Canções de contrários
A chuva choveu
[ Chuva de Paus ]
A chuva choveu num dia de sol
Um peixe cresceu em cima do anzol
Tenho dois corações para gostar melhor
Um bate cá dentro, o outro não tem lugar
Um rio balançou p’ra trás e p’rá frente
Tenho duas bocas p’ra cantar diferente
Uma tem tristeza e cheiro a manjerico
Quando a outra cant’a esta dá lhe o fanico
Chuva de Paus, Castelo de Areia
Grão-de-Bico é bom à sombra da bananeira
Tenho sete vidas e uma epifania
Sou gata, estou viva no reino de hoj’em dia
Chuva de Paus, Castelo de Areia
Grão-de-Bico é bom à sombra da bananeira
Tenho sete vidas e uma epifania
Sou gata, estou viva no reino de hoj’em dia
Letra: Miguel Cardina
Música: Pedro Damasceno
Arranjo: Diabo a Sete
Intérprete: Diabo a Sete (in CD “tarAra”, atrasdosbarrocos.com, 2011)
Alguém a ganhar
[ O Beijo da Medusa ]
Alguém a ganhar
Alguém a perder
Alguém a lucrar
Alguém a morrer
Nestas areias movediças
De ganâncias, de cobiças
Um sinistro ritual
Terra prometida
Prometida a quem?
Terra proibida
Terra de ninguém
É uma nova Babilónia
Por dentro da nossa insónia
Uma louca espiral
Pode ser fatal a voz da tua musa
Muito cuidado com o beijo da medusa
Pode ser fatal a voz da tua musa
Muito cuidado com o beijo da medusa
O ovo da serpente, a dança guerreira
Vê lá, não deites gasolina na fogueira
E pode ser fatal a voz da tua musa
Muito cuidado com o beijo da medusa
Salta, soldadinho
Da tua trincheira
Salta, soldadinho
Desta bandalheira
Será que a vida continua?
Esta guerra não é tua
Quem te quer endrominar?
Alguém a ganhar
Alguém a perder
Alguém a lucrar
Alguém a morrer
Sorte caipora
Já abriram a boceta de Pandora
Quem nos quer envenenar?
Pode ser fatal a voz da tua musa
Muito cuidado com o beijo da medusa
Pode ser fatal a voz da tua musa
Muito cuidado com o beijo da medusa
O ovo da serpente, a dança guerreira
Vê lá, não deites gasolina na fogueira
E pode ser fatal a voz da tua musa
Muito cuidado com o beijo da medusa
Gregos e troianos
Abutres e falcões
Há tantos enganos
Nas vossas missões
Rio de raiva e de veneno
Sanguinário, tão obsceno
Um pesadelo que não tem fim
Uivo de chacais
Voz que se apagou
Em lutas tribais
Pranto que secou
Vou questionar a tua sentença, a tua lei
Pois já nem sei
Se foi Abel que matou Caim
Letra e música: José Medeiros
Arranjo: Paulo Borges
Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 1, Algarpalcos, 2010)
Anda cá
[ Tempos Anormais ]
Anda cá, se queres ver
As coisas que eu vi:
Um pato a endoidecer,
Outro a sorrir.
Anda cá, nem podes crer
Coisas de contar:
Uma centelha a chover,
Outra a congelar.
Anda cá, se queres ver
As coisas que eu vi:
Gente cansada a lançar
Pragas contra si.
Andam no ar vibrações,
Tempos anormais,
Gente que pede aflições
A quem lhas der mais.
Anda cá, se queres ver
As coisas que eu vi:
Um pato a endoidecer,
Outro a sorrir.
Anda cá, nem podes crer
Coisas de contar:
Uma centelha a chover,
Outra a congelar.
Anda cá, se queres ver
As coisas que eu vi:
Gente cansada a lançar
Pragas contra si.
Andam no ar vibrações,
Tempos anormais,
Gente que pede aflições
A quem lhas der mais.
Letra: Miguel Cardina
Música: Pedro Damasceno, Julieta Silva e Celso Bento
Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Figura de Gente”, Sons Vadios, 2016)
A Verdade da Mentira
Coisas que o Mundo não me quer contar
Ou eu não sei entender;
Coisas que a vida me quer ensinar
E eu não quero aprender.
Será que os rios
Sabem o caminho do mar
P’ra lá chegar?
Ou alguém lhes vem mostrar?…
Se eu te contar a verdade
Sem te dizer quase nada,
Tu vais dizer com vontade
Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade
E te disser que é mentira,
Tu vais dizer com vontade
Que até a verdade se vira.
