Tag Archive for: Canções de Portugal

Pico, Açores

A Bela Aurora chorava

[ Bela Aurora ]

A Bela Aurora chorava;
Ela no pranto dizia:
Já não tenho o meu amor,
Minha doce companhia.

A Bela Aurora na serra
Não sei como não tem medo:
Faz a cama, dorme só
Debaixo do arvoredo.

Aurora, meu bem, Aurora,
Aurora detrás dos montes:
Uma hora te não veja
Meus olhos são duas fontes.

Aurora, querida Aurora,
Aurora no seu jonjal:
Minh’alma morre p’la tua
E a tua não sei por qual.

Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Recolha/transcrição: Lígia Maria da Câmara Almeida Matos (in “Insulana”, Vol. XI, 1.° trimestre de 1955)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

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A história que eu vou contar

[ Naufrágio ]

A história que eu vou contar
Ouvi-a na minha aldeia,
Onde à noite a voz do mar
Murmura canções na areia.

História de pescadores
Do Cais Negro à Pontinha,
Onde há grandes senhores
Que bocejam à noitinha.

Foi o barco do Zé Tordo:
Partiu à noite p’ró mar
E na madrugada ao porto
O seu barco sem chegar.

Encheu-se a praia de gritos
Da gente da minha aldeia
Ao ver o corpo do Zé
Trazido na maré-cheia.

Ouvem-se vozes: «Coitado!
Cinco filhos e mulher
Sem uma côdea de pão,
Sem um abrigo sequer!»

E no enterro, à viúva,
Levando ao Zé muitas flores,
Prometem-lhe a sua ajuda
O povo e os grandes senhores.

Mas dois anos já são passados,
Na praia da minha aldeia
Vêem-se cinco crianças
Brincando nuas na areia.

E da moral desta história
Tirem vossas conclusões:
Uma família não vive
Só de boas intenções.

E da moral desta história
Tirem vossas conclusões:
Uma família não vive
Só de boas intenções.

Letra: Cristóvão de Aguiar
Música: Tradicional (Charamba) (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Versão original: Duarte & Ciríaco (in EP “Nós: Canções Populares”, Sonoplay, 1969)

Ai o pastor lá na serra

A Lira

Ai quem me dera partir

[ Tema para Margarida ]

Ai quem me dera partir
Na canoa da esperança
E ir ancorar noutras praias
Noutros varadouros
Ai quem me dera voltar
A gozar dos tesouros
Da felicidade que eu tinha
Quando era criança

Ai quem me dera ser garça
E voar no Canal
Só entre o Pico e o Faial
Me quedar dividida
Ai quem me dera mão firme
No leme da vida
Ai este amor que me mirra
Me mata e faz mal

Ai quem me dera de novo
As certezas e os medos
Ai quem me dera ter credos
E não ser indiferente
Ai o amor passa ao largo
Da vida da gente…
Ai já o tempo se escoa
Como areia entre os dedos…

Ai quem me dera ser garça
E voar no Canal
Só entre o Pico e o Faial
Me quedar dividida
Ai quem me dera mão firme
No leme da vida
Ai este amor que me mirra
Me mata e faz mal

Ai quem me dera partir
Na canoa da esperança
E ir ancorar noutras praias
Noutros varadouros
Ai quem me dera voltar
A gozar dos tesouros
Da felicidade que eu tinha
Quando era criança

Ai quem me dera ser garça
E voar no Canal
Só entre o Pico e o Faial
Me quedar dividida
Ai quem me dera mão firme
No leme da vida
Ai este amor que me mirra
Me mata e faz mal

Letra e música: Aníbal Raposo (para a série ficcional “Mau Tempo no Canal”, RTP-Açores, 1992)
Intérprete: Vânia Dilac
Versão original: Piedade Rego Costa (in CD “7 Anos de Música”, 2.ª edição, DisRego, 1992)
Outras versões: Aníbal Raposo (in CD “A Palavra e o Canto”, Açor/Emiliano Toste, 2005)

Atirei, não matei caça

[ Tirana ]

Atirei, não matei caça,
Lá foi meu tiro perdido.
Meu tiro perdido…
Meu tiro perdido…
A minha pólvora queimada,
O meu chumbo derretido.
Atira, Tirana!
Ai sempre a tirar,
Mata-me aquela pombinha
Que anda no calhau do mar!
A linda Tirana
Ai já se enterrou…
A Tirana já se enterrou,
Já morreu, já se enterrou.
Ai já se enterrou…
Ai já se enterrou…
Já lá vai pelo mar fora
Quem a Tirana matou.

A Tirana está no chão,
Debaixo dum laranjal.
Ai dum laranjal…
Ai dum laranjal…
Está tirando pintainhos
Para a gente do Faial.
Ó linda Tirana,
Ai da tirania!
Já me está querendo bem
Quem tanto mal me queria.
Eu ia p’lo mar,
Ai pelo mar fora…
Eu ia pelo mar fora,
Nas ondas do mar parei.
Ai do mar parei…
Ai do mar parei…
Ai ouvi cantar a Tirana
Lá no palácio do rei.

Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

Devagar, devagarinho

[ Pezinho ]

Devagar, devagarinho,
Ficas sendo o meu amor.
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem!
Ai, põe aqui se o queres pôr!
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem!
Ai, põe aqui se o queres pôr!
E ao tirar, e ao tirar o teu pezinho,
Meu lindo bem,
Ai, ficas sendo o meu amor.
E ao tirar, e ao tirar o teu pezinho,
Devagar, devagarinho,
Ficas sendo o meu amor.

Devagar, devagarinho,
Cada um fica com o seu.
Ai, põe aqui, ai, põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem!
Ai, põe aqui ao pé do meu!
Ai, põe aqui, ai, põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem!
Ai, põe aqui ao pé do meu!
E ao tirar e ao tirar o teu pezinho,
Meu lindo bem,
Cada um fica com o seu.
E ao tirar e ao tirar o teu pezinho,
Devagar, devagarinho,
Cada um fica com o seu.

Devagar, devagarinho,
À moda de São Miguel!
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem,
Meu benzinho Manuel!
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem,
Meu benzinho Manuel!
Ai, põe aqui, ai põe aqui o teu pezinho,
Meu lindo bem,
À moda de São Miguel!
Ai, põe aqui, ai, põe aqui o teu pezinho,
Devagar, devagarinho,
À moda de São Miguel!

Devagar, devagarinho,
À moda de São Miguel!

Devagar, devagarinho,
À moda de São Miguel!

Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

E de manhã na nossa casa

[ Alvorada ]

E de manhã na nossa casa
É todos os dias uma aldeia,
E de manhã na nossa casa…
E de manhã na nossa casa
É todos os dias uma aldeia
E não pegam a trabalhar,
E não pegam a trabalhar
E sem ter a barriga cheia,
E sem ter a barriga cheia.

E quando tirar o pão do forno
E ao cobrir bem com o tendal,
E quando tirar o pão do forno…
E quando tirar o pão do forno
E ao cobrir bem com o tendal
E não vá alguma cozinheira,
E não vá alguma cozinheira
Levar algum debaixo do avental,
Levar algum debaixo do avental.

E esta casa está tão cheia,
E cheia de canto a canto,
Esta casa está tão cheia…
E esta casa esta tão cheia,
E cheia de canto a canto;
Usavam de nela assistir,
E usavam de nela assistir
E Divino Espírito Santo,
E Divino Espírito Santo.

Letra e música: Tradicional (Ilha de Santa Maria, Açores)
Informantes: Maria Virgínia de Andrade, Filomena de Andrade Cabral e Virgínia de Andrade Cabral (canto), acompanhadas ao tambor e címbalos
Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in 12EP “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1963; 2CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”: CD 1, faixa 3, Açor/Emiliano Toste, 2002)
Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Primeira versão [?]: Cramol – “Alvorada de Santa Maria” (in CD “Cramol”, BMG Ariola, 1996)

Nota: «A linha melódica das folias de Santa Maria é caracterizada por valores rítmicos aparentemente pouco definíveis. Esta particularidade leva-nos a afirmar que se trata de um canto remoto trazido pelos povoadores destas ilhas, que o receberam dos seus antepassados, oriundos do Próximo Oriente (Arábia, Iraque, Síria), em resultado da fixação na Península Ibérica dos Povos que a invadiram no século VIII.

Teófilo Braga, a este propósito, refere que as folias provêm do “lingui-lingui” árabe, a Lenga-lenga ou canto narrativo mais recitado do que cantado. Ao cantador, no seu improviso, lindas rimas lhe saíam a enaltecer o Divino Espírito Santo, a elogiar o mordomo, a agradecer aos criadores ou a salientar as mãos habilidosas das cozinheiras.» (Helena Oliveira)

É esta a vez primeira

[ Charamba ]

É esta a vez primeira
A vez primeira
Que neste auditório canto
Em nome de Deus começo
De Deus começo
Padre, Filho, Esp’rito Santo

A saudade é um luto
Ai, é um luto
É um luto, é uma afeição
É um cortinado roxo
Ai, é um luto
Que me corta o coração

Eu cá sei, tu lá sabes
E tu lá sabes
O que não sabes eu sei
Eu já vi andar a morte
Andar a morte
Às costas de um peixe-rei

Letra e música: Popular (Açores)
Intérprete: Margarida Pinto (in CD “Adriano, Aqui e Agora – O Tributo”, Movieplay, 2007)
Versão original: Adriano Correia de Oliveira (in “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)

É esta a vez primeira

[ Charamba ]

É esta a vez primeira,
A vez primeira
Que neste auditório canto;
Em nome de Deus começo,
De Deus começo,
Padre, Filho, Esp’rito Santo.

A ausência tem uma filha,
Ai tem uma filha
Que se chama saudade;
Eu sustento mãe e filha,
Ai mãe e filha
Bem contra a minha vontade.

Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Afonso Dias
Primeira versão: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Lira”, Orfeu, 1968)
Outra versão de Adriano Correia de Oliveira (in LP “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; “Obra Completa”: CD “Cantigas Portuguesas”, Movieplay, 1994, 2007)

Em má hora

[ Saudade ]

Em má hora, em má hora, anjo querido,
Me pediste uma flor…
Das que eu tenho, das que eu tenho aqui são quatro,
Aqui são quatro… nem uma fala de amor.

A primeira, a primeira é uma saudade
Que me deram quando amei;
Custa caro, custa caro, é um tesoiro,
É um tesoiro que com lágrimas comprei.

A segunda, a segunda é um martírio
Cujo espinho atravessou
Coração, coração que a regava,
Que a regava… de pranto ela murchou.

A terceira, a terceira é um cravo,
É um goivo, não to dou!
Fui colhê-lo, fui colhê-lo ao cemitério,
Ao cemitério… entre campas vegetou.

A quarta, a quarta é uma rosa,
É uma rosa, mas olha:
Se eu morrer, se eu morrer e tu souberes,
E tu souberes… na minha campa a desfolha!

Letra e música: Tradicional (Vila Nova do Corvo, Ilha do Corvo)
Informante: Ti Pedro Cepo
Recolha: Manuel Rocha (in CD “Povo Que Canta: Recolhas Etnográficas num Portugal Desconhecido (2000/2003)”, EMI-VC, 2003)
Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Primeira versão [?]: Belaurora / voz solo de Carla Medeiros (in CD “Lágrimas de Saudade”, Açor/Emiliano Toste, 1999; 2CD “Quinze Anos de Cantigas”: CD 2, faixa 20, Açor/Emiliano Toste, 2000)
Versão instrumental em viola da terra: Rafael Carvalho (in 2CD “9 ilhas, 2 Corações”: CD 1, faixa 17, Rafael Carvalho, 2018)

É manhã, não é manhã

[ Chamarrita Zaragateira (moda de baile) ]

É manhã, não é manhã,
Já as chocalheiras começam
A falar da vida alheia
Que é o rosário que rezam.

Chamarrita, rita, rita,
Eu venho contradizer
Qu’eu hei-te dar um jeitinho
Que a outro não hás-de querer!

Quando eu comecei a amar
Foi numa segunda-feira;
Fui amando e fui gostando,
Levei a semana inteira.

Esta é que é a chamarrita:
São garrafas, não são bilhas
E aqui está como se canta
A chamarrita das ilhas!

É manhã, não é manhã,
Já as chocalheiras começam
A falar da vida alheia
Que é o rosário que rezam.

Esta é que é a chamarrita:
São garrafas, não são bilhas
E aqui está como se canta
A chamarrita das ilhas!

Nota: «A “Chamarrita Zaragateira”, recolhida na ilha de Santa Maria por Artur Santos, parece, pela própria denominação ou interpretação do texto de cariz espirituoso, ser uma moda que chama o povo para a dança e para a diversão. O arranjo sugere-nos imagens das coscuvilheiras da aldeia, “é manhã, não é manhã, / já as ‘chocalheiras’ começam” a gastar o seu tempo “a falar da vida alheia”…» (Helena Oliveira)

Letra e música: Tradicional (Ilha de Santa Maria, Açores)
Informantes: Manuel Coelho de Rezendes (canto), José de Andrade Chaves e António Augusto Cabral (violas de arame)
Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in 12EP “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1963; 2CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”: CD 1, faixa 2, Açor/Emiliano Toste, 2002)
Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)
Primeira versão [?]: Emiliano Toste (in CD “Andanças do Mar”, Açor/Emiliano Toste, 2002)

Esta chamarrita nova

[ Chamarrita Nova ]

Esta chamarrita nova,
Esta nova chamarrita…
Esta chamarrita nova,
Esta nova chamarrita
Bem cantada, bem bailhada,
Bem cantada, bem bailhada,
Bem cantada, bem bailhada, rapaz,
Não há moda mais bonita!

Quem uma mãe não adora
Vive já na sepultura.
Quem uma mãe não adora
Vive já na sepultura.
O bom filho sempre chora,
Sem amor não há ventura.
O bom filho sempre chora,
Não há amor sem ventura.

Esta chamarrita nova,
Esta nova chamarrita…
Esta chamarrita nova,
Esta nova chamarrita
Bem cantada, bem bailhada,
Bem cantada, bem bailhada,
Bem cantada, bem bailhada, rapaz,
Não há moda mais bonita!

Quem uma mãe não adora
Vive já na sepultura.
Quem uma mãe não adora
Vive já na sepultura.
O bom filho sempre chora,
Sem amor não há ventura.
O bom filho sempre chora,
Não há amor sem ventura.

Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Intérprete: Helena Oliveira (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)

Esta é a primeira vez, a primeira

[ Charamba ]

Esta é a vez primeira, a vez primeira
Que neste auditório canto;
Em nome de Deus começo, de Deus começo:
Padre, Filho, Esp’rito Santo.

A ausência tem uma filha, tem uma filha
Que se chama saudade;
Eu sustento mãe e filha, ai mãe e filha,
Bem contra a minha vontade.

Boa-noite, meus senhores,
Minhas senhoras, lindas flores
Que aqui estais neste salão!
Que aqui estais neste salão!
Eu p’ra todos vou cantar
E a todos quero saudar
Do fundo do coração,
Do fundo do coração.

Eu vesti um vestido novo, um vestido novo
Para vir aqui cantar;
A Charamba está no baile, ai está no baile,
E o meu bem é o meu par.

Boa-noite, meus senhores,
Minhas senhoras, lindas flores
Que aqui estais neste salão!
Que aqui estais neste salão!
Eu p’ra todos vou cantar
E a todos quero saudar
Do fundo do coração,
Do fundo do coração.

Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)
Primeira versão [?]: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Lira”, Orfeu, 1964)
Outra versão de Adriano Correia de Oliveira (in LP “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; 7CD “Obra Completa”: CD “Cantigas Portuguesas”, Movieplay, 1994, Movieplay/Público, 2007)
Versão instrumental em viola da terra: Rafael Carvalho (in 2CD “9 ilhas, 2 Corações”: CD 1, Rafael Carvalho, 2018)

Esta moda é bem ligeira

[ Balho da Povoação ]

Esta moda é bem ligeira:
Quem a havia de inventar?
Foi a filha da padeira
Na cozinha a peneirar.

Não há no mundo dois mundos,
Nem no céu há dois senhores:
Também não pode existir
Num coração dois amores.

Meu amor, se vires cair
Folhas verdes na varanda,
Olha que são saudades
Que o meu coração te manda.

Nas ondas do teu cabelo
Vou deitar-me a afogar!
Eu quero que o mundo saiba
Que há ondas sem ser no mar.

Quando Deus criou a rosa
E fez a luz do luar,
Entre as coisas mais formosas
Fez a luz do teu olhar.

Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Recolha/transcrição: Francisco José Dias (in “Cantigas do Povo dos Açores”, Angra do Heroísmo: Instituto Açoriano de Cultura, 1981)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

Esta noite ninguém dança

[ Manda Voltar (Chamarrita) ]

Esta noite ninguém dança,
Cantador não quer cantar;
Esta noite ninguém dança,
Pôs-se o homem a cismar:

«Já não cabe tanta ausência
Nesta terra frente ao mar;
Já não cabe tanta ausência,
Dura a vida, manda voltar!»

A filha do cantador
Foi p’ra longe trabalhar;
Não sei que vida deixou,
Que vida há-de ganhar.

«Deu-me um beijo, foi-se embora,
Era hora de ficar…
Deu-me um beijo, foi-se embora,
(Era hora) manda voltar!»

Foram novos, foram tantos,
Que viola há-de tocar?
Esta noite ninguém dança,
A Rita não quer chamar.

Vai-te embora, mandador!
Chama Rita ao seu lugar!
Água fora, vai-te embora!
Chama, chama, manda voltar!

P’ra que serve um mandador
Que não tem em quem mandar?
Esta noite ninguém dança,
Cantador não quer cantar.

Vai-te embora, ó mandador!
Muda a sorte, manda virar!
Água fora, vai-te embora!
Vira a vida, manda voltar!

Água fora, vai-te embora!
Chama, chama, manda voltar!
Água fora, pede, chora!
Puxa, implora, manda voltar!

Letra: Catarina Gouveia
Música: Tradicional (Açores)
Recolha: Artur Santos
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Eu fui, eu fui à terra do bravo

[ O Bravo ]

Eu fui, eu fui à terra do bravo,
Eu fui, eu fui à terra do bravo,
(Bravo, meu bem)
Para ver se embravecia:
Cada vez, cada vez fiquei mais manso,
Cada vez, cada vez fiquei mais manso,
(Bravo, meu bem)
Para a tua companhia.

Eu fui, eu fui à terra do bravo,
Eu fui, eu fui à terra do bravo,
(Bravo, meu bem)
Quem é moiro não tem fé:
Nunca vi, nunca vi gente mais brava,
Nunca vi, nunca vi gente mais brava,
(Bravo, meu bem)
Que o gentio da Guiné.

Eu fui, eu fui à terra do bravo,
Eu fui, eu fui à terra do bravo,
(Bravo, meu bem)
À ilha de São Tomé:
Quando vi, quando vi a estrela-d’alva,
Quando vi, quando vi a estrela-d’alva,
(Bravo, meu bem)
Aproveitei a maré.

Eu fui, eu fui ao mar às laranjas,
Eu fui, eu fui ao mar às laranjas,
(Bravo, meu bem)
É coisa que o mar não tem:
Como pode, como pode vir enxuto,
Como pode, como pode vir enxuto,
(Bravo, meu bem)
Quem das ondas do mar vem?

Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora* (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

Eu já morri uma vez

[ Chamarrita (Moda de baile) ]

Eu já morri uma vez,
Ai o morrer achei tão doce:
Inda tornava a morrer
Ai se por tua causa fosse.

Vira e volta a Chamarrita
Ai p’ra o lado deste meu peito;
Se vens buscar saudades
Mete a mão, tira-as com jeito!

Saudades me tem posto
Da grossura duma linha:
Já vejo que não arribo
Nem a caldos de galinha.

Vira e volta a Chamarrita
Ai p’ra o lado deste meu peito;
Se vens buscar saudades
Mete a mão, tira-as com jeito!

Letra e música: Popular (Ilha de Santa Maria, Açores)
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Coro da Matriz de Santa Cruz da Graciosa (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)

Eu nasci à sexta-feira

[ Pezinho da Vila ]

Eu nasci à sexta-feira
Com barbas e cabeleira
Mais parecera um anti-Cristo
Que até o senhor padre cura
Que é um homem de sabedura
Nunca tal houvera visto

Eu fui a Vila Franca
Escanchado numa tranca
À morte de uma galinha
O que ela tinha no papo
Sete cães e um macaco
E um soldado da marinha

Ponha aqui o seu pezinho
Devagar devagarinho
Se vai à Ribeira Grande
Eu tenho uma carta escrita
Para ti, cara bonita
Não tenho por quem lh’a mande

Eu fui à Praia da Rocha
Sapato meia galocha
Ver se o mar estava manso
Encontrei lá uma garoupa
Toda embrulhada em roupa
A dormir no seu descanso

Eu fui de Lisboa a Sintra
A casa da tia Jacinta
P’ra me fazer uns calções
Mas a pobre criatura
Esqueceu-se da abertura
Para as minhas precisões

Ponha aqui o seu pezinho
Devagar devagarinho
Se vai à Ribeira Grande
Eu tenho uma carta escrita
Para ti, cara bonita
Não tenho por quem lh’a mande

Toda a moça que é bonita
Se ela chora, se ela grita
Nunca houvera de nascer
É como a maçã madura
Na quinta do padre cura
Todos lha querem comer

Eu fui casar às Capelas
Por ser fraco das canelas
Com uma mulher sem nariz
E esta gente das Fajãs
Já me deram os parabéns
Pelo casamento que eu fiz

Ponha aqui o seu pezinho
Devagar devagarinho
Se vai à Ribeira Grande
Eu tenho uma carta escrita
Para ti, cara bonita
Não tenho por quem lh’a mande

Letra e música: Popular (Açores)
Intérprete: Brigada Victor Jara (in “Eito Fora”, Mundo Novo/Editorial Caminho, 1977; reed. Farol, 1995)

Eu sou marinheiro

[ Irró (Erró) ]

Eu sou marinheiro, eu sou
Contramestre de um vapor:
Embarquei numa galera
P’rás terras do meu amor.

Bate, padeirinha!
Bate, padeirão!
Quem quiser peixinho
Vai ao barracão,
Peixinho comprado
Numa banda só,
Folhinha rosada
Num dia de irró!

Eu sou marinheiro, eu sou
Contramestre de um vapor:
Embarquei numa galera
P’rás terras do meu amor.

S. Pedro e S. Paulo
Sejais minha guia,
Na terra, no mar
Minha companhia!
S. Pedro amado,
Livrai-me, sou réu,
Bolinete doirado
Caído do céu!

Eu sou marinheiro, eu sou
Contramestre de um vapor:
Embarquei numa galera
P’rás terras do meu amor.

Mastrinho sem vela
Mas com bujarrona,
Chapluca com Deus
Cheira a manjerona;
Em noite de calma
Brilha a lua cheia,
Canta sobre as águas
A linda sereia!

Eu sou marinheiro, eu sou
Contramestre de um vapor:
Embarquei numa galera
P’rás terras do meu amor.

Letra e música: Popular (Ilha de S. Miguel, Açores)
Arranjo e orquestração: Pedro Fragoso
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & “Coro da Ressaca do Maia Folk” (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)

Meu delicado pezinho

Meu delicado pezinho
Quando toca no caminho
Logo toca o meu também
Depois vamos conversando
Nossos pezinhos tocando
Mais felizes que ninguém

Este pé que é o teu
Deve estar ao pé do meu
Namorando a vida inteira
O meu pé não se acomoda
Quer ir com o teu à roda
De toda a ilha Terceira

Nossos pezinhos rodando
Passo a passo caminhando
Só ouvindo a tua voz
E então um pouco a medo
Me disseste um segredo
Que ficou só entre nós

Letra e música: Popular (Açores)
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in “Fados Velhos”, Contradança, 1987; reed. Movieplay, 1998)

Minha avó quando nasceu

[ Balho da Povoação ]

Minha avó quando nasceu
Eu já tinha três semanas;
Já vinha da Povoação
C’um saquinho de castanhas.

Ontem à noite eu fui ao balho
Mai-la minha rapariga;
Eu dei-lhe um beijo na testa
E um beliscão na barriga.

Minha mãe quando nasceu
Eu já estava em São Vicente;
Minha mãe está teimosa,
Que nasceu à minha frente.

Oh, que linda rosa é esta
Tenho eu ao pé de mim!
P’lo cheirinho que ela deita
Parece que veio do jardim.

Nesta terra não é uso
Ir pedir a filha ao pai:
Vai-se p’la escada acima,
«Senhor sogro, já cá vai!»

O balho da Povoação
Quem havia de inventar?
Foi a filha da padeira
Toda a noite a peneirar.

Letra e música: Popular (ilha de São Miguel, Açores)
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Fados Velhos”, Contradança, 1986, reed. Movieplay, 1998)
Segunda versão da Ronda dos Quatro Caminhos – “Fado da Povoação” (in 2CD “Alçude”: CD 2, Ovação, 2001)

Não planteis a saudade

[ Saudade ]

Não planteis a saudade,
Que a saudade é má flor!
Que uma viva saudade,
Que uma viva saudade,
Que uma viva…
Que uma viva saudade
Me matou o meu amor.

Ó tirana saudade,
Onde tu foste nascer?!
No peito do meu amor
No peito do meu amor
No peito…
No peito do meu amor
Que mo deixaste a sofrer.

Saudade, terna saudade,
Emblema do meu viver,
Companheira da minh’alma,
Companheira da minh’alma,
Companheira…
Companheira da minh’alma,
Só morres quando eu morrer.

Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Intérprete: Musica Nostra* (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)

No berço que a ilha encerra

[ Chamateia ]

No berço que a ilha encerra
Bebo as rimas deste canto
No mar alto desta terra
Nada a razão do meu pranto

Mas no terreiro da vida
O jantar serve de ceia
E mesmo a dor já sentida
Dá lugar à Sapateia

Oh meu bem,
oh Chamarrita
Meu alento vai e vem
Vou embarcar nesta dança
Sapateia, oh meu bem

Se a Sapateia não der
Pra acalmar minha alma inquieta
Estou pró que der e vier
Nas voltas da Chamarrita

Chamarrita, Sapateia
Eu quero é contradizer
O aperto desta bruma
Que às vezes me quer vencer

Oh meu bem,
oh Chamarrita
Meu alento vai e vem
Vou embarcar nesta dança

António Zambujo, Outro Sentido

António Zambujo, Outro Sentido

Letra: António Melo Cruz (inspirado nas tradicionais “Chamarrita” e “Sapateia”)
Música: Luís Alberto Bettencourt
Intérprete: António Zambujo (in CD “Outro Sentido”, Ocarina, 2007)

No berço que a ilha encerra

[ Chamateia ]

No berço que a ilha encerra
Bebo as rimas deste canto;
No mar alto desta terra
Nada a razão do meu pranto.

Mas no terreiro da vida
O jantar serve de ceia,
E mesmo a dor mais sentida
Dá lugar à chamateia.

Oh meu bem!
Oh chamarrita!
Meu alento vai e vem,
Vou embarcar nesta dança,
Sapateia, oh meu bem!

Se a sapateia não der
P’ra acalmar minh’alma inquieta,
Estou p’ró que der e vier
Nas voltas da chamarrita.

Chamarrita, sapateia!
Eu quero é contradizer
O aperto desta bruma
Que às vezes me quer vencer.

Oh meu bem!
Oh chamarrita!
Meu alento vai e vem,
Vou embarcar nesta dança,
Sapateia, oh meu bem!

Letra: António Melo Sousa
Música: Luís Alberto Bettencourt
Arranjo: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão discográfica dos Gaiteiros de Lisboa, com Filipa Pais e João Afonso (in CD “Bestiário”, Uguru, 2019)
Versão original: José Ferreira, Carlos Medeiros e Luísa Alves (in LP “Balada do Atlântico”, DisRego, 1987; 2LP “O Barco e o Sonho | Balada do Atlântico | Xailes Negros”: LP 1, Philips/Polygram, 1989; CD “7 Anos de Música”, 2.ª edição, DisRego, 1992)

Gaiteiros de Lisboa, Bestiário
Gaiteiros de Lisboa, Bestiário

No berço que a ilha encerra

[ Chamateia ]

No fundo do mar ondoso

[ Pezinho, Ai, Ai, Meu Amor ]

No fundo do mar ondoso, (ai, ai, meu amor)
Na concha mais delicada,
Foi gravar a natureza (ai, ai, meu amor)
O nome da minha amada.

Teu nome escrevi na areia (ai, ai, meu amor)
Que banha o vizinho mar;
Eu vi as ondas, pulando, (ai, ai, meu amor)
Teu nome virem beijar.

A maré que vem de longe (ai, ai, meu amor)
Bate na pedra, embranquece;
Este nosso bem-querer (ai, ai, meu amor)

Só no olhar se conhece.

Abre-te, mar, faz carreiro (ai, ai, meu amor)
Que eu não venho fazer guerra!
Venho ver se os peixes amam (ai, ai, meu amor)
Como a gente cá na terra.

Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Recolha/transcrição: Manuel Tavares Canário (1.ª quadra, in “Balhos Micaelenses”, 1901) e Armando Côrtes-Rodrigues (2.ª e 3.ª quadras, in “Cancioneiro Geral dos Açores”, Angra do Heroi´smo: Direcc¸a~o Regional dos Assuntos Culturais, 1982)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

Ó água do mar

[ Mar Salgado ]

Ó água do mar, salgada,
Porque não adocicais?
Correm fontes e ribeiras…
Salgada cada vez mais.

Não há vida mais tirana
Do que a do homem do mar:
Nas ondas a morte à vista,
Em casa a fome a matar.

O mar tem ondas medonhas
Que levantam o furacão;
Eu tenho medo sem fim
Do mar do meu coração.

Ó água do mar, salgada,
Porque não adocicais?
Correm fontes e ribeiras…
Salgada cada vez mais.

O mar tem ondas medonhas
Que levantam o furacão;
Eu tenho medo sem fim
Do mar do meu coração.

Letra: Tradicional (Açores)
Música: Macadame
Intérprete: Macadame* (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

O fado batuque

[ Fado Batuque ]

O fado batuque foi correr a ilha
P’ra arranjar dinheiro p’ra casar a filha.

Ó senhora Ana, ó senhora Aninha,
Acautele o galo das minhas galinhas!

O fado batuque já era velhinho,
Mas inda emborcava um pote de vinho.

O fado batuque tanto batucou,
Mesmo a batucar a vida acabou.

Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

Ó meu bem, se tu te fores

[ Meu Bem ]

Primeira versão [?]: Tonicha, arr. Jorge Palma (in LP “Cantigas Populares”, Orfeu, 1976)
Ó meu bem, se tu te fores
Como dizem que te vais,
Deixa-me o teu nome escrito
Numa pedrinha do cais!

Meu amor, na tua ausência
Nunca deixes de escrever
Duas linhas ao teu bem,
Que por ti fica a sofrer!

Ó meu bem, quando te foste,
Sete lenços alaguei
Mai-la manga da camisa…
E dizem que não chorei!

Meu amor, na tua ausência
Nunca deixes de escrever
Duas linhas ao teu bem,
Que por ti fica a sofrer!

Ó meu bem, se tu te fores
Como dizem que te vais,
Deixa-me o teu nome escrito
Numa pedrinha do cais!

Meu amor, na tua ausência
Nunca deixes de escrever
Duas linhas ao teu bem,
Que por ti fica a sofrer!

Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Helena Oliveira* com José Medeiros (in CD “EssênciasAcores”, Helena Oliveira/HM Música, 2010)

Nota: «Quem analisar a canção “Meu Bem” à luz da sensibilidade, por certo que vai encontrar-lhe um dos mais belos motivos dos cantares açorianos. As notas deslizam, cantam as emoções que o amor vai gerando num suave e doce clamor: “Ó meu bem, se tu te fores / como dizem que te vais, / deixa-me o teu nome escrito / numa pedra do cais!”.

Oh água do mar

[ Mar Salgado ]

Oh água do mar, salgada,
Porque não adocicais?
Correm fontes e ribeiras…
Salgada cada vez mais.

Não há vida mais tirana
Do que a do homem do mar:
Nas ondas a morte à vista,
Em casa a fome a matar.

O mar tem ondas medonhas
Que levantam o furacão;
Eu tenho medo sem fim
Do mar do meu coração.

Oh água do mar, salgada,
Porque não adocicais?
Correm fontes e ribeiras…
Salgada cada vez mais.

Não há vida mais tirana
Do que a do homem do mar:
Nas ondas a morte à vista,
Em casa a fome a matar.

O mar tem ondas medonhas
Que levantam o furacão;
Eu tenho medo sem fim
Do mar do meu coração.

Letra: Tradicional (Açores)
Música: Macadame
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Ó mãe, acende uma candeia

[ Balada da Candeia ]

Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo desta noite tão escura
Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo do assombro da lonjura
Nuvem negra na manhã
Se chover, há-de escampar
Traz um búzio, minha irmã
Quero ouvir a voz do mar
Faça chuva, faça sol
Nesta longa travessia
Hás-de ser o meu farol
Hás-de ser a minha guia

Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo desta noite tão escura
Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo do assombro da lonjura
Triste sorte a do soldado
Lutas, guerras, perdições
Triste sonho amputado
Onde morrem as canções
Rio de tantos venenos
De zagaias e punhais
Selva de tantos enganos
Aziagos, tão fatais

Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo desta noite tão escura
Ó mãe, acende uma candeia
Que tenho medo do assombro da lonjura

Letra e música: José Medeiros (Ao João Lóio, à Regina Castro e ao Fernando Rangel)
Arranjo: José Medeiros, com a colaboração de todos os músicos
Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 2, Algarpalcos, 2010)

Ó meu bem se tu te fores

[ Canção Longe ]

Ó meu bem se tu te fores
Como dizem que te vais
Deixa-me o teu nome escrito
Numa pedrinha do cais

Quando o meu mano se foi
Sete lenços alaguei
Mai-la manga da camisa
E dizem que não chorei

Meu amor vem sobre as ondas
Meu amor vem sobre o mar
Ai quem me dera morrer
Nas águas do teu olhar

Letra: Popular (Açores)
Música: José Afonso
Intérprete: José Afonso (in “Baladas e Canções”, de José Afonso, Ofir, 1967; reed. EMI-VC, 1997)

O meu nome é Ismael

[ Moby Dick (A Canção de Ismael) ]

O meu nome é Ismael
Já me vou fazer ao mar
Vou às sete partidas do mundo
Tempo de zarpar
Nesta barca baleeira
Levo a lança e o arpão
Das Américas aos mares do sul
Minha assombração
Das canções de marinhagem

Sei de lendas e rumores,
Quem será o trancador de Moby Dick?
As canções de marinhagem
Rasgando o mar dos Açores,
Quem será o matador de Moby Dick?
Já se avista um cachalote
Rema, rema, remador
Meu desencontrado coração
Parece um tambor
Na esteira, no meu bote
Meu alento, meu afã
Rema, rema, vamos arpoar
O Leviatã

Ó serpente fugidia
Dos abismos do mar,
Já escuto este clamor:
É Moby Dick!
Assombrada profecia
Vens do fundo do mar
Reconheço com temor que é Moby Dick!
Ó Ahab, ó velho lobo
Comandante desta nau
Coração de ferro, olhar de fogo
E perna de pau
Já conheço a tua lei
Ó sombrio caçador
Só a morte da baleia branca
Mata a tua dor
Ó sombrio capitão
Teu intento é fatal
Hás-de ser o trancador de Moby Dick
Ó sombrio capitão
Teu sangrento ritual
Vais morrer no teu rancor por Moby Dick

Letra e música: José Medeiros
Arranjo: Paulo Borges
Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 1, Algarpalcos, 2010)

Ó sapateia, teia, teia

[ (Sapateia, Teia, Teia) ]

Ó sapateia, teia, teia que me prende
Neste novelo de tantas inquietações
Amarga e doce minha lira que se acende
Nesta viola que há-de ter dois corações

Pedras tão negras tatuadas pelo vento
Pedras queimadas pelo rocio do mar
São sentinelas da saudade, do lamento
De estar tão longe, meu amor, do teu olhar

Vai, minha galera
Navegar o mar imenso
Nas marés que o tempo amanheceu
Nesta longa espera
Sei que ainda te pertenço
Pois sei que a nossa lira não morreu

Ó sapateia, teia, teia que me prende
Neste novelo de tantas inquietações
Amarga e doce minha lira que se acende
Nesta viola que há-de ter dois corações

Pedras tão negras tatuadas pelo vento
Pedras queimadas pelo rocio do mar
São sentinelas da saudade, do lamento
De estar tão longe, meu amor, do teu olhar

Vai, minha galera
Navegar o mar imenso
Nas marés que o tempo amanheceu
Nesta longa espera
Sei que ainda te pertenço
Pois sei que a nossa lira não morreu

Letra e música: José Medeiros (Ao Hermenegildo Galante)
Arranjo: Paulo Borges e José Medeiros
Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 1, Algarpalcos, 2010)

Oh rema, rema oh, companheiro!

[ Baleeiros de New Bedford ]

Oh rema, rema oh, companheiro!
Vem celebrar a luz da manhã!
Do meu amor fiquei prisioneiro,
O seu olhar será meu talismã.

Sei que vou zarpar.
Adeus, adeus, ó minha amada!
Vou vencer marés e assombração.
Sei que vou zarpar.
Hei-de remar de madrugada
Ao compasso do teu coração.
Vou vencer marés e assombração.

Hei-de subir às gáveas do vento,
Serpentear as danças do mar.
O meu arpão será o meu sustento,
Minha galera será o meu solar.

Sei que vou zarpar.
Adeus, adeus, ó minha amada!
Vou vencer marés e assombração.
Sei que vou zarpar.
Hei-de remar de madrugada
Ao compasso do teu coração.
Vou vencer marés e assombração.

Letra e música: José Medeiros
Arranjo: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão original: Gaiteiros de Lisboa com José Medeiros (in CD “Bestiário”, Uguru, 2019)

Nota: «Tema criado para série televisiva “O Livreiro de Santiago” (RTP-Açores, 2014), de José Medeiros.» (Carlos Guerreiro)

Os teus olhos negros

[ Olhos Pretos (ou Olhos Negros) ]

Os teus olhos negros, negros,
São gentios, são gentios da Guiné:
Ai, da Guiné por serem negros,
Da Guiné por serem negros,
Gentios por não ter fé.

Os meus olhos, de chorar,
Ai, de chorar,
Fizeram covas no chão.
Choram por ti, choram por ti
Choram por ti.
E os teus por quem chorarão?

Choram por ti, choram por ti
Choram por ti.
E os teus por quem chorarão?

Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Musica Nostra* (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)

Os teus olhos são brilhantes

[ Olhos Negros ]

Os teus olhos são brilhantes,
semelhantes aos luzeiros que o céu tem;
os olhos negros eu preferi e nunca vi,
de outros mais lindos, ninguém.

Os teus olhos negros, negros…

Os teus olhos negros, negros,
são gentios, são gentios da Guiné;
ai da Guiné por serem negros,
da Guiné por serem negros,
gentios por não terem fé.

Letra e música: Tradicional (Ilha Terceira, Açores)
Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)

Quando o Menino nasceu

[ Canto de peditório ]

Quando o Menino nasceu
(Ai) P’ra salvar a toda a gente,
Uma estrela apareceu
(Ai) Aos três Reis do Oriente.

Quando a estrela avistaram,
(Ai) Compreenderam-na bem:
Sem demora caminharam
(Ai) Atrás dela p’ra Belém.

Quando o Menino nasceu
P’ra salvar a toda a gente…

O Menino foi dormir;
(Ai) Ninguém o vem acordar
Pois só os anjos do Céu
(Ai) O podem vir visitar.

Sete estrelas nos guiam
(Ai) Todas a par com a Lua:
Nossa Senhora no meio,
(Ai) Mais formosa que nenhua. [
Quando o Menino nasceu…

Letra e música: Popular (Lomba do Pomar – Povoação, Ilha de S. Miguel, Açores)
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Coro Pactis (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Ronda dos Quatro Caminhos”, Rádio Triunfo, 1984, reed. Movieplay, 1997)

Quero-te bem

Quero-te bem, quero-te bem porque quero,
Quero-te bem porque és o meu amor;
Quero-te bem, quero-te bem porque quero,
Queira ou não queira a razão.

Quero-te bem sobre o bem
Com todo o meu bem-querer;
Quero-te bem dentro da alma
Sem te dar a entender.

Quero-te bem, quero-te bem sobre o bem,
Sobre o bem, sobre o bem a bem-querer;
Quero-te bem, quero-te bem, já te disse,
Hei-de amar-te até morrer!

Quero-te bem sobre o bem
Com todo o meu bem-querer;
Quero-te bem dentro da alma
Sem te dar a entender.

Quero-te bem sobre o bem
Com todo o meu bem-querer;
Quero-te bem dentro da alma
Sem te dar a entender.

Quero-te bem, quero-te bem porque quero,
Quero-te bem porque és o meu amor;
Quero-te bem, quero-te bem porque quero,
Queira ou não queira a razão.

Quero-te bem sobre o bem
Com todo o meu bem-querer;
Quero-te bem dentro da alma
Sem te dar a entender.

Quero-te tanto, quero-te tanto, meu bem!
Dizer-te o quanto, dizer-te o quanto eu não sei;
Quero-te ter, quero-te ter sobre o peito
Onde bate o coração!

Quero-te bem sobre o bem,
Sobre bem a bem-querer;
Quero-te bem, já te disse,
Hei-de amar-te até morrer!

Quero-te bem sobre o bem,
Sobre bem a bem-querer;
Quero-te bem, já te disse,
Hei-de amar-te até morrer!

Macadame, Firmamento

Macadame, Firmamento

Letra: Tradicional (Açores)
Música: Macadame
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Rema para lá

[ O Rema ]

Rema para lá, lanchinha,
Lanchinha de quatro remos!
Que amanhã é dia santo,
Temos tempo, falaremos.

Rema, que rema!
Vamos ao mar às tainhas!
No mar se apanham:
Ou gradas ou miudinhas.

Rema para lá, lanchinha!
Rema bem, ó remador!
Que nessa lanchinha vai
Para longe o meu amor.

Rema, que rema!
Vamos ao mar às bicudas!
No mar se apanham
Miudinhas e graúdas.

Quando eu era lancha nova,
Ia muita vez ao mar;
Agora que já sou velha
‘Stou posta de quilha ao ar.

Rema, que rema!
Vamos ao mar às cavalas!
No mar se apanham,
Vamos ao mar apanhá-las!

Já fui mestre, mandei barco,
Marinheiro de abalada;
Agora que já sou velho
Só ganho meia soldada.

Rema, que rema!
Vamos ao mar à sardinha!
No mar se apanha
Muito grada e miudinha.

Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora* (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

Roda, roda, rotativa

Roda, roda, rotativa
Roda, roda, rotativa
Teu cantar é um lamento
Meu coração à deriva
Meu coração à deriva
Como um peixe catavento
Roda, roda, rotativa
Roda, roda, rotativa
Teu cantar é sempre igual
Repetida narrativa
Repetida narrativa
Rotineiro ritual
Vai, António Malaquias
Vai, António Malaquias
Já é tempo de zarpar
De rasgar as levadias
De rasgar as levadias
E os segredos que há no mar

Vai, António Malaquias
Vai, António Malaquias
Já é tempo de zarpar
De rasgar as levadias
De rasgar as levadias
E os segredos que há no mar

A rotativa do tempo
A imprimir sonhos e quimeras
Neste tão cinzento quotidiano
Enquanto as luzes da cidade
Vão coreografando a sua dança de sombras
Dança de sombras, rasgos de luz…
Vai, António Malaquias!
Recusa a tua solidão
Que há um batel à tua espera!
Olha! Olha o sorriso da lua nas criptomérias
Enfeitando a noite de miragens e de segredos!
Vai, António Malaquias! Vai!

Letra e música: José Medeiros
Arranjo: José Medeiros, com a colaboração de todos os músicos
Intérprete: José Medeiros (in Livro/2CD “Fados, Fantasmas e Folias”: CD 2, Algarpalcos, 2010)

José Medeiros

José Medeiros

Rola, rola, São Gonçalo

[ São Gonçalo ]

Rola, rola, São Gonçalo,
Santo de Jesus querido!
Já fostes santificado
Antes que fosseis nascido.

São Gonçalo me chamou
De cima do seu balcão:
Ai, que fosse jantar com ele
Uma perna de leitão.

Rola, rola, São Gonçalo!
Rola por aí abaixo!
Que eu perdi um bem que tinha
E ando a ver se o acho.

São Gonçalo me chamou
Da janela da cozinha:
Ai, que fosse jantar com ele
Uma canja de galinha.

Rola, rola, São Gonçalo,
Santo de Jesus querido!
Já fostes santificado
Antes que fosseis nascido.

São Gonçalo de Amarante
É santo casamenteiro,
Ai, mas só quer casar as velhas
E às novas diz que é solteiro.

Letra e música: Tradicional (Ilha do Pico, Açores)
Recolha/transcrição: João Homem Machado (anos 30 do século XX, in “O Folclore da Ilha do Pico”, Núcleo Cultural da Horta, 1991)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora* (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

Sapatos p’rá sapateia

[ Sapateia ]

Sapatos p’rá sapateia,
P’ra bem sapatear!
Que quem melhor sapateia
É quem melhor sabe amar.

O meu amor é um anjo
Que a Deus do Céu agradeço:
Já mo quiseram comprar,
Ai, anjos do Céu não têm preço.

Grupo de Cantares Belaurora, da maior e da mais alta

Grupo de Cantares Belaurora, da maior e da mais alta

Letra e música: Tradicional (Ilha de São Miguel, Açores)
Recolha/transcrição: ? (acervo do Museu Carlos Machado, Ponta Delgada)
Intérprete: Grupo de Cantares Belaurora (in CD “Da Maior e da Mais Alta”, Açor/Emiliano Toste, 2010)

S. Gonçalo dos milagres

[ S. Gonçalo Viageiro ]

S. Gonçalo dos milagres
Que mal te fizemos nós,
Que ainda estamos solteiros
Podendo já ser avós?!

Prometi a S. Gonçalo
Que lhe dava uma tijela…
Mas não tenho senão uma,
Se lha dou fico sem ela.

S. Gonçalo me chamou
Pela porta da cozinha
Para ir jantar com ele
Uma perna de galinha.

Já está velho S. Gonçalo,
De velho caiu-lhe os dentes;
Deus dê saúde às moças
Que lhe deram papas quentes!

Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana, Sopas do Espírito Santo

Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana, Sopas do Espírito Santo

Letra e música: Popular (Açores)
Arranjo: António Prata e Carlos Barata
Orquestração: Vasco Pearce de Azevedo
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Grupo Coral da Horta (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996; CD “A Arte e a Música”, Universal. 2004)

Sol baixinho

[ Moda de baile ]

Sol baixinho, sol baixinho,
Sol baixinho também queima;
Eu hei-de amar, sol baixinho,
Só p’ra seguir uma teima.

Cravo branco, não me prendas,
Que eu não tenho quem me solte!
Não sejas tu, cravo branco,
Causante da minha morte!

O meu pai é tocador,
Minha mãe é cantadeira:
Eu sou filho deles ambos,
Canto da mesma maneira.

Eu gosto muito de estar
Onde estão as raparigas:
Uma canta, outra baila
E a outra ouve as cantigas.

Letra e música: Popular (ilha de Santa Maria, Açores)
Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Açor/Emiliano Toste, 2002) [canta Virgínia de Andrade Cabral, acompanhada por violas de arame tocadas por António Augusto Cabral e João Soares
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996)
Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos com Orquestra Sinfonietta de Lisboa (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005)

Tira, Tirana

[ Tirana ]

Tira, Tirana! Tira, Tirana!
Tirana, tira, Tirana,
Tirana do sentimento!
Abre, Tirana, abre os teus braços!
Tirana, abre os teus braços!
Quero entrar para dentro.

Ía Tirana, eu ía p’lo mar,
Eu ía pelo mar fora;
A meio do mar parei:
Ouvi, Tirana, cantar a Tirana,
Ouvi cantar a Tirana
Lá no palácio do rei.

Tira, Tirana! Tira Tirana!
Tirana, tira, Tirana!
Tirana, torna a tirar!
Vem ver, Tirana, o meu padecer!
Ver ver o meu padecer!
Vem ver o meu acabar!

Atira, Tirana! Atira, Tirana!
Tirana, atira, Tirana!
Tirana vem ver, vem ver!
Vem ver, Tirana! Vem ver, Tirana!
E verás como se morre
Se se acaba por morrer.

Letra e música: Tradicional (Ilha de São Jorge, Açores)
Intérprete: Musica Nostra* (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)

Tuque, batuque

[ Batuque (Moda de baile) ]

Tuque, batuque,
Batuque, meu bem!
Quem me dera ter
O que o batuque tem…

Tuque, batuque,
Torna a batucar!
Meninas bonitas
Vão p’ra o seu lugar.

Tuque, batuque,
Por trás do frontal…
Perdi uma agulha,
Achei um dedal.

Tuque, batuque,
De noite ao serão…
Ouvem-se violas,
Que lindas que são!

Tuque, batuque,
De noite ao serão…
Ouvem-se violas,
Que lindas que são!

Tuque, batuque,
Torna a batucar!
Meninas bonitas
Vão p’ra o seu lugar.

Letra e música: Popular (Ilha de Santa Maria, Açores)
Intérpretes: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Regional Lira Açoriana & o Coro da Associação José Damião de Almeida (in CD “Sopas do Espírito Santo”, Ocarina, 2017)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Cantigas do Sete-Estrelo”, Rádio Triunfo, 1985, reed. Movieplay, 1997)
Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Uma Noite de Música Tradicional”, Polygram, 1993; CD “A Arte e a Música”, Universal. 2004)

Vai de roda

[ Canção dançada ou ‘moda’ de baile ]

Vai de roda, vai de roda!
Vai de roda com primori!
Daqui desta região,
De quem há-de ser meu amori.

Hei-de cantar e bailar
Enquanto vida tiveri;
E depois, quando eu morrer,
Que cante e baile quem quiseri.

Os olhos do meu amor
São grãos de trigo na eira,
Semeados ao domingo
E nados à segunda-feira.

Vai de roda, vai de roda!
Vai de roda com primori!
Daqui desta região,
De quem há-de ser meu amori.

Hei-de cantar e bailar
Enquanto vida tiveri;
E depois, quando eu morrer,
Que cante e baile quem quiseri.

Os olhos do meu amor
São grãos de trigo na eira,
Semeados ao domingo
E nados à segunda-feira.

Letra e música: Tradicional (ilha de S. Miguel, Açores)
Recolha: Artur Santos (campanha de 1960) (in 4CD “O Folclore Musical nas ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de S. Miguel”: CD 2, Açor/Emiliano Toste, 2001)
Intérprete: Macadame
Primeira versão de Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Viola, minha viola

Viola, minha viola
Tu comes comigo à mesa;
Tu és a minha alegria,
Quando eu tenho tristeza.

Viola, minha viola,
Viola que eu tanto adoro:
Porque ris quando rio?
Porque choras quando choro?

Os dois corações abertos
Da viola, tão riquinhos,
Um é meu, o outro é teu,
Como os dela bem juntinhos.

Letra: cancioneiro dos Açores

Viva o vinho rescendente

[ Ai Vinho do Pico ]

Viva o vinho rescendente
Que cresceu ao pé do mar
E se esvai tão de repente
Porque tem bom paladar!

Atlantis à flor da água
Tem Arinto lá no monte;
Vou beber a minha mágoa
No Czar da tua fonte.

O vinho acende o desejo,
Basalto, aquela emoção…
O Merlot sabe ao beijo
Deste amor, pura afeição.

Dono da casa, amiguinho,
Tu não me dês uma nega:
Vamos lá provar o vinho
Que há na tua linda adega!

