O poemário do cancioneiro português (incluindo fado, música tradicional e ligeira) pretende fomentar o gosto da poesia como parceira da música e a divulgação dos poetas cuja importância nem sempre é justamente reconhecida. Fontes: Blogue A Nossa Rádio, Álvaro José Ferreira.

Canções de flores

Letras

De fragâncias feiticeiras

[ Canção perfumada ]

[ Manjerico: ]

De fragrâncias feiticeiras,
este aroma que há em mim
é p’ra carícias ligeiras,
para dedos de cetim.

Manjerico – eu sou assim,
eu sou flor que se não cheira,
mas perfuma a noite inteira;
Sou mais doce que o jasmim.

Dá-me um afago de mão
e depois acaricia
quem mais queiras, e confia
que eu lhe aqueço o coração.

[ Jasmim: ]

Não sei se vivo se é sonho,
tem brilho doce de estrela,
tem luz e cor e eu componho
a minh’alma só por ela.

Algo entre brisa e perfume
passa tão perto de mim:
é coisa entre flor e lume,
um improvável jasmim.

Não sei se vivo se é sonho,
tem brilho doce de estrela,
tem luz e cor e eu componho
a minh’alma só por ela.

Algo entre brisa e perfume
passa tão perto de mim:
é coisa entre flor e lume,
um improvável jasmim.

Letra: Afonso Dias (“Manjerico”) e Maria da Conceição Silveira (“Jasmim”)
Música: Afonso Dias
Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)

De rosa branca ao peito

[ Rosa Branca ]

De Rosa ao peito na roda
Eu bailei com quem calhou
Tantas voltas dei bailando
Que a rosa se desfolhou

Quem tem, quem tem
Amor a seu jeito
Colha a rosa branca
Ponha a rosa ao peito

Ó roseira, roseirinha
Roseira do meu jardim
Se de rosas gostas tanto
Porque não gostas de mim?

Autores: José de Jesus Guimarães/Resende Dias
Intérprete: Mariza

Dizer-te namorada

[ Teu Nome Simplesmente ]

Dizer-te namorada será pouco,
Chamar-te companheira não me basta;
Quisera dar-te um nome bem mais louco
Porque a palavra amante já está gasta.

Teu nome é um sorriso na manhã,
Uma rima de sol na minha mão,
Que sabe a Primavera e a romã
Com travo de hortelã e de limão.

Quisera amor-perfeito, minha amiga,
Chamar-te verde nome: Alecrim!
Mas tu, além de flor, és a cantiga
No chão deste poema que há em mim.

Assim eu gasto os dias à procura
De um nome que não seja feito à toa,
E com palavras gastas de ternura
Chamo-te, simplesmente, só Lisboa!

Letra: Mário Rainho
Música: José Fontes Rocha
Intérprete: Joana Amendoeira (in CD “Amor Mais Perfeito: Tributo a José Fontes Rocha”, CNM, 2012)
Versão original: Maria Armanda (in LP/CD “Simplesmente”, Discossete, 1991)

Maria Armanda, Simplesmente
Maria Armanda, Simplesmente

Dó-me ser a flor do cardo

[ Flor do Cardo ]

Dói-me ser a flor do cardo,
Não ter a mão de ninguém;
Tenho a estranha natureza
De florir com a tristeza
E com ela me dar bem.

Dói-me o Tejo e dói-me a Lua,
Dói-me a luz dessa aguarela;
Tudo o que foi criação
Se transforma em solidão
Visto da minha janela.

O tempo não me diz nada,
Já nada em mim se consome;
Não sou princípio nem fim,
Já nada chama por mim,
Até me dói o meu nome.

Dói-me ser a flor do cardo,
Não ter a mão de ninguém;
Hei-de ser cravo encarnado
Que vive em pé separado
E acaba na mão de alguém.

Letra: João Monge
Música: Joaquim Campos (Fado Tango)
Intérprete: Aldina Duarte (in CD “Crua”, EMI Music Portugal, 2006)

Eu vi a buganvília

[ Buganvília ]

Eu vi a buganvília a dançar na ventania
a trepar numa janela
Eu vi a buganvília entre o acender da lua
e o encanto da manhã

Eu vi a buganvília de noite junto ao lago
a molhar o seu sorriso
Sonhara que morrera nos ramos da buganvília
nos tons do seu vestido

Eu vi a buganvília a fazer do teu vermelho
um bordado marinheiro
Quando encontras o sol no branco da cal
te pões de amarelo

Quando encontras o sol no branco da cal…

Eu vi a buganvília a dançar na ventania
a trepar numa janela
Eu vi a buganvília entre o acender da lua
e o encanto da manhã

Eu vi a buganvília de noite junto ao lago
a molhar o seu sorriso
Sonhara que morrera nos ramos da buganvília
nos tons do seu vestido

Eu vi a buganvília a fazer do teu vermelho
um bordado marinheiro
Quando encontras o sol no branco da cal
te pões de amarelo

Eu vi a buganvília a dançar na ventania
a trepar numa janela
Eu vi a buganvília entre o acender da lua
e o encanto da manhã

Letra e música: João Afonso Lima
Intérprete: João Afonso com Mafalda Serrano (in CD “Missangas”, Mercury/Polygram, 1997, reed. Universal Music, 2017)

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e a qualidade de vida dos idosos.

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

Muito bem parece

[Moda:]

Muito bem parece
Raminho de flores
Gravado no peito,
Gravado no peito
Dos trabalhadores.

Dos trabalhadores,
Dos oficiais…
No meu lindo amor,
No meu lindo amor
Inda brilha mais.

[Cantiga:]

Algum dia eu era,
Agora já não,
Da tua roseira,
Da tua roseira
O melhor botão.

[Moda:]

Muito bem parece
Raminho de flores
Gravado no peito,
Gravado no peito
Dos trabalhadores.

Dos trabalhadores,
Dos oficiais…
No meu lindo amor,
No meu lindo amor
Inda brilha mais.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Na mesma campa nasceram

[ Lenda das Rosas ]

Na mesma campa nasceram
Duas roseiras a par;
Conforme o vento as movia,
Iam-se as rosas beijar.

Deu uma rosas vermelhas,
Desse vermelho que os sábios
Dizem ser a cor dos lábios
Onde o amor põe centelhas;
Da outra, gentis parelhas
De rosas brancas vieram;
Só nisso diferentes eram,
Nada mais as diferençou:
A mesma seiva as criou,
Na mesma campa nasceram.

Dizem contos magoados
Que aquele triste coval
Fora leito nupcial
De dois jovens namorados,
Que no amor contrariados
Ali se foram finar,
E continuaram a amar
Lá no Além, todavia:
E por isso ali havia
Duas roseiras a par.

A lenda simples, singela,
Conta mais: que as rosas brancas
Eram as mãos puras, francas,
Da desditosa donzela;
E ao querer beijar as mãos dela,
Como na vida o fazia,
A boca dele se abria
Em rosas de rubra cor
E segredavam o amor,
Conforme o vento as movia.

Quando as crianças passavam
Junto à linda sepultura,
Toda a gente afirma e jura
Que as rosas brancas coravam
E as vermelhas se fechavam
Para ninguém lhes tocar;
Mas que, alta noite, ao luar,
Entre um séquito de goivos,
Tal qual os lábios dos noivos,
Iam-se as rosas beijar.

Letra: João Linhares Barbosa
Música: Popular e Maria Teresa de Noronha (Fado da Horas)
Arranjo: José Pracana
Intérprete: José Pracana (in EP “Lenda das Rosas”, Parlophone/VC, 1972; 2CD “Biografia do Fado”: CD 2, EMI-VC, 1994)

Sete dias da semana

Sete dias da semana
Vou mandá-los dividir
Com cantigas de amor,
Menina, se queres ouvir.

A segunda é pelo trevo
Que nasce pelo chão
Também o meu amor nasce
Da raiz do coração.

A terça-feira é pela rosa
Que nasce na Primavera
Desejava eu saber
A tua intenção qual era.

Quarta-feira é pela água
Que rega a bela verdura
Também rega esses teus olhos
Que têm tanta formosura.

Quinta-feira é pela perpétua
Que dá flor excelente
Falo bem ao meu amor
Às vezes também me mente.

Sexta é pelo alecrim
Carregadinho de flor
Dentro do meu coração
Não existe outro amor.

Sábado é pelo cravo
Que dá flor encarnada
Eu só queria um beijinho
E não queria mais nada.

Tradicional da Madeira, com adaptações

Rosa
Rosa

Canções de Natal

Letras

Cebolas, semilhas

[ Romagem da Missa do Galo ]

Cebolas, semilhas,
Também batatinhas,
Pimentas e alhos,
Galinhas e galos,
Ovos e trigo,
Laranjas, cuscuz…
Tudo aqui trazemos.
Desculpa, Jesus!

Ó meu Menino Jesus,
Desculpa ser poucochinho:
O carro não leva mais,
O ‘chaufer’ é pequenino!

Quem nasceu na manjedoura
Foi o Menino Jesus!
Eu p’ra o ano, se for viva,
Trago um prato de cuscuz.

Cebolas, semilhas,
Também batatinhas,
Pimentas e alhos,
Galinhas e galos,
Ovos e trigo,
Laranjas, cuscuz…
Tudo aqui trazemos.
Desculpa, Jesus!

Cebolas, semilhas,
Também batatinhas,
Pimentas e alhos,
Galinhas e galos,
Ovos e trigo,
Laranjas, cuscuz…
Tudo aqui trazemos.
Desculpa, Jesus!

Ó meu Menino Jesus,
Que nasceu num curralinho,
Aqui trago esta lembrança
Que comprei ao meu vizinho.

Do bairrinho da Lombada
Só vem este comerzinho…
Mas é de boa vontade
Que ofer’cemos ao Menino.

Cebolas, semilhas,
Também batatinhas,
Pimentas e alhos,
Galinhas e galos,
Ovos e trigo,
Laranjas, cuscuz…
Tudo aqui trazemos.
Desculpa, Jesus!

Letra (quadras populares): Tradicional (Ponta Delgada, São Vicente, Madeira)
Recolha: Horácio Bento de Gouveia
Música: Tradicional (Calheta, Madeira)
Recolha: João Arnaldo Rufino da Silva
Adaptação: Xarabanda (2001)
Intérprete: Xarabanda (in CD “Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense”, Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002)

Da Serra Veio um Pastor

Da serra veio um pastor,
À minha porta bateu;
Trouxe uma carta que diz
Que o Deus-Menino nasceu.

Essa notícia tivemos
À meia-noite seria;
Por isso, nós vamos dar
Os parabéns a Maria.

Também diz a tal cartinha
Que a Virgem estava a chorar,
Por não ter uma roupinha
Com que o pudesse abafar.

A carta diz que Ele está
Nas campinas de Belém,
Numa caminha de palhas,
Sozinho sem mais ninguém.

Essa notícia tivemos
Logo que cantou o galo,
E deixámos nossos campos
Para virmos adorá-Lo.

Ó meu Menino Jesus,
Meu lindo amor-perfeito,
Se Vós tendes frio, vinde,
Vinde parar ao meu peito!

Nos braços da Bela Aurora
Vejo o Menino brincando,
Com a mãozinha de fora
Todo o mundo abençoando.

Letra e música: Tradicional (Boaventura, São Vicente, Madeira)
Recolha: Xarabanda (1988)
Intérprete: Xarabanda (in CD “Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense”, Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002)

Deus do Céu mandou-me aqui

[ Anunciação do Anjo (aos Pastores) ]

Deus do Céu mandou-me aqui
Anunciar aos pastores
Que em Belém nasceu Jesus:
Vinde cantar seus louvores!

Participo a vós, pastores,
A maior das alegrias:
Que ali mesmo, em Belém,
Já é nascido o Messias!

Que será, o que será?
Ora pois, que há-de ser?
É por certo o Deus-Menino
Que acaba de nascer.

Despontou a vossa esperança,
Despontou a vossa luz,
Acabaram vossas queixas:
Entre nós está Jesus!

P’ra conhecer o Menino
Eu vou dar-vos uns sinais:
Está deitado num presépio
Encostado aos animais.

Que será, o que será?
Ora pois, que há-de ser?
É, por certo, o Deus-Menino
Que acaba de nascer.

Ele estará deitadinho
Nas palhinhas de um curral,
Embrulhado em paninhos:
Tudo isto é o sinal.

Agora vou p’ra Belém
Adorar o nosso Deus…
Correi todos, ide vê-lo!
Até logo, adeus, adeus!

Que será, o que será?
Ora pois, que há-de ser?
É, por certo, o Deus-Menino
Que acaba de nascer.

Letra e música: Tradicional (Cabeço da Oliveira, Ponta Delgada, São Vicente, Madeira)
Informante: Eulália de Freitas
Recolha: Xarabanda (1996)
Intérprete: Xarabanda (in CD “Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense”, Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002)

Entre as portas de Belém

[ Cante ao Menino ]

Entre as portas da Belém
Está uma mulher cosendo;
Está fazendo as camisinhas
P’ró Deus-Menino em nascendo.

O Deus-Menino nasceu
Numa noite de Natal,
Ali junto à meia-noite
Antes do galo cantar.

Letra e música: Popular (Baixo Alentejo)
Intérprete: Rancho Coral e Etnográfico de Vila Nova de São Bento (in livro/CD “Cante ao Menino, janeiras, Reis do Concelho de Serpa”, Confraria do Cante Alentejano, 2019)

Meia-Noite Dada

Meia-noite dada,
Meia-noite em pino,
Cantavam os galos,
Nascia o Menino.

Meia-noite dada,
Meia-noite em pino,
Cantavam os galos,
Chorava o Menino.

Chorava o Menino,
Como um enjeitado
Em lapa da serra,
Não num povoado.

A Virgem Lhe disse
Com mui grande dor:
«Calai-vos, meu Filho
Jesus, meu Amor…

Que não tenho berço!
E quem T’o faria?
Dormi Vós no feno
Desta estrebaria!»

Menino tão rico,
Que tão pobre estais
Deitado no feno
Entre os animais!

Os filhos dos homens,
Em berço doirado…
E Vós, meu Menino,
Em palhas deitado!

Em palhas deitado,
Tão pobre, esquecido…
Filho de uma rosa,
De um cravo nascido.

Letra e música: Tradicional (Câmara de Lobos, Madeira) (in livro “cânticos Religiosos do Natal Madeirense”, de João Arnaldo Rufino da Silva, Direcção-Regional dos Assuntos Culturais, 1998)
Intérprete: Xarabanda (in CD “Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense”, Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002)

Menino Jesus

[ Ó Viva Jesus! ]

Menino Jesus,
Dizei à mamã
Que mate o porquinho,
Que a Festa já vem!

E o que levaremos 
Para Lhe of’recer?
Bolinhos do caco
E mel para comer.

Ó viva Jesus,
José e Maria!
Ora viva, viva
A nossa romaria!

Menino tão rico,
Tão pobre que estás
Deitado nas palhas
Entre os animais!

E olhai para Ele:
A graça que tem!
Tanto se parece
Com a sua Mãe!

Ó viva Jesus,
José e Maria!
Ora viva, viva
A nossa romaria!

