Canções do tempo

Orblua, Retratos Cinéticos
Chorava por te não ver

[ Fado das Horas ]

Chorava por te não ver,
Por te ver eu choro agora;
Mas choro só por querer,
Querer ver-te a toda a hora.

Passa o tempo de corrida,
Quando falas e eu te escuto;
Nas horas da nossa vida
Cada hora é um minuto.

Quando estás ao pé de mim
Sinto-me dona do mundo;
Mas o tempo é tão ruim,
Tem cada hora um segundo.

Deixa-te estar a meu lado
E não mais te vás embora,
P’ra o meu coração, coitado,
Viver na vida uma hora.

Deixa-te estar a meu lado
E não mais te vás embora,
P’ra o meu coração, coitado,
Viver na vida uma hora.

Letra: António Sabrosa
Música: Maria Teresa de Noronha

Gosto de te ouvir cantar

[ Chuva nos Beirados ]

Gosto de te ouvir cantar,
Ó chuva, nos beirados,
Trauteando músicas de encantar,
Tornando os dias molhados:
É o Inverno a chegar.
Gosto de te ouvir cair,
Ó chuva, nos telhados,
Sussurrando melodias calmas;
O teu gotejo sincopado,
De sinfonia abstracta,
É como a amizade
Quando o amor nos falta!

Gosto de te ouvir cantar,
Ó chuva, nos beirados,
Trauteando músicas de encantar,
Tornando os dias molhados:
É o Inverno a chegar.
Gosto de te ouvir cair,
Ó chuva, nos telhados,
Sussurrando melodias calmas;
O teu gotejo sincopado,
De sinfonia abstracta,
É como a amizade
Quando o amor nos falta!
É como a amizade
Quando o amor nos falta!

Letra: Rogério Perrolas
Música e arranjo: Rogério Charraz
Intérprete: Rogério Charraz com António Caixeiro, Buba Espinho e Eduardo Espinho (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)

Nesses dias em que as horas

[ Ondulações ]

Nesses dias em que as horas
se fazem dias sem fim,
já não sou eu quem acorda,
há alguém que dorme em mim.

Era mar ainda agora,
fiz-me rio sem saber
que o céu que em mim demora
é só foz e anoitecer.

Sou pedra em fogo lento
vaga sem lua nem vez,
conto em riso e lamento,
quanto o tempo desfez.

E quando um barco pressente
dessa noite o marulhar,
dou o peito à corrente,
sou um rio feito mar.

Era mar ainda agora
fiz-me rio sem saber
que o céu que em mim demora
é só foz e anoitecer.

Se me deres uma vez mais
a maré do teu olhar,
eu serei somente um cais
onde possas aportar.

Letra: Helena Carvalho
Música: Fernando Dias Marques
Arranjo: Fernando Marques
Intérprete: Fernando Marques Ensemble (in CD “(des)Encontros”, Fernando Marques Ensemble, 2016)

No mês de Janeiro

[ Calendário ]

No mês de Janeiro
Vem a chuva e vem o vento,
Enquanto em Fevereiro
Chega ao fim o meu tormento.

Nos idos de Março
Faço as malas e abalo;
Abril, o que faço?
Canto sempre e não me calo.

E no mês de Maio
Tiro a roupa e vou ao mar;
E nessa não caio:
De em Junho me calar.

No calor de Julho
Ainda mais canto com gosto,
E logo mergulho
O corpo no mês de Agosto.

Quando em Setembro
Eu finalmente descubro
Que ainda me lembro
Dos teus anos em Outubro.

E assim em Novembro,
Se eu agora não me engano,
Cheira-me a Dezembro,
Chega ao fim o fim do ano.

De novo em Janeiro…
Ainda algum tempo me sobra
Para em Fevereiro
Deitar enfim mãos à obra.

Fica tudo pronto
Lá para finais de Março;
Em Abril eu conto
Encontrar-te num abraço.

Em Maio de flores
Espero que a chuva não caia;
E em Junho, se fores ao mar,
Vês-me lá na praia.

O levante em Julho
Chega mesmo a meu gosto:
Dou mais um mergulho,
Faço anos em Agosto.

Partem em Setembro,
Rumo a sul, as andorinhas;
De Outubro a Dezembro
Ficam sem folhas as vinhas.