Letra: Victor Rui Dores
Música: Popular (Chamarrita do Pico, Açores)
Arranjo: Luís Bettencourt
Intérprete: Carlos Alberto Moniz
Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 2, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)

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Minhota

A cana verde no mar

[ A Roupa do Marinheiro ]

A cana verde no mar
Anda à roda do vapor;
Ainda está p’ra nascer
Quem há-de ser meu amor.

A roupa do marinheiro
Não é lavada no rio:
É lavada no mar-alto
À sombra do seu navio.

À sombra do seu navio,
À sombra do seu vapor;
Não é lavada no rio
A roupa do meu amor.

O meu amor foi-se embora
Sem se despedir de mim;
Que o mar se transforme em rosas
E o seu barco num jardim.

A roupa do marinheiro
Não é lavada no rio:
É lavada no mar-alto
À sombra do seu navio.

À sombra do seu navio,
À sombra do seu vapor.

Letra e música: Tradicional (Minho)
Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)

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A saia da Carolina

A saia da Carolina
Tem um lagarto pintado;
Quando a Carolina baila
O lagarto dá ao rabo.

Bailaste, Carolina?
Bailei, sim senhor.
Diz-me com quem bailaste?
Bailei com o meu amor.

Bailei com o meu amor,
Bailei com o meu amor.
Bailaste, Carolina?
Bailei, sim senhor.

A Carolina é uma tola
Que tudo faz ao revés:
Veste-se pela cabeça
E veste-se pelos pés.

Bailaste, Carolina?
Bailei, sim senhor.
Diz-me com quem bailaste?
Bailei com o meu amor.

Bailei com o meu amor,
Bailei com o meu amor.
Bailaste, Carolina?
Bailei, sim senhor.

Bailaste, Carolina?
Bailei, sim senhor.
Diz-me com quem bailaste?
Bailei com o meu amor.

Bailei com o meu amor,
Bailei com o meu amor.
Bailaste, Carolina?
Bailei, sim senhor.

O senhor cura nos baila
Porque tem uma coroa.
Baile, senhor cura, baile
Que Deus tudo lhe perdoa!

Bailaste, Carolina?
Bailei, sim senhor.
Diz-me com quem bailaste?
Bailei com o meu amor.

Bailei com o meu amor,
Bailei com o meu amor.
Bailaste, Carolina?
Bailei, sim senhor.

Letra e música: Tradicional galaico-portuguesa
Intérprete: Arrefole (in CD “Veículo Climatizado”, Açor/Emiliano Toste, 2006)

As sete mulheres do Minho

As sete mulheres do Minho,
mulheres de grande valor
armadas de fuso e roca
correram com o regedor.

Essa mulher lá do Minho
que da foice fez espada
há-de ter na lusa história
uma página doirada.

Viva a Maria da Fonte
com as pistolas na mão
para matar os Cabrais
que são falsos à nação.

Letra: Popular
Música: José Afonso
Intérprete: Erva de Cheiro (in CD “Que Viva o Zeca”, 2007)
Versão original: José Afonso (in “Fura Fura”, 1979)

Entre sombras misteriosas

[ Havemos de ir a Viana ]

Intérprete: Cuca Roseta

Flecha

Bate, bate, coração,
Como um comboio a vapor!
Vou de comboio a Monção
P’ra falar ao meu amor.

Na vidraça
Tudo passa;
Pouca terra, terra vai, ó ai!
Entra a saca,
Sai a vaca,
Dorme a filha, fuma o pai, ó ai!

Voa, Flecha, voa!
Companheiro do rio Minho,
Por terras de verde vinho
Flecha vai.

O meu amor vai lá estar,
Combinámos na estação;
Lá vai o Flecha a apitar
A caminho de Monção.

Na vidraça
Tudo passa;
Pouca terra, terra vai, ó ai!
Entra a saca,
Sai a vaca,
Dorme a filha, fuma o pai, ó ai!

Voa, Flecha, voa!
Companheiro do rio Minho,
Por terras de verde vinho
Flecha vai.

Com a força do calor
Ou com um frio de rachar,
Vou de Monção a Valença
Até Caminha ver o mar.

Na vidraça
Tudo passa;
Pouca terra, terra vai, ó ai!
Entra a saca,
Sai a vaca,
Dorme a filha, fuma o pai, ó ai!

Voa, Flecha, voa!
Companheiro do rio Minho,
Por terras de verde vinho
Flecha vai.

Letra e música: Carlos Guerreiro
Arranjo: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão original: Gaiteiros de Lisboa com Segue-me à Capela (in CD “Bestiário”, Uguru, 2019)

Nota: «Tema composto para um espectáculo de comemoração do centenário do comboio Flecha, que uniu Valença do Minho a Monção, organizado pela Câmara Municipal de Monção.» (Carlos Guerreiro)

Rio Minho
Rio Minho

Meninas, vamos ao Vira

[ Vira do Minho ]

Intérprete: Cuca Roseta

Oh! Eh!

[ Cantilenas da Pedra ]

Oh! Eh!
Oh! Eh!
Oh! Oh!
E oh pedrinha, oh!

Oh! Eh!
Oh! Eh!
Oh! Oh!
E oh vira lá, oh!

Oh! Eh!
Oh! Eh!
Oh! Oh!
Anda penedo, oh!

Oh pedra, oh!
Minha roladeira, opa!
Rola bem, pedra, vai-te!
Que eu te empurro, opa!

Oh pedra, oh!
Rola bem o teu leito!
Rola bem ao meu mando
Que eu te empurro com jeito!

Oh pedra, oh!
Esta é a nossa surriba!
Oh pedra, opa!
Vai-te pelo monte arriba!

Oh pedra, oh!
Minha menina, opa!
Atrás do rapazote,
Quem te afina? Opa!

Oh pedra, oh!
Gosto do entremês!
Oh pedra, opa!
Gira mais uma vez!

Oh! Eh!
Oh! Eh!

Letra e música: Tradicional (Horto, Póvoa de Lanhoso, Minho)
Recolha: Michel Giacometti (“Cantilena de Pedreiro”, in LP “Minho”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1963; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 1 – Minho, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 2 – Minho, col. Portugal Som, Numérica, 2008) / Michel Giacometti (in série documental “Povo Que Canta”, ep. “Canto de Trabalho na Pedreira”, RTP-1, 11 Nov. 1973
Intérprete: Ai! (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015)
Outra versão com César Prata: César Prata – “Cantilena de Pedreiro” / vozes de Cândido Alpendre e Edite Santos (in CD “Futuras Instalações”, César Prata/RequeRec, 2014)

Este linho é mourisco

[(Cantiga para maçar o linho)]

Este linho é mourisco,
a fita dele namora.
Quem daqui não tem amores
tire o chapéu, vá-se embora!

Ai larila, ai lolela,
ai lolela, ai meu bem!
Regala-te, ó meu amor,
regala-te e passa bem!

Ó minha mãe dos trabalhos,
para quem trabalho eu?
Trabalho, mato o meu corpo,
não tenho nada de meu.

Ai larila, ai lolela,
ai lolela, ai meu bem!
Regala-te, ó meu amor,
regala-te e passa bem!

Este linho é mourisco,
Este linho é mourisco,
Este linho é mourisco,
Este linho…

Mondadeiras lá de baixo,
maçai o meu linho bem!
Não olheis para a portela,
que a merenda logo vem!

Ai larila, ai lolela,
ai lolela, ai meu bem!
Regala-te, ó meu amor,
regala-te e passa… passa bem!

Letra e música: Tradicional (Póvoa de Lanhoso, Minho)
Recolha: Gonçalo Sampaio (1890-1925, in “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 139)
Intérprete: Canto Ondo (in CD “Entre o Alto do Peito e as Campainhas da Garganta”, A Monda – Associação Cultural/Canto Ondo, 2016)

Já no céu não há estrelas

[ A Manhã Vai Rindo ]

Já no céu não há estrelas
Senão uma ao pé da Lua;
Nem há no mundo que eu saiba
Cara mais linda que a tua.

O Sol prometeu à Lua
Uma fita de mil cores:
Quando o Sol promete prendas,
Que fará quem tem amores.

Vamos seguindo
Por esses campos fora,
Que a manhã vai rindo
Nos lábios da aurora.

As estrelas pequeninas
Fazem o céu bem composto;
Assim são os sinais pretos,
Menina, nesse teu rosto.

O Sol é a caixa d’ouro,
A Lua é a fechadura;
As estrelas são a chave
Que fecham minha ventura.

Vamos seguindo
Por esses campos fora,
Que a manhã vai rindo
Nos lábios da aurora.

Se os campos todos falassem,
Que diriam os rochedos?
Então se descobririam
Nossos primeiros segredos.

Se estas árvores falassem,
Qualquer delas te diria
Que a cantar por ti chamava,
Que a chorar por ti vivia.

Vamos seguindo
Por esses campos fora,
Que a manhã vai rindo
Nos lábios da aurora.

Os corações não se vendem,
São coisas de alto valor:
Não se vendem por dinheiro,
Rendem-se à força do amor.

Já no céu não há estrelas
Senão uma ao pé da Lua;
Nem há no mundo que eu saiba
Cara mais linda que a tua.

Vamos seguindo
Por esses campos fora,
Que a manhã vai rindo
Nos lábios da aurora.

Letra e música: Popular (recolhida em Carvalhais de Gondolim, em 1892) (in “Cancioneiro de Músicas Populares”, Vol. I, de César das Neves e Gualdino de Campos, Porto: Empresa Editora César, Campos & C.ª, 1893 – p. 29)
Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)

Meninas, vamos ao vira

[ Vira do Minho ]

Meninas, vamos ao vira (ó ai)
que o vira é coisa boa!
Eu já vi dançar o vira (ó ai)
Às meninas de Lisboa.

O vira que vira e torna a virar!
As voltas do vira são boas de dar.
O vira que vira e torna a virar!
As voltas do vira são boas de dar.

Meninas, vamos ao vira (ó ai)
que o vira é coisa linda!
Eu já vi dançar o vira (ó ai)
às meninas de Coimbra.

O vira que vira e torna a virar!
As voltas do vira são boas de dar.
O vira que vira e torna a virar!
As voltas do vira são boas de dar.

Meninas, vamos ao vira (ó ai)
que o vira é coisa bela!
Eu já vi dançar o vira (ó ai)
às meninas de Palmela.

O vira que vira, o vira virou!
As voltas do vira são eu quem as dou.
O vira que vira, o vira virou!
As voltas do vira são eu quem as dou.

Meninas, vamos ao vira (ó ai)
que o vira é coisa boa!
Eu já vi dançar o vira (ó ai)
às meninas de Lisboa.

O vira que vira e torna a virar!
As voltas do vira são boas de dar.
O vira que vira e torna a virar!
As voltas do vira são boas de dar.

Letra e música: Tradicional (Minho)
Intérprete: Karrossel (in CD “Karrossel”, Karrossel/MU – Associação Cultural, 2014)

Negrinha, minha negrinha

Negrinha, minha negrinha,
Ó negrinha,
Coletinho de fustão,
Trá-lo bem apertadinho,
Ó negrinha,
Que te aperte o coração!

Os teus olhos negros, negros,
Ó negrinha,
São gentios da Guiné;
Gentios por serem falsos,
Ó negrinha,
Falsos por não terem fé.

Eu gosto da cor morena,
Ó negrinha,
Que mimosa me arrebata;
Essa cor é tão faceira,
Ó negrinha,
Mulatinha, que me mata.

Eu gosto desses teus olhos,
Ó negrinha,
Se p’ra mim os queres volver;
Esses olhos luminosos,
Ó negrinha,
Dizem sim até morrer.

Letra e música: Popular (Minho) (in “Cancioneiro Minhoto”, de Gonçalo Sampaio, 1940)
Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)

Ó meu amor, se tu queres

[ Penas Tem Quem Tem Amores ]

Ó meu amor, se tu queres
Que a minha alma seja tua,
Dá passadas, perde o teu tempo
Se é teu gosto, mas continua!

O meu pouco vale muito,
O teu muito vale nada:
Mesmo sendo eu pobrezinha,
Sou para ti mal empregada.

Penas tem quem tem amores,
Penas tem quem os não tem:
É certo que cá neste mundo
Sem ter penas não há ninguém.

Se os passarinhos vendessem
As penas que Deus lhes deu,
Também eu venderia as minhas
Que ninguém as tem mais que eu.

Letra: Popular (Minho)
Música: Sílvio Pleno
Intérprete: Tereza Tarouca* (in LP “Folclore”, RCA Victor, 1975; 2LP “Álbum de Recordações”: LP 2, Polydor/PolyGram, 1985; CD “Temas de Ouro da Música Portuguesa”, Polydor/PolyGram, 1992)

Ó minha caninha verde

Ó minha caninha verde,
Verde caninha madura:
Tu és minha tão-somente,
Ninguém mais te dirá sua.

Tu és minha…
Tu és minha tão-somente,
Ninguém mais…
Ninguém mais te dirá sua.

Ó i ó ai, ninguém mais te dirá sua,
Tu és minha tão-somente,
Ninguém mais te dirá sua.

Ó minha caninha verde,
Verde cana de encantar,
Aqui estou à tua beira:
Quem está bem, deixa-se estar.

Aqui estou…
Aqui estou à tua beira:
Quem está bem…
Quem está bem, deixa-se estar.

Ó i ó ai, ninguém mais te dirá sua,
Tu és minha tão-somente,
Ninguém mais te dirá sua.

Ó minha caninha verde,
Verde caninha em botão:
Aqui estou à tua beira,
Prenda do meu coração.

Aqui estou…
Aqui estou à tua beira,
Prenda do…
Prenda do meu coração.

Ó i ó ai, ninguém mais te dirá sua,
Tu és minha tão-somente,
Ninguém mais te dirá sua.

Letra e música: Tradicional (Minho)
Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)

Ó minha Rosinha

Ó minha Rosinha,
Eu hei-de te amar
De dia ao sol,
De noite ao luar!

De noite ao luar,
De noite ao luar;
Ó minha Rosinha,
Eu hei-de te amar!

Ai ó ai ó larilolai, ai ó ai ó larilolela!
Ai ó ai ó larilolai, ai ó ai ó larilolela!

Ó minha Rosinha,
Eu hei-de, hei-de ir
Jurar a verdade!
Eu não sei mentir.

Eu não sei mentir,
Eu não sei mentir;
Ó minha Rosinha,
Eu hei-de, hei-de ir!

Ai ó ai ó larilolai, ai ó ai ó larilolela!
Ai ó ai ó larilolai, ai ó ai ó larilolela!

Letra e música: Tradicional (Minho)
Intérprete: Karrossel (in CD “Karrossel”, Karrossel/MU – Associação Cultural, 2014)

Ó rosa, ó linda rosa

[ Rosa de Alexandria ]

Ó rosa, ó linda rosa,
Ó rosa de Alexandria,
Eras a mais linda rosa
Que andava na romaria!

Ó rosa, ó linda rosa,
Ó rosa da Oliveira,
Eras a mais linda rosa
Que andava na brincadeira!

Ó rosa, ó linda rosa,
Bela rosa em botão,
Eras a mais linda rosa
Que andava na bailação!

Ó rosa, ó linda rosa,
Ó rosa tão bela assim,
Eras a mais linda rosa
Que nasceu nalgum jardim!

Eras a mais linda rosa
Que nasceu nalgum jardim!

Letra e música: Popular (Minho) (in “Cancioneiro Minhoto”, de Gonçalo Sampaio, 1940)
Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)

O Sete-Estrelo vai alto

O Sete-Estrelo vai alto,
Mais alto vai o luar;
Mais alta vai a fortuna
Que Deus tem para me dar.

Ai leva arriba,
Que Deus tem para me dar.

O Sete-Estrelo caiu
Numa pocinha do chão;
Que com saudades de ti
Chorou o meu coração.

Ai leva arriba,
Chorou o meu coração.

O Sol é a porta do céu,
A Lua é a fechadura;
As estrelas são as chaves
Com que fecha a noite escura.

Ai leva arriba,
Com que fecha a noite escura.

Ai leva arriba,
Com que fecha a noite escura.

Letra e música: Popular (Minho) (in “Cancioneiro Minhoto”, de Gonçalo Sampaio, 1940)
Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)

Quem fora o oiro que levas

[ O Verde do Minho ]

Quem fora o oiro que levas
Quem fora o oiro que levas
No preto do teu corpete
Quem fora o oiro que levas
Até o sol brilha nas trevas
E não é do vinho verde

Bailei o vira contigo
Bailei o vira contigo
Bailei tanto, deu-me sede
Pedi-te um beijo mendigo
Pedi-te um beijo mendigo
Só me deste vinho verde

Ó malhão, malhão,
Qual é o bom vinho?
Ó malhão, malhão,
Qual é o bom vinho?
Olha que pergunta!
Ó trlim tim tim,
O verde do Minho.
Olha que pergunta!
Ó trlim tim tim,
O verde do Minho.

Olhai esta malga e vede
Olhai esta malga e vede
Ingénuas meiguices loucas
A malga do vinho verde
Olhai esta malga e vede
Bebida por duas bocas

Verde terra, verde vinho
Verde terra, verde vinho
No teu corpo de menina
Teus lábios são alvarinho
Teus lábios são alvarinho
Os teus olhos verde sina

Ó malhão, malhão,
Qual é o bom vinho?
Ó malhão, malhão,
Qual é o bom vinho?
Olha que pergunta!
Ó trlim tim tim,
O verde do Minho.
Olha que pergunta!
Ó trlim tim tim,
O verde do Minho.

Vinho verde, verde Minho
Vinho verde, verde Minho
Verdes serras, verdes campos
Quando pisas o caminho
Quando pisas o caminho
Até vejo pirilampos

Céu azul do verde Minho
Céu azul do verde Minho
Ó trlim tim tim do malhão
Vinho verde, verde vinho
Céu azul do verde Minho
Só paixão, paixão, paixão

Ó malhão, malhão,
Qual é o bom vinho?
Ó malhão, malhão,
Qual é o bom vinho?
Olha que pergunta!
Ó trlim tim tim,
O verde do Minho.
Olha que pergunta!
Ó trlim tim tim,
O verde do Minho.
Olha que pergunta!
Ó trlim tim tim,
O verde do Minho.

Letra: Vasco Pereira da Costa
Música: Carlos Alberto Moniz
Intérprete: Carlos Alberto Moniz
Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 1, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)

São João perdeu

São João perdeu, perdeu…
Ai São João que perderia?
Perdeu o lenço da mão
Ai, ai à vinda da romaria.

São João, se bem soubera
Ai quando era o seu dia,
Descia do Céu à Terra
Ai com prazer e alegria.

Letra e música: Tradicional (Ponte de Lima, Minho)
Intérprete: Segue-me à Capela
Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

Tenho um amor em Viana

[ Vira de Viana ]

Tenho um amor em Viana,
Ai, tenho outro em Ponte de Lima:
O de Viana não presta,
Ai, o outro é coisa fina.

Meu amor disse que vinha
Ai, antes que a Lua viesse.
A Lua já aí vem,
Ai, meu amor não aparece.

Se quereis que eu cante agora
Ai, dai-me vinho ou dinheiro,
Que a minha gargantinha
Ai, não é fole de ferreiro.

Já lá em baixo vem a noite,
Ai, já lá vem minha alegria
Para ver o meu amor
Ai, que eu já não posso de dia.

Letra e música: Tradicional (Minho)
Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)

Viana do Castelo
Viana do Castelo (Santa Luzia)

Uma pêra

Uma pêra, duas pêras,
Três pêras no ramalhinho;
Uma é minha, outra é tua,
Outra é do meu amorzinho.

A folha do castanheiro
Tem biquinhos como a renda;
Quem tem um amor bonito
Não pode ter melhor prenda.

Adeus, que me vou embora,
Já me parece que é bem,
Que o muito cantar enfada
E o pouco parece bem.

Letra e música: Tradicional (Ponte de Lima, Minho)
Intérprete: Segue-me à Capela
Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

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Alto Alentejo, Castelo de Évora Monte

A neve já está bem perto

[ O Padrinho ]

A neve já está bem perto
Daquela grande montanha
Virgem Maria é a mãe
E São José a acompanha

São José a acompanha
E acompanha o Deus Menino
Virgem Maria é a mãe
E São José é o padrinho

Letra e música: Tradicional (Elvas, Alto Alentejo)
Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Parainfernália”, Açor/Emiliano Toste, 2007)

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Adeus, malvas

[ O Triste ]

Adeus, malvas…
Adeus, malvas…
Adeus, malvas do Rossio!
Tarde ou nun…
Tarde ou nunca as pisarei.

Adeus, moças…
Adeus, moças…
Adeus, moças do meu tempo!
Tarde ou nun…
Tarde ou nunca voltarei.

Ó Triste, ó Triste,
Ó Triste, três vezes triste!
Ó Triste, ó Triste,
P’ra onde irá?

O rico…
O rico…
O rico se compadeça
Da desgra…
Da desgraça do Zé Brás.

A desgraça…
A desgraça…
A desgraça do Zé Brás
Foi a mor…
Foi a morte do Paneiro.

Com um lenço…
Com um lenço…
Com um lenço se enforcou
Às grades…
Às grades do Limoeiro.

Ainda trago um gosto a trigo

[ Toada do Alentejo ]

Ainda trago um gosto a trigo atrás de mim
Que se me agarrou à alma ao nascer
Sou como um carreiro longe de ter fim
Como quem ceifou searas sem saber

Sou lá de onde ninguém fala, das marés
De onde o horizonte queima o olhar
Por paixão ainda trago a arder nos pés
O calor de uma seara por cortar

Já cantei desde a nascente até à hora do sol-pôr
Já naveguei nas ribeiras ao luar
Ai Alentejo quem te amou não te esqueceu
Inda se ouvem os teus ecos nas cantilenas do sol

O sol deu-me histórias velhas p’ra contar
Que eu guardei de manhãzinha ao pé dum rio
Em Janeiro roubei mantas ao luar
E a um pastor roubei um tarro e um assobio

Já corri atrás dos corvos
Já me escondi nos trigais
Ouvi rolas nos sobreiros a arrulhar
Ai Alentejo quem te amou não te esqueceu
Inda se ouvem os teus ecos cada vez que a lua cai

Letra e música: Sebastião Antunes
Arranjo: Gonçalo Pratas
Intérprete: Sebastião Antunes* com Pedro Mestre (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017)
Versão original: Quadrilha (in CD “Quarto Crescente”, Vachier & Associados/Ovação, 1999; CD “Lembranças do Meu Alentejo” (compilação), Ovação, 2012)

Algum dia eu era

[ Erva-Cidreira ]

Algum dia eu era,
E agora já não,
Da tua roseira
O melhor botão.

Ó erva-cidreira
Que estás no alpendre,
Quanto mais se rega
Mais a folha pende.

Mais a folha pende,
Mais a rosa cheira;
Que ‘tás no alpendre,
Ó erva-cidreira.

Os olhos que olham
P’ró chão de repente,
Esses é que são
Os que enganam a gente.

Ó erva-cidreira
Que estás no alpendre,
Quanto mais se rega
Mais a folha pende.

Mais a folha pende,
Mais a rosa cheira;
Que ‘tás no alpendre,
Ó erva-cidreira.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda e Ruben Alves
Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)

Anda cá

[ Pombinha Branca ]

Anda cá, se tu queres ver!
Verás o que ainda não viste:
Verás dois olhos alegres
Chorando lágrimas tristes.

Oh minha pombinha branca,
Onde queres, amor, que eu vá?
É de noite, faz escuro,
Eu sozinho não vou lá.

Eu sozinho não vou lá,
Eu sozinho lá não vou;
Oh minha pombinha branca,
P’ra te amar inda aqui estou.

No quarto aonde eu durmo
Tudo são penas voando:
Umas causadas por mim,
Outras estás-mas tu causando.

Oh minha pombinha branca,
Onde queres, amor, que eu vá?
É de noite, faz escuro,
Eu sozinho não vou lá.

Eu sozinho não vou lá,
Eu sozinho lá não vou;
Oh minha pombinha branca,
P’ra te amar inda aqui estou.

Letra e música: Tradicional do Baixo Alentejo (aprendida com o grupo Modas à Margem do Tempo, em Évora)
Arranjo: Celina da Piedade e músicos participantes
Intérprete: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD1, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)

Anda cá, José se queres

Anda cá, José se queres
a tua roupa lavada,
ai, paga a uma lavadeira
qu’eu não sou tua criada.

Qu’eu não sou tua criada,
qu’eu não sou criada tua.
Ai, Ó José se me não queres,
ai, põe o chapéu, vai prá rua.

Põe o chapéu, vai prá rua,
põe o chapéu, vai prá estrada.
Ai, anda cá, José se queres
ai, a tua roupa lavada.

(Popular – Alentejo)

Aqui ninguém tem trabalho

[ Terra de Catarina (Baleizão, Baleizão)]

Aqui ninguém tem trabalho
E há muito para fazer:
Vieram de toda a parte,
Não tinham pão p’ra comer.

Ó Baleizão, Baleizão!
Ó terra de Catarina,
Onde nasceu e morreu
Por uma bala assassina,
Por uma bala assassina
Cravada no coração;
Ó terra de Catarina!
Ó Baleizão, Baleizão!

Tinha no peito a coragem,
Trazia os filhos na mão;
Ó terra de Catarina!
Ó Baleizão, Baleizão!

Ó Baleizão, Baleizão!

Ó terra de Catarina,
Onde nasceu e morreu
Por uma bala assassina,
Por uma bala assassina
Cravada no coração;
Ó terra de Catarina!
Ó Baleizão, Baleizão!

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

A ribeira quando enche

A ribeira quando enche
Leva o junco acamado
Traz-me tu em teu sentido
Que eu te trago em meu cuidado

A ribeira quando enche
Vai de pedrinha em pedrinha
O homem que leva a barca
Leva seu bem na barquinha

Leva seu bem na barquinha
Inda lhe digo outra vez
Quem namora sempre alcança
Um beijinho, dois ou três

Dizem que a folha do trigo
É maior que a da cevada
Também a minha amizade
Ao pé da tua é dobrada

(Popular – Alentejo)

Acorda se estás dormindo

[ Janeiras de Évora ]

(Chegada à porta)

Acorda se estás dormindo
Nesse sono tão profundo,
Às portas te estão pedindo
P’rás almas do outro mundo.