Maria e José
Com Ele lá estão:
Aquilo é que é
Uma satisfação!

Meu rico Menino,
Meu amor profundo,
Dê-nos bom Natal
E a paz no mundo!

Ó viva Jesus,
José e Maria!
Ora viva, viva
A nossa romaria!

Letra e música: Tradicional (Paul do Mar, Calheta, Madeira)
Informante: Maria Lucília Abreu Gouveia
Recolha: Xarabanda (1982)
Intérprete: Xarabanda (in CD “Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense”, Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002)

Ó meu Menino Jesus

Ó meu Menino Jesus
Dizei-me que Noite é esta.
Hoje é Noite de Natal
E amanhã Dia de Festa.
I
Tocam os sinos em Belém
Vamos todos a correr
Vamos ver o Deus Menino
Que acabou de nascer.
II
Entrai pastorinhos,
Por este portão sagrado,
Vamos ver o Deus Menino
Que está numas palhinhas deitado.
III
Menino Jesus
Ditoso é quem vos ama.
Quem toma amor com Jesus
Não dorme amanhã na cama.

I
Nossa Senhora faz meias,
Com linha feita de luz,
O novelo é lua cheia,
As meias são para Jesus.
II
As meias são para Jesus,
A linha é feita do alto.
Para quem fazia ela as meias
Se Cristo anda descalço?
III
Não chores mais Meu Menino
Que a mãezinha logo vem
Foi lavar os cueirinhos
À fontinha de Belém.114

I
Ó Meu Menino Jesus
Que é dos vossos sapatinhos?
Esqueci-me na ribeira
Onde lavei os pezinhos.
II
Correi pastorinhos
Vamos a Belém
Beijar o Menino
Que a Virgem tem.

Oh! Duas falas deu Maria

[ Oração ao Menino Jesus ]

Oh! Duas falas deu Maria,
Meu Menino Jesus,
Quando nasceu Menino:
«Oh! Vem-te cá, meu bago d’oiro,
Meu Menino Jesus,
Meu sacramento divino!»

Oh! Cantigas cantavam-me já,
Meu Menino Jesus,
Quando embalava Jesus:
«Calai-Vos, meu filho, não chores,
Meu Menino Jesus,
Que haverás de morrer na cruz!»

Oh! Menino, vamos ao Céu,
Meu Menino Jesus,
Numa escadinha de prata!
Oh! Visitai Jesus Menino,
Meu Menino Jesus,
Menino Jesus da lapa!

Oh! Menino, vamos ao Céu,
Meu Menino Jesus,
Numa escadinha de oiro!
O Vosso poder é tão grande,
Meu Menino Jesus,
Governai o mundo todo!

Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!
Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!
Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!
Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!
Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!

Letra e música: Tradicional (Ribeira Seca, Machico, Madeira)
Informantes: Maria José Ferreira Clemente, Cristina Ferreira Clemente, Serafina Ferreira Clemente, Rosa Marques
Recolha: António Aragão e Artur Andrade (1970)
Arquivo: DRAC (Direcção-Regional dos Assuntos Culturais)
Intérprete: Xarabanda (in CD “Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense”, Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002)

Reciclanda

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O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.

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Pastorinhos do Deserto

Pastorinhos do deserto,
Correi todos a Belém
Adorar o Deus-Menino
Nos braços da Virgem mãe!

Os anjos primeiro pegam
No Menino Deus nascido:
Não deixais cair no chão
Em seus braços entretido!

Depois a Virgem Maria
Nos seus braços o recebe;
Como mãe, lhe beija a face
Mais alva que a pura neve!

Foste nascer numa gruta,
Ó grande Rei das nações!…
Vinde derreter a frieza
Dos nossos duros corações!

Estas águas cristalinas
Vão direitas parar ao mar…
Vou lavar as minhas mãos
Para no Menino pegar.

Letra e música: Tradicional (Ribeira Seca, Machico, Madeira)
Informantes: Maria José Ferreira Clemente, Cristina Ferreira Clemente, Serafina Ferreira Clemente e Rosa Marques
Recolha: António Aragão e Artur Andrade (1970)
Arquivo: DRAC (Direcção-Regional dos Assuntos Culturais)
Intérprete: Xarabanda (in CD “Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense”, Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002)

Vinde já

I
Vinde já, meu Deus Menino,
Nascer no meu coração,
Tomai dele inteira posse,
Tomai-o na vossa mão.
II
Meia noite já é dada
Prazer santo respiremos
Em honra ao Filho da Virgem
Alegres hinos cantemos.
III
Do varão nasceu a vara
Da vara nasceu a flor,
Da flor nasceu Maria,
De Maria o Redentor.
IV
Pastorinhos do deserto
Correi todos, ide ver
A pobreza da lapinha
Onde Cristo quis nascer.

Tradicional da Madeira

Searinhas da Festa
Searinhas da Festa, Natal na Madeira

Canções a São Martinho

Letras de canções sobre a festa, sobre o magustos e as castanhas

Asso a castanha

Asso a castanha
no meu fogareiro.
E quem é que a ganha?
É quem tiver dinheiro.

Tiro a castanha
do meu fogareiro.
E quem é que a ganha?
Quem for um bom parceiro.

(António José Ferreira, Outono Encantado)

Caem castanhas

Caem castanhas
do castanheiro antigo.
Quero partilhá-las
com o melhor amigo.

Caem castanhas,
dezenas e centenas.
Há castanhas grandes,
há médias, há pequenas.

(António José Ferreira, Musatividades)

Cai a castanha

Cai a castanha
do velho castanheiro.
E quem é que a ganha?
É quem chegar primeiro!

Cai a castanha
No campo de erva verde.
Castanha escondida,
Castanha que se perde.

(António José Ferreira, Musatividades 3)

Reciclanda

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O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

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Cai a castanha,
é de quem a apanha;
cai a castanhinha,
talvez seja minha.

É castanha crua,
deve ser a tua;
esta é bem assada,
para a minha amada.

Esta é cozida,
é boa comida;
se é bem descascada,
não restará nada.

(António José Ferreira, O Ritmo e a Rima)

Castanhas, castanhas

Castanhas, castanhas,
Assadinhas com sal,
Quentinhas, quentinhas,
Que não te façam mal!

Saltitam, crepitam,
Toma lá e dá cá.
S. Martinho sem vinho,
Castanhas não há.

Chega o outono

Chega o outono,
a castanha é rainha.
Uma será tua,
a outra será minha.

Caem castanhas
do castanheiro antigo.
Quero partilhá-las
com o melhor amigo.

(António José Ferreira, Musatividades 1)

Descasca a castanha

Descasca a castanha
muito bem descascadinha.
Verás que, dentro da casca,
há outra casca castanha clarinha.

(Destrava a Língua)

No Verão de São Martinho

No Verão de São Martinho
todos gostam de saltar
e as castanhas, na fogueira,
também ficam a pular.

Uma vez, o São Martinho,
viajava a cavalo.
Encontrou um sem abrigo
e quis logo ajudá-lo.

São Martinho deu a capa
àquele pobre mendigo
e o sol fez um milagre
porque também é amigo.

(António José Ferreira, Música e Cidadania)

Pelo S. Martinho

Pelo S. Martinho
Eu faço um magusto.
Estalam castanhas
Mas eu não me assusto.

Ai vamos assar castanhas
Que é dia de S. Martinho;
Castanhas quentes e boas
Ai, eu te dou com carinho!

Pelo S. Martinho
Que ando a fazer?
Assando o bacalhau
Para se comer!

São Martinho de Tours

São Martinho de Tours

S. Martinho indo nos montes

S. Martinho indo nos montes…
A cavalgar encontrou um pobre
Que lhe pediu uma esmola.
Como ele não tinha nada para lhe dar
Cortou a capa para o abafar.

Que dia de Outono tão belo!
É dia de S. Martinho.
Comemos bacalhau e castanhas
E tomamos uns copinhos de vinho.

Castanheiro dá castanhas
Menina, parta os ouriços!
Se adoecer
Não diga que são feitiços.

Ó meu rico São Martinho

Ó meu rico São Martinho
Ó meu adorado santo
Dá-me castanhas e vinho
É coisa que eu gosto tanto.

És padroeiro do meu pai
Serás sempre também meu
Quando a pipa a meio vai
Eu já espero um milagre teu.

São Martinho milagroso
São Martinho da alegria
Todos vivem ansiosos
Esperam pelo seu dia.

Foi São Martinho
Que trinta pipas encheu
Com um só cacho
E ainda bagos cresceu.

[ Tradicional da Madeira ]

Canções de trabalho

Letras

A azeitona por ser preta

A azeitona por ser preta
Ai, vai-se a moer ao lagar;
Também eu por ser trigueira
Ai, na terra me hei-de eu casar.

A oliveira pequenina
Ai, que azeitona pode dar?
Um baguinho, até dois
Ai, até muito carregar.

Nós andamos na vindima,
Ai, que lindos cachos que saem!
Havemos de pendurá-los,
Ai, todo o tempo sabem bem.

A azeitona por ser preta
Ai, vai-se a moer ao lagar;
Também eu por ser trigueira
Ai, na terra me hei-de eu casar.

A oliveira pequenina
Ai, que azeitona pode dar?
Um baguinho, até dois
Ai, até muito carregar.

Nós andamos na vindima,
Ai, que lindos cachos que saem!
Havemos de pendurá-los,
Ai, todo o tempo sabem bem.

Letra e música: Tradicional (Outeiro, Sertã, Beira Baixa)
Recolha: Armando Leça (1939-40)
Intérprete: Ai! (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015)

Ramo de oliveira
Ramo de oliveira

De mão na anca

[ Fado Varina ]

De mão na anca,
descompõem a freguesa:
atrás da banca,
chamam-lhe gosma e burguesa.
Mas nessa voz,
como insulto à portuguesa,
há o sal de todos nós,
há ternura e há beleza.
Do alto mar
chega o pregão que se alastra:
têm ondas no andar
quando embalam a canastra.

Minha varina,
que chinelas por Lisboa!
Em cada esquina
é o mar que se apregoa.
Nas escadinhas
dás mais cor aos azulejos,
quando apregoas sardinhas
que me sabem como beijos.
Os teus pregões
são iguais à claridade:
caldeirada de canções
que se entorna na cidade.

Os teus pregões
são iguais à claridade:
caldeirada de canções
que se entorna na cidade.

Cordões ao peito,
numa luta que é honrada;
a sogra a jeito
na cabeça levantada.
De perna nua,
com provocante altivez,
descobrindo o mar da rua
que esse, sim, é português.
São as varinas
dos poemas do Cesário
a vender a ferramenta
de que o mar é o operário.

Minha varina,
que chinelas por Lisboa!
Em cada esquina
é o mar que se apregoa.
Nas escadinhas
dás mais cor aos azulejos,
quando apregoas sardinhas
que me sabem como beijos.
Os teus pregões
nunca mais ganham idade:
versos frescos de Camões
com salada de saudade.

Os teus pregões
nunca mais ganham idade:
versos frescos de Camões
com salada de saudade.

Letra: José Carlos Ary dos Santos
Música: Mário Moniz Pereira
Intérprete: Carlos do Carmo* (in LP “Um Homem na Cidade”, Trova/Movieplay Portuguesa, 1977, reed. Fatum/UPAV, 1991, Philips/Polygram, 1995, Série “Carlos do Carmo 50 Anos”, Vol. 06, Universal Music Portugal, 2013; 2CD/DVD “Fado Maestro”: CD 2, Universal Music Portugal, 2008; 10 livro/CD “100 Canções, Uma Vida”: CD 2 – “Lisboa”, Universal Music Portugal/Público, 2010)

Dezembro

[ O Cavador ]

Dezembro, noite, canta o galo…
Rouco na treva canta o galo…
Aldeão não durmas!… Vai chamá-lo,
Miséria negra, vai chamá-lo!…
— Oh, dor! oh, dor! oh, dor! —
Bate-lhe à porta, é teu vassalo,
Que traga a enxada, é teu vassalo,
Fantasma negro, o cavador!

Vem roxa a estrela d’alvorada…
Vem morta a estrela d’alvorada —
Montanhas nuas sob a geada!…
Hirtas, de bronze, sob a geada!…
— Oh, dor! oh, dor! oh, dor! —
Torvo, inclinado sobre a enxada,
Rasga as montanhas com a enxada,
Fantasma negro, o cavador!

Cavou, cavou desde que é dia…
Cavou, cavou… Bateu meio-dia…
De pé na encosta erma e bravia,
Triste na encosta erma e bravia,
— Oh, dor! oh, dor! oh, dor! —
Largando a enxada, «Ave-Maria!…»
Reza em silêncio… «Ave-Maria!…»
Fantasma negro, o cavador!

Cavou cem montes… que é do trigo?
Gerou seis bocas… que é do trigo?
Bateu a Fome ao seu postigo…
Bateu a Morte ao seu postigo…
— Oh, dor! oh, dor! oh, dor! —
«Que a paz de Deus seja comigo!…
Que a paz de Deus seja comigo!…»
Disse, expirando, o cavador!

Poema: Guerra Junqueiro (excerto adaptado)
Música: Luís Cília
Intérprete: Luís Cília (in LP “La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours – 2”, Moshé-Naïm, 1969; CD “La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours”, EMEN, 1996)

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

Ai, ó gentinha desta terra

[ Moda de Malhar ]

Ai, ó gentinha desta terra,
Ai, venham ver a grande malha!

Umas ceifam, outras erguem
E outras seguram…
E outras seguram…
E outras seguram a palha.

Ai, nosso amo anda agastado,
Ai, é por ver o sol baixinho.

Estamos ao cimo da eira,
Ai, venha a botelha…
Ai, venha a botelha…
Ai, venha a botelha do vinho!

Ai, lá baixo vem a raposa
Ai, com seu rabo pelo chão,

Procurar aos lenhadores
Se têm um carneiro…
Se têm um carneiro…
Se tem um carneiro ou não.

Nosso amo tem uma vaca,
Ai, também tem um bezerrinho:

A vaca chama-se Andurra
E o bezerro vem…
E o bezerro vem…
E o bezerro vem ao vinho.

Ai, já roubaram ao moleiro
Ai, a filha pelo telhado:

Julgavam que era presunto
Que estava depen…
Que estava depen…
Que estava dependurado.

Moda de Malhar
Letra e música: Tradicional (Cedovim, Vila Nova de Foz Côa, Beira Alta)
Intérprete: Ai!* (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015)

César Prata
César Prata

Amaduraram-se os cachos

[ Vindimeiro ]

Amaduraram-se os cachos
torna o tempo da vindima
bagos novos
bagos novos
arde-lhes o oiro em cima

vergam-se as vides pesadas
bagos ciosos se animam
vindimeiro
vindimando
vinho moço em velha vinha

Vindimeiro vindimado
quem te vindima a ansiedade?
cachos verdes quem tos dera
para vindimares a saudade

tens mais sede de vindima
do que tem a farta uva
a sede de ser colhida
se cai a primeira chuva

Como cachos para o lagar
saltam os seios às vindimeiras
bagos cheios
bagos cheios
de desejo e bebedeiras

anda a serpente da terra
na dança das parras soltas
vindimeiras
vindimadas
rebentam bagos na boca

Vindimeiro vindimado
quem te vindima a ansiedade?
cachos verdes quem tos dera
para vindimares a saudade

tens mais sede de vindima
do que tem a farta uva
a sede de ser colhida
se cai a primeira chuva

tens mais sede de vindima
do que tem a farta uva
a sede de ser colhida
se cai a primeira chuva

Letra: Manuel Lima Brummon
Música: Vítor Manuel Rodrigues
Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Portugal Triste”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1980; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994; CD “Teresa Tarouca”, col. Clássicos da Renascença, vol. 15, Movieplay, 2000)

Ao meu ceifãozinho novo

Ao meu ceifãozinho novo
Olha lá como ceifas
Não cortes os meus dedos
São penas que tu me dás.