E assim terminamos
Mais um ano nesta lida:
Canção que acabamos
No seu ponto de partida.

Letra e música: Sérgio Mestre
Intérprete: OrBlua com Janita Salomé (in Livro/CD “Retratos Cinéticos”, Fungo Azul/Ocarina, 2015)

Nos dias de hoje

Nos dias de hoje,
Ninguém sabe a quantas anda:
Manda quem pode,
Pode quem manda.
Nos dias de hoje,
Não sentimos confiança:
Salva-se a música
E siga a dança!
Nos dias de hoje,
Ninguém sabe o que o espera,
Se é inverno ou primavera,
Indiferença ou compaixão.
Nos dias de hoje,
A justiça não impera,
A igualdade desespera,
É confusa a confusão.

Salva-se o amor,
Salva-se a esperança,
Salvam-se os olhos duma criança;
Salva-se a honra,
Salva-se a paz,
Salvam-se os beijos que tu me dás!

Nos dias de hoje,
Ninguém sabe o de amanhã,
E fazer planos
É coisa vã.
Nos dias de hoje,
Já não há motivação
Para dar às balas
O coração.
Nos dias de hoje,
Ninguém sabe o que o espera,
Se é um sonho ou uma quimera
Ter saudades do futuro.
Nos dias de hoje,
Ninguém põe as mãos no fogo
Por um amanhã mais novo,
Por um amanhã mais puro.

Salva-se o amor,
Salva-se a esperança,
Salvam-se os olhos duma criança;
Salva-se a honra,
Salva-se a paz,
Salvam-se os beijos que tu me dás!

Salva-se o amor,
Salva-se a esperança,
Salvam-se os olhos duma criança;
Salva-se a honra,
Salva-se a paz,
Salvam-se os beijos que tu me dás!

Salva-se a honra,
Salva-se a paz,
Salvam-se os beijos que tu me dás!

Letra e música: Tozé Brito
Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Hoje É Assim, Amanhã Não Sei”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2016)

O tempo perguntou ao tempo

[ Charanga do Tempo ]

O tempo perguntou ao tempo
Quanto tempo o tempo tem;
O tempo respondeu ao tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto tempo o tempo tem.
Tempo que parece Deus
E Deus que parece a Vida;
Vida que pareço eu
Entre o riso e o pranto
Numa busca sem medida.

O tempo perguntou ao tempo
Quanto tempo o tempo tem;
O tempo respondeu ao tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto tempo o tempo tem.
Sobre o tempo ninguém sabe,
Talvez ele saiba de nós;
Não se vende, não se rende,
Tantas vezes não se entende
E quase sempre manda em nós!

O tempo perguntou ao tempo
Quanto tempo o tempo tem;
O tempo respondeu ao tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto tempo o tempo tem.
Mas sei qu’ele sabe o que faz
Sem se dar a entender;
Na verdade que trouxer
Venha o tempo que vier,
Hei-de ser tempo de paz.

O tempo perguntou ao tempo…
Sobre o tempo ninguém sabe…
O tempo perguntou ao tempo…
Talvez ele saiba de nós…
O tempo perguntou ao tempo…
O tempo, o tempo, o tempo…
O tempo, o tempo, o tempo, o tempo…
O tempo perguntou ao tempo
Quanto tempo o tempo tem.

Letra: Popular (refrão) e Ana Laíns
Música: Carlos Lopes
Intérprete: Ana Laíns
Versão original: Ana Laíns com Mafalda Arnauth (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)

São tempos

São tempos acesos
e os dias correndo,
e quanto mais corres
menos vais vivendo.

Os olhos são tristes,
os cravos murcharam,
a esperança ainda existe,
mas as vozes calaram.

Os campos são amplos,
a vida é às voltas,
mas, às páginas tantas,
eu morro em revoltas.

São tempos gritantes
e as horas passando,
e quantas mais passam
mais vais naufragando.

Nos teus olhos há sonhos
que a sombra encobriu.
Há restos da esperança
que um Abril floriu.

Os campos são amplos,
a vida é às voltas,
mas, às páginas tantas,
eu morro em revoltas.

São tempos de fúria
por servidões encoberta,
quando mais te enfureças
mais o meu canto desperta.