E as almas do outro mundo
Batem aos vossos portados,
Acorda se queres ouvir
Das almas os tristes brados.

Tristes brados dão as almas
Isto é tudo bem certo,
P’ra quem vive arrependido
Está o sacramento aberto.

As almas do outro mundo,
Elas te mandam pedir,
Que lhes leves as esmolas
Q’elas não podem cá vir.

(Despedida)

E as esmolas que vós destes,
Se as destes com devoção,
Na terra terás o prémio
Lá no céu a salvação.

Letra e música: Popular (Alto Alentejo)
Recolha: Fernando Costa (em Évora, junto da Sra. Helena Jesus Grilo)
Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, public-art, 2004)

Adeus, Maria

— «Adeus, Maria, até quando,
Eu até quando não sei;
Cá ando no Ultramar, a pensar
No dia em que voltarei.

Espera por mim, se quiseres…
Faz o que tu entenderes;
Acho que deves pensar em casar,
Eu posso por cá morrer.

Ninguém o pode saber,
É uma carta fechada…
E depois te chamarão, pois então,
Viúva sem seres casada.»

— «Ó António, Deus te guie
Nos campos do Ultramar!
Eu penso em ti, cá solteira, há quem queira
Se tu nunca mais voltares.

Espero por ti, meu amor,
Eu d’outro não quero ser!
Nunca mais me casarei, que eu bem sei,
Serei tua até morrer!

A carta que me mandaste
Com um conselho imprudente…
Meu amor, para contigo eu te digo:
‘Inda fiquei mais ardente.»

Meu amor, para contigo eu te digo:
‘Inda fiquei mais ardente.»

Letra: António Pardelha
Música: Monda
Intérprete: Monda
Versão original: Monda com Katia Guerreiro (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)

Ao passar a ribeirinha

[ Água Sobe, Água Desce ]

Ao passar a ribeirinha,
Água sobe, água desce;
Dei a mão ao meu amor
Antes que ninguém soubesse.

Se tu és o meu amor,
Dá-me cá abraços teus!
Se não és o meu amor,
Saúdinha, adeus, adeus!

À frente do amor,
Brincas tu, brincarei eu;
Anda cá para meus braços!
Ninguém te quer mais do que eu.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

Ao romper da bela aurora

Ao romper da bela aurora
Sai o pastor da choupana
Vem gritando em altas vozes
Muito padece quem ama

Muito padece quem ama
Mais padece quem adora
Sai o pastor da choupana
Ao romper da bela aurora

Toda a vida fui pastor
Toda a vida guardei gado
Tenho uma nódoa no peito
De me encostar ao cajado

Ao romper da bela aurora
Sai o pastor da choupana
Vem gritando em altas vozes
Muito padece quem ama

Muito padece quem ama
Mais padece quem adora
Sai o pastor da choupana
Ao romper da bela aurora

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Ganhões de Castro Verde (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, ACA “Os Ganhões”, 1997)

Aqui onde canto e ardo

[ Passarinho da charneca ]

Aqui onde canto e ardo
entre papoulas e cardo.
Sete palmos de charneca
são o tamanho de um home
medido em anos de fome,
pesado em anos de seca,
esquecido que teve nome
e que, sendo a morte certa,
vida desta não é d’home,
vida desta não é d’home,
passarinho da charneca.

Passarinho da charneca
entrou na gaiola aberta.
Já tem os olhos cegados
para que cante melhor
que o dono não é cantor.
Traz os colmilhos cerrados
vontades de mandador
e porque é dos mal mandados
julga assim mandar melhor
nos que lhe estão sujeitados,
passarinho da charneca.

Criei o corpo comendo
desta terra da charneca
ao entrar na cova aberta.
Só estou pagando o que devo,
eu sou devedor à terra.
A terra me está devendo,
a terra me está devendo.
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo,
eu pago à terra em morrendo,
passarinho da charneca.

Letra: Tradicional – Alentejo / João Pedro Grabato Dias
Música: Amélia Muge
Intérprete: Amélia Muge (in CD “Todos os Dias”, Columbia/Sony, 1994)

Às vezes me ponho eu

[ A Vila de Castro Verde ]

Às vezes me ponho eu
Na minha vida a pensar:
Quem eu era, quem eu sou,
Ao que eu havia de chegar!

A vila de Castro Verde
És uma estrela brilhante:
Como ela outra não há,
És a mesma que eras dantes.

És a mesma que eras dantes
Desta vila aproximada;
És uma estrela brilhante
Que está na História gravada.

Ó coração, não te assustes!
Quando ouvires cantar bem,
Entra e pede licença
Para cantares também!

A vila de Castro Verde
És uma estrela brilhante:
Como ela outra não há,
És a mesma que eras dantes.

És a mesma que eras dantes
Desta vila aproximada;
És uma estrela brilhante
Que está na História gravada.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

As vozes da minha fala

[ Portel Estás Satisfeito ]

As vozes da minha fala,
Como eram já não são:
Fazem a mesma diferença
Que o Inverno faz do Verão.

Portel estás satisfeito
Em ver teus filhos brilhar,
E até choras de contente
Em os ouvindo cantar.

Minha fala é baixinha,
Não a posso alevantar;
E mesmo assim, sendo baixinha,
Já m’a quiseram comprar.

Portel estás satisfeito
Em ver teus filhos brilhar,
E até choras de contente
Em os ouvindo cantar.

Em os ouvindo cantar
Até bate a mão no peito;
Em ver teus filhos brilhar
Portel estás satisfeito.

Brota a água

Brota a água da pedra bruta:
Sua luta, labuta,
De tudo dessedentar;
Ganha altura, desmesura
De tanto querer ser mar.

Corre campos, cria formas
Que nem ousara sonhar;
Dança ritmos, canta trovas
Antes de chegar ao mar.

A ciência que o mar tem
Não tem nada de pasmar:
Não há regato nem rio
Que ao mar não vá parar.

Brota a água da pedra bruta:
Sua luta, labuta,
De tudo dessedentar;
Ganha altura, desmesura
De tanto querer ser mar.

Corre campos, cria formas
Que nem ousara sonhar;
Dança ritmos, canta trovas
Antes de chegar ao mar.

Brota a água da pedra bruta:
Sua luta, labuta,
De tudo dessedentar;
Ganha altura, desmesura
De tanto querer ser mar.

Corre campos, cria formas
Que nem ousara sonhar;
Dança ritmos, canta trovas
Antes de chegar ao mar.

Letra e música: Pedro Mestre
Intérprete: Pedro Mestre com Janita Salomé (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre com Janita Salomé (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Caminhos do Alentejo

Caminhos do Alentejo.
Terra bravia de fomes
com piteiras aceradas
como pontas de navalhas
em esperas de encruzilhadas!
Caminhos do Alentejo.
Desde valados e sebes,
searas, vilas, aldeias
e chuvas e descampados
— caminhos do Alentejo
desde menino vos piso!

Poema: Manuel da Fonseca (excerto inicial da parte I de “Para um poema a Florbela”)
Música: Paulo Ribeiro
Arranjo: Jorge Moniz
Intérprete: Paulo Ribeiro
Versão original: Paulo Ribeiro com Vitorino (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Campaniça do despique

Campaniça do despique,
Na venda e bailes de roda:
Dedilhando o improviso
Ou trauteando uma moda.

Na rua do velho monte,
Com as moças a bailar
Os passos simples duma dança
E a viola a dedilhar.

Nas feiras e romarias,
Na serra e no alambique,
Na venda e bailes de roda:
Campaniça do despique.

O tocador da viola
É feio mas toca bem;
Se não casar por a prenda,
Formosura não a tem!

Campaniça do despique,
Na venda e bailes de roda:
Dedilhando o improviso,
Ou trauteando uma moda.

Na rua do velho monte,
Com as moças a bailar
Os passos simples duma dança
E a viola a dedilhar.

Nas feiras e romarias,
Na serra e no alambique,
Na venda e bailes de roda:
Campaniça do despique.

Letra e música: Pedro Mestre
Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Canta alentejano

Canta alentejano, canta,
o teu canto é oração,
tens a alma na garganta
solidão, ai não, ai não!

Solidão, ai não, ai não!
Quem canta, seu mal espanta.
O teu canto é oração:
canta, alentejano, canta!

Eu gosto muito de ouvir
cantar a quem aprendeu.
Houvera quem me ensinara,
quem aprendia era eu!

Popular alentejano

Chamava-se Catarina

Em Memória de uma Camponesa Assassinada
– Cantar Alentejano

Chamava-se Catarina,
O Alentejo a viu nascer;
Serranas viram-na em vida,
Baleizão a viu morrer.

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr;
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou.

Acalma o furor, campina,
Que o teu pranto não findou!
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou.

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si;
Ó Alentejo queimado,
Ninguém se lembra de ti!

Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar;
Ó Alentejo esquecido,
Inda um dia hás-de cantar!

Letra: António Vicente Campinas
Música: Carlos Paredes (“Em Memória de uma Camponesa Assassinada”) e José Afonso (“Cantar Alentejano”)
Intérprete: Mariana Abrunheiro com o Grupo Coral “Estrelas do Sul” de Portel (in Livro/CD “Cantar Paredes”, Mariana Abrunheiro/BOCA – Palavras Que Alimentam, 2015)
Versão original (“Em Memória de uma Camponesa Assassinada”): Carlos Paredes (1973) (in CD “Na Corrente”, EMI-VC, 1996, Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/4CD “O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993”: CD3 – “Danças”, EMI-VC, 2003)
Versão original (“Cantar Alentejano”): José Afonso (in LP “Cantigas do Maio”, Orfeu, 1971, 1982, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art’Orfeu Media, 2012)

Como podem ser iguais

[ Só Uma Pena Me Existe ]

[Cantiga:]
Como podem ser iguais
Os dedos das nossas mãos,
Se há filhos dos mesmos pais
Que não parecem irmãos?

[Moda:]
Só uma pena me existe,
Minha doce saudade:
É olhar para o teu rosto,
Ver-te assim tão pouca idade.

Ver-te assim tão pouca idade,
Ver-te assim tão criancinha;
Só uma pena me existe,
Minha doce jovenzinha.

[Cantiga:]
Lá por trás daquele outeiro,
Nasce o sol e nasce a lua;
Ando à procura, não acho
Cara mais linda que a tua.

[Moda:]
Só uma pena me existe,
Minha doce saudade:
É olhar para o teu rosto,
Ver-te assim tão pouca idade.

Ver-te assim tão pouca idade,
Ver-te assim tão criancinha;
Só uma pena me existe,
Minha doce jovenzinha.

Só uma pena me existe,
Minha doce saudade:
É olhar para o teu rosto,
Ver-te assim tão pouca idade.

Ver-te assim tão pouca idade,
Ver-te assim tão criancinha;
Só uma pena me existe,
Minha doce jovenzinha.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda e Ruben Alves
Intérprete: Monda
Versão original: Monda com Rui Veloso (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)

De dia sonho contigo

[ Vira do Dia ]

De dia sonho contigo,
À noite aqui te quero;
Esquecer-te não consigo,
De não te ter desespero.

Oh meu amor, quem te vira
Trinta dias cada mês,
Sete dias da semana,
Cada instante uma vez!

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Acordo, sonho contigo,
Fecho os olhos, só te vejo;
Firme como o firmamento
Só o bem que nos desejo.

É num sonho que começa
O amor na vida inteira;
Quem me dera viver sempre
A sonhar desta maneira.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

É num sonho que começa
O amor na vida inteira;
Quem me dera viver sempre
A sonhar desta maneira.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Letra: Tradicional do Alentejo, Macadame e Catarina Gouveia
Música: Macadame
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Debaixo do lenço azul

[ Maria Campaniça ]

Debaixo do lenço azul com sua barra amarela
os lindos olhos que tem!
Mas o rosto macerado
de andar na ceifa e na monda
desde manhã ao sol-posto,
mas o jeito
de mãos torcendo o xaile nos dedos
é de mágoa e abandono…
Ai Maria Campaniça,
levanta os olhos do chão
que eu quero ver nascer o sol!

Poema: Manuel da Fonseca (in “Rosa-dos-Ventos”, Lisboa: Imprensa Baroeth, 1940; “Poemas Completos”, Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1958; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 3.ª edição, Lisboa: Portugália Editora, 1969 – p. 38; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 60)
Música: Paulo Ribeiro
Arranjo: Jorge Moniz
Intérprete: Paulo Ribeiro
Versão original: Paulo Ribeiro (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Deixei de olhar p’ra quem fui

[ Cantiga do Tempo Novo ]

Deixei de olhar p’ra quem fui,
Do passado estou ausente;
Às vezes mais vale a pena
Rir de tudo o que faz pena
Da alma triste da gente.

Vou lançar mãos à aventura,
Correr noutra direcção;
Quanto mais nos lamentamos
Ainda mais presos ficamos
E nos dói o coração.

Quando me ponho a pensar
Em alguém que tanto quis,
Já não me sento a chorar
E até me dá p’ra cantar
Modas que um dia lhe fiz.

Agora sinto-me livre,
Sem nada p’ra me prender:
E vou pela estrada fora
Rumo ao sul, vou sem demora,
Basta o sol p’ra me aquecer.

A nossa vida é um mar
Com muitas marés e vagas:
Não temos nada a perder,
O melhor mesmo é viver
Combatendo as nossas mágoas.

Tenho o mundo à minha espera,
Há ilhas por descobrir:
E há uma vontade nova,
Um tempo que se renova,
Novo amor que vai surgir.

Letra e música: Paulo Ribeiro
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Versão original: Paulo Ribeiro com o Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” (in CD “Aqui Tão Perto do Sol”, EMI-VC, 2002)
Outra versão de Paulo Ribeiro (in CD “Canções 1998-2002”, Paulo Ribeiro, 2014)

Deixo-te ao postigo

[ Amores de Jericó ]

Deixo-te ao postigo
Um lenço e uma rosa;
Vou partir p’ra longe,
Partir sem demora.

Não chores por mim!
Eu não o mereço:
Sou sombra fugaz
Mas não te esqueço.

Não queiras saber
O que eu não te digo:
Sou fora-da-lei,
Sou mais que um bandido.

Não venhas por mim
Que eu não sei amar!
Com a faca nos dentes
Meu verbo é zarpar.

O Sol já desponta,
Vai-se a madrugada:
O perigo espreita;
Adeus, minha amada!

Não quero teus ais,
Ouve o que eu te digo:
Ande eu onde andar,
Estarás sempre comigo.

Não queiras saber
O que eu não te digo:
Sou fora-da-lei,
Sou mais que um bandido.

Não venhas por mim
Que eu não sei amar!
Com a faca nos dentes
Meu verbo é zarpar.

Não queiras saber
O que eu não te digo:
Sou fora-da-lei,
Sou mais que um bandido.

Não venhas por mim
Que eu não sei amar!
Com a faca nos dentes
Meu verbo é zarpar.

Letra e música: Celina da Piedade e Alex Gaspar
Intérprete: Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)

Diz a laranja ao limão

Diz a laranja ao limão:
“Qual de nós será mais doce?”
Sou fiel ao meu amor,
Assim ele p’ra mim fosse.

Assim ele p’ra mim fosse,
Fiel ao meu coração;
“Qual de nós será mais doce?”,
Diz a laranja ao limão.

Diz a laranja ao limão:
“Qual de nós será mais doce?”
Sou fiel ao meu amor,
Assim ele p’ra mim fosse.

Assim ele p’ra mim fosse,
Fiel ao meu coração;
“Qual de nós será mais doce?”,
Diz a laranja ao limão.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda e Ruben Alves
Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)
Primeira versão: Vitorino (in LP “Não Há Terra Que Resista: Contraponto”, Orfeu, 1979, reed. Movieplay, 1991)

Dizem pr’aí que chegou

[ Maria da Rocha ]

Dizem pr’aí que chegou
A liberdade apressada;
Eu inda não dei por nada,
Continuo sendo o que sou.

No Alentejo eu trabalho
Cultivando a dura terra;
Vou fumando o meu cigarro,
Vou cumprindo o meu horário
Lançando a semente à terra.

Maria da Rocha,
Do alto rochedo.
Quem namora a Rocha,
Quem namora a Rocha
Namora sem medo.

Namora sem medo,
Medo de ninguém.
Maria da Rocha,
Maria da Rocha,
Da Rocha, meu bem.

Quem me dera a lua
Que nasce no mar:
Fosse à tua rua
De véu branco e nua
P’ra te namorar.

P’ra te namorar,
Quem me dera um dia
Guardar o luar
Que tens no olhar,
Meu amor, Maria.

Maria da Rocha,
Do alto rochedo.
Quem namora a Rocha,
Quem namora a Rocha
Namora sem medo.

Namora sem medo,
Medo de ninguém.
Maria da Rocha,
Maria da Rocha,
Da Rocha, meu bem.

Letra: Vitorino (quadra “Dizem pr’aí que chegou”), Popular (Alentejo), e João Monge (quintilhas “Quem me dera a lua” e “P’ra te namorar”)
Música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Duarte
Versão original: Duarte (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018)

Dorme, meu menino d’oiro

[ Aurora Tem um Menino ]

Dorme, meu menino d’oiro!
Oh meu lindo amor!
Não chores a tua sorte,
Oh meu lindo amor!
Oh meu lindo bem!

Que eu de ti nunca me perco,
Oh meu lindo amor!
Minha estrela do norte,
Oh meu lindo amor!
Oh meu lindo bem!

Aurora tem um menino
Mas tão pequenino;
O pai quem será?
É o Zé da Aroeira
Que vai p’rá Figueira,
Mais tarde virá.

No adro de São Vicente,
Onde há tanta gente,
Aurora não está;
Cala-te, Aurora, não chores,
Que o pai da criança
Mais tarde virá!

Cala-te, Aurora, não chores,
Que o pai da criança
Mais tarde virá!

Letra: Tradicional do Alentejo, e Celina da Piedade e Alex Gaspar (duas estrofes iniciais)
Música: Tradicional do Alentejo
Intérprete: Celina da Piedade
Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)

É alegre e sonhadora

[ Andei a guardar o gado ]

É alegre e sonhadora
A canção alentejana:
Cantada ao romper de aurora
Nas margens do Guadiana.

Andei a guardar o gado
Em tempos que já lá vão:
Deixei a vida do campo,
Trabalho na construção.

Trabalho na construção,
Já não me encosto ao cajado;
Em tempos que já lá vão
Andei a guardar o gado.

O Alentejo é que é
O celeiro da nação;
Nós somos alentejanos,
Somos da terra do pão.

Andei a guardar o gado
Em tempos que já lá vão:
Deixei a vida do campo,
Trabalho na construção.

Trabalho na construção,
Já não me encosto ao cajado;
Em tempos que já lá vão
Andei a guardar o gado.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

É tão lindo ver no campo

[ Trigueirinha alentejana ]

É tão lindo ver no campo
Tão linda ceifando
Trigueirinha alentejana
Numa mão levas a foice
Tão linda ceifando
Noutra canudos de cana

Com seu traje à camponesa
Tão linda ceifando
Sempre de chapéu ao lado
Cantando lindas cantigas
Tão linda ceifando
As espigas do pão sagrado

(Popular – Alentejo)

Estando eu na minha loja

[ João Brandão ]

Estando eu na minha loja,
Encostado ao meu balcão,
Mais brando…
Encostado ao meu balcão,

Ouvi uma voz dizer:
«Vais preso, João Brandão!»
Mais brando…
«Vais preso, João Brandão!»

Passarinho prisioneiro,
Pela tua liberdade;
Mais brando…
Pela tua liberdade.

Eu cantando peço a Deus:
Não haja aqui falsidade!
Mais brando…
Não haja aqui falsidade!

Estando eu na minha loja,
Encostado ao meu balcão,
Mais brando…
Encostado ao meu balcão,

Ouvi uma voz dizer:
«Vais preso, João Brandão!»
Mais brando…
«Vais preso, João Brandão!»
Mais brando…
«Vais preso, vais p’rá prisão!»

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

Eu ia não sei p’ra onde

[ Que Bonito Que Seria ]

Eu ia não sei p’ra onde,
Encontrei não sei quem era:
Encontrei o mês de Abril
Procurando a Primavera.

Que bonito que seria
Se houvesse compreensão:
Os Homens não se matavam
E davam-se como irmãos.

É tão linda a liberdade
Até que chegou o dia;
Se houvesse compreensão
Então, que bonito que seria!

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

Eu ouvi um passarinho

[ Alentejo ]

1. Eu ouvi um passarinho
às quatro da madrugada,
Cantando lindas cantigas
à porta da sua amada.

2. Ao ouvir cantar tão bem
a sua amada chorou.
Às quatro da madrugada
o passarinho cantou.

3. Alentejo quando canta,
vê quebrada a solidão;
traz a alma na garganta
e o sonho no coração.

4. Alentejo, terra rasa,
toda coberta de pão;
a sua espiga doirada
lembra mãos em oração.

Eu só quero que me fales

[ Afã ]

Eu só quero que me fales
De cantigas e de vinho;
Deixa lá e não te rales,
Deus perdoa o descaminho!

Eu só quero que me fales
De cantigas e de vinho;
Deixa lá e não te rales,
Deus perdoa o descaminho!

Deixa essa gente vã
Com conversas e intrigas.
Elas não interessam nada
Pois o meu maior afã
É beber minha golada
De vinho na tarde vã,
Ao som de belas cantigas.

Poema: Al-Mu’tamid (1040-1095); trad. Adalberto Alves (in “O Meu Coração É Árabe: A Poesia Luso-Árabe”, Lisboa: Assírio & Alvim, 1987, 2.ª edição, 1991 – p. 151)
Música: Paulo Ribeiro e Pedro Frazão
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016) [gravado na sala A Bruxa Teatro, Évora, Fev. 2017 ]
Versão original: Anonimato (in CD “Anonimato”, Heaven Sound, 1993)
Outras versões: Paulo Ribeiro (in CD “Aqui Tão Perto do Sol”, EMI-VC, 2002); Paulo Ribeiro (in CD “Canções 1998-2002”, Paulo Ribeiro, 2014)

Eu subi àquele monte

[ Altinho ]

Eu subi àquele monte
para ver se te esquecia;
Quanto mais alta estava
mais o meu amor crescia.

Quero ir para o altinho
que eu daqui não vejo bem;
Quero ir ver o meu amor
se ele adora mais alguém.

Se ele adora mais alguém,
se ele me ama a mim sozinha,
que eu daqui não vejo bem,
quero ir para o altinho.

que eu daqui não vejo bem,
quero ir para o altinho.

Letra: Tradicional do Alentejo, e Celina da Piedade e Alex Gaspar (quadra “Eu subi àquele monte”)
Música: Tradicional do Alentejo, e Toon Van Mierlo e Pascale Rubens
Intérprete: Celina da Piedade
Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)

Évora doce

Évora doce
Negro vestido
Por capelinhas
Cercada d’ouro
Trigo em tesouro
Mulher rainha

Guardas histórias
Guerras e amores
Por ti vividas
E tens no quarto
Cercando a praça
Mil avenidas

São tuas mágoas
Que são escutadas
Quando da Sé
Por entre as horas
Amargurada
Bates o pé

E os teus cabelos
Ficam mais belos
Quando tu vês
Capas traçadas
Numa guitarra
Cantando o que és

Évora doce
Negro vestido
Por capelinhas
Cercada d’ouro
Trigo em tesouro
Mulher rainha

Envergonhada
Se o Alentejo
Lhe pede um beijo
E às escondidas
P’ra ninguém ver
Mata o desejo

Letra e música: Duarte
Intérprete: Duarte (in CD “Aquelas coisas da Gente”, JBJ & Viceversa, 2009)
Primeira versão: Duarte (in CD “Fados Meus”, Ovação, 2004)

Fez sábado quinta-feira

Fez sábado quinta-feira,
P’ra lá d’Évora três semanas,
Estive dez dias num Verão
Nas Américas Romanas.

Embarquei em dois caleiros
Na baía de Lisboa;
Arribei, fui dar a Goa,
Desembarquei em Alenquer;
Casei com sete mulheres,
Falta uma p’rá primeira;
Fui dar à Ilha Terceira,
Com três dias numa hora;
Abalei e vim-me embora,
Fez sábado quinta-feira.

Agarrei nos alforginhos,
Pus um pão em quatro enxacas,
Na gamela duas vacas
E na borracha toucinho;
Um açafate com vinho,
Trinta metros de banana;
Dei passos à americana,
Fui passar a Ayamonte;
Abalei hoje, cheguei ontem
P’ra lá d’Évora três semanas.

Eu já estive em Erapouca,
Numa ocharia empregado;
Foi-se um carro carregado
Numa abóbora canoca;
Um mosquito com um boi na boca
Cem léguas em proporção;
Atirei-lhe um bofetão
Que pelo ar o fez ir;
À espera dele cair
Estive dez dias num Verão.

Fui soldado, assentei praça
No 15 de Sapadores;
Maquinista de vapores
Na carreira de Alcobaça;
Venci o Forte da Graça,
Também a Vila de Terena
E as províncias arraianas,
Venci toda a nobrezia;
Bati-me com a Turquia
Nas Américas Romanas.

Fez sábado quinta-feira,
P’ra lá d’Évora três semanas,
Estive dez dias num Verão
Nas Américas Romanas.