Por trás do muro há uma voz a falar,
Deste lado nada se vê;
Dizem-me sempre par’acreditar
Mas não me dizem em quê.
Tantas palavras cruzadas perdidas p’lo ar
E eu a pensar…
Como as hei-de eu arrumar?
Se eu te contar a verdade
Sem te dizer quase nada,
Tu vais dizer com vontade
Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade
E te disser que é mentira,
Tu vais dizer com vontade
Que até a verdade se vira.
Se eu te contar a verdade
Sem te dizer quase nada,
Tu vais dizer com vontade
Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade
E te disser que é mentira,
Tu vais dizer com vontade
Que até a verdade se vira.
Se eu te contar a verdade
Sem te dizer quase nada,
Tu vais dizer com vontade
Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade
E te disser que é mentira,
Tu vais dizer com vontade
Que até a verdade se vira.
Letra: Sebastião Antunes
Música: Paulo Loureiro
Arranjo: Paulo Loureiro e José Salgueiro
Intérprete: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
Coisas que o mundo
[ A Verdade da Mentira ]
Coisas que o Mundo não me quer contar
Ou eu não sei entender;
Coisas que a vida me quer ensinar
E eu não quero aprender.
Será que os rios
Sabem o caminho do mar
P’ra lá chegar?
Ou alguém lhes vem mostrar?…
Se eu te contar a verdade
Sem te dizer quase nada,
Tu vais dizer com vontade
Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade
E te disser que é mentira,
Tu vais dizer com vontade
Que até a verdade se vira.
Por trás do muro há uma voz a falar,
Deste lado nada se vê;
Dizem-me sempre par’acreditar
Mas não me dizem em quê.
Tantas palavras cruzadas perdidas p’lo ar
E eu a pensar…
Como as hei-de eu arrumar?
Se eu te contar a verdade
Sem te dizer quase nada,
Tu vais dizer com vontade
Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade
E te disser que é mentira,
Tu vais dizer com vontade
Que até a verdade se vira.
Se eu te contar a verdade
Sem te dizer quase nada,
Tu vais dizer com vontade
Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade
E te disser que é mentira,
Tu vais dizer com vontade
Que até a verdade se vira.
Se eu te contar a verdade
Sem te dizer quase nada,
Tu vais dizer com vontade
Que eu escondo a verdade calada.
Mas, se eu te contar a verdade
E te disser que é mentira,
Tu vais dizer com vontade
Que até a verdade se vira.
Letra: Sebastião Antunes
Música: Paulo Loureiro
Arranjo: Paulo Loureiro e José Salgueiro
Intérprete: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
Sou Dual
Eu quero andar sem pés no chão,
Talvez sim, talvez não…
Ser uma conta certa e errada,
Ser tudo, ser nada.
Escrever sem nada p’ra dizer
E falar só por querer;
Num contra-senso todo imenso
Sou eu, quando penso.
Certeza inquieta, que aperta,
Que oprime e liberta,
Que às vezes acerta:
Sou dual.
Puxar meu barco pela areia,
Volta e meia, desistir;
Dar-me a quem me quer ver feia,
E de quem me vê, fugir.
Senhora dos meus devaneios,
Imperfeita perfeição,
Carrego mil e um anseios
No peito e nas mãos.
Certeza inquieta, que aperta,
Que oprime e liberta,
Que às vezes acerta:
Sou dual.
Certeza inquieta, que aperta,
Que oprime e liberta,
Que às vezes acerta:
Sou dual.
