Ao som de uma caixa de música, acordou João Ao lado do berço um corpo caído, desilusão A casa vazia e no ar um cheiro a solidão Para lá da janela uma visão tão estranha O que terá acontecido?
Como um pássaro que saiu do ninho e esvoaçou João deu a medo alguns passos pelo quarto e sem querer Debruçou o corpo sobre o chão morno e adormeceu Talvez p’ra dormir o seu último sono E o que fica a dizer de…?
João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de mal e de bem João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de realidade
Uma brisa estranha chegou de repente, com sabor a fim E uma noite fria caiu sobre os restos do auge do poder Entre o tudo e o nada ficou uma sombra, uma recordação Talvez algum dia alguém venha a perguntar: “O que terá acontecido?”
Um manto de fumo cobriu a cidade, em forma de adeus Talvez p’ra apagar a última imagem guardada da Terra A tocar no meio do deserto plantado a caixinha ficou Testemunha ingénua das glórias já findas E das marcas da vida
João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de mal e de bem João, mais uma vítima nuclear numa casa no meio da cidade Onde só se contavam histórias de realidade
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha* (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa) Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha com João Pedro Pais (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019) Versão original: Peace Makers (in single “Caixinha de Música / Recordação de Hiroshima”, Victória Records, 1988) Outra versão: Quadrilha (in CD “Deixa Que Aconteça: Ao Vivo”, Vachier & Associados/Ovação, 2006)
Ai que bom
[ Tango Poluído ]
Ai que bom, que bom que é! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que viver em poluição!
Aos domingos, no Verão, Lá vou eu, de madrugada, Recompor-me da saúde Nas praias da Cruz Quebrada.
Banhando-me ao pé do esgoto, Respirando os seus odores, Ao chegar o fim do dia Vou p’ra casa com mais cores.
Fui um dia p’rà montanha E passei um mau bocado Respirando o tal ar puro, Quase morri sufocado.
Fiquei logo com os pulmões A pedir por caridade O cheiro a óleo queimado Que respiro na cidade.
Ai que bom, que bom que é! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que viver em poluição!
Não me venhas com a conversa Das comidas naturais, Dás-me cabo dos tomates Com esses sermões papais.
O frango só com hormonas, Salsichas só enlatadas, Peixinho só do Barreiro E frutas bem sulfatadas.
Há p’ra aí quem diga mal Da nossa Televisão, Mas dela já não me passo P’rà minha cultivação: Vinte e cinco horas por dia De cultura e informação
Poluindo a consciência, Tudo a Bem da Nação. Ai que bueno, que bueno! Ai que grande reinação!
Não há no mundo melhor Que viver em poluição! Vi um tal da ecologia Gritando como um possesso Contra a bomba nuclear, Contra a bomba do progresso.
Fiz-lhe ver que estava errado, Pois não há nada mais belo Nem há morte mais limpinha Que o quente do cogumelo.
Disse-me um da intervenção: “Lá estás tu com essa mania, A cantar o tango assim Estás a imitar o Letria”.
Mas eu estou certo e seguro Que o Jôjô não leva a mal, Embora ele tenha a patente Do tango em Portugal.
Ai que bom, que bom que é! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que viver em poluição!
Ai que bueno, que bueno! Ai que grande reinação! Não há no mundo melhor Que morrer em poluição!
Letra e música: Luís Cília Intérprete: Luís Cília (in LP “Marginal”, Diapasão/Sassetti, 1981)
Poluição
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
A ciência que o mar tem Não tem nada de pasmar: Não há regato nem rio Que ao mar não vá parar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Brota a água da pedra bruta: Sua luta, labuta, De tudo dessedentar; Ganha altura, desmesura De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas Que nem ousara sonhar; Dança ritmos, canta trovas Antes de chegar ao mar.
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre com Janita Salomé (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre com Janita Salomé (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Horas mortas
[ Árvores do Alentejo ]
Horas mortas… Curvada aos pés do Monte A planície é um brasido… e, torturadas, As árvores sangrentas, revoltadas, Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte A oiro a giesta, a arder, pelas estradas, Esfíngicas, recortam desgrenhadas Os trágicos perfis do horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram, Almas iguais à minha, almas que imploram Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede: – Também ando a gritar, morta de sede, Pedindo a Deus a minha gota de água!
Poema: Florbela Espanca (in “Charneca em Flor”, 1930) Música: Teresa silva Carvalho Intérprete: Teresa silva Carvalho (in CD “Teresa Silva Carvalho: O Melhor dos Melhores”, vol. 35, Movieplay, 1994) Também recitado por Eunice Muñoz
Luz que actua
[ Gaia de Saia ]
Luz que actua, Lua cheia em ti, faz querer viver mais Expões o corpo receptivo à noite, dons de fértil musa
Iluminar põe o clima a subir, noite de clara Lua Numa dança de saia rodada a sorrir, que essa tua vida é tua
Mãe dos homens que gera vida e luz Gaia Deusa, musa, Mulher nua Não se tomba, não se deixa cair Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua
Mãos de força vergam o tempo a teimar, a lutar sem desistir Tais direitos nem se devem questionar, direito a se expressar
Ser um ventre e um colo protector, e voluntária na sua dor Ser mulher é existir entre os iguais, é resistir muito mais
Mãe dos homens que gera vida e luz Gaia Deusa, musa, Mulher nua Não se tomba, nem se deixa cair Que essa tua vida é tua, vida é tua
Mãe dos homens que gera vida e luz Gaia Deusa, Mulher nua Não se tomba, nem se deixa cair Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua
Letra e música: Luís Pucarinho Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Quero sempre ver as estrelas
Quero sempre ver as estrelas Todo o mundo a navegar Quer sempre ver o Sol E o brilho do teu olhar
Corre, corre, maré alta Correm rios e oceanos Cresce a erva na ribeira Fazem ninhos todos os anos
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Voam bandos ao entardecer Garças brancas e o algravão Pássaros cheios de esperança O riozinho e o espigão
Quero ouvir sempre o marulho E as tempestades de Inverno Quero ouvir sempre os sinos E o silêncio que é eterno
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Quero ver as baleias Todo o mundo a navegar Quero sempre ver as estrelas Quero ver o Sol raiar
Letra: José Francisco Vieira Música: Ana Figueiras e José Francisco Vieira Intérprete: Flor de Sal (in CD “Flor de Sal”, José Francisco Vieira & Ana Figueiras/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Quero ver o que a terra me dá
[ Cantiga da Terra ]
Quero ver o que a terra me dá ao romper desta manhã: o poejo, o milho e o araçá, a videira e a maçã.
Ó mãe-d’água, ó mãe de chuvas mil, já não quero teu aguaceiro; quero ver a luz do mês de Abril e a folia ao terreiro.
E vou colher inhames e limões, hortelã e alecrim; e vou cantar charambas e canções, p’ra te ver ao pé de mim.
E os requebros deste teu bailar, quero ser o cantador; e vou saudar a várzea desse olhar, ao compasso do tambor.
E vou colher inhames e limões, hortelã e alecrim; e vou cantar charambas e canções, p’ra te ver ao pé de mim.
E os requebros deste teu bailar, quero ser o cantador; e vou saudar a várzea desse olhar, ao compasso do tambor.
Letra e música: José Medeiros (1988 – para a série ficcional “O Barco e o Sonho”, RTP-Açores, 1989) Intérprete: Musica Nostra (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009) Versão original: José Medeiros (in 2LP “O Barco e o Sonho | Balada do Atlântico | Xailes Negros”: LP 2, Philips/Polygram, 1989; CD “7 Anos de Música”, 2.ª edição, DisRego, 1992)
Laurissilva madeirense
Terra mãe
[ Terra Global ]
Terra mãe que me viu nascer Cheia de encantos à beira do mar Tem água e sede de vencer Tem desertos de mágoa Lá longe há outra terra Esquecida no tempo Enquanto há tempo, nunca é tarde demais Nos sentimentos somos todos iguais Enquanto há esperança e o sonho não morrer Haja mudança que a terra vai renascer Cresci entre o amor e o perdão Sempre vi o mundo no horizonte A minha terra é o meu coração Que ama, grita e sente Lá longe há outra gente Que sofre em silêncio Enquanto há tempo, nunca é tarde demais Nos sentimentos somos todos iguais Enquanto há esperança e o sonho não morrer Haja mudança que a terra vai renascer Enquanto há tempo, nunca é tarde demais Nos sentimentos somos todos iguais Enquanto há esperança e o sonho não morrer Haja mudança que a terra vai renascer
Letra: Samuel Lopes Música: João Lopes Intérprete: Citânia Versão original: Citânia (in Livro/CD “Segredos do Mar”, Seven Muses, 2011)
Verdes são os campos
[ Verdes São os Campos ]
Verdes são os campos, Da cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração.
Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes;
De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração.
Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração.
Poema (excerto): Luís de Camões Música: José Afonso Intérprete: José Afonso (in “Traz Outro Amigo Também”, Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1987; CD “Poesia Encantada”, vol. 2, EMI-VC, 2004) Outra versão: Teresa Silva Carvalho (in “Ó Rama, Ó Que Linda Rama”, Orfeu, 1977, reed. Movieplay, 1994)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/05/terra-planeta.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-12 18:10:262024-11-13 11:16:14Canções sobre a terra
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Envio-lhe esta missiva
[ Vozes do Sul – Carta à Senhora Dona Europa ]
Envio-lhe esta missiva De profundo desagrado Por vê-la assim cativa De usurários encartados
Sujeita a novos tormentos Subvertidas são as leis Vampiros a sugam sedentos Ceptro na mão velhos reis
As contas dos euro-réis Somam mentiras e medos Já nos tiraram os anéis Mas não nos levam os dedos
Cantando ao sol e à lua Vozes do Sul Já ao fundo da rua Vozes do Sul
As contas dos euro-réis Somam mentiras e medos Já nos tiraram os anéis Mas não nos levam os dedos
Cantando ao sol e à lua Vozes do Sul Já ao fundo da rua Vozes do Sul
Poema e música: Janita Salomé Intérprete: Janita Salomé Versão original: Janita Salomé (in CD “Valsa dos Poetas”, Cantar ao Sol/Ponto Zurca, 2018)
— Vieste lá da Galiza Com vontade de cantar; Trouxeste uma sanfona E romances de encantar.
E agora que aqui estás, Mostra a tua habilidade! Não és cego, nem tens cão E vives numa cidade.
— Eu veño lá de lonxe, Catro horas de camiño, Para cantar e tocar Os romances do ceguiño.
Como non hai unha feira Podemos, enton, gravar: Esta é unha maneira Da memória conservar.
Isso, sim, é de valor! Boa ideia, genial: Tocar as canções de cego Da Galiza e Portugal!
Isso, sim, é de valor! Boa ideia, genial: Tocar as canções de cego Da Galiza e Portugal!
Letra e música: César Prata Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata* (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Ai de mim que me perdi Pelos caminhos do tédio Perdi-me, cheguei aqui Agora não tem remédio
Ai de mim que me perdi Perdi-me no fim da estrada Ai de mim porque vivi A vida desencontrada
Tantos caminhos andados Não fui eu que os descobri Foram meus passos mal dados Que me trouxeram aqui
Perdida me acho da vida E a vida já me perdeu Ando na vida perdida Sem saber quem a viveu
Por mais que queira encontrar A razão do meu viver A razão de cá andar Não posso compreender
Que culpa tem o destino Dos caminhos que eu andei? Fui eu no meu desatino Que andei e não reparei
Perdida estou sem remédio Meu pecado e meu castigo Pecado é morrer de tédio Castigo é viver contigo
Por mais que queira encontrar A razão do meu viver A razão de cá andar Não posso compreender
Não posso compreender A razão de cá andar A razão do meu viver Não posso compreender
Poema: Amália Rodrigues (ligeiramente adaptado) Música: Amélia Muge Arranjo: José Mário Branco Intérprete: Amélia Muge (in CD “Amélia com Versos de Amália”, Amélia Muge/Leve Music, 2014)
Alguém que Deus já lá tem
[ Fado Malhoa ]
Alguém que Deus já lá tem Pintor consagrado Que foi bem grande e nos dói Já ser do passado Pintou numa tela Com arte e com vida A trova mais bela Da terra mais querida
Subiu a um quarto que viu à luz do petróleo E fez o mais português dos quadros a óleo Um Zé de samarra co’amante a seu lado Com os dedos agarra Percorre a guitarra e ali vê-se o fado
Faz rir a ideia de ouvir com os olhos, senhores Fará, mas não p’ra quem já o viu, mas em cores Há vozes de Alfama naquela pintura E a banza derrama canções de amargura
Dali vos digo que ouvi a voz que se esmera O som dum faia banal, cantando a Severa Aquilo é bairrista, aquilo é Lisboa Boémia e fadista Aquilo é da artista, aquilo é Malhoa
Letra: José Galhardo Música: Frederico Valério
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Ando na vida à procura
[ Triste Sorte ]
Ando na vida à procura Duma noite menos escura Que traga luar do céu, Duma noite menos fria Em que não sinta agonia Dum dia a mais que morreu.
Vou cantando amargurado, Vou dum fado a outro fado Que fale dum fado meu: Meu destino assim cantado Jamais pode ser mudado Porque do fado sou eu.
Ser fadista é triste sorte Que nos faz pensar na morte E em tudo que em nós morreu, E andar na vida à procura Duma noite menos escura Que traga luar do céu.
Letra: João Ferreira-Rosa Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado Cravo) Intérprete: Camané Versão discográfica anterior de Camané (in CD/DVD “Infinito Presente”, Warner Music, 2015)
Outras versões: Camané (in 2CD “Como Sempre… Como Dantes”: CD 1 – “Como Sempre: Ao Vivo em Palco”, EMI-VC, 2003); Camané (in 2CD “Como Sempre… Como Dantes”: CD 2 – “Como Dantes: Ao Vivo no Embuçado”, EMI-VC, 2003); Camané (in DVD “Ao Vivo no S. Luiz”, EMI, 2006); Camané (in CD/DVD “Ao Vivo no Coliseu: Sempre de Mim”, EMI, 2009; 2CD “Camané: O Melhor 1995-2013 (Edição Especial)”: CD 1, EMI, 2013)
Versão original: João Ferreira-Rosa (in EP “Embuçado”, Columbia/VC, 1965; CD “Embuçado” (compilação), EMI-VC, 1988, reed. Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; 2CD “Ontem e Hoje”: CD 1, EMI-VC, 1996; CD “O Melhor de João Ferreira-Rosa”, Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2008; CD “João Ferreira-Rosa: Essencial”, Edições Valentim de Carvalho/CNM, 2014)
Outras versões: João Ferreira-Rosa (in LP “Fado”, Imavox, 1978); João Ferreira-Rosa (in CD “No Wonder Bar do Casino Estoril”, Ovação, 2004)
Bendita esta forma de vida
[ Bendito Fado, Bendita Gente ]
Intérprete: Mafalda Arnauth
Chegaste a horas
[ Leva-me aos fados ]
Intérprete: Ana Moura
Convém que seja moderno
[ Que Fado É Esse, Afinal? ]
Convém que seja moderno, Ritmado sem critério E fácil de consumir; Que não deixe de imitar As modas que estão a dar, Que não ouse resistir.
Convém que não seja triste, Que se venda, que se lixe O valor do seu passado; Que se sirva ao desbarato Como um hambúrguer no prato, Produto pré-fabricado.
Convém que seja feliz, Não importa o que se diz Se agradar a toda a gente; Que a nada diga respeito, Seja a música um efeito E a palavra indiferente.
Convém que seja educado, Que se cante em qualquer lado, Popular, comercial. Mas quando o oiço cantar, Só me resta perguntar: Que Fado é esse, afinal?
Mas quando o oiço cantar, Só me resta perguntar: Que Fado é esse, afinal?
Letra: Duarte Música: José Mário Branco (Fado Gripe) Intérprete: Duarte (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Deixa Que te Cante um Fado
Deixa que te cante um fado, Ao menos de vez em quando! Deixa que te cante um fado Como quem reza chorando!
Deixa que te cante um fado Que me fale sempre em ti! Cantarei de olhos cerrados, Os olhos com que te vi.
Deixa que te cante um fado, Mesmo sem fé ou sem arte! Se nunca pude esquecer-te É que não posso deixar-te.