Letra: Popular
Música: José Manuel David
Arranjo e direcção musical: José Manuel David
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa com Luís Espinho e João Paulo Sousa (Adiafa) (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012)

Folheia-se o caderno e eis o sul

[ Alentejo ]

Folheia-se o caderno e eis o sul
E o sul é a palavra. E a palavra
Desdobra-se
No espaço com suas letras de
Solstício e de solfejo
Além de ti
Além do Tejo

Verás o rio e talvez o azul
Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio
Mas aquela grande linha onde o abstracto
Começa lentamente a ser o
Sul

Outro é o tempo
Outra a medida

Tão grande a página
Tão curta a escrita

Entre o achigã e a perdiz
Entre chaparro e choupo

Tanto país
E tão pouco

Solidão é companheira
E de senhor são seus modos
Rei do céu de todos
E de chão nenhum

À sombra de uma azinheira
Há sempre sombra para mais um

Na brancura da cal o traço azul
Alentejo é a última utopia

Todas as aves partem para o sul
Todas as aves: como a poesia

Manuel Alegre (Alentejo e ninguém)

Gosto muito dos teus olhos

[ O Mocho ]

Gosto muito dos teus olhos, ó Maria,
Muito mais gosto dos meus;
Se não fossem os meus olhos, ó Maria,
Não podia amar os teus.

O triste do mocho piava,
Ó lari, lariava,
Em cima da melancia, ó Maria;
Maria, Maria, Maria Capitôa
Dos montes, tiroli, ó terrim, tim, tim;
As mulheres são a alegria de mim.

Eu não quero mais amar, ó Maria,
Que eu do amar tenho medo;
Eu não quero arriscar, ó Maria,
A pagar o que eu não devo.

O triste do mocho piava,
Ó lari, lariava,
Em cima da melancia, ó Maria;
Maria, Maria, Maria Capitôa
Dos montes, tiroli, ó terrim, tim, tim;
As mulheres são a alegria de mim.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda
Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)

Grândola, vila morena

Grândola, vila morena,
terra da fraternidade,
o povo é quem mais ordena
dentro de ti, ó cidade.

Dentro de ti, ó cidade,
o povo é quem mais ordena,
terra da fraternidade,
Grândola, vila morena.

Em cada esquina um amigo,
em cada rosto igualdade,
Grândola, vila morena,
t erra da fraternidade.

Terra da fraternidade,
Grândola, vila morena,
em cada rosto igualdade,
o povo é quem mais ordena.

À sombra duma azinheira
que já não sabia a idade,
jurei ter por companheira,
Grândola, a tua vontade.

Grândola, a tua vontade
jurei ter por companheira,
à sombra duma azinheira
que já não sabia a idade.

Letra e música: José Afonso
Intérprete: José Afonso (in “Cantigas do Maio”, Orfeu, 1971; reed. Movieplay, 1987)

Há ondas, meu bem

[ Sou das Ondas ]

Há ondas, meu bem, há ondas,
Há ondas sem ser no mar:
Há ondas no teu cabelo,
Há ondas no teu olhar.

Sou das ondas, sou das ondas,
Sou das ondas, sou do mar;
Meu amor já me deixou,
Meu amor vai-me deixar.

Nas ondas do mar, lá fora,
Aprendi eu a cantar
Numa barquinha doirada,
Ó meu bem, a navegar.

Há ondas, meu bem, há ondas,
Há ondas sem ser no mar:
Há ondas no teu cabelo,
Há ondas no teu olhar.

Sou das ondas, sou das ondas,
Sou das ondas, sou do mar;
Meu amor já me deixou,
Meu amor vai-me deixar.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Paulo Ribeiro

Há um sobreiro velhinho

[ Sobreiro Velhinho ]

Há um sobreiro velhinho
Que nasceu à meia-encosta:
É a casa dos pardais,
Malhada dos animais,
Faz sombra que o pastor gosta.

Faz sombra que o pastor gosta
Nos dias quentes de Verão;
Põe o seu gado ao acarro,
Da cortiça faz um tarro,
Corta a lenha, faz carvão.

Corta a lenha, faz carvão
E nasce um novo raminho
Da Primavera ao Inverno;
Deus queira que seja eterno,
Há um sobreiro velhinho.

O sobreiro é obrigado
A sustentar a cortiça;
Quem não ama de vontade,
Seja qual for a idade,
Não se obriga por justiça.

Há um sobreiro velhinho
Que nasceu à meia-encosta:
É a casa dos pardais,
Malhada dos animais,
Faz sombra que o pastor gosta.

Faz sombra que o pastor gosta
Nos dias quentes de Verão;
Põe o seu gado ao acarro,
Da cortiça faz um tarro,
Corta a lenha, faz carvão.

Corta a lenha, faz carvão
E nasce um novo raminho
Da Primavera ao Inverno;
Deus queira que seja eterno,
Há um sobreiro velhinho.

Letra e música: Martinho Marques
Arranjo: José Manuel David
Intérprete: Pedro Mestre com Pedro Calado & Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre com Pedro Calado & Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Já são horas da merenda

Já são horas da merenda;
Ai, vamo-nos a merendar
Gaspachinho com vinagre,
Ai, para o peito refrescar!

Já se vai o Sol a pôr
Ai, para trás do cabecinho;
Bem quisera o nosso amo
Ai, prendê-lo c’um baracinho.

Já são horas da merenda;
Ai, vamo-nos a merendar
Gaspachinho com vinagre,
Ai, para o peito refrescar!

Já se vai o Sol a pôr
Ai, para trás do cabecinho;
Bem quisera o nosso amo
Ai, prendê-lo c’um baracinho.

Letra e música: Tradicional
Recolha: Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça
Intérprete: Macadame
Primeira versão de Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Lá nos campos

[ Eu fui apanhar marcela ]

Lá nos campos, verdes campos
Eu fui apanhar marcela
Daquela mais miudinha
Daquela mais amarela

Daquela mais amarela
Daquela mais miudinha
Lá nos campos, verdes campos
A marcela, a marcelinha

(Popular – Alentejo)

Lá traz a cegonha

[ Popular alentejana ]

Lá traz a cegonha
no bico o raminho.
Que seja bem-vinda
branquinha, tão linda
ao seu velho ninho.

Senhora cegonha,
como tem passado?
Não há quem a veja
voar p’rá Igreja,
pousar no telhado.

Quando chega o Outono
e o bando levanta,
anuncia a hora
que se vai embora,
leva a meia branca.

Lá vai uma embarcação

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora;
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora
Com mágoas no coração;
Por esses mares fora
Lá vai uma embarcação.

Ó mar alto, ó mar alto,
Ó mar alto sem ter fundo!
Mais vale andar no mar alto
Que nem nas bocas do mundo.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora;
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora
Com mágoas no coração;
Por esses mares fora
Lá vai uma embarcação.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Outra versão: Rão Kyao & Os Ganhões de Castro Verde (in CD “Rão Kyao & Riccardo Tesi: Live in Sete Sóis”, Associação Sete Sóis Sete Luas, 2005)

Lembra-me o tempo passado

[ O Almocreve ]

Lembra-me o tempo passado,
Tudo se vai acabando:
O boi puxando o arado,
O almocreve cantando…

O almocreve cantando
Semeando o verde prado.
Quando vejo alguém lavrando
Lembra-me o tempo passado.

A vida do almocreve
É uma vida arriscada:
Ao descer uma ladeira,
Ao cerrar duma carrada.

Lembra-me o tempo passado,
Tudo se vai acabando:
O boi puxando o arado,
O almocreve cantando…

O almocreve cantando
Semeando o verde prado.
Quando vejo alguém lavrando
Lembra-me o tempo passado.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Linda cara que tu tens

[ Fadinho Alentejano ]

Linda cara que tu tens, já sei,
Quando chegas noite fora.
À espera à porta de casa,
Está o teu pai que te adora.

Lindos olhos tem o mocho, piu,
Quando a noite vem chegando.
P’ra deixar passar a noite,
Uma moda eu vou cantando.

Muda a água às azeitonas,
Rega bem os teus tomates,
Tem lá cuidado com a horta!
O cravo já está no vaso,
Sim, senhora, por acaso.

Abalaste para Lisboa, pois,
Deixaste-me ao pé da porta.
Tu seguiste o teu caminho,
A minha alma ficou torta.

Quando cheguei ao Barreiro, já fui,
Lisboa estava fechada.
Voltei p’ra casa a cantar,
Uma vida abençoada.

Muda a água às azeitonas,
Rega bem os teus tomates,
Tem lá cuidado com a horta!
O cravo já está no vaso,
Sim, senhora, por acaso.

Letra e música: Paulo de Carvalho
Intérprete: Ricardo Ribeiro
Versão original: Ricardo Ribeiro com o Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Hoje É Assim, Amanhã Não Sei”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2016)

Maldita sociedade

[ Camponês Alentejano ]

Maldita sociedade,
Estás tão mal organizada:
Quem não trabalha tem tudo,
Quem trabalha não tem nada!

Camponês alentejano,
Camponês agricultor:
Tu trabalhas todo o ano,
Dás produto ao lavrador.

Dás produto ao lavrador,
Tua vida é um engano:
É tão triste o teu valor,
Camponês alentejano!

Todo o homem que trabalha
Não deve nada a ninguém:
Aquele que nada faz
Deve tudo quanto tem.

Camponês alentejano,
Camponês agricultor:
Tu trabalhas todo o ano,
Dás produto ao lavrador.

Dás produto ao lavrador,
Tua vida é um engano:
É tão triste o teu valor,
Camponês alentejano!

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Maldita sociedade, estás tão mal organizada

[ Há Lobos sem Ser na Serra ]

Maldita sociedade,
Estás tão mal organizada!
Quem não trabalha tem tudo,
Quem trabalha não tem nada.

Há lobos sem ser na serra,
Eu ainda não sabia;
Debaixo de um arvoredo
Trabalham com valentia.

Trabalham com valentia
Cada qual a sua terra;
Eu ainda não sabia
Que há lobos sem ser na serra.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

Mariana canta ao despique

[ Ti Mariana ]

Mariana canta ao despique:
Fez do cante a sua lida,
Ali p’rós lados de Ourique,
Nessa planície perdida.

Nessa planície perdida,
Nesse Alentejo adorado,
Ti Mariana achou a vida
E fez do cante o seu fado.

E fez do cante o seu fado,
Cantando com o coração;
As modas vão dando brado
Ao velho estilo baldão.

Quem canta seu mal espanta,
É o ditado que o diz;
Cantar afina a garganta,
Povo que canta é feliz.

Mariana canta ao despique:
Fez do cante a sua lida,
Ali p’rós lados de Ourique,
Nessa planície perdida.

Nessa planície perdida,
Nesse Alentejo adorado,
Ti Mariana achou a vida
E fez do cante o seu fado.

E fez do cante o seu fado,
Cantando com o coração;
As modas vão dando brado
Ao velho estilo baldão.

A viola campaniça,
Em meus dedos dedilhando,
Acompanha sem preguiça
Qualquer Mariana cantando.

Mariana canta ao despique:
Fez do cante a sua lida,
Ali p’rós lados de Ourique,
Nessa planície perdida.

Nessa planície perdida,
Nesse Alentejo adorado,
Ti Mariana achou a vida
E fez do cante o seu fado.

E fez do cante o seu fado,
Cantando com o coração;
As modas vão dando brado
Ao velho estilo baldão.

Letra: Rosa Guerreiro Dias
Música: José Manuel David
Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)

Menina estás à janela

Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua

Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela

Os olhos requerem olhos
E os corações, corações
E os meus requerem os teus
Em todas as ocasiões

Letra e música: Popular (Alentejo)
Recolha e adaptação: Vitorino
Intérprete: Vitorino
Versão original: Vitorino (in “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975; reed. Movieplay, 1999)
Versão instrumental: Opus Ensemble (in “Temas do cancioneiro Português”, EMI Classics, 1987; reed. 1998)

Mértola dormia frente ao Guadiana

[ Em Mértola ]

Mértola dormia frente ao Guadiana
branca, branca, branca
torre de menagem, torre de vigia
de quem mais se ama
iam nas pedrinhas, pequeninos rios
do suor da terra alentejana
para lá dos montes, pertinho da raia
onde a terra passa a ser estranha

Com um sol a pique frente a uma mesquita
branca, branca, branca
subindo ao castelo, subindo à vigia
vendo o panorama
pr’além das muralhas, para aquém dos montes
prendiam-se os olhos à bonita
ficavam nos verdes, ficavam nos brancos
ficavam nos tempos da Moirama

Suando pestanas, frente a uma cegonha
branca, branca, branca
Mértola corria frente ao Guadiana
por quem se derrama
o sol que há nos olhos, o mel que há no peito
a dor que há no corpo de quem sonha
com o sabor das ervas, no cheiro das águas
no voltar a ver a quem mais se ama

Ia viajante frente à moradia
branca, branca, branca
ia sendo moira, noiva tão serena
e alma cigana
o lenço voando, batia no rosto
no silêncio olhava o que não via
para lá da terra, para lá dos montes
nunca mais veria a tarde calma

Mértola dormia frente ao Guadiana
branca, branca, branca
torre de vigia, torre de menagem
a quem mais se ama
iam nas pedrinhas, pequeninos rios
do amor à terra alentejana
para lá dos montes, pertinho da raia
onde a terra passa a ser Espanha

Poema e música: Teresa Muge
Intérprete: Amélia Muge (in CD “Múgica”, UPAV, 1992)

Minha mãe, estou de abalada

[ Minha Mãe, Sou um Mainante ]

Minha mãe, estou de abalada:
Parto já, neste instante;
Adeus, minha mãe amada,
Vou p’rá vida de mainante.

De manta ao ombro e bordão,
Trilho caminhos de amargura:
Tenho fome, não tenho pão,
Durmo assim na noite escura.

Rompe o sol de manhãzinha
E o povoado é distante:
Cantando p’ra ti, mãezinha,
Esta vida de mainante.

As lágrimas não me apagam
As queixas e os martírios:
Só as estrelas acalmam,
À noite, os meus delírios.

De manta ao ombro e bordão,
Trilho caminhos de amargura:
Tenho fome, não tenho pão,
Durmo assim na noite escura.

Rompe o sol de manhãzinha
E o povoado é distante:
Cantando p’ra ti, mãezinha,
Esta vida de mainante.

O meu chão é chão barrento
Pisado com ternura,
De quem dorme ao relento
E faz dele a sepultura.

Letra: Romão Janeiro
Música: Paulo Ribeiro
Intérprete: Paulo Ribeiro
Versão original: Grupo Coral “Os Mainantes” de Pias (in CD “Entre Mestres e Aprendizes”, de Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” & “Os Mainantes”, Açor/Emiliano Toste, 2016)

Moreninha alentejana

– Moreninha alentejana,
quem te fez, morena, assim?
– Foi o sol da Primavera
que caía sobre mim.

Que caía sobre mim,
que andava a ceifar o trigo.
– Moreninha alentejana,
por que não casas comigo?

Por que não casas comigo?
Por que não casas com ela?
– Quem te fez, morena, assim?
– Foi o sol da Primavera.

Na sociologia do vinho

Na sociologia do vinho
é que se brinda!
É de azeite a gordura
que agradece
a quentura da lã
ventre de linho
e o gosto da azeitona
verde, verde.

No suor do cajado
lã de ovelha
firma-se o peito, esteva
velha.

Nas patas do rafeiro é
que se alonga
a geometria do sul
desfeita em cal
e a rijeza dos nervos já
perdida.

A cegonha já acena um
bater de asas.
Sangrado o campo, mirradas
são as casas.
Não são homens; são sombra
toda sal,
Só vultos de lentidão
ferida.

É no traço do sul que mais
se acolhe
o ermo das lonjuras
desenhadas:
A sombra, o silêncio
e a tristeza
de tristezas mal
balbuciadas.

Geométrico sul, cal
e planura
Loiro de água verde
adormecida.
Quem te dará um alento
uma saída
de alma clara em
escancarada alvura?

Só no cantar do sul
o tempo dura…

Letra: Afonso Dias
Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)

Namorei sempre à tardinha

[ A Moda do Chegadinho ]

Namorei sempre à tardinha
Certas moças da minha aldeia:
Fosse magra, fosse gordinha,
Bonita ou menos feia.

Chegadinha, chegadinha a mim,
Chegadinho, chegadinho a ela;
Chegadinho, chegadinha, chegadinhos
Ao postigo e à janela.

Brinquei com uma, brinquei com duas,
Duas, três, quatro ou cinco;
Brinquei contigo, brinquei com ela,
Já sou casado e agora já não brinco.

Chegadinha, chegadinha a mim,
Chegadinho, chegadinho a ela;
Chegadinho, chegadinha, chegadinhos
Ao postigo e à janela.

Sou casado e com juízo,
Mas não deixo de pensar
Quando vejo moças catitas
À janela a namorar.

Chegadinha, chegadinha a mim,
Chegadinho, chegadinho a ela;
Chegadinho, chegadinha, chegadinhos
Ao postigo e à janela.

Letra e música: Francisco Naia
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

Não é a ceifa que mata

Terra Sagrada do Pão

Não é a ceifa que mata
Nem os calores do Verão
É a erva unha-gata
O cardo pica na mão

Alentejo, Alentejo
Terra sagrada do pão
Eu hei-de ir ao Alentejo
Inda que seja no Verão

Ver o doirado do trigo
Na imensa solidão
Alentejo, Alentejo
Terra sagrada do pão

Eu sou devedor à terra
A terra me está devendo
A terra paga-me em vida
Eu pago à terra em morrendo

(Popular – Alentejo)

Nasce o Sol no Alentejo

Nasce o Sol no Alentejo,
Nasce água clara na fonte;
Nasce em mim a saudade
Da lareira do teu monte.

Quem me dera ser o trigo
Que ciranda na peneira,
E poder andar contigo
Cirandando a vida inteira.

Não há cravo como o branco
Que até no cheirar é doce,
Nem amor como o primeiro
Se ele fingido não fosse.

Pelas estrelas da noite
Regulam-se os marinheiros,
E eu pelos teus lindos olhos
Que são astros mais certeiros.

Às ceifeiras nunca digas
Madrigais no teu cantar,
Pois se vão em tais cantigas
Fica o trigo por ceifar.

Eu não sei por que motivo
Tu me recusas um beijo!…
Ao menos sei porque vivo
Tão preso ao teu Alentejo.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Recolha: José Alberto Sardinha
Arranjo: António Prata, com Carlos Barata e Pedro Fragoso
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD1, Ovação, 2001)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Outras Terras”, Ronda dos Quatro Caminhos, 1999)

No Alentejo eu trabalho

[ É tão grande o Alentejo ]

No Alentejo eu trabalho
Cultivando a dura terra;
Vou fumando o meu cigarro,
Vou cumprindo o meu horário
Lá na encosta da serra.

É tão grande o Alentejo,
Tanta terra abandonada!
A terra é que dá o pão:
Para bem desta nação
Devia ser cultivada.

Tem sido sempre esquecido
À margem ao sul do Tejo:
Há gente desempregada,
Tanta terra abandonada!
É tão grande o Alentejo!

Trabalha, homem, trabalha
Se queres ter o teu valor!
Os calos são os anéis,
Os calos são os anéis
Do homem trabalhador.

É tão grande o Alentejo,
Tanta terra abandonada!
A terra é que dá o pão:
Para bem desta nação
Devia ser cultivada.

Tem sido sempre esquecido
À margem ao sul do Tejo:
Há gente desempregada,
Tanta terra abandonada!
É tão grande o Alentejo!

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Outra versão: Dulce Pontes & Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Primeiro Canto”, de Dulce Pontes, Polydor B.V. the Netherlands/Universal, 1999; CD “O Círculo Que Leva a Lua”, do Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003)

No nosso Alentejo

[ Trigueira de raça ]

No nosso Alentejo
é tão lindo ouvir
cantar as ceifeiras,
ver as mondadeiras
no campo a sorrir.

Trigueira de raça,
quem te fez assim
ceifando os trigais,
ouvindo os teus ais
com pena de mim?

Eu por ti chorando
alegre e cantando
sinto o teu desejo,
linda trigueirinha,
linda alentejana,
dá-me cá um beijo.

À sombra da silva
é que eu adormeço
sonhando contigo.
Linda alentejana,
eu não te mereço.

Popular Alentejano

No tempo da Primavera

No tempo da Primavera,
há lindas flores no prado.
Canta, ó lindo passarinho,
ao nascer do sol doirado.

Ao nascer do sol doirado,
ó meu amor, quem me dera
pisando os mimosos prados
no tempo da Primavera.

Ó Alentejo dos pobres

[ Margem Sul (Canção Patuleira) ]

Ó Alentejo dos pobres,
reino da desolação,
não sirvas quem te despreza,
é tua a tua nação.

Não vás a terras alheias
lançar sementes de morte.
É na terra do teu pão
que se joga a tua sorte.

Terra sangrenta de Serpa,
terra morena de Moura,
vilas de angústia em botão,
doce raiva em Baleizão.

Ó margem esquerda do Verão
mais quente de Portugal,
margem esquerda deste amor
feito de fome e de sal.

A foice dos teus ceifeiros
trago no peito gravada,
ó minha terra morena
como bandeira sonhada.

Terra sangrenta de Serpa,
terra morena de Moura,
vilas de angústia em botão,
doce raiva em Baleizão.

Poema: Urbano Tavares Rodrigues
Música: Adriano Correia de Oliveira
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in “Margem Sul”, Orfeu, 1967; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)

Ó águia que vais tão alta

Ó águia que vais tão alta,
voando de pólo em pólo,
leva-me ao céu onde eu tenho
a mãe que me trouxe ao colo.

A mãe que me trouxe ao colo
ficou-me fazendo falta,
voando de pólo em pólo,
ó águia que vais tão alta.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Afonso Dias
(in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)

O Alentejo é que é

[ Cidades, Vilas e Montes ]

O Alentejo é que é
O celeiro da nação;
Nós somos alentejanos,
Nós somos alentejanos,
Somos da terra do pão.

É linda a Reforma Agrária
Nos campos do Alentejo:
Aumentou a produção,
Deu para todos mais pão,
É isso que eu mais invejo.

Cidades, vilas e montes,
Unidade a trabalhar:
Só assim a reacção,
Gente má sem coração,
Nunca mais pode passar.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, ?; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

O Alentejo não tem sombras

[ As Flores da Nossa Terra ]

O Alentejo não tem sombras
Se não as que vêm do céu;
E o camponês tem abrigo,
E o camponês tem abrigo
Às abas do seu chapéu.

Flores da nossa terra
Que abandonaram as mães
Numa linda romaria
Feita com muita alegria:
Foram dar a Guimarães.

Foram dar a Guimarães,
Recordação que se encerra;
Abandonaram as mães
E foram a Guimarães
Flores da nossa terra.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, ?; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Ó Estação de Ourique

Ó Estação de Ourique
Onde eu tive amores!
Onde há pirolitos
E também há flores.

Tem um largo ao meio
Mesmo na estação,
Param os comboios
Que vão p’ra Garvão.

Salta a malta nova
Vinda no furgão;
Grita o maquinista
E o chefe da estação.

E os moços pequenos
Sempre a saltitar;
Ficam para o balho,
Querem é dançar!

Vêm do Carregueiro
Casével e Aivados;
Da vila de Ourique
Chegam convidados.

Muito bem trajados
De Castro chegando,
Vêm cantadores
Modas entoando.

Cantam aos amores
Que estão espreitando;
E a tasca do Mendes
Já está esperando.

Ali num cantinho
Vão servindo copos:
Há sempre bom vinho
Chouriço e tremoços.

O chefe da estação
Junta a filharada
Com banjos, violão
E voz afinada.

Começam as danças
No Salão dos Nobres:
Velhos e crianças
E ricos e pobres.

Ai a balhação!
Aì a brincadeira!
Já está na estação
O comboio p’rá Funcheira.

Seguem seus destinos,
Uns ficam deitados:
Parecem meninos
Muito embriagados.

Ó Estação de Ourique
Onde eu tive amores!
Onde há pirolitos
E também há flores.

Tem um largo ao meio
Mesmo na estação,
Param os comboios
Que vão p’ra Garvão.

Salta a malta nova
Vinda no furgão;
Grita o maquinista
E o chefe da estação.

E os moços pequenos
Sempre a saltitar;
Ficam para o balho,
Querem é dançar!

Letra e música: Francisco Naia
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

O mar deixou o Alentejo

[ Se fores ao Alentejo ]

O mar deixou o Alentejo
onde trouxe canções de oiro
mas volta a matar saudades
mas ondas do trigo loiro.

Se fores ao Alentejo,
vai vai vai vai vai.
Não te esqueças, dá-lhe um beijo,
ai ai ai ai.

Nas capelas e nos montes
há sorrisos de brancura
onde fala a voz de Deus
na voz da cal e da alvura.

Sobe o sol e abrasa a terra
a fecundar as espigas
à sombra das azinheiras
na dolência das cantigas.

Por lonjuras e planuras,
oh solidão, solidão,
eu quero paz no trabalho
p’ra poder ganhar o pão.

Popular do Alentejo

Ó meu São João Baptista

[ São João de Alpalhão ]

Ó meu São João Baptista!
Ó meu Baptista João!
Vamos ir à água nova
Na noite de São João!

São João baptiza Cristo,
Cristo baptiza João:
Ambos foram baptizados
Lá no rio do Jordão.

São João p’ra ver as moças
Fez uma fonte de prata;
As moças não vão a ela,
São João todo se mata.

Meu divino São João
Que na mão tem a bandeira!
Vamos ir ao rosmaninho
P’ra fazermos uma fogueira!

Letra e música: Tradicional (Alpalhão, Nisa, Alto Alentejo)
Intérprete: Segue-me à Capela
Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

Ó Minha Amora Madura

Ó minha amora madura,
Ai diz-me quem te amadurou.
Foi o sol, foi a geada,
Ai foi o calor que ela apanhou.

Ó minha amora madura,
Ai diz-me quem te amadurou.
Foi o sol, foi a geada,
Ai foi o calor que ela apanhou.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Primeira versão: José Afonso (in LP “Eu Vou Ser Como a Toupeira”, Orfeu, 1972, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art’Orfeu Media, 2012)

Ó moças façam arquinhos

Arquinhos (II)

Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!
P’ra passar o meu benzinho,
P’ra passar a minha amada.

P’ra passar a minha amada,
P’ra passar o meu benzinho,
Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!

Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!
P’ra passar o meu benzinho,
P’ra passar a minha amada.

