A Bela Aurora chorava
[ Bela Aurora ]
A Bela Aurora chorava;
Ela no pranto dizia:
Já não tenho o meu amor,
Minha doce companhia.
A Bela Aurora na serra
Não sei como não tem medo:
Faz a cama, dorme só
Debaixo do arvoredo.
Aurora, meu bem, Aurora,
Aurora detrás dos montes:
Uma hora te não veja
Meus olhos são duas fontes.
Aurora, querida Aurora,
Aurora no seu jonjal:
Minh’alma morre p’la tua
E a tua não sei por qual.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Recolha/transcrição: Lígia Maria da Câmara Almeida Matos (in “Insulana”, Vol. XI, 1.° trimestre de 1955)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
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A história que eu vou contar
[ Naufrágio ]
A história que eu vou contar
Ouvi-a na minha aldeia,
Onde à noite a voz do mar
Murmura canções na areia.
História de pescadores
Do Cais Negro à Pontinha,
Onde há grandes senhores
Que bocejam à noitinha.
Foi o barco do Zé Tordo:
Partiu à noite p’ró mar
E na madrugada ao porto
O seu barco sem chegar.
Encheu-se a praia de gritos
Da gente da minha aldeia
Ao ver o corpo do Zé
Trazido na maré-cheia.
Ouvem-se vozes: «Coitado!
Cinco filhos e mulher
Sem uma côdea de pão,
Sem um abrigo sequer!»
E no enterro, à viúva,
Levando ao Zé muitas flores,
Prometem-lhe a sua ajuda
O povo e os grandes senhores.
Mas dois anos já são passados,
Na praia da minha aldeia
Vêem-se cinco crianças
Brincando nuas na areia.
E da moral desta história
Tirem vossas conclusões:
Uma família não vive
Só de boas intenções.
E da moral desta história
Tirem vossas conclusões:
Uma família não vive
Só de boas intenções.
Letra: Cristóvão de Aguiar
Música: Tradicional (Charamba) (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Versão original: Duarte & Ciríaco (in EP “Nós: Canções Populares”, Sonoplay, 1969)
Ai o pastor lá na serra
A Lira
Ai quem me dera partir
[ Tema para Margarida ]
Ai quem me dera partir
Na canoa da esperança
E ir ancorar noutras praias
Noutros varadouros
Ai quem me dera voltar
A gozar dos tesouros
Da felicidade que eu tinha
Quando era criança
Ai quem me dera ser garça
E voar no Canal
Só entre o Pico e o Faial
Me quedar dividida
Ai quem me dera mão firme
No leme da vida
Ai este amor que me mirra
Me mata e faz mal
Ai quem me dera de novo
As certezas e os medos
Ai quem me dera ter credos
E não ser indiferente
Ai o amor passa ao largo
Da vida da gente…
Ai já o tempo se escoa
Como areia entre os dedos…
Ai quem me dera ser garça
E voar no Canal
Só entre o Pico e o Faial
Me quedar dividida
Ai quem me dera mão firme
No leme da vida
Ai este amor que me mirra
Me mata e faz mal
Ai quem me dera partir
Na canoa da esperança
E ir ancorar noutras praias
Noutros varadouros
Ai quem me dera voltar
A gozar dos tesouros
Da felicidade que eu tinha
Quando era criança
Ai quem me dera ser garça
E voar no Canal
Só entre o Pico e o Faial
Me quedar dividida
Ai quem me dera mão firme
No leme da vida
Ai este amor que me mirra
Me mata e faz mal
Letra e música: Aníbal Raposo (para a série ficcional “Mau Tempo no Canal”, RTP-Açores, 1992)
Intérprete: Vânia Dilac
Versão original: Piedade Rego Costa (in CD “7 Anos de Música”, 2.ª edição, DisRego, 1992)
Outras versões: Aníbal Raposo (in CD “A Palavra e o Canto”, Açor/Emiliano Toste, 2005)
Atirei, não matei caça
[ Tirana ]
Atirei, não matei caça,
Lá foi meu tiro perdido.
Meu tiro perdido…
Meu tiro perdido…
A minha pólvora queimada,
O meu chumbo derretido.
Atira, Tirana!
Ai sempre a tirar,
Mata-me aquela pombinha
Que anda no calhau do mar!
A linda Tirana
Ai já se enterrou…
A Tirana já se enterrou,
Já morreu, já se enterrou.
Ai já se enterrou…
Ai já se enterrou…
Já lá vai pelo mar fora
Quem a Tirana matou.
A Tirana está no chão,
Debaixo dum laranjal.
Ai dum laranjal…
Ai dum laranjal…
Está tirando pintainhos
Para a gente do Faial.
Ó linda Tirana,
Ai da tirania!
Já me está querendo bem
Quem tanto mal me queria.
Eu ia p’lo mar,
Ai pelo mar fora…
Eu ia pelo mar fora,
Nas ondas do mar parei.
Ai do mar parei…
Ai do mar parei…
Ai ouvi cantar a Tirana
Lá no palácio do rei.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Devagar, devagarinho
[ Pezinho ]
Devagar, devagarinho,
Ficas sendo o meu amor.
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem!
Ai, põe aqui se o queres pôr!
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem!
Ai, põe aqui se o queres pôr!
E ao tirar, e ao tirar o teu pezinho,
Meu lindo bem,
Ai, ficas sendo o meu amor.
E ao tirar, e ao tirar o teu pezinho,
Devagar, devagarinho,
Ficas sendo o meu amor.
Devagar, devagarinho,
Cada um fica com o seu.
Ai, põe aqui, ai, põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem!
Ai, põe aqui ao pé do meu!
Ai, põe aqui, ai, põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem!
Ai, põe aqui ao pé do meu!
E ao tirar e ao tirar o teu pezinho,
Meu lindo bem,
Cada um fica com o seu.
E ao tirar e ao tirar o teu pezinho,
Devagar, devagarinho,
Cada um fica com o seu.
Devagar, devagarinho,
À moda de São Miguel!
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem,
Meu benzinho Manuel!
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem,
Meu benzinho Manuel!
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem,
À moda de São Miguel!
Ai, põe aqui, ai, põe aqui o teu pezinho,
Devagar, devagarinho,
À moda de São Miguel!
Devagar, devagarinho,
À moda de São Miguel!
Devagar, devagarinho,
À moda de São Miguel!
