Ao som de uma caixa de música, acordou João Ao lado do berço um corpo caído, desilusão A casa vazia e no ar um cheiro a solidão Para lá da janela uma visão tão estranha O que terá acontecido?
Como um pássaro que saiu do ninho e esvoaçou João deu a medo alguns passos pelo quarto e sem querer Debruçou o corpo sobre o chão morno e adormeceu Talvez p’ra dormir o seu último sono E o que fica a dizer de…?
João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de mal e de bem João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de realidade
Uma brisa estranha chegou de repente, com sabor a fim E uma noite fria caiu sobre os restos do auge do poder Entre o tudo e o nada ficou uma sombra, uma recordação Talvez algum dia alguém venha a perguntar: “O que terá acontecido?”
Um manto de fumo cobriu a cidade, em forma de adeus Talvez p’ra apagar a última imagem guardada da Terra A tocar no meio do deserto plantado a caixinha ficou Testemunha ingénua das glórias já findas E das marcas da vida
João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de mal e de bem João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de realidade
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha* (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa) Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha com João Pedro Pais (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019) Versão original: Peace Makers (in single “Caixinha de Música / Recordação de Hiroshima”, Victória Records, 1988) Outra versão: Quadrilha (in CD “Deixa Que Aconteça: Ao Vivo”, Vachier & Associados/Ovação, 2006)
Ai que bom
[ Tango Poluído ]
Ai que bom, que bom que é! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que viver em poluição!
Aos domingos, no Verão, Lá vou eu, de madrugada, Recompor-me da saúde Nas praias da Cruz Quebrada.
Banhando-me ao pé do esgoto, Respirando os seus odores, Ao chegar o fim do dia Vou p’ra casa com mais cores.
Fui um dia p’rà montanha E passei um mau bocado Respirando o tal ar puro, Quase morri sufocado.
Fiquei logo com os pulmões A pedir por caridade O cheiro a óleo queimado Que respiro na cidade.
Ai que bom, que bom que é! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que viver em poluição!
Não me venhas com a conversa Das comidas naturais, Dás-me cabo dos tomates Com esses sermões papais.
O frango só com hormonas, Salsichas só enlatadas, Peixinho só do Barreiro E frutas bem sulfatadas.
Há p’ra aí quem diga mal Da nossa Televisão, Mas dela já não me passo P’rà minha cultivação: Vinte e cinco horas por dia De cultura e informação
Poluindo a consciência, Tudo a Bem da Nação. Ai que bueno, que bueno! Ai que grande reinação!
Não há no mundo melhor Que viver em poluição! Vi um tal da ecologia Gritando como um possesso Contra a bomba nuclear, Contra a bomba do progresso.
Fiz-lhe ver que estava errado, Pois não há nada mais belo Nem há morte mais limpinha Que o quente do cogumelo.
Disse-me um da intervenção: “Lá estás tu com essa mania, A cantar o tango assim Estás a imitar o Letria”.
Mas eu estou certo e seguro Que o Jôjô não leva a mal, Embora ele tenha a patente Do tango em Portugal.
Ai que bom, que bom que é! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que viver em poluição!
Ai que bueno, que bueno! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que morrer em poluição!
Letra e música: Luís Cília Intérprete: Luís Cília (in LP “Marginal”, Diapasão/Sassetti, 1981)
Poluição
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacto
António José Ferreira 962 942 759
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2023/05/poluicao-pixabay.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2023-05-02 20:56:042024-11-13 11:15:43Canções e Ecologia
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
A ciência que o mar tem Não tem nada de pasmar: Não há regato nem rio Que ao mar não vá parar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre com Janita Salomé (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre com Janita Salomé (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
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Horas mortas
[ Árvores do Alentejo ]
Horas mortas… Curvada aos pés do Monte A planície é um brasido… e, torturadas, As árvores sangrentas, revoltadas, Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte A oiro a giesta, a arder, pelas estradas, Esfíngicas, recortam desgrenhadas Os trágicos perfis do horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram, Almas iguais à minha, almas que imploram Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede: – Também ando a gritar, morta de sede, Pedindo a Deus a minha gota de água!
Poema: Florbela Espanca (in “Charneca em Flor”, 1930) Música: Teresa silva Carvalho Intérprete: Teresa silva Carvalho (in CD “Teresa Silva Carvalho: O Melhor dos Melhores”, vol. 35, Movieplay, 1994) Também recitado por Eunice Muñoz
Luz que actua
[ Gaia de Saia ]
Luz que actua, Lua cheia em ti, faz querer viver mais Expões o corpo receptivo à noite, dons de fértil musa
Iluminar põe o clima a subir, noite de clara Lua Numa dança de saia rodada a sorrir, que essa tua vida é tua
Mãe dos homens que gera vida e luz Gaia Deusa, musa, Mulher nua Não se tomba, não se deixa cair Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua
Mãos de força vergam o tempo a teimar, a lutar sem desistir Tais direitos nem se devem questionar, direito a se expressar
Ser um ventre e um colo protector, e voluntária na sua dor Ser mulher é existir entre os iguais, é resistir muito mais
Mãe dos homens que gera vida e luz Gaia Deusa, musa, Mulher nua Não se tomba, nem se deixa cair Que essa tua vida é tua, vida é tua
Mãe dos homens que gera vida e luz Gaia Deusa, Mulher nua Não se tomba, nem se deixa cair Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua
Letra e música: Luís Pucarinho Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Quero sempre ver as estrelas
Quero sempre ver as estrelas Todo o mundo a navegar Quer sempre ver o Sol E o brilho do teu olhar
Corre, corre, maré alta Correm rios e oceanos Cresce a erva na ribeira Fazem ninhos todos os anos
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Voam bandos ao entardecer Garças brancas e o algravão Pássaros cheios de esperança O riozinho e o espigão
Quero ouvir sempre o marulho E as tempestades de Inverno Quero ouvir sempre os sinos E o silêncio que é eterno
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Letra: José Francisco Vieira Música: Ana Figueiras e José Francisco Vieira Intérprete: Flor de Sal (in CD “Flor de Sal”, José Francisco Vieira & Ana Figueiras/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Quero ver o que a terra me dá
[ Cantiga da Terra ]
Quero ver o que a terra me dá ao romper desta manhã: o poejo, o milho e o araçá, a videira e a maçã.
Ó mãe-d’água, ó mãe de chuvas mil, já não quero teu aguaceiro; quero ver a luz do mês de Abril e a folia ao terreiro.
E vou colher inhames e limões, hortelã e alecrim; e vou cantar charambas e canções, p’ra te ver ao pé de mim.
E os requebros deste teu bailar, quero ser o cantador; e vou saudar a várzea desse olhar, ao compasso do tambor.
E vou colher inhames e limões, hortelã e alecrim; e vou cantar charambas e canções, p’ra te ver ao pé de mim.
E os requebros deste teu bailar, quero ser o cantador; e vou saudar a várzea desse olhar, ao compasso do tambor.