Fui à ceifa do Porto Santo
Fui à igrejinha dos profetas
Olhei para o altar e vi
O padre em cuecas.

Fui à ceifa ao Porto Santo
À fama do bom ceifar
Fui para amarrar as gavelas
Puseram-me a respigar.

Fui à ceifa ao Porto Santo
Com as cearas amarelas
As moças me deram fitas
Para amarrar as gavelas.

Fiz a cama na feiteira
Travesseiro na giesta
De que serve a cama boa
Se o travesseiro não presta.

Tradicional da Madeira

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Meloteca, recursos musicais criativos para crianças, professores e educadores

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Apanhámos este trigo

Apanhámos este trigo
e colhemos a nossa aveia,
falámos da nossa vida,
deixámos a vida alheia.

Eu subi à ladeira,
ó João canta comigo:
És um botão de rosa,
botão de cravo sou eu,

assobia cana verde,
assobia de nó em nó,
a falar com o meu amor,
julgava que estava só.

Quando eu comecei a amar,
foi numa segunda-feira,
fui amando e fui gostando,
amei a semana inteira!

Ó que lindo chapéu preto
naquela cabeça vai,
ó que lindo rapazinho
era genro para ser de meu pai!

Passei à tua porta,
pus a mão na fechadura,
estavas dentro, não falaste,
coração de pedra dura.

(Tradicional da Madeira, cantigas que se cantavam quando se apanhava o trigo.)

As lavadeiras

As lavadeiras sempre a lavar
Muito ligeiras roupas a corar
Ligeiras são com alegria,
O ganha-pão de cada dia.

Sou vaidosa não me chames
Faz favor de se calar
Na ribeira de João Gomes,
Minha roupa vou lavar.

Minha roupa estou lavando
Com isso eu tenho alegria,
Eu sou sempre lavadeira
Ganho o pão de cada dia.

Tradicional da Madeira

Bela ceifeira

Bela ceifeira d’outrora
Elas linda mesmo trigueira
E quando eu te olho agora
Nem pareces tu ceifeira

Nos teus tempos de moçoila
Eras tu, ó linda cara
A mais bonita papoila
Que se via pela seara

Tinhas cabelos loirinhos
Como espigas nos trigais
Mas hoje são tão branquinhos
Como linho ou talvez mais

Numa tarde de sol quente
Em ceifa do Zé das Navas
Eu atava alegremente
O trigo que tu ceifavas

Eu já no fim de Junho
Tu não te lembras, amiga
Em que tu de foice em punho
Me cantaste esta cantiga

Ao atares estas gavelas
Agora as que ceifo aqui
Repara que dentro delas
Vão beijinhos para ti

Minha resposta, afinal
Já não me recorda toda
Sei que dia do Natal
Foi a nossa bela boda

Passou o tempo, discordámos
Era dia de Santo André
À lareira conversávamos
Sobre a vinda de um bebé

Eu desejava um menino
Tu uma menina, e depois
Por milagre divino
Fomos brindados os dois

Essa menina, porém
És mesmo o retrato teu
O menino, sabe-lo bem,
Esse não, esse é o meu

Nossa casa tão modesta
Pequenina mas tão bela
Tem sempre um ar de festa
Paz e amor dentro dela

Anos, já lá vão setenta
Sempre pobre, mas enfim
Qualquer coisa me contenta
Até quem me fala assim:

“Onde vai, de braço dado,
Senhor Nuno com Ti Arriça?”
Respondo, muito animando:
“É domingo, vou à missa.”

Constantino José Abreu, “o Caipira”

Bóia, bóia, binha

Bóia, bóia, binha,
que faz assim, assim.
1. Ora agora a costureira
faz assim, assim, assim.

2. o alfaiate

3. o sapateiro

4. a brunideira

Santo Tirso, Douro Litoral

Corta, minha foice

[ Cantiga da Ceifa ]

Corta, minha foice, corta
Ai, neste pão tão miudinho!
Ai, quem houver de andar p’ra outrem
Ai, há-de andar com cuidadinho!

Por cima se ceifa o pão,
Ai, por baixo fica o restolho.
Ai, menina não se ‘namore
Ai, do rapaz que empisca o olho!

O rapaz do chapéu preto
Ai, precisa a cara partida:
Ai, por baixo do chapéu preto
Ai, pisca o olho à rapariga.

Quem me dera já cá noite:
Ai, o pão da ceia na mão,
Ai, o dinheiro na algibeira,
Ai, o amor no coração.

Corta, minha foice, corta
Ai, neste pão tão miudinho!
Ai, quem houver de andar p’ra outrem
Ai, há-de andar com cuidadinho!

Letra e música: Tradicional (Fernão Joanes, Guarda, Beira Alta)
Intérprete: Ai!* (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015)
Outra versão com César Prata: César Prata – “Cantiga da Ceifa e Nome de Maria” (in CD “Futuras Instalações”, César Prata/RequeRec, 2014)

César Prata
César Prata

De onde vieste agora

[ Cantiga de apanhar o trigo ]

De onde vieste agora
Boca cheia de alegria
A tua cara merece
Trinta beijos cada dia.

Da minha janela à tua
Um saltinho de uma cobra
Eu gostava de chamar
Tua mãe por minha sogra.

Eu mandei buscar lá fora
O que não há na Madeira,
Uma cangalha de cornos
Para te fincar na caveira.

Minha mãe para me casar
Prometeu-me quanto tinha,
Depois de me ver casada
Deu-me uma agulha sem linha.

Trigo louro, trigo louro
Trigo de palha amarela,
De baixo do trigo loiro
Namorei uma donzela.

Trigo loiro trigo loiro
Trigo de palha dourada,
Debaixo do trigo loiro
Namorei uma casada.

Trigo loiro, trigo loiro
Quem me dera a tua cor,
Para andar nos calos santos
Servir a Deus Nosso Senhor.

Deitei um limão correndo
À tua porta parou,
Quando o limão te quer bem
Que fará quem o deitou.

Semeei no meu quintal
O brio das raparigas,
Nasceu-me uma rosa branca
Cercada de margaridas.

Cantiguinhas que eu sabia
Todas me têm esquecido,
Agora me têm esquecido
Na apanhadinha do trigo.

Minha mãe mandou-me à lenha
Trouxe lenha de giesta,
Minha mãe ficou contente
Para cozer o pão da festa.

Tradicional da Madeira

E oh lera

[ Lerar o Gado ]

E oh lera, oh!
Inda Lucinda, oh andas oh?!
Diz-me onde andas com as ovelhas,
Lá vou ter!
E oh lera!

E oh lera, oh!
Inda Zulmira, oh andas oh?!
Ando noutra rua ali oer,
Vem cá ter!
E oh lera!

E oh lera, oh!
Inda Lucinda, pois sim oer!
Então vou lá ter,
Guarda-me da tua merenda!
E oh lera!

E oh lera, oh!
Inda Zulmira, ohi, pois sim!
E oh lera!

E oh lera, oh!
Inda Lucinda, oheu, adeus!
E oh lera!

Letra e música: Tradicional (Vouzela, Beira Alta)
Intérprete: Ai! (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015)

Lavra, boi, lavra
Lavra, boi, lavra

Elas lavam

[ As lavadeiras ]

Elas lavam, elas lavam,
Elas lavam sem parar.

Põe aqui o teu pezinho,
põe aqui na brincadeira.
Vamos ver as lavadeiras
a lavarem na Ribeira.

Elas esfregam, elas esfregam,
Elas esfregam sem parar.
Elas torcem, elas torcem,
Elas torcem sem parar.

Elas dobram, elas dobram,
Elas dobram sem parar.
Elas falam, elas falam,
Elas falam sem parar.

Tradicional da Madeira

Ele não é empregado da aplicação

[ Escravo do Patrão ]

Autor: Luís Varatojo
Intérprete: Luta Livre

Eu sou o Xico pastor

Eu sou o Xico pastor
Minha vida é guardar gado
Eu juro que tenho amor
Às ovelhinhas que guardo

São todas de bom tamanho
Lindas e bem arraçadas
E das trezentas do rebanho
Tenho oito baptizadas

É a Má e a Princesa
A Churra e a Vaidosa
A Manca, a Baronesa
A Bonita e a Gulosa

A Cabresto, a mais gorducha
Que traz o maior chocalho
É vendida baratucha
É machorra, vai para o talho

Um borrego temporão
Que lá tenho com a lã vasta
Eu direi ao meu patrão
Para o deixar para casta

Meu ajuda vai à fonte
Traz notícias da aldeia
À noitinha vai ao monte
Com o tarro buscar a ceia

Durmo no alto da serra
Do São Miguel até Março
São vistas da minha terra
As fogueiras que ali faço

Deitado na minha choça
Vejo em noites luarentas
Lá no pino duma rocha
As corujas agoirentas

E a raposa esperta
Quer-me um borrego roubar
Meu canito está alerta
Não a deixa aproximar

Ao chegar o santo dia
Eu fico cheio de alegria
Olho o prado, é um jardim
A minha flauta a tocar
Passarinhos a cantar
É tão bom viver assim

Constantino José Abreu, “o Caipira”

Eu sou o Zé da enxada

Eu sou o Zé da enxada
Caminhando de madrugada
Oiço a linda cotovia
Voando alto sem a ver
O seu canto quer dizer:
“Vem aí um novo dia”

Ao passar junto ao silvado
Abala o melro assustado
Lá foge o espertalhão
O rouxinol não se espanta
Em vez de fugir canta
A sua linda canção

Chego ao lugar destinado
De pão como um bocado
Sentado a descansar
Nasce o sol e de repente
Diz o manajeiro: “Ó gente,
Nós temos de ir a trabalhar!”

Vou-me à enxada agarrar
E então começo a cavar
Com vontade e valentia
Assim que chega o sol-posto
Eu volto a casa com gosto
Para junto da Maria

Chego, as boas-noites dou
A seguir, lavar-me vou
Já está na mesa a ceia
Enquanto eu estou ceando
A Maria está contando
Novidades da aldeia

Esta vida para mim
Espinhosa, mas enfim
Mas vivo com alegria
Tem sido e continua
A enxada e a charrua
Darem-me o pão de cada dia

Constantino José Abreu, “o Caipira”

Foge a minha mocidade

[ Lamento do Camponês ]

Foge a minha mocidade
E a tua foge também;
E ninguém tem caridade
Da vida que a gente tem.

Cavo em terra não minha
As ânsias de oiro do meu senhor,
Que desabrocham e crescem
Regadas com o meu suor.

As rugas da minha face
São fundos golpes que eu senti,
Todas as vezes que à vida
Esperançado sorri.

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!

Vê que na maior pobreza
Nunca pode um bom cristão
Esquecer-se que é mais santo
Viver com resignação.

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!

Ouço conselhos que apagam
Todo o sentido do meu viver,
E aos poucos sinto o meu corpo
Sobre a terra pender.

E assim eu vou uma à uma
Nesse chão frio aprofundar
A cova grande que um dia
Há-de então ser o meu lar.

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!

Vê que na maior pobreza
Nunca pode um bom cristão
Esquecer-se que é mais santo
Viver com resignação.

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!

Letra: Popular (1.ª quadra) e Onésimo Teotónio Almeida
Música: Popular
Arranjo: Carlos Sousa
Intérprete: Belaurora / introdução por Folia do Maranhão (in CD “Achados do Tempo”, Açor/Emiliano Toste, 2003)

Fui ao Douro à vindimas

Fui ao douro às vindimas,
não achei que vindimar.
Vindimaram-me as costelas.
Olha o que lá fui ganhar!

Retira-te das janelas.
Retira-te do balcão.
Vem comigo p’ràs vindimas,
amor do meu coração.

Fui ao douro às vindimas,
pagaram-me a trinta réis.
Vim pela feira do Pêso;
empreguei-os em anéis.

Não se me dá que vindimem
videirinha que eu podei.
Não se me dá que outros logrem
o que eu por gosto deixei.

Não se me dá que vindimem,
nem também de vindimar.
Só me dá das tristes noites
que se passam no lagar.

Vindimas no Douro

Vindimas no Douro

Tradicional do Minho

Lavra, boi, lavra

Lavra, boi, lavra
No chão da Portela!
Repica, repica
Na vaca amarela!
Ei, boi a lavrar!
Ei, boi!

Lavra, boi, lavra
No chão do Vilar!
Comer e beber
E toca a virar!
Ei, boi a lavrar!
Ei, boi!

Lavra, boi, lavra!
Não digas que não!
Repica, repica,
Rodinha no chão!
Ei, boi a lavrar!
Ei, boi!

Lavra, boi, lavra
No chão da Portela!
Repica, repica
Na vaca amarela!
Ei, boi a lavrar!
Ei, boi!

Letra e música: Tradicional (São Martinho de Crasto, Ponte da Barca, Minho)
Recolha: Gonçalo Sampaio (1890-1925, in “cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 103)
Intérprete: Ai!* (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015)
Outra versão com César Prata: César Prata (in CD “Futuras Instalações”, César Prata/RequeRec, 2014)

Igreja Matriz de São Martinho de Crasto

Igreja Matriz de São Martinho de Crasto

Linda ceifeira

Linda ceifeira
Loira e trigueira
Gosto de ti
Teu rosto, linda flor
Encantador
Outro não vi

Ao ver-te no mês de Junho
De foice em punho
Ceifando o trigo
Dás alegria aos meus olhos
Fazendo molhos
Canto contigo

Com o chapéu desabado
Rosto suado
Sorrindo estás
Mas tantas vezes ceifando
Andas pensando
No teu rapaz

À sombra da oliveira
Linda ceifeira
À sesta dormes
Debaixo do sol ardente
Ceifas contente
O pão que comes

Constantino José Abreu, “o Caipira”

Meus Senhores

[Moda:]

Meus senhores, eu venho à praça
Este meu corpo oferecer,
Este meu corpo-carcaça
De se comprar e vender!

De se comprar e vender 
Por bem se negociar, 
No negócio de render 
Sem ter nele nada a ganhar… 

[ Cantiga: ]

É tempo de se ceifar
Trigos, cevadas e fenos…
Quem dá mais pelo meu suar?
Quem dá mais ou quem dá menos? 

Letra: Vicente Rodrigues (1910-1982)
Música: Modas à Margem do Tempo
Intérprete: Modas à Margem do Tempo (in CD “Cantarolices”, Associ’Arte, 2003)

Na ponte da viola

Na ponte da viola (bis),
toda a gente passa lá (bis).
Lavadeiras fazem assim,
sapateiros fazem assim,
caçadores fazem assim,
camponeses fazem assim.