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
E de manhã na nossa casa
[ Alvorada ]
E de manhã na nossa casa
É todos os dias uma aldeia,
E de manhã na nossa casa…
E de manhã na nossa casa
É todos os dias uma aldeia
E não pegam a trabalhar,
E não pegam a trabalhar
E sem ter a barriga cheia,
E sem ter a barriga cheia.
E quando tirar o pão do forno
E ao cobrir bem com o tendal,
E quando tirar o pão do forno…
E quando tirar o pão do forno
E ao cobrir bem com o tendal
E não vá alguma cozinheira,
E não vá alguma cozinheira
Levar algum debaixo do avental,
Levar algum debaixo do avental.
E esta casa está tão cheia,
E cheia de canto a canto,
Esta casa está tão cheia…
E esta casa esta tão cheia,
E cheia de canto a canto;
Usavam de nela assistir,
E usavam de nela assistir
E Divino Espírito Santo,
E Divino Espírito Santo.
Letra e música: Tradicional (Ilha de Santa Maria, Açores)
Informantes: Maria Virgínia de Andrade, Filomena de Andrade Cabral e Virgínia de Andrade Cabral (canto), acompanhadas ao tambor e címbalos
Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in 12EP “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1963; 2CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”: CD 1, faixa 3, Açor/Emiliano Toste, 2002)
Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Primeira versão [?]: Cramol – “Alvorada de Santa Maria” (in CD “Cramol”, BMG Ariola, 1996)
Nota: «A linha melódica das folias de Santa Maria é caracterizada por valores rítmicos aparentemente pouco definíveis. Esta particularidade leva-nos a afirmar que se trata de um canto remoto trazido pelos povoadores destas ilhas, que o receberam dos seus antepassados, oriundos do Próximo Oriente (Arábia, Iraque, Síria), em resultado da fixação na Península Ibérica dos Povos que a invadiram no século VIII.
Teófilo Braga, a este propósito, refere que as folias provêm do “lingui-lingui” árabe, a Lenga-lenga ou canto narrativo mais recitado do que cantado. Ao cantador, no seu improviso, lindas rimas lhe saíam a enaltecer o Divino Espírito Santo, a elogiar o mordomo, a agradecer aos criadores ou a salientar as mãos habilidosas das cozinheiras.» (Helena Oliveira)
É esta a vez primeira
[ Charamba ]
É esta a vez primeira
A vez primeira
Que neste auditório canto
Em nome de Deus começo
De Deus começo
Padre, Filho, Esp’rito Santo
A saudade é um luto
Ai, é um luto
É um luto, é uma afeição
É um cortinado roxo
Ai, é um luto
Que me corta o coração
Eu cá sei, tu lá sabes
E tu lá sabes
O que não sabes eu sei
Eu já vi andar a morte
Andar a morte
Às costas de um peixe-rei
Letra e música: Popular (Açores)
Intérprete: Margarida Pinto (in CD “Adriano, Aqui e Agora – O Tributo”, Movieplay, 2007)
Versão original: Adriano Correia de Oliveira (in “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)
É esta a vez primeira
[ Charamba ]
É esta a vez primeira,
A vez primeira
Que neste auditório canto;
Em nome de Deus começo,
De Deus começo,
Padre, Filho, Esp’rito Santo.
A ausência tem uma filha,
Ai tem uma filha
Que se chama saudade;
Eu sustento mãe e filha,
Ai mãe e filha
Bem contra a minha vontade.
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Afonso Dias
Primeira versão: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Lira”, Orfeu, 1968)
Outra versão de Adriano Correia de Oliveira (in LP “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; “Obra Completa”: CD “Cantigas Portuguesas”, Movieplay, 1994, 2007)
Em má hora
[ Saudade ]
Em má hora, em má hora, anjo querido,
Me pediste uma flor…
Das que eu tenho, das que eu tenho aqui são quatro,
Aqui são quatro… nem uma fala de amor.
A primeira, a primeira é uma saudade
Que me deram quando amei;
Custa caro, custa caro, é um tesoiro,
É um tesoiro que com lágrimas comprei.
A segunda, a segunda é um martírio
Cujo espinho atravessou
Coração, coração que a regava,
Que a regava… de pranto ela murchou.
A terceira, a terceira é um cravo,
É um goivo, não to dou!
Fui colhê-lo, fui colhê-lo ao cemitério,
Ao cemitério… entre campas vegetou.
A quarta, a quarta é uma rosa,
É uma rosa, mas olha:
Se eu morrer, se eu morrer e tu souberes,
E tu souberes… na minha campa a desfolha!
Letra e música: Tradicional (Vila Nova do Corvo, Ilha do Corvo)
Informante: Ti Pedro Cepo
Recolha: Manuel Rocha (in CD “Povo Que Canta: Recolhas Etnográficas num Portugal Desconhecido (2000/2003)”, EMI-VC, 2003)
Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Primeira versão [?]: Belaurora / voz solo de Carla Medeiros (in CD “Lágrimas de Saudade”, Açor/Emiliano Toste, 1999; 2CD “Quinze Anos de Cantigas”: CD 2, faixa 20, Açor/Emiliano Toste, 2000)
Versão instrumental em viola da terra: Rafael Carvalho (in 2CD “9 ilhas, 2 Corações”: CD 1, faixa 17, Rafael Carvalho, 2018)
É manhã, não é manhã
[ Chamarrita Zaragateira (moda de baile) ]
É manhã, não é manhã,
Já as chocalheiras começam
A falar da vida alheia
Que é o rosário que rezam.
Chamarrita, rita, rita,
Eu venho contradizer
Qu’eu hei-te dar um jeitinho
Que a outro não hás-de querer!
Quando eu comecei a amar
Foi numa segunda-feira;
Fui amando e fui gostando,
Levei a semana inteira.
Esta é que é a chamarrita:
São garrafas, não são bilhas
E aqui está como se canta
A chamarrita das ilhas!
É manhã, não é manhã,
Já as chocalheiras começam
A falar da vida alheia
Que é o rosário que rezam.
Esta é que é a chamarrita:
São garrafas, não são bilhas
E aqui está como se canta
A chamarrita das ilhas!