Letra e música: José Medeiros (1988 – para a série ficcional “O Barco e o Sonho”, RTP-Açores, 1989) Intérprete: Musica Nostra (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009) Versão original: José Medeiros (in 2LP “O Barco e o Sonho | Balada do Atlântico | Xailes Negros”: LP 2, Philips/Polygram, 1989; CD “7 Anos de Música”, 2.ª edição, DisRego, 1992)
Laurissilva madeirense
Terra mãe
[ Terra Global ]
Terra mãe que me viu nascer Cheia de encantos à beira do mar Tem água e sede de vencer Tem desertos de mágoa Lá longe há outra terra Esquecida no tempo Enquanto há tempo, nunca é tarde demais Nos sentimentos somos todos iguais Enquanto há esperança e o sonho não morrer Haja mudança que a terra vai renascer Cresci entre o amor e o perdão Sempre vi o mundo no horizonte A minha terra é o meu coração Que ama, grita e sente Lá longe há outra gente Que sofre em silêncio Enquanto há tempo, nunca é tarde demais Nos sentimentos somos todos iguais Enquanto há esperança e o sonho não morrer Haja mudança que a terra vai renascer Enquanto há tempo, nunca é tarde demais Nos sentimentos somos todos iguais Enquanto há esperança e o sonho não morrer Haja mudança que a terra vai renascer
Letra: Samuel Lopes Música: João Lopes Intérprete: Citânia Versão original: Citânia (in Livro/CD “Segredos do Mar”, Seven Muses, 2011)
Verdes são os campos
[ Verdes São os Campos ]
Verdes são os campos, Da cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração.
Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes;
De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração.
Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração.
Poema (excerto): Luís de Camões Música: José Afonso Intérprete: José Afonso (in “Traz Outro Amigo Também”, Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1987; CD “Poesia Encantada”, vol. 2, EMI-VC, 2004) Outra versão: Teresa Silva Carvalho (in “Ó Rama, Ó Que Linda Rama”, Orfeu, 1977, reed. Movieplay, 1994)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/05/terra-planeta.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-12 18:10:262024-11-13 11:16:14Canções sobre a terra
A luz revela as cores da manhã e o rio espelha a sombra da cidade. O Outono vai roubando, pouco a pouco, a claridade. Desprendem-se as folhas bailando no ar, ao sabor da brisa. Um cheiro a castanhas perfuma a praça, o voo das pombas seduz quem passa. Ao longe há um cromatismo, de cores que vai vestindo de amarelo os plátanos. Junto à margem dissipa-se a neblina, é mais um dia frio de Novembro. Há no Outono suaves melodias, há uma voz aconchegando os dias, há palavras… rasgando as madrugadas.
Letra e música: Fernando Dias Marques Arranjo: Fernando Marques, Steve Fernandes e Jorge Correia Intérprete: Fernando Marques Ensemble (in CD “(des)Encontros”, Fernando Marques Ensemble, 2016)
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Águas passadas do rio
[ Balada do Outono ]
Águas passadas do rio Meu sono vazio Não vão acordar Águas das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto a cantar
Rios que vão dar ao mar Deixem meus olhos secar Águas das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto a cantar
Águas das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto a cantar Águas das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto a cantar
Águas do rio correndo Poentes morrendo P’rás bandas do mar Águas das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto a cantar
Rios que vão dar ao mar Deixem meus olhos secar Águas das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto a cantar
Águas das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto a cantar Águas das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto a cantar
Letra e música: José Afonso Intérprete: José Afonso (in “Fados de Coimbra e Outras Canções”, Orfeu, 1981, reed. Movieplay, 1987) Versão original: José Afonso (in EP “Balada do Outono”, Rapsódia, 1960; CD “Os Vampiros”, Edisco, 1987) Versão instrumental: Rui Pato – viola (in “Baladas e Canções”, de José Afonso, Ofir, 1967; reed. EMI-VC, 1997)
As folhas dançam desvairadas no ar
[ Valsa do Outono em Novembro ]
As folhas dançam desvairadas no ar Bailado ao vento, canção de embalar Valsinha triste num coreto vazio Regresso à infância e começo A ter frio, a ter frio…
Ainda me lembro do baloiço do jardim Da chuva no Outono que caía só p’ra mim Que céus de Novembro? Que lugares obscuros corrompem A esperança nos dias futuros?
Bem sei que ando no meio do temporal À espera da paz prometida do Natal! Bem sei que ando no meio do temporal À espera da paz prometida do Natal!
Memórias dispersas, vertigens, fragmentos Estilhaços da vida nos meus pensamentos Que céus de Novembro? Que lugares obscuros corrompem A esperança nos dias futuros?
Bem sei que ando no meio do temporal À espera da paz prometida do Natal!
Que céus de Novembro? Que lugares obscuros corrompem A esperança nos dias futuros?
Bem sei que ando no meio do temporal À espera da paz prometida do Natal!
Da paz prometida do Natal! Da paz prometida do Natal! Da paz prometida do Natal! Da paz prometida do Natal! Da paz prometida do Natal! Da paz prometida do Natal! Da paz prometida do Natal! Da paz prometida do Natal!
Letra e música: Paulo Ribeiro Intérprete: Paulo Ribeiro (in CD “No Silêncio das Casas”, Heaven Sound, 2012)
Chegou bem devagarinho
[ A Chegada de Maria ]
Chegou bem devagarinho Pé-ante-pé de mansinho Mas de vez. Entre beijos e afagos Nem dei conta dos estragos Que ela fez. Do beco fez avenida Deu um cheiro à minha vida De jasmim. Foi o melro na janela Já não sei viver sem ela E dou por mim, Cantando assim:
Agora que a luz do Outono Já chegou E um par de olhos por um outro Se encantou Corre, meu coração, corre À desfilada Que eu não creio que tu corras Para nada Que eu não creio que tu corras Para nada
Sem agravo nem apelo Assaltou o meu castelo E o tomou. Chegou-se p’rá minha beira Com olhos de feiticeira Me encantou. Seus lábios, minha alegria Sua pele tão macia De cetim. Não há coisa mais amada E numa doce toada Eu dou por mim, Cantando assim:
Agora que a luz do Outono Já chegou E um par de olhos por um outro Se encantou Corre, meu coração, corre À desfilada Que eu sei bem que tu não corres Para nada Que eu sei bem que tu não corres Para nada
Sem agravo nem apelo Assaltou o meu castelo E o tomou. Chegou-se p’rá minha beira Com olhos de feiticeira Me encantou. Seus lábios, minha alegria Sua pele tão macia De cetim. Não há coisa mais amada E numa doce toada Eu dou por mim, Cantando assim:
Agora que a luz do Outono Já chegou E um par de olhos por um outro Se encantou Corre, meu coração, corre À desfilada Que eu sei bem que tu não corres Para nada Que eu sei bem que tu não corres Para nada
Agora que a luz do Outono Já chegou E um par de olhos por um outro Se encantou Corre, meu coração, corre À desfilada Que eu sei bem que tu não corres Para nada Que eu sei bem que tu não corres Para nada
Letra e música: Aníbal Raposo (Dezembro de 2001) Intérprete: Aníbal Raposo Versão original: Aníbal Raposo (in CD “A Palavra e o Canto”, Açor/Emiliano Toste, 2005)
Foi numa tarde de Outono
[ Tarde de Outono ]
Foi numa tarde de Outono, Soprava o vento do sul Nessa praia ao abandono Numa imensidão de azul.