Lárálálá.

Não se me dá que vindimem

Não se me dá que vindimem
Vinhas que eu já vindimei
Não se me dá que outros logrem
Ai amores que já rejeitei.

Fui um ano à vindima
Pagaram-me a trinta réis
Dei um vintém ao barqueiro
Ai vim p’ra casa com dez réis.

Pela folha da videira
Conheço eu a latada.
Faço-me dasatendida
Ai a mim não me escapa nada.

Eu estou debaixo da latada
Nem à sombra nem ao sol.
Estou ao pé do meu amor
Ai não há regalo maior.

Letra e música: Popular (Monsanto, Beira Baixa)
Recolha: Fernando Lopes Graça
Intérprete: Né Ladeiras e Luís Represas
Outras versões: Jorge Lomba (in CD “Jorge Lomba”, UPAV, 1990); Contrabando (in CD “Fresta”, 2000); Filipa Pais (in CD “À Porta do Mundo”, Vachier & Associados, 2003)

Numa terra distante

[ A Menina da Canastra ]

Numa terra distante
Viviam tranquilos sem grande mudança
Os campos eram campos
O vinho macio, a água era mansa

E a menina da canastra
Tanta neve e ela passa
Pelo caminho mais longo
Segue o cheiro da fumaça

Segue o carreiro do maninho
Rosmaninho, avelãs, o cheiro a pão

Dia de animação,
O espeto na mão, o bicho sebado
Rezas e devoção,
Bruxarias, magia, tudo está destinado

E a menina da canastra
Tanta neve e ela passa
Pelo caminho mais longo
Segue o cheiro da fumaça

Segue, como a roca faz o fio,
Segue a lua que ilumina a escuridão

O desejo desceu à terra
De caravela por entre a serra

Um partiu e depois
Emigraram mais dois para fugir à desgraça
Do sustento que dá semear tanto pranto
Lavrar o que embaraça

Mas a menina da canastra
Tanta neve e ela passa
Pelo caminho mais longo
Segue o cheiro da fumaça

Segue o carreiro do maninho
Rosmaninho, avelãs, o cheiro a pão

O desejo desceu à terra
De caravela por entre a serra

Como a roca faz o fio
Assim vai a sua dor
E de fio-a-pavio
Partem para mal menor

Caravela do desejo
Traz-lhe do céu uma flor
A canastra da menina
Não tem pão, só tem suor

Como a roca faz o fio
Assim vai a sua dor
E de fio-a-pavio
Partem para mal menor

Caravela do desejo
Traz-lhe do céu uma flor
A canastra da menina
Não tem pão, só tem suor

Como a roca faz o fio
Assim vai a sua dor
E de fio-a-pavio
Partem para mal menor

Caravela do desejo
Traz-lhe do céu uma flor
A canastra da menina
Não tem pão, só tem suor

A menina…

Letra e música: André Cardoso
Intérprete: A Presença das Formigas com Amélia Muge (in CD “Ciclorama”, A Presença das Formigas, 2011)

Ó Margarida moleira

1. Ó Margarida moleira,
dá-me da tua farinha.
Ai, ai, ai, que a quero peneirar
ai, ai, ai, pela nova peneirinha.

2. Ó Margarida moleira,
a tua farinha é boa;
ai ai ai, se agora não tens moída
ai, ai, ai, dá-me então da tua broa.

3. Ó Margarida moleira
tens moinho de moer;
ai, ai, ai, p’ra moer quem te quer bem,
ai, ai, ai, não tens pouco que fazer.

4. Ó Margarida moleira,
amostra-me o teu moinho;
ai, ai, ai, quero ver se ele trabalha,
ai, ai, ai, devagar ou ligeirinho.

Cabeceiras de Basto, Minho

O que é feito das mondadeiras?

O que é feito das mondadeiras
Que no Verão eram ceifeiras
E apanhavam a azeitona?
Onde estão os passarinhos
A cantar entre os raminhos,
Nas árvores aqui da zona?

As rolas fazendo o ninho,
Grandes bandos de estorninhos,
Para nós são uma saudade;
Até as lindas perdizes
E as vaidosas codornizes
São já uma raridade.

Já ninguém dorme nas eiras,
Por modo as debulhadeiras
Que ao trigo fazem tudo.
As danças, ai que saudade
Os bailes da Sociedade
Quando chegava o Entrudo!

Dizem-nos, por brincadeira,
Que esta terra hospitaleira
Tem brilhantes tradições;
Por todos é adorada,
Por muitos é visitada
E fica em seus corações.

Letra: José Correia
Música: Armando Torrão
Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Ora bate, padeirinha

Ora bate, padeirinha,
ora bate o pé no chão.
Ora bate, padeirinha,
amor do meu coração.

Fui à fonte p’ra te ver,
fui ao rio p’ra te falar.
Nem na fonte nem no rio
nunca te pude encontrar.

Os moleiros deste açude

[ Canção de Açude – Poema em Cor ]

Os moleiros deste açude, os moleiros deste açude,
Os moleiros deste açude, os moleiros deste açude…

Os moleiros deste açude adoram a virgem de branco
Os moleiros deste açude adoram a virgem vermelha
Os moleiros deste açude adoram a virgem de verde
Os moleiros deste açude adoram a virgem de preto

Branco, vermelho, amarelo, preto
Branco, verde, azul, preto

De sol a sol, a trabalhar
Tanto suor e sem tempo para o limpar
Tanta farinha na minha mão
Bem moidinha vai formar um grande pão

Eu não pertenço a esta aldeia
Vim para aqui p’ra fazer o meu pé-de-meia
Ai este rio corre p’ró mar
Tão fugidio não pára p’ra descansar

‘Tou tão cansado de labutar
Ai esta nora que não pára de girar

Branco, vermelho, amarelo, preto
Branco, verde, azul, preto

Letra: Rodrigo Crespo e Tânia Cardoso
Música: Rodrigo Crespo
Intérprete: Canto Ondo (in CD “Entre o Alto do Peito e as Campainhas da Garganta”, A Monda – Associação Cultural/Canto Ondo, 2016)

Primavera das Flores

[ A Primavera ]

Primavera das flores
Como esta não há mais
A Primavera vai e volta sempre
A mocidade não volta mais.

Ai borda rica filha, borda, borda
Ai borda rica filha, borda, bem
Em casa rica filha todos bordam Refrão
Borda o pai borda a filha borda a mãe
E eu também.

Bordadeira madeirense

Bordadeira madeirense

Quem quiser regar

[ Cantiga de Rega ]

Quem quiser regar
que regue
Ai cá lhe fica
o regador

Palavra dada
Eu tenho
Ai esta noite
Ao meu amor

A palavra
É igual à água
Que há no regador
Rega todo este chão
Conversador

E com palavras
Nós vamos regando
Este longe que então
Faz o perto crescer
E dar seu pão

Tradicional portuguesa e Amélia Muge / Tradicional

Raparigas camponesas

[ Raparigas Mondadeiras ]

Raparigas camponesas,
Ao rigor do temporáli
Não há vento que as queime
Nem sol que lhes faça máli.

Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!

Raparigas mondadeiras,
Andai lá com cuidadinho,
Que manda o nosso patrão!
Mondai lá bem o triguinho!

Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!
Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!

Raparigas mondadeiras,
Vamos todas a cantári!
Já lá vem nossa patroa
A trazer-nos o jantári.

Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!
Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!

Já lá vem a noite em baixo,
Já lá vem nossa alegria;
Tristeza p’ra o nosso amo,
Que já se lhe acaba o dia.

Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!
Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!
Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!
Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!
Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!
Ó ló, ai larilolela! Ó ló, ai lariloló!

Letra e música: Tradicional (Penha Garcia, Idanha-a-Nova, Beira Baixa)
Recolha: GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra)
Intérprete: Brigada Victor Jara / voz solo de Catarina Moura (in Livro/11CD “Ó Brigada!: Discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: CD Extra, Tradisom, 2015)

Rema

Rema
Rema que rema
Que é bom remar
Rema, lanchinha
P’ró alto mar

Rema
Rema que rema
Que é bom remar
Rema, lanchinha
P’ró alto mar

Rema que rema
No mar irado
Gostar de ti
É um triste fado

Rema que rema
Na calmaria
Senhor S. Pedro
És o meu guia

Rema
Rema que rema
Que é bom remar
Rema, lanchinha
P’ró alto mar

Rema
Rema que rema
Que é bom remar
Rema, lanchinha
P’ró alto mar

Rema que rema
Pelo mar fora
Segure o leme
Nossa Senhora

Rema que rema
P’ró areal
Se te não vejo
Passo bem mal

Rema
Rema que rema
Que é bom remar
Rema, lanchinha
P’ró alto mar

Rema
Rema que rema
Que é bom remar
Rema, lanchinha
P’ró alto mar

Rema
Rema que rema
Que é bom remar
Rema, lanchinha
P’ró alto mar

Letra e música: Aníbal Raposo (2000-08-07)
Intérprete: Aníbal Raposo (in CD “Rocha da Relva”, Aníbal Raposo/Global Point Music, 2013)

Senhora Dona Anica

1. Senhora Dona Anica,
venha abaixo ao seu jardim.
Venha ver as lavadeiras
a fazer assim, assim.

2. Senhora Dona Anica,
venha abaixo ao seu jardim.
Venha ver as costureiras
a fazer assim, assim.

3. Senhora Dona Anica,
venha abaixo ao seu jardim.
Venha ver os jardineiros
a fazer assim, assim.

4. Senhora Dona Anica,
venha abaixo ao seu jardim.
Venha ver os sapateiros
a fazer assim, assim.

5. Senhora Dona Anica,
venha abaixo ao seu jardim.
Venha ver as brunideiras
a fazer assim, assim.

6. Senhora Dona Anica,
venha abaixo ao seu jardim.
Venha ver os carpinteiros
a fazer assim, assim.

7. Senhora Dona Anica,
venha abaixo ao seu jardim.
Venha ver as cozinheiras
a fazer assim, assim.

Stando la molinera

[ Molinera ]

Stando la molinera
Sentadita en su molino…
Passou por alla un soldado, olé! olé!
Vengo de moler el trigo.
Que vengo de moler, morena.

Que vengo de moler, morena,
De los molinos de abajo…
Dormí con la molinera, olé! olé!
No me ha cobrado el trabajo.
Que vengo de moler, morena.

Que vengo de moler, morena,
De los molinos de arriba…
Dormí con la molinera, olé! olé!
No me ha cobrado la maquia.
Que vengo de moler, morena.

Que vengo de moler, morena,
De los molinos del frente…
Dormí con la molinera, olé! olé!
Se enteró toda la gente.
Que vengo de moler, morena.

Que vengo de moler, morena,
De los molinos azules…
Dormí con la molinera, olé! olé!
Sabado, domingo y lunes.
Que vengo de moler, morena.

Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes)
Intérprete: Ai! (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)

Sua o martelo

[ Instrumentos de Trabalho ]

Sua o martelo nas mãos
como soa uma navalha
instrumentos de trabalho
em dedos que nunca falham

Instrumentos de trabalho
ou mortes de mão primeiro
Cresce o tempo no trabalho
de um martelo de ferreiro

Primeiro os mortos são peso
(ferro no sangue não fere)
Instrumentos de trabalho
de um calor que não requer

Desespero não é palavra
nem será nunca instrumento
A mão recobra o metal
de material nos dedos

Dado o trabalho transpira
a fome de um operário
instrumento de acidente
na justiça de um salário

Semidesliza o arado
que o camponês não acusa
Ou comemora a semente
com as mãos sem armadura

Movimento de calor
nos músculos que se recusam
Sol a sol de instrumentos
ou mortes de qualquer cura

Sua o martelo nas mãos
como soa uma navalha
instrumentos de trabalho
em dedos que nunca falham

Dado o trabalho transpira
a fome de um operário
instrumento de acidente
na justiça de um salário

Semidesliza o arado
que o camponês não acusa
Ou comemora a semente
com as mãos sem armadura

Poema: Maria Teresa Horta (adaptado)
Música: Lindolfo Paiva
Intérprete: Dialecto* (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)

Instrumentos de trabalho

(Maria Teresa Horta, in “Cronista Não É Recado”, Lisboa: Guimarães Editores, 1967; “Poesia Reunida”, pref. Maria João Reynaud, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2009 – p. 262-63)

Instrumentos de trabalho
ou mortes
de mão primeiro

Cresce o tempo no
trabalho
de um martelo de ferreiro

Primeiro
os mortos são peso
(ferro no sangue não fere)

Instrumentos de trabalho
de um calor
que não requer

Desespero não é palavra
nem será nunca
instrumento

A mão recobra
o metal
de material nos dedos

Dado o trabalho transpira
a fome de um operário
instrumento de acidente
na justiça de um salário

Semidesliza o arado
que o camponês
não acusa

Ou comemora
a semente
com as mãos sem armadura

Movimento de calor
nos músculos
que se recusam

Sol a sol
de instrumentos
ou mortes de qualquer cura

Sua o martelo nas mãos
como soa uma navalha
instrumentos de trabalho
em dedos que nunca falham

Toda a vida fui pastor

1. Toda a vida fui pastor,
toda a vida guardei gado.
Tenho uma mágoa no peito, ai, ai,
de me encostar ao cajado.

2. De me encostar ao cajado,
lá pelos campos a rigor.
Toda a vida guardei gado, ai ai!
Toda a vida fui pastor.

3. Meu lírio roxo do campo,
criado na Primavera,
desejava amor saber, ai, ai,
a tua intenção qual era.

4. A tua intenção qual era
desejava amor saber.
Meu lírio roxo do campo, ai, ai,
quem te pudera colher.

Mel. trad. Alentejo

Trigo loiro

[ Cantiga de ceifa ]

Trigo loiro, trigo loiro,
Ai! Quem me dera o teu valor!
Que entrara no cálice de oiro
Ai! Onde entra Nosso Senhor.

Trigo loiro, trigo loiro,
Ai! Quem me dera o teu valor!
Levara a cruz ao Calvário
Ai! Como fez Nosso Senhor.

Trigo loiro, trigo loiro,
Ai! Quem me dera o teu valor!
Que entrara no cálice de oiro
Ai! Onde entra Nosso Senhor.

Trigo loiro, trigo loiro,
Ai! Quem me dera o teu valor!
Levara a cruz ao Calvário
Ai! Como fez Nosso Senhor.

Letra e música: Tradicional (Gonçalo, Guarda, Beira Alta)
Intérprete: Ai! (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)
Outras versões com César Prata: Chuchurumel – “Canção da Ceifa” (in CD “No Castelo de Chuchurumel”, Chuchurumel/Luzlinar, 2005); Ai! (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015)

Vamos apanhar o trigo [ Este trigo ]

Vamos apanhar o trigo
Vamos escolher da aveia
Falamos na nossa vida
Deixamos a vida alheia.

Este trigo está bom trigo
Parece trigo de relva
Calai a boca menina
Deus do céu é que governa.

Nossa Senhora do Monte
É madrinha de João
Eu também sou afilhada
Da Virgem da Conceição

Esta noite vai dar vento
Também vai dar viração
As rosas vão voar
Não vai ficar nem um botão.