Deixa que te cante um fado! Todo o meu sonho está nisto: Que depois de o ter cantado Te lembres que ainda existo.
Poema: Pedro Homem de Mello Música: José Marques do Amaral (Fado José Marques do Amaral) Intérprete: Tereza Tarouca (in EP “Fados (Fado das Faias)”, RCA Victor, 1963; LP “Os Melhores Fados de Tereza Tarouca”, RCA Camden, 1978)
Descalço, venho dos confins da infância
[ Entrega ]
Descalço, venho dos confins da infância Que a minha infância ainda não morreu. Atrás de mim em face ainda há distância, Menino Deus, Jesus da minha infância, Tudo o que tenho, e nada tenho, é teu!
Venho da estranha noite dos poetas, Noite em que o mundo nunca me entendeu. Vê, trago as mãos vazias dos poetas, Menino Deus, amigo dos poetas, Tudo o que tenho, e nada tenho, é teu!
Feriu-me um dardo, ensanguentei as ruas Onde o demónio em vão me apareceu. Porque as estrelas todas eram suas, Menino irmão dos que erram pelas ruas, Tudo o que tenho, e nada tenho, é teu!
Quem te ignorar ignora bem os que são tristes Ó meu irmão Jesus, triste como eu. Ó meu irmão, menino de olhos tristes, Nada mais tenho além dos olhos tristes Mas o que tenho, e nada tenho, é teu!
Poema: Pedro Homem de Mello Música: Carlos Gonçalves Intérprete: Ricardo Ribeiro Primeira versão discográfica de Ricardo Ribeiro (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013) Versão original: Amália Rodrigues (in LP/CD “Obsessão”, EMI-VC, 1990, reed. Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2008)
Desdenharam-me, bem sei
[ Fado Lenitivo ]
Desdenharam-me, bem sei, Quando um dia comecei A cantar sofrida o fado; Não sabiam o motivo: É que o fado é lenitivo D’um coração torturado.
Ao ver de todo perdidas, As minhas esperanças mais queridas, Senti, fui talvez pisada; E era doce companhia Para a minha melancolia O chorar d’uma guitarra.
Amarguras e cansaços, A minha dor em pedaços Eu vou esquecendo a cantar; E nos queixumes do fado, Já nem sei se é um trinado Se a minh’alma a soluçar.
Sei que me ouves lamentando, As mágoas que vou cantando Só tu podes entender; Vou meu fado dedicar-te: Uma dor que se reparte Não custa tanto a sofrer.
Letra: Fernanda Santos Música: Helena Moreira Vieira Intérprete: Tânia Oleiro (in CD “Terços de Fado”, Museu do Fado Discos, 2016) Versão original: Maria do Rosário Bettencourt (in EP “Lenitivo”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1966; CD “Maria do Rosário Bettencourt”, col. Fados do Fado, vol. 41, Movieplay, 1998)
Desta luta constante
[ O fado que me traga ]
Desta luta constante O futuro é meu alento Numa roda gigante Tão gigante que pára o tempo
Uma volta sem regresso Até uma terra esquecida E na minha sorte tropeço Sozinha na madrugada perdida
O fado que me traga O que o tempo me levou A saudade que me abra O caminho do que sou O fado que me traga O que a saudade não deixou O sentido das palavras Que o tempo apagou
Uma lágrima no mar Perdida na voz do silêncio Aprisiona a ternura E adormece o meu encanto
Quando me sinto nua Não me quero ver mais ao espelho O destino não me quer tua Porque o amor morreu no desejo
O fado que me traga O que o tempo me levou A saudade que me abra O caminho do que sou O fado que me traga O que a saudade não deixou O sentido das palavras Que o tempo apagou
Letra: Samuel Lopes Música: Miguel Rebelo Intérprete: Ana Laíns (in CD “Sentidos”, Difference, 2006)
Deus pede
Conta e Tempo
Deus pede [hoje] estrita conta do meu tempo E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta; Mas como dar, sem tempo, tanta conta, Eu que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para dar a minha conta feita a tempo O tempo me foi dado, e não fiz conta; Não quis, sobrando tempo, fazer conta, Hoje quero acertar conta e não há tempo.
Oh! vós, que tendes tempo sem ter conta, Não gasteis o vosso tempo em passa-tempo! Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta Pois aqueles que sem conta gastam tempo, Quando o tempo chegar de prestar conta, Chorarão, como eu, o não ter tempo!
Poema: Frei António das Chagas (António da Fonseca Soares, 1631-1682) Música: José Júlio Paiva (Fado Complementar) Intérprete: Camané (in CD “Infinito Presente”, Warner Music, 2015)
Dizem que o fado é saudade
[ O Sentir do Cantador ]
Dizem que o fado é saudade, Miséria, sofrer e dor… Mas o fado é, na verdade, O sentir do cantador.
Em cada palavra sua, Em cada verso cantado, O cantador insinua A tristeza do seu fado.
Não canta por simpatia, Não canta para viver: É que cantando alivia Um pouco do seu sofrer.
Tornando tão magoado O timbre da sua voz, Que o fado fica gravado Na alma de todos nós.
Letra: Maria Manuel Cid Música: Francisco José Marques (Fado Évora) Intérprete: Tereza Tarouca (in EP “Passeio à Mouraria”, RCA Victor, 1964; LP “Os Melhores Fados de Tereza Tarouca”, RCA Camden, 1978)
Então, até amanhã, meu dia triste
[ Último Poema ]
Então, até amanhã, meu dia triste, Na taverna da noite do meu fado, Onde canto o amor que não existe, Neste meu amanhã abandonado.
Grito dentro de mim a noite e o dia, Nesta hora do sonho mais profundo, Que regressa na voz da despedida Com que te vejo por estar no mundo.
Nas palavras amadas que perdi, O ontem que tu foste já me foge. “Então, até amanhã!”, disseste, e eu vi Que o amanhã não chega ao ontem de hoje.
“Então, até amanhã!”, disseste, e eu vi Que o amanhã não chega ao ontem de hoje.
Letra: Vasco de Lima Couto Música: Manuel Mendes Intérprete: Ricardo Ribeiro Primeira versão discográfica de Ricardo Ribeiro (in CD “Hoje É Assim, Amanhã Não Sei”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2016) Versão original: Beatriz da Conceição [ao vivo no Restaurante Típico Nónó, Lisboa
Era o amor
[ Verdes Anos ]
Era o amor que chegava e partia: estarmos os dois era um calor que arrefecia sem antes nem depois…
Era um segredo sem ninguém para ouvir: eram enganos e era um medo, a morte a rir nos nossos verdes anos…
Foi o tempo que secou a flor que ainda não era. Como o Outono chegou no lugar da Primavera!
Era o amor que chegava e partia: estarmos os dois era um calor que arrefecia sem antes nem depois…
Era um segredo sem ninguém para ouvir: eram enganos e era um medo, a morte a rir nos nossos verdes anos…
No nosso sangue corria um vento de sermos sós. Nascia a noite e era dia, e o dia acabava em nós…
Poema: Pedro Tamen (excerto) Música: Carlos Paredes (introdução de “Despertar”, in EP “Guitarradas Sob o Tema do Filme Verdes Anos”, Alvorada, 1964; CD “Carlos Paredes e Artur Paredes”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 36, Movieplay, 1994; CD “Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963”, Movieplay, 2003; Livro/4CD “O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993”: CD1 – “Despertar”, EMI-VC, 2003) Intérprete: Mariana Abrunheiro (in Livro/CD “Cantar Paredes”, Mariana Abrunheiro/BOCA – Palavras Que Alimentam, 2015) Versão original (canção): Teresa Paula Brito (in filme “Os Verdes Anos”, de Paulo Rocha, 1963) Outra versão de Teresa Paula Brito (in EP “Canções Para Fim de Noite”, Riso e Ritmo, 1968; CD “Teresa Paula Brito”, col. Clássicos da Renascença, vol. 61, Movieplay, 2000)
És Povo feito Mulher
[ Ai, Amália! ]
És Povo feito Mulher; A cantar és toda a gente que sabe aquilo que quer e diz aquilo que sente.
As tuas caras são tantas: mais de mil que Deus te deu… Com mil corações tu cantas e há mais mil dentro do teu.
Ai, Amália das mil caras e mais de mil corações! Ai, rio que nunca páras até à foz das canções!…
Nos ecos da tuz voz, nos silêncios que a torturam sofrem pedaços do nós, pedaços que se procuram.
Levantas a tua voz, o Fado nasce ao teu jeito! E sentimos todos nós que te cabemos no peito…
Ai, Amália das mil caras e mais de mil corações! Ai, rio que nunca paras até à foz das canções!…
Ai, Amália das mil caras e mais de mil corações! Ai, rio que nunca paras até à foz das canções!…
Letra: Luísa Bivar Música: João Braga Intérprete: João Braga (in LP “Do João Braga para a Amália”, Diapasão/Lamiré, 1984; CD “João Braga”, col. Fado Alma Lusitana, vol. 19, Levoir/Correio da Manhã, 2012)
Esta ilha que há em mim
[ A Ilha do Meu Fado ]
Esta ilha que há em mim E que em ilha me transforma Perdida num mar sem fim Perdida dentro de mim Tem da minha ilha a forma
Esta lava incandescente Derramada no meu peito Faz de mim um ser diferente Tenho do mar a semente Da saudade tenho o jeito
Trago no corpo a mornaça Das brumas e nevoeiros Há uma nuvem que ameaça Desfazer-se em aguaceiros Nestes meus olhos de garça
Neste beco sem saída Onde o meu coração mora Oiço sons da despedida Vejo sinais de partida Mas teimo em não ir embora
Letra: João Mendonça Letra: José Medeiros Intérprete: Dulce Pontes (in CDs “Caminhos”, Movieplay, 1996; “O Coração Tem Três Portas”, Ondeia Música, 2006)
Eu quero cantar palavras
[ Fado Não-Valentim ]
Eu quero cantar palavras De letras por inventar,
Quero outro fado, ó-laró-laró! Quero outro fado, ó-laró, meu bem!
Implacáveis como espadas, Tão profundas como o mar.
Quero outro fado, ó-laró-laró! Quero outro fado, ó-laró, meu bem!
As palavras por dizer Por dentro das que são ditas,
Quero outro fado, ó-laró-laró! Quero outro fado, ó-laró, meu bem!
Impossíveis a crescer Por fora das mais bonitas.
Quero outro fado, ó-laró-laró! Quero outro fado, ó-laró, meu bem!
Ditas todas devagar No silêncio mais sonante,
Quero outro fado, ó-laró-laró! Quero outro fado, ó-laró, meu bem!
Como um conto de encantar, Como a vaga mais distante.
Quero outro fado, ó-laró-laró! Quero outro fado, ó-laró, meu bem!
E quando para as cantar Elas se façam escrever,
Quero outro fado, ó-laró-laró!
Quero outro fado, ó-laró, meu bem!
As letras serão meus lábios, A tinta o meu sangue a arder.
Quero outro fado, ó-laró-laró! Quero outro fado, ó-laró, meu bem!
Dizer palavras de mel Até a voz ficar rouca.
Quero outro fado, ó-laró-laró! Quero outro fado, ó-laró, meu bem!
Gastar toda a minha pele Nos beijos da tua boca.
Quero outro fado, ó-laró-laró…, Nos beijos da tua boca.
Letra: João Gigante-Ferreira Música: Popular Intérprete: Helena Sarmento Versão original: Helena Sarmento (in CD “Lonjura”, Helena Sarmento, 2018)
Eu sei que esperas por mim
[ Mais um Fado no Fado ]
Eu sei que esperas por mim, Como sempre, como dantes, Nos braços da madrugada; Eu sei que em nós não há fim, Somos eternos amantes Que não amaram mais nada.
Eu sei que me querem bem, Eu sei que há outros amores Para bordar no meu peito; Mas eu não vejo ninguém Porque não quero mais dores Nem mais bâton no meu leito.
Nem beijos que não são teus Nem perfumes duvidosos, Nem carícias perturbantes; E nem infernos, nem céus, Nem sol nos dias chuvosos, Porque ‘inda somos amantes.
Mas Deus quer mais sofrimento, Quer mais rugas no meu rosto E o meu corpo mais quebrado; [bis] Mais requintado tormento, Mais velhice, mais desgosto E mais um fado no fado.
Letra: Júlio de Sousa Música: Carlos da Maia (Fado Perseguição) Intérprete: Camané Outras versões: Camané (in CD “Pelo Dia Dentro”, EMI-VC, 2001; 2CD “Camané: O Melhor 1995-2013 (Edição Especial)”: CD 2, EMI, 2013); Camané (in 2CD “Como Sempre… Como Dantes”: CD 1 – “Como Sempre: Ao Vivo em Palco”, EMI-VC, 2003); Camané (in DVD “Ao Vivo no S. Luiz”, EMI, 2006) [ao vivo com Fábia Rebordão, 2008 / Gala 12 do programa “Operação Triunfo”; Camané (in CD/DVD “Ao Vivo no Coliseu: Sempre de Mim”, EMI, 2009). Versão original [?]: Rui David (com música de Alfredo Marceneiro – Fado Cravo) (in EP “Meu Amor, Minha Saudade”, FF/RR Discos, ?)
Eu sei que sou demais
Eu sei que sou demais na tua vida, Eu sei que nem me vês tão apagado, Apenas uma sombra indefinida, O resto de voz triste condenada. Eu sei que sou demais na tua vida, De tudo quanto fui não sou mais nada.
Ai quem me dera prender o teu futuro E uni-lo ao meu, assim tal maneira, Como hera verde se prende ao velho muro E ali fica p’la vida inteira!
Eu sei que estou a mais no teu caminho, Eu sei que nada tens p’ra me dar, E sei que nesta luta estou vencido Por outro amor que tens no meu lugar. Mas sei, amor, que eu, da tua vida, Ninguém jamais, ninguém pode apagar.
Ai quem me dera prender o teu futuro E uni-lo ao meu, assim tal maneira, Como hera verde se prende ao velho muro E ali fica p’la vida inteira!
Ai quem me dera prender o teu futuro E uni-lo ao meu, assim tal maneira, Como hera verde se prende ao velho muro E ali fica p’la vida inteira!
Letra e música: Joaquim Tavares Pimentel Intérprete: Ricardo Ribeiro Primeira versão discográfica de Ricardo Ribeiro (in CD “Hoje É Assim, Amanhã Não Sei”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2016) Versão original: Alice Maria (in EP “Primeiro Amor”, Estúdio/Mundusom, 1972?)
Eu uso um xaile bordado
[ Num Gesto Que se Adivinha ]
Eu uso um xaile bordado Porque os p’rigos que há no fado São bem maiores que os da vida; O xaile é como uma pele E quando me embrulho nele Sinto-me mais protegida.
Parece umas mãos de mãe: Sabem guiar-nos tão bem E sossegam tantos medos Que sempre que elas me tocam As franjas do xaile evocam A ternura dos seus dedos.
Num gesto que se adivinha O xaile é uma andorinha Num céu que eu mesma criei; Mas assim que o braço pára O xaile que antes voara Parece o manto de um rei.
E quando o corpo desiste Numa palavra mais triste, Num grito mais demorado, O xaile velho e sem franjas São asas de anjos ou anjas Que me aconchegam ao Fado.
O xaile velho e sem franjas São asas de anjos ou anjas Que me aconchegam ao Fado.
Letra: Tiago Torres da Silva Música: Armando Machado (Fado Maria Rita) Intérprete: Katia Guerreiro* (in CD “Brincar aos Fados”, Farol Música, 2014)
Existe um fado
[ Não Existe Fado Antigo ]
Existe um fado, um só fado Que assenta na tradição; E p’ra ser bem cantado Só faz falta um coração.
Não é por pôr uma tuba, Acrescentar a bateria Que uma geração derruba O que antes se fazia.
Não quero a eternidade Nem os momentos de glória: Quero deixar na saudade Um pouco da minha história.
Não existe fado novo Como não há fado antigo: Ele é o grito que um povo Carrega sempre consigo.
Não existe fado novo Como não há fado antigo: Ele é o grito que um povo Carrega sempre consigo.
Letra: Tiago Torres da Silva Música: João do Carmo Noronha (Fado Pechincha) Intérprete: Celeste Rodrigues (in CD “Brincar aos Fados”, Farol Música, 2014)
Foi assim
[ Lume ]
Foi assim: era costume… Tu vinhas pedir-me lume Ao balcão daquele bar E eu disse que não, primeiro; Depois, comprei um isqueiro E até voltei a fumar.