Nuvens negras como breu Cobriram o céu, Escureceram o mar; Vento forte, solidão, Ondas turbilhão, Nasce o temporal.
Barcos que cedem ao vento, Gritos dispersos, lamentos; Foi sinfonia Que o vento inventou, Na praia vazia Nem um ser ficou.
Quando te vi, eu pensei Que era uma visão Perdida do Além; Era, porém, uma estrela Rasgando horizontes, Criando outro céu.
Barcos que cedem ao vento, Gritos dispersos, lamentos; Foi sinfonia Que o vento inventou, Na praia vazia Nem um ser ficou.
Letra e música: Paco Bandeira (Francisco Veredas Bandeiras) Arranjo: Jorge Machado Intérprete: Maria da Glória (in single “Tarde de Outono”, Decca/VC, 1972; reed. digital: Edições Valentim de Carvalho, 2021)
Poema ao Vento
[ Balada de Outono ]
Poema ao vento Com as crinas delirantes! Outono lento Com os sonhos bem distantes! Meu Sol sangrando em agonia, Meu corpo amando Um farrapo de poesia.
Folhas de Outubro Sobre Setembro: – Mãos que descubro Sem saber do que me lembro… Meu barco atado Ao cais da vida; Lenço bordado Que aceno em despedida.
Tudo sereno Neste mar em maresia: Um cheiro a feno Vai na onda da poesia Nas mãos da tarde – Em concha pura Um corpo arde De espanto e de ternura.
Eis o Outono Correndo à chuva! Com ar de sono E seu pranto de viúva… Tudo cinzento. Mágoa levada No movimento Desta garça abandonada.
Longo tormento Que Novembro acarreta: Poema dentro Da barriga do poeta. Minha placenta, Sem ter idade, Que não rebenta Este grito de saudade.
Que parto ameno De mim deriva? – Meu filho pleno, Meu amor em carne viva; Meu sangue e carne, Criado e dono; Folha da tarde Que caiu no meu Outono.
Poema: Álamo de Oliveira Música: Aníbal Raposo Intérprete: Aníbal Raposo* (in CD “A Palavra e o Canto”, Açor/Emiliano Toste, 2006)
Vento que traz nostalgia
[ Outono na Cidade ]
Vento que traz nostalgia D’um amor perdido Nas ruas da vida, Sombras e melancolia, Um adeus sentido De mulher esquecida. Nas folhas da esperança Caídas sem dono, Há passos de criança: É Outono!
Outono na cidade Tem gosto de saudade: É terna despedida que não esquece, É doce melodia Que vem no fim do dia Que o Sol – bom e doirado – ainda aquece.
Cai a folha – folha nua –, Chuva d’oiro molhando a rua: Outono na cidade, Que fria claridade! Sorriso que desce da Lua!
Gente que corre apressada Na manhã brumosa, Sonolenta e fria; Vida que sonha acordada A canção formosa, Luz do meio-dia. No azul infindo O povo bem sente O teu adeus, tão lindo, Sol poente!
Cai a folha – folha nua –, Chuva d’oiro molhando a rua: Outono na cidade, Que fria claridade! Sorriso que desce da Lua!
Letra: Ferro Rodrigues e Fernando Santos Música: Carlos Dias Intérprete: Max (in EP “Tingo Lingo Lingo”, Decca/VC, 1962; CD “O Melhor de Max: Vol. 2”, EMI-VC, 1993; CD “Max: Essencial”, Edições Valentim de Carvalho/CNM, 2014)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/09/outono.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 06:00:472024-11-13 04:32:00Canções de Outono
A roupa do marinheiro Não é lavada no rio: É lavada no mar alto À sombra do seu navio. Não é lavada no rio.
Sereias que há no mar longe Não queiram o meu amor, Que eu deixei em terra firme Um peito a chorar de dor. Não queiram o meu amor.
Penso em ti nos sete mares, Juntos onde o vento for; Tu não és como a figueira Que dá fruto sem dar flor. Juntos onde o vento for.
Espera por mim que eu volto! Estão os campos por lavrar E assim fica a nossa vida Presa a uma vela no mar. Estão os campos por lavrar.
Letra e música: Popular (Minho) Arranjo e orquestração: António Prata Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014) Primeira versão [?]: Grupo de Cantares de Manhouce (in LP “Aboio”, EMI-VC, 1984)
Ronda dos Quatro Caminhos
Aos olhos do mar
Aos olhos do mar vestido de bruma se ouve o rumor da ave a planar
Aos olhos do mar Aos olhos do mar
Aos olhos do mar o som da maré a brisa e o sal se cruzam no ar
Aos olhos do mar Aos olhos do mar
Aos olhos do mar a lua e a noite afagam nas rochas a cor do luar
Aos olhos do mar Aos olhos do mar
Letra e música: Jorge Cravo Intérprete: Jorge Cravo e o Grupo Presença de Coimbra (in CD “Canções d’Inquietude”, Numérica, 2005)
Reciclanda
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Bamo lá ber
Bamo lá ber! Vamos lá ver! Bamo lá ber! Vamos lá ver!…
Vamos lá ver! Bamo lá ber! Vamos lá ver! Bamo lá ber!…
Vinha o barco, lá pela ria; Acostou com maré vazia. Vinha o pargo, Vinha a lula, Vinha o sargo E o peixe-lua.
Veio a gente para comprar O que a rede trouxe do mar. Trouxe um polvo, Uma cavala Mais uma bóia E uma sandália.
Veio o povo para comprar; Viu o peixe a saltitar. Salta o choco E a faneca Mais a sarda Para a água.
Vai o homem nos arraiais, Que a venda não se faz mais. Foi-se o peixe, Foi-se o pão… Mas que sorte! Maldição!
Volta p’ró mar, ó pescador! Sai no barco, com teu labor! Já não há mais, Acabou. Lá se foi, Que ele esgotou.
Vem para terra, com tua barca! Vende covos, com tua marca! Faz um sorriso P’ra o turista Que o tempo da faina acabou!
Letra e música: Carlos Norton Intérprete: OrBlua (in Livro/CD “Retratos Cinéticos”, Fungo Azul/Ocarina, 2015)
Brota a água
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura, De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
A ciência que o mar tem Não tem nada de pasmar: Não há regato nem rio Que ao mar não vá parar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura, De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura, De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre com Janita Salomé (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre, com Janita Salomé (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Dentro de um búzio
[ Dessa Ilha ]
dentro de um búzio cabe todo o mar dentro desse mar cabem milhares de búzios muitos desses búzios servem p’ra jogar passam na cabeça cabem num colar nessa ilha posso lhe escutar o som que faço soar
dentro da cabeça uma multidão onde o mar começa onde acaba o chão fora de um corpo cabe todo o ar respirar um pouco já é tanto dessa ilha posso partilhar só o som que canto
Letra: Arnaldo Antunes Música: Danças Ocultas Intérprete: Danças Ocultas com Dora Morelenbaum (in CD “Dentro Desse Mar”, Danças Ocultas/Sony Music, 2018)
Em ti a navegar
[ Barca Catraia ]
Em ti a navegar Na barca, pescador, Ardentia no mar, Ancorado amor.