Este trigo está bom trigo
As favas estão mais falidas
Os olhos do meu amor
É a flor das raparigas.

Tradicional da Madeira

Vamos apanhar o trigo [ Trigo louro ]

[ Trigo Louro ]

Vamos apanhar o trigo
Vamos lhe escolher a veia
Cuidamos da nossa vida
Deixemos a vida alheia.

Trigo louro, trigo louro
Empresta-me a tua cor
Quero ir ao sacrário
Oferecer a Nosso Senhor.

Trigo louro, trigo louro
Trigo da folha amarela
Debaixo do trigo louro
Namorei uma donzela.

Trigo louro, trigo louro
Trigo da folha estreita
A apanhar o trigo louro
Namorei uma sujeita.

Trigo louro, trigo louro
Trigo da folha miúda
Debaixo do trigo louro
Namorei uma viúva.

Tradicional da Madeira

Vamos todos a cantar

[ As profissões ]

Vamos todos a cantar,
estas nossas profissões,
neste grupo que é alegre,
com bailados e canções.

Eu aqui sou bordadeira,
neste pano vou bordar,
que o bordado da Madeira,
é para se exportar.

Eu sou um agricultor,
com a enxada na mão,
é que a vida no campo,
também é uma profissão.

Também vamos começar,
aqui todos trabalhando,
com amor a esta vida,
alegres também cantando.

Eu também vou fiar linho,
de estopa e de tomentos,
e nesta história do linho,
se passam muito tormentos.

Eu que debulho o milho,
é o que eu vou fazer,
isto é o comer do pobre,
temos que o defender.

Todo o homem que trabalha,
honra a pátria e aos seus,
havendo comida em casa,
todos dão graças a Deus.

Também eu vou fazer tricot,
isto para me entreter,
temos nós que trabalhar,
para se poder viver.

Também vou apanhar erva,
para os meus animais,
esta foi a bela arte,
que me deram os meus pais.

E todos nós trabalhámos,
para se poder comer,
e nós também cantamos,
é para nos entreter.

Neste lugar sou ceifeira,
do trigo que é o nosso pão,
eu apanho muito sol,
que é neste tempo de verão.

Eu também sou marceneiro,
que é uma arte fina,
sou eu que faço os móveis,
desde a sala até às cozinhas.

Todas estas profissões,
quem trabalha tem saúde,
o trabalho vem dos velhos,
e passa para a juventude.

Foi a ovelha que deu,
esta lã que vou fiar,
mas neste trabalho falta,
é lavá-la e cardar.

Eu trabalho de pedreiro,
é com areia e cimento,
para fazer nossas casas,
para se abrigar do tempo.

Tradicional da Madeira

Vi-te a trabalhar

[ Que Força É Essa? ]

Vi-te a trabalhar o dia inteiro,
construir as cidades pr’a os outros,
carregar pedras, desperdiçar
muita força p’ra pouco dinheiro!
Vi-te a trabalhar o dia inteiro,
muita força p’ra pouco dinheiro!…

Que força é essa?
Que força é essa
que trazes nos braços,
que só te serve para obedecer,
que só te manda obedecer?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo,
que te põe de bem com outros
e de mal contigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?

Não me digas que não me compr’endes!
Quando os dias se tornam azedos,
não me digas que nunca sentiste
uma força a crescer-te nos dedos
e uma raiva a nascer-te nos dentes!
Não me digas que não me compr’endes!…

Que força é essa?
Que força é essa
que trazes nos braços,
que só te serve para obedecer,
que só te manda obedecer?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo,
que te põe de bem com outros
e de mal contigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?

Vi-te a trabalhar o dia inteiro,
construir as cidades pr’a os outros,
carregar pedras, desperdiçar
muita força p’ra pouco dinheiro!
Vi-te a trabalhar o dia inteiro,
muita força p’ra pouco dinheiro!…

Que força é essa?
Que força é essa
que trazes nos braços,
que só te serve para obedecer,
que só te manda obedecer?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo,
que te põe de bem com outros
e de mal contigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?
Que força é essa, amigo?

Letra e música: Sérgio Godinho (in LP “Os Sobreviventes”, Guilda da Música/Sassetti, 1972, reed. Philips/Polygram, 1990, Universal, 2001, 2019)

Pastor alentejano

Pastor alentejano

Canções de Liberdade

Letras

Acordai!

Acordai!
Acordai,
homens que dormis
a embalar a dor,
a embalar a dor
dos silêncios vis!
Vinde no clamor
das almas viris,
arrancar a flor
que dorme na raiz!

Acordai!
Acordai,
raios e tufões
que dormis no ar,
que dormis no ar
e nas multidões!
Vinde incendiar
de astros e canções,
as pedras e o mar
o mundo e os corações…

Acordai!
Acordai,
de almas e de sóis,
este mar sem cais,
este mar sem cais,
nem luz de faróis!
E acordai, depois
das lutas finais,
os nossos heróis
que dormem nos covais!
Acordai!

Poema: José Gomes Ferreira
Música: Fernando Lopes Graça

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Dá o Outono

[ As Balas ]

Dá o Outono as uvas e o vinho
Dos olivais o azeite nos é dado
Dá a cama e a mesa o verde pinho
As balas deram sangue derramado

Dá a chuva o Inverno criador
Às sementes dá sulcos o arado
No lar a lenha em chama dá calor
As balas deram sangue derramado

Dá a Primavera o campo colorido
Glória e coroa do mundo renovado
Aos corações dá o amor renascido
As balas deram sangue derramado

Dá o sol as searas pelo Verão
O fermento no trigo amassado
No esbraseado forno cresce o pão
As balas deram sangue derramado

Dá cada dia ao homem novo alento
De conquistar o bem que lhe é negado
Dá a conquista um puro sentimento
As balas deram sangue derramado

De meditar, concluir, ir e fazer
Dá sobre o mundo o homem atirado
À paz de um mundo novo de viver
As balas deram sangue derramado

Dá a certeza, o querer e o construir
O que tanto nos negou o ódio armado
Que a vida construir é destruir
Balas que deram sangue derramado

Essas balas deram sangue derramado
Só roubo e fome e o sangue derramado
Só ruína e peste e o sangue derramado
Só crime e morte e o sangue derramado

Poema: Manuel da Fonseca
Música: Adriano Correia de Oliveira
Intérprete: Cantaremos Adriano (in CD “Homenagem a Adriano Correia de Oliveira: 25 anos após a sua morte”, Musicart, 2007)
Versão original: Adriano Correia de Oliveira (in “Que Nunca Mais”, Orfeu, 1975, reed. Movieplay, 1997; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)

Havia um poeta-cantor

[ O Zeca ]

Havia um poeta-cantor
nascido à beira da Ria
que em Coimbra foi estudante
e cavaleiro andante
por amor à poesia.

Sendo cantor andarilho
não se cansou da viagem
e fez a canção de roda
que juntou a malta toda
com a esperança na bagagem.

Ele era o menino de oiro,
campeão da rebeldia
e o canto era o tesoiro
p’ra quem entrava no coro
dessa nova melodia.

Mandou embora os vampiros
que o puseram na prisão;
ouviu gritos e ouviu tiros,
ouviu queixas e suspiros
antes da Revolução.

Se Grândola era morena,
era verde a utopia;
a verdade era um poema
pelo qual valeu a pena
esperar anos por um dia.

O bravo cantor-poeta
deu a cantar o sinal,
boina negra na cabeça
e nos lábios a promessa
de um novo Portugal.

Letra: José Jorge Letria
Música: Manuel Freire
Intérprete: Manuel Freire (in Livro/CD “Abril, Abrilzinho”, Praça das Flores e Público, 2006)

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. 

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

Dos que morreram sem saber porquê

[ Madrugada ]

Dos que morreram sem saber porquê
Dos que teimaram em silêncio e frio
Da força nascida do medo
Da raiva à solta manhã cedo
Fazem-se as margens do meu rio.
Das cicatrizes do meu chão antigo
E da memória do meu sangue em fogo
Da escuridão a abrir em cor
De braço dado e a arma flor
Fazem-se as margens do meu povo
Canta-se a gente que a si mesma se descobre
E acordem luzes, arraiais
Canta-se a terra que a si mesma se devolve
Que o canto assim nunca é demais
Em cada veia o sangue espera a vez
Em cada fala se persegue o dia
E assim se aprendem as marés
Assim se cresce e ganha pé
Rompe a canção que não havia
Acordem luzes nos umbrais que a tarde cega
Acordem vozes, arraiais
Cantem despertos na manhã que a noite entrega
Que o canto assim nunca é demais
Cantem marés por essas praias de sargaços
Acordem vozes, arraiais
Corram descalços rente ao cais, abram abraços
Que o canto assim nunca é demais
O canto assim nunca é demais.

Texto e música: José Luís Tinoco
Intérprete: Duarte Mendes

E depois do Adeus

E depois do Adeus
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder.
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci.
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor
Que aprendi.
De novo vieste em flor
Te desfolhei…
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.

Letra: José Niza
Música: José Calvário
Intérprete: Paulo de Carvalho* (1974) (in CD “Vida”, Farol, 2006)

Este parte

[ Cantar de Emigração ]

Este parte,
aquele parte
e todos, todos se vão
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos,
filhos que não têm pais

Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará

Este parte,
aquele parte
e todos, todos se vão
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Poema: Rosalía de Castro; trad. José Niza
Música: José Niza
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (in “Cantaremos”, Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1999; “Obra Completa”, Movieplay, 1994; “Vinte Anos de Canções”, Movieplay, 2001)

Grândola, vila morena

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Poema: José Afonso
Música: José Afonso
Intérprete: José Afonso, Cantigas do Maio, 1971

Lisboa adormeceu

[ Lisboa à Noite ]

Lisboa adormeceu, já se acenderam
Mil velas nos altares das colinas.
Guitarras, pouco a pouco, emudeceram
Cerraram-se as janelas pequeninas.

Lisboa dorme um sono repousado,
Nos braços voluptuosos do seu Tejo,
Cobriu-a a colcha azul do céu estrelado
E a brisa veio, a medo, dar-lhe um beijo.

Lisboa andou de lado em lado,
Foi ver uma toirada, depois bailou, bebeu.
Lisboa ouviu cantar o fado,
Rompia a madrugada quando ela adormeceu.

Lisboa não parou a noite inteira,
Boémia, estouvada, mas bairrista,
Foi à sardinha assada, lá na feira,
E à segunda sessão duma revista.

Dali p’ró Bairro Alto enfim galgou,
No céu, a lua cheia refulgia,
Ouviu cantar a Amália e então sonhou
Qu’era saudade, aquela voz que ouvia.

Lisboa andou de lado em lado,
Foi ver uma toirada, depois bailou, bebeu.
Lisboa ouviu cantar o fado,
Rompia a madrugada quando ela adormeceu.

Letra: Fernando Santos
Música: Carlos Dias
Intérprete: Milú (Maria de Lurdes de Almeida Lemos) (in CD “Milú: O Melhor dos Melhores”; vol. 16, Movieplay, 1994; CD “Melodias de Sempre: vol. 2”, Movieplay, 1995)

Meu pensamento

[ Pensamento ]

Meu pensamento
Partiu no vento
Podem prendê-lo
Matá-lo não.

Meu pensamento
Quebrou amarras
Partiu no vento
Deixa guitarras.

Meu pensamento
Por onde passas
Estátua de vento
Em cada praça.

Meu pensamento
Partiu no vento
Podem prendê-lo
Matá-lo não.

Foi à conquista
Do novo mundo
Foi vagabundo
Contrabandista.

Foi marinheiro
Maltês ganhão
Foi prisioneiro
Mas servo não.

Meu pensamento
Partiu no vento
Podem prendê-lo
Matá-lo não.

E os reis mandaram
Fazer muralhas
Tecer as malhas
De negras leis.

Homens morreram
Chamas ao vento
Por ti morreram
Meu pensamento.

Poema: Manuel Alegre
Música: Adriano Correia de Oliveira e António Portugal
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira [in EP “Trova do Vento Que Passa”, Orfeu, 1964; LP “Adriano Correia de Oliveira: Baladas”, Orfeu, 1969; LP “Trova do Vento Que Passa”, Orfeu, 1982; “7CD “Adriano: Obra Completa”: CD “Trova do Vento Que Passa: Adriano canta Manuel Alegre (I)”, Movieplay, 1994; 7 livros/CD “Obra Completa de Adriano Correia de Oliveira”: vol. 3 – “Trova do Vento Que Passa: Adriano canta Manuel Alegre I”, Movieplay/Público, 2007]

Não há machado que corte

[ Livre ]

Não há machado que corte
a raiz ao pensamento: 
não há morte para o vento, 
não há morte.

Se ao morrer o coração
morresse a luz que lhe é querida,
sem razão seria a vida,
sem razão.

Nada apaga a luz que vive
num amor, num pensamento,
porque é livre como o vento,
porque é livre.

Não há machado que corte
a raiz ao pensamento:
não há morte para o vento,
não há morte.

Se ao morrer o coração
morresse a luz que lhe é querida,
sem razão seria a vida,
sem razão.

Nada apaga a luz que vive
num amor, num pensamento,
porque é livre como o vento,
porque é livre.

Poema: Carlos de Oliveira (ligeiramente adaptado) 
Música: Manuel Freire
Intérprete: Manuel Freire (in EP “Manuel Freire canta Manuel Freire”, Tagus, 1968; LP “Dedicatória”, Tecla, 1972, reed. Tecla, 1974; livro/CD “Manuel Freire”, col. Canto & Autores, vol. 09, Levoir/Público, 2014)

No céu cinzento

[ Vampiros ]

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vem em bandos com pés veludo
Chupar o sangue fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, Eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada.

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas

São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada

Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada

Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

José Afonso

O Cantador

O cantador
chegou de madrugada,
venceu a noite
pelas praias do mar;
na sua voz
teceu uma balada:
amanhecer
que havemos de cantar.

O cantador
rasgou as nossas penas
num canto moço
que havemos de acender;
na sua voz
ergueu vilas morenas:
Maio maduro
que havemos de colher.

Ergueu cidades
sem muros nem ameias,
lançou sementes
na terra de ninguém;
cantou o sol,
rompeu nossas cadeias,
trouxe consigo
outro amigo também.

O cantador
chegou de madrugada,
venceu a noite
pelas praias do mar;
na sua voz
teceu uma balada:
amanhecer
que havemos de cantar.

O cantador
rasgou as nossas penas
num canto moço
que havemos de acender;
na sua voz
ergueu vilas morenas:
Maio maduro
que havemos de colher.

Ergueu cidades
sem muros nem ameias,
lançou sementes
na terra de ninguém;
cantou o sol,
rompeu nossas cadeias,
trouxe consigo
outro amigo também.