As noites que nós passámos! Quantos cigarros fumámos! Tanto lume que eu te dei! Um dia acordei com frio: Estava o cinzeiro vazio E nunca mais te encontrei.
Mas ontem, naquele bar De repente vi-te entrar, Foste direita ao balcão: Como era teu costume Vieste pedir-me lume Mas eu disse-te que não.
Se quando te foste embora Deitei o isqueiro fora, Que lume te posso eu dar? Pede a outro que te ajude! P’ra bem da minha saúde Eu já deixei de fumar.
Sem dormir, de madrugada Ouvi teus passos na escada, Vi da janela o teu carro; Debaixo do travesseiro Encontraste o meu isqueiro E acendeste-me o cigarro.
Letra: Manuela de Freitas Música: Armando Machado (Fado Santa Luzia) Intérprete: Camané (in CD “Infinito Presente”, Warner Music, 2015)
Já toda a gente sabe
[ Aos Sete Ventos ]
Já toda a gente sabe a novidade: o Fado, que nasceu na Mouraria, é Património da Humanidade e quebra mais fronteiras dia a dia.
Há quem tenha aprendido português p’ra entender de um modo mais profundo os fados que a ‘Amália Rodriguez’ cantava aos sete ventos pelo mundo.
‘Thank you’, ‘gracias’, ‘merci’ ou ‘arigato’ são formas de o fadista agradecer: quando ao chegar o fim de cada acto vê lágrimas nos rostos a escorrer.
Em Espanha, no Brasil ou no Japão o Fado é cada vez mais bem cantado; e porque ali se escuta um coração é Portugal que diz: “muito obrigado!”
Letra: Tiago Torres da Silva Música: Armando Machado (Fado Aracélia ou Fado Cunha e Silva) Intérprete: Cristina Branco (in CD “Brincar aos Fados”, Farol Música, 2014)
Lavava no rio lavava
Lavava no rio lavava Gelava-me o frio gelava Quando ia ao rio lavar Passava fome passava Chorava também chorava Ao ver minha mãe chorar
Cantava também cantava Sonhava também sonhava E na minha fantasia Tais coisas fantasiava Que esquecia que chorava Que esquecia que sofria
Já não vou ao rio lavar Mas continuo a chorar Já não sonho o que sonhava Se já não lavo no rio Por que me gela este frio Mais do que então me gelava
Ai minha mãe, minha mãe Que saudades desse bem Do mal que então conhecia Dessa fome que eu passava Do frio que me gelava E da minha fantasia
Já não temos fome, mãe Mas já não temos também O desejo de a não ter Já não sabemos sonhar Já andamos a enganar O desejo de morrer
Letra: Amália Rodrigues Música: José Fontes Rocha Intérprete: Amália Rodrigues (in “Gostava de Ser Quem Era”, Columbia/VC, 1980, reed. EMI-VC, 1995; CD “O Melhor de Amália”, vol. III, EMI-VC, 2003)
Luas de prata gentia
[ Se ao menos houvesse um dia ]
Luas de prata gentia Nas asas de uma gazela E depois, do seu cansaço, Procurasse o teu regaço
No vão da tua janela Se ao menos houvesse um dia Versos de flor tão macia Nos ramos com as cerejas E depois, do seu Outono, Se dessem ao abandono Nos lábios, quando me beijas Se ao menos o mar trouxesse O que dizer e me esquece Nas crinas da tempestade As palavras litorais As razões iniciais Tudo o que não tem idade Se ao menos o teu olhar Desse por mim ao passar
Como um barco sem amarra Deste fado onde me deito Subia até ao teu peito Nas veias de uma guitarra
Letra: João Monge Música: Casimiro Ramos (Fado Três Bairros)
Intérprete: Camané (in CD “Esta Coisa da Alma”, EMI-VC, 2000)
Na ribeira deste rio
Na ribeira deste rio Ou na ribeira daquele Passam meus dias a fio Nada me impede, me impele Me dá calor ou dá frio
Vou vendo o que o rio faz Quando o rio não faz nada Vejo os rastros que ele traz Numa sequência arrastada Do que ficou para trás
Vou vendo e vou meditando Não bem no rio que passa Mas só no que estou pensando Porque o bem dele é que faça Eu não ver que vai passando
Vou na ribeira do rio Que está aqui ou ali E do seu curso me fio Porque se o vi ou não vi Ele passa e eu confio
Letra: Dori Caymmi, sobre poema de Fernando Pessoa Música: Dori Caymmi ? Intérprete: Paulo Bragança (in CD “Os Mistérios do Fado”, Polydor, 1996)
Na tua voz
[ Amália ]
Na tua voz há tudo o que não há, há tudo o que se diz e não se diz; Há os sítios da saudade em tua voz, o passado, o futuro, o nunca, o já; Há as sílabas da alma e há um país. Porque tu, mais que tu, és todos nós.
Na tua voz embarca-se e não mais, não mais senão o mar e a despedida. Há um rasto de naufrágio em tua voz, onde há navios a sair do cais, nessa voz por mil vozes repartida. Porque tu, mais que tu, és todos nós.
Há mar e mágoa, e a sombra de uma nau, a gaivota de O’Neill e o rio Tejo, saudade de saudade em tua voz, um eco de Camões e o escravo Jau, amor, ciúme, cinza e vão desejo. Porque tu, mais que tu, és todos nós.
Amor, ciúme, cinza e vão desejo. Porque tu, mais que tu, és todos nós.
Poema: Manuel Alegre Música: José Fontes Rocha Intérprete: João Braga (in CD “Fado Fado”, Ariola/BMG Portugal, 1997; CD “Fados Capitais”, Impreopa/A Capital, 2002)
Não Sou Fadista de Raça
Não sou fadista de raça, Não nasci no Capelão; Eu canto o fado que passa Nas asas da tradição!
Nunca usei negra chinela Nem vesti saia de lista; Nunca entrei numa viela Mas tenho raça fadista!
Tirei suspiros ao vento, Olhei um pouco o passado; Busquei do mar um lamento E fiz assim o meu fado.
É este fado famoso Que, em noites enluaradas, O Conde de Vimioso Tangia nas guitarradas.
Era fidalgo de raça E ficou na tradição Cantando o fado que passa Na Rua do Capelão.
Letra: Maria Teresa Cavazinni Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado Bailarico) Intérprete: Tereza Tarouca (in EP “O Riso Que me Deste”, RCA Victor, 1967; LP “Os Melhores Fados de Tereza Tarouca”, RCA Camden, 1978; 2LP “Álbum de Recordações”: LP 1, Polydor/PolyGram, 1985; CD “Temas de Ouro da Música Portuguesa”, Polydor/PolyGram, 1992; CD “Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006; CD “Tereza Tarouca”, col. Fado Alma Lusitana III, vol. 3, Levoir / Correio da Manhã, 2014)
Nesta terra soberana e fadista
[ No Sítio do Coração ]
Nesta terra soberana e fadista Concebido fruto da contradição Eu nasci independente e meio artista Navegante e poeta de ocasião Eu nasci independente, mar à vista Marinheiro e idealista de ocasião
Há quem diga que o futuro já está escrito E por isso não adianta o que eu fizer Outros dizem que isso não é mais que um mito Inventado por um príncipe qualquer
Canta! Ouve a guitarra que trina Acompanhando o lamento De tantas penas em vão! Sente O sentimento da gente Que já só tem desalento No sítio do coração!
Da janela do meu quarto vê-se o rio Branqueando as suas águas na maré Desaguando as suas mágoas num vazio Para quem foi tudo pouco nada é E ao olhar o seu reflexo tão vazio Alguém viu que ele finge que não vê
Canta! Ouve a guitarra que trina Acompanhando o lamento De tantas penas em vão! Sente O sentimento da gente Que já só tem desalento No sítio do coração!
Eu nasci independente e meio artista Navegante e poeta de ocasião
Canta! Ouve a guitarra que trina Acompanhando o lamento De tantas penas em vão! Sente O sentimento da gente Que já chegou o momento De ouvirmos outra canção!
Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão) Música: Rui Filipe Reis Intérprete: Rosa Negra (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)
Nunca tive moeda de troca
[ Moeda de Troca ]
Nunca tive moeda de troca Para o que recebi da saudade Mas é só pelo que ela me toca Que tudo o que canto, é verdade É essa a moeda de troca Cantar o meu fado, para o dar à saudade.
Mas às vezes o fado acontece Sem que a gente entenda, O que fez E o fadista cansado agradece E chora baixinho, outra vez
Quero unir a minha às vossas almas Sem perder a saudade de vista Não me importa que me batam palmas Ou gritem à grande “Ahhh fadista!!” Quero ouvir o silêncio das almas Assim que o mistério do fado as conquista.
Letra: Tiago Torres da Silva Música: Manuel Graça Pereira Intérprete: Catarina Rocha
O Fado é triste
[ Fado do Contra ]
Perguntaste-me outro dia
[ Tudo Isto É Fado ]
Perguntaste-me outro dia Se eu sabia o que era o fado; Eu disse que não sabia, Tu ficaste admirado.
Sem saber o que dizia, Eu menti naquela hora E disse que não sabia, Mas vou-te dizer agora.
Se queres ser o meu senhor E teres-me sempre a teu lado, Não me fales só de amor: Fala-me também de fado.
A canção que é meu castigo Só nasceu p’ra me prender: O fado é tudo o que eu digo Mais o que eu não sei dizer.
Almas vencidas, Noites perdidas, Sombras bizarras; Na Mouraria Canta um rufia, Choram guitarras.
Amor, ciúme, Cinzas e lume, Dor e pecado: Tudo isto existe, Tudo isto é triste, Tudo isto é fado.
Se queres ser o meu senhor E teres-me sempre a teu lado, Não me fales só de amor: Fala-me também de fado.
A canção que é meu castigo Só nasceu p’ra me prender: O fado é tudo o que eu digo Mais o que eu não sei dizer.
Almas vencidas, Noites perdidas, Sombras bizarras; Na Mouraria Canta um rufia, Choram guitarras.
Amor, ciúme, Cinzas e lume, Dor e pecado: Tudo isto existe, Tudo isto é triste, Tudo isto é fado.
Letra: Aníbal Nazaré Música: Fernando Carvalho Intérprete: Rua da Lua Primeira versão de Rua da Lua (in CD “Rua da Lua”, Rua da Lua, 2016) Versão original: Amália Rodrigues (grav. 1952) (in CD “Abbey Road 1952”, EMI-VC, 1992, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
Quando o fado era menino
[ Quando o Fado For Grande ]
Quando o Fado era menino Dizia: “quando eu for grande Hei-de inventar um destino Que meu coração comande.”
E percebeu que os poetas Eram quem, como as crianças, Abriam portas secretas Sem chaves nem alianças.
Ao entrar no universo Do poeta popular, Ele vai escrevendo um verso Que já nasce milenar.
E por saber que os adultos Podem voltar à infância, Não quer que os poetas cultos Se mantenham à distância.
Rouba um poema a Pessoa, Ao Ary pede uma glosa E uns versos sobre Lisboa Ao mestre Linhares Barbosa.
Se voltasse a ser menino Diria: “quando eu crescer Hei-de inventar um destino Num poema por escrever.”
Letra: Tiago Torres da Silva Música: Alberto Simões da Costa (Fado Torres do Mondego) Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Brincar aos Fados”, Farol Música, 2014)
Se o fado é esta sina
[ É o Mar Que nos Ensina ]
Se o fado é esta sina que nos lava a alma, é o mar quem nos ensina quando nos devolve a calma.
Não aceitar pantomina, o que a sorte nos destina. Sem saber o que queremos, temos o que merecemos.
A vida assim não é um canto à dor. O fado é sina mas também amor.
Diziam que era um povo que não se governava, mas forte o coração não se deixava governar.
Somos terra de lavrar e sabemos o mar de cor, mas esta gente a cantar é bem capaz do melhor.
A vida assim não é um canto à dor. O fado é sina mas também amor.
E lá bem no fim do mundo, não se entendendo as palavras, sente-se a saudade eterna no trinado das guitarras.
Porque a razão não se entende nem se vê o fim ao mar, mas na voz ainda há quem pense ver o fado a marear.
A vida assim não é um canto à dor. O fado é sina mas também amor.
A vida assim não é um canto à dor. O fado é sina mas também amor.
Letra e música: José Barros Arranjo: José Barros e Mimmo Epifani Intérprete: José Barros e Navegante Versão original: José Barros e Navegante (in CD “À’Baladiça”, Tradisom, 2018)
Sou do Fado
[ Loucura ]
Intérprete: Ana Moura
Sou cavaleiro errante
[ Fado Mutante ]
Sou cavaleiro errante Deserto, imensidão E vou errando sempre buscando o Oriente Secreto no meu coração
Sou cavaleiro ausente Tão-só recordação E vou atrás do vento que vem de Levante E cheira a jasmim e açafrão
Um dia vou contar a minha história Talvez assim me prestes atenção Porque o que eu sou é parte da memória Que a gente tem guardada num caixão
Ai este fado mutante De lua emigrante De tempo liberto Ai esta sina minguante Às vezes tão longe As vezes tão perto
Tão longe, tão longe, tão perto…
Sou cavaleiro andante Herói de uma ficção E levo sempre a luz de uma estrela cadente Na palma da minha mão…
Um dia vou contar a minha história Talvez assim me prestes atenção Porque o que eu sou é parte da memória Que a gente tem guardada num caixão
Ai este fado mutante De lua emigrante De tempo liberto Ai esta sina minguante Às vezes tão longe Às vezes tão perto
Às vezes longe Às vezes perto Às vezes longe Às vezes perto Às vezes longe Às vezes perto Às vezes longe Às vezes perto
Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão) Música: Rui Filipe Reis Intérprete: Rosa Negra (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)
Sou do fado
[ É Loucura ]
Sou do fado como sei, Vivo um poema cantado Dum fado que eu inventei. A falar não posso dar-me, Mas ponho a alma a cantar, E as almas sabem escutar-me.
Chorai, chorai, poetas do meu país Troncos da mesma raiz Da vida que nos juntou! E se vocês não estivessem a meu lado, Então… não havia fado Nem fadistas como eu sou.
Esta voz, tão dolorida, É culpa de todos vós, Poetas da minha vida. “É loucura!”, oiço dizer, Mas bendita esta loucura De cantar e de sofrer.
Chorai, chorai, poetas do meu país, Troncos da mesma raiz Da vida que nos juntou! E se vocês não estivessem a meu lado, Então… não havia fado Nem fadistas como eu sou.
E se vocês não estivessem a meu lado, Então… não havia fado Nem fadistas como eu sou.