À proa levado Teu nome escrevi, Riso afogado No sal que escorri.
Vento abraçado Que me leva a voz; Reverso cantado O que me traz à foz.
Seja vela alva A que vai e que vem E a barca salva Das tormentas que tem.
Vestida de redes Por mim adornada, Desejos e sedes Na vaga salgada.
Entranhas doridas E golpes nos dedos; Amantes queridas, Rasgados segredos.
Espero, catraia, Navegando em ti: Da barca não caia Nem nos ais que ouvi!
Seja vela alva A que vai e que vem E a barca salva Das tormentas que tem.
Letra e música: Lindolfo Paiva Intérprete: Dialecto* Versão original: Dialecto (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)
Embarcados
[ Marcha Ingénua ]
Embarcados p’rás tormentas Com fartura d’incertezas: Adeus, cais da felicidade! Lá vão barcas portuguesas…
Oh! Enganadoras luas, Trópico de Capricórnio, Madrastas de bode preto, Enteadas do demónio!
Oh! Império de má memória, Dos cães de fila da moda!
Voa, vai, negra andorinha! Pede à minha namorada Dê notícias de Lisboa, Das praças livres, dos cravos, Das saudades que lhe tenho De vê-la subir a rua… A cantar a tal cantiga: Primavera não esquecida!
Voa, vai, negra andorinha! Pede à minha namorada Dê notícias de Lisboa, Das praças livres, dos cravos, Das saudades que lhe tenho De vê-la subir a rua… A cantar a tal cantiga: Primavera não esquecida!
Das saudades que lhe tenho De vê-la subir a rua… A cantar a tal cantiga: Primavera não esquecida!
Letra e música: Vitorino Salomé Intérprete: Vitorino (in LP “Flor de la Mar”, EMI-VC, 1983, reed. EMI-VC, 1992, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2008; CD “As Mais Bonitas”, EMI-VC, 1993, EMI Music Portugal, 2012; 3CD “Tudo”: CD 2 – “Lisboa”, EMI Music Portugal, 2005)
Eu nasci nalgum lugar
[ O Mar Fala de Ti ]
Intérprete: Mafalda Arnauth
Foi a maré que te trouxe
[ Quando o Mar nos Leva o Fado ]
Foi a maré que te trouxe, foi o mar que te levou: o nosso amor afogou-se, nenhum de nós se salvou.
Só ficou a maresia: tudo o resto foi levado, como fica a poesia quando o mar nos leva o fado.
Nesses instantes de medo, a Mouraria discreta guarda a guitarra em segredo na viela mais secreta.
E nem mesmo a maresia tem licença p’ra entrar no bairro da Mouraria quando alguém está a cantar.
Noutros bairros ribeirinhos, onde há cheiro de marés, chegam barcos pobrezinhos: trazem fados no convés.
O nosso amor afogou-se de tanto eu o ter chorado: não sei dizer quem o trouxe, mas quem o leva é o Fado.
Letra: Tiago Torres da Silva Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado Bailarico) Intérprete: Cristina Nóbrega Versão original: Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014)
Cristina Nóbrega
Foram-se as cores
[ Canto Trágico dos Corvos de São Vicente ]
Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro…
Madrugada de outono passou rente ao promontório; Beijou o vento o mar que abraçava o rochedo: Dia de nascer uma tragédia, Maldição há muito amaldiçoada; O casco esventrado solta o monstro No manto da besta do negrume.
Soprou amargo e revolto, trazido na maré; Vestia negro e dançava, como seda sobre a água: Esmaga e volta a atormentar o mar Nos teus braços da asfixia! Salta, corvo, da tua barca Alertar quem te desconhecia!
Já não esvoaçam aromas, só do fumo do negreiro; Foge o riso do sorriso, fica a alma abandonada: Fecha portas e portadas! Lá fora, morte sem canção; Lenta, espalha a tua calma, Tenebrosa desolação!
Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro. Foram-se as cores embora; Na solidão sopra um negro…
Vai lá ver quem se matou, ou se algum ainda sobrou, Que o negro tudo cobre nessa lenta agonia! Tempo de partir, abandonar; Lamentar a grande tentação; Longa, a negra noite veio Tudo adormecer.
Letra e música: Carlos Norton Intérprete: OrBlua (in Livro/CD “Retratos Cinéticos”, Fungo Azul/Ocarina, 2015)
Fui bailar
[ Canção do mar ]
Composição: Frederico de Brito / Ferrer Trindade Intérprete: Dulce Pontes
Gaivotas em terra
Gaivotas em terra, de asas fechadas; marujos sem rumo, num banco dum bar; barcaças dormentes, no cais ancoradas; meninas morenas que pensam casar…
Preciso é que voem, que batam as asas; preciso é que deixem as altas janelas; preciso é que saiam as portas das casas; preciso é que soltem amarras e velas…
As asas são duas, se acaso uma ave quiser cortar céu, lançar-se no ar… A barca só voga, se a brisa suave quiser, ternamente, casá-la com o mar…
Marujos sozinhos, pensando outro mundo; meninas em casa, fiando desejo… Preciso é que cruzem seu olhar profundo; preciso é que colem as bocas num beijo!
Mãos de marinheiro não temem procelas, se houver outras mãos, p’ra além vendaval, rezando por ele e tecendo outras velas mais brancas, mais belas, do seu enxoval!
Letra: Mascarenhas Barreto Música: António dos Santos Intérprete: António dos Santos (1968) (in CD “O Melhor de António dos Santos”, EMI-VC, 1992)
Mar, espuma
[ Canção do Marinheiro ]
Mar, espuma, céus e nuvens, Sargaço, peixes, gaivotas… Eis aqui os agiotas Que cercam o nosso balcão! Já vês, portanto – fragata: Por falta de compradores, Nem mesmo nossos amores Nos saem do coração.
Ai menina!… Tu não sabes Quanto é bom ser marinheiro! E ficar com um ar trigueiro Por aventuras no mar!
Mas isso foi até quando Virei no bordo de terra, E te avistei e disse – ferra! Mas era tarde, bati… Ao choque da pedra dura Saltou-me do leme a cana; Perdi logo a tramontana, O casco só não perdi…
Ai menina!… Tu não sabes Quanto é bom ser marinheiro! E ficar com um ar trigueiro Por aventuras no mar!
Tem pena de mim, sereia! Já que não posso em teu porto Achar o mesmo conforto Que outrora no mar achei… A nado põe o meu barco, Que eu logo e logo outro rumo Só de guindola e sem prumo, Te juro, demandarei!
Ai menina!… Tu não sabes Quanto é bom ser marinheiro! E ficar com um ar trigueiro Por aventuras no mar! [bis]
Por aventuras no mar! Por aventuras no mar!
Letra: Caetano Filgueiras Música: José Barros Arranjo: José Manuel David Intérprete: Navegante (in CD “Meu Bem, Meu Mal”, Tradisom, 2008)
Mar
Mar! Tinhas um nome que ninguém temia: Era um campo macio de lavrar Ou qualquer sugestão que apetecia…
Mar! Tinhas um choro de quem sofre tanto Que não pode calar-se, nem gritar, Nem aumentar nem sufocar o pranto…
Mar! Fomos então a ti cheios de amor! E o fingido lameiro, a soluçar, Afogava o arado e o lavrador!