Nota: «A “Chamarrita Zaragateira”, recolhida na ilha de Santa Maria por Artur Santos, parece, pela própria denominação ou interpretação do texto de cariz espirituoso, ser uma moda que chama o povo para a dança e para a diversão. O arranjo sugere-nos imagens das coscuvilheiras da aldeia, “é manhã, não é manhã, / já as ‘chocalheiras’ começam” a gastar o seu tempo “a falar da vida alheia”…» (Helena Oliveira)
Letra e música: Tradicional (Ilha de Santa Maria, Açores)
Informantes: Manuel Coelho de Rezendes (canto), José de Andrade Chaves e António Augusto Cabral (violas de arame)
Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in 12EP “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1963; 2CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”: CD 1, faixa 2, Açor/Emiliano Toste, 2002)
Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Primeira versão [?]: Emiliano Toste (in CD “Andanças do Mar”, Açor/Emiliano Toste, 2002)
Esta chamarrita nova
[ Chamarrita Nova ]
Esta chamarrita nova,
Esta nova chamarrita…
Esta chamarrita nova,
Esta nova chamarrita
Bem cantada, bem bailhada,
Bem cantada, bem bailhada,
Bem cantada, bem bailhada, rapaz,
Não há moda mais bonita!
Quem uma mãe não adora
Vive já na sepultura.
Quem uma mãe não adora
Vive já na sepultura.
O bom filho sempre chora,
Sem amor não há ventura.
O bom filho sempre chora,
Não há amor sem ventura.
Esta chamarrita nova,
Esta nova chamarrita…
Esta chamarrita nova,
Esta nova chamarrita
Bem cantada, bem bailhada,
Bem cantada, bem bailhada,
Bem cantada, bem bailhada, rapaz,
Não há moda mais bonita!
Quem uma mãe não adora
Vive já na sepultura.
Quem uma mãe não adora
Vive já na sepultura.
O bom filho sempre chora,
Sem amor não há ventura.
O bom filho sempre chora,
Não há amor sem ventura.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Esta é a primeira vez, a primeira
[ Charamba ]
Esta é a vez primeira, a vez primeira
Que neste auditório canto;
Em nome de Deus começo, de Deus começo:
Padre, Filho, Esp’rito Santo.
A ausência tem uma filha, tem uma filha
Que se chama saudade;
Eu sustento mãe e filha, ai mãe e filha,
Bem contra a minha vontade.
Boa-noite, meus senhores,
Minhas senhoras, lindas flores
Que aqui estais neste salão!
Que aqui estais neste salão!
Eu p’ra todos vou cantar
E a todos quero saudar
Do fundo do coração,
Do fundo do coração.
Eu vesti um vestido novo, um vestido novo
Para vir aqui cantar;
A Charamba está no baile, ai está no baile,
E o meu bem é o meu par.
Boa-noite, meus senhores,
Minhas senhoras, lindas flores
Que aqui estais neste salão!
Que aqui estais neste salão!
Eu p’ra todos vou cantar
E a todos quero saudar
Do fundo do coração,
Do fundo do coração.
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)
Primeira versão [?]: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Lira”, Orfeu, 1964)
Outra versão de Adriano Correia de Oliveira (in LP “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; 7CD “Obra Completa”: CD “Cantigas Portuguesas”, Movieplay, 1994, Movieplay/Público, 2007)
Versão instrumental em viola da terra: Rafael Carvalho (in 2CD “9 ilhas, 2 Corações”: CD 1, Rafael Carvalho, 2018)
Esta moda é bem ligeira
[ Balho da Povoação ]
Esta moda é bem ligeira:
Quem a havia de inventar?
Foi a filha da padeira
Na cozinha a peneirar.
Não há no mundo dois mundos,
Nem no céu há dois senhores:
Também não pode existir
Num coração dois amores.
Meu amor, se vires cair
Folhas verdes na varanda,
Olha que são saudades
Que o meu coração te manda.
Nas ondas do teu cabelo
Vou deitar-me a afogar!
Eu quero que o mundo saiba
Que há ondas sem ser no mar.
Quando Deus criou a rosa
E fez a luz do luar,
Entre as coisas mais formosas
Fez a luz do teu olhar.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Recolha/transcrição: Francisco José Dias (in “Cantigas do Povo dos Açores”, Angra do Heroísmo: Instituto Açoriano de Cultura, 1981)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Esta noite ninguém dança
[ Manda Voltar (Chamarrita) ]
Esta noite ninguém dança,
Cantador não quer cantar;
Esta noite ninguém dança,
Pôs-se o homem a cismar:
«Já não cabe tanta ausência
Nesta terra frente ao mar;
Já não cabe tanta ausência,
Dura a vida, manda voltar!»
A filha do cantador
Foi p’ra longe trabalhar;
Não sei que vida deixou,
Que vida há-de ganhar.
«Deu-me um beijo, foi-se embora,
Era hora de ficar…
Deu-me um beijo, foi-se embora,
(Era hora) manda voltar!»
Foram novos, foram tantos,
Que viola há-de tocar?
Esta noite ninguém dança,
A Rita não quer chamar.
Vai-te embora, mandador!
Chama Rita ao seu lugar!
Água fora, vai-te embora!
Chama, chama, manda voltar!
P’ra que serve um mandador
Que não tem em quem mandar?
Esta noite ninguém dança,
Cantador não quer cantar.
Vai-te embora, ó mandador!
Muda a sorte, manda virar!
Água fora, vai-te embora!
Vira a vida, manda voltar!
Água fora, vai-te embora!
Chama, chama, manda voltar!
Água fora, pede, chora!
Puxa, implora, manda voltar!
Letra: Catarina Gouveia
Música: Tradicional (Açores)
Recolha: Artur Santos
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Eu fui, eu fui à terra do bravo
[ O Bravo ]
Eu fui, eu fui à terra do bravo,
Eu fui, eu fui à terra do bravo,
(Bravo, meu bem)
Para ver se embravecia:
Cada vez, cada vez fiquei mais manso,
Cada vez, cada vez fiquei mais manso,
(Bravo, meu bem)
Para a tua companhia.
Eu fui, eu fui à terra do bravo,
Eu fui, eu fui à terra do bravo,
(Bravo, meu bem)
Quem é moiro não tem fé:
Nunca vi, nunca vi gente mais brava,
Nunca vi, nunca vi gente mais brava,
(Bravo, meu bem)
Que o gentio da Guiné.
Eu fui, eu fui à terra do bravo,
Eu fui, eu fui à terra do bravo,
(Bravo, meu bem)
À ilha de São Tomé:
Quando vi, quando vi a estrela-d’alva,
Quando vi, quando vi a estrela-d’alva,
(Bravo, meu bem)
Aproveitei a maré.
Eu fui, eu fui ao mar às laranjas,
Eu fui, eu fui ao mar às laranjas,
(Bravo, meu bem)
É coisa que o mar não tem:
Como pode, como pode vir enxuto,
Como pode, como pode vir enxuto,
(Bravo, meu bem)
Quem das ondas do mar vem?