Letra: Ana Laíns e Mafalda Arnauth
Música: Ivan Lins
Arranjo: Paulo Loureiro e Ana Laíns
Intérprete: Ana Laíns com Ivan Lins (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
Tubarão tinha dentes de rainha
[ Tamboril ]
Tubarão tinha dentes de tainha
E a tainha tinha dentes de tambor
Toca traz tempo chuva tempestade
Tubarão trincou um touro nos taleigos da vontade
Tubarão tinha o tímpano trocado
E trocado (es)tava o tempo todo o ano
Toca traz tempo chuva tempestade
Tubarão tamborilou ‘inda a missa ia a metade
Tubarão traficou-se em tamboril
Troca-tintas com retoque teatral
Toca terça, quarta, quinta, noite e dia
Travestido no Entrudo c’uma tromba de enguia
Tamboril teve tísica ao contrário
Já tossia como tosse o tubarão
Toca terça, quarta, quinta, noite e dia
Tamboril entubarou num atalho p’rá Turquia
Tubarão tinha dentes de tainha
E a tainha tinha dentes de tambor
Toca traz tempo chuva tempestade
Tubarão trincou um touro nos taleigos da vontade
Tubarão tinha o tímpano trocado
E trocado (es)tava o tempo todo o ano
Toca traz tempo chuva tempestade
Tubarão tamborilou ‘inda a missa ia a metade
Tubarão traficou-se em tamboril
Troca-tintas com retoque teatral
Toca terça, quarta, quinta, noite e dia
Travestido no Entrudo c’uma tromba de enguia
Tamboril teve tísica ao contrário
Já tossia como tosse o tubarão
Toca terça, quarta, quinta, noite e dia
Tamboril entubarou num atalho p’rá Turquia
Letra: Miguel Cardina
Música e arranjo: Diabo a Sete
Intérprete: Diabo a Sete
Com um olhar de soslaio
[ Prosas Mordazes ]
Com um olhar de soslaio, não me vêem como eu sou
Atracados na memória, com quem ando e onde vou
E falam sobre mim, sem me conhecer
Dizem que é assim, não têm o que dizer
Não têm o que dizer, não têm o que dizer
Não sabem da minha vida, quem morreu e quem ficou
São nuances que descuram, que ninguém lhes segredou
E falam sobre mim, sem me conhecer
Dizem que é assim, nem sei que lhes dizer
Nem sei que lhes dizer, nem sei que lhes dizer
Entre dentes especulam, onde vou e o que faço
Não passam de vis criaturas a quem nego o meu enlaço
E falam sobre mim, sem me conhecer
Dizem que é assim, nunca hão-de saber
Nunca hão-de saber, nunca hão-de saber
E falam sobre mim, sem me conhecer
Dizem que é assim, não têm o que dizer
Falam sobre mim, sem me conhecer
Dizem que é assim, nem sei que lhes dizer
Falam sobre mim, sem me conhecer
Dizem que é assim, nunca hão-de saber
Nunca hão-de saber, nunca hão-de saber
Letra e música: Miguel Moita Fernandes
Arranjo: Lacre
Intérprete: Lacre
Versão original: Lacre (in CD “Opus 0”, Lacre/Tradisom, 2013)
Como diferem das minhas
[ Minhas Penas ]
Como diferem das minhas
As penas das avezinhas
Que de leves leva o ar
Só as minhas pesam tanto
Que às vezes nem já o pranto
Lhes alivia o pesar
As minhas penas não caem
Nem voam nunca, nem saem
Comigo desta amargura
Mostram apenas na vida
A estrada já conhecida
Trilhada pelos sem ventura
Passam dias, passam meses
Passam anos, muitas vezes
Sem que uma pena se vá
E se uma vem, mais pequena
Ai, depois nem vale a pena
Porque mais penas me dá
Que felizes são as aves
Como são leves, suaves,
As penas que Deus lhes deu
Só as minhas pesam tanto
Ai, se tu soubesses quanto…
Sabe-o Deus e sei-o eu
Só as minhas pesam tanto
Ai, se tu soubesses quanto…
Sabe-o Deus e sei-o eu
Letra: Fernando Caldeira
Música: Carlos da Maia
Intérprete: Maria Teresa de Noronha (in CD “O Melhor de Maria Teresa de Noronha”, EMI-VC, 1992)
Num dia sou quem me encontro
[ Caminho Certo ]
Num dia sou quem me encontro,
Num outro dia me perco
Na vida que conto
Tão longe e tão perto.
Será o caminho certo?
Vem de tão longe este espanto
Tão inquieto, tão perfeito
De tudo o que tenho de incerto.
Saudade,
Que é feito
Do caminho certo?
Faço o que tenho a fazer,
Longe daqui é mais perto.
Quem vai dizer?
Como saber
Qual o caminho certo?
Haja um dia que se encontre
Sem saber ao que virá,
Se fica p’ra lá do deserto.
Saudade,
Eu sei lá
Se é o caminho certo!
Vem de tão longe este espanto
Tão inquieto, tão perfeito
De tudo o que tenho de incerto.
Saudade,
Que é feito
Do caminho certo?
Letra: Viriato Teles
Música: Ricardo Fino
Arranjo: Quiné Teles
Intérprete: Ela Vaz (in CD “Eu”, Micaela Vaz, 2017)
Só por existir
Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar
Só por ter dois sóis
Só por hesitar
Fiz a cama na encruzilhada
E chamei casa a esse lugar
E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão
Só por inventar
Só por destruir
Tenho as chaves do céu e do inferno
E deixo o tempo decidir
E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão
Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar
Eu sei que nenhuma vai ganhar
Letra e música: Jorge Palma
Intérprete: Jorge Palma (in “Bairro do Amor”, Polygram, 1989)