Letra e música: José Medeiros
Arranjo: Paulo Borges e José Medeiros
Intérprete: José Medeiros com Mariana Abrunheiro (in CD “Torna-Viagem”, Memórias/Fortes & Rangel, 2004)

O meu amor disse que vinha

[ Trova do Vento Que Passa n.º 2 ]

O meu amor disse que vinha
quando a lua viesse
A lua já acolá vem
meu amor não aparece

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que eu morro por meu país

Letra: Popular (1.ª quadra) e Manuel Alegre
Música: Adriano Correia de Oliveira
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in “O Canto e as Armas”, Orfeu, 1969; reed. Movieplay, 1997; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)

O teu silêncio de estanho

O teu silêncio de estanho
Não alimenta a esperança
De ver o mundo mudar,
De haver alguma mudança.
O teu silêncio de estanho…

O mundo ficou tão estranho
Desde que tu te calaste;
Tomara que abandonasses
O teu silêncio de estanho!
O mundo ficou tão estranho…

Foi num beco sem saída
Que procuraste um abrigo,
Onde encontraste guarida,
Tua liberdade em perigo.
Foi num beco sem saída…

Andas de cabeça baixa,
Os olhos postos no chão;
Toda a gente te rebaixa,
E agora é tarde de mais,
Esqueceste o teu irmão.
Com os olhos postos no chão…

O desespero é tamanho,
Já não se sente a fragrância
Daquela força de antanho,
Daquela antiga pujança.
O desespero é tamanho…

Já não se sente a esperança,
Desde que tu desististe,
Desde que te demitiste,
Baixaste os braços, caíste.
Já não se sente a esperança…

Foste tu é que deixaste
Aquele estranho a mandar;
Calado, inerte ficaste,
Teu destino abandonaste,
Morreste sem se notar.
Deixaste um estranho a mandar…

Liberdade, tem cuidado, que te matam!
Tem cuidado, que te matam, Liberdade!
Liberdade, tem cuidado, que te matam!
Tem cuidado, que te matam, Liberdade!
Liberdade, Liberdade, tem cuidado, que te matam!
Tem cuidado, que te matam, Liberdade, tem cuidado!
Liberdade, Liberdade, tem cuidado, que te matam!
Tem cuidado, que te matam, Liberdade!…

Liberdade, tem cuidado!
Tem cuidado, que te matam!
Liberdade, tem cuidado!
Tem cuidado, que te matam!
Liberdade, tem cuidado!
Tem cuidado, que te matam!

Andas de cabeça baixa.
Baixaste os braços, caíste.
Eles que decidam por ti.

Não queres saber do futuro,
Eles decidem por ti,
Andas perdido no escuro;
E agora cobram-te o juro,
«— Porquê? Eu já me esqueci!»,
Eles decidem por ti.

Mas quando quiseres matar
O medo e a sua lembrança
Já vai ser tarde de mais;
Vais com certeza esbarrar
No teu silêncio de estanho.

Vais com certeza esbarrar
No teu silêncio de estanho.
Vais com certeza sair
Do teu silêncio de estanho.
Vais com certeza sair
Do teu silêncio de estanho.
Vais com certeza sair
Do teu silêncio de estanho…
Vais com certeza sair
Do teu silêncio de estanho…
Vais com certeza sair…

Letra e música: Rodrigo Crespo
Intérprete: Canto Ondo (in CD “Entre o Alto do Peito e as Campainhas da Garganta”, A Monda – Associação Cultural/Canto Ondo, 2016)

Pergunto ao vento

[ Trova do Vento Que Passa ]

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Poema (excerto): Manuel Alegre
Música: António Portugal
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Trova do Vento Que Passa”, Orfeu, 1963; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)

Quando a corja topa

[ O Que Faz Falta ]

Quando a corja topa da janela
O que faz falta
Quando o pão que comes sabe a merda
O que faz falta

O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta

Quando nunca a noite foi dormida
O que faz falta
Quando a raiva nunca foi vencida
O que faz falta

O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é acordar a malta
O que faz falta

Quando nunca a infância teve infância
O que faz falta
Quando sabes que vai haver dança
O que faz falta

O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta

Quando um cão te morde uma canela
O que faz falta
Quando à esquina há sempre uma cabeça
O que faz falta

O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta

Quando um homem dorme na valeta
O que faz falta
Quando dizem que isto é tudo treta
O que faz falta

O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta

Se o patrão não vai com duas loas
O que faz falta
Se o fascista conspira na sombra
O que faz falta

O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é dar poder à malta
O que faz falta

O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta

O que faz falta é acordar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta

O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta

O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é dar poder à malta
O que faz falta

Letra e música: José Afonso
Intérprete: José Afonso (in “Coro dos Tribunais”, Orfeu, 1974; reed. Movieplay, 1987, 1996)

Quero falar-te

[ Zeca ]

Quero falar-te e o coração, de comovido,
perde as palavras que juntara para ti.
Cantar-te sei e apenas isso faz sentido.
Menino d’oiro,
vem sentar-te aqui!
Menino d’oiro,
vem sentar-te aqui!

Por todo o ano é tempo de cantar janeiras.
Mulher da erva, inda agora a vi passar.
Por mar profundo, terra e todas as fronteiras
venham mais cinco
mil p’ra te saudar.
Venham mais cinco
mil p’ra te saudar.

Pode o Sol morrer de velho,
pode o gelo arder também,
mas a voz que de ti nasce
já não morre com ninguém.

No céu cinzento, o astro mudo inda revela
um bater de asas, o disfarce do seu pé.
Bebem do sangue, comem tudo… olhai, cautela!
O que faz falta
já se sabe o que é.
O que faz falta
já se sabe o que é.

Junta-te a nós, ó bairro negro! vem, falua,
p’la noite fora até que se erga o sol de Verão!
Solta as amarras, sopra, ó vento! continua,
que este homem não
se foi embora, não!
Que este homem não
se foi embora, não!

Pode o Sol morrer de velho,
pode o gelo arder também,
mas a voz que de ti nasce
já não morre com ninguém.

Letra: Hélia Correia
Música: Janita Salomé
Intérprete: Janita Salomé [in CD “Utopia: Vitorino e Janita Salomé cantam José Afonso (ao vivo)”, Virgin/EMI-VC, 2004]

Sempre tão constante

[ Liberdade ]

Sempre tão constante
o pulsar da Liberdade
ameaçada a cada instante,
perseguida pela vaidade
em que a mentira
gera ambiguidade.

Hoje, tão desperta
como nunca, a Humanidade
é confrontada com a severa,
insidiosa impunidade…
e a indiferença
esmaga a vontade.

Ferozmente silenciadas
as Palavras necessárias
às mudanças, tão contrárias
às ideias instaladas…

Brilha,
por entre as sombras
rompe a Claridade
insubmissa,
a chama da Verdade.

Luta
por encontrar um rumo,
para cumprir-se
imaculada a Dignidade,
a insubmissa
chama da Verdade.

Letra: Teresa Salgueiro
Música: Teresa Salgueiro, Rui Lobato, Óscar Torres, Marlon Valente e Graciano Caldeira
Intérprete: Teresa Salgueiro (in CD “O Horizonte”, Teresa Salgueiro/Lemon, 2016)

Somos filhos da madrugada

[ Canto Moço ]

Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não sabemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá no cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá no cimo de uma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos p’la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa moira encantada
Vira a proa da minha barca

Letra e música: José Afonso
Intérprete: José Afonso (in “Traz Outro Amigo Também”, Orfeu, 1970; reed. Movieplay, 1987)
Outras versões: Teresa Silva Carvalho (in “Ó Rama, Ó Que Linda Rama”, Orfeu, 1977, reed. Movieplay, 1994); Vitorino e Janita Salomé (in CD “Utopia”, EMI-VC, 2004); Zé Eduardo Unit (in CD “A Jazzar no Zeca”, Clean Feed, 2004); Erva de Cheiro (in CD “Que Viva o Zeca”, Musicart, 2007)

Sonhei

[ O Madrugar de um Sonho ]

Sonhei… que já alta madrugada,
Viera a Razão armada
P’ra defender a Cidade;
Olhei… e vi que este nosso Povo
Levantara-se de novo
Aos vivas à Liberdade.

Depois…, e já de janela aberta,
Ouvi um bradar – “Alerta!” –
E o eco, p’la rua fora,
Gritou p’ra dizer com Razão pura
Que uma era de tortura
Terminava àquela hora!

Julguei ser um sonho,
Mas foi realidade;
E às vezes suponho
Que não foi verdade!

Mas se alguém disser
“Não há Liberdade!”,
Eu posso morrer
Mas não é verdade!

Saí… e vi uns homens libertos,
Todos de braços abertos…
Todos a pedir justiça!
Alguns já de saúde perdida
E com metade da vida
Em prisões de luz mortiça.

Ouvi… milhões de palmas e brados;
Trabalhadores e soldados
Vivendo a mesma euforia;
Senti… que havia um Portugal novo;
Vi tão alegre o meu povo,
Que até chorei de alegria!

Julguei ser um sonho,
Mas foi realidade;
E às vezes suponho
Que não foi verdade!

Mas se alguém disser
“Não há Liberdade!”,
Eu posso morrer
Mas não é verdade!

Mas se alguém disser
“Não há Liberdade!”,
Eu posso morrer
Mas não é verdade!

Letra e música: Frederico de Brito
Arranjo: Pedro Osório
Intérprete: Carlos do Carmo* (in LP “Álbum”, Philips/Polygram, 1980, reed. Universal Music, 2003, Universal Music, Série ’50 Anos’, 2013)

Tejo que levas as águas

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava-a de crimes espantos
de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores

Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas

Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro

Lava palácios, vivendas
casebres, bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava avenidas de vícios
vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais

Poema: Manuel da Fonseca
Música: Adriano Correia de Oliveira
Intérprete: Cantaremos Adriano (in CD “Homenagem a Adriano Correia de Oliveira: 25 anos após a sua morte”, Musicart, 2007)
Versão original: Adriano Correia de Oliveira (in “Que Nunca Mais”, Orfeu, 1975, reed. Movieplay, 1997; “Obra Completa”, Movieplay, 1994; “Vinte Anos de Canções”, Movieplay, 2001)

Venham mais cinco

Venham mais cinco
Duma assentada
Que eu pago já
Do branco ou tinto
Se o velho estica
Eu fico por cá

Se tem má pinta
Dá-lhe um apito
E põe-no a andar
De espada à cinta
Já crê que é rei
D’aquém e d’além-mar

Não me obriguem
A vir para a rua gritar
Que é já tempo
D’embalar a trouxa e zarpar

A gente ajuda
Havemos de ser mais
Eu bem sei
Mas há quem queira
Deitar abaixo
O que eu levantei

A bucha é dura
Mais dura é a razão
Que a sustém
Só nesta rusga
Não há lugar
P’rós filhos da mãe

Não me obriguem
A vir para a rua gritar
Que é já tempo
D’embalar a trouxa e zarpar

Bem me diziam
Bem me avisavam
Como era a lei
Na minha terra
Quem trepa
No coqueiro é o rei

A bucha é dura
Mais dura é a razão
Que a sustém
Só nesta rusga
Não há lugar
P’rós filhos da mãe

Não me obriguem
A vir para a rua gritar
Que é já tempo
D’embalar a trouxa e zarpar

Letra e música: José Afonso
Intérprete: Cristina Branco (in CD “Abril”, Universal Classics France, 2007)
Versão original: José Afonso (in “Venham Mais Cinco”, Orfeu, 1973; reed. Movieplay, 1987, 1996)
Outras versões: Miguel Salerno com sua Orquestra e Coros (in LP “E Depois do Adeus… e Outros Grandes Êxitos da Música Portuguesa”, Alvorada, 1974); A Turma (in EP “O Facho”, Discos Estúdio, 1975); Nana Sousa Dias (in “Ousadias”, Polydor/Polygram, 1986); Tubarões (in CD “Filhos da Madrugada Cantam José Afonso”, BMG Ariola, 1994); Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra (in CD “Em Cantos”, Movieplay, 1995); Incógnita (in CD “A Morte Saiu à Rua”, Virtual Records, 1995); Hi-Tech Ensemble (in CD “Memórias II: Versões Instrumentais”, CNM, 1995); Banda da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (in CD “Terra da Fraternidade”, C. M. de Grândola, 1999); Vozes da Terra (in CD “Tributos (ao Vivo)”, Música a Metro, 2003); Nem Truz Nem Muz (in CD “Ao Vivo”, InforArte, 2004); Mar Fora (in CD “Ao Vivo”, Mar Fora, 2004); Mário Laginha e Bernardo Sassetti (in CD “Grândolas”, MVM, 2004); Sons da Fala (in CD “Sons da Fala”, Som Livre, 2007); Milladoiro (in CD “A Quinta das Lágrimas”, Pai Música, Galiza, 2008); Grupo Vocal Canto Décimo (in CD “Conta-me Um Conto (Ao Vivo)”, Canto Décimo, 2008)

Viemos com o peso do passado

[ Liberdade ]

Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão
habitação
saúde, educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir

Sérgio Godinho

José Afonso
Zeca Afonso

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A bandinha vai tocar

A bandinha vai tocar,
muito depressa, sem parar.
Prestem muita atenção
pois os triângulos vão tocar:

Tarata tchim, tarata tchim,
Tarata tchim, tchim, tchim, tchim, tchim
.

A bandinha vai a tocar,
vai lentamente, sem parar.
Prestem muita atenção
pois os tambores vão a rufar.

Burumbumbum, burumbumbum,
burumbumbum bum bum bum bum.

Música na Pré-Escola
Música na Pré-Escola

A barata

A barata diz que tem
uma cama de marfim. (bis)
É mentira da barata,
ela dorme no jardim.
Ah ah ah, eh eh eh,
ela dorme no jardim. (bis)

A barata diz que tem
sapatinhos de fivela. (bis)
É mentira da barata,
os sapatos não são dela.
Ah ah ah, eh eh eh,
os sapatos não são dela. (bis)

A chuva

A chuva cai, cai,
a chuva cai, cai.
A chuva cai na cabeça.

A mover-se

A andar, a andar,
os patinhos vão nadar.

A correr, a correr,
os gatinhos vão comer.

A voar, a voar,
as pombinhas vão no ar.

A nadar, a nadar,
os peixinhos vão no mar.

A trotar, a trotar,
os cavalos vão ganhar.

A saltar, a saltar,
os esquilos vão brincar.

As pombinhas

As pombinhas da Cat’rina
andaram de mão em mão.
Foram ter à Quinta Nova,
ao pombal de São João.

Ao pombal de São João,
à quinta da Rosalina. (bis)
Minha mãe mandou-me à fonte
e eu parti na cantarinha. (bis)

Ao passar o ribeirinho

Ao passar o ribeirinho,
água sobe, água desce, (bis)
dei a mão ao meu amor,
não quiz que ninguém soubesse. (bis)

Se tu és o meu amor,
dá-me cá os braços teus. (bis)
Se não és o meu amor,
vai-te embora, adeus, adeus. (bis)

Cai neve

Cai neve, cai neve,
cai neve no jardim.
Branquinha cobre o chão
e então tudo é branquinho assim.

Cai chuva, cai chuva,
cai chuva no jardim! (bis)
A água cobre o chão
e então, parece um lago assim! (bis)

– Coelhinho da Páscoa
que trazes p’ra mim?
Um ovo, dois ovos,
três ovos assim. (2 v.)