Mar! Enganosa sereia rouca e triste! Foste tu quem nos veio namorar, E foste tu depois que nos traíste!
Mar! E quando terá fim o sofrimento! E quando deixará de nos tentar O teu encantamento!
Poema: Miguel Torga (in “Poemas Ibéricos – História Trágico-Marítima”, 1965; “Poesia Completa”, 2000) Música: ? Intérprete: João Braga (in CD “Fado Fado”, BMG Portugal, 1997)
Meu amor foi marinheiro
[ Novo Mar ]
Meu amor foi marinheiro Navegou de lés a lés Enfrentou o mar inteiro Ventos e marés
Mas um dia desistiu De embarcar no mar de tanta perdição E o seu navio Só cruza agora o meu coração
Meu amor audaz e forte Resistiu aos temporais E nunca perdeu o norte Chegou sempre ao cais
Meu amor correu o mundo Até esteve em muitas terras de ninguém Foi vagabundo Mas já não vive nesse vai e vem
Mil e uma histórias Que ele tem pra me contar, E eu dou-lhe memórias Do futuro, eu sou seu novo mar…
Meu amor foi marinheiro, Navegou de sol a sol Enfrentou o mar inteiro Sem qualquer farol
Ele em cada noite escura Inventava tantos raios de luar E agora jura Sou seu rumo e o seu novo mar
Mantém-se a miragem E o prazer de navegar Mas nesta viagem Eu sou seu rumo…. Eu sou seu novo mar
Letra: Fernando Gomes Música: Valter Rolo Intérprete: Catarina Rocha
Meu nome é nome de Mar
[ Nome de Mar ]
Intérprete: Maria Ana Bobone
O fado nasceu um dia
[ Mar Português ]
Intérprete: Sara Correia
O mar a salgar-nos a vida
[ Quem Anda ao Mar ]
O mar a salgar-nos a vida E a vida sem sal O vento a empurrar-nos a alma Contra o temporal Mas quando o destino Foi tudo o que herdámos Dos nossos avós É tão pouca a sorte O vento é tão forte Que há-de ser de nós?
As mãos presas na corrente O tempo a passar O mar a gastar-nos os anos E o medo a ficar No fundo das águas Descansam mil mágoas Do nosso sofrer A manhã clareia A rede vem cheia Que mais posso eu querer?
Quem anda ao mar Não tem dia, não tem hora Nunca sabe quando chega Nem quando se vai embora
Os dias são como as ondas É o mesmo vai-e-vem O mar é como a saudade Não poupa ninguém No vazio da praia Esvoaça uma saia Cor negra a sofrer Que se a calma vaga Que a manhã me traga A alegria de o ver
Quem anda ao mar Não tem dia, não tem hora Nunca sabe quando chega Nem quando se vai embora
Dizem que o mar também chora E é como um barco sem ter farol Chora p’la Lua que se foi embora Como uma louca, atrás do Sol E às vezes as fúrias são tantas Que não há ninguém que as possa acalmar A não ser a alma daqueles que andam ao mar
Quem anda ao mar Não tem dia, não tem hora Nunca sabe quando chega Nem quando se vai embora
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha com Tim (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019) Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997) Outra versão: Quadrilha (in CD “Deixa Que Aconteça: Ao Vivo”, Vachier & Associados/Ovação, 2006)
O mar não é de ninguém
[ Ninguém É Dono do Mar ]
O mar não é de ninguém Ninguém é dono do mar Nem aqueles que lá sabem navegar
Se eu um dia não voltar Desenha o meu nome no chão Pede um desejo às ondas do mar E guarda-o na tua mão
Sempre que a noite vier Quando não houver luar Dá o desejo a uma onda qualquer E pede-lhe p’ra eu voltar
Trago o destino das águas No aguardar dos rochedos Dizem que o tempo é que apaga as mágoas Quem será que apaga os medos?
O mar não é de ninguém Ninguém é dono do mar Nem aqueles que lá sabem navegar
E se depois eu vier Foi porque o mar te escutou Deixa os sorrisos correrem p’la praia Que o temporal acabou
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017) Versão original: Quadrilha (in CD “Quarto Crescente”, Vachier & Associados/Ovação, 1999) Outra versão de Quadrilha (in CD “Deixa Que Aconteça: Ao Vivo”, Vachier & Associados/Ovação, 2006)
O mar a salgar-nos a vida
[ Quem anda ao mar ]
O mar a salgar-nos a vida E a vida sem sal O vento a empurrar-nos a alma Contra o temporal Mas quando o destino Foi tudo o que herdámos Dos nossos avós É tão pouca a sorte O vento é tão forte Que há-de ser de nós?
As mãos presas na corrente O tempo a passar O mar a gastar-nos os ano E o medo a ficar No fundo das águas Descansam mil mágoas Do nosso sofrer A manhã clareia A rede vem cheia Que mais posso eu querer?
Quem anda ao mar Não tem dia, não tem hora Nunca sabe quando chega Nem quando se vai embora
Os dias são como as ondas É o mesmo vai-e-vem O mar é como a saudade Não poupa ninguém No vazio da praia Esvoaça uma saia Cor negra a sofrer Que se a calma vaga Que a manhã me traga A alegria de o ver
Quem anda ao mar Não tem dia, não tem hora Nunca sabe quando chega Nem quando se vai embora
Dizem que o mar também chora E é como um barco sem ter farol Chora p’la Lua que se foi embora Como uma louca, atrás do Sol E às vezes as fúrias são tantas Que não há ninguém que as possa acalmar A não ser a alma daqueles que andam ao mar
Quem anda ao mar Não tem dia, não tem hora Nunca sabe quando chega Nem quando se vai embora
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha com Tim (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019) Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997) Outra versão: Quadrilha (in CD “Deixa Que Aconteça: Ao Vivo”, Vachier & Associados/Ovação, 2006)
Sebastião Antunes
Oh Mar revolto
[ Náufrago (Mar Revolto) ]
Oh Mar revolto, Levas tanta gente Que de ti traz paz e sustento! Levas esperança, medos, vendavais Trazes a dor distante de um cais
Oh Mar profundo Das Almas esquecidas De quem sofre em terra perdas e vidas! Perder de vista o destino de um lar Irei p’ra longe, há ir e voltar
Oh Mar sem fim De sonhos perdidos De mágoas, de lutas e rumos sofridos! Noites perdidas e ventos fortes Noites esquecidas, vidas e mortes
Letra: José Francisco Vieira Música: José Francisco Vieira, Paulo Machado, João Vieira Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)
João Frade, Marenostrum
Os búzios soam
[ Segredos do Mar (Mistiká tis Thalassas) ]
Os búzios soam o ritmo das marés A preia-mar dá à costa uma carta de amor Da minha janela vejo um navio a passar Um marinheiro lá bem longe diz adeus
A Lua guarda eternos segredos Mais profanos da nossa paixão O Mar liberta e solta os medos Que se escondem no teu coração
A carta dizia amor vou partir Oxalá um dia te volte a encontrar No sorriso da lua vejo o teu coração Ainda sinto o teu cheiro na brisa do mar
A Lua guarda eternos segredos Mais profanos da nossa paixão O Mar liberta e solta os medos Que se escondem no teu coração
Letra e música: Samuel Lopes Intérprete: Citânia Versão original: Citânia com Maria Zogopoulou & Vitorino (in Livro/CD “Segredos do Mar”, Seven Muses, 2011)
Reina grande confusão
[ Os Novos Anjos (ao Zeca Afonso) ]
Reina grande confusão No céu pelos corredores; Os anjos querem trocar Asas por computadores; Chegam todos aos magotes, Há já quem fale em reforma; Estão cansados de voar, Só querem agenciar.