P’ra passar a minha amada,
P’ra passar o meu benzinho,
Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!

Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!
P’ra passar o meu benzinho,
P’ra passar a minha amada.

P’ra passar a minha amada,
P’ra passar o meu benzinho,
Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

O Sol é que alegra o dia

[ Menina Florentina ]

O Sol é que alegra o dia
Pela manhã quando nasce
Ai de nós o que seria
Se o Sol um dia faltasse

Ó menina Florentina
És a flor que em meu peito domina
Seu amante delirante
De viagem chegou neste instante

Já cá está o tiroliroliro tiroliroliro
Já cá está o tiroliroliro tiroliroló
Já cá está o tiroliroliro ó amor
Tiroliroliro abre a porta, ó branca flor

Não me inveja de quem tem
Carros, parelhas e montes
Só me inveja de quem bebe
Água em todas as fontes

Ó menina Florentina
És a flor que em meu peito domina
Seu amante delirante
De viagem chegou neste instante

Já cá está o tiroliroliro tiroliroliro
Já cá está o tiroliroliro tiroliroló
Já cá está o tiroliroliro ó amor
Tiroliroliro abre a porta, ó branca flor

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Janita Salomé / Grupo “Vozes do Sul”* (in CD “Vozes do Sul: uma celebração do cante alentejano” , Capella, 2000)

Ó terra morena deitada ao sol

[ Fado do Alentejo ]

Ó terra morena deitada ao sol,
Quero ser a alma do ganhão,
Cheia de horizonte, cântico de fonte,
Catedral do trigo, azeite e pão!

Ó terra morena deitada ao sol,
Quero ser a alma da cegonha
Que sobe no vento e ouve o lamento
Do homem que, ao sul, trabalha e sonha!

Alentejo das casas de cal,
Alentejo do sobro e do sal;
Alentejo poejo, alecrim,
Alentejo das terras sem fim.

Ó terra morena deitada ao sol,
Quero ser a alma do sobreiro:
Estática, selvagem, dona da paisagem
Afrontando o tempo a corpo inteiro!

Alentejo das casas de cal,
Alentejo do sobro e do sal;
Alentejo poejo, alecrim,
Alentejo das terras sem fim.

Ó terra morena deitada ao sol,
Quero ser a alma do ganhão,
Cheia de horizonte, cântico de fonte,
Catedral do trigo, azeite e pão!

Letra: Rosa Lobato de Faria
Música: Rão Kyao
Arranjo: Rabih Abou-Khalil
Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013)
Primeira versão de Ricardo Ribeiro: Rão Kyao & Ricardo Ribeiro (in 2CD “Em’Cantado”: CD 1, Universal, 2009)
Versão original: Manuel de Almeida – “Alma do Ganhão” (in CD “Fado”, Movieplay, 1996)

Olha o passarinho

Olha o passarinho
que bem que ele canta.
Quando está cantando,
parece que tem
uma guitarra na garganta.

E olha o rouxinol
vai fazer o ninho
dentro do balsedo
p’ra cantar sem medo,
olha o passarinho!

E a moda vai alta,
não lhe posso chegar.
Cantem-na baixinho,
mais devagarinho
que eu quero cantar.

Letra e música: Popular do Alentejo
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Terra de Abrigo”, Ocarina, 2003) .

Oliveira e Parreirinha

[ A Tasca do Encalha ]

Oliveira e Parreirinha
Encontram o Tó Careca:
Com a dor que se avizinha
Vão beber uma caneca.

Dão a mão ao Zé Padeiro,
E o braço ao Quim Margarida;
Chamam o Chico Pedreiro,
Vão afogar-se em bebida.

Abraçam-se p’lo caminho,
Até à Tasca do Encalha:
Lá o tintol é fresquinho
E à volta ninguém se espalha.

Tintol, caracol,
Tintão, carrascão,
Com rodelas de limão;
Verdinho, verducho,
Verdete, verdacho,
Mas que graça que eu te acho!

Venha lá outra rodada
Com tapinhas e tremoços!
O tintol é tão maduro
Que até arreganha os ossos.

Vira lá mais um copinho!
Tira outro do briol!
Traz alcagoita torrada
E um pires de caracol!

Diz o Quim para o Oliveira,
Pondo um ar grave no rosto:
«Que uma boa bebedeira
Mata-nos qualquer desgosto!»

Tintol, caracol,
Tintão, carrascão,
Com rodelas de limão;
Verdinho, verducho,
Verdete, verdacho,
Mas que graça que eu te acho!

Mas que graça que eu te acho!…

Letra e música: Francisco Naia
Intérprete: Francisco Naia com Vitorino (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

Ora ponha aqui

[ Pezinho dos Caçadores ]

Ora ponha aqui,
Ora ponha aqui o seu pezinho!
Ora ponha aqui,
Ora ponha aqui ao pé do meu!

Ai ao tirar,
Ai ao tirar o seu pezinho,
Ai um abraço,
E um abraço lhe dou eu!

Ai dizem mal,
Ai dizem mal dos caçadores,
Ai por matarem,
Por matarem os pardais…

Ai os teus olhos,
Os teus olhos, meu amor,
Ainda matam,
Ainda matam muito mais!

Ora ponha aqui,
Ponha aqui o seu pezinho!
Ora ponha aqui,
Ponha aqui ao pé do meu!

Ai ai ao tirar,
Ao tirar o seu pezinho,
Um abraço lhe dou eu!

Ai dizem mal,
Dizem mal dos caçadores,
Por matarem os pardais…

Os teus olhos, meu amor,
Ainda matam,
Ainda matam muito mais!

Ora ponha aqui o seu pezinho!
Ora ponha aqui ao pé do meu!

Ao tirar o seu pezinho,
Ai um abraço lhe dou eu!

Ai dizem mal dos caçadores,
Por matarem os pardais…

Os teus olhos, meu amor,
Ainda matam muito mais!

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

Papoilas vermelhas

[ Querido Alentejo ]

Papoilas vermelhas
Criadas ao vento
São cravos de Abril:
Deixai-os florir
No meu pensamento.

Querido Alentejo,
Minha terra amada:
Eu nunca me esqueço
De seres Alentejo,
És sempre lembrada.

Teus cravos vermelhos
Já não murcharão;
Tens o privilégio
De seres Alentejo,
Celeiro da nação.

Vem o mês de Abril,
Cresce a saudade;
Vem o nosso povo
E a cantar de novo:
«Viva a liberdade!»

Querido Alentejo,
Minha terra amada:
Eu nunca me esqueço
De seres Alentejo,
És sempre lembrada.

Teus cravos vermelhos
Já não murcharão;
Tens o privilégio
De seres Alentejo,
Celeiro da nação.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

Moda:

Penteei o meu cabelo,
Penteei-o para trás,
Com uma travessa nova
Que me deu o meu rapaz.

Que me deu o meu rapaz
Toda cheia de pedrinhas;
Penteei o meu cabelo,
Ficou-me todo às ondinhas.

 

Moda:

Penteei o meu cabelo,
Penteei-o para trás,
Com uma travessa nova
Que me deu o meu rapaz.

Que me deu o meu rapaz
Toda cheia de pedrinhas;
Penteei o meu cabelo,
Ficou-me todo às ondinhas.

Ficou-me todo às ondinhas,
Ficou-me todo ondulado;
Penteei o meu cabelo
Para trás e para o lado.

Cantiga:

Há ondas, meu bem, há ondas,
Há ondas sem ser no mar:
Há ondas no teu cabelo,
Há ondas no teu olhar.

Moda:

Penteei o meu cabelo,
Penteei-o para trás,
Com uma travessa nova
Que me deu o meu rapaz.

Que me deu o meu rapaz
Toda cheia de pedrinhas;
Penteei o meu cabelo,
Ficou-me todo às ondinhas.

Ficou-me todo às ondinhas,
Ficou-me todo ondulado;
Penteei o meu cabelo
Para trás e para o lado.

Cantiga:

Há ondas, meu bem, há ondas,
Há ondas sem ser no mar:
Há ondas no teu cabelo,
Há ondas no teu olhar.

Moda:

Penteei o meu cabelo,
Penteei-o para trás,
Com uma travessa nova
Que me deu o meu rapaz.

Que me deu o meu rapaz
Toda cheia de pedrinhas;
Penteei o meu cabelo,
Ficou-me todo às ondinhas.

Ficou-me todo às ondinhas,
Ficou-me todo ondulado;
Penteei o meu cabelo
Para trás e para o lado.

Cantiga:

Há ondas, meu bem, há ondas,
Há ondas sem ser no mar:
Há ondas no teu cabelo,
Há ondas no teu olhar.

Caderno de Danças do Alentejo
Caderno de Danças do Alentejo

Por eu ser alentejano

[ Há Lobos Sem Ser na Serra ]

Por eu ser alentejano,
Alguém me chamou ladrão:
Foi o que eu nunca chamei
A quem me roubava o pão.

Há lobos sem ser na serra,
Eu ainda não sabia…
Debaixo do arvoredo
Trabalham com valentia.

Trabalham com valentia
Cada um na sua arte;
Eu ainda não sabia:
Há lobos em toda parte.

Maldita sociedade,
Estás tão mal organizada:
Quem não trabalha tem tudo,
Quem trabalha não tem nada!

Há lobos sem ser na serra,
Eu ainda não sabia…
Debaixo do arvoredo
Trabalham com valentia.

Trabalham com valentia
Cada um na sua arte;
Eu ainda não sabia:
Há lobos em toda parte.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Quando o melro assobia

[ Castro Verde É Nossa Terra ]

Quando o melro assobia,
Escondido nos silvados:
Quer de noite, quer de dia,
São lindos os seus trinados.

Castro Verde é nossa terra!
Ai quem nos dera lá estarmos agora
P’rá mocidade, com saudade,
Ouvir cantar como ouvi outrora.

Terra bela
Tão desejada!
Casa singela
De branco caiada!

Eu nunca esqueço
Que foste meu berço,
Lindo cantinho
Desta pátria amada!

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Castro Verde É Nossa Terra”, Valentim de Carvalho, 1975; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Quem tiver olhos azuis

[ Fui-te Ver, Estavas Lavando ]

[ Cantiga: ]

Quem tiver olhos azuis
Bem os pode arrecadar:
Os olhos azuis são poucos,
São custosos de alcançar.

[ Moda: ]

Fui-te ver, estavas lavando
No rio sem assabão;
Lavas em água de rosas,
Fica-te o cheiro na mão.

Fica-te o cheiro na mão,
Fica-te o cheiro no fato;
Se eu morrer e tu ficares,
Adora-me o meu retrato!

Adora-me o meu retrato,
Adora meu coração!
Fui-te ver, estavas lavando
No rio sem assabão.

[ Cantiga: ]

Menina, tire a camisa [bis]
Que tem à sua janela!
A camisa sem a dona [bis]
Lembra-me a dona sem ela.

[ Moda: ]

Fui-te ver, estavas lavando
No rio sem assabão;
Lavas em água de rosas,
Fica-te o cheiro na mão.

Fica-te o cheiro na mão,
Fica-te o cheiro no fato;
Se eu morrer e tu ficares,
Adora-me o meu retrato!

Adora-me o meu retrato,
Adora meu coração!
Fui-te ver, estavas lavando
No rio sem assabão.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda e Ruben Alves
Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)

Ribeira vai cheia

Ribeira vai cheia
e o barco não anda.
Tenho o meu amor
lá daquela banda.

Lá daquela banda
e eu cá deste lado;
ribeira vai cheia
e o barco parado.

(Popular – Alentejo)

Rompe a aurora

[ Primavera alentejana ]

Rompe a aurora, nasce o dia
iluminando o montado.
Como um hino à alegria
ouve-se balir o gado.

Roxo, verde e amarelo,
olho à volta é o que vejo.
Não há nada assim tão belo,
ó meu querido Alentejo.

Refrão:
Lindos campos verdejantes
matizados de papoilas,
já não são como eram antes
mondados pelas moçoilas.

Perfumados de poejo
os campos de solidão,
é assim o Alentejo
que trago no coração.

O melro canta no silvado,
o grilo no buraquinho,
e eu por ti apaixonado,
Alentejo, meu cantinho.

Refrão

Poema: Hermínia Gaidão Costa (em memória de Margarida Gaidão)
Música: Hermínia Costa / Rodapé
Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, 2004)

Rouxinol repenica o cante

Rouxinol repenica o cante
ao passar da passadeira.
Nunca mais tornas a Beja, oh ai,
sem passares à Vidigueira,

sem passares à Vidigueira,
sem ires beber ao falcante
e ao passar da passadeira, oh ai,
rouxinol repenica o cante.

Eu gosto muito de ouvir
cantar a quem aprendeu.
Se houvera quem me ensinara, oh ai,
quem aprendia era eu.

Rouxinol repenica o cante
ao passar da passadeira.
Nunca mais tornas a Beja, oh ai,
sem passares à Vidigueira.

Sem passares à Vidigueira,
sem ires beber ao falcante
e ao passar da passadeira, oh ai,
rouxinol repenica o cante.

Letra e música: Popular; adaptação: Vitorino
Intérprete: Vitorino (in “Os Malteses”, Orfeu, 1977; “Negro Fado”, EMI-VC, 1988)

Santa Vitória, Ervidel

[ O Homem da Campaniça (Ao Ricardo Fonseca) ]

Santa Vitória, Ervidel:
Minha cantiga é castiça,
Minha voz doce de mel,
Meus dedos na campaniça.

Rosa, Mariana, Maria:
Todas me ouviram cantar,
Fosse de noite ou de dia
Ou com um sol de abrasar.

Rasguei modas e cantares,
Dízimas disse, que eu fiz;
Andei por muitos lugares
Ora alegre ora infeliz.

Andei com moças brejeiras,
Mulheres feitas, ricas donas;
Dormi com elas nas eiras
E na apanha de azeitonas.

Inda hoje eu sou falado
Da serra à charneca inteira,
Pelo homem da campaniça
Tocando à sua maneira.

Com a minha campaniça
Nas tabernas, no baldão,
Toda a gente me conhece
De Beja a Corte Malhão…

Letra e música: Francisco Naia
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

São chegados os Três Reis

[ Reis ]

São chegados os Três Reis
à porta do lavrador
Se tem a mulher bonita
a filha é uma flor

Que cavalos são aqueles
que fazem sombra no Mar
São os três do Oriente
que a Jesus vão adorar

O menino chora, chora
porque anda descalcinho
Haja quem lhe dê as meias
que eu lhe dou os sapatinhos

Nossa Senhora lavava
e São José estendia
E o menino chorava
com o frio que fazia

Calai-vos meu menino
calai-vos meu amor
Isto são navalhinhas
que cortam sem dor

Saíram as três Marias
de noite pelo luar
Em busca do Deus menino
sem No poderem achar

Foram-No achar em Roma
vestidinho no altar
Com cálix d’oiro na mão
missa nova quer cantar

E dai-la esmola e… e dai-la esmola bem dada
Para quem, para quem vier pedir
que ela lhe, que ele lhe sirva de escada
Para quando, para quando ao céu subir

Letra e música: Popular (Redondo – Alentejo)
Intérprete: Janita Salomé / cantadores de Redondo (in CD “Vozes do Sul: uma celebração do cante alentejano”, Capella, 2000)

São saias

[ Saias dos Foros ]

São saias, meu bem, são saias;
São saias que andam na moda.
Segura-te, amor, não caias
Qu’ elas têm pouca roda!

Segura-te, amor, não caias
Qu’ elas têm pouca roda!
São saias, meu bem, são saias;
São saias que andam na moda.

Oh maçã encarnadinha
Bicada do rouxinol,
Se não fosses tão baixinha
Eras mais linda que o Sol!

Se não fosses tão baixinha
Eras mais linda que o Sol,
Oh maçã encarnadinha
Bicada do rouxinol!

Nos foros da Fonte Santa
Não se pode namorar:
De dia as velhas à porta,
À noite os cães a ladrar.

De dia as velhas à porta,
À noite os cães a ladrar.
Nos foros da Fonte Santa
Não se pode namorar.

Estas é que são as saias
Que cantam em Portugal:
Trouxeram-nas as ceifeiras
Na ponta do avental.

Trouxeram-nas as ceifeiras
Na ponta do avental;
Estas é que são as saias
Que cantam em Portugal.

Letra e música: Tradicional (Alto Alentejo)
Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)

Alto Alentejo, Castelo de Évora Monte
Alto Alentejo, Castelo de Évora Monte

São João se adormiceu

São João se adormiceu
No colo da sua tia;
Ricorda, João, ricorda,
Que amanhã é o teu dia!

No altar di São João
Há um copi de água benta;
São João subiu ao Céu
A pidiri por toda a gente.

Letra e música: Tradicional (Reguengos de Monsaraz, Alto Alentejo)
Recolha: Michel Giacometti (in “Portuguese Folk Music”: CD 4 – Alentejo, Strauss, 1998; “Música Regional Portuguesa”: CD 5 – Alentejo, col. Portugal Som, Numérica, 2008)
Intérprete: O Baú (in CD “Achega-te”, O Baú, 2012)

São saias, senhor

[ Saias de Abril ]

São saias, senhor, são saias
Para varar ao sol-pôr;
Se não varas as searas
O balho será pior.

As portas que Abril abriu
Ninguém as pode fechar;
Se não fosse a liberdade
Não podia aqui cantar.

São saias, senhor, são saias
Para varar ao sol-pôr;
Se não varas as searas
O balho será pior.

As portas que Abril abriu
Ninguém as pode fechar;
Se não fosse a liberdade
Não podia aqui pensar.

São saias, senhor, são saias
Para varar ao sol-pôr;
Se não varas as searas
O balho será pior.

São saias, senhor, são saias
Para varar ao sol-pôr;
Se não varas as searas
O balho será pior.

Letra: Tradicional do Alto Alentejo (refrão) e Há Lobos Sem Ser na Serra
Música: Tradicional (Alto Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Primeira versão: Vitorino com Sheila Charlesworth – “São Saias, Senhor, São Saias” (in LP “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975, reed. Movieplay, 1999; CD “Vitorino”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 43, Movieplay, 1994)

Se a morte fosse interesseira

[ Canta o Melro no Silvado – Amora Madura ]

Se a morte fosse interesseira,
Ai de nós o que seria:
O rico comprava a morte,
Só o po… só o pobre é que morria.

Canta o melro no silvado
E o rouxinol na ribeira;
Ó minha pombinha branca,
Quero ir… quero ir à tua beira.

Quero ir à tua beira,
Quero viver a teu lado;
Rola o pombo na azinheira,
Canta o par… canta o pardal no telhado.

Ó minha amora madura
quem foi que te amadurou?
Foi o sol e foi a lua
(Ó rique tique, piquenino)
e o calor que ela apanhou.

E o calor que ela apanhou
lá naquela chapadinha;
Ó minha amora madura,
(Ó rique tique, piquenino)
minha amora madurinha.

Ó minha amora madura
quem foi que te amadurou?
Foi o sol e foi a lua
(Ó rique tique, piquenino)
e o calor que ela apanhou.

E o calor que ela apanhou
lá naquela chapadinha;
Ó minha amora madura,
(Ó rique tique, piquenino)
minha amora madurinha.

Letra e música: Tradicional (“Canta o Melro no Silvado” – Alentejo / “Amora Madura” – Tôr, Loulé, Algarve)
Intérprete: Afonso Dias* (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)

Se eu for preso por cantar

[ Sarapateado ]

Se eu for preso por cantar
Não calarei a garganta;
Eu sou como o passarinho
Que até na gaiola canta.

Vai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Vai sim, meu bem, sarapateado. [bis]

À porta da minha sogra
Vem uma silva nascendo;
Todos passam, não se enleiam,
Só eu na silva me prendo.

Vai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Vai sim, meu bem, sarapateado. [bis]

Vai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Vai sim, meu bem, sarapateado. [4x]

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

Se fores ao Alentejo

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão:
Leva o coração aberto,
E ao lado do coração
Leva a rosa da justiça
E o teu filho pela mão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão:
Leva o teu braço liberto
Para abraçar teu irmão;
Esse irmão que está tão perto
Do teu aperto de mão
E que tão longe amanhece
Nos campos da solidão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão:
Leva a alegria de seres
Irmão de quem vai parir
Uma seara de trigo,
Uma charneca a florir,
Um rebanho e um abrigo
E um amanhã que há-de vir
Como se fosse outro amigo
Dentro do sol, a sorrir.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão:
Leva o coração aberto
E o teu filho pela mão.
Leva o coração aberto
E o teu filho pela mão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.

Letra: Eduardo Olímpio
Música: Carlos Alberto Moniz
Intérprete: Carlos Alberto Moniz
Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 2, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)

Semeei salsa ao reguinho

[ Semear Salsa ao Reguinho ]

Semeei salsa ao reguinho
Hortelã daquela banda
Para lograr os teus carinhos
Tive que andar em demanda

Tive que andar em demanda
Para lograr os teus carinhos
Hortelã daquela banda
Semeei salsa ao reguinho

Não julgues por eu cantar
Que a vida alegre me corre
Eu sou como um passarinho
Tanto canta até que morre

Letra e música: Popular (Alentejo)
Recolha e arranjo: Vitorino
Intérprete: Vitorino (in “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975; reed. Movieplay, 1999; CD “Ao Vivo A Preto e Branco”, Magic Music/Som Livre, 2007)

Senhora que és padroeira

[ Nossa Senhora do Carmo ]

Senhora que és padroeira
Da nossa terra hospitaleira

Nossa Senhora do Carmo
Que está no seu altar
Todos lá vamos ajoelhar
E a cantar, a cantar
Vamos rezar

Oremos p’la nossa voz
Nossa Senhora rogai por nós

Nossa Senhora do Carmo
Que está no seu altar
Todos lá vamos ajoelhar
E a cantar, a cantar
Vamos rezar

Unidos a uma voz
Nossa Senhora rogai por nós

Nossa Senhora do Carmo
Que está no seu altar
Todos lá vamos ajoelhar
E a cantar, a cantar
Vamos rezar

(Popular – Alentejo)

Sol baixinho

[ Moda de baile ]

Sol baixinho, sol baixinho,
Sol baixinho também queima;
Eu hei-de amar, sol baixinho,
Só p’ra seguir uma teima.

Cravo branco, não me prendas,
Que eu não tenho quem me solte!
Não sejas tu, cravo branco,
Causante da minha morte!

O meu pai é tocador,
Minha mãe é cantadeira:
Eu sou filho deles ambos,
Canto da mesma maneira.

Eu gosto muito de estar
Onde estão as raparigas:
Uma canta, outra baila
E a outra ouve as cantigas.

Letra e música: Popular (ilha de Santa Maria, Açores)
Recolha: Artur Santos (campanha de 1958) (in CD “O Folclore Musical nas Ilhas dos Açores: Antologia Sonora da Ilha de Santa Maria”, Açor/Emiliano Toste, 2002) [canta Virgínia de Andrade Cabral, acompanhada por violas de arame tocadas por António Augusto Cabral e João Soares
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996)
Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos com Orquestra Sinfonietta de Lisboa (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005) [ao vivo na TV Galicia com as Adufeiras de Monsanto, vozes do Alentejo e Orquestra Sinfonietta de Lisboa

Solidão, ai dão, ai dão

Solidão, ai dão, ai dão,
Para mim quer sim, quer não;
Vem a morte e leva a gente,
Quem não há-de ter paixão?

Quem não há-de ter paixão?
Quem paixão não há-de ter?
Solidão, ai dão, ai dão,
Resistir até morrer.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Bernardo Charrua “Calabaça” (in CD “Monda”, de Monda*, Monda/Tánaforja, 2016)

Suspirava por te ver

[ Ó Menina Florentina ]

Suspirava por te ver,
Já matei a saudade.
Muito custa uma ausência
P’ra quem ama na verdade.

Ó menina Florentina,
És a flor que em meu peito domina!
Seu amante, delirante,
De viagem chegou nesse instante.

Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé!
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló!
Já cá está tiro-liro-li, meu amor,
Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!

Anda cá para meus braços,
Se tu vida queres ter!
Os meus braços dão saúde
A quem está para morrer.

Ó menina Florentina,
És a flor que em meu peito domina!
Seu amante, delirante,
De viagem chegou nesse instante.

Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé!
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló!
Já cá está tiro-liro-li, meu amor,
Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!

Graças a Deus que chegou
Quem eu desejava ver:
Deu palavra, não faltou,
Assim é que deve ser.

Ó menina Florentina,
És a flor que em meu peito domina!
Seu amante, delirante,
De viagem chegou nesse instante.

Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé!
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló!
Já cá está tiro-liro-li, meu amor,
Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)

Tá preso o João Brandão

[ Mais Brando João Brandão ]

‘Tá preso o João Brandão
Às grades do Limoeiro;
Mais brando…
Às grades do Limoeiro.

Era rico, agora é pobre…
Olha o que faz o dinheiro!
Mais brando…
Olha o que faz o dinheiro!

Estando eu na minha loja,
Encostadinho ao balcão,
Mais brando…
Encostadinho ao balcão,

Ouvi uma voz dizer:
“‘Tá preso o João Brandão.”
Mais brando…
“‘Tá preso o João Brandão.”

Ouvi uma voz dizer:
“‘Tá preso o João Brandão.”
Mais brando…
Mais Brando João Brandão.

