncio, dizem as ondas do mar.
Morenas em bandos sobre açoteias
Janelas abertas sobre um palmar
Já vejo de longe as altas ameias
Já vejo Santa Maria, a Sem-Par.
Algarve, jardim de rosas vermelhas
Algarve, brancura de pedra e cal
Cidade dentro dum pátio sem telhas
Dormindo debaixo de um laranjal.
Nas praias, dedos de finas areias
Teu nome lembram ao vento a passar
Já vejo de longe as altas ameias
Já vejo Santa Maria, a Sem-Par.
Letra: José Afonso
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
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António José Ferreira
962 942 759
Algarve, serras mansas
Algarve, serras mansas onduladas
aos poucos aplanando-se em campinas,
praias de areia e rochas arrendadas,
verdes sapais e manchas de salinas
E o mar, mais pronto a calmas que a furores
às traineiras levando os pescadores,
peixes brilhando em raras pedrarias
e o mar, mais pronto a calmas que a furores
Às traineiras levando os pescadores
peixes brilhando em raras pedrarias,
matos floridos, árvores variadas,
farrobas, figos, amêndoas e citrinas.
Terras vermelhas, hortas afogadas
n’águas doces de noras e de minas
e o céu, tonto de sol, pintado a cores
de inverosímeis, múltiplos fulgores
Jardim das mil e uma fantasias
e o céu, tonto de sol, pintado a cores
de inverosímeis, múltiplos fulgores,
jardim das mil e uma fantasias.
Letra: António Balté
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Atira, caçador, atira
Atira, caçador, atira,
Lá no meio da parada!
O meu amor é galucho,
Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada,
Atira, não mata ninguém,
Lá no meio da parada
Do quartel de Belém.
Atira, caçador, atira,
Lá no meio da parada!
O meu amor é galucho,
Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada,
Atira, não mata ninguém,
Lá no meio da parada
Do quartel de Belém.
Eu fui caçar à tapada,
Cheguei lá muito feliz;
Encontrei a minha amada
E matei uma perdiz.
Sou galucho de infantaria,
Sou tropa no Alentejo
E sinto muita alegria
Quando na rua te vejo.
Atira, caçador, atira,
Lá no meio da parada!
O meu amor é galucho,
Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada,
Atira, não mata ninguém,
Lá no meio da parada
Do quartel de Belém.
Eu fui-te ver ao montado
Sentada à porta do monte,
Com os teus olhos brilhantes
À espreita do horizonte.
Tinhas um sorriso aberto
Perfumando a atmosfera;
Eras a mais linda flor
Que me trouxe a Primavera.
Atira, caçador, atira,
Lá no meio da parada!
O meu amor é galucho,
Atira mas não mata nada.
Atira mas não mata nada,
Atira, não mata ninguém,
Lá no meio da parada
Do quartel de Belém.
Letra: Popular e Francisco Naia
Música: Popular
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)
Canta na beirada andorinha
[ Laranjinha Doce ]
Canta na beirada andorinha
Chega a primavera e o amor
Uma vida inteira
Duas à espera
Noites sem dormir p’ra um beijo teu
Mil horas passadas sem saber
Horas, dias sem fim, o meu amor
Cantando dizia, noite e melodia
Pareceu-me um ano
Um só dia
Está chegando o tempo [do] ramo em flor
Laranjinha doce, meu amor
Espero por ti
Canto por aí
Vem cair, à noite, nos braços meus
Espero por ti
Canto por aí
Vem cair, à noite, nos braços meus
Nota: «”Laranjinha Doce”, Amor, Moça bonita, romance Algarvio…» (Zé Francisco)
Letra e música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Da beira-sonho lês
[ Amante do Mar ]
Da beira-sonho lês
o mar que tens aos pés
Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo;
poiso de mareantes
albergaste infantes
e à aventura afrontaste o mar alto;
de pele salgada vens
com o ar quente de quem
dos horizontes bebe o cheiro e a magia;
ó loira do meu Sul
minha fronteira azul
cais de embarque, proa e guia.
Fronteira de sonhos
aberta para o mar
em jeito sensual e quente;
velha majestade
com a tua idade
devias ser mais prudente;
tiveste aventuras
e hoje com as loucuras
do teu passado altaneiro
ainda continuas
amante do mar
e amor de marinheiro.
Da beira-sonho lês
o mar que tens aos pés
Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo;
poiso de mareantes
albergaste infantes
e à aventura afrontaste o mar alto;
de pele salgada vens
com o ar quente de quem
dos horizontes bebe o cheiro e a magia;
ó loira do meu sul
minha fronteira azul
cais de embarque, proa e guia.
Fronteira de sonhos
aberta para o mar
em jeito sensual e quente;
velha majestade
com a tua idade
devias ser mais prudente;
tiveste aventuras
e hoje com as loucuras
do teu passado altaneiro
ainda continuas
amante do mar
e amor de marinheiro.
Da beira-sonho lês
o mar que tens aos pés
Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo;
poiso de mareantes
albergaste infantes
e à aventura afrontaste o mar alto;
de pele salgada vens
com o ar quente de quem
dos horizontes bebe o cheiro e a magia;
ó loira do meu Sul
minha fronteira azul
cais de embarque, proa e guia.