O Senhor Arcanjo, No meio do mar, Fez das asas barco Para navegar; [bis] Fez dos braços remos, Vai correndo mundo; Bóia, coração, Que o barco vai ao fundo! O barco vai ao fundo!
Vêm uns deitá-lo abaixo, Outros louvar-lhe o passado; Estivesse morto ou lá perto Teria um preço mais certo! Canta o gaio já cansado, O dia chegou ao fim: Uns vão p’ra casa dormir, Outros vão assim, assim!
O Senhor Arcanjo, No meio do mar, Fez das asas barco Para navegar; [bis] Fez dos braços remos, Vai correndo mundo; Bóia, coração, Que o barco vai ao fundo! O barco vai ao fundo!
E o Senhor Arcanjo, No meio do mar, Fez das asas barco Para navegar; Fez dos braços remos, Vai correndo mundo; Bóia, coração, Que o barco vai ao fundo! O barco vai ao fundo!
Letra e música: Amélia Muge Intérprete: Amélia Muge (in CD “Todos os Dias”, Columbia/Sony Música, 1994)
Sou Barco
Sou barco abandonado Na praia ao pé do mar E os pensamentos são Meninos a brincar.
Ei-lo que salta bravo E a onda verde-escura Desfaz-se em trigo De raiva e amargura.
Ouço o fragor da vaga Sempre a bater ao fundo, Escrevo, leio, penso, Passeio neste mundo De seis passos E o mar a bater ao fundo.
Agora é todo azul, Com barras de cinzento, E logo é verde, verde, Seu brando chamamento.
Ó mar, venha a onda forte Por cima do areal E os barcos abandonados Voltarão a Portugal.
Poema: António Borges Coelho (in “Roseira Verde”, Lisboa: Edição do autor, 1962) Música: Luís Cília Intérprete: Luís Cília (in LP “Portugal-Angola: Chants de Lutte”, Le Chant du Monde, 1964)
Tão bonita és
[ Música de Mar ]
Tão bonita és, tão bonita estás, tão bonita és, como vais? Paro p’ra te ver para lá do olhar e param-me as mãos a pensar.
Tão pura, tão simples, tão meiga de ouvir: canto de embalar e dormir, eixo ribaldeixo como a cantilena que tu soletraste em pequena.
Tão bonita és, tão bonita estás, tão bonita és, como vais? Quando nos invades, quando nos tormentas, risos, choros, silêncios inventas.
Música e amante mal te conheci, três vidas num instante vivi; música de mar que nas ondas vem toca-me nos dedos também!
Tão bonita és, tão bonita estás, tão bonita és, como vais? Como hei-de compor, como hei-de cantar tanto qu’inda tens p’ra me dar?
Como uma criança canta a tabuada e junta três sons encantada, assim te encontramos a ti, melodia, nós que cinzentamos o dia.
Tão bonita és, tão bonita estás, tão bonita és, como vais? Viril, feminina, velhota ou senhora, riso de menina e doutora.
Nua te despi, nua te deixei e entre sol e lua cantei. Como poderemos nós falar de ti se andamos tão longe e tu aqui?!
Poema: Pedro Barroso Música: Imanol (Manuel Eusebio Larzábal Goñi, 1947-2004) Intérprete: Pedro Barroso (in LP “Pedro Barroso”, Schiu!/Transmédia, 1988)
Tem mil anos uma história
[ Sete Mares ]
Tem mil anos uma história De viver a navegar Há mil anos de memórias a contar Ai, cidade à beira-mar Azul
Se os mares são só sete Há mais terra do que mar… Voltarei amor com a força da maré Ai, cidade à beira-mar Ao sul
Hoje Num vento do norte Fogo de outra sorte Sigo para o sul Sete mares
Foram tantas as tormentas Que tivemos de enfrentar… Chegarei amor na volta da maré Ai, troquei-te por um mar Ao sul
Hoje Num vento do norte Fogo de outra sorte Sigo para o sul Sete mares
Letra: Francisco Menezes Música: Sétima Legião Intérprete: Sétima Legião (in “Mar d’Outubro”, EMI-VC, 1987; reed. 1988)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/11/mar.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 05:53:362024-11-13 04:48:28Canções do mar
Letra e música: José Afonso Intérprete: José Afonso (in “Venham Mais Cinco”, Orfeu, 1973; reed. Movieplay, 1987)
A formiga no carreiro vinha em sentido contrário, caiu ao Tejo ao pé dum septuagenário.
Larpou, trepou às tábuas que flutuavam nas águas e de cima duma delas virou-se p’ró formigueiro: “Mudem de rumo! Já lá vem outro carreiro.”
A formiga no carreiro vinha em sentido diferente. Caiu à rua no meio de toda a gente, buliu, abriu as gâmbias para trepar às varandas e de cima duma delas virou-se pró formigueiro: “Mudem de rumo! Já lá vem outro carreiro.”
A formiga no carreiro andava à roda da vida. Caiu em cima Duma espinhela caída furou, furou à brava numa cova que ali estava e de cima duma delas virou-se pró formigueiro: “Mudem de rumo! Já lá vem outro carreiro.”
Formiga
Com as pernas já cansadas
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
Com as pernas já cansadas e a barriga tão vazia, a raposa viu uns cachos e deu pulos de alegria.
Tentava apanhar as uvas, mas cansava-se em vão e a alegria que tivera tornou-se desilusão.
Enganando-se a si mesma por já não conseguir tê-las, disse então que eram verdes, só cães podiam comê-las.
Mas quando, ao ir-se embora, ouviu um leve ruído, voltou-se com a esperança de um bago ter caído.
Dias a fio andou
[ O Pulo do Lobo ]
Dias a fio andou Por andar chegou Em chegando viu E então sorriu A sorrir pensou Por pensar agiu Ao agir falou
“Diz-me andorinha, Deste voo teu, Se é dança ou feitiço, Se me emprestas a vertigem Dessa queda livre Do teu voo raso Desse baile alado Sim?”
E saltou, Ao saltar tremeu A tremer subiu Por subir desceu E então caiu, A cair bateu Ao bater sentiu, Ao sentir pensou
“Diz-me andorinha, Sentes como eu? O poder da terra Na torrente, rodopio Estilhaço o corpo Num grito calado Sob um manto de água Não?”