Letra: Júlio de Sousa Música: Júlio de Sousa (Fado Loucura) Intérprete: Marta Pereira da Costa Versão original: Lucília do Carmo (in LP “Recordações”, Decca/VC, 1971, reed. Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2008; 2LP/CD “O Melhor de Lucília do Carmo”, EMI-VC, 1990; CD “O Melhor de Lucília do Carmo”, Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2008)
Sou filho de um deus menor
[ Adeus, Até um Outro Dia ]
Sou filho de um deus menor E de um corrido maior Mas seja lá o que for Já nasci com esta dor
Cresci no fio da navalha Sei a cartilha de cor Num coração de canalha Mora um pobre pinga-amor
Ai mas que triste a triste vida em que vive um desgraçado Sempre a cavalo entre a desgraça e o fado malogrado
Muito boa noite, minhas senhoras, meus senhores! Desculpem lá o meu atraso, cheguei tarde mas cheguei E já que vim o melhor é eu cantar E só não canto melhor porque eu não sei
A minha sorte na vida Já adivinho qual é: Ser uma rosa enjeitada De que ninguém quer saber
Em tudo eu sou infeliz Mesmo até no meu cantar Põe-se a tremer a guitarra Antes de me acompanhar
Vou-vos deixar depois de estar, ai, em tão bela companhia No peito levo uma saudade, adeus, até um outro dia
Muito obrigado madames e cavalheiros Mostrem lá os mealheiros para eu me motivar E já que pedem vou-vos fazer a vontade Que eu só canto pelo gosto de cantar
Vou-vos deixar depois de estar, ai, em tão bela companhia No peito levo uma saudade, adeus, até um outro dia Vou-vos deixar depois de estar, ai, em tão bela… em tão bela companhia No peito levo… levo uma saudade, adeus, adeus, até um outro dia
Vou-vos deixar depois de estar, ai, em tão bela companhia No peito levo uma saudade, adeus, até um outro dia
Muito obrigado madames e cavalheiros Mostrem lá os mealheiros para eu me motivar E já que pedem vou-vos fazer a vontade Que eu só canto pelo gosto de cantar
Muito obrigado madames e cavalheiros Os aplausos servem sempre para eu me consolar E já que pedem vou-vos fazer a vontade Que eu só canto pelo gosto de cantar
Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão) Música: Rui Filipe Reis Intérprete: Rosa Negra (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)
Temos pena, hoje não dá
[ Fado Abananado ]
Temos pena, hoje não dá estou fechada para balanço Temos pena, hoje não dá estou fechada para balanço querem fado, pois não há se não gostam como eu danço querem fado, pois não há se não gostam como eu danço”
Desculpe lá, turista Bater o nariz na porta A nossa fadista Está numa de ir embora Diz ela que não canta Se não for para dançar Falar, pouco adianta Pois responde a cantar:
Refrão
Desculpe lá, turista Também sinto aquilo que sente A ingrata fadista Acha que hoje isto é diferente “fruta cristalizada” Diz que é “só no bolo rei!” Já nos mandou à fava E canta por aí, que eu sei:
Refrão
Desculpe lá, turista Já tomámos providência É a sétima fadista Com esta exigência Querem abanar o fado E nós dizemos que não Mas o fado, abananado, Já só pega de abanão
Refrão
Pedro da Silva Martins Música: Manuel Graça Pereira Intérprete: Catarina Rocha
Toda a saudade é fingida
[ Covers ]
Toda a saudade é fingida, A tristeza disfarçada: Parecem já não ter vida, De fado não têm nada.
Já não são fados, são ‘covers’: Imitações desalmadas, Reproduções do destino Tantas vezes tão cantadas.
Esses que tentam viver Aquilo que outros viveram Acabam por se perder No tanto que não fizeram.
Vampiragem pós-moderna Da Lisboa dos turistas: Falam da velha taberna Mas querem ser futuristas.
Letra: Duarte Música: João do Carmo Noronha (Fado Pechincha) Intérprete: Duarte (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Verdes ondas branca flor
[ Fado Azul (Se Azul se Atreve) ]
Verdes ondas branca flor Cor-do-vento espuma breve Verdes ondas branco-em-flor Cor-do-vento espuma breve Qualquer cor a do Amor Beijo-azul p’ra quem se atreve Qualquer cor a do Amor Beijo-azul p’ra quem se entregue
Como barco rumo ao sul No meu corpo a maresia Como barco rumo ao sul No meu corpo a maresia À procura desse azul Que o teu corpo prometia Na procura desse azul Naveguei-te até ser dia
Tão constante foste vaga Tão ardente a maré-viva Tão constante foste vaga Tão ardente a maré-viva Tua proa que naufraga Nosso rasto de saliva Tua proa que em mim naufraga Nossas bocas à deriva
Este jeito de ser livre Na prisão da tua boca Este jeito de ser livre Na prisão da tua boca Sabe a tudo onde não estive Lucidez que me põe louca Sabe a tudo onde não estive Lucidez é coisa pouca
Somos chuva tão precisa Somos ventos do Magrebe Somos ecos da Galiza Somos tudo o que se perde Somos língua que desliza Como tudo o que se escreve Somos beijo desta brisa Beijo-azul se azul se atreve.
Letra: João Gigante-Ferreira Música: Francisco Viana (Fado Vianinha) Intérprete: Helena Sarmento Versão original: Helena Sarmento (in CD “Lonjura”, Helena Sarmento, 2018)
Voar
[ Fado em Branco ]
Voar Sem culpa do mar Que nunca se deita Sentir A chuva a cair De vida insuspeita
Sofrer A dor de morrer Na dor imperfeita Sorrir Por dentro mentir Verdade perfeita
Assim é a vida De dor dividida Cerrada no peito Um barco à deriva Verdade fingida Doença sem leito
Eu bem que não queria Saber algum dia Que sempre serei O vento do norte Sem vida nem morte Sem crime nem lei
Amar De amor sufocar A boca na boca
Florir Ficar e partir De tanto ser pouca
Vender De graça o prazer Sentir como louca
Chorar Sem culpa do mar Do beijo e da boca
Assim é a vida De amor dividida Cerrada no peito Um barco à deriva Mentira fingida Doença sem leito
Eu bem que não queria Saber algum dia Que sempre serei O vento do norte Sem vida nem morte Sem crime nem lei
Eu bem que não queria Saber algum dia Que sempre serei O vento do norte Sem vida nem morte Sem crime nem lei
O verso da sorte Sem que isso me importe Saber que cheguei
Letra: João Gigante-Ferreira Música: Samuel Cabral e João Gigante-Ferreira Intérprete: Helena Sarmento Versão original: Helena Sarmento (in CD “Lonjura”, Helena Sarmento, 2018)
1. Bebe a terra negra e à terra as árvores as águas aos ventos o sol às águas e ao sol a lua E as estrelas claras Porque é que só eu não hei-de beber?
2. Traz a água e o vinho e coroas de flores que agora com Eros me debato…
3. De novo amo e já amo Deliro e não deliro Estou louco e não estou louco
Poema: Anacreonte (Grécia, séc. VI a.C.) (in O Vinho e as Rosas: Antologia de Poemas Sobre a Embriaguez , org. Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim, 1995) Recitado por Carlos Mota de Oliveira Música: Janita Salomé Intérprete: Janita Salomé (in CD “Vinho dos Amantes”, Som Livre, 2007)
DEVE-SE ESTAR SEMPRE EMBRIAGADO
[Embriagai-vos ]
Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais importa. Para que o horrível fardo do tempo não vos pese sobre os ombros e vos faça pender para a terra, deveis embriagar-vos sem cessar. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos! E se um dia, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma valeta, na solidão baça do vosso quarto, acordades, já sóbrios, perguntai ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai: “Que horas são?”. E o vento, a onda, a estrela, a ave, o relógio, responder-vos-ão: “São horas de vos embriagardes!”. Para que não sejais os escravos martirizados do tempo, embriagai-vos sem cessar. De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.
Poema em prosa: Charles Baudelaire (in O Vinho e as Rosas: Antologia de Poemas Sobre a Embriaguez, org. Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim, 1995) Recitado por Carlos Mota de Oliveira Música: Janita Salomé Intérprete: Janita Salomé (in CD “Vinho dos Amantes”, Som Livre, 2007)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
DONDE VEM RODRIGO
[ Cantigas às Serranas ]
Donde vem Rodrigo, Donde vem Gonçalo, De sachar o milho, De mondar o prado.
Seja diligente Quem amor semeia, Que quem não granjeia Não colhe a semente. Semeou Rodrigo, Semeou Gonçalo, Haverão do milho Se mondam o prado. Quem de amor se esquece No tempo de verde, Não colhe o que perde Entre erva que cresce, Por isso Rodrigo, Por isso Gonçalo, Vão sachar o milho, Vão mondar o prado. Amor que aproveita, Se antes de gradar Cresce em seu lugar Ciúme e suspeita, Triste de Rodrigo, Triste de Gonçalo, Mal por seu cuidado, Se não sacha o milho, Se não monda o prado. Amor que ficou Em terra deserta Colhe quem acerta, Não quem semeou. Semeou Rodrigo, Semeou Gonçalo, Para haverem o milho Cumpre haver cuidado. Em terra mimosa Ninguém faça escolha, Vai-se o grão na folha, De muito viçosa. Gonçalo e Rodrigo, Cumpre ser lembrado, De sachar o milho, De mondar o prado.
Letra: Baltazar Estaço Música: Custódio Castelo Intérprete: Cristina Branco (in CD “Sensus”, Universal, 2003)
HOJE O ESPAÇO É ESPLÊNDIDO
[ O Vinho dos Amantes ]
Hoje o espaço é esplêndido Sem freio, sem esporas, sem rédea, Partamos evolados do vinho Para um céu mágico e divino!
Como dois anjos que calentura implacável tortura No azul cristal da manhã Sigamos a miragem distante!
Mansamente balouçados sobre a asa Do turbilhão inteligente, Num delírio paralelo,
Minha irmã, voando olhos nos olhos, Fugiremos sem descanso nem tréguas Para o paraíso dos meus sonhos
Poema: Charles Baudelaire (versão livre de Janita Salomé) Música: Janita Salomé Intérprete: Janita Salomé (in CD “Vinho dos Amantes”, Som Livre, 2007)
QUEM QUISER QUE CANTE
[ Quadras ]
Quem quiser que cante bem Dê-me uma pinga de vinho O vinho é coisa boa Faz o cantar mais fininho
Venha vinho, beberemos Molharemos a garganta Eu sou como o rouxinol Quanto mais bebe mais canta
O vinho é coisa santa Que nasce da cepa torta A uns faz perder o tino A outros errar a porta
O meu amor já vem torto Já se perdeu no caminho Já não se lembra de mim
Quadras populares (recolhidas por Manuel Rocha, da Brigada Victor Jara), excepto a penúltima, da autoria de António Aleixo, e a última, de Francisco Hélder Pimenta (Ti Chico Chinês), do Redondo. Música: Janita Salomé Intérprete: Janita Salomé (in CD “Vinho dos Amantes”, Som Livre, 2007)
VÁ DE BOCA EM BOCA
[ No Banquete ]
Vá de boca em boca Uma taça dourada Somos pó e nada, Estamos a passar Como o vinho passa Na taça Da vida P’ra logo em seguida No chão se entornar.
Vá de boca em boca Uma taça bem cheia. A luz da candeia Fez de nós iguais. Só gente e tristeza Na mesa Da vida Até que a bebida Nos torne imortais.
Vá de boca em boca Uma taça de prata. Se o prazer nos mata, Deixá-lo matar. É a melhor morte Que em sorte Nos calha Cair na batalha No chão do lagar.
Vá de boca em boca Uma taça de cobre. E se houver que sobre Siga outra rodada Bebamos, que foge Já hoje Outro dia E no fim da orgia Somos pó e nada.
Poema (inédito): Hélia Correia Música: Janita Salomé Intérprete: Janita Salomé (in CD “Vinho dos Amantes”, Som Livre, 2007)
É ou não é Que o trabalho dignifica É assim que nos explica O rifão que nunca falha? É ou não é Que disto, toda a verdade, Que só por dignidade No mundo, ninguém trabalha!
É ou não é Que o povo nos diz que não, Que o nariz não é feição Seja grande ou delicado? No meio da cara Tem por força que se ver, Mesmo a quem o não meter Aonde não é chamado!
Digam lá se é assim ou não é? Ai, não, não é! Digam lá se é assim ou não é? Ai, não, não é! Pois é!
É ou não é Que um velho que à rua saia Pensa, ao ver a minissaia: Este mundo está perdido?! Mas se voltasse Agora a ser rapazote Acharia que saiote É muitíssimo comprido?
É ou não é Bondosa a humanidade Todos sabem que a bondade É que faz ganhar o céu? Mas a verdade, Nua sem salamaleque, Que tive de aprender É que ai de mim se não for eu!
Digam lá se é assim ou não é? Ai, não, não é! Digam lá se é assim ou não é? Ai, não, não é! Pois é!
Digam lá se é assim ou não é? Ai, não, não é! Digam lá se é assim ou não é? Ai, não, não é! Pois é!
Digam lá se é assim ou não é? Ai, não, não é! Digam lá se é assim ou não é? Ai, não, não é! Pois é!
Letra: Alberto Janes Intérprete: Mariza
Estrada da vida
Estrada da vida, Oh estrada do meu destino, Onde, feito peregrino, Meu coração se perdeu! Estrada da vida, Feita de dor e de esperança, Quem a subiu não se cansa, Que o diga quem a desceu.
Estrada da vida, Longa estrada onde eu sigo, Sem ter mesmo um braço amigo Onde me possa apoiar; Estrada da vida, Onde os passos mal dados Ficam p’ra sempre marcados Como na pele a sangrar.
Volta depressa, Ó minha esperança perdida! Um rumo certo na vida Quero por fim encontrar.
Volta depressa, Ó minha esperança perdida! Um rumo certo na vida Quero por fim encontrar.
Volta depressa, Ó minha esperança perdida! Um rumo certo na vida Quero por fim encontrar.
Letra e música: João Dias Nobre Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Hoje É Assim, Amanhã Não Sei”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2016) Versão original: Maria José da Guia (in EP “Barro Divino”, Estúdio/Mundusom, 1969?)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Eu sei
[ O tempo não para ]
Eu sei, que a vida tem pressa que tudo aconteça, sem que a gente peça, Eu sei, Eu sei, que o tempo não pára, tempo é coisa rara e a gente só repara, quando ele já passou
Não sei, se andei depressa demais Mas sei que algum sorriso eu perdi Vou pedir ao tempo, que me dê mais tempo para olhar para ti De agora em diante, não serei distante Eu vou estar aqui
Cantei, cantei a Saudade da minha cidade e até com vaidade, cantei Andei, pelo Mundo fora e não via a hora de voltar para ti
Não sei, se andei depressa demais Mas sei que algum sorriso eu perdi Vou pedir ao tempo, que me dê mais tempo para olhar para ti De agora em diante, não serei distante Eu vou estar aqui
Música: Miguel Gameiro Intérprete: Mariza
Hoje, a semente
[ O Melhor de Mim ]
Letra: AC Firmino Música: Tiago Machado Intérprete: Mariza
Largar, partir
Largar, partir Desta terra pardacenta Desta gente sempre igual Macambúzia, pachorrenta Indiferente e desatenta Deste imenso lamaçal De chorincas Eternos sorumbáticos De sopinhas sem sal Dengosos e apáticos Seus choros melismáticos Lamúrias em caudal A verter, a verter Pois chorar é beber!
Largar, partir Rumo a terras misteriosas Com segredos sem ter fim Criaturas majestosas Outras tantas tenebrosas Como nunca vi assim E tesouros Druidas, feiticeiros E pós de perlimpimpim Princesas e arqueiros Sereias, viageiros Tudo novo para mim A encher, a encher Pois partir é crescer!
Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar A não ser p’ra voltar a partir
Largar, partir Rumo a terras misteriosas Com segredos sem ter fim Criaturas majestosas Outras tantas tenebrosas Como nunca vi assim E tesouros Druidas, feiticeiros E pós de perlimpimpim Princesas e arqueiros Sereias, viageiros Tudo novo para mim A encher, a encher Pois partir é crescer!
Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar A não ser p’ra voltar a partir
Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar A não ser p’ra voltar a partir
Letra e música: Manuel Maio Intérprete: A Presença das Formigas (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)
Muda de vida
Muda de vida se tu não vives satisfeito Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar Muda de vida, não deves viver contrafeito Muda de vida, se a vida em ti a latejar
Ver-te sorrir eu nunca te vi E a cantar, eu nunca te ouvi Será te ti, ou pensas que tens… que ser assim?
Muda de vida se tu não vives satisfeito Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar Muda de vida, não deves viver contrafeito Muda de vida, se a vida em ti a latejar
Ver-te sorrir eu nunca te vi E a cantar, eu nunca te ouvi Será te ti, ou pensas que tens… que ser assim?