Letra e música: Afonso Dias
Poema dito da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen (excerto de “Lagos II”, 1975, in “O Nome das Coisas”, Lisboa: Moraes Editores, 1977)
Intérprete: Afonso Dias com Tânia Silva (in CD “O Mar ao Fundo”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2015)
Da serra veste perfumes
[ De Sol a Sul ]
Da serra veste perfumes,
do levante inquietações.
Do tempo lhe vêm famas
do mar as consolações.
Velha Romana, Tuaregue,
maruja, aventureira,
dos mares sabida e da vida
sabe tudo, de matreira.
Minha loira, meu azul
faz-te ao mar, despe esse manto
de nevoeiro e de sal,
desnuda-te do quebranto
de seres ponto de partir.
Navega com rumo a ti,
descobre-te em Portugal,
teu porto é de hoje e aqui.
Velhas profecias,
meu 29 de Agosto.
Meu queijo de figo,
sueste agreste,
sol posto.
Meu Infante
navegante.
Cheiro a sardinha
no rosto.
Cidade, eu te escuto
tu me acolhes,
tu me afagas.
Regaço de mãe,
doce carícia de algas.
Varanda de sol a sul.
Gente firme não se cala.
Que o sonho se faça
pouco a pouco,
passo a passo.
Que a tristeza afogue
na largueza dum abraço.
Que a alegria canse
este cansaço.
É hoje que a gente
vai dizer como é que quer,
seja o bicho homem
ou o bicho seja mulher.
E que venha por bem
quem vier.
Letra e música: Afonso Dias
Intérprete: Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul“, Concertante, 1999; CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Deus te salve, ó Rosa
– Deus te salve, ó Rosa
Claro Serafim,
Pastora formosa,
Que fazeis aqui?
– Estou guardando o meu gado,
Que eu aqui “deixi”.
– Deixai vosso gado,
Que eu o guardarei,
Quero ser vosso criado,
Linda flor, meu bem.
– Não quero criados
De meias de seda;
Não quero que as “arrompa”
Cá por estas estevas.
– Sapato e meia,
Tudo “arromparei”,
Para ser vosso criado,
Linda flor, meu bem.
– Vá-se já embora,
(E) não me dê mais penas,
Que daqui a nada vem meu amo
Trazer-me a merenda.
– Venha cá, senhora,
(E) Venha cá correndo
Que o amor é louco
Já me vai vencendo…
Letra e música: Tradicional (Aljezur – Algarve)
Recolha: Michel Giacometti
Intérprete: Chuchurumel (in CD “Posta Restante”, Edição de autor, 2007)
Eia, Abu Bacre
[ Evocação a Silves ]
Eia, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves
e pergunta-lhes se,
como penso, ainda se recordam de mim.
Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer.
Ali moravam guerreiros como leões e brancas
gazelas. E em que belas selvas e em que belos covis.
Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado
brancas e morenas que produziam na minha alma
o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!
Quantas noites passei deliciosamente junto a um
recôncavo do rio
com uma donzela cuja pulseira rivalizava
com a curva da corrente!
O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.
As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me
como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões
do colo inimigo.
Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo
de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.
Poema de Al-Mutamid (in “Portugal na Espanha Árabe”, vol. 1 – Geografia e Cultura, de António Borges Coelho, 1989)
Recitado por Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul”, Concertante, 1999)
Outras versões: António Baeta de Oliveira / Eduardo Ramos (in CD “Andalusino”, InforArte, 1999); Eduardo Ramos (in CD “Cântico para Al-Mutamid”, Ed. de Autor, 2005)
Eu já fui à tua horta
Eu já fui à tua horta
Eu já fui teu hortelão
Já comi da tua fruta
Não sei s’outros comeram ou não
Já foste à minha horta
Mas eu nunca lá te vi
Já comeste da minha fruta
Só num vento que t’eu vi
‘Tás pr’aí de boca aberta
Cara de sardinha crua
Se esta casa fosse minha
Punha-te já no meio da rua
Letra e música: Popular (Algarve)
Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro
Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)
Faça “ai, ai”, meu menino
[ Embalo do Algarve ]
Faça “ai, ai”, meu menino,
Que a mãezinha logo vem!
Foi lavar os cueirinhos
À fontinha de Belém.
Vai-te embora, papá negro,
De cima desse telhado!
Deixa dormir o menino,
Está no sono descansado.
Embala, José, embala!
Embala suavemente,
Entretendo o inocente
Com esta cantiga em verso!
Dorme, dorme, meu menino,
Que a mãezinha logo vem!
Dorme, dorme, meu menino,
Que a mãezinha, ai, logo vem!