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora* (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Eu já morri uma vez
[ Chamarrita (Moda de baile) ]
Eu já morri uma vez,
Ai o morrer achei tão doce:
Inda tornava a morrer
Ai se por tua causa fosse.
Vira e volta a Chamarrita
Ai p’ra o lado deste meu peito;
Se vens buscar saudades
Mete a mão, tira-as com jeito!
Saudades me tem posto
Da grossura duma linha:
Já vejo que não arribo
Nem a caldos de galinha.
Vira e volta a Chamarrita
Ai p’ra o lado deste meu peito;
Se vens buscar saudades
Mete a mão, tira-as com jeito!
Letra e música: Popular (Ilha de Santa Maria, Açores)
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Coro da Matriz de Santa Cruz da Graciosa (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Eu nasci à sexta-feira
[ Pezinho da Vila ]
Eu nasci à sexta-feira
Com barbas e cabeleira
Mais parecera um anti-Cristo
Que até o senhor padre cura
Que é um homem de sabedura
Nunca tal houvera visto
Eu fui a Vila Franca
Escanchado numa tranca
À morte de uma galinha
O que ela tinha no papo
Sete cães e um macaco
E um soldado da marinha
Ponha aqui o seu pezinho
Devagar devagarinho
Se vai à Ribeira Grande
Eu tenho uma carta escrita
Para ti, cara bonita
Não tenho por quem lh’a mande
Eu fui à Praia da Rocha
Sapato meia galocha
Ver se o mar estava manso
Encontrei lá uma garoupa
Toda embrulhada em roupa
A dormir no seu descanso
Eu fui de Lisboa a Sintra
A casa da tia Jacinta
P’ra me fazer uns calções
Mas a pobre criatura
Esqueceu-se da abertura
Para as minhas precisões
Ponha aqui o seu pezinho
Devagar devagarinho
Se vai à Ribeira Grande
Eu tenho uma carta escrita
Para ti, cara bonita
Não tenho por quem lh’a mande
Toda a moça que é bonita
Se ela chora, se ela grita
Nunca houvera de nascer
É como a maçã madura
Na quinta do padre cura
Todos lha querem comer
Eu fui casar às Capelas
Por ser fraco das canelas
Com uma mulher sem nariz
E esta gente das Fajãs
Já me deram os parabéns
Pelo casamento que eu fiz
Ponha aqui o seu pezinho
Devagar devagarinho
Se vai à Ribeira Grande
Eu tenho uma carta escrita
Para ti, cara bonita
Não tenho por quem lh’a mande
Letra e música: Popular (Açores)
Intérprete: Brigada Victor Jara (in “Eito Fora”, Mundo Novo/Editorial Caminho, 1977; reed. Farol, 1995)
Eu sou marinheiro
[ Irró (Erró) ]
Eu sou marinheiro, eu sou
Contramestre de um vapor:
Embarquei numa galera
P’rás terras do meu amor.
Bate, padeirinha!
Bate, padeirão!
Quem quiser peixinho
Vai ao barracão,
Peixinho comprado
Numa banda só,
Folhinha rosada
Num dia de irró!
Eu sou marinheiro, eu sou
Contramestre de um vapor:
Embarquei numa galera
P’rás terras do meu amor.
S. Pedro e S. Paulo
Sejais minha guia,
Na terra, no mar
Minha companhia!
S. Pedro amado,
Livrai-me, sou réu,
Bolinete doirado
Caído do céu!
Eu sou marinheiro, eu sou
Contramestre de um vapor:
Embarquei numa galera
P’rás terras do meu amor.
Mastrinho sem vela
Mas com bujarrona,
Chapluca com Deus
Cheira a manjerona;
Em noite de calma
Brilha a lua cheia,
Canta sobre as águas
A linda sereia!
Eu sou marinheiro, eu sou
Contramestre de um vapor:
Embarquei numa galera
P’rás terras do meu amor.
Letra e música: Popular (Ilha de S. Miguel, Açores)
Arranjo e orquestração: Pedro Fragoso
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & “Coro da Ressaca do Maia Folk” (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Meu delicado pezinho
Meu delicado pezinho
Quando toca no caminho
Logo toca o meu também
Depois vamos conversando
Nossos pezinhos tocando
Mais felizes que ninguém
Este pé que é o teu
Deve estar ao pé do meu
Namorando a vida inteira
O meu pé não se acomoda
Quer ir com o teu à roda
De toda a ilha Terceira
Nossos pezinhos rodando
Passo a passo caminhando
Só ouvindo a tua voz
E então um pouco a medo
Me disseste um segredo
Que ficou só entre nós
Letra e música: Popular (Açores)
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in “Fados Velhos”, Contradança, 1987; reed. Movieplay, 1998)
Minha avó quando nasceu
[ Balho da Povoação ]
Minha avó quando nasceu
Eu já tinha três semanas;
Já vinha da Povoação
C’um saquinho de castanhas.
Ontem à noite eu fui ao balho
Mai-la minha rapariga;
Eu dei-lhe um beijo na testa
E um beliscão na barriga.
Minha mãe quando nasceu
Eu já estava em São Vicente;
Minha mãe está teimosa,
Que nasceu à minha frente.
Oh, que linda rosa é esta
Tenho eu ao pé de mim!
P’lo cheirinho que ela deita
Parece que veio do jardim.
Nesta terra não é uso
Ir pedir a filha ao pai:
Vai-se p’la escada acima,
«Senhor sogro, já cá vai!»
O balho da Povoação
Quem havia de inventar?
Foi a filha da padeira
Toda a noite a peneirar.
Letra e música: Popular (ilha de São Miguel, Açores)
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Fados Velhos”, Contradança, 1986, reed. Movieplay, 1998)
Segunda versão da Ronda dos Quatro Caminhos – “Fado da Povoação” (in 2CD “Alçude”: CD 2, Ovação, 2001)
Não planteis a saudade
[ Saudade ]
Não planteis a saudade,
Que a saudade é má flor!
Que uma viva saudade,
Que uma viva saudade,
Que uma viva…
Que uma viva saudade
Me matou o meu amor.
Ó tirana saudade,
Onde tu foste nascer?!
No peito do meu amor
No peito do meu amor
No peito…
No peito do meu amor
Que mo deixaste a sofrer.