Nos nossos olhos há sonhos
que vão florescer,
na certeza que um dia
Abril vai romper.

Os campos são amplos,
a vida é às voltas,
mas, às páginas tantas,
eu morro em revoltas.

Letra: Joana Lopes
Música: António Pedro
Intérprete: Musicalbi
Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)

Se o tempo não chega a ser

[ O Fado do Tempo Morto ]

Se o tempo não chega a ser
Mais que as horas a passar,
Talvez o mal de o perder
Me deixe um dia ganhar.

Das mil voltas que já dei
Ao mundo que já foi meu,
Fica-me o tempo em que amei
Todo o mundo que era teu.

Talvez de mim me perdesse
E me esquecesse de ti…
E então o tempo dos dois
Seria o que não vivi.

Não sei bem se inda te quero,
Ou se é sina que Deus me deu…
Meu amor, se não te espero
É porque o tempo morreu…

Letra: Carlos Leitão
Música: Popular (Fado Menor)
Intérprete: Ana Laíns
Versão original: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)

Sei quantas luas

[ Dias Cruzados ]

Sei quantas luas tu dormiste,
Neste teu mundo tão triste,
Neste teu encanto puro!

Foi uma vida sem história,
Quatro ventos sem memória,
Numa onda sem retorno!

E… cruzam-se os dias,
Mesmo… sem ter seu rumo próprio…
Nome… cada letra é teu gosto…
Cada gosto em teu luar, devagar!

Vem, nesse pensamento vago,
Onde choro e não me encontro,
Onde canto ao longe o Fado…

Traz esses dias que se cruzam,
Em redor de noites brancas,
Ao sabor de luas calmas.

E… cruzam-se os dias,
Mesmo… sem ter seu rumo próprio…
Nome… cada letra é teu gosto…
Cada gosto em teu luar, devagar!

Os dias cruzados, amados,
Vencidos, perdidos…
Enganados!

Amantes das luas,
Das noites cruzadas,
Amadas sentidas… Rotinas!…
Fugindo…

Os dias cruzados, amados,
Vencidos, perdidos…
Enganados!

Amantes das luas,
Das noites cruzadas,
Amadas sentidas… Rotinas!…
Fugindo, ouvindo o mar do dia!…

Os dias cruzados, amados,
Vencidos, perdidos…
Enganados!

Amantes das luas,
Das noites cruzadas,
Amadas sentidas… Rotinas!…
Fugindo…

Os dias cruzados, amados,
Vencidos, perdidos…
Enganados!

Amantes das luas,
Das noites cruzadas,
Amadas sentidas… Rotinas!…
Fugindo, ouvindo o mar do dia!…

Letra: José Flávio Martins
Música: António Pedro
Intérprete: Musicalbi
Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)

Vamos embora, é tarde

[ Passam Horas, Passam Dias ]

Vamos embora, é tarde, tão tarde,
nem demos porque o tempo já passou.
Alguma coisa em nós se vai perdendo,
alguma coisa em nós se encontrou.
Vamos contar que há amanhã
p’ra tudo o que ainda não foi dito,
até ver, vamos lá viver.

Passam horas, passam dias,
horas nossas que lá vão,
uns passam, outros ficam.
Não vão.

Quem está? Quem foi embora?
No abrir e fechar da hora,
quem faz connosco a vida
não demora.

O que devemos ao tempo, vivendo,
que resgatamos à morte, no fim.
Uma andorinha cantando,
cantando à vida,
poisada no beiral da cantiga
e é este canto maior
que faz do tempo uma voz,
tecendo os dias em nós.

Passam horas, passam dias,
horas nossas que lá vão,
uns passam, outros ficam.
Não vão.

Quem está? Quem foi embora?
No abrir e fechar da hora,
quem faz connosco a vida
não demora.

Passam horas, passam dias,
horas nossas que lá vão,
uns passam, outros ficam.
Não vão.

Quem está? Quem foi embora?
No abrir e fechar da hora,
quem faz connosco a vida
não demora.

Letra: Amélia Muge
Música: José Barros
Arranjo: José Barros e Miguel Tapadas
Intérprete: José Barros e Navegante
Versão original: José Barros e Navegante (in CD “À’Baladiça”, Tradisom, 2018)

Orblua, Retratos Cinéticos

Orblua, Retratos Cinéticos

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