Letra e música: Tradicional (Alvor, Portimão, Algarve)
Recolha: Michel Giacometti (“Faça ‘ai, ai’, meu menino”, in LP “Algarve”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1962; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 5 – Algarve, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 6 – Algarve, col. Portugal Som, Numérica, 2008)
Intérprete: Segue-me à Capela*
Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Ir à bóia de Santana
[ Bóia de Sentença ]
Ir à bóia de Santana
Tinha a sentença rezada
Essa bóia da sentença
Que por mim foi baptizada
Quem me rezou a sentença
Foi o meu patrão ratado
Tem mesmo cara de fome
E tem o nariz furado
Medicamentos me pôs
Lá na caixa de farmácia
P’ra os senhores vou contar
Até lhe acham graça
Um pouco de algodão
E “eneivaquim” contada
Pôs umas gotas de álcool
De mercúrio não me deu nada
Lá parti para a viagem
P’ra Freetown, ir pescar
Ir à ilha das bananas
São muitas horas p’lo mar
Tudo pode acontecer
Pode vir bem ou vir mal
Pode a gente adoecer
Ou apanhar temporal
Quando os patrões se opuseram
Esses homens nem falaram
Lá foram para a sentença
Foram e nem piaram
Esses que vão p’ra a sentença
Vão porque são obrigados
Mas a mim não mandam eles
Comigo estão enganados
Tanto que eles diziam
E nada os via fazer
Essas palavras serviam
P’ra outros homens perder
Garganta de rouxinóis
Com olhinhos de aldrabões
Dentes de mentirosos
E boca de trapalhões
Garganta de rouxinóis
Com olhinhos de aldrabões
Dentes de mentirosos
E boca de trapalhões
Trapalhões, trapalhões,
Trapalhões, trapalhões,
Trapalhões, trapalhões…
Letra: Hermínio José Machado
Música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
“Leva, Leva!” (in LP “Algarve”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1962; “Portuguese Folk Music”: CD 5 – Algarve, Portugal Som/Strauss, 1998; “Música Regional Portuguesa”: CD 6 – Algarve, Portugal Som/Numérica, 2008)
Manelzinho
Manelzinho, ora você chora…
Você chora, alguém lhe deu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?
Tocam nos sinos no Porto
E o meu coração é teu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?
Manelzinho, ora você chora…
Você chora, alguém lhe deu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?
Anda lá para diante
Que eu atrás de ti não vou!
Não me pede o coração
Amar a quem me deixou.
Manelzinho, ora você chora…
Você chora, alguém lhe deu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?
Manelzinho, ora você chora…
Você chora, alguém lhe deu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?
Letra e música: Tradicional (Algarve)
Arranjo: Artesãos da Música
Intérprete: Artesãos da Música
Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)
Mestre Zé cantou um dia
[ Faz Cá Falta a Armação ]
Mestre Zé cantou um dia
Teu nome, Maria Faia
Pouca gente então sabia
Dos índios da Meia-Praia
Gente honrada e lutadora
Em Lagos, Luz e meia arraia
Também nós somos do Sul
Da Vila Santa Luzia
Já cá canta o Ti Saul
E a velha sabedoria
Faz cá falta a armação
O saveiro e o calão
Os velhos lobos do mar
Que agora ficam em terra
Mandou a Europa de lá
Abateram embarcações
Os senhores da nova guerra
Mandam mais, são os patrões
Em Espanha fazem-se ao mar
E nós parados a ver
Na lota manda o espanhol
Onde exerce o seu poder
Enfrentemos mar e sol
Mais vale quebrar que torcer
Se há fé de tudo mudar
Em cada volta do mundo
Se o sal da baixa-mar
É igual ao que há no fundo
Vamos de novo lutar
Com a força do deus Neptuno
Também nós somos do Sul
Da Vila Santa Luzia
Já cá canta o Ti Saul
E a velha sabedoria
Faz cá falta a armação
O saveiro e o calão
Letra: Nuno Manuel Faria
Música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Meu Algarve, cheio de luz
Meu Algarve, cheio de luz,
és o sol que me ilumina,
u ma estrela que reluz,
o amor que me domina.
És o meu sol branco e doirado
a tua luz me seduz,
paraíso inconquistado,
meu Algarve, minha luz.
És o sol que me ilumina,
minha flor, meu girassol,
a semente que germina,
meu Algarve, cheio de sol.
És uma estrela a brilhar
a minha constelação,
um jardim à beira-mar,
a minha flor em botão.
Letra: Maria José Fraqueza
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Meu Algarve das baladas
[ Corridinho, corridinho ]
Meu Algarve das baladas
Não és bem como te cantam
Mais que moiras encantadas
Tens moiras que nos encantam
Corridinho, corridinho
Antes que a morte apareça
Corridinho, corridinho
Vamos lá viver depressa.
Cava a terra, pisa o mosto
Puxa a rede e continua
A ‘balhar’ até dá gosto
O suor que a gente sua
Corre, pula, rodopia
Até manhanita, moça
Já alugámos o dia
Mas a noite é toda nossa.
Tia Anica da Fuzeta
Tia Anica de Loulé
Da barra da saia preta
Ou da caixa de rapé.
Fala, fala se és capaz
Cantorica, bailarica,
Que no céu não poderás
Já sem corpo, Tia Anica
Letra: Leonel Neves
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Meu Algarve encantador
I. Meu Algarve encantador,
P’ra o poeta e p’ra o pintor
Tens motivos de sobejo…
Até eu, se tivesse arte,
Queria ao mundo mostrar-te
Como te sinto e te vejo.
II. Meu Algarve encantador,
A parte da tua alegria,
Tens o encanto, a magia,
Das amendoeiras em flor.