Saudade, terna saudade,
Emblema do meu viver,
Companheira da minh’alma,
Companheira da minh’alma,
Companheira…
Companheira da minh’alma,
Só morres quando eu morrer.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Intérprete: Musica Nostra* (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)
No berço que a ilha encerra
[ Chamateia ]
No berço que a ilha encerra
Bebo as rimas deste canto
No mar alto desta terra
Nada a razão do meu pranto
Mas no terreiro da vida
O jantar serve de ceia
E mesmo a dor já sentida
Dá lugar à Sapateia
Oh meu bem,
oh Chamarrita
Meu alento vai e vem
Vou embarcar nesta dança
Sapateia, oh meu bem
Se a Sapateia não der
Pra acalmar minha alma inquieta
Estou pró que der e vier
Nas voltas da Chamarrita
Chamarrita, Sapateia
Eu quero é contradizer
O aperto desta bruma
Que às vezes me quer vencer
Oh meu bem,
oh Chamarrita
Meu alento vai e vem
Vou embarcar nesta dança
Letra: António Melo Cruz (inspirado nas tradicionais “Chamarrita” e “Sapateia”)
Música: Luís Alberto Bettencourt
Intérprete: António Zambujo (in CD “Outro Sentido”, Ocarina, 2007)
No berço que a ilha encerra
[ Chamateia ]
No berço que a ilha encerra
Bebo as rimas deste canto;
No mar alto desta terra
Nada a razão do meu pranto.
Mas no terreiro da vida
O jantar serve de ceia,
E mesmo a dor mais sentida
Dá lugar à chamateia.
Oh meu bem!
Oh chamarrita!
Meu alento vai e vem,
Vou embarcar nesta dança,
Sapateia, oh meu bem!
Se a sapateia não der
P’ra acalmar minh’alma inquieta,
Estou p’ró que der e vier
Nas voltas da chamarrita.
Chamarrita, sapateia!
Eu quero é contradizer
O aperto desta bruma
Que às vezes me quer vencer.
Oh meu bem!
Oh chamarrita!
Meu alento vai e vem,
Vou embarcar nesta dança,
Sapateia, oh meu bem!
Letra: António Melo Sousa
Música: Luís Alberto Bettencourt
Arranjo: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão discográfica dos Gaiteiros de Lisboa, com Filipa Pais e João Afonso (in CD “Bestiário”, Uguru, 2019)
Versão original: José Ferreira, Carlos Medeiros e Luísa Alves (in LP “Balada do Atlântico”, DisRego, 1987; 2LP “O Barco e o Sonho | Balada do Atlântico | Xailes Negros”: LP 1, Philips/Polygram, 1989; CD “7 Anos de Música”, 2.ª edição, DisRego, 1992)
No berço que a ilha encerra
[ Chamateia ]
No fundo do mar ondoso
[ Pezinho, Ai, Ai, Meu Amor ]
No fundo do mar ondoso, (ai, ai, meu amor)
Na concha mais delicada,
Foi gravar a natureza (ai, ai, meu amor)
O nome da minha amada.
Teu nome escrevi na areia (ai, ai, meu amor)
Que banha o vizinho mar;
Eu vi as ondas, pulando, (ai, ai, meu amor)
Teu nome virem beijar.
A maré que vem de longe (ai, ai, meu amor)
Bate na pedra, embranquece;
Este nosso bem-querer (ai, ai, meu amor)
Só no olhar se conhece.
Abre-te, mar, faz carreiro (ai, ai, meu amor)
Que eu não venho fazer guerra!
Venho ver se os peixes amam (ai, ai, meu amor)
Como a gente cá na terra.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Recolha/transcrição: Manuel Tavares Canário (1.ª quadra, in “Balhos Micaelenses”, 1901) e Armando Côrtes-Rodrigues (2.ª e 3.ª quadras, in “Cancioneiro Geral dos Açores”, Angra do Heroi´smo: Direcc¸a~o Regional dos Assuntos Culturais, 1982)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Ó água do mar
[ Mar Salgado ]
Ó água do mar, salgada,
Porque não adocicais?
Correm fontes e ribeiras…
Salgada cada vez mais.
Não há vida mais tirana
Do que a do homem do mar:
Nas ondas a morte à vista,
Em casa a fome a matar.
O mar tem ondas medonhas
Que levantam o furacão;
Eu tenho medo sem fim
Do mar do meu coração.
Ó água do mar, salgada,
Porque não adocicais?
Correm fontes e ribeiras…
Salgada cada vez mais.
O mar tem ondas medonhas
Que levantam o furacão;
Eu tenho medo sem fim
Do mar do meu coração.
Letra: Tradicional (Açores)
Música: Macadame
Intérprete: Macadame* (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
O fado batuque
[ Fado Batuque ]
O fado batuque foi correr a ilha
P’ra arranjar dinheiro p’ra casar a filha.
Ó senhora Ana, ó senhora Aninha,
Acautele o galo das minhas galinhas!
O fado batuque já era velhinho,
Mas inda emborcava um pote de vinho.
O fado batuque tanto batucou,
Mesmo a batucar a vida acabou.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Ó meu bem, se tu te fores
[ Meu Bem ]
Primeira versão [?]: Tonicha, arr. Jorge Palma (in LP “Cantigas Populares”, Orfeu, 1976)
Ó meu bem, se tu te fores
Como dizem que te vais,
Deixa-me o teu nome escrito
Numa pedrinha do cais!
Meu amor, na tua ausência
Nunca deixes de escrever
Duas linhas ao teu bem,
Que por ti fica a sofrer!
Ó meu bem, quando te foste,
Sete lenços alaguei
Mai-la manga da camisa…
E dizem que não chorei!
Meu amor, na tua ausência
Nunca deixes de escrever
Duas linhas ao teu bem,
Que por ti fica a sofrer!
Ó meu bem, se tu te fores
Como dizem que te vais,
Deixa-me o teu nome escrito
Numa pedrinha do cais!
Meu amor, na tua ausência
Nunca deixes de escrever
Duas linhas ao teu bem,
Que por ti fica a sofrer!
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Helena Oliveira* com José Medeiros (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Nota: «Quem analisar a canção “Meu Bem” à luz da sensibilidade, por certo que vai encontrar-lhe um dos mais belos motivos dos cantares açorianos. As notas deslizam, cantam as emoções que o amor vai gerando num suave e doce clamor: “Ó meu bem, se tu te fores / como dizem que te vais, / deixa-me o teu nome escrito / numa pedra do cais!”.
Oh água do mar
[ Mar Salgado ]
Oh água do mar, salgada,
Porque não adocicais?
Correm fontes e ribeiras…
Salgada cada vez mais.