Olha que a vida não, não é nem deve ser Como um castigo que tu terás que viver
Muda de vida se tu não vives satisfeito Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar Muda de vida, não deves viver contrafeito Muda de vida, se a vida em ti a latejar
Letra e música: António Variações Intérprete: Manuela Azevedo / Humanos (in CD “Humanos”, EMI-VC, 2004)
Não consigo dominar
[ Estou Além ]
Não consigo dominar Este estado de ansiedade A pressa de chegar P’ra não chegar tarde Não sei de que é que eu fujo Será desta solidão Mas porque é que eu recuso Quem quer dar-me a mão
Vou continuar a procurar A quem eu me quero dar Porque até aqui eu só
Quero quem Quem eu nunca vi Porque eu só quero quem Quem não conheci Porque eu só quero quem Quem eu nunca vi Porque eu só quero quem Quem não conheci Porque eu só quero quem Quem eu nunca vi
Esta insatisfação Não consigo compreender Sempre esta sensação Que estou a perder Tenho pressa de sair Quero sentir ao chegar Vontade de partir P’ra outro lugar
Vou continuar a procurar O meu mundo, o meu lugar Porque até aqui eu só
Estou bem Aonde eu não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde eu não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde não estou
Esta insatisfação Não consigo compreender Sempre esta sensação Que estou a perder Tenho pressa de sair Quero sentir ao chegar Vontade de partir P’ra outro lugar
Vou continuar a procurar A minha forma, o meu lugar Porque até aqui eu só
Estou bem Aonde eu não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde eu não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde não estou
Letra e música: António Variações (António Joaquim Rodrigues Ribeiro) Intérprete: António Variações (in single “Povo Que Lavas no Rio / Estou Além”, EMI-VC, 1982; “Anjo da Guarda”, EMI-VC, 1983, reed. 1998; CD “O Melhor de António Variações”, EMI-VC, 1997)
Rapaz do Bairro da Lata
Nasci no Vale Escuro Brinquei entre latas Pulei o alão Andei à pedrada Escorreguei do muro Caí no jará Ganhei ao pião. A jogar à bola Perdi a sacola Mais o que trazia A fugir ao guarda Que nos perseguia. Mas que bem sabia Faltarmos à escola!
Já rapaz crescido Sequer fui ouvido Só meu pai o quis: Entrei de aprendiz Para uma oficina Minha negra sina Ofício gritado Estalo safanão Era um pau-mandado Nas mãos do patrão.
Lembrança dos jogos Que tanto gostava Deu-me pra pensar Que jogo era aquele Que só um jogava? E no outro dia Logo que o patrão Levantou da mão Para a bofetada Peguei num martelo Entrei na jogada.
Mudei de oficina Subi de aprendiz Dobrei uma esquina Minha vida fiz. Na escola nocturna Meti-me a estudar Tenho namorada Vamos namorar Tenho amigos certos Vamos trabalhar Todos a lutar Pelas coisas da vida Que queremos viver!
Poema: Manuel da Fonseca (De “Poemas Inéditos”, in “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 171-172) Música: Paulo Ribeiro Intérprete: Paulo Ribeiro com Tim (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)
Manuel da Fonseca
Não tenhas medo do escuro
Não tenhas medo do escuro Mesmo que seja tão duro Ter à frente a noite inteira; Vou cantar para tu dormires E até tu conseguires Fico à tua cabeceira.
Para que fiques descansada E não durmas assustada Vou deixar a luz acesa; Assim podes ter certeza Que não há sombra malvada Que te apanhe de surpresa.
Não fiques assim de cara triste! O que dói nunca resiste até mais não E nada cai mais fundo do que o chão.
Tristeza não é feitio E o calor depois do frio É tão certo como o Verão; Por maior que seja a ferida Tu vais ver que tem saída Essa dor no coração.
Mesmo que tudo pareça Não ter pés nem ter cabeça, Mete fé no que eu te juro; Eu vou estar aqui por perto E não há nada mais certo Que a manhã depois do escuro.
Não fiques assim de cara triste! O que dói nunca resiste até mais não E nada cai mais fundo do que o chão.
Não fiques assim de cara triste! O que dói nunca resiste até mais não E nada cai mais fundo do que o chão.
E nada cai mais fundo do que o chão.
Letra: José Fialho Gouveia Música: Rogério Charraz Arranjo: Rogério Charraz, Paulo Loureiro e Jaume Pradas Intérprete: Rogério Charraz (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)
Largar, partir
Largar, partir Desta terra pardacenta Desta gente sempre igual Macambúzia, pachorrenta Indiferente e desatenta Deste imenso lamaçal De chorincas Eternos sorumbáticos De sopinhas sem sal Dengosos e apáticos Seus choros melismáticos Lamúrias em caudal A verter, a verter Pois chorar é beber!
Largar, partir Rumo a terras misteriosas Com segredos sem ter fim Criaturas majestosas Outras tantas tenebrosas Como nunca vi assim E tesouros Druidas, feiticeiros E pós de perlimpimpim Princesas e arqueiros Sereias, viageiros Tudo novo para mim A encher, a encher Pois partir é crescer!
Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar A não ser p’ra voltar a partir
Largar, partir Rumo a terras misteriosas Com segredos sem ter fim Criaturas majestosas Outras tantas tenebrosas Como nunca vi assim E tesouros Druidas, feiticeiros E pós de perlimpimpim Princesas e arqueiros Sereias, viageiros Tudo novo para mim A encher, a encher Pois partir é crescer!
Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar A não ser p’ra voltar a partir
Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar Largar, partir, voar Sem ter certo onde ir Sem ter por que voltar A não ser p’ra voltar a partir
Letra e música: Manuel Maio Intérprete: A Presença das Formigas (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)
O dia não te correu bem
[ A Mesma Camisola ]
O dia não te correu bem e não gostas do que fazes E agora só pedes um pouco de atenção Diz tudo para fora, estou pronto para ouvir Diz-me algo que não saiba e que te dê a razão Vais ter de mim um ar de sério compreensivo Num abraço convincente, como se fosse um irmão Diz agora o que te vai na mente e no que puder ajudar Tens aqui um amigo com quem… com quem podes contar No fundo, na frente, na mesma camisola, A frio, a quente com a cara para dar No bom, no mau, no que importa realmente Levo a tua bandeira, onde consiga chegar
O dia não te correu bem e não gostas do que fazes Não é culpa de ninguém e podes sempre mudar Procura no que sabes um caminho para andar Trata a vida sempre bem, que ela bem te vai tratar Põe amor no teu caminho e a verdade ao de cima Nunca ficarás sozinho e podes ajudar também Se alguém no teu presente possa a vir necessitar Faz de ti um amigo com quem… com quem se possa contar No fundo, na frente, na mesma camisola, A frio, a quente com a cara para dar No bom, no mau, no que importa realmente Levo a tua bandeira, onde consiga chegar
No fundo, na frente, na mesma camisola, A frio, a quente e com a cara para dar No bom, no mau, no que importa realmente Levo a tua bandeira, onde consiga chegar
No fundo, na frente, na mesma camisola, A frio, a quente e com a cara para dar No bom, no mau, no que importa realmente Levo a tua bandeira…
Letra e música: Luís Pucarinho Intérprete: Luís Pucarinho com Jorge Benvinda (in CD “Orgânica Mente Humana”, Caracol Secreto Associação/Alain Vachier Music Editions, 2015)
O que é a vida?
[ Fala do Índio ]
O que é a vida? É o brilho. O que é a vida? É a noite. É o sopro do bisonte no inverno, no inverno.
É sombra que corre na erva e se perde ao fim do dia. As cinzas dos antepassados são p’ra nós sagradas e quando os bosques sussurram não sentimos medo, e quando os bosques sussurram não sentimos medo.
O que é a vida? É o brilho. O que é a vida? É a noite. É o sopro do bisonte no inverno, no inverno.
É sombra que corre na erva e se perde ao fim do dia. As cinzas dos antepassados são p’ra nós sagradas e quando os bosques sussurram não sentimos medo, e quando os bosques sussurram não sentimos medo.
O que é a vida?
O que é a vida? É o brilho. O que é a vida? É a noite. É o sopro do bisonte no inverno, no inverno.
O que é a vida? O que é a vida?
O que é a vida?
Letra e música: João Afonso Lima Intérprete: João Afonso (in CD “Missangas”, Mercury/Polygram, 1997, reed. Universal Music, 2017)
João Afonso, Missanga
Que do céu tombassem violinos
[ Epitáfio ]
Que do céu tombassem violinos Decidindo por nós, gente maior, Na forma, no projecto e na ideia, No fazer sempre mais, sempre melhor!
Que o povo alcançasse em sentimento Sempre a classe mais alta do poema E a vida fosse mais que este momento Entre farrapos de nada e alfazema!
Que a vida fosse alma e fosse vinho, Fosse vento nas searas ondulantes E orgasmos de prazer e rosmaninho E luxo e sonho e fúria a cada instante!
E oceanos de espuma nos levassem Cavalgando o desespero de partir! E tudo fosse simples e elevado Como um prado orvalhado no sentir!
De tudo, tanto que eu acreditei Tantos anos de espera convertida, Sobra um sabor de que nada aconteceu Pelas regras que devia haver na vida.
Por isso, um dia, parto, assim, sem despedida Entre memórias e cantos partilhados. E este excesso fabuloso sem ter fim Vai comigo, fiquem, disso, descansados.
Sobrará de mim, talvez, fraca memória, Esta luxúria da vida, alguns recados, Este modo amordaçado de sorrir E uma montanha de amores nunca alcançados.
Espantosamente, como é qu’inda deixo sonhos? Mais que o dobro dos feitos consumados! Só não deixo meias-tintas nem favores, Nem regras, nem peias, nem pudores.
Deixo excessos, truculências e humores. Mas virtudes?! Nem pensar! Tudo pecados!
Espantosamente, como é qu’inda deixo sonhos? Mais que o dobro dos feitos consumados! Só não deixo meias-tintas nem favores, Nem regras, nem peias, nem pudores.
Deixo excessos, truculências e humores. Mas virtudes?! Nem pensar! Tudo pecados!
Poema e música: Pedro Barroso Intérprete: Pedro Barroso* (in CD “Palavras ao Vento”, Ovação, 2014)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/11/antonio-variacoes.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 06:45:052024-11-13 11:17:23Canções sobre a vida
A chuva choveu num dia de sol Um peixe cresceu em cima do anzol Tenho dois corações para gostar melhor Um bate cá dentro, o outro não tem lugar
Um rio balançou p’ra trás e p’rá frente Tenho duas bocas p’ra cantar diferente Uma tem tristeza e cheiro a manjerico Quando a outra cant’a esta dá lhe o fanico
Chuva de Paus, Castelo de Areia Grão-de-Bico é bom à sombra da bananeira Tenho sete vidas e uma epifania Sou gata, estou viva no reino de hoj’em dia
Chuva de Paus, Castelo de Areia Grão-de-Bico é bom à sombra da bananeira Tenho sete vidas e uma epifania Sou gata, estou viva no reino de hoj’em dia
Letra: Miguel Cardina Música: Pedro Damasceno Arranjo: Diabo a Sete Intérprete: Diabo a Sete (in CD “tarAra”, atrasdosbarrocos.com, 2011)
Alguém a ganhar
[ O Beijo da Medusa ]
Alguém a ganhar Alguém a perder Alguém a lucrar Alguém a morrer Nestas areias movediças De ganâncias, de cobiças Um sinistro ritual Terra prometida Prometida a quem? Terra proibida Terra de ninguém É uma nova Babilónia Por dentro da nossa insónia Uma louca espiral Pode ser fatal a voz da tua musa Muito cuidado com o beijo da medusa Pode ser fatal a voz da tua musa Muito cuidado com o beijo da medusa O ovo da serpente, a dança guerreira Vê lá, não deites gasolina na fogueira E pode ser fatal a voz da tua musa Muito cuidado com o beijo da medusa Salta, soldadinho Da tua trincheira Salta, soldadinho Desta bandalheira Será que a vida continua? Esta guerra não é tua Quem te quer endrominar?
Alguém a ganhar Alguém a perder Alguém a lucrar Alguém a morrer Sorte caipora Já abriram a boceta de Pandora Quem nos quer envenenar?
Pode ser fatal a voz da tua musa Muito cuidado com o beijo da medusa Pode ser fatal a voz da tua musa Muito cuidado com o beijo da medusa O ovo da serpente, a dança guerreira Vê lá, não deites gasolina na fogueira E pode ser fatal a voz da tua musa Muito cuidado com o beijo da medusa Gregos e troianos Abutres e falcões Há tantos enganos Nas vossas missões Rio de raiva e de veneno Sanguinário, tão obsceno Um pesadelo que não tem fim Uivo de chacais Voz que se apagou Em lutas tribais Pranto que secou Vou questionar a tua sentença, a tua lei Pois já nem sei Se foi Abel que matou Caim
Letra e música: José Medeiros Arranjo: Paulo Borges Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 1, Algarpalcos, 2010)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Anda cá
[ Tempos Anormais ]
Anda cá, se queres ver As coisas que eu vi: Um pato a endoidecer, Outro a sorrir.
Anda cá, nem podes crer Coisas de contar: Uma centelha a chover, Outra a congelar.
Anda cá, se queres ver As coisas que eu vi: Gente cansada a lançar Pragas contra si.
Andam no ar vibrações, Tempos anormais, Gente que pede aflições A quem lhas der mais.
Anda cá, se queres ver As coisas que eu vi: Um pato a endoidecer, Outro a sorrir.
Anda cá, nem podes crer Coisas de contar: Uma centelha a chover, Outra a congelar.
Anda cá, se queres ver As coisas que eu vi: Gente cansada a lançar Pragas contra si.
Andam no ar vibrações, Tempos anormais, Gente que pede aflições A quem lhas der mais.
Letra: Miguel Cardina Música: Pedro Damasceno, Julieta Silva e Celso Bento Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Figura de Gente”, Sons Vadios, 2016)
A Verdade da Mentira
Coisas que o Mundo não me quer contar Ou eu não sei entender; Coisas que a vida me quer ensinar E eu não quero aprender.
Será que os rios Sabem o caminho do mar P’ra lá chegar? Ou alguém lhes vem mostrar?…
Se eu te contar a verdade Sem te dizer quase nada, Tu vais dizer com vontade Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade E te disser que é mentira, Tu vais dizer com vontade Que até a verdade se vira.
Por trás do muro há uma voz a falar, Deste lado nada se vê; Dizem-me sempre par’acreditar Mas não me dizem em quê.
Tantas palavras cruzadas perdidas p’lo ar E eu a pensar… Como as hei-de eu arrumar?
Se eu te contar a verdade Sem te dizer quase nada, Tu vais dizer com vontade Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade E te disser que é mentira, Tu vais dizer com vontade Que até a verdade se vira.
Se eu te contar a verdade Sem te dizer quase nada, Tu vais dizer com vontade Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade E te disser que é mentira, Tu vais dizer com vontade Que até a verdade se vira.
Se eu te contar a verdade Sem te dizer quase nada, Tu vais dizer com vontade Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade E te disser que é mentira, Tu vais dizer com vontade Que até a verdade se vira.
Letra: Sebastião Antunes Música: Paulo Loureiro Arranjo: Paulo Loureiro e José Salgueiro Intérprete: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
Coisas que o mundo
[ A Verdade da Mentira ]
Coisas que o Mundo não me quer contar Ou eu não sei entender; Coisas que a vida me quer ensinar E eu não quero aprender.
Será que os rios Sabem o caminho do mar P’ra lá chegar? Ou alguém lhes vem mostrar?…
Se eu te contar a verdade Sem te dizer quase nada, Tu vais dizer com vontade Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade E te disser que é mentira, Tu vais dizer com vontade Que até a verdade se vira.
Por trás do muro há uma voz a falar, Deste lado nada se vê; Dizem-me sempre par’acreditar Mas não me dizem em quê.
Tantas palavras cruzadas perdidas p’lo ar E eu a pensar… Como as hei-de eu arrumar?
Se eu te contar a verdade Sem te dizer quase nada, Tu vais dizer com vontade Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade E te disser que é mentira, Tu vais dizer com vontade Que até a verdade se vira.
Se eu te contar a verdade Sem te dizer quase nada, Tu vais dizer com vontade Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade E te disser que é mentira, Tu vais dizer com vontade Que até a verdade se vira.
Se eu te contar a verdade Sem te dizer quase nada, Tu vais dizer com vontade Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade E te disser que é mentira, Tu vais dizer com vontade Que até a verdade se vira.
Letra: Sebastião Antunes Música: Paulo Loureiro Arranjo: Paulo Loureiro e José Salgueiro Intérprete: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
Sou Dual
Eu quero andar sem pés no chão, Talvez sim, talvez não… Ser uma conta certa e errada, Ser tudo, ser nada.
Escrever sem nada p’ra dizer E falar só por querer; Num contra-senso todo imenso Sou eu, quando penso.
Certeza inquieta, que aperta, Que oprime e liberta, Que às vezes acerta: Sou dual.
Puxar meu barco pela areia, Volta e meia, desistir; Dar-me a quem me quer ver feia, E de quem me vê, fugir.
Senhora dos meus devaneios, Imperfeita perfeição, Carrego mil e um anseios No peito e nas mãos.
Certeza inquieta, que aperta, Que oprime e liberta, Que às vezes acerta: Sou dual.