III. Meu q’rido Algarve, em Janeiro,
Ao turista endinheirado,
Escondes o corpo ulcerado
No fatinho domingueiro.
IV. Só vêem flores os olhos
Desses ilustres senhores,
Mas no Algarve, os abrolhos
São muito mais do que as flores.
V. Mas quem, como eu, o conhece,
Sabe que ele, infelizmente,
Por dentro é muito diferente
Do que por fora parece.
(António Aleixo, in Este Livro Que Vos Deixo, 1969)
Milho verde, milho verde
Deu-me a mim muito trabalho
Milho verde, milho verde
Milho verde, maçaroca
À sombra do milho verde
Namorei uma cachopa
Namorei uma cachopa
Namorei um rapazinho
À sombra do milho verde
Milho verde, miudinho
Milho verde, milho verde
Milho verde, folha larga
À sombra do milho verde
Namorei uma fidalga
Namorei uma fidalga
Namorei o meu amor
Milho verde, milho verde
E à sombra não faz calor
Nem chove nem faz calor
Nem chove nem cai orvalho
E o amor para ser meu
Deu-me a mim muito trabalho
Letra e música: Popular (Algarve)
Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro
Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)
Não há noite mais alegre
Não há noite mais alegre
Que a noite de Natal
Onde nasceu Deus Menino
Antes do galo cantar
Deu o galo três cantadas
Deu o menino nascido
Bendito seja o ventre
Qu’o trouxe nove meses escondido
E a mula como era maldosa
Destapava-o com a ferradura
Mas o boi como era manso
Destapava-o com a armadura
Deus a bem disse ao aboio
Deus lhe deu a bênção
Toda a terra aqui milagre
Toda ela cheira a pão
Sejam altas, sejam baixas
Sejam nada as dê lição
Cada bago dê um moio
Cada moio dê um milhão
Letra e música: Popular (Algarve)
Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro; José Martins
Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado “, 2001)
No Garb realça o azul deuses morenos
As Hespérides são moças algarvias
No Garb realça o azul deuses morenos
À doçura dos figos submetidos.
Vieram gregos. Ficaram Sarracenos.
Nardos enfolham seus nomes esquecidos.
À noite ordenham luas nos terraços,
Dão leite à sombra. Abrolham os perfumes.
Silêncio. Só de um lírio ouvem-se os passos.
Madruga a pesca, rompe um mar de lumes.
Esvoaçam suas túnicas de abelhas
Entre vinhas, seus bêbados recintos;
E quando a amendoeira nas orelhas
Põe flores, deram-lhe os deuses esses brincos.
Vem de turbante o sol e toma posse
De corpos, cactos, milhos e vinhedos.
Excita o açúcar na batata-doce
E despe as almas gregas dos penedos.
Ouro firme, crepúsculos de cinabre
Senhorio de azul. Balcões mouriscos.
Ferve a prata na pesca. O cheiro abre
No ar quente uma vulva de mariscos.
Jardins da Hespéria? Ninfeu de ondas macias,
O mar. As ninfas guardam os pomares.
As Hespérides são moças algarvias
Todas jasmim, da testa aos calcanhares.
Garb de praia e pele magia e lendas,
Branco de extasiadas geometrias.
Absorto o tempo. São gregas as calendas
Com pálpebras de mouras gelosias.
Laranjas, cal, areia e rocha ardente
Têm sede da luz que dá mais vida.
Índigos deuses. Ardor. Tudo é presente.
Causa clara de beira-mar garrida.
Poema de Natália Correia (in “O Armistício”, 1985)
Recitado por Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Outra Versão: Carla Moreira / Trupe Barlaventina (in CD “O Perfume da Palavra”, Concertante, 1999)
No Palácio das Varandas
[ Do Palácio das Varandas ]
No Palácio das Varandas
namorei moiras de sonho
escrevi meus versos de luz.
De ruiva cor eram o trono
e o sangue que me sangraram
com espadas sombras de cruz.
Naveguei Arade abaixo
‘té ao azul que gritava
Valentias de aventura.
Em preparos de abalada
do abrigo da enseada
fiz-me ao sonho e à sepultura
trepei agruras de pedra
espojei-me em areias de seda
nadei águas de amargura
Levei os cheiros do monte
plantei estevas no horizonte
flori o mar e a lonjura.
Num tempo antigo de igreja
a santidade da inveja
impôs-se a golpes de espada,
neste sul, do sul sobeja
mais geometria das almas
do que agressões de cruzada.
O Guadiana é travesso
e faz caber num só verso
um povo de duas águas.
Em capital de canções
manda o baile de emoções
esta orgia de poetas.
A velha Garb se ufana
de em mistérios ser estranha
como convém aos profetas.
A velha Garb se ufana
de em mistérios ser estranha
como convém aos profetas.
Hoje o Garb é ribeirinho
e o montanheiro, sozinho
é velhice e sais de pedra.
Da beira-mar para o sol
há que acender o farol
do norte que aponta a serra.
Da beira-mar para o sol
há que acender o farol
do norte que aponta a serra.