Não há vida mais tirana
Do que a do homem do mar:
Nas ondas a morte à vista,
Em casa a fome a matar.
O mar tem ondas medonhas
Que levantam o furacão;
Eu tenho medo sem fim
Do mar do meu coração.
Oh água do mar, salgada,
Porque não adocicais?
Correm fontes e ribeiras…
Salgada cada vez mais.
Não há vida mais tirana
Do que a do homem do mar:
Nas ondas a morte à vista,
Em casa a fome a matar.
O mar tem ondas medonhas
Que levantam o furacão;
Eu tenho medo sem fim
Do mar do meu coração.
Letra: Tradicional (Açores)
Música: Macadame
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Ó mãe, acende uma candeia
[ Balada da Candeia ]
Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo desta noite tão escura
Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo do assombro da lonjura
Nuvem negra na manhã
Se chover, há-de escampar
Traz um búzio, minha irmã
Quero ouvir a voz do mar
Faça chuva, faça sol
Nesta longa travessia
Hás-de ser o meu farol
Hás-de ser a minha guia
Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo desta noite tão escura
Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo do assombro da lonjura
Triste sorte a do soldado
Lutas, guerras, perdições
Triste sonho amputado
Onde morrem as canções
Rio de tantos venenos
De zagaias e punhais
Selva de tantos enganos
Aziagos, tão fatais
Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo desta noite tão escura
Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo do assombro da lonjura
Letra e música: José Medeiros (Ao João Lóio, à Regina Castro e ao Fernando Rangel)
Arranjo: José Medeiros, com a colaboração de todos os músicos
Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 2, Algarpalcos, 2010)
Ó meu bem se tu te fores
[ Canção Longe ]
Ó meu bem se tu te fores
Como dizem que te vais
Deixa-me o teu nome escrito
Numa pedrinha do cais
Quando o meu mano se foi
Sete lenços alaguei
Mai-la manga da camisa
E dizem que não chorei
Meu amor vem sobre as ondas
Meu amor vem sobre o mar
Ai quem me dera morrer
Nas águas do teu olhar
Letra: Popular (Açores)
Música: José Afonso
Intérprete: José Afonso (in “Baladas e Canções”, de José Afonso, Ofir, 1967; reed. EMI-VC, 1997)
O meu nome é Ismael
[ Moby Dick (A Canção de Ismael) ]
O meu nome é Ismael
Já me vou fazer ao mar
Vou às sete partidas do mundo
Tempo de zarpar
Nesta barca baleeira
Levo a lança e o arpão
Das Américas aos mares do sul
Minha assombração
Das canções de marinhagem
Sei de lendas e rumores,
Quem será o trancador de Moby Dick?
As canções de marinhagem
Rasgando o mar dos Açores,
Quem será o matador de Moby Dick?
Já se avista um cachalote
Rema, rema, remador
Meu desencontrado coração
Parece um tambor
Na esteira, no meu bote
Meu alento, meu afã
Rema, rema, vamos arpoar
O Leviatã
Ó serpente fugidia
Dos abismos do mar,
Já escuto este clamor:
É Moby Dick!
Assombrada profecia
Vens do fundo do mar
Reconheço com temor que é Moby Dick!
Ó Ahab, ó velho lobo
Comandante desta nau
Coração de ferro, olhar de fogo
E perna de pau
Já conheço a tua lei
Ó sombrio caçador
Só a morte da baleia branca
Mata a tua dor
Ó sombrio capitão
Teu intento é fatal
Hás-de ser o trancador de Moby Dick
Ó sombrio capitão
Teu sangrento ritual
Vais morrer no teu rancor por Moby Dick
Letra e música: José Medeiros
Arranjo: Paulo Borges
Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 1, Algarpalcos, 2010)
Ó sapateia, teia, teia
[ (Sapateia, Teia, Teia) ]
Ó sapateia, teia, teia que me prende
Neste novelo de tantas inquietações
Amarga e doce minha lira que se acende
Nesta viola que há-de ter dois corações
Pedras tão negras tatuadas pelo vento
Pedras queimadas pelo rocio do mar
São sentinelas da saudade, do lamento
De estar tão longe, meu amor, do teu olhar
Vai, minha galera
Navegar o mar imenso
Nas marés que o tempo amanheceu
Nesta longa espera
Sei que ainda te pertenço
Pois sei que a nossa lira não morreu
Ó sapateia, teia, teia que me prende
Neste novelo de tantas inquietações
Amarga e doce minha lira que se acende
Nesta viola que há-de ter dois corações
Pedras tão negras tatuadas pelo vento
Pedras queimadas pelo rocio do mar
São sentinelas da saudade, do lamento
De estar tão longe, meu amor, do teu olhar
Vai, minha galera
Navegar o mar imenso
Nas marés que o tempo amanheceu
Nesta longa espera
Sei que ainda te pertenço
Pois sei que a nossa lira não morreu
Letra e música: José Medeiros (Ao Hermenegildo Galante)
Arranjo: Paulo Borges e José Medeiros
Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 1, Algarpalcos, 2010)
Oh rema, rema oh, companheiro!
[ Baleeiros de New Bedford ]
Oh rema, rema oh, companheiro!
Vem celebrar a luz da manhã!
Do meu amor fiquei prisioneiro,
O seu olhar será meu talismã.
Sei que vou zarpar.
Adeus, adeus, ó minha amada!
Vou vencer marés e assombração.
Sei que vou zarpar.
Hei-de remar de madrugada
Ao compasso do teu coração.
Vou vencer marés e assombração.
Hei-de subir às gáveas do vento,
Serpentear as danças do mar.
O meu arpão será o meu sustento,
Minha galera será o meu solar.
Sei que vou zarpar.
Adeus, adeus, ó minha amada!
Vou vencer marés e assombração.
Sei que vou zarpar.
Hei-de remar de madrugada
Ao compasso do teu coração.
Vou vencer marés e assombração.
Letra e música: José Medeiros
Arranjo: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão original: Gaiteiros de Lisboa com José Medeiros (in CD “Bestiário”, Uguru, 2019)
Nota: «Tema criado para série televisiva “O Livreiro de Santiago” (RTP-Açores, 2014), de José Medeiros.» (Carlos Guerreiro)
Os teus olhos negros
[ Olhos Pretos (ou Olhos Negros) ]
Os teus olhos negros, negros,
São gentios, são gentios da Guiné:
Ai, da Guiné por serem negros,
Da Guiné por serem negros,
Gentios por não ter fé.
Os meus olhos, de chorar,
Ai, de chorar,
Fizeram covas no chão.