Certeza inquieta, que aperta, Que oprime e liberta, Que às vezes acerta: Sou dual.
Letra: Ana Laíns e Mafalda Arnauth Música: Ivan Lins Arranjo: Paulo Loureiro e Ana Laíns Intérprete: Ana Laíns com Ivan Lins (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
Ana Laíns, Portucalis
Tubarão tinha dentes de rainha
[ Tamboril ]
Tubarão tinha dentes de tainha E a tainha tinha dentes de tambor Toca traz tempo chuva tempestade Tubarão trincou um touro nos taleigos da vontade
Tubarão tinha o tímpano trocado E trocado (es)tava o tempo todo o ano Toca traz tempo chuva tempestade Tubarão tamborilou ‘inda a missa ia a metade
Tubarão traficou-se em tamboril Troca-tintas com retoque teatral Toca terça, quarta, quinta, noite e dia Travestido no Entrudo c’uma tromba de enguia
Tamboril teve tísica ao contrário Já tossia como tosse o tubarão Toca terça, quarta, quinta, noite e dia Tamboril entubarou num atalho p’rá Turquia
Tubarão tinha dentes de tainha E a tainha tinha dentes de tambor Toca traz tempo chuva tempestade Tubarão trincou um touro nos taleigos da vontade
Tubarão tinha o tímpano trocado E trocado (es)tava o tempo todo o ano Toca traz tempo chuva tempestade Tubarão tamborilou ‘inda a missa ia a metade
Tubarão traficou-se em tamboril Troca-tintas com retoque teatral Toca terça, quarta, quinta, noite e dia Travestido no Entrudo c’uma tromba de enguia
Tamboril teve tísica ao contrário Já tossia como tosse o tubarão Toca terça, quarta, quinta, noite e dia Tamboril entubarou num atalho p’rá Turquia
Letra: Miguel Cardina Música e arranjo: Diabo a Sete Intérprete: Diabo a Sete
Com um olhar de soslaio
[ Prosas Mordazes ]
Com um olhar de soslaio, não me vêem como eu sou Atracados na memória, com quem ando e onde vou
E falam sobre mim, sem me conhecer Dizem que é assim, não têm o que dizer Não têm o que dizer, não têm o que dizer
Não sabem da minha vida, quem morreu e quem ficou São nuances que descuram, que ninguém lhes segredou
E falam sobre mim, sem me conhecer Dizem que é assim, nem sei que lhes dizer Nem sei que lhes dizer, nem sei que lhes dizer
Entre dentes especulam, onde vou e o que faço Não passam de vis criaturas a quem nego o meu enlaço
E falam sobre mim, sem me conhecer Dizem que é assim, nunca hão-de saber Nunca hão-de saber, nunca hão-de saber
E falam sobre mim, sem me conhecer Dizem que é assim, não têm o que dizer Falam sobre mim, sem me conhecer Dizem que é assim, nem sei que lhes dizer Falam sobre mim, sem me conhecer Dizem que é assim, nunca hão-de saber Nunca hão-de saber, nunca hão-de saber
Letra e música: Miguel Moita Fernandes Arranjo: Lacre Intérprete: Lacre Versão original: Lacre (in CD “Opus 0”, Lacre/Tradisom, 2013)
Como diferem das minhas
[ Minhas Penas ]
Como diferem das minhas As penas das avezinhas Que de leves leva o ar Só as minhas pesam tanto Que às vezes nem já o pranto Lhes alivia o pesar
As minhas penas não caem Nem voam nunca, nem saem Comigo desta amargura Mostram apenas na vida A estrada já conhecida Trilhada pelos sem ventura
Passam dias, passam meses Passam anos, muitas vezes Sem que uma pena se vá E se uma vem, mais pequena Ai, depois nem vale a pena Porque mais penas me dá
Que felizes são as aves Como são leves, suaves, As penas que Deus lhes deu Só as minhas pesam tanto Ai, se tu soubesses quanto… Sabe-o Deus e sei-o eu
Só as minhas pesam tanto Ai, se tu soubesses quanto… Sabe-o Deus e sei-o eu
Letra: Fernando Caldeira Música: Carlos da Maia Intérprete: Maria Teresa de Noronha (in CD “O Melhor de Maria Teresa de Noronha”, EMI-VC, 1992)
Num dia sou quem me encontro
[ Caminho Certo ]
Num dia sou quem me encontro, Num outro dia me perco Na vida que conto Tão longe e tão perto. Será o caminho certo?
Vem de tão longe este espanto Tão inquieto, tão perfeito De tudo o que tenho de incerto. Saudade, Que é feito Do caminho certo?
Faço o que tenho a fazer, Longe daqui é mais perto. Quem vai dizer? Como saber Qual o caminho certo?
Haja um dia que se encontre Sem saber ao que virá, Se fica p’ra lá do deserto. Saudade, Eu sei lá Se é o caminho certo!
Vem de tão longe este espanto Tão inquieto, tão perfeito De tudo o que tenho de incerto. Saudade, Que é feito Do caminho certo?
Letra: Viriato Teles Música: Ricardo Fino Arranjo: Quiné Teles Intérprete: Ela Vaz (in CD “Eu”, Micaela Vaz, 2017)
Só por existir
Só por existir Só por duvidar Tenho duas almas em guerra E sei que nenhuma vai ganhar
Só por ter dois sóis Só por hesitar Fiz a cama na encruzilhada E chamei casa a esse lugar
E anda sempre alguém por lá Junto à tempestade Onde os pés não têm chão E as mãos perdem a razão
Só por inventar Só por destruir Tenho as chaves do céu e do inferno E deixo o tempo decidir
E anda sempre alguém por lá Junto à tempestade Onde os pés não têm chão E as mãos perdem a razão
Só por existir Só por duvidar Tenho duas almas em guerra E sei que nenhuma vai ganhar Eu sei que nenhuma vai ganhar
Letra e música: Jorge Palma Intérprete: Jorge Palma (in “Bairro do Amor”, Polygram, 1989)
Chorava por te não ver, Por te ver eu choro agora; Mas choro só por querer, Querer ver-te a toda a hora.
Passa o tempo de corrida, Quando falas e eu te escuto; Nas horas da nossa vida Cada hora é um minuto.
Quando estás ao pé de mim Sinto-me dona do mundo; Mas o tempo é tão ruim, Tem cada hora um segundo.
Deixa-te estar a meu lado E não mais te vás embora, P’ra o meu coração, coitado, Viver na vida uma hora.
Deixa-te estar a meu lado E não mais te vás embora, P’ra o meu coração, coitado, Viver na vida uma hora.
Letra: António Sabrosa Música: Maria Teresa de Noronha
Gosto de te ouvir cantar
[ Chuva nos Beirados ]
Gosto de te ouvir cantar, Ó chuva, nos beirados, Trauteando músicas de encantar, Tornando os dias molhados: É o Inverno a chegar. Gosto de te ouvir cair, Ó chuva, nos telhados, Sussurrando melodias calmas; O teu gotejo sincopado, De sinfonia abstracta, É como a amizade Quando o amor nos falta!
Gosto de te ouvir cantar, Ó chuva, nos beirados, Trauteando músicas de encantar, Tornando os dias molhados: É o Inverno a chegar. Gosto de te ouvir cair, Ó chuva, nos telhados, Sussurrando melodias calmas; O teu gotejo sincopado, De sinfonia abstracta, É como a amizade Quando o amor nos falta! É como a amizade Quando o amor nos falta!
Letra: Rogério Perrolas Música e arranjo: Rogério Charraz Intérprete: Rogério Charraz com António Caixeiro, Buba Espinho e Eduardo Espinho (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Nesses dias em que as horas
[ Ondulações ]
Nesses dias em que as horas se fazem dias sem fim, já não sou eu quem acorda, há alguém que dorme em mim.
Era mar ainda agora, fiz-me rio sem saber que o céu que em mim demora é só foz e anoitecer.
Sou pedra em fogo lento vaga sem lua nem vez, conto em riso e lamento, quanto o tempo desfez.
E quando um barco pressente dessa noite o marulhar, dou o peito à corrente, sou um rio feito mar.
Era mar ainda agora fiz-me rio sem saber que o céu que em mim demora é só foz e anoitecer.
Se me deres uma vez mais a maré do teu olhar, eu serei somente um cais onde possas aportar.
Letra: Helena Carvalho Música: Fernando Dias Marques Arranjo: Fernando Marques Intérprete: Fernando Marques Ensemble (in CD “(des)Encontros”, Fernando Marques Ensemble, 2016)
No mês de Janeiro
[ Calendário ]
No mês de Janeiro Vem a chuva e vem o vento, Enquanto em Fevereiro Chega ao fim o meu tormento.
Nos idos de Março Faço as malas e abalo; Abril, o que faço? Canto sempre e não me calo.
E no mês de Maio Tiro a roupa e vou ao mar; E nessa não caio: De em Junho me calar.
No calor de Julho Ainda mais canto com gosto, E logo mergulho O corpo no mês de Agosto.
Quando em Setembro Eu finalmente descubro Que ainda me lembro Dos teus anos em Outubro.
E assim em Novembro, Se eu agora não me engano, Cheira-me a Dezembro, Chega ao fim o fim do ano.
De novo em Janeiro… Ainda algum tempo me sobra Para em Fevereiro Deitar enfim mãos à obra.
Fica tudo pronto Lá para finais de Março; Em Abril eu conto Encontrar-te num abraço.
Em Maio de flores Espero que a chuva não caia; E em Junho, se fores ao mar, Vês-me lá na praia.
O levante em Julho Chega mesmo a meu gosto: Dou mais um mergulho, Faço anos em Agosto.
Partem em Setembro, Rumo a sul, as andorinhas; De Outubro a Dezembro Ficam sem folhas as vinhas.
E assim terminamos Mais um ano nesta lida: Canção que acabamos No seu ponto de partida.
Letra e música: Sérgio Mestre Intérprete: OrBlua com Janita Salomé (in Livro/CD “Retratos Cinéticos”, Fungo Azul/Ocarina, 2015)
Nos dias de hoje
Nos dias de hoje, Ninguém sabe a quantas anda: Manda quem pode, Pode quem manda. Nos dias de hoje, Não sentimos confiança: Salva-se a música E siga a dança! Nos dias de hoje, Ninguém sabe o que o espera, Se é inverno ou primavera, Indiferença ou compaixão. Nos dias de hoje, A justiça não impera, A igualdade desespera, É confusa a confusão.
Salva-se o amor, Salva-se a esperança, Salvam-se os olhos duma criança; Salva-se a honra, Salva-se a paz, Salvam-se os beijos que tu me dás!
Nos dias de hoje, Ninguém sabe o de amanhã, E fazer planos É coisa vã. Nos dias de hoje, Já não há motivação Para dar às balas O coração. Nos dias de hoje, Ninguém sabe o que o espera, Se é um sonho ou uma quimera Ter saudades do futuro. Nos dias de hoje, Ninguém põe as mãos no fogo Por um amanhã mais novo, Por um amanhã mais puro.
Salva-se o amor, Salva-se a esperança, Salvam-se os olhos duma criança; Salva-se a honra, Salva-se a paz, Salvam-se os beijos que tu me dás!
Salva-se o amor, Salva-se a esperança, Salvam-se os olhos duma criança; Salva-se a honra, Salva-se a paz, Salvam-se os beijos que tu me dás!
Salva-se a honra, Salva-se a paz, Salvam-se os beijos que tu me dás!
Letra e música: Tozé Brito Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Hoje É Assim, Amanhã Não Sei”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2016)
O tempo perguntou ao tempo
[ Charanga do Tempo ]
O tempo perguntou ao tempo Quanto tempo o tempo tem; O tempo respondeu ao tempo Que o tempo tem tanto tempo Quanto tempo o tempo tem. Tempo que parece Deus E Deus que parece a Vida; Vida que pareço eu Entre o riso e o pranto Numa busca sem medida.
O tempo perguntou ao tempo Quanto tempo o tempo tem; O tempo respondeu ao tempo Que o tempo tem tanto tempo Quanto tempo o tempo tem. Sobre o tempo ninguém sabe, Talvez ele saiba de nós; Não se vende, não se rende, Tantas vezes não se entende E quase sempre manda em nós!
O tempo perguntou ao tempo Quanto tempo o tempo tem; O tempo respondeu ao tempo Que o tempo tem tanto tempo Quanto tempo o tempo tem. Mas sei qu’ele sabe o que faz Sem se dar a entender; Na verdade que trouxer Venha o tempo que vier, Hei-de ser tempo de paz.
O tempo perguntou ao tempo… Sobre o tempo ninguém sabe… O tempo perguntou ao tempo… Talvez ele saiba de nós… O tempo perguntou ao tempo… O tempo, o tempo, o tempo… O tempo, o tempo, o tempo, o tempo… O tempo perguntou ao tempo Quanto tempo o tempo tem.
Letra: Popular (refrão) e Ana Laíns Música: Carlos Lopes Intérprete: Ana Laíns Versão original: Ana Laíns com Mafalda Arnauth (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
São tempos
São tempos acesos e os dias correndo, e quanto mais corres menos vais vivendo.
Os olhos são tristes, os cravos murcharam, a esperança ainda existe, mas as vozes calaram.
Os campos são amplos, a vida é às voltas, mas, às páginas tantas, eu morro em revoltas.
São tempos gritantes e as horas passando, e quantas mais passam mais vais naufragando.
Nos teus olhos há sonhos que a sombra encobriu. Há restos da esperança que um Abril floriu.
Os campos são amplos, a vida é às voltas, mas, às páginas tantas, eu morro em revoltas.
São tempos de fúria por servidões encoberta, quando mais te enfureças mais o meu canto desperta.
Nos nossos olhos há sonhos que vão florescer, na certeza que um dia Abril vai romper.
Os campos são amplos, a vida é às voltas, mas, às páginas tantas, eu morro em revoltas.
Letra: Joana Lopes Música: António Pedro Intérprete: Musicalbi Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)
Se o tempo não chega a ser
[ O Fado do Tempo Morto ]
Se o tempo não chega a ser Mais que as horas a passar, Talvez o mal de o perder Me deixe um dia ganhar.
Das mil voltas que já dei Ao mundo que já foi meu, Fica-me o tempo em que amei Todo o mundo que era teu.
Talvez de mim me perdesse E me esquecesse de ti… E então o tempo dos dois Seria o que não vivi.
Não sei bem se inda te quero, Ou se é sina que Deus me deu… Meu amor, se não te espero É porque o tempo morreu…
Letra: Carlos Leitão Música: Popular (Fado Menor) Intérprete: Ana Laíns Versão original: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
Sei quantas luas
[ Dias Cruzados ]
Sei quantas luas tu dormiste, Neste teu mundo tão triste, Neste teu encanto puro!
Foi uma vida sem história, Quatro ventos sem memória, Numa onda sem retorno!
E… cruzam-se os dias, Mesmo… sem ter seu rumo próprio… Nome… cada letra é teu gosto… Cada gosto em teu luar, devagar!
Vem, nesse pensamento vago, Onde choro e não me encontro, Onde canto ao longe o Fado…
Traz esses dias que se cruzam, Em redor de noites brancas, Ao sabor de luas calmas.
E… cruzam-se os dias, Mesmo… sem ter seu rumo próprio… Nome… cada letra é teu gosto… Cada gosto em teu luar, devagar!
Os dias cruzados, amados, Vencidos, perdidos… Enganados!
Amantes das luas, Das noites cruzadas, Amadas sentidas… Rotinas!… Fugindo…
Os dias cruzados, amados, Vencidos, perdidos… Enganados!
Amantes das luas, Das noites cruzadas, Amadas sentidas… Rotinas!… Fugindo, ouvindo o mar do dia!…
Os dias cruzados, amados, Vencidos, perdidos… Enganados!
Amantes das luas, Das noites cruzadas, Amadas sentidas… Rotinas!… Fugindo…
Os dias cruzados, amados, Vencidos, perdidos… Enganados!
Amantes das luas, Das noites cruzadas, Amadas sentidas… Rotinas!… Fugindo, ouvindo o mar do dia!…
Letra: José Flávio Martins Música: António Pedro Intérprete: Musicalbi Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)
Vamos embora, é tarde
[ Passam Horas, Passam Dias ]
Vamos embora, é tarde, tão tarde, nem demos porque o tempo já passou. Alguma coisa em nós se vai perdendo, alguma coisa em nós se encontrou. Vamos contar que há amanhã p’ra tudo o que ainda não foi dito, até ver, vamos lá viver.
