Canções sobre a terra
Brota a água
Brota a água da pedra bruta:
Sua luta, labuta,
De tudo dessedentar;
Ganha altura, desmesura
De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas
Que nem ousara sonhar;
Dança ritmos, canta trovas
Antes de chegar ao mar.
A ciência que o mar tem
Não tem nada de pasmar:
Não há regato nem rio
Que ao mar não vá parar.
Brota a água da pedra bruta:
Sua luta, labuta,
De tudo dessedentar;
Ganha altura, desmesura
De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas
Que nem ousara sonhar;
Dança ritmos, canta trovas
Antes de chegar ao mar.
Brota a água da pedra bruta:
Sua luta, labuta,
De tudo dessedentar;
Ganha altura, desmesura
De tanto querer ser mar.
Corre campos, cria formas
Que nem ousara sonhar;
Dança ritmos, canta trovas
Antes de chegar ao mar.
Letra e música: Pedro Mestre
Intérprete: Pedro Mestre com Janita Salomé (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre com Janita Salomé (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Horas mortas
[ Árvores do Alentejo ]
Horas mortas… Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido… e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis do horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
– Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Poema: Florbela Espanca (in “Charneca em Flor”, 1930)
Música: Teresa silva Carvalho
Intérprete: Teresa silva Carvalho (in CD “Teresa Silva Carvalho: O Melhor dos Melhores”, vol. 35, Movieplay, 1994)
Também recitado por Eunice Muñoz
Luz que actua
[ Gaia de Saia ]
Luz que actua, Lua cheia em ti, faz querer viver mais
Expões o corpo receptivo à noite, dons de fértil musa
Iluminar põe o clima a subir, noite de clara Lua
Numa dança de saia rodada a sorrir, que essa tua vida é tua
Mãe dos homens que gera vida e luz
Gaia Deusa, musa, Mulher nua
Não se tomba, não se deixa cair
Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua
Mãos de força vergam o tempo a teimar, a lutar sem desistir
Tais direitos nem se devem questionar, direito a se expressar
Ser um ventre e um colo protector, e voluntária na sua dor
Ser mulher é existir entre os iguais, é resistir muito mais
Mãe dos homens que gera vida e luz
Gaia Deusa, musa, Mulher nua
Não se tomba, nem se deixa cair
Que essa tua vida é tua, vida é tua
Mãe dos homens que gera vida e luz
Gaia Deusa, Mulher nua
Não se tomba, nem se deixa cair
Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua
Letra e música: Luís Pucarinho
Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Quero sempre ver as estrelas
Quero sempre ver as estrelas
Todo o mundo a navegar
Quer sempre ver o Sol
E o brilho do teu olhar
Corre, corre, maré alta
Correm rios e oceanos
Cresce a erva na ribeira
Fazem ninhos todos os anos
Quero ver as baleias
Todo o mundo a navegar
Quero sempre ver as estrelas
Quero ver o Sol raiar
Quero ver as baleias
Todo o mundo a navegar
Quero sempre ver as estrelas
Quero ver o Sol raiar
Voam bandos ao entardecer
Garças brancas e o algravão
Pássaros cheios de esperança
O riozinho e o espigão
Quero ouvir sempre o marulho
E as tempestades de Inverno
Quero ouvir sempre os sinos
E o silêncio que é eterno
Quero ver as baleias
Todo o mundo a navegar
Quero sempre ver as estrelas
Quero ver o Sol raiar
Quero ver as baleias
Todo o mundo a navegar
Quero sempre ver as estrelas
Quero ver o Sol raiar
Quero ver as baleias
Todo o mundo a navegar
Quero sempre ver as estrelas
Quero ver o Sol raiar
Letra: José Francisco Vieira
Música: Ana Figueiras e José Francisco Vieira
Intérprete: Flor de Sal (in CD “Flor de Sal”, José Francisco Vieira & Ana Figueiras/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Quero ver o que a terra me dá
[ Cantiga da Terra ]
Quero ver o que a terra me dá
ao romper desta manhã:
o poejo, o milho e o araçá,
a videira e a maçã.
Ó mãe-d’água, ó mãe de chuvas mil,
já não quero teu aguaceiro;
quero ver a luz do mês de Abril
e a folia ao terreiro.
E vou colher inhames e limões,
hortelã e alecrim;
e vou cantar charambas e canções,
p’ra te ver ao pé de mim.
E os requebros deste teu bailar,
quero ser o cantador;
e vou saudar a várzea desse olhar,
ao compasso do tambor.
E vou colher inhames e limões,
hortelã e alecrim;
e vou cantar charambas e canções,
p’ra te ver ao pé de mim.
E os requebros deste teu bailar,
quero ser o cantador;
e vou saudar a várzea desse olhar,
ao compasso do tambor.
Letra e música: José Medeiros (1988 – para a série ficcional “O Barco e o Sonho”, RTP-Açores, 1989)
Intérprete: Musica Nostra (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)
Versão original: José Medeiros (in 2LP “O Barco e o Sonho | Balada do Atlântico | Xailes Negros”: LP 2, Philips/Polygram, 1989; CD “7 Anos de Música”, 2.ª edição, DisRego, 1992)
Terra mãe
[ Terra Global ]
Terra mãe que me viu nascer
Cheia de encantos à beira do mar
Tem água e sede de vencer
Tem desertos de mágoa
Lá longe há outra terra
Esquecida no tempo
Enquanto há tempo, nunca é tarde demais
Nos sentimentos somos todos iguais
Enquanto há esperança e o sonho não morrer
Haja mudança que a terra vai renascer
Cresci entre o amor e o perdão
Sempre vi o mundo no horizonte
A minha terra é o meu coração
Que ama, grita e sente
Lá longe há outra gente
Que sofre em silêncio
Enquanto há tempo, nunca é tarde demais
Nos sentimentos somos todos iguais
Enquanto há esperança e o sonho não morrer
Haja mudança que a terra vai renascer
Enquanto há tempo, nunca é tarde demais
Nos sentimentos somos todos iguais
Enquanto há esperança e o sonho não morrer
Haja mudança que a terra vai renascer
Letra: Samuel Lopes
Música: João Lopes
Intérprete: Citânia
Versão original: Citânia (in Livro/CD “Segredos do Mar”, Seven Muses, 2011)
Verdes são os campos
[ Verdes São os Campos ]
Verdes são os campos,
Da cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes;
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
Poema (excerto): Luís de Camões
Música: José Afonso
Intérprete: José Afonso (in “Traz Outro Amigo Também”, Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1987; CD “Poesia Encantada”, vol. 2, EMI-VC, 2004)
Outra versão: Teresa Silva Carvalho (in “Ó Rama, Ó Que Linda Rama”, Orfeu, 1977, reed. Movieplay, 1994)