Letra: Afonso Dias
Música: Alfredo Correeiro
Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Nome de Maria
Nome de Maria
Tão bonito é
Salva-me a minha alma
Que ela vossa é
Que ela vossa é
Sempre o há-de ser
Salva-me a minha alma
Quando eu morrer
Quando eu morrer
Quando eu acabar
Salva-me a minha alma
Para bom lugar
Para bom lugar
Para o Paraíso
Salva-me a minha alma
Dia do Juízo
Dia do Juízo
Para a eternidade
Salva-me a minha alma
Mãe da Piedade
Mãe da Piedade
Senhora das Dores
Salva-me a minha alma
Mãe dos pecadores
Mãe dos pecadores
Senhora da Luz
Salva-me a minha alma
Meu doce Jesus
Meu doce Jesus
Mãe do Nazareno
Salva-me a minha alma
Para sempre, Ámen.
E Jesus é meu
E eu quero ser vosso
Por isso lhe rezo
Este Pai-Nosso.
Popular – voz feminina (Monchique, Algarve)
Recolha de José Alberto Sardinha (1981) (in CD n.º 6 de “Portugal: Raízes Musicais”, JN/BMG, 1997)
Ó água que vais correndo
[ Verde-Gaio ]
Ó água que vais correndo
Mansamente vagarosa,
Passa pelo meu jardim,
Rega-me lá uma rosa!
Água da Fóia corre alta,
Por canais vai à cidade;
Eu não sou rica, mas tenho
Amores à minha vontade.
O ladrão do Verde-Gaio
Foi-se gabar à rainha
Que era dono do morgado
E nem sequer sapatos tinha.
E nem sequer sapatos tinha
Nem dinheiro para os comprar;
O ladrão do Verde-Gaio
Foi-me falso no amar.
Eu tenho à minha janela
O que tu não tens à tua:
Um vaso de violetas
Que perfuma toda a rua.
Bem sei que me andais mirando
Por debaixo do chapéu;
Se eu não sou do vosso gosto
Quem quer anjos vai ao céu.
O ladrão do Verde-Gaio
Foi-se gabar à rainha
Que era dono do morgado
E nem sequer sapatos tinha.
E nem sequer sapatos tinha
Nem dinheiro para os comprar;
O ladrão do Verde-Gaio
Foi-me falso no amar.
O ladrão do Verde-Gaio
Foi-se gabar à rainha
Que era dono do morgado
E nem sequer sapatos tinha.
E nem sequer sapatos tinha
Nem dinheiro para os comprar;
O ladrão do Verde-Gaio
Foi-me falso no amar.
Letra e música: Tradicional (Algarve)
Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
O Algarve é branco
O Algarve é branco, manchado
De espuma branca do mar
Quando o mar endiabrado
Anda com ela a brincar
O Algarve é branco
Nas belas chaminés tão rendilhadas
Das suas casas singelas
Todas de branco caiadas
O Algarve é branco nas praias
Quando as ondas, uma a uma
As vestem de brancas saias
Feitas de rendas de espuma
O Algarve é branco
Nas velas dos seus barcos navegando
Em mar azul, sem procelas
Que de branco o vão pintando
O Algarve é branco nos dias
Que as amendoeiras em flor
Lembram neve em terras frias
Tão semelhantes na cor
O Algarve é branco
À noitinha, quando a lua, ao despertar,
Enche a paisagem inteirinha
De luz branca de luar
O Algarve é branco
À noitinha, quando a lua, ao despertar,
Enche a paisagem inteirinha
De luz branca de luar
Letra: Elisa Maçanita
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Ó Maria, vem bailar
[ Bailarico Algarvio (Corridinho) ]
– Ó Maria, vem bailar o corridinho!
– Ó Manel, não me faltes ao respeito!
– Ó Maria, que as penas do teu peitinho…
E eu não sou Maneleto!
– Ó Maneleto, que eu já te tenho dito:
Cá comigo só se baila com preceito!
– Ó Maria, não sejas tão esquisita,
Que bailamos ao toque da concertina!
Raios me parta se há alguma mais bonita,
Ai que tem como tu a pele tão fina…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem!
Andas no ar como uma pena levezinha.
Só tenho pena que as penas que o peito tem,
Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem!
Andas no ar como uma pena levezinha.
Só tenho pena que as penas que o peito tem,
Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
– Ó Maria, vem bailar o corridinho!
– Ó Manel, não me faltes ao respeito!
– Ó Maria, que as penas do teu peitinho…
E eu não sou Maneleto!
– Ó Maneleto, que eu já te tenho dito:
Cá comigo só se baila com preceito!
– Ó Maria, não sejas tão esquisita,
Que bailamos ao toque da concertina!
Raios me parta se há alguma mais bonita,
Ai que tem como tu a pele tão fina…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem!
Andas no ar como uma pena levezinha.
Só tenho pena que as penas que o peito tem,
Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem!
Andas no ar como uma pena levezinha.
Só tenho pena que as penas que o peito tem,
Só tenho pena que as penas não sejam minhas…
Letra e música: Tradicional (Tavira, Algarve)
Recolha: Grupo Folclórico de Tavira
Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)
O Sol é que alegra o dia
[ Arquinhos ]
Cantiga:
O Sol é que alegra o dia
Pela manhã quando nasce;
Ai de nós o que seria
Se o Sol um dia faltasse!
Moças, façam arquinhos!