Passam horas, passam dias, horas nossas que lá vão, uns passam, outros ficam. Não vão.
Quem está? Quem foi embora? No abrir e fechar da hora, quem faz connosco a vida não demora.
O que devemos ao tempo, vivendo, que resgatamos à morte, no fim. Uma andorinha cantando, cantando à vida, poisada no beiral da cantiga e é este canto maior que faz do tempo uma voz, tecendo os dias em nós.
Passam horas, passam dias, horas nossas que lá vão, uns passam, outros ficam. Não vão.
Quem está? Quem foi embora? No abrir e fechar da hora, quem faz connosco a vida não demora.
Passam horas, passam dias, horas nossas que lá vão, uns passam, outros ficam. Não vão.
Quem está? Quem foi embora? No abrir e fechar da hora, quem faz connosco a vida não demora.
Letra: Amélia Muge Música: José Barros Arranjo: José Barros e Miguel Tapadas Intérprete: José Barros e Navegante Versão original: José Barros e Navegante (in CD “À’Baladiça”, Tradisom, 2018)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/05/orblua_retratos-cineticos.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 06:33:472024-11-13 11:18:43Canções do tempo
A grande nau Catrineta Tem os seus mastros de pinho. Ai lé, ai lé, Marujinho, bate o pé. O ladrão do despenseiro Furtou a ração do vinho. Ai lé, ai lé, Marinheiro, vira à ré.
Antes de caçar as gáveas, Põe-se o ferro sempre a pique. Ai lé, ai lé, Cada qual mostra o que é. Para a nau ficar a nado Abrem-se as portas ao dique. Ai lé, ai lé, Chega tudo cá p’rá ré.
Quando as gáveas vão aos rizes, A maruja talha o lais. Ai lé, ai lé, Quem é moiro não tem fé. Sobem dois a impunir, A rizar sobem os mais. Ai lé, ai lé, Tu com tu, e cré com cré.
Quando o barco faz cabeça, Ala braços, iça a giba. Ai lé, ai lé, Vai de longo que é maré. Quando ele arranca o ferro, Vira então de leva arriba. Ai lé, ai lé, Vira mar e San José.
E de usança, ao quarto d’alva, Matar na coberta o bicho. Ai lé, ai lé, Deixa a maca, põe a pé. Antes da baldeação, Varre o moço, apanha o lixo. Ai lé, ai lé, Peito à barra, finca o pé.
Todo o barco que anda a corso Caça outro que se veja. Ai lé, ai lé, Muito cafre tem Guiné. E todo o moço do convés Caça a isca na bandeja. Ai lé, ai lé, Mazagão não é Salé.
Letra: Autor desconhecido (possivelmente do séc. XVII) Música: Francisco Pimenta Intérprete: O Baú com Sebastião Antunes (in CD “Achega-te”, O Baú, 2012)
Meloteca, recursos musicais criativos para crianças, professores, educadores e animadores
A história que a gente vos quer contar
[ Travessa do Poço dos Negros ]
A história que a gente vos quer contar Aconteceu um dia em Lisboa Aonde o tempo corre devagar
Chegámos era cedo à ribeira Ainda todo o peixe respirava E a outra carga aos poucos definhava
O gemido do cordame das amarras Juntava-se ao lamento dos porões E o que nos chega fora são canções
A gente viu sair uma outra gente que dançava Um estranho bailado em tom dolente Marcado pelo bater das correntes
Anda linda Vamos p’ra ver se é verdade Que lá se pode ouvir cantar Anda linda Vamos ao poço dos negros P’ra ver quem pode lá morar
Mais tarde fomos ter àquela parte da cidade Que é mais profunda do que a maré baixa E a Lua só visita por vaidade
De novo a estranha moda se dançava Agora com suspiros de saudade Agora com bater de corações
Anda linda Vamos p’ra ver se é verdade Que lá se pode ouvir cantar Anda linda Vamos ao poço dos negros P’ra ver quem pode lá morar
Batiam com as barrigas e roçavam-se nas coxas Os corpos já dourados de suor E as bocas já vermelhas dos amores
Quisemos nós saber qual era o nome desta moda Respondeu-nos um velho já mirrado: Lundum, mas se quiserem chamem Fado
Anda linda Vamos p’ra ver se é verdade Que lá se pode ouvir cantar Anda linda Vamos ao poço dos negros P’ra ver quem pode lá morar
Letra: Luís Represas Música: João Gil Intérprete: Trovante (in “Trovante 84”, EMI-VC, 1984; reed. 1988)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Ai apertem os cintos
[ Corpo Inteiro ]
Ai apertem os cintos, vamos começar Vou contar uma história de desencantar Eram quatro donzelas a olhar o Sol Cada qual em busca do amor Procurando saber o que arde sem se ver Se é a dor ou se é o prazer
A primeira caiu num sono fatal À espera que um sapo a salvasse do mal A segunda abalou nas ondas do mar Nunca mais veio p’ra contar A terceira, devota subiu aos céus Uma voz que fugiu do lugar
Vou contar uma história de desencantar Eram quatro donzelas presas pelo olhar Já três delas se foram por causa do amor Como carne que estilhaçou Se o que arde não cura e o desejo é fartura Só a quarta é que se salvou
Vou contar uma história de desencantar Vi a quarta donzela que olhava p’ra o mar De improviso cantava para o último sol A mais doce feitiçaria Quatro flores cortadas e ela não murchou E das febres fez alegria
Letra: Miguel Cardina Música: Pedro Damasceno e Julieta Silva Arranjo: Diabo a Sete e Julieta Silva Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Figura de Gente”, Sons Vadios, 2016)
Beatriz foi à praça
[ Beatriz e João ]
Beatriz foi à praça para comprar o pão, Pela manhã se arregaça, para a vida vencer E, na cama deitado de ressaca, o João Chegou embriagado, deitou tudo a perder
Beatriz sai porta fora, o João fica a chorar Diz que se vai embora se isto continuar
Mulher feliz namora e não quer chorar Não deixes ir embora quem te quer namorar!
O João volta a casa e promete mudar Beatriz desconfia, tentando acreditar Dedicou-se à mulher, entregou-se a valer Mas ela sabe o que quer e não se quer perder
João sai porta fora, Beatriz fica a chorar Diz que se vai embora se isto continuar
Homem feliz namora e não quer chorar Não deixes ir embora quem te quer namorar!
Beatriz chama o João, com tanto p’ra discutir Quis ouvir olhando nos olhos o João dizendo que não vai repetir O João prometeu, pediu-lhe para acreditar Beatriz respondeu: “Tudo bem, mas vou-me embora se isto continuar…”
Mulher feliz namora e não quer chorar Não deixes ir embora quem te quer namorar!
Homem feliz namora e não quer chorar Não deixes ir embora quem te quer namorar!
Letra e música: Luís Pucarinho Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)
De um trapo velho
[ Cinco Vidas ]
De um trapo velho fiz cinco saias que querem rodar Num pano branco cosi cinco bolsos para te levar
De saco às costas parti sem saber se ia voltar Cabeça erguida e olhos de quem quer olhar
Pus-te na minha mão cinco dedos para me escapar O mundo deu-me então cinco vidas para me curar
E lá do bolso de trás perguntaste se ainda podias falar Cabeça erguida, respondi: tanto me faz
Pela estrada andei quantas voltas eu dei sem encontrar um motivo para voltar
De um trapo velho fiz cinco saias que querem rodar Num pano branco cosi cinco bolsos para te levar
E lá do bolso de trás perguntaste quando ia parar Cabeça erguida, respondi: até ter paz
Pela estrada andei quantas voltas eu dei sem encontrar um motivo para voltar
tanto me faz até ter paz
Letra: Eugénia Ávila Ramos Música: Tiago Oliveira Intérprete: Rua da Lua* (in CD “Rua da Lua”, Rua da Lua, 2016)
Deram-me uma burra
[ Cantiga da Burra ]
Deram-me uma burra que era mansa Que era brava Toda bem-parecida Mas a burra não andava A burra não andava Nem p’rá frente nem p’ra trás Muito eu lhe ralhava Mas eu não era capaz Eu não era capaz de fazer a burra andar Passava do meio-dia e eu a desesperar E eu a desesperar Ai que desespero o meu Falei-lhe num burrico E a burra até correu
Deram-me uma burra que era mansa Que era brava Toda bem-parecida Mas a burra não andava A burra não andava Nem p’rá frente nem p’ra trás Muito eu lhe ralhava Mas eu não era capaz Eu não era capaz de fazer a burra andar Passava do meio-dia e eu a desesperar E eu a desesperar Ai que desespero o meu Falei-lhe num burrico E a burra até correu
Letra e música: Sebastião Antunes, Manuel Meirinhos, Paulo Meirinhos, Alexandre Meirinhos e Paulo Preto Arranjo: Luís Peixoto Intérprete: Sebastião Antunes e a Quadrilha com Galandum Galundaina (in CD “Com Um Abraço”, Vachier & Associados, 2012)
Deu-se agora
[ Casório Divertido ]
Deu-se agora, há pouco tempo, Um casório divertido: A noiva mais que danada, Lá pela noite adiantada, Arrancou o nariz ao marido.
É o que acontece aos velhos Que procuram mocidade… Quando se despiu deitou E o nariz lhe arrancou Por não fazer a vontade.
Procuraram-lhe as vizinhas: — «Que fizeste ao teu Viriato?» — «Dormir com homem e ter frio, Dormir com homem e ter frio, Vale mais dormir com gato!»
Foi consultar o doutor, Disse-lhe que não tinha cura; E agora, por qualquer lado, A chorar o desgraçado, Faz uma triste figura.
Letra e música: Tradicional (Aldeia do Bispo, Guarda, Beira Alta) Informante: Júlia Costa Fonseca Recolha: Américo Rodrigues Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016)
Ele vinha sem muita conversa
[ Minha História ]
Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente Minha mãe se entregou a esse homem perdidamente
Ele assim como veio partiu não se sabe p’ra onde E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe Esperando, parada, pregada na pedra do porto Com seu o único velho vestido cada dia mais curto
Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher Me ninava cantando cantigas de cabaré
Minha mãe não tardou a alertar toda a vizinhança A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança E não sei bem se por ironia ou se por amor Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor
Minha história é esse nome que ainda carrego comigo Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz Me conhecem só pelo meu nome de Menino Jesus
Letra: Chico Buarque, a partir da letra original de Paola Pallotino para a canção “4 marzo 1943” Música: Lucio Dala Intérprete: Pensão Flor Versão discográfica de Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013) Primeira versão de Chico Buarque (in LP “Construção”, Philips, 1971, reed. Philips, 1988, Universal Music, 2017) Versão original: Lucio Dala (in LP “Storie di Casa Mia”, RCA Italiana, 1971, reed. RCA/BMG Ricordi, 1996)
Estava difícil combinar um café
[ Sabes? Eu Também ]
Estava difícil combinar um café, mas desta vez lá foi Talvez possamos falar do que já lá vai, que às vezes ainda dói Da coragem esquecida que já se perdeu Quem deixou por dizer: foste tu ou fui eu? Da lembrança guardada num canto qualquer Da palavra apagada por não se entender E dizer-te num gesto mais enternecido: “Sabes? Eu também… ando um bocado perdido.”
Vou preparar-te um jantar. Com certeza, vou ser original E vou escolher-te um bom vinho. Tu sabes, nunca me saí mal E falar-te das voltas que a vida trocou Das verdades que o tempo já entrelaçou Entre sonhos queimados lançados ao vento Entre a cor de um sorriso e o tom de um lamento E dizer-te de um sopro empurrado pela sorte: “Sabes? Eu também… ando um bocado sem norte.”
Olha, não fiz sobremesa. Deixa lá, fica p’ra a outra vez Vamos deixar mais um copo ao falar dos quês e dos porquês Uma história que nos apeteça lembrar Um episódio que nunca nos deu p’ra contar Um segredo guardado p’lo cair do pano Um encontro marcado no cais de um engano E dizer-te na hora em que a voz fraquejar: “Sabes? Eu também… me apetece chorar.”
E vou chamar um táxi. É hora p’ra te levar a casa Era suposto um de nós nesta altura ficar com a alma em brasa Mas a vida é assim, não aconteceu Pouco importa dizer: foste tu ou fui eu? O que importa é o abraço que estava por dar Há-de haver uma próxima e mais um jantar E dizer-te a sorrir: “Já passa das três, Dorme bem! E, quem sabe?, um dia talvez…”
Um dia talvez… Um dia talvez… Um dia talvez…
Letra e música: Sebastião Antunes Arranjo: Miguel Veras Intérprete: Sebastião Antunes (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017) Versão original: Sebastião Antunes (in CD “Cá Dentro”, Vachier & Associados, 2009)
Estavam todas juntas
[ Ronda das Mafarricas ]
Estavam todas juntas Quatrocentas bruxas À espera, à espera À espera da lua cheia
Estavam todas juntas Veio um chibo velho Dançar no adro Alguém morreu
Arlindo coveiro Com a tua marreca Leva-me primeiro Para a cova aberta
Arlindo, Arlindo Bailador das fadas Vai ao pé coxinho Cava-me a morada
Arlindo coveiro Cava-me a morada Fecha-me o jazigo Quero campa rasa
Arlindo, Arlindo Bailador das fadas Vai ao pé coxinho Cava-me a morada
Letra: António Quadros (pintor) Música: José Afonso Intérprete: José Afonso (in “Cantigas do Maio”, Orfeu, 1971, reed. Movieplay, 1987)
Eu que me comovo
[ Bolero do Coronel Sensível Que Fez Amor em Monsanto ]
Eu que me comovo Por tudo e por nada Deixei-te parada Na berma da estrada Usei o teu corpo Paguei o teu preço Esqueci o teu nome Limpei-me com o lenço Olhei-te a cintura De pé no alcatrão Levantei-te as saias Deitei-te no banco Num bosque de faias De mala na mão Nem sequer falaste Nem sequer beijaste Nem sequer gemeste Mordeste, abraçaste Quinhentos escudos Foi o que disseste Tinhas quinze anos Dezasseis, dezassete Cheiravas a mato À sopa dos pobres A infância sem quarto A suor a chiclete Saíste do carro Alisando a blusa Espiei da janela Rosto de aguarela Coxa em semifusa Soltei o travão Voltei para casa De chaves na mão Sobrancelha em asa Disse: “fiz serão” Ao filho e à mulher Repeti a fruta Acabei a ceia Larguei o talher Estendi-me na cama De ouvido à escuta E perna cruzada Que de olhos em chama Só tinha na ideia Teu corpo parado Na berma da estrada Eu que me comovo Por tudo e por nada
Letra: António Lobo Antunes Música: Vitorino Intérprete: Vitorino (in CD “Eu Que me Comovo por Tudo e por Nada”, EMI-VC, 1992)
Façam roda
[ Conto do Bicho Papão ]
Façam roda a ver quem vai ao meio cada um com seu par, tira a pedrinha ciruma, acabei eu primeiro ficas tu a tapar, não dá madrinha já ninguém te pergunta quantos queres já não ouves ninguém contar: um, dó, li, tá afinal qual é o dedo que preferes quem está livre, livre está
Ninguém fala do homem do saco ninguém espreita por baixo do colchão já ninguém acredita na côca nem no bicho papão
Salta à corda, joga à barra do lenço adivinha o que eu penso, dá a partida falua, quem acerta na malha danada da canalha está fugida salta ao eixo a fugir à cabra cega olha o meu pião, mas eu não to dou não onde é que anda a viuvinha que não chega? E a sardinha a dar na mão
Ninguém fala do homem do saco ninguém espreita por baixo do colchão já ninguém acredita na côca nem no bicho papão
Ai se eu pudesse habitar um jogo electrónico voltava a ser falado, voltava a assustar imaginem lá qual não era a sensação de uma consola com o jogo do regresso do papão
Ninguém fala do homem do saco ninguém espreita por baixo do colchão já ninguém acredita na côca nem no bicho papão
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997)
Não sei se tinha chegado
[ Rapariga da Estação ]
Não sei se tinha chegado, Se porventura partia… Mas tinha um lugar sentado E reparei no que lia.
Cabelos negros caídos – Longos, lisos, deprimidos – Escondem o decote ousado Do seu cinzento vestido.