Choram por ti, choram por ti
Choram por ti.
E os teus por quem chorarão?
Choram por ti, choram por ti
Choram por ti.
E os teus por quem chorarão?
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Musica Nostra* (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)
Os teus olhos são brilhantes
[ Olhos Negros ]
Os teus olhos são brilhantes,
semelhantes aos luzeiros que o céu tem;
os olhos negros eu preferi e nunca vi,
de outros mais lindos, ninguém.
Os teus olhos negros, negros…
Os teus olhos negros, negros,
são gentios, são gentios da Guiné;
ai da Guiné por serem negros,
da Guiné por serem negros,
gentios por não terem fé.
Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Quando o Menino nasceu
[ Canto de peditório ]
Quando o Menino nasceu
(Ai) P’ra salvar a toda a gente,
Uma estrela apareceu
(Ai) Aos três Reis do Oriente.
Quando a estrela avistaram,
(Ai) Compreenderam-na bem:
Sem demora caminharam
(Ai) Atrás dela p’ra Belém.
Quando o Menino nasceu
P’ra salvar a toda a gente…
O Menino foi dormir;
(Ai) Ninguém o vem acordar
Pois só os anjos do Céu
(Ai) O podem vir visitar.
Sete estrelas nos guiam
(Ai) Todas a par com a Lua:
Nossa Senhora no meio,
(Ai) Mais formosa que nenhua. [
Quando o Menino nasceu…
Letra e música: Popular (Lomba do Pomar – Povoação, Ilha de S. Miguel, Açores)
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Coro Pactis (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Ronda dos Quatro Caminhos”, Rádio Triunfo, 1984, reed. Movieplay, 1997)
Quero-te bem
Quero-te bem, quero-te bem porque quero,
Quero-te bem porque és o meu amor;
Quero-te bem, quero-te bem porque quero,
Queira ou não queira a razão.
Quero-te bem sobre o bem
Com todo o meu bem-querer;
Quero-te bem dentro da alma
Sem te dar a entender.
Quero-te bem, quero-te bem sobre o bem,
Sobre o bem, sobre o bem a bem-querer;
Quero-te bem, quero-te bem, já te disse,
Hei-de amar-te até morrer!
Quero-te bem sobre o bem
Com todo o meu bem-querer;
Quero-te bem dentro da alma
Sem te dar a entender.
Quero-te bem sobre o bem
Com todo o meu bem-querer;
Quero-te bem dentro da alma
Sem te dar a entender.
Quero-te bem, quero-te bem porque quero,
Quero-te bem porque és o meu amor;
Quero-te bem, quero-te bem porque quero,
Queira ou não queira a razão.
Quero-te bem sobre o bem
Com todo o meu bem-querer;
Quero-te bem dentro da alma
Sem te dar a entender.
Quero-te tanto, quero-te tanto, meu bem!
Dizer-te o quanto, dizer-te o quanto eu não sei;
Quero-te ter, quero-te ter sobre o peito
Onde bate o coração!
Quero-te bem sobre o bem,
Sobre bem a bem-querer;
Quero-te bem, já te disse,
Hei-de amar-te até morrer!
Quero-te bem sobre o bem,
Sobre bem a bem-querer;
Quero-te bem, já te disse,
Hei-de amar-te até morrer!
Letra: Tradicional (Açores)
Música: Macadame
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Rema para lá
[ O Rema ]
Rema para lá, lanchinha,
Lanchinha de quatro remos!
Que amanhã é dia santo,
Temos tempo, falaremos.
Rema, que rema!
Vamos ao mar às tainhas!
No mar se apanham:
Ou gradas ou miudinhas.
Rema para lá, lanchinha!
Rema bem, ó remador!
Que nessa lanchinha vai
Para longe o meu amor.
Rema, que rema!
Vamos ao mar às bicudas!
No mar se apanham
Miudinhas e graúdas.
Quando eu era lancha nova,
Ia muita vez ao mar;
Agora que já sou velha
‘Stou posta de quilha ao ar.
Rema, que rema!
Vamos ao mar às cavalas!
No mar se apanham,
Vamos ao mar apanhá-las!
Já fui mestre, mandei barco,
Marinheiro de abalada;
Agora que já sou velho
Só ganho meia soldada.
Rema, que rema!
Vamos ao mar à sardinha!
No mar se apanha
Muito grada e miudinha.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora* (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Roda, roda, rotativa
Roda, roda, rotativa
Roda, roda, rotativa
Teu cantar é um lamento
Meu coração à deriva
Meu coração à deriva
Como um peixe catavento
Roda, roda, rotativa
Roda, roda, rotativa
Teu cantar é sempre igual
Repetida narrativa
Repetida narrativa
Rotineiro ritual
Vai, António Malaquias
Vai, António Malaquias
Já é tempo de zarpar
De rasgar as levadias
De rasgar as levadias
E os segredos que há no mar
Vai, António Malaquias
Vai, António Malaquias
Já é tempo de zarpar
De rasgar as levadias
De rasgar as levadias
E os segredos que há no mar
A rotativa do tempo
A imprimir sonhos e quimeras
Neste tão cinzento quotidiano
Enquanto as luzes da cidade
Vão coreografando a sua dança de sombras
Dança de sombras, rasgos de luz…
Vai, António Malaquias!
Recusa a tua solidão
Que há um batel à tua espera!
Olha! Olha o sorriso da lua nas criptomérias
Enfeitando a noite de miragens e de segredos!
Vai, António Malaquias! Vai!
Letra e música: José Medeiros
Arranjo: José Medeiros, com a colaboração de todos os músicos
Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 2, Algarpalcos, 2010)
Rola, rola, São Gonçalo
[ São Gonçalo ]
Rola, rola, São Gonçalo,
Santo de Jesus querido!
Já fostes santificado
Antes que fosseis nascido.
São Gonçalo me chamou
De cima do seu balcão:
Ai, que fosse jantar com ele
Uma perna de leitão.
Rola, rola, São Gonçalo!
Rola por aí abaixo!
Que eu perdi um bem que tinha
E ando a ver se o acho.
São Gonçalo me chamou
Da janela da cozinha:
Ai, que fosse jantar com ele
Uma canja de galinha.
Rola, rola, São Gonçalo,
Santo de Jesus querido!
Já fostes santificado
Antes que fosseis nascido.
São Gonçalo de Amarante
É santo casamenteiro,
Ai, mas só quer casar as velhas
E às novas diz que é solteiro.
Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora* (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
Sapatos p’rá sapateia
[ Sapateia ]
Sapatos p’rá sapateia,
P’ra bem sapatear!
Que quem melhor sapateia
É quem melhor sabe amar.
O meu amor é um anjo
Que a Deus do Céu agradeço:
Já mo quiseram comprar,
Ai, anjos do Céu não têm preço.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Recolha/transcrição: ? (acervo do Museu Carlos Machado, Ponta Delgada)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)
S. Gonçalo dos milagres
[ S. Gonçalo Viageiro ]
S. Gonçalo dos milagres
Que mal te fizemos nós,
Que ainda estamos solteiros
Podendo já ser avós?!
Prometi a S. Gonçalo
Que lhe dava uma tijela…
Mas não tenho senão uma,
Se lha dou fico sem ela.
S. Gonçalo me chamou
Pela porta da cozinha
Para ir jantar com ele
Uma perna de galinha.
Já está velho S. Gonçalo,
De velho caiu-lhe os dentes;
Deus dê saúde às moças
Que lhe deram papas quentes!
Letra e música: Popular (Açores)
Arranjo: António Prata e Carlos Barata
Orquestração: Vasco Pearce de Azevedo
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Grupo Coral da Horta (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996; CD “A Arte e a Música”, Universal. 2004)
Sol baixinho
[ Moda de baile ]
Sol baixinho, sol baixinho,
Sol baixinho também queima;
Eu hei-de amar, sol baixinho,
Só p’ra seguir uma teima.
Cravo branco, não me prendas,
Que eu não tenho quem me solte!
Não sejas tu, cravo branco,
Causante da minha morte!
O meu pai é tocador,
Minha mãe é cantadeira:
Eu sou filho deles ambos,
Canto da mesma maneira.
Eu gosto muito de estar
Onde estão as raparigas:
Uma canta, outra baila
E a outra ouve as cantigas.
Letra e música: Popular (ilha de Santa Maria, Açores)
Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Açor/Emiliano Toste, 2002) [canta Virgínia de Andrade Cabral, acompanhada por violas de arame tocadas por António Augusto Cabral e João Soares
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996)
Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos com Orquestra Sinfonietta de Lisboa (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005)
Tira, Tirana
[ Tirana ]
Tira, Tirana! Tira, Tirana!
Tirana, tira, Tirana,
Tirana do sentimento!
Abre, Tirana, abre os teus braços!
Tirana, abre os teus braços!
Quero entrar para dentro.
Ía Tirana, eu ía p’lo mar,
Eu ía pelo mar fora;
A meio do mar parei:
Ouvi, Tirana, cantar a Tirana,
Ouvi cantar a Tirana
Lá no palácio do rei.
Tira, Tirana! Tira Tirana!
Tirana, tira, Tirana!
Tirana, torna a tirar!
Vem ver, Tirana, o meu padecer!
Ver ver o meu padecer!
Vem ver o meu acabar!
Atira, Tirana! Atira, Tirana!
Tirana, atira, Tirana!
Tirana vem ver, vem ver!
Vem ver, Tirana! Vem ver, Tirana!
E verás como se morre
Se se acaba por morrer.
Letra e música: Tradicional (Ilha de São Jorge, Açores)
Intérprete: Musica Nostra* (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)
Tuque, batuque
[ Batuque (Moda de baile) ]
Tuque, batuque,
Batuque, meu bem!
Quem me dera ter
O que o batuque tem…
Tuque, batuque,
Torna a batucar!
Meninas bonitas
Vão p’ra o seu lugar.
Tuque, batuque,
Por trás do frontal…
Perdi uma agulha,
Achei um dedal.
Tuque, batuque,
De noite ao serão…
Ouvem-se violas,
Que lindas que são!
Tuque, batuque,
De noite ao serão…
Ouvem-se violas,
Que lindas que são!
Tuque, batuque,
Torna a batucar!
Meninas bonitas
Vão p’ra o seu lugar.
Letra e música: Popular (Ilha de Santa Maria, Açores)
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Coro da Associação José Damião de Almeida (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Cantigas do Sete-Estrelo”, Rádio Triunfo, 1985, reed. Movieplay, 1997)
Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Uma Noite de Música Tradicional”, Polygram, 1993; CD “A Arte e a Música”, Universal. 2004)
Vai de roda
[ Canção dançada ou ‘moda’ de baile ]
Vai de roda, vai de roda!
Vai de roda com primori!
Daqui desta região,
De quem há-de ser meu amori.
Hei-de cantar e bailar
Enquanto vida tiveri;
E depois, quando eu morrer,
Que cante e baile quem quiseri.
Os olhos do meu amor
São grãos de trigo na eira,
Semeados ao domingo
E nados à segunda-feira.
Vai de roda, vai de roda!
Vai de roda com primori!
Daqui desta região,
De quem há-de ser meu amori.
Hei-de cantar e bailar
Enquanto vida tiveri;
E depois, quando eu morrer,
Que cante e baile quem quiseri.
Os olhos do meu amor
São grãos de trigo na eira,
Semeados ao domingo
E nados à segunda-feira.
Letra e música: Tradicional (ilha de S. Miguel, Açores)
Recolha: Artur Santos (campanha de 1960) (in 4CD “O Folclore Musical nas ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de S. Miguel”: CD 2, Açor/Emiliano Toste, 2001)
Intérprete: Macadame
Primeira versão de Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)
Viola, minha viola
Viola, minha viola
Tu comes comigo à mesa;
Tu és a minha alegria,
Quando eu tenho tristeza.
Viola, minha viola,
Viola que eu tanto adoro:
Porque ris quando rio?
Porque choras quando choro?
Os dois corações abertos
Da viola, tão riquinhos,
Um é meu, o outro é teu,
Como os dela bem juntinhos.
Letra: cancioneiro dos Açores
Viva o vinho rescendente
[ Ai Vinho do Pico ]
Viva o vinho rescendente
Que cresceu ao pé do mar
E se esvai tão de repente
Porque tem bom paladar!
Atlantis à flor da água
Tem Arinto lá no monte;
Vou beber a minha mágoa
No Czar da tua fonte.
O vinho acende o desejo,
Basalto, aquela emoção…
O Merlot sabe ao beijo
Deste amor, pura afeição.
Dono da casa, amiguinho,
Tu não me dês uma nega:
Vamos lá provar o vinho
Que há na tua linda adega!
Letra: Victor Rui Dores
Música: Popular (Chamarrita do Pico, Açores)
Arranjo: Luís Bettencourt
Intérprete: Carlos Alberto Moniz
Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 2, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)