Moças, façam arcadas
P’ra passar o meu benzinho,
P’ra passar a minha amada!
P’ra passar a minha amada,
O meu benzinho,
Moças, arquinhos!
Moças, arcadas!
P’ra passar o meu benzinho,
A minha amada, |
Moças, arquinhos!
Moças, arcadas!
O meu benzinho…
A minha amada…
Arquinhos (dança de roda)
Letra e música: Tradicional (Ourique / Castro Verde, Alentejo)
Informantes: Grupo Coral e Etnográfico “As Papoilas do Corvo” (Aldeia do Corvo), Manuel Bento (Aldeia Nova) e Pedro Mestre (Sete)
Recolha: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 36-37)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Ó Sol, vibrante sol
[ O meu Algarve ]
Ó Sol, vibrante sol, do meu Algarve de oiro,
que fazes palpitar os peitos e os jardins
no mesmo grande amor, fecundo, imorredoiro,
que rebenta, na Vida, em olhos e jasmins:
ó Sol que pões no Céu um brilho violento
e fazes chamejar, ao longe, os horizontes,
que pões fogo no ar e pões brasas no vento
e que vais calcinar a epiderme aos montes,
adoro a tua luz vigorosa e sadia,
que modula no campo a música das cores,
que rega, em nossa alma, os cactos da Alegria
e esculpe nas sementes os bustos das flores.
Cai-me sobre o olhar: banha-me em teu fulgor,
ó Sol que pões no Céu um latejante azul:
Dá-me a tua alegria e dá-me o teu vigor,
ó Sol, imortal sol, do meu país do Sul…
Poema (excerto): João Lúcio (in “O Meu Algarve”, 1905)
Música: Pedro Guerreiro
Intérprete: Carla Moreira / Trupe Barlaventina (in CD ” Lendas do País do Sul “, Concertante, 1999)
Olá vizinha prenda o seu galo
Olá vizinha prenda o seu galo
Qu’a minha galinha ricócó
Quer namorá-lo
Quer namorá-lo
Eu não m’importa
Galo à janela ricócó
Galinha à porta
Cró, cró, cró
A galinha foi-se embora
E o galinho ficou só
Letra e música: Popular (Algarve)
Arranjo: Margarida Guerreiro; Teresa Muge
Vassouras: Eduarda Alves, Margarida Guerreiro, Teresa Colaço, Teresa Muge
Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)
Perguntei ao Sol
[ Ponta nova do Algarve ]
Perguntei ao Sol se viu
E à lua se conheceu,
Às estrelas se encontraram
Um amor que já foi meu.
Ponta nova do Algarve
Está feita numa romã,
Onde o meu amor passeia
Domingo pela manhã.
Domingo pela manhã
Na segunda-feira à tarde,
Está feita numa romã
Ponta nova do Algarve.
O meu amor é aquele
Que não me tira o chapéu,
Tem a porta para a rua
E o telhado para o céu.
Ponta nova do Algarve
Está feita numa romã,
Onde o meu amor passeia
Domingo pela manhã.
Domingo pela manhã
Na segunda-feira à tarde,
Está feita numa romã
Ponta nova do Algarve.
Letra e música: Popular (Algarve)
Recolha: José Alberto Sardinha (Castro Marim, 1994) (in CD n.º 6 de “Portugal – Raízes Musicais”, ed. JN/BMG, 1997)
Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Parainfernália”, Açor/Emiliano Toste, 2007)
Praia da Rocha
[ Fado de Portimão ]
Praia da Rocha, guitarra
Doirada que o mar dedilha
Ferragudo e a maravilha
Do castelo junto à barra
Mas quer chova ou faça sol
Quer o mar deixe ou não deixe
A cidade é um anzol
Portimão sonha com peixe
Como a foz do rio Arade
Como o cais de Portimão
Há-de haver tão lindos, há-de,
Mas mais lindos é que não.
Ah! Se o luar não vier
Às redes de Portimão
Luar de peixe a morrer
Antes do fim do Verão.
“Vá fome”
Diz Zé Fataça
Que outrora foi pescador
E é agora engraxador
Junto ao coreto da praça
Então a fome é verdade
E alguns vão buscar seu pão
A mil léguas do Arade
E do cais de Portimão.
Como a foz do rio Arade
Como o cais de Portimão
Há-de haver tão lindos, há-de,
Mas mais lindos é que não.
Letra: Leonel Neves
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Quatro horas da madrugada
[ Naufragou Valentina ]
Quatro horas da madrugada
Barcos p’rá pesca iam
Naufragou Valentina
Barco de Santa Luzia
Apelido Cavalo Raio
Que tanta fama deixou
À barra de Vila Real
Esse barco naufragou
Veio o vento de repente
Que nem um remate de bola
O barco que os salvou
Foi uma parelha espanhola
Aldemiro de Mateus
Seria o primeiro a faltar
Pela forte maresia
Arrebatado pelo mar
Manuel Milho e Joaquim
De suas mulheres se lembraram
Até que chegou a parelha
Que os naufragados salvava
Naufragou Valentina
Barco de Santa Luzia
O barco que os salvou
Barco de Punta Umbria
Para que fique na ideia
Esta grande e triste imagem
Se chegarem a naufragar
Nunca percam a coragem
Com toda a força gritava
Na maior aflição
O mestre fez desmerecer
A sua tripulação
Naufragou Valentina
Barco de Santa Luzia
O barco que os salvou
Barco de Punta Umbria
Naufragou Valentina
Barco de Santa Luzia
O barco que os salvou
Barco de Punta Umbria
Letra: Hermínio José Machado
Música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Quem vive nos ardis da ilusão
Quem vive nos ardis da ilusão
E, assim, vai fugindo do amigo
Poderá encontrar consolação?