Não consegui dizer nada, Preferi que fosse assim: Antes só que acompanhada Mesmo que seja por mim.
Condição de quem resiste: Abandono, solidão… Tão inspiradora e triste Rapariga da estação.
Não consegui dizer nada, Preferi que fosse assim: Antes só que acompanhada Mesmo que seja por mim.
Condição de quem resiste: Abandono, solidão… Tão inspiradora e triste Rapariga da estação.
Letra e música: Duarte Intérprete: Duarte* (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Ia eu pelo concelho de Caminha
[ Coro das Velhas ]
Ia eu pelo concelho de Caminha quando vi sentada ao sol uma velhinha curioso, uma conversa entabulei como se diz nuns romances que eu cá sei
Chamo-me Adozinha, disse, e tenho já os meus 84 anos, feitos há mês e meio, se a memória não me falha mas inda vou durar uns anos, Deus me valha
Com esta da austeridade, meu senhor nem sequer dá para ir desta pra melhor os funerais estão por um preço do outro mundo dá pra desistir de ser um moribundo
Rabugenta, eu? Não senhor eu hei-de ir desta pra melhor mas falo pelos que eu cá deixo não é por mim que eu me queixo não é por mim que eu me queixo
Ó Felisbela, ó Felismina ó Adelaide, ó Amelinha ó Maria Berta, ó Zulmirinha vamos cantar o coro das velhas? Vamos!
Cá se vai andando co’a cabeça entre as orelhas
Não sei ler nem escrever mas não me ralo alguns há que até a caneta lhes faz calo é só assinar despachos e decretos p’ra nos dar a ler a nós, analfabetos
E saúde tenho p’ra dar e vender não preciso de um ministro para ter tudo o que ele anda a ver se me pode dar pode ir ele para o hospital em meu lugar
E quanto a apertar cinto, sinto muito filosofem os que sabem lá do assunto mas com esta cinturinha tão delgada inda posso ser de muitos namorada
Rabugenta, eu? Não senhor eu hei-de ir desta pra melhor mas falo pelos que eu cá deixo não é por mim que eu me queixo não é por mim que eu me queixo
Ó Felisbela, ó Felismina ó Adelaide, ó Amelinha ó Maria Berta, ó Zulmirinha vamos cantar o coro das velhas? Vamos!
Cá se vai andando co’a cabeça entre as orelhas
E se a morte mafarrica, mesmo assim me apartar das outras velhas, logo a mim digo ao Diabo, “não te temo, ó camafeu conheci piores infernos do que o teu”
Rabugenta, eu? Não senhor eu hei-de ir desta pra melhor mas falo pelos que eu cá deixo não é por mim que eu me queixo não é por mim que eu me queixo
Ó Felisbela, ó Felismina ó Adelaide, ó Amelinha ó Maria Berta, ó Zulmirinha vamos cantar o coro das velhas? Vamos!
Cá se vai andando co’a cabeça entre as orelhas
Letra e música: Sérgio Godinho Intérprete: Sérgio Godinho (in “Salão de Festas”, Philips/Polygram, 1984; “Era Uma Vez Um Rapaz”, Philips/Polygram, 1985; “Noites Passadas: O Melhor de Sérgio Godinho (ao vivo)”, EMI-VC, 1995)
No centro da Avenida
[ Teresa Torga ]
No centro da Avenida, No cruzamento da rua, Às quatro em ponto, perdida Dançava uma mulher nua.
A gente que via a cena Correu para junto dela No intuito de vesti-la, Mas surge António Capela
Que aproveitando a barbuda Só pensa em fotografá-la. Mulher na democracia Não é biombo de sala.
Dizem que se chama Teresa, Seu nome é Teresa Torga; Muda o pick-up em Benfica E atura a malta da borga.
Aluga quartos de casa Mas já foi primeira estrela; Agora é modelo à força Que o diga António Capela.
T’resa Torga, T’resa Torga Vencida numa fornalha! Não há bandeira sem luta, Não há luta sem batalha!
T’resa Torga, T’resa Torga Vencida numa fornalha! Não há bandeira sem luta, Não há luta sem batalha!
Letra e música: José Afonso Intérprete: Ana Laíns Versão discográfica de Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017) Versão original: José Afonso (in LP “Com as Minhas Tamanquinhas”, Orfeu, 1976, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art’Orfeu Media, 2012)
No mercado da Ribeira
[ O Namorico da Rita ]
No mercado da Ribeira há um romance de amor entre a Rita que é peixeira e o Chico que é pescador
Sabem todos os que lá vão que a Rita gosta do Chico só a mãe dela é que não consente no namorico
Quando ele passa por ela ela sorri descarada porém, o Chico à cautela não dá trela nem diz nada
Que a mãe dela quando calha ao ver que o Chico se abeira por dá cá aquela palha faz tremer toda a Ribeira
Namoram de manhãzinha e da forma mais diversa dois caixotes de sardinha dão dois dedos de conversa
E há quem diga à boca cheia que depois de tanta fita o Chico de volta e meia prega dois beijos na Rita
Quando ele passa por ela ela sorri descarada porém o Chico à cautela não dá trela nem diz nada
Que a mãe dela quando calha ao ver que o Chico se abeira por dá cá aquela palha faz tremer toda a Ribeira
Letra: Artur Ribeiro Música: António Mestre Intérprete: Amália Rodrigues (1946; 1958) (in CD “Fado Amália”, Movieplay, 1998)
No Sábado eu fui
[ O café da Sãozinha ]
No Sábado eu fui beber o meu fino ali ao café da Sãozinha e lá a conversa por mais quieta chega sempre à cozinha
O prato do dia junto trazia o caso de uma senhora Que disse ter visto a Zaida sair de mão dada com o Zé do Candal
E o morcão do homem dela de barba à janela A ler o jornal E por entre tintos e brancos Bagaços sandes de presunto Como àgua a correr de mesa pra mesa rodava o assunto
Sem se fazer caso era vê-lo crescer O irmão do barbudo até então mudo deixa sair uma posta que a gaja é uma sostra não faz nenhum e sabe bem do que gosta O Rui dos Guindais que conhece os pais chegou-se mais ao balcão E de mão em concha confessa que ele é uma peça e não tem posição que estoura o guito no casino e em casa o menino alimenta-se a pão E por entre tintos e brancos Bagaços sandes de presunto Como água a correr de mesa pra mesa rodava o assunto Sem se fazer caso era vê-lo crescer O homem da São conhece a canção e tira da manga a manilha saca da raquete e atira o filete prós ouvidos da filha eu sempre te disse desta família não há um que se aproveite esquece o Candal ó Tininhas e não queres ver a madeira a queimar se um anda perdido no jogo o outro há de ter fogo para a gente apagar E por entre tintos e brancos Bagaços sandes de presunto Como água a correr de mesa pra mesa rodava o assunto
Sem se fazer caso era vê-lo crescer O Gusto do talho pai da Zaidinha chega e pede um cimbalino E o Tó do café faz conversa a ré e encosta o pente fino A São que sabia que na cantoria não tinha sido a primeira falou afiando as facas O que há mais é vacas E bois a pastar
O António estava como a cal implorando a Jesus para a São se calar
E por entre tintos e brancos Bagaços sandes de presunto Como água a correr de mesa p’ra mesa rodava o assunto Sem se fazer caso era vê-lo crescer
Pelo fim da tarde tu sais do emprego E eu não sei porque é que aqui vim parar É assim um desassossego Tento ir sempre onde possas estar
Por sorte tu até sorris E nem sequer me vens com muitos ‘porquês’ E dizes com um certo ar feliz: “Com que então, por aqui outra vez?”
Num parque ao domingo P’lo meio da cidade Ou num café ao entardecer
Será que é mentira? Será que é verdade? Mas o que é que me está acontecer?
Já sei! Não há explicação A cabeça está num reboliço Se calhar apaixonei-me por ti E nem sequer dei por isso
Ao virar da esquina, em qualquer transporte Acabamos sempre por nos cruzar E eu acho um caso de sorte Cada vez que te posso encontrar
Está-me a correr bem, já ganhei o dia Só porque me dissestes um “olá!” E gosto da tua ironia Se perguntas mais uma vez: “Por cá?”
Mensagem trocada, gesto embaraçado Lá vou eu outra vez a planar Desculpa, desculpa! Foi número errado Mas ficamos uma hora a falar
Já sei! Não há explicação A cabeça está num reboliço Se calhar apaixonei-me por ti E nem sequer dei por isso
Tanto melhor quando não se espera E era bom que fosse como imaginei
Já sei! Não há explicação A cabeça está num reboliço Se calhar apaixonei-me por ti E nem sequer dei por isso
Já sei! Não há explicação A cabeça está num reboliço Se calhar apaixonei-me por ti E nem sequer dei por isso
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Sebastião Antunes, TV Sintra
P’lo artigo cento e tal
[ Fado Jurídico-Criminal ]
P’lo artigo cento e tal Da regra dos bons costumes, A maçã do senhor Nunes É um bem celestial.
Estão a postos os jurados, Numa sala as testemunhas; O arguido rói as unhas, Os juízes descansados.
«Não fui eu, foi a Serpente! Não sei mais o que lhes diga!» «Isso é história muito antiga Contada por toda a gente».
«Comi por ter muita fome», Suplicou o acusado, «Sou órfão de pai e mãe E estou desempregado.»
«Quantos anos, p’ra que constem?», Perguntou o presidente; «Oitenta feitos ontem», O meirinho diligente.
«O senhor não tem vergonha De ter fome àquela hora? Mas que vício ou que peçonha O não deixou vir embora?»
«Já me custa muito a andar E o que eu quero já me esquece… Fui vítima de maus tratos E não tinha GPS!»
«Não pense que nos engana, É suprema esta questão: A maçã que aqui se trata É a Civilização!
E que sorte tem o senhor Demandado nesta liça, Que tem pago defensor, Que a tremer pediu justiça.
«Vai o réu, pois, condenado À pena mais capital!» Disse o último jurado: «Esconjurado está o mal!»
Tudo está no seu lugar: A maçã dos bons costumes, A árvore que é do Nunes, Os polícias a acenar.
O arguido p’rá cadeia, A cadeia a transbordar; O meirinho p’ró IKEA, Os juízes a jantar.
O meirinho p’ró IKEA, Os juízes a jantar.
Letra: João Gigante-Ferreira Música: André Teixeira Intérprete: Helena Sarmento Versão original: Helena Sarmento (in CD “Lonjura”, Helena Sarmento, 2018)
Quando entrei no restaurante
Quando entrei no restaurante Que muitas vezes frequento Testemunhei sem querer O que em seguida comento
Estava à mesa uma família Todos muito bem vestidos Quando veio o empregado P’ra recolher os pedidos
Notou-se um amor profundo Bonito de apreciar Mostrava-se ali ao mundo Uma família exemplar
A decisão foi veloz O menu nem foi olhado Duas pizzas e um hamburguer E foi o caso encerrado
E sem mais tempo perder Os adultos e o fedelho Com enorme agilidade Sacaram do aparelho
Nota-se um amor profundo Não há nada p’ra falar Cada qual está no seu mundo É uma família exemplar
O pai no seu telemóvel Vê novidades da bola E o filho entusiasmado Mata zombies na consola
A mãe no motor de busca Procura com precisão A novelinha patusca Que vai curtir ao serão
Nota-se um amor profundo Que há harmonia no lar Cada qual está no seu mundo É uma família exemplar
No afã nos polegares Num repasto a bom teclar Nem uma simples palavra Lograram articular
Por fim a pensar fiquei Sem deixar de me afligir Que raio de sociedade Estamos nós a construir?
Notou-se um amor profundo Que há-de frutificar Com cada um no seu mundo Temos um mundo exemplar
Aníbal Raposo, Forum Elos – Diálogos, 25 de junho de 2021
“(Acabado de fazer. Vou musicar)”
Uma velha, muito velha
[ Diabo da Velha ]
Uma velha, muito velha, Veio aqui à minha aldeia Com um saco pelas costas Para fazer uma venda; E o povo lá pedia… Mas comprava o que não queria.
Foi para o largo apregoar: «– Quem quer, quem quer? Quem quer vir cá comprar Belas coisas que aqui trago Neste saco abençoado? Venham que eu vendo barato!»
Fui lá ver o que ela tinha, Queria eu uma sardinha; Disse-me ela que não tinha Mas que antes me vendia Uma tampa de panela, Ai o diabo da velha!
«– Oiça lá, ó menina, P’ra que quer uma sardinha Que até traz uma espinha Que lhe pode fazer mal? Antes disso leve a tampa Que foi de nobre panela! Pode confiar na velha, Faço preço especial!»
Fui comprar eu a tampa: Para que serve sem panela?! Fui enganada, que tola!, Pelo diabo da velha.
Uma velha, muito velha, Veio aqui à minha aldeia Com um saco pelas costas Para fazer uma venda; E o povo lá pedia… Mas comprava o que não queria.
Foi para o largo apregoar: «– Quem quer, quem quer? Quem quer vir cá comprar Belas coisas que aqui trago Neste saco abençoado? Venham que eu vendo barato!»
Voltei eu àquela venda: Desta vez não caio, não! Queria eu uma saia Mas fez ela promoção: Comprei quatro colchões, Ai que bela ocasião!
«– Oiça lá, ó menina, P’ra que quer uma saia Que lhe dá ventos debaixo? Ainda fica constipada… Pela cara está cansada, Deve andar a dormir mal… Precisa de um colchão novo: Vendo quatro ao preço de um.»
Fui comprar que era barato, Lá caí eu na esparrela: Vivo só, bastava-me um… Fui enganada pela velha!
Uma velha, muito velha, Veio aqui à minha aldeia Com um saco pelas costas Para fazer uma venda; E o povo lá pedia… Mas comprava o que não queria.
Foi para o largo apregoar: «– Quem quer, quem quer? Quem quer vir cá comprar Belas coisas que aqui trago Neste saco abençoado? Venham que eu vendo barato!»
Eu também fui à venda, Queria eu um serrote; Vendeu-me ela um cavalo, Sem saber andar a trote… Ai o diabo da velha E a minha triste sorte!
«– Oiça lá, belo moço, P’ra que quer um serrote Que sem dentes afiados Não fazem nem um corte?! Antes disso, um cavalo Que sem dentes também corre P’ra chamar a donzela Que por certo trará sorte!»
Fui comprar aquele cavalo: Para que serve sem a sela?! Ainda nem uma donzela… Fui enganado pela velha!
Uma velha, muito velha, Veio aqui à minha aldeia Com um saco pelas costas Para fazer uma venda; E o povo lá pedia… Mas comprava o que não queria.
Letra e música: Carlos Norton Intérprete: OrBlua (in Livro/CD “Retratos Cinéticos”, Fungo Azul/Ocarina, 2015)
Vivia num mundo próprio
[ O Músico Que Perdeu os Sapatos ]
Vivia num mundo próprio onde não entra quem quer; E se estava ou não sóbrio? Se era homem ou mulher? Não tinha que ser assim: explicar porque aqui vim.
Musica è forma di vita senza forma stabilita, senza nessuno che decide che non sai mai dire no, senza nessuno che decide che non sai mai dire no.
De andar sempre à procura, há quem lhe decida a vida, que esta coisa de Cultura já de banal é esquecida. E se chega a vida dura, logo parte à despedida.
Lo spettacolo era un viaggio e una bela fattoria, naturale era il paesaggio bela gente finta allegria una nuvola de estate tutto quanto poi bagnò.
Sapatos muito molhados não dá jeito a carregar; O calor dá pés descalços, logo os venho aqui buscar. E não estavam lá, partiram: e nunca mais já se viram.
Si può perdere il controllo, anche con la leggerezza, si può perdere le scarpe con una certa timidezza. Ma musicista non ha età mai perde la dignità.
Perso la notte, perso il dia, Perso le scarpe e l’allegria. Perso la notte, perso il dia, Perso le scarpe e l’allegria.
Perdeu a noite, perdeu o dia, Perdeu os sapatos e a alegria. Perdeu a noite, perdeu o dia, Perdeu os sapatos e a alegria.
Letra: José Barros Música: José Barros e Mimmo Epifani Intérpretes: José Barros & Mimmo Epifani* Versão original: José Barros & Mimmo Epifani (in CD “Mar da Lua”, José Barros/Tradisom, 2015)