– Coelhinho da Páscoa
com quem vais dançar?
Com uma menina
que saiba cantar. (2 v.)
Com uma menina

– Coelhinho da Páscoa
que lhe vais of’recer?
Um saco de amêndoas
p’ra ela comer. (2 v.)

Eu fui ao jardim celeste

Eu fui ao jardim celeste.
O que foste lá fazer…
Fui lá buscar uma rosa…
Para quem é essa rosa…
É para a menina…

Eu tenho um martelo

Eu tenho um martelo
para martelar. (bis)
Trás trás trás, trás trás trás,
eu já sei pregar. (bis)

Eu tenho uma serra
para trabalhar: (bis)
rr rr rr, rr rr rr,
eu já sei serrar. (bis)

Ignez Mazoni ]

Faz como eu

Faz assim como eu,
assim assim. (bis)

Bate o pé como eu,
assim assim. (bis)

Bate palmas como eu,
assim assim. (bis)

Dá estalinhos como eu,
assim assim. (bis)

Mexe os ombros como eu,
assim assim. (bis)

Ergue os braços como eu,
assim, assim. (bis)

Toca assim como eu,
assim, assim. (bis)

Dança assim como eu,
assim, assim. (bis)

Marcha assim como eu,
assim, assim. (bis)

Faz assim, como o Paulo…

Havia um lindo balão

Havia um lindo balão
que sempre queria voar.
Descia e subia, descia e subia
e ao céu já queria chegar.

António José Ferreira ]

Lagarto pintado

Lagarto pintado,
quem te pintou?
Foi uma velha
que aqui passou.

No tempo da eira,
fazia poeira.

Puxa, lagarto,
por aquela orelha.

ALTERNATIVA

– No campo da aldeia,
ó que poeira!
Puxa, lagarto,
por esta orelha!

Marcha soldado

Marcha soldado,
cabeça de melão.
Se não marchar’s direito,
sairás do batalhão.

O carro da Rita

O carro da Rita
rr rr rr rr rr rr rr rr rr.
O carro da Rita rr rr rr
corre pela rua.

A abelha bonita, bz bz bz,
bz bz bz, bz bz bz.
A abelha bonita, bz bz bz,
faz uma algazarra.

O Manel tinha uma bola

O Manel tinha uma bola,
mas, por falta de atenção,
lá deixou ele ir a bola
Presa aos dentes de um cão.

O Manel tinha uma bola,
mas agora não tem, não.
E a gente, a ver se o consola,
vai cantar-lhe esta canção.

Olha a laranjinha

Olha a laranjinha,
foi do chão ao ar.
O meu amorzinho
não veio ao jantar.

Não veio ao jantar,
não veio ao almoço.
Olha a laranjinha,
foi do chão ao poço.

Olha a laranjinha,
foi do chão à terra.
O meu amorzinho
é de lá da serra.

É de lá da serra,
é de lá do monte.
Olha a laranjinha,
foi do chão à fonte.

Os olhos da Joaninha,
tenho-os, eu, aqui na mão. (bis)

Os olhos da Susaninha
são negros, cor do carvão. (bis)

Que tens, canguru

Que tens canguru
nessa linda bolsinha.
Eu levo o meu filho
à sua escolinha.

– Diz lá, cangurú:
vais de carro ou a pé?
Eu vou aos saltinhos
com o meu bebé.

Gira a roda

Gira a roda, gira, gira,
gira a roda e vai girar.
Gira a roda, gira, gira,
gira a roda até parar.

Se queres ser meu amigo

Se queres ser meu amigo,
diz-me o nome.

… dá-me a mão…

… diz olá…

… diz por favor…

… diz desculpa…

… com licença…

… até logo…

Meu lindo balão

Meu lindo balão, ão, ão,
pelo ar subiu, iu, iu,
mas caiu no chão, ão, ão,
nunca mais se viu, iu, iu.

Todos os patinhos

Todos os patinhos
sabem bem nadar,
cabeça para baixo,
rabino para o ar.

Quando estão cansados,
da água vão sair.
Depois em grande fila
p’ra o ninho querem ir.

Traz traz

Traz-traz, p’ra aquecer,
bate palminhas, bate palminhas!
Traz-traz, que bem que faz.
Bate palminhas, traz-traz-traz.

Texto de M.C. Diogo

Truz-truz, p’ra aquecer
bate na mesa, bate na mesa!
Truz-truz, que bem faz.
Bate na mesa, truz-truz-truz!

Um copo com água

Um copo com água,
uma escova e pasta
p’ra lavar os dentes
é o que me basta.

‘Sfrego, ‘sfrego, ‘sfrego,
muito esfregadinho:
Com os dentes lavados,
que rico cheirinho!

Luiza da Gama Santos ]

Um dedo assim

Um dedo assim tiquitim, tiquitim,
eu mexo já já tacatá tacatá.
Um dedo assim tiquitim, tiquitim,
eu mexo já já tacatá tacatá.

Uma mão…

Um braço…

Um pé…

Uma perna…

O corpo assim….

Um elefante se balanceava

Um elefante se balanceava
sobre a teia de uma aranha.
Como ele sabia que não cairia,
foi chamar outro elefante.

Dois elefantes… Três elefantes… (…)

Dez elefantes se balanceavam
sobre a teia de uma aranha.
Como eles sabiam que já cairiam
não chamaram mais nenhum.

Na última estrofe, as notas finais são dó – dó.

Texto português de Un elefante se balanceava por António José Ferreira ]

Vamos dançar

Vamos dançar:
Começa devagar;
Depois de começar,
Não podes mais parar.

Falado:

Um dedo

Outro dedo

Uma mão

Outra mão

Um cotovelo

Outro cotovelo

Um ombro

Outro ombro

Um pé

Outro pé

Uma perna

Outra perna

A cabeça

O corpo inteiro

A ouvir

A ouvir, a tocar
que tens bom ouvido vais mostrar.
A sentir, a cheirar,
que tens bom olfato vais mostrar.
A tocar, a apalpar,
que és bom no tacto vais mostrar.
A comer, a mascar,
mostra-me que tens bom paladar.
A olhar, a piscar,
mostra a visão para o teu par.

António José Ferreira ]

Animais

Animais da terra,
animais do mar,
uns movem-se rápido,
outros devagar.

Tartaruga, vai devagar.
Tens o tempo todo p’ra chegar.
Assim tu não vais transpirar.
Tartaruga vai devagar.

Corre lebre, corre lebre,
não podes parar.
Se não corres para a meta
não irás ganhar.

António José Ferreira ]

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Meloteca, recursos musicais criativos para a infância

Meloteca, recursos musicais criativos para a infância

Cai a castanha

Cai a castanha,
é de quem a apanha;
cai a castanhinha,
talvez seja minha.
É castanha crua,
deve ser a tua;
esta é bem assada,
para a minha amada.
Esta é cozida,
é boa comida;
se é bem descascada,
não restará nada.

António José Ferreira ]

Cuida sempre da alimentação

Cuida sempre da alimentação,
come sopa, arroz e feijão.
Cuida sempre da alimentação,
come uvas, pera, melão.

Cuida sempre da alimentação,
come truta, polvo, salmão;
cuida sempre da alimentação,
bebe água até mais não.

António José Ferreira ]

Da abóbora faz melão

Da abóbora faz melão,
do melão faz melancia.
Faz dança, faz dança,
faz dança, ó Maria.

Quem quer dançar melhor,
vai à casa do José.
Ele pula, ele roda,
ele mexe bem o pé.

Trad. do Brasil ]

Eu fui ao Senhor doutor

Eu fui ao senhor doutor,
eu fui ao senhor doutor,
que me disse que eu tenho um tique,
que me disse que eu tenho um tique,
eu tenho um tique, eu tenho um tique,
tique tique, tique tique.

Eu fui ao Senhor doutor
que mandou mexer as pernas…
Eu tenho um tique,
Eu tenho um tique, tique tique, tique tique.
… mexer a anca…
… mexa os braços…
… mexa os ombros…
… mexer a cabeça…

La la, chickalileelo

La la, chickalileelo,
la la, chickalileelo.

Quem soube escutar, tocou,
quem soube escutar tocou.

Vou escolher para tocar,
aquele que sabe escutar,

Quem sabe ouvir e calar,
este tambor vai tocar.

Mãezinha

Mãezinha, querida mãezinha,
diz quando me levas a passear.
A criança pergunta então:

Mãe,
quando me levas a passear?
A mãe diz, por exemplo:

Domingo!
A criança diz com ansiedade:

Ah se já fosse Domingo….

Na segunda

Na segunda, venho à escola;
na terça, trago a sacola;
na quarta, visto a camisola;
na quinta, jogo à bola;
na sexta, fecho a escola;
no sábado, bebo coca-cola;
no domingo, toco viola.

António José Ferreira ]

Ó abre a roda

Ó abre a roda, tingolelé.
Ó abre a roda, tingolelá.
Ó abre a roda, tingolelé, tingolelé,
tingolalá.

Ó fecha a roda…

Ó gira a roda…

Ó bate o pé…

Ó dá um pulo…

Ao pé coxinho…

Ó bate palmas…

Ó dá um abraço…

Trad. do Brasil ]

Ó filho!

Ó filho, lava a cara.
Ó pai, eu já lavei.
Quando lavaste a cara?
Ó pai, eu lavei ontem.

Lavaste, lavas e lavarás. (2 v.)

Ó filho, faz a cama.
Ó pai, eu já a fiz.
Quando fizeste a cama?
Ó pai, eu já fiz ontem.

Fizeste, fazes e farás. (2 v.)

Ó filho, arruma o quarto.
Ó pai, já arrumei.
Quando arrumaste o quarto?
Ó pai, arrumei ontem.

Arrumaste, arrumas e arrumarás. (2 v.)

Ó filho, põe a mesa.
Ó pai, eu já a pus.
Quando puseste a mesa.
Ó pai, eu já pus ontem.

Puseste, pões e porás. (2v.)

Ó filho, come a sopa.
Ó pai, eu já comi.
Quando comeste a sopa?
Ó pai, eu comi ontem.

Comeste, comes e comerás. (2 v.)

Ó filho, lava os dentes.
Ó pai, eu já lavei.
Quando lavaste os dentes?
Ó pai, eu lavei ontem.

Lavaste, lavas e lavarás. (2v.)

António José Ferreira ]

O maestro manda

O maestro manda
tocar um ritmo. (2 v.)
O maestro manda
fazer estalos. (2 v.)
O maestro manda
bater nos ombros. (2 v.)
O maestro manda
bater as palmas. (2 v.)
O maestro manda
bater nas pernas. (2 v.)
O maestro manda
bater o pé. (2 v.)

Olha o bichinho

Olha o bichinho
que está no meio.
Deixai-o ‘star,
‘stá a dormir, ‘stá a descansar,
vem agora ó bichinho,
anda ‘scolher o teu par.

Papá Pinguim

Papá pinguim, papá pinguim,
eu sou o papá pinguim, pois sim.
e se és um bom filho,
vem atrás de mim.

Para a frente, para trás

Para a frente, para trás,
é assim que a gente faz.
Para trás, para a frente,
é assim que faz a gente

Para um lado, para o outro;
esta dança sabe-me a pouco.
Para baixo, para cima;
é a dança da minha prima.

Para cima, para baixo;
que em breve damos despacho.
Para o lado, ao pé cochinho.
Aguenta mais um pouquinho.

Mãos nas ancas a dançar
que esta moda vais recordar.

António José Ferreira ]

Saltam castanhas

Salta uma, saltam duas,
três castanhas a estalar.
Dá-me uma, dá-me duas,
dá-me outra p’rò meu par.

António José Ferreira ]

Se eu for doutor

Se eu for doutor,
cuidarei bem do Senhor.
Se eu for enfermeira,
‘starei sempre à tua beira.
Se eu for pianista,
vou tocar como um artista.
Se eu for costureira,
farei roupas de primeira.
Se eu for bombeiro,
chegarei sempre em primeiro.
Se eu for bombeiro,
chegarei sempre em primeiro.
Se eu cozinheira,
farei pratos à maneira.

António José Ferreira ]

Animais

Animais da terra,
animais do mar,
uns movem-se rápido,
outros devagar.

Tartaruga, vai devagar.
Tens o tempo todo p’ra chegar.
Assim tu não vais transpirar.
Tartaruga vai devagar.

Corre lebre, corre lebre,
não podes parar.
Se não corres para a meta
não irás ganhar.

António José Ferreira ]

Tenho uma vassoura

Tenho uma vassoura,
vassoura com magia.
Ela me transporta
de noite e de dia.

Imaginação, imaginação…

Monstros e vampiros
e múmias e aranhas;
bruxas e fantasmas,
e músicas estranhas.

António José Ferreira ]

Uma pipoca

Uma pipoca a estourar numa panela,
vem logo outra e começa a responder.
Aí começa um tremendo falatório
e já ninguém se consegue entender.

É tal o ploc,
plo-ploc ploc ploc.
É tal o ploc,
plo-ploc ploc ploc.

Trad. do Brasil ]

Vamos lá cantar

Vamos lá cantar,
rir e festejar.
Ao nosso amigo Carlos
um abraço vamos dar.

Parabéns!
Parabéns!
Ao nosso amigo Carlos
um abraço vamos dar.
Oh yeah!
Um abraço!
Mais uma vez!

António José Ferreira ]

Vamos parar e escutar

Vamos parar e escutar.
Vamos ouvir o João a tocar.

Vamos parar e escutar.
Vamos ouvir as meninas a tocar.

Vamos parar e escutar.
Vamos ouvir os rapazes a tocar.

Vamos parar e escutar.
Vamos ouvir toda a turma a tocar.

António José Ferreira

Vou no carro azul

Vou no carro azul,
vou de férias para o sul.

Vou no carro azul,
vou a casa do Raúl.

Ponho sempre o cinto.

Meto a primeira.

Ando para a frente.

Ando para trás.

Viro à direita.

Viro à esquerda.

Paro no vermelho.

António José Ferreira ]

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Criança tocando jambé
Criança tocando jambé

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A bola bate e passa

A bola bate e passa,
ao ritmo da canção.
Agarra bem a bola
e não a largues, não!

A bola bate e passa
marcando a pulsação.
Cuidado com a bola
não vá rolar p’lo chão.

António José Ferreira ]

Bate os pés

Bate os pés no chão.
Sente o ritmo,
sente o ritmo da canção

Bate mãos nas perninhas,
p’ra ficarem,
p’ra ficarem mais quentinhas.

Bate as mãos no peito.
para vermos,
para vermos quem tem jeito.

‘Sfrega, ‘sfrega a barriga.
Quem não ‘sfrega
come sopa de formiga.

‘Sconde, esconde a cara.
Se está suja,
assim já ninguém repara.

Lava, lava a cara
Se está suja,
se está suja alguém repara.

Passa as mãos nas costas
e confessa,
e confessa que até gostas.

António José Ferreira ]

Como é bom tocar

Como é bom tocar!
Que grande animação!
Uns batem com o pé,
outros batem com a mão!

Como é bom tocar
ao ritmo da canção.
Ficamos mais amigos,
faz-nos bem ao coração.