Quando será que estarei
Livre de desdém tão fero
Cujos fortes esquadrões
Me dão guerra que eu não quero.
Juro pela luz altaneira
Que em suas tranças se divisa:
Não sou cobra traiçoeira
Das que mudam de camisa.
De negras madeixas
Amo uma gazela
Um sol é o seu rosto
E palmeira é ela
De ancas opulentas.
Há entre seus lábios
De néctar o gosto.
Ó sede, se intentas
Sua boca beijar
Não o vais lograr.
Ó sede, se intentas
Sua boca beijar.
No encanto não tem
Rival tal senhora,
E fora do sonho,
Quem bela assim fora?
Qual espadas seus olhos
Lhe brilham; e rosas
Lhe enfeitam a face
Na sombra vistosas
Mas se as vais olhar
As farás murchar.
Lhe enfeitam a face
Na sombra as rosas.
Dá paz ao ardor
De quem te deseja.
Contenta o amor
E faz dom de ti,
Vamos lá, sorri,
Quando a boca beija.
Me disse na hora:
“Pecar me refreia”
Respondi-lhe: “Ora!
Não é coisa feia.”
Me disse na hora:
“Pecar me refreia”
Uma vez era noite
De bem longa festa.
Eu adormeci
E ela acordou-me com esta:
“Teu sono vai longo,
Toca a levantar!”
Então me beijou
E eu pus-me a cantar:
“Fazem reviver
Teus lábios a arder!”.
Então me beijou
E eu pus-me a cantar.
Dá paz ao ardor
De quem te deseja.
Contenta o amor
E faz dom de ti,
Vamos lá, sorri,
Quando a boca beija.
Me disse na hora:
“Pecar me refreia”
Respondi-lhe: “Ora!
Não é coisa feia.”
Me disse na hora:
“Pecar me refreia”
Uma vez era noite
De bem longa festa.
Eu adormeci
E ela acordou-me com esta:
“Teu sono vai longo,
Toca a levantar!”
Então me beijou
E eu pus-me a cantar:
“Fazem reviver
Teus lábios a arder!”.
Então me beijou
E eu pus-me a cantar.
Poema (adaptado): Al-Mutamid (in “O Meu Coração é Árabe”, de Adalberto Alves)
Música: Eduardo Ramos
Intérprete: Eduardo Ramos (in CD “Andalusino”, InforArte, 1999; CD “Cântico para Al-Mutamid”, Ed. de Autor, 2005)
Rio Guadiana
Rio Guadiana, que vais p’ró mar
Correm-te as águas tão gentis
Em terra estranha…
Toma cuidado, olha que em Espanha
Criam-se as mágoas que me inquietam
Dum pesadelo…
Frescas manhãs em Abril
Onde andarão lembranças mil…
Clara Joana foi-se hoje embora
Deixa a saudade num portado
Ninguém a chora
A felicidade é coisa simples
Vai de barquinha rio abaixo
Nunca mais torna…
Frescas manhãs em Abril
Onde andarão lembranças mil…
Espelho da cara da nossa gente
Tira a confiança a quem te mente
Ai se te vejo no Alentejo
Sem laranjais, sem trigo d’oiro
És a fonte dos meus receios
Frescas manhãs em Abril
Onde andarão lembranças mil…
Letra e música: Vitorino
Intérprete: Vitorino (in “Flor de La Mar”, EMI-VC, 1983; reed. 1992)
Siga a roda, siga ela
[ Romance da Donzela Guerreira ]
(“Siga a roda, siga ela,
Que agora se vai contar
A história duma donzela
Que à guerra vai guerrear!”)
– As guerras se apregoaram
Entre França e Aragão:
Ai de mim que já sou velho,
Sem ter um filho varão!…
Sem ter um filho varão!…
Responde a filha mais moça
Com toda a resolução:
– Venham armas e cavalos
Que eu serei filho varão. –
(“A roda sempre a girar,
Que a história vai começar!”)
– Tendes as tranças compridas,
Filha, conhecer-vos-ão.
– Venham pentes e tesouras,
Vê-las-eis cair no chão!
Vê-las-eis cair no chão!
– Tendes os olhos garridos,
Filha, conhecer-vos-ão.
– Quando passar pela armada
Porei os olhos no chão!
(“Vai rodando sem parar,
Que o baile está a animar!”)
– Tendes peitos muito altos,
Filha, conhecer-vos-ão.
– Venham fardas apertadas,
Que eles logo abaixarão!
Que eles logo abaixarão!
– Tendes as mãos muito finas,
Filha, conhecer-vos-ão.
– Venham já guantes de ferro,
De lá nunca sairão!