Letra: Popular (Alentejo)
Música: Monda
Intérprete: Monda com o Grupo de cantadores de Portel (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)

Trago um jardim no sentido

[ Jardim dos Sentidos ]

Trago um jardim no sentido,
Por ter sentido o que sinto:
Amor que não faz sentido
Num coração louco e faminto.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Coração louco e faminto,
Rosa que tenho sentido;
Jardim que anda perdido,
Por ter sentido o que sinto.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Por ter sentido o que sinto,
Amor que não faz sentido,
Jardim que anda perdido,
Trago um jardim no sentido.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Trago um jardim no sentido…

Letra e música: Pedro Mestre
Intérprete: Pedro Mestre com António Zambujo (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre com António Zambujo (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Uma estrela se foi pôr

[ Canção ao Menino ]

Uma estrela se foi pôr
Em cima duma cabana
A cabana era pequena
Não cabiam todos três
Adoravam o menino
Cada um da sua vez

E abram-se lá essas portas
Ainda não estão bem abertas
Que nasceu o Deus menino
Vou-lhe dar as Boas Festas

Boas Festas meus senhores
Boas Festas lhes vou dar
Que nasceu o Deus menino
Alta noite de Natal

E alta Noite de Natal
Noite de santa alegria
Que nasceu o Deus menino
Filho da Virgem Maria

Senhora dona da casa
Deixe-se estar que está bem
Mande-nos dar a esmola
Por essa rosa que aí tem

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in CD “Terra de Abrigo”, Ocarina, 2003)

‘Tá preso o João Brandão

Mais Brando João Brandão

‘Tá preso o João Brandão
Às grades do Limoeiro;
Mais brando…
Às grades do Limoeiro.

Era rico, agora é pobre…
Olha o que faz o dinheiro!
Mais brando…
Olha o que faz o dinheiro!

Estando eu na minha loja,
Encostadinho ao balcão,
Mais brando…
Encostadinho ao balcão,

Ouvi uma voz dizer:
“Está preso o João Brandão.”
Mais brando…
“Está preso o João Brandão.”

Ouvi uma voz dizer:
“‘Tá preso o João Brandão.”
Mais brando…
Mais Brando João Brandão.

Letra: Popular (Alentejo)
Música: Monda
Intérprete: Monda com o Grupo de cantadores de Portel (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)

Vai ao centro, vai ao meio

Vai ao centro, vai ao meio!
Agora vou andar
Com o meu amor em passeio;
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Vá de roda, cantem todas
Cada qual sua cantiga!
Eu também cantarei,
Eu também cantarei uma
Que a mocidade me obriga.

Vá de roda, cantem todas
Cada qual sua cantiga!
Que eu também cantarei uma
Que a mocidade me obriga.

Vai ao centro…

[ Moda: ]

Vai de centro ao centro ao centro!
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Com meu amor em passeio,
Com meu bem a passear,
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar.

[ Cantiga: ]

Vá de roda, cantem todos
Cada qual sua cantiga!
Que eu também cantarei uma
Que a mocidade me obriga.

[ Moda: ]

Vai de centro ao centro ao centro!
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Com meu amor em passeio,
Com meu bem a passear,
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar.

[ Moda: ]

Vai de centro ao centro ao centro!
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Com meu amor em passeio,
Com meu bem a passear,
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar.

[ Cantiga: ]

Minha mãe, p’ra m’eu casar,
Ofereceu-me uma panela;
Depois de me ver casada,
Partiu-me a cara com ela.

[ Moda: ]

Vai de centro ao centro ao centro!
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Com meu amor em passeio,
Com meu bem a passear,
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

Vai colher a rosa

Vai colher a rosa
Vai colhê-la, vai.
Se ela te picar
Não digas ai ai.

Não digas ai ai
Não digas ai ui
Vai colher a rosa
Vai, vai que eu também fui.

O meu lindo amor
Já não me visita
É certo que tem
Outra mais bonita.

Outra mais bonita
Outro bem querer.
O meu lindo amor
Já não me vem ver.

(Popular – Alentejo)

Vamos nós seguindo

Vamos nós seguindo,
por esses campos fora…
Que a manhã vem vindo
dos lados da aurora.

Dos lados da aurora
a manhã vem vindo.
Por esses campos fora,
vamos nós seguindo.

(Popular – Alentejo)

Verão

[ Verão, Alentejo e os Homens ]

Verão,
A brasa dourada e celeste
Queima este solo agreste
Doirando mais a espigas;
Ceifeiros, corpos curvados
Cortando e atando em molhos
A bênção loira da vida.

Meu Alentejo,
Enquanto isto se processa,
O sol ferino e sem pressa
Queima mais a tez bronzeada;
O suor rasga a camisa,
Homem queimado mais fica,
E a vida é feita de brasas.

O calor caustica os corpos,
Os ceifeiros vão ceifando
Sem parar o seu labor;
O seu cantar é dolente,
É certo que é boa gente,
É verdade e tem mais sol.

Música: Manuel Conde Fialho
Letra: Egídio Manuel dos Santos

(Informação de Nelson Conde, filho de Manuel Conde Fialho)

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Aveiro

A água do rio leva

A água do rio leva
Violetas ao comprido;
Ainda ontem me disseram
Que não casavas comigo.

Que não casavas comigo,
Que m’andavas a enganar;
Não hei-de casar contigo,
Nem se a morte me levar.

Eu casar contigo sim,
Mas por ora ainda não;
Amanhã por esta hora
Te darei o sim ou o não.

Amor, se queres que eu t’escreva
Dá-me a tua direcção!
Sou dali, de Óis da Ribeira,
Maria da Conceição.

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)

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Ao correr da queda de água

[ Fraga da Pena ]

Ao correr da queda de água
Fui lavar o sentimento:
Deixei acalmar a mágoa
Enquanto escutava o vento.

A saltar entre os penedos,
As águas vão ensinando
As lembranças e os segredos
Que a serra vai murmurando.

E as penas quem as apaga
Para a alma ficar serena?
Penas grandes como a fraga
São como a Fraga da Pena.

E as penas quem as apaga
Para a alma ficar serena?
Penas grandes como a fraga
São como a Fraga da Pena.

Enquanto a tarde se deita
Nas sombras da penedia,
A água aos poucos ajeita
O raiar do novo dia.

Trigueira de água nos dedos
Desce da serra apressada:
Vem a cantar pelos penedos
Para me saudar à chegada.

Enquanto a noite me afaga,
Enquanto a lua me acena,
Adormeço ao som da fraga:
Ao som da Fraga da Pena.

Enquanto a noite me afaga,
Enquanto a lua me acena,
Adormeço ao som da fraga:
Ao som da Fraga da Pena.

E as penas quem as apaga
Para a alma ficar serena?
Penas grandes como a fraga
São como a Fraga da Pena.

Enquanto a noite me afaga,
Enquanto a lua me acena,
Adormeço ao som da fraga:
Ao som da Fraga da Pena.

Letra: Sebastião Antunes
Música: Fernando Pereira
Intérprete: Real Companhia
Versão original: Real Companhia com Ana Laíns (in CD “Serranias”, Tê, 2013; CD “20 Anos Já Cá Cantam” (compilação), Tê, 2016)

Eu fui à barra do Porto

[ Real Caninha ]

Eu fui à barra do Porto
Com vento norte-suão,
Ó real caninha!
Com vento norte-suão,
Só para ver se alcançava
A filha do capitão.

Eu fui à barra do Porto
Com vento norte-nordeste,
Ó real caninha!
Com vento norte-nordeste,
Só para ver se alcançava
A filha do contramestre.

Tenho rendas que me rendem,
Não quero mais trabalhar,
Ó real caninha!
Não quero mais trabalhar;
Tenho um navio no Porto
Com janelas para o mar.

Eu fui à barra do Porto
Com vento norte-suão,
Ó real caninha!
Com vento norte-suão,
Só para ver se alcançava
A filha do capitão.

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo
Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Toques do Caramulo É ao Vivo!”, d’Orfeu Associação Cultural, 2007)

Eu fui p’ra aqui convidado

[ Passar de Mão ]

Depois de uma recolha na Serra do Baixo Caramulo levada a cabo por um grupo de aguedenses, liderado por Américo Fernandes, efectuou-se um agradável convívio durante o qual o repentista José Carlos, da aldeia de Falgaroso, da paróquia de Belazaima do Chão, porém da freguesia de Castanheira do Vouga, acompanhado pelo fundo de um regador de onde os seus dedos grossos retiraram um delicado batuque fadista, cantou os seguintes versos:

Eu fui p’ra aqui convidado
P’ra cantar modas antigas,
Mas em troca das cantigas
Fui muito bem tratado:
Enfardei leitão assado;
Buer, também buí bem.
Já dizia a minha mãe:
«Filho, ocupa o teu lugar!
Se houver tolos a pagar,
Não gastes nem um vintém!»

É teoria acertada,
Aproveito a ocasião;
Se me chamarem lambão
Até nem me importo nada.
À troca da desgarrada
Já comi um bom jantar;
Mas não posso cá voltar,
Pois é essa a minha pena:
À conta da minha cena
Ninguém me volta a convidar.

Mas, como eu, estão cá tantos,
Não vieram fazer nada:
Encheram foi a malvada,
Beberam tintos e brancos;
Fora de casa são francos,
Comem até rebentar,
Engolem sem mastigar…
Ah, que grande sofreguidão!
Se lhes dá uma congestão,
Ninguém os pode salvar.

E estes senhores da Bairrada
Vieram muito enganados:
Pagam a conta, coitados,
E não aprenderam nada;
Levam música gravada
Que não dá p’ra aproveitar,
Só se for p’ra recordar
O malogro deste dia,
É p’ra perderem a mania
De quererem coleccionar.

Letra: Tradicional (Falgarosa, Castanheira do Vouga, Águeda, Beira Litoral)
Informante: José Carlos
Recolha: Américo Fernandes (in “cancioneiro do Concelho de Águeda”, Org. Amílcar da Fonseca Morais, Câmara Municipal de Águeda, 2011 – p. 60-61)
Música: Tradicional (Beira Litoral)
Arranjo: Luís Fernandes
Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)

Eu no mar e tu no mar

[ É um ar que lhe dá ]

Eu no mar e tu no mar
Ai, andamos ambos perdidos:
Eu no mar desses teus olhos,
Ai, tu no mar dos meus sentidos.

É um ar que lhe dá,
É um ar que lhe deu;
Ai, é um ar que lhe dá,
Quem vira sou eu.

Quem me fora linho fino
Ai, ou retrós de qualquer cor
Para andar no teu peitinho
Ai, a servir de apertador.

É um ar que lhe dá,
É um ar que lhe deu;
Ai, é um ar que lhe dá,
Quem vira sou eu.

Julgavas que eu te queria,
Ai, olha o engano do mundo:
É que os meus olhos já navegam
Ai, noutro pocinho mais fundo.

É um ar que lhe dá,
É um ar que lhe deu;
Ai, é um ar que lhe dá,
Quem vira sou eu.

As noras gemem coitadas
Ai, quando lhes falta a corrente:
Também eu gemo e suspiro
Ai, quando tenho o amor ausente.

É um ar que lhe dá,
É um ar que lhe deu;
Ai, é um ar que lhe dá,
Quem vira sou eu.

É um ar que lhe dá…

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)

Fala-me, Rosa

Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.
Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.

Coradinha, olé, ó linda,
Coradinha, olé limão!
Toma lá esta laranja
Que eu dou-te o meu coração!

Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.
Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.

Quem perdeu o que eu achei:
Um lencinho de assoar?
Tinha três nós de ciúme,
Custaram-me a desatar.

Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.
Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.

Coradinha, olé, ó linda,
Coradinha, olé limão!
Dá-me os teus braços, ó Rosa,
Que eu dou-te o meu coração!

Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.
Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.

Quem perdeu o que eu achei:
Um lencinho quase novo?
Em cada ponta um suspiro
E no meio um ai que eu morro.

Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.
Fala-me, Rosa, a mim sozinha!
Verás como ficas coradinha.

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)

Morro de amor pelas águas da ria

[ Fado Moliceiro ]

Morro de amor
pelas águas da ria;
esta espuma de dor
eu não sabia.

Sou moliceiro
do teu lodo fecundo;
sou a Ria de Aveiro,
o sal do mundo.

Vara comprida,
tamanho da vida;
braço de mar,
a lavrar,
a lavrar.

Morro de amor
nesta rede que teço
e é no sal do suor
que eu aconteço.

Para além da salina
o horizonte me ensina
que há muito mar,
muito mar
para lavrar!
para lavrar!

Poema: José Carlos Ary dos Santos
Música: Carlos Paredes
Intérprete: Mariana Abrunheiro (in Livro/CD “Cantar Paredes”, Mariana Abrunheiro/BOCA – Palavras Que Alimentam, 2015)
Versão original: Carlos do Carmo (in LP “Um Homem no País”, Philips/Polygram, 1983, reed. Philips/Polygram, 1984, Universal, 2000, 2013; Livro/4CD “O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993”: CD5 – “Improvisos”, EMI-VC, 2003)

Nasci em terras de xisto

[ Serra do Açor ]

Nasci em terras de xisto
À beira do rio Ceira
Em lugar de Balsa sem Porto
Numa Serra onde o Açor pousou
Em leito de feno dormi

Cresci na terra do Sorgaço
Correndo em lameiros verdejantes
Ouvi o sopro dos ventos
Junto ao correr das levadas
Vi noite sem luar

Ouvi histórias de bruxaria
Lendas de lobisomens
D’almocreves e mouras encantadas
Vi sementeiras e colheitas
As malhas e debulhas

Saltei fogueiras de rosmaninho
Acendi o madeiro de Natal
Cantei janeiras pelo povoado
Cheirei alecrim e loureiro
Bebi chá de sabugueiro

Nadei nas águas do Alva
Na ponte que tem três entradas
Em Avô, terra de poetas,
Cantei baladas ao luar
Até o galo cantar

Que importa ser acordado
Dos sonhos desta noite
Pela coruja que é a Surga
Ou pelo sino da capela
Tudo isto existe, tudo isto é belo
Nada mudou, tudo está como era dantes…

Letra e música: Fernando Pereira
Intérprete: Real Companhia
Versão anterior: Real Companhia (in CD “Serranias”, Tê, 2013;
Versão original: Real Companhia (in CD “Real Companhia”, Profissom, 1997; CD “20 Anos Já Cá Cantam” (compilação), Tê, 2016)
Outras versões: Real Companhia (in CD “Em Tons de Pastel”, Tê, 2004); Real Companhia (in CD “Em Forma de Abraço”, Tê, 2005)

Nunca te ouvira

[ Ó Pedras Desta Calçada ]

Nunca te ouvira, nem conhecera,
Nunca te eu dera um sinal de amor:
Vem aos meus braços que eu dou-te um beijo!
Vem os meus beijos, linda flor!

Ó pedras desta calçada,
Levantai-vos e dizei
Quem vos passeia à noite,
Que de dia eu bem sei!

Ó pedras desta calçada,
Levantai-vos e dizei
Quem vos passeia à noite,
Que de dia eu bem sei!

Nunca te ouvira, nem conhecera,
Nunca te eu dera um sinal de amor:
Aos meus braços, aos meus beijos,
Aos meus braços, linda flor!

Ó pedras desta calçada,
Levantai-vos e dizei
Quem vos passeia à noite,
Que de dia eu bem sei!

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo
Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Toques do Caramulo É ao Vivo!”, d’Orfeu Associação Cultural, 2007)

Ó Bairrada

[ Vira Bairrês ]

Ó Bairrada, ó Bairrada,
Terra da minha Paixão,
Onde eu tenho os meus amores,
Ninguém me diga que não!
Terra da Minha Paixão!

Corri Arcos e Três Arcos,
Famalicão, Anadia…
Ao cruzeiro de Sangalhos
Fui encontrar quem eu queria;
Famalicão, Anadia…

Almas Santas da Areosa,
Dizei-me onde morais
Entre Aguada e Vidoeiro,
No meio dos pinheirais!
Dizei-me onde morais!

Letra e música: Tradicional (Bairrada, Beira Litoral)
Arranjo: Luís Fernandes
Intérprete: Toques do Caramulo
Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)

O brio das raparigas

O brio das raparigas,
Ela é minha namorada;
Ó i ó ai, diz a filha para a mãe:
Ó i ó ai, quero uma saia bordada.

Quero uma saia bordada,
Também quero fina meia;
Ó i ó ai, sapatinho à papo-seco,
Ó i ó ai, é bonita, não é feia.

O meu amor não é este
O meu amor traz chapéu;
Ó i ó ai, o meu amor ao pé deste
Ó i ó ai, parece um anjo do Céu.

O brio do rapaz novo
É o chapéu derrubado;
Ó i ó ai, corrente d’ouro ao peito,
Ó i ó ai, o cabelo ondulado.

Não sei se te diga “adeus”,
Se te diga “vou-me embora”;
Ó i ó ai, dizer adeus é saudoso,
Ó i ó ai, quem diz adeus logo chora.

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo com Sara Vidal (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)

O lugar de Macieira

O lugar de Macieira (ó ai ó larilolela)
Tem ladeiras a subir: (ó ai)
Quem lá tem os seus amores, (ó ai ó larilolela)
Vai ao céu e torna a vir. (ó ai)

O lugar de Outeiro da Vila (ó ai ó larilolela)
Tem carreiros de formigas (ó ai)
Aonde os rapazes vão (ó ai ó larilolela)
Vigiar as raparigas. (ó ai)

O lugar de Macieira (ó ai ó larilolela)
Tem ladeiras a subir: (ó ai)
Quem lá tem os seus amores, (ó ai ó larilolela)
Vai ao céu e torna a vir. (ó ai)

O lugar de Outeiro da Vila (ó ai ó larilolela)
Tem carreiros de formigas (ó ai)
Aonde os rapazes vão (ó ai ó larilolela)
Vigiar as raparigas. (ó-ó-ó ai)

Quem está sem amores sou eu; (larilolela)
Paciência, ó coração! (ó ai)
Não tenho p’ra quem olhar, (ó ai ó larilolela)
Deito os meus olhos ao chão. (ó-ó-ó ai)

Na Urgueira nasce o Sol, (ó ai ó larilolela)
No Ribeiro faz calor; (ó ai)
No lugar de Macieira (ó ai ó larilolela)
É que brilha o meu amor. (ó-ó-ó ai)

Quem está sem amores sou eu; (ó ai ó larilolela)
Paciência, ó coração! (ó ai)
Não tenho p’ra quem olhar, (ó ai ó larilolela)
Deito os meus olhos ao chão. (ó ai)

Na Urgueira nasce o Sol, (ó ai ó larilolela)
No Ribeiro faz calor; (ó ai)
No lugar de Macieira (ó ai ó larilolela)
É que brilha o meu amor. (ó-ó-ó ai)

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Arranjo: Luís Fernandes
Intérprete: Toques do Caramulo
Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo, com Elíseo Parra (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)

Macieira de Alcoba

Macieira de Alcoba

Ó trigueirinha

Ó trigueirinha, trigueirinha engraçada,
Ó trigueirinha, só tu és a minha amada!
Ó trigueirinha, trigueirinha do calor,
Ó trigueirinha, só tu és o meu amor!

Chamaste-me trigueirinha…
Trigueirinha é do pó da eira;
Hás-de me ver ao domingo
Como a rosa na roseira.

Ó trigueirinha, trigueirinha engraçada,
Ó trigueirinha, só tu és a minha amada!
Ó trigueirinha, trigueirinha do calor,
Ó trigueirinha, só tu és o meu amor!

Trigueirinha engraçada
Todo o mundo a cobiça:
Como domingo na igreja
Quem a vê não ouve a missa.

Ó trigueirinha, trigueirinha engraçada,
Ó trigueirinha, só tu és a minha amada!
Ó trigueirinha, trigueirinha do calor,
Ó trigueirinha, só tu és o meu amor!

Trigueirinha, trigueirinha,
Assim me chama o meu Pedro…
Não sou linda de espantar
Nem feia que meta medo.

Ó trigueirinha engraçada,
Ó trigueirinha, só tu és a minha amada!
…do calor,
Ó trigueirinha, ó meu amor!

Ó trigueirinha engraçada,
Ó trigueirinha, só tu és a minha amada!
…do calor,
Ó trigueirinha, ó meu amor!

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)

Olé, ó senhora mãe

Olé, ó senhora mãe,
Aquela menina agrada-me bem!
Olé, ó senhora mãe!

Olé, ó senhor, dai, dai
Uma esmola a mim, que eu não tenho pai!
Olé, ó senhor, dai, dai!

Letra e música: Tradicional (Talhadas, Sever do Vouga, Beira Litoral)
Recolha: Michel Giacometti (in LP “Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1970; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 3 – Beiras, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 4 – Beiras, col. Portugal Som, Numérica, 2008)
Intérprete: Segue-me à Capela (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa)
Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

Olha para a água!

Olha para a água!
Ri-te para mim!
Põe o pé na areia!
Faz assim, assim!

Meu amor não anda
Nada satisfeito:
Põe o pé na areia,
Faz assim a eito

Olha para a água!
Ri-te para mim!
Põe o pé na areia!
Faz assim, assim!

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo com o Coro Infantil EMtrad (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)

Onde vais, Maria Alice?

[ Maria Alice ]

«Onde vais, Maria Alice?
Onde vais tu a chorar?»
Vou chamar o meu marido,
Está na taberna a jogar.

Está na taberna a jogar
Com uma grande bebedeira:
Se eu casei para estar sozinha
Mais valia estar solteira.

Mais valia estar solteira,
Solteirinha estava bem:
Estava à sombra de meu pai,
Carinhos de minha mãe.

«Onde vais, Maria Alice?
Onde vais tu a chorar?»
Ai! ai! ai!
Ai! ai! ai!
Ai! ai! ai!

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Arranjo: Luís Fernandes
Intérprete: Toques do Caramulo
Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)

Pedrinhas da fonte

Pedrinhas da fonte cheiram a limão,
Eu tenho na sina de amar o João.

Sim, sim, Mariquinhas, sim!
Não, não, Mariquinhas, não!

Deixa amar quem ama,
Não tenhas paixão!

Pedrinhas da fonte cheiram a café,
Eu tenho na sina de amar o José.

Sim, sim, Mariquinhas, sim!
Não, não, Mariquinhas, não!
Deixa amar quem ama,
Não tenhas paixão!

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo com Sara Vidal (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)

Padre-Nosso que organizais festas

[ Padre-Nosso dos Músicos ]

Padre-Nosso que organizais festas:
Santificado seja o vosso dinheiro;
Venha a nós o vosso arame;
Seja feita a nossa vontade tanto no salão como no coreto;

Perdoai-nos algum toque falso
Ou alguma nota desafinada,
Assim como nós vos perdoamos o pedido de abatimento no preço,
E livrai-nos de festas gratuitas e a seco.

Ámen.

Letra: Tradicional (Águeda, Beira Litoral)
Informante: David Fernandes
Música: Hermeto Pascoal
Intérpretes: David Fernandes / Hermeto Pascoal & Aline Morena (2009, in CD “Mexe!”, de Toques do Caramulo, faixa 6, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)

Senhora do Livramento

Senhora do Livramento,
Livrai o meu namorado
Que me vai deixar sozinha
Ai meu Jesus, ai meu Jesus!
Pela vida de soldado!

As vossas tranças, Senhora,
São loiras como as espigas;
Senhora do Livramento,
Ai meu Jesus, ai meu Jesus!
Protegei as raparigas!

Hei-de bordar a toalha,
Senhora, do vosso altar,
E a camisa do meu noivo
Ai meu Jesus, ai meu Jesus!
Quando me for a casar.

Senhora do Livramento…
Senhora do Livramento…

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Arranjo: Luís Fernandes e Manuel Maio
Intérprete: Toques do Caramulo
Primeira versão discográfica de Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)

Toma lá esta Laranja!

[ Laranjinha ]

Toma lá esta Laranja!
Não digas que eu que ta dei!
Eu não tenho um laranjal,
Dizem que eu que a roubei.

Dizem que eu que a roubei
E acredita o povo todo;
A laranja foi criada
No laranjal do meu sogro.

No laranjal do meu sogro,
No quintal da minha avó:
O laranjal do meu sogro
Deu esta laranja só.

Letra e música: Tradicional (Beira Litoral)
Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Retoques”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2011)

Verde-Gaio, Pena Verde

[ Pena Verde ]

Verde-Gaio, Pena Verde,
Verde-Gaio, Pena Verde,
Pena, Verde-Gaio, Pena,
Gaio, Pena Verde, Gaio.

Verde-Gaio, Pena Verde,
(Ai!) Vem cantar ao meu jardim!
Põe o pé na manjerona,
(Ai!) O bico no alecrim!

Não há nada que mais cresça
(Ai!) Como o pé da melancia!
Quem tem o amor ausente
(Ai!) Chora de noite e de dia.

O Verde-Gaio é meu
(Ai!) Que me custou bom dinheiro:
Custou-me quatro vinténs
(Ai!) Lá no Rio de Janeiro.

Verde-Gaio, Pena Verde,
Verde-Gaio, Pena Verde,
Pena, Verde-Gaio, Pena,
Gaio, Pena Verde, Gaio.

Verde-Gaio, Pena Verde,
(Ai!) Empresta-me o teu vestido!
O meu vestido são penas,
(Ai!) Em penas ando vestido.

Ó terra da minha terra,
(Ai!) Sombra da minha ramada!
Eu hei-de voltar a ela
(Ai!) Ou solteira ou casada!

Verde-Gaio, Pena Verde,
Verde-Gaio, Pena Verde,
Pena, Verde-Gaio, Pena,
Gaio, Pena Verde, Gaio.

Letra e música: Tradicional (“Verde-Gaio” de Casal d’Álvaro, Espinhel, Águeda, Beira Litoral)
Arranjo: Luís Fernandes
Intérprete: Toques do Caramulo (in CD “Mexe!”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2016)

Gaio-verde
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Ilha da Madeira

A nossa Ponta do Pargo

A nossa Ponta do Pargo,
ela nove sítios tem,
começando pelo Lombo,
no Amparo a nossa mãe.

Depois segue a Lombadinha,
Salão de Cima também,
a Igreja de S. Pedro,
por padroeiro se tem.

E segue o Salão de Baixo,
grande valor nele encerra,
nele temos o farol,
que alumia o mar e a serra.

Mais o sitio do Serrado,
e a Ribeira da Vaca,
depois a Lombada Velha,
E o Cabo a que remata.

Esta nossa freguesia,
é zona de agricultura,
Também se canta e baila,
que a vida no campo é dura.

É a batata e a semilha
e o trigo para o nosso pão.
Também cultivamos vinho,
com foice e enxada na mão.

Se cultivam hortaliças.
Também os nossos legumes
e criamos animais,
com tradições e costumes.

Também temos boa fruta,
que é o pêro e a maçã
e com esforço e trabalho,
de toda esta gente sã.