Letra e música: Manuel Maio Intérprete: A Presença das Formigas* (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)
Durante todo o Verão
António José Ferreira Adaptado da fábula “A cigarra e a formiga”
Durante todo o Verão, que bem cantou a cigarra; de dia, ‘stava na praia, à noite, ia para a farra.
Ficou no campo a formiga, pensando no seu celeiro. O esforço do seu trabalho, rendeu-lhe um bom mealheiro.
O Inverno só trouxe frio e nada para comer: à porta do formigueiro foi a cigarra bater.
– Durante todo o verão cantei p’ra te alegrar: dá-me um pouco de comida para eu poder jantar.
– Enquanto te divertias, eu ‘stava a trabalhar. Cantavas todos os dias, agora vai lá dançar.
Eu sou o cão D. Pantaleão
Letra e música: José Barata Moura
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
– Tenho um barbeiro e uma criada, um casaco e uma almofada! – E eu cá não tenho nada!
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
– Tenho uma casa aquecida, boa cama e comida! – Não é lá muito boa a minha vida…
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
– Tenho sombrinha e cachecol, luvas e chapéu mole! – Eu cá tanto ando à chuva como ao sol.
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
– Tenho uma coleira amarela, que parece uma estrela! – Mas eu cá não gosto da trela!
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
Intérprete: José Barata Moura
Havia um pescador
Texto: António José Ferreira
Havia um pescador, um pescador havia.
Um dia foi à pesca, foi fraca a pescaria.
Pescou só um peixinho, levou-o à Maria.
Quando chegou a casa, ouviu o que não queria.
– Se fosse um peixe grande, que almoço não daria!
– O peixe é pequenino e muito cresceria!
José pegou no balde, deitou o peixe à ria.
Lamentava-se o pavão
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
Lamentava-se o pavão de não cantar nada bem, de não ter a voz bonita que o rouxinol sempre tem.
– Não reclames – disse Deus -, pavãozinho despeitado! Não vês que, p’las tuas cores, és famoso em todo o lado?
Cada um tem seu encanto: a águia tem a coragem, o melro tem o seu canto, o pavão rica plumagem.
A ave compreendeu: não se podia queixar. Ninguém é perfeito em tudo, em tudo há que se alegrar.
Muitas nozes e avelãs
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
Muitas nozes e avelãs tinha o Senhor Esquilo: lembrou-se de partilhar alguns frutos do seu silo.
Pegou na melhor bandeja, para as nozes of’recer, e mandou o seu filhote ao vizinho, a correr.
Quando viram a bandeja os olhos do seu vizinho, nem se lembraram das nozes of’recidas com carinho.
Nem o esquilo viu de volta a bandeja preferida, nem na casa do vizinho houve prenda parecida.
No meio de uma floresta
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
No meio de uma floresta, um veado adoeceu. Um grupo dos seus amigos foi ver o que aconteceu.
Foram para socorrê-lo, ou talvez o consolar, para cumprir o dever de o amigo ajudar.
No fim da sua visita, tiveram um bom repasto: e da erva do veado, quase não deixaram rasto.
Com pouco alimento perto, aquele velho veado, morreu ainda mais cedo, infeliz, esfomeado.
No ramo de um arbusto
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
No ramo de um arbusto, o corvo mostrava um queijo: a raposa aproximou-se atraída p’lo desejo.
Muito esperta, a raposa passou a elogiar o corvo, as suas penas e o canto, e até a forma de andar.
Cego pelo seu orgulho, o corvo pôs-se a cantar: o queijo caiu do bico e à raposa foi parar.
O leão, o rei da selva
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
O leão, o rei da selva, perdeu forças e poder: tornou-se apenas um velho preparado p’ra morrer.
Os burros davam-lhe coices e os lobos davam dentadas; gazelas faziam troça e os bois davam cornadas.
Mal conseguia rugir o cansado rei leão: chegara a hora de os fracos lhe poderem dizer não.
Um dia, o Senhor Lobo
António José Ferreira
Um dia, o Senhor Lobo que andava a passear, avistou o Capuchinho e foi logo perguntar:
– Aonde vais, ó menina, com essa linda cestinha? – Vou levar um bolo e mel à minha rica avozinha.
Mais depressa foi o lobo à casa da avozinha enquanto ia praticando falar com voz de netinha.
(Alguém bate à porta)
– Quem está a bater à porta? – É a tua qu’rida netinha. – Ai meu Deus, é o lobo mau. – Não te como, avozinha.
(Entretanto, o Capuchinho Vermelho chega a casa da avó e vai ter com ela. )
– Que grandes são os teus olhos! – São para te observar! – Que grande é o teu nariz! – É p’ra melhor te cheirar!
– Que fofas as tuas mãos! – São p’ra melhor te tocar! – Que grande é a tua boca! – É p’ra melhor te beijar!
Os deuses da Grécia antiga
António José Ferreira
Os deuses da Grécia antiga eram gente como nós: casavam-se, tinham filhos, não gostavam de estar sós.
Plim plim (lira)
Zeus, o grande pai dos deuses, do Olimpo era o Senhor. Era casado com Hera, que tinha muito amor.
Saxapum (pratos)
Os deuses de antigamente contavam-se por dezenas. Do Olimpo adoravam ver os jogos em Atenas.
Te te te (trombeta)
Poseidon, irmão de Zeus, era o rei dos oceanos. Se fazia tempestades assustavam-se os humanos.
Tum tum (tambor)
Artémis, filha de Zeus, protegia os animais. Bebia néctar puro como seus irmãos e pais.
Té té té té (trombeta)
Deméter, irmã de Zeus, passou por muita aventura. Gostava muito de plantas, protegia a agricultura.
Fi fi fi (flauta)
Um pescador foi à pesca
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
1. Um pescador foi à pesca com vontade de pescar todo o peixe que pudesse para comer ao jantar.
2. Pescou cinco bons robalos, e apanhou uma enguia que lhe encheram a sacola e lhe deram alegria.
3. Viu, por fim, um robalinho preso no anzol, a chorar: – Sou ainda muito novo, não darei grande manjar.
4. – Mais vale um peixe no saco que um cardume a nadar. – Mas, se pescas todo o peixe, que vais amanhã pescar?
5. O pescador quis levá-la, mas a tempo percebeu: – Se não há peixes no rio, amanhã, que pesco eu?
Uma rã, que era vaidosa
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
1. Uma rã, que era vaidosa, viu no campo uma vitela, admirou o seu tamanho e quis ser igual a ela.
2. Deixou logo o seu charquinho, começou a engordar, tanto era o seu desejo de à vitela se igualar.
3. A rã perguntava às outras se já era grande e bela, mas estava muito longe do tamanho da vitela.
4. Tanto a rã inchou de inveja que um dia rebentou: não foi uma rã feliz nem à vaca se igualou.
Uma vez, uma pastora
1. Uma vez, uma pastora, larau, larau, larito, com o leite do seu gado mandou fazer um queijito.
Mas o gato espreitava, larau, larau, larito, mas o gato espreitava com sentido no queijito.
E aqui metia a pata larau, larau, larito, e aqui metia a pata e além o focinhito.
A pastora, de zangada, larau, larau, larito, a pastora de zangada castigou o seu gatito.