António José Ferreira ]

Eu toco o meu tamborim

Eu toco o meu tamborim.
Tu podes cantar p’ra mim.

Bom bom beribom bom bom.
Bom bom, beribom bom bom!

António José Ferreira ]

Fazer música

Fazer música contigo
é uma grande animação,
a tocar um instrumento,
a cantar uma canção.

Fazer música contigo
dá-me grande alegria!
Torna a escola colorida
e diverte o meu dia.

António José Ferreira ]

Há castanhas

Há castanhas a estalar
e com elas vou saltar.

Há castanhas a estourar
e com elas vou pular.

Há castanhas a assar
para eu saborear.

António José Ferreira ]

Sente o som

Sente o ritmo que há nos teus pés.
Sente o som escondido nos teus pés.

Sente o ritmo que há nas tuas mãos.
Sente o som escondido em tuas mãos.

Sente o ritmo que há nas tuas pernas.
Sente o som escondido em tuas pernas.

Sente o ritmo que há nos teus ombros.
Sente o som escondido em teus ombros.

Sente o ritmo que há no teu corpo.
Sente o som escondido em teu corpo.

Tenho um robô

Refrão:
Tenho um robô
que me deu o meu avô.

Bate com um pé.
Com o outro pé.

Bate com a mão.
Com a outra mão.

Roda a cabeça.
Ergue a cabeça.

Toca como eu

Toca
como eu!
Quem imita
aprendeu!

Toca
como eu!
Quem se enganou
perdeu!

António José Ferreira ]

Toco eu, tocas tu

Toco eu, tocas tu,
toda a turma acompanha.
Toco eu, tocas tu
um estalo de castanha.

António José Ferreira ]

Um, dois, compro uns bois

Um, dois,
compro uns bois;
três, quatro,
compro um fato;
cinco, seis,
compro pastéis;
sete, oito,
compro biscoito.
nove, dez,
compro jambés.

António José Ferreira ]

Uma pipoca

Uma pipoca estoirava na panela
e eu agora vou fazer igual a ela.
Fazemos ploc ploc ploc.
Fazemos ploc ploc ploc.

Uso as mãos

Uso as mãos para tocar,
nunca para magoar.

Uso as mãos para acenar
nunca para arranhar.

Uso as mãos para limpar,
nunca estragar.

António José Ferreira ]

Vamos parar

Vamos parar
e escutar.
Vamos ouvir
o João a tocar.

Vamos parar
e escutar.
Vamos ouvir
as meninas a tocar.

Vamos parar
e escutar.
Vamos ouvir
os rapazes a tocar.

Vamos parar
e escutar.
Vamos ouvir
toda a turma a tocar.

António José Ferreira ]

Criança a tocar jambé
Criança a tocar jambé

Canções de roda

Letras

A viuvinha está triste

[ Jogo da Viuvinha ]

A viuvinha está triste
Que lhe morreu seu marido
Não tem quem lhe aqueça a cama
Anda com o sono perdido.

A Senhora Viuvinha
Com quem é que quer casar
É com o Senhor da Alemanha
Ou com o Senhor General.

Eu não quero esses homens
Que eles não são para mim
Eu sou uma pobre viúva
Ninguém tem dó de mim

Tradicional da Madeira ]

Ai, eu entrei na roda

Ai, eu entrei na roda.
Ai, eu não sei como se dança.
Ai, eu entrei na “rodadança”.
Ai, eu não sei dançar.

Sete e sete são quatorze,
com mais sete, vinte e um.
Tenho sete namorados
só posso casar com um.

Namorei um rapazinho
do colégio militar.
O diabo do garoto,
só queria me beijar.

Todo mundo se admira
de a macaca fazer renda.
Eu já vi uma perua
ser caixeira de uma venda.

Lá vai uma, lá vão duas,
lá vão três pela terceira.
Lá se vai o meu benzinho,
de avião para a Madeira.

Essa noite tive um sonho
que chupava picolé
Acordei de madrugada,
chupando dedo do pé.

Tradicional do Brasil ]

Cai, cai, balão

Cai, cai, balão, cai, cai, balão
Aqui na minha mão.
Não cai, não, não cai, não, não cai, não,
Cai na rua do Sabão.

Tradicional do Brasil ]

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. 

Contacto

António José Ferreira
962 942 759

Ciranda

Ciranda, cirandinha,
Vamos todos cirandar.
Vamos dar a meia-volta,
Volta e meia vamos dar.

O anel que tu me deste
Era de vidro e quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e acabou.

Por isso, colega Ana,
Entre dentro desta roda.
Diga um verso bem bonito,
Diga adeus e vá-se embora.

Escravos de Jó

Escravos de Jó
Jogavam caxangá.
Tira, bota, deixa ficar.
Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-zá.
Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-zá.

Tradicional do Brasil ]

Ó condessa

[ Condessinha de Aragão ]

Ó condessa, ó condessinha,
Ó condessa de Aragão,
Venho pedir-te uma filha
Destas três que aqui estão.

Minhas filhas não as dou,
Nem por ouro nem por prata,
Nem por sangue de zaragata
Que me custou a criar
Com a ponta da minha agulha
E com o rabo do meu dedal.

Ai que contente que eu vinha,
Que triste me vou achar!
Pedi a filha à condessa,
Condessa não ma quis dar.

Volta atrás ó cavaleiro
Se fores homem de bem
Entra aqui no meu chiqueiro
E escolhe a que for capaz.

Esta quero, esta levo
Por seres a minha condessa
Que me come o pão da cesta
E o vinho da Calheta.

Tradicional da Madeira ]

Olha a Rosa

Olha a Rosa amarela, Rosa
Tão Formosa, tão bela, Rosa
Olha a Rosa amarela, Rosa
Tão Formosa, tão bela, Rosa

Iá-iá meu lenço, ô Iá-iá
Para me enxugar, ô Iá-iá
Esta despedida, ô Iá-iá
Já me fez chorar, ô Iá-iá

Vai correndo o lindo anel

Vai correndo o lindo anel,
corre, voa, sem parar.
Onde está, onde se encontra?
Quem o pode adivinhar?!

Quem o pode adivinhar,
se é que não adivinhou?
Onde pára o lindo anel
que da minha mão voou?!

T. Nogueira ]

Vai de galho em galho

Vai de galho em galho
Vai de flor em flor
Vai de braço dado
Vai de braço dado mais o seu amor.

Muito chorei eu num Domingo à tarde
Aqui este meu lenço
Aqui está o meu lenço que fala a verdade.

Ah, seu ladrão, seu ladrão manjerico
Não queiras ficar
Não queiras ficar na praia sozito.

Na praia sozito não hei-de eu ficar
Eu hei-de ir à roda
Eu hei-de ir à roda escolher meu par.

Tradicional da Madeira ]

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A barca virou

A barca virou,
deixá-la virar.
A menina Júlia
não sabe remar.

Se eu fosse um peixinho,
sabia nadar.
Tirava a Júlia
do fundo do mar.

A pomba caiu ao mar

A pomba caiu ao mar,
a pomba ao mar caiu.
A pomba caiu ao mar,
agarrei a pomba
e lá me fugiu. (bis)

A rola caiu ao rio,
a rola ao rio caiu.
A rola caiu ao rio,
agarrei a rola
e lá me fugiu. (bis)

O cuco caiu ao rio,
o cuco ao rio caiu.
O cuco caiu ao rio,
agarrei o cuco
e lá me fugiu. (bis)

Trad. adapt. ]

Ai, ai, ai, minha machadinha

Ai, ai, ai,
minha machadinha, (bis)
quem te pôs a mão
sabendo que és minha? (bis)

Sabendo que és minha,
também eu sou tua. (bis)
Salta machadinha
para o meio da rua. (bis)

Lá p’rò meio da rua
não hei-de eu saltar. (bis)
Eu hei-de ir à roda
escolher o meu par. (bis)

As mulheres do monte,
quando vão à vila,
levam cestos de ovos,
galinhas em cima.

Duma vez, a uma,
caiu-lhe a cestinha.
Quebraram-se os ovos,
fugiu-lhe a galinha.

Chegando ao Outeiro:
“Pira, pira, pira.”
Quanto mais chamava,
mais ela fugia.

Trad. ]

Ao belo sol d’oiro

Ao belo sol d’oiro
que é loiro balão,
já toca o besoiro
no seu rabecão.

E logo a compasso
a clara cigarra
ameiga o espaço,
tocando guitarra.

Moscardo esperto
zumbindo mais fino
ajuda ao concerto
tocando violino.

Mosquitos vibrando
mil asas inquietas
alegram o bando
tocando trombetas.

O solo é do grilo,
cantor e poeta:
Lá baila, ao seu trilo,
a flor-borboleta.

E a música erguida
p’ra os céus não tem fim!
Que festa! Que vida
sorri no jardim!

A. M. Couto Viana ]

Barqueiro

Barqueiro, deita o barco ao Mira,
barqueiro vamos navegar,
mas olha se o barco vira
lá no meio do Mira:
eu não sei nadar.

Se tu soubesses, amigo,
se tu soubesses nadar,
deitava-se o barco ao rio,
eu e tu, amigo, íamos navegar!

Trad. ]

Bóia

Bóia, bóia binha
que faz assim assim
Ora agora a costureira
a fazer assim, assim.

… cozinheira…

… motorista…

… bombeiro…

Trad. ]

Borboleta do pomar

Borboleta do pomar,
poisa aqui, poisa acolá.
Quem te pudesse apanhar!
Coisa mais linda não há!

Sem cessar, a borboleta
bate as asas de cetim,
sempre alegre, sempre inquieta,
a voar assim, assim.

Helena Maria Maia Malta ]

Castanhas

Castanhas, castanhas,
assadinhas com sal,
quentinhas, quentinhas,
que não te façam mal.

Saltitam, crepitam,
toma lá e dá cá.
São Martinho sem sol
e sem castanhas não há.

Dó ré mi fá sol

Dó ré mi fá sol,
olha o caracol.
Dó ré mi fá sol,
deitadinho ao sol.

A a a a a,
quá quá quá quá quá.

E e e e e,
mé mé mé mé mé.

I i i i i,
Gri gri gri gri gri.

O o o o o,
Có có có có có.

U u u u u,
glu glu glu glu glu.

Eu queria unir as pedras desavindas

[ Não Me Mintas ]

Eu queria unir as pedras desavindas
escoras do meu mundo movediço
aquelas duas pedras perfeitas e lindas
das quais eu nasci forte e inteiriço

Eu queria ter amarra nesse cais
para quando o mar ameaçar a minha proa
e queria vencer todos os vendavais
que se erguem quando o diabo se assoa

Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber por que dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais

Conta-me os teus truques e fintas
Será que os Nikes fazem voar
Diz-me o que sabes não me mintas
ao menos em ti posso confiar

Agora diz-me agora o que aprendeste
De tanto saltar muros e fronteiras
Olha p’ra mim vê como cresceste
Com a força bruta das trepadeiras

Põe aqui a mão e sente o deserto
Tão cheio de culpas que não são minhas
E ainda que nada à volta bata certo
eu juro ganhar o jogo sem espinhas

Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber por que dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais

Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Intérprete: Rui Veloso (in filme “Jaime”, de António Pedro Vasconcelos, 1999; CD “O Melhor de Rui Veloso”, EMI-VC, 2000)

Lá vai uma

Lá vai uma, lá vão duas,
três pombinhas a voar.
Uma é minha, outra é tua,
outra é de quem a apanhar.

A criada lá de cima
é feita de papelão.
Quando vai fazer a cama
diz assim para o patrão:

Sete e sete são catorze,
com mais sete, vinte e um.
Tenho sete namorados
e não gosto de nenhum.

Na mochila guardei

Na mochila guardei
meia dúzia de castanhas.
De tão quentes que estão,
‘inda queimo a minha mão!

Vou dá-las ao pai,
vou dá-las à mãe,
castanhas quentinhas
que cheiram tão bem.

O Outono, ao voltar,
a todos vai dar
castanhas assadas
no lume a estalar.

Luiza da Gama Santos ]

No alto daquela serra

No alto daquela serra (2v.)
está um lenço,
está um lenço a acenar.

‘Stá dizendo viva, viva, (bis)
morra, morra,
morra quem não sabe amar. (bis)

Trad. ]

Papagaio loiro

Papagaio loiro
de bico doirado,
leva-me esta carta
para o outro lado.

Para o outro lado,
Para a outra margem,
Papagaio loiro
De linda plumagem.

Salta o canguru

Salta o canguru,
gosta de saltar.
Salta com o filho
e com o seu par.

Coça o chimpazé,
gosta de coçar.
Quando alguém começa,
já não quer parar.

Senhora Dona Anica

Senhora Dona Anica
venha abaixo ao seu jardim.
Venha ver as lavadeiras
a fazer assim, assim.

… venha ver as costureiras…

… venha ver os carpinteiros…

… venha ver as cozinheiras…

… venha ver os motoristas…

6 … venha ver os professores…

… venha ver os jornalistas…

Sim, não

Sim, não; sim, não.
Grande, pequeno; gigante, anão.
Sim, não; sim, não.
Aqui, acolá; no cimo no chão.
Sim, não; sim, não.
Menino risonho; menino chorão.

Excertos de Patrícia Joyce,
Romance da Gata Preta, Sociedade de Expressão Cultural ]

Caracol

Caracol, vai devagarinho,
não tens de pagar o carrinho.
Prova do que houver no caminho.
Caracol, vai devagarinho.

Leopardo, vai a correr,
que os teus filhos querem comer
e já não há tempo a perder.
Leopardo, vai a correr.

António José Ferreira ]

Tenho um castelo

Tenho um castelo
matarelorelorelo.
Tenho um castelo
matarelorelorão, jim bão.

Onde estão as chaves
matarelorelorelo.
Onde estão as chaves,
matarelorelorão, jim bão.

No fundo do mar…

Quem vai lá buscá-las…

É a menina Catarina…

Tenho um pião

Pião
Pião

Tenho um pião,
gosto de o lançar
e fica, fica
a rodopiar.

Gira que gira
o meu pião.
Gira na palma
da minha mão.

Tenho uma maraca

Tenho uma maraca
e a quem vou dá-la?
É para o Carlos
que adora tocá-la.

António José Ferreira ]

Torradinhas

Torradinhas com manteiga
como logo de manhã.
Come o primo, como eu,
o papá e a mamã.

António José Ferreira ]

Uma laranja

Uma laranja, duas laranjas,
ai três laranjas num raminho.
Uma laranja, duas laranjas,
ai para dar ao meu benzinho.

Ai, para dar ao meu benzinho,
ai, para dar à minha avó.
Uma laranja, duas laranjas,
ai, três laranjas num pé só.

Uma vez uma pastora

Uma vez uma pastora,
Larau-larau-larito.
Com o leite do seu gado,
mandou fazer um queijito.

Mas o gato espreitava,
larau, larau, larito,
mas o gato espreitava
com sentido no queijito.

E aqui metia a pata,
larau, larau, larito,
e aqui metia a pata
e além o focinhito.

A pastora, de zangada,
larau, larau, larito,
a pastora de zangada
castigou o seu gatito.

E aqui termina a estória,
larau, larau, larito,
e aqui termina a estória
da pastora e do gatito.