(“A donzela triunfou
E prá guerra caminhou!
Logo o capitão da armada
Dos seus olhos se encantou…
E julgando-a disfarçada,
Em casa se aconselhou.”)
– Convidai-o vós, meu filho,
Para convosco dormir;
Que se ele for mulher,
Não se há-de querer despir.
– Linda cama pra mulher,
Mas ai, quem a fora convidar…
Mas dois homens numa cama?
Quem os mandará açoitar!
(“Sem mais nada descobrir,
Torna ele a insistir.”)
– Convidai-o vós, meu filho,
Para ir ao rio nadar;
Que se ele for mulher,
Logo se há-de acobardar.
– Águas doces são pra damas,
Mas ai, quem as fora convidar…
Porém, não servem pra homens
Senão as águas do mar!
(“Roda agora c’o seu par,
Que a história vai terminar!”)
Monta, monta, cavaleiro,
Se me queres acompanhar;
Se quereis ser o meu marido,
Minha mão te quero dar!
Minha mão te quero dar!
Sete anos andei na guerra
Mas ai, E fiz de filho varão;
Ninguém me conheceu nunca
Senão o meu capitão:
Conheceu-me pelos olhos,
Que por outra coisa não!
Letra: Tradicional
Música: Vítor Reino
Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002)
Outras versões: Amélia Muge – Donzela Guerreira (in CD “Novas Vos Trago”, Tradisom, 1998); José Barros e Navegante – “Donzela que vai à guerra” (in CD “Rimances”, JBN, 2001)
Tem o poial de um vizinho
[ Toada de Aljezur ]
Tem o poial de um vizinho
o telhado de outro ao fundo:
entre eles passa um caminho
de ambos e de todo o mundo.
Topo das casas-escadas:
Castelo, quem lá te pôs?
Cobres moiras encantadas,
descobres várzeas de arroz.
Sonhar rosas, pedir cravos
bom é que aos pobres se oiça…
Que os corpos sejam escravos,
as almas são outra loiça!
Que os corpos sejam escravos,
as almas são outra loiça!
Sonhar rosas, pedir cravos
bom é que aos pobres se oiça…
Eis a capital da Serra
do Espinhaço de Cão!
Mato com nódoas de terra,
muita pedra, pouco pão.
Mato com nódoas de terra,
muita pedra, pouco pão.
Eis a capital da Serra
do Espinhaço de Cão!
Vila de Aljezur,
arrasada sejas
de cravos e rosas
até às igrejas!
(Se nada valem os montes
que o concelho anda a lavrar,
talvez venda os horizontes
que tem à beira do mar…)
(Talvez venda os horizontes
que tem à beira do mar…
Se nada valem os montes
que o concelho anda a lavrar.)
Vila de Aljezur,
arrasada sejas
de cravos e rosas
até às igrejas!
Que faz tanta casa junta
subindo uma encosta louca?
Diz talvez que a gente é muita,
diz talvez que a terra é pouca.
Diz talvez que a gente é muita,
diz talvez que a terra é pouca.
Que faz tanta casa junta
subindo uma encosta louca?
Vila de Aljezur,
arrasada sejas
de cravos e rosas
até às igrejas!
Letra: Leonel Neves
Música: Afonso Dias
Intérprete: Afonso Dias com Tânia Silva (in CD “O Mar ao Fundo”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2015)
Vai, minha lanchinha à vela
[ Lanchinha à Vela ]
Vai, minha lanchinha à vela
Lá longe o horizonte
Vejo nuvens de esperança
Notícias de Levante
Se o mar a mim me engana
Tormentas, tempestades
Vai, minha lanchinha à vela
Antes que seja tarde
Trago cheiro a maresia
Gengibre e fruta sã
Levo a brisa pela proa
Rainha, minha romã
Vai, minha lanchinha à vela
Que a noite não tem fim
Vai buscar a chama eterna
Canela e alecrim
Vai, minha lanchinha, vai
Por mares e marés
Vai em busca de bonança
Mostrar quem tu és
Vai, minha lanchinha à vela
Lá longe o horizonte
Vejo nuvens de esperança
Notícias de Levante [3x]
Letra e música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)
Vê-se ranchos de raparigas
[ Al Algarve ]
Vê-se ranchos de raparigas
a desfolhar uma rosa,
cantando lindas cantigas,
formando bailes de roda.
Refrão:
Ai, Algarve, tens amendoeiras floridas!
Ai, Algarve, tens o nome da canção!
Ai, Algarve, tens tão lindas raparigas!
Ai, Algarve, tens tão lindo Portimão!
Envolvidas na canção
fazem arraiais de feira,
gritam “viva Portimão”,
viva a flor da amendoeira.
Envolvida nas cantigas
só eu ficarei no pó
que as amendoeiras despidas
causam pena, metem dó.
Letra: Anónimo
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)
Vimos dar as Boas Festas
Vimos dar as Boas Festas,
Já que Deus as nos deixou:
É nascido o Deus-Menino,
De manhã se baptizou.
Depois dele baptizado
Nesse tão humano dia,
Para a Glória foi levado
Com prazer e alegria.
Letra e música: Popular (Algarve / Estremadura)
Recolha: José Alberto Sardinha
Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002)