E aqui termina a estória, larau, larau, larito, e aqui termina a estória da pastora e do queijito.
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/05/formiga.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 05:25:082023-05-02 21:18:47Canções com fábulas
De fragrâncias feiticeiras, este aroma que há em mim é p’ra carícias ligeiras, para dedos de cetim.
Manjerico – eu sou assim, eu sou flor que se não cheira, mas perfuma a noite inteira; Sou mais doce que o jasmim.
Dá-me um afago de mão e depois acaricia quem mais queiras, e confia que eu lhe aqueço o coração.
[ Jasmim: ]
Não sei se vivo se é sonho, tem brilho doce de estrela, tem luz e cor e eu componho a minh’alma só por ela.
Algo entre brisa e perfume passa tão perto de mim: é coisa entre flor e lume, um improvável jasmim.
Não sei se vivo se é sonho, tem brilho doce de estrela, tem luz e cor e eu componho a minh’alma só por ela.
Algo entre brisa e perfume passa tão perto de mim: é coisa entre flor e lume, um improvável jasmim.
Letra: Afonso Dias (“Manjerico”) e Maria da Conceição Silveira (“Jasmim”) Música: Afonso Dias Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
De rosa branca ao peito
[ Rosa Branca ]
De Rosa ao peito na roda Eu bailei com quem calhou Tantas voltas dei bailando Que a rosa se desfolhou
Quem tem, quem tem Amor a seu jeito Colha a rosa branca Ponha a rosa ao peito
Ó roseira, roseirinha Roseira do meu jardim Se de rosas gostas tanto Porque não gostas de mim?
Autores: José de Jesus Guimarães/Resende Dias Intérprete: Mariza
Dizer-te namorada
[ Teu Nome Simplesmente ]
Dizer-te namorada será pouco, Chamar-te companheira não me basta; Quisera dar-te um nome bem mais louco Porque a palavra amante já está gasta.
Teu nome é um sorriso na manhã, Uma rima de sol na minha mão, Que sabe a Primavera e a romã Com travo de hortelã e de limão.
Quisera amor-perfeito, minha amiga, Chamar-te verde nome: Alecrim! Mas tu, além de flor, és a cantiga No chão deste poema que há em mim.
Assim eu gasto os dias à procura De um nome que não seja feito à toa, E com palavras gastas de ternura Chamo-te, simplesmente, só Lisboa!
Letra: Mário Rainho Música: José Fontes Rocha Intérprete: Joana Amendoeira (in CD “Amor Mais Perfeito: Tributo a José Fontes Rocha”, CNM, 2012) Versão original: Maria Armanda (in LP/CD “Simplesmente”, Discossete, 1991)
Maria Armanda, Simplesmente
Eu vi a buganvília
[ Buganvília ]
Eu vi a buganvília a dançar na ventania a trepar numa janela Eu vi a buganvília entre o acender da lua e o encanto da manhã
Eu vi a buganvília de noite junto ao lago a molhar o seu sorriso Sonhara que morrera nos ramos da buganvília nos tons do seu vestido
Eu vi a buganvília a fazer do teu vermelho um bordado marinheiro Quando encontras o sol no branco da cal te pões de amarelo
Quando encontras o sol no branco da cal…
Eu vi a buganvília a dançar na ventania a trepar numa janela Eu vi a buganvília entre o acender da lua e o encanto da manhã
Eu vi a buganvília de noite junto ao lago a molhar o seu sorriso Sonhara que morrera nos ramos da buganvília nos tons do seu vestido
Eu vi a buganvília a fazer do teu vermelho um bordado marinheiro Quando encontras o sol no branco da cal te pões de amarelo
Eu vi a buganvília a dançar na ventania a trepar numa janela Eu vi a buganvília entre o acender da lua e o encanto da manhã
Letra e música: João Afonso Lima Intérprete: João Afonso com Mafalda Serrano (in CD “Missangas”, Mercury/Polygram, 1997, reed. Universal Music, 2017)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e a qualidade de vida dos idosos.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Muito bem parece
[Moda:]
Muito bem parece Raminho de flores Gravado no peito, Gravado no peito Dos trabalhadores.
Dos trabalhadores, Dos oficiais… No meu lindo amor, No meu lindo amor Inda brilha mais.
[Cantiga:]
Algum dia eu era, Agora já não, Da tua roseira, Da tua roseira O melhor botão.
[Moda:]
Muito bem parece Raminho de flores Gravado no peito, Gravado no peito Dos trabalhadores.
Dos trabalhadores, Dos oficiais… No meu lindo amor, No meu lindo amor Inda brilha mais.
Letra e música: Popular (Alentejo) Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Na mesma campa nasceram
[ Lenda das Rosas ]
Na mesma campa nasceram Duas roseiras a par; Conforme o vento as movia, Iam-se as rosas beijar.
Deu uma rosas vermelhas, Desse vermelho que os sábios Dizem ser a cor dos lábios Onde o amor põe centelhas; Da outra, gentis parelhas De rosas brancas vieram; Só nisso diferentes eram, Nada mais as diferençou: A mesma seiva as criou, Na mesma campa nasceram.
Dizem contos magoados Que aquele triste coval Fora leito nupcial De dois jovens namorados, Que no amor contrariados Ali se foram finar, E continuaram a amar Lá no Além, todavia: E por isso ali havia Duas roseiras a par.
A lenda simples, singela, Conta mais: que as rosas brancas Eram as mãos puras, francas, Da desditosa donzela; E ao querer beijar as mãos dela, Como na vida o fazia, A boca dele se abria Em rosas de rubra cor E segredavam o amor, Conforme o vento as movia.
Quando as crianças passavam Junto à linda sepultura, Toda a gente afirma e jura Que as rosas brancas coravam E as vermelhas se fechavam Para ninguém lhes tocar; Mas que, alta noite, ao luar, Entre um séquito de goivos, Tal qual os lábios dos noivos, Iam-se as rosas beijar.
Letra: João Linhares Barbosa Música: Popular e Maria Teresa de Noronha (Fado da Horas) Arranjo: José Pracana Intérprete: José Pracana (in EP “Lenda das Rosas”, Parlophone/VC, 1972; 2CD “Biografia do Fado”: CD 2, EMI-VC, 1994)
Sete dias da semana
Sete dias da semana Vou mandá-los dividir Com cantigas de amor, Menina, se queres ouvir.
A segunda é pelo trevo Que nasce pelo chão Também o meu amor nasce Da raiz do coração.
A terça-feira é pela rosa Que nasce na Primavera Desejava eu saber A tua intenção qual era.
Quarta-feira é pela água Que rega a bela verdura Também rega esses teus olhos Que têm tanta formosura.
Quinta-feira é pela perpétua Que dá flor excelente Falo bem ao meu amor Às vezes também me mente.
Sexta é pelo alecrim Carregadinho de flor Dentro do meu coração Não existe outro amor.
Sábado é pelo cravo Que dá flor encarnada Eu só queria um beijinho E não queria mais nada.
Tradicional da Madeira, com adaptações
Rosa
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/05/rosa.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-01 11:40:352024-11-13 04:15:07Canções de flores