Com trabalhos e canseiras,
plantamos nossas flores,
toda esta Ponta do Pargo,
Cantam a Deus seus louvores.

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A ponta de São Lourenço

A ponta de São Lourenço
É mais além um nadinha
Foi onde o rei deu à costa
Dentro das pernas da rainha.

Adeus ilha da Madeira
As costas te vou voltando
Não sei o que deixo nela
Que os meus olhos vão chorando.

À Paúl tão grande
Ao longe parece bem
Eu só queria ter
O que no Paúl tem.

A semana a cobiçar

[ Mourisca do Caniçal ]

A semana a cobiçar,
De amor ela me cobiça…
Se não lograr os teus olhos
Domingo não vou à missa!

No adro da igreja, naquele apertão,
O lenço que tinha roubaram-mo da mão.
Garota de seda de trinta mil cores…
Quem deitavas, velha, a voz de namoro?

Se não sabes onde eu moro…
Eu moro ali além,
Numa casinha de palha,
Sozinho mais minha mãe.

No adro da igreja, naquele apertão,
O lenço que tinha roubaram-mo da mão.
Garota de seda de trinta mil cores…
Quem deitavas, velha, a voz de namoro?

Ó senhor de longe, longe,
Ó senhor, d’onde vens?
Venho passar o Natal,
Natal, a casa da minha mãe.
Quem não entrar no caminho
P’ró ano já cá não vem.

No adro da igreja, naquele apertão,
O lenço que tinha roubaram-mo da mão.
Garota de seda de trinta mil cores…
Quem deitavas, velha, a voz de namoro?

São quatro p’ra baile
E cinco p’ra perto;
Eu brinco contigo
E dá-me tudo certo.

Letra e música: Tradicional (Madeira)
Recolha: Artur Andrade e António Aragão
Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)
Primeira versão [?]: Encontros da Eira (in CD “Retalhos de Tradição”, Almasud Records, 1998; CD “O Melhor dos Encontros da Eira”, Vidisco, 2002)

Caniçal
Caniçal (Madeira)

Da minha janela à tua

Da minha janela à tua
Do teu coração ao meu
Podia andar um navio
O navegador seria eu.

Ó mar alto, ó mar alto
Ó mar alto sem ter fundo
Mais vale andar no mar alto
Que andar nas bocas do mundo.

Quando o sobreiro der baga
A cortiça for para o fundo
Então se há-de acabar
Estas más línguas do mundo.

Se o mar fosse de azeite
Como é de água salgada
Eu ia lá fora e vinha
Sem pagar frete nem nada.

Sem pagar frete nem nada
Meu amor para o Brasil
Não pagava o passaporte
Meu amor sem de lá vir.

O meu amor me deixou só
Para amar outra menina
Mas as lágrimas que eu choro
Sai-me da testa para cima.

O meu amor me deixou só
Não por nada que eu fizesse
Foi só para amar uma louca
Isto é, casos que acontecem.

Trabalhai, dobrai o corpo
Se queres ser alguém
Olhai que nas eras de hoje
Quem não trabalha não tem.

Casei-me para descansar
Tomei dobrada canseira
Mais valia que eu tivesse
Em casa do meu pai solteira.

Tu dizes que eu sou tua
Em que papel assinei
O mundo dá muita volta
Deus sabe eu de quem serei.

Embala, preta, embala

[ Embalo da Madeira ]

Embala, preta, embala!
Embala-m’ esta menina,
Que a menina vai dormir
Porqu’ ela é pequenina!

E também tu, Maria,
Pede àquela cotovia
Que fale mais devagar,
Não vá João acordar!

Calai-vos, águas do moinho!
Mário, fala mais baixinho!
Deixa o menino dormir,
’tá no primeiro soninho.

Letra e música: Tradicional (Serra d’Água, Madeira)
Informante: Serafina da Silva (canto)
Recolha: Manuel Rocha (“Embalo”, in CD “Povo Que Canta: Recolhas Etnográficas num Portugal Desconhecido (2000/2003)”, faixa 11, EMI-VC, 2003)
Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

Era um anjo

Era um anjo, era um anjo
Meu Deus que eu tanto amei
Confesso que ainda o amo
E nunca o esquecerei.

Eu subi à ameixieira
Para apanhar uma ameixa
Arranjei um pechãozinho
O pai quer, a mão não deixa.

Nevoeiro, nevoeiro
Vai pr’a trás do teu palheiro,
Que hoje faço-te um bolo
E amanhã faço um brindeiro.

Ah mê Deus qu’eu já não posso
Subir a esta ladeira
Quand’eu chegar ao chãozinho
Eu vou dar uma carreira.

Há três dias que eu não como
Há quatro que não bebo vinho
Há cinco que eu não alcanço
Da tua boca um beijinho.

Esta é a moda da Ciranda

[ A Ciranda ]

Esta é a moda da Ciranda
É uma moda bem ligeira
Pra juntar as raparigas,
Como o trigo na joeira.

Coro

Ó Ciranda, ó cirandinha,
Vamos nos a cirandar
Vamos dar a meia volta,
Meia volta vamos dar.
Vamos dar a outra meia,
Adiante troca o par.

Adiante e troca o par,
Que o meu par já está trocado.
O amor que Deus me deu,
Aqui o tenho a meu lado.

A ciranda me convida
Para eu ir ao Cirão
Fiar uma maçaroca
Do mais fino algodão.

Vamos cantar a ciranda
Para animar este povo
Para alegria de todos
Desde o mais velho ao mais novo.

Estava a bela infanta

[ Cantiga da guerra ]

Estava a bela Infanta
No seu jardim assentada
Com pente de ouro fino
Os seus cabelos penteava.

Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma grande armada
Capitão que nela vinha
Muito bem a guardava.

Dizei-me vós capitão
Dessa tão formosa armada
Se vistes o meu marido
Na terra que Deus pisava.

Anda tanto cavalheiro
Naquela terra sagrada
Mas dizei-me vós senhora
Os sinais que ele levava.

Levava cavalo branco
De selim de prata dourada
Na ponta da sua lança
A cruz ele levava.

Eu sou de cá

Eu sou de cá, você de lá
Sou do lado da lagoa
De dia não tenho tempo
Há noite vou de canoa.

Dei um beijo, ela zangou-se
Dei outro ela sorriu
O terceiro que lhe dei
Foi ela que me pediu.

Refrão

Eu queria passar o rio
Do rio da Assomada
Eu queria falar com a moça
A velha é que me atrapalha.

Refrão

Dei um beijo numa preta
Cheirou-me a café torrado
Foi o beijo mais gostoso
Que a minha boca têm dado.

Refrão

A minha canoazinha
Que anda à roda de vapor
Ainda está para nascer
Quem vai ser o meu amor.

Refrão

No meio daquele mar
Está uma parreira de uvas
Não há faca que as corte
Lá se perdem de maduras.

Foram dizer a meu pai

Foram dizer a meu pai
Que eu namorava bem
Também o meu pai no seu tempo
Namorou a minha mãe.

Se eu quisesse amores
Tinha mais de um cento
Bonecos de palha
Cabeças de vento.

O meu amor ontem à noite
Pela vida me jurou
Que se ia deitar ao mar
Se ele vai eu cá não vou.

Foram dizer ao meu pai
Que eu namorava alto
Também meu pai no seu tempo
Namorou três e quatro.

No tempo que eu te amava
Não amava a mais ninguém
Amava noventa e nove
Contigo fazia cem.

Foram dizer a meu pai
Que eu casava no Lanço
Leve diabo quem lhe disse
Que nunca tenha descanso.

Dizes que te vais embora
O meu coração não te quita
Se eu procurar hei-de achar
Outra cara mais bonita.

Não passes à minha porta
Nem a pé nem a cavalo
Que o meu pai é lavrador
Não quer genro fidalgo.

No meio daquele mar
Está um pinheiro florido
Não há nada mais bonito
Que a mulher e o seu marido.

Se eu quisesse amores
Que me têm dado
Tinha a casa cheia
Até ao telhado.

O anel que tu me deste
Era de vidro e quebrou-se
A amizade que eu te tinha
Era de água e derramou-se.

Subi à ameixieira
Para apanhar uma bela ameixa
Fui falar à rapariga
O pai quer a mãe não deixa.

Deitei o limão correndo
À tua porta parou
Quando o limão tem malícia
Que fará quem o deitou.

Ó meu amor vem cá à noite
Tenho ceia para te dar
É café e milho frito
E beijinhos ao caminhar.

Se fores daqui para fora
Diz para que terra vais
Deixa-me o teu nome escrito
Numa pedrinha no cais.

Meu amor, ó meu amor
Que agravo de mim tiveste?
O terreiro já tem erva
Há tanto que aqui não vieste.

O meu amor diz que vinha
Diz que vinha, mas não veio
Amanhã pelas nove horas
Tenho carta no correio.

O meu amor vai-se embora
Não vale a pena chorar
A melhor coisa a fazer
É pôr outro em seu lugar.

Já lá vai o sol abaixo
Com Maria pela mão
Maria vai rosadinha
Manuel cor de limão.

Rapariga do diabo
Deus te queira dar saúde
Andava para te enganar
Rapariga nunca pude.

Tenho um castanheiro na serra
Não lhe ponhas o machado
Que a sombra do castanheiro
Tem o meu amor deitado.

Ajudai-me a cantar
Que eu não posso cantar só
O meu coração magoado
Só dele pode haver dó.

Os meus olhos de chorar
Já nenhuma graça tem
Já avisei os meus olhos
Que não chorem por ninguém.

Dei-lhe um limão correndo
Pela rua nova abaixo
Quanto mais o limão corre
Quantos mais amores acho.

Madeira

Madeira
É tão linda assim
É como uma linda rosa
Plantada no meu jardim.

Madeira toda
Cercada de mar
Toda ela é um jardim
Para os Madeirenses cheirar.

Os que visitam a Madeira
Ficam muito encantados
Em ver as lindas montanhas
E os seus lindos prados.

A Madeira é um jardim
No mundo não há igual
Suas belezas não têm fim
É filha de Portugal.

Nas serras do norte
Respiramos ar puro
Eu muito lá passei
É por isso que eu juro.

Fazem-se muitos remédios
Com o mel das abelhinhas
Quando dão à luz os bebés
As mulheres ficam meninas.

Madeira és
Para mim um jardim em flor
Onde colhi muitas flores
Para o altar do Senhor.

Madeira em ti
Está minha terra natal
Onde vivi e aprendi
A fugir de todo o mal.

Meu amor, o teu lencinho

Meu amor o teu lencinho
Guardo com muito carinho
Nunca mais te esqueças dele
Recorda na despedida.

Quando a minha partida
Me acenas com ele.
Vou pedir à Virgem Santa
Que me dê coragem tanta.

Que abrande a minha dor
Desse seu branco lencinho
Ter enxerga do bercinho
Onde embala o nosso amor.

Não sei o que fiz à Lua

Não sei o que fiz à Lua
Não me dá no terreiro
Vou mandá-la prender
Nas grades de um limoeiro.

Não sei o que fiz à Lua
Não me dá claridade
Vou mandá-la prender
Na cadeia da cidade.

Amarrei o sol à lua
Na ponta de um guardanapo
O sol era pequenino
Fugiu-me para um buraco.

Não te encostes à parreira

[ Em Tempo de Vindimas ]

Não te encostes à parreira
Qu’a parreira larga pó!
Encosta-te à minha cama:
Sou solteiro e durmo só!

Ai, venha vinho, venha vinho!
Venha mais meio galão!
Quem quiser beber vinho
Ponha a boca ao garrafão.

Ai, venha vinho, venha vinho!
Venha mais meia canada!
Quem quiser beber vinho
Ponha a boca na levada.

Ai Maria! Ai Maria!
Não é coisa que se faça:
Tu queres é beber o vinho
Daqui da minha cabaça.

Minha mãe não quer que eu beba
Nem vinho nem aguardente;
Nada no mundo me alegra,
Só contigo estou contente.

Se tu quiseres qu’eu cante,
Dá-me um copo de vinho!
Que o vinho é coisa santa,
Faz o cantar miudinho!

Se os senhores querem qu’eu cante,
Dêem-me vinho ou dinheiro!
Qu’esta minha gargantinha
Não é fole de ferreiro!

Se os senhores querem qu’eu cante,
Dêem-me vinho ou dinheiro!
Qu’esta minha gargantinha
Não é fole de ferreiro!

Letra: Popular (quadras recolhidas por Lília Mata, no Sítio da Ribeira dos Pretetes, Caniço, Santa Cruz, Ilha da Madeira)
Música: Carlos Alberto Moniz
Intérprete: Carlos Alberto Moniz
Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 2, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)

No meio daquele mar

No meio daquele mar
Tem uma parreira de uvas
Não há faca que as corte
Já se perdem de maduras.

A parreira dá-me um cacho
O cacho dá-me um baguinho
Quero fazer água pé
Já que meu pai não tem vinho.

Vim-me embora para a cidade
Que o campo já me aborrece
Dentro da cidade eu tenho
Quem penas por mim padece.

Subi ao céu numa escada
E desci num cacho de uvas
Só Deus é que pode ajudar
Estas pobres viúvas.

Meu amor vem cá à noite
Tenho uma coisa para lhe dar
Cafezinho, milho frito
E um beijinho ao caminhar.

O meu amor era um cravo

O meu amor era um cravo
Que aquele craveiro deu
E todo o mundo tem inveja
Daquele cravo ser meu.

Mandei fazer um jaleque
No Pico da Band’Além
Se não casares comigo
Não casas com mais ninguém.

Maria porque não tens
Uma cédula com’as outras?
A vontade era boa…
As moedas eram poucas!

Ó minha mãe

Ó minha mãe, minha mãe
Não me chame sua folha
Chama-me uma destravada
Que nasci para a triste vida.

Minha mãe, minha mãe
Triste vida sem mulher
É bonita corre a fama
É feia ninguém a quer.

Lua, lua
Lua, luar
Pega o meu filhinho
Ajuda-me a criar.

Quando eu era pequenina
Minha mãe me aninhava
Até eu adormecia
Com beijos que ela me dava.

Manuel mais Maria
São filhos da mesma mãe
Manuel é mais bonito
Maria que culpa tem?

Quando eu nasci à noite
Nem uma estrela brilhava
A lua minha madrinha
Lá no céu me alumiava.

Oh meu amor

Oh meu amor, meu querido,
Amor do meu coração,
Quem me dera te poder ver,
Que nunca mais te vi não.

Se tu visses o que eu vi,
Lá no Rio de Janeiro,
O macaco a bater palmas,
Na testa do sapateiro.

Mariquinhas da levada,
Rega o teu manjericão,
Que hoje eu sou levadeiro,
Amanhã serei ou não.

Quando estiver a morrer

Quando estiver para morrer
E para deixar esta vida
Jesus, Maria e José
Hão-de ser minha guarida.

Hão-de rodear-me o leito
Com carinho maternal
P’ra que as forças do inferno
Não possam fazer-lhe mal.

Jesus e a mãe santíssima
Mais o meu Pai São José
Com amor hão-de dizer-me:
Não foi vã a tua fé.

Todos três hão-de fazer-me
Ao morrer Cruz na testa,
São José fechar-me os olhos
A morte para mim é festa.

Que bom é deixar o mundo
Amparado por teus pés
Maria, Jesus e José
Não me deixarão jamais.

São Vicente

[ Hino de São Vicente ]

São Vicente, São Vicente
Capelinha à beira mar
Não esqueças São Vicente
Ande lá por onde andar.

Vem cá assim
Não fujas de ao pé de mim
Vem cá assim
Não fujas de ao pé de mim.

Com o povo de São Vicente
Nem a polícia se mete
Vamos todos prá rambóia
Nem que chovam canivetes.

São Vicente, te és linda terra

São Vicente tu és linda terra
Tu és minha, tu és singular
Não esqueças São Vicente
Andes lá por onde andar

Tens costumes bem antigos
Que honram a tua gente
Por toda a parte tem fama
O jaqué de São Vicente

Tuas serras alterneiras
Olhando o fundo da ribeira
Tuas paisagens verdejantes
As mais lindas da Madeira.

São Vicente mora no calhau
Casinha de pedra portinha de pau.

Sapato que a mim não serve

Sapato que a mim não serve,
Fora do meu pé deitei,
Não mim importa que outro logre,
Amores que eu rejeitei.

Se eu tivesse não pedia,
Coisa nenhuma a ninguém,
Como não tenho peço,
Uma filha a quem as tem.

Ó melro-preto vadio,
Vai cantar a onde quer,
É como o rapaz solteiro,
Enquanto não tem mulher.

Namorar não é pecado,
A quem é desimpedido,
Namorar homens casados,
É um desvairado sentido.

Em frente de mim estão olhos
Olhos que me estão matando
Tu vais dar contas a Deus
Das penas que me estás dando.

Todas nós formamos berço

Todas nós formamos um berço
Para Jesus adormecer
Em nós todas um sacrário
Para conosco ele cantar.

Trigo louro, trigo louro
Empresta-me a tua cor
Quero ir ao Calisberto
Servir a Nosso Senhor.

Cantiguinhas que eu sabia
Todas o vento me levou
Só as de Nossa Senhora
Na memória me ficou.

Carlos Alberto Moniz
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Amendoeiras em flor no Algarve

A virgem de Guadalupe

A virgem de Guadalupe
Quando vai pela ribeira,
Descalcinha pela areia
Parece uma rianceira.

Ondinhas vêm,
Ondinhas vêm,
Ondinhas vêm do mar,
Não te vás à rianceira
Não te vás amariar.

Cada vez que passo a ponte
Sempre te encontro lavando,
A formosura que tu tens
A água a vai levando.

Ondinhas vêm,
Ondinhas vêm,
Ondinhas vêm do mar,
Não te vás à rianceira
Não te vás amariar.

Letra e música: Popular
Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, public-art, 2004)

Rodapé

Abalei aqui por abaixo

[ Oração à Virgem ]

Abalei aqui por abaixo
Com o três horas serão
Encontrei a Virgem Pura
Com um ramalhete na mão.

Eu lhe pedi uma folhinha
E ela me disse que não
Eu lhe tornei a pedir
E me deu seu bem do cordão.

Zebelinha tecedeira
Tece-me este cordão
Que me deu a Virgem Pura
Sexta-Feira da Paixão.

Santo Antóino é meu pai
E São Francisco é meu irmão
Os anjinhos meus parentes
Ó que linda geração!

Popular – voz masculina (Monchique, Algarve)
Recolha de José Alberto Sardinha (1981) (in CD n.º 6 de “Portugal: Raízes Musicais”, JN/BMG, 1997)

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Ai que saudade tenho do meu canto

Ai que saudade tenho do meu canto, da minha terra!
Só vejo o mar adentro e o céu a te apartar.

Ai esta vida corre e roda, roda, ai, a moer;
Não há razão, mãe, para voltar sem que fazer.

Eu hei-de ir, eu hei-de voltar à terra, ao meu lugar!
Voltar à minha mãe, ao teu regaço, ao meu penar!

Meus olhos choram longe, ai, tão cansados de esperar…
Ai esta vida corre e roda, roda, ai, a moer;
Mas eu hei-de voltar à minha terra, ao meu lugar!

Meus olhos choram longe, ai, tão cansados de esperar…
Mas eu hei-de voltar à minha terra, ao meu lugar!

Letra: Macadame
Música: Tradicional (Loulé, Algarve)
Recolha: José Alberto Sardinha (“Janeiras”, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 6 – Algarve e Ilhas, BMG/JN, 1997)
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Algarve, o nome me está lembrando

[ Santa Maria, a Sem-Par ]

Algarve, o nome me está lembrando
Algarve, e a brisa passa a cantar.
E as sombras leva-as o vento voltando.
Silêncio, dizem as ondas do mar.

Morenas em bandos sobre açoteias
Janelas abertas sobre um palmar
Já vejo de longe as altas ameias
Já vejo Santa Maria, a Sem-Par.

Algarve, jardim de rosas vermelhas
Algarve, brancura de pedra e cal
Cidade dentro dum pátio sem telhas
Dormindo debaixo de um laranjal.

Nas praias, dedos de finas areias
Teu nome lembram ao vento a passar
Já vejo de longe as altas ameias
Já vejo Santa Maria, a Sem-Par.

Letra: José Afonso
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)

Algarve, serras mansas

Algarve, serras mansas onduladas
aos poucos aplanando-se em campinas,
praias de areia e rochas arrendadas,
verdes sapais e manchas de salinas

E o mar, mais pronto a calmas que a furores
às traineiras levando os pescadores,
peixes brilhando em raras pedrarias
e o mar, mais pronto a calmas que a furores

Às traineiras levando os pescadores
peixes brilhando em raras pedrarias,
matos floridos, árvores variadas,
farrobas, figos, amêndoas e citrinas.

Terras vermelhas, hortas afogadas
n’águas doces de noras e de minas
e o céu, tonto de sol, pintado a cores
de inverosímeis, múltiplos fulgores

Jardim das mil e uma fantasias
e o céu, tonto de sol, pintado a cores
de inverosímeis, múltiplos fulgores,
jardim das mil e uma fantasias.

Letra: António Balté
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)

Atira, caçador, atira

Atira, caçador, atira,
Lá no meio da parada!
O meu amor é galucho,
Atira mas não mata nada.

Atira mas não mata nada,
Atira, não mata ninguém,
Lá no meio da parada
Do quartel de Belém.

Atira, caçador, atira,
Lá no meio da parada!
O meu amor é galucho,
Atira mas não mata nada.

Atira mas não mata nada,
Atira, não mata ninguém,
Lá no meio da parada
Do quartel de Belém.

Eu fui caçar à tapada,
Cheguei lá muito feliz;
Encontrei a minha amada
E matei uma perdiz.

Sou galucho de infantaria,
Sou tropa no Alentejo
E sinto muita alegria
Quando na rua te vejo.

Atira, caçador, atira,
Lá no meio da parada!
O meu amor é galucho,
Atira mas não mata nada.

Atira mas não mata nada,
Atira, não mata ninguém,
Lá no meio da parada
Do quartel de Belém.

Eu fui-te ver ao montado
Sentada à porta do monte,
Com os teus olhos brilhantes
À espreita do horizonte.

Tinhas um sorriso aberto
Perfumando a atmosfera;
Eras a mais linda flor
Que me trouxe a Primavera.

Atira, caçador, atira,
Lá no meio da parada!
O meu amor é galucho,
Atira mas não mata nada.

Atira mas não mata nada,
Atira, não mata ninguém,
Lá no meio da parada
Do quartel de Belém.

Letra: Popular e Francisco Naia
Música: Popular
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

Canta na beirada andorinha

[ Laranjinha Doce ]

Canta na beirada andorinha
Chega a primavera e o amor
Uma vida inteira
Duas à espera
Noites sem dormir p’ra um beijo teu

Mil horas passadas sem saber
Horas, dias sem fim, o meu amor
Cantando dizia, noite e melodia
Pareceu-me um ano
Um só dia

Está chegando o tempo [do] ramo em flor
Laranjinha doce, meu amor
Espero por ti
Canto por aí
Vem cair, à noite, nos braços meus
Espero por ti
Canto por aí
Vem cair, à noite, nos braços meus

Nota: «”Laranjinha Doce”, Amor, Moça bonita, romance Algarvio…» (Zé Francisco)

Letra e música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)

Da beira-sonho lês

[ Amante do Mar ]

Da beira-sonho lês
o mar que tens aos pés
Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo;
poiso de mareantes
albergaste infantes
e à aventura afrontaste o mar alto;
de pele salgada vens
com o ar quente de quem
dos horizontes bebe o cheiro e a magia;
ó loira do meu Sul
minha fronteira azul
cais de embarque, proa e guia.

Fronteira de sonhos
aberta para o mar
em jeito sensual e quente;
velha majestade
com a tua idade
devias ser mais prudente;
tiveste aventuras
e hoje com as loucuras
do teu passado altaneiro
ainda continuas
amante do mar
e amor de marinheiro.

Da beira-sonho lês
o mar que tens aos pés
Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo;
poiso de mareantes
albergaste infantes
e à aventura afrontaste o mar alto;
de pele salgada vens
com o ar quente de quem
dos horizontes bebe o cheiro e a magia;
ó loira do meu sul
minha fronteira azul
cais de embarque, proa e guia.

Fronteira de sonhos
aberta para o mar
em jeito sensual e quente;
velha majestade
com a tua idade
devias ser mais prudente;
tiveste aventuras
e hoje com as loucuras
do teu passado altaneiro
ainda continuas
amante do mar
e amor de marinheiro.

Da beira-sonho lês
o mar que tens aos pés
Lagos que és pátria de Gil e Frei Gonçalo;
poiso de mareantes
albergaste infantes
e à aventura afrontaste o mar alto;
de pele salgada vens
com o ar quente de quem
dos horizontes bebe o cheiro e a magia;
ó loira do meu Sul
minha fronteira azul
cais de embarque, proa e guia.

Letra e música: Afonso Dias
Poema dito da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen (excerto de “Lagos II”, 1975, in “O Nome das Coisas”, Lisboa: Moraes Editores, 1977)
Intérprete: Afonso Dias com Tânia Silva (in CD “O Mar ao Fundo”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2015)

Da serra veste perfumes

[ De Sol a Sul ]

Da serra veste perfumes,
do levante inquietações.
Do tempo lhe vêm famas
do mar as consolações.

Velha Romana, Tuaregue,
maruja, aventureira,
dos mares sabida e da vida
sabe tudo, de matreira.

Minha loira, meu azul
faz-te ao mar, despe esse manto
de nevoeiro e de sal,
desnuda-te do quebranto
de seres ponto de partir.

Navega com rumo a ti,
descobre-te em Portugal,
teu porto é de hoje e aqui.
Velhas profecias,
meu 29 de Agosto.
Meu queijo de figo,
sueste agreste,
sol posto.
Meu Infante
navegante.
Cheiro a sardinha
no rosto.
Cidade, eu te escuto
tu me acolhes,
tu me afagas.
Regaço de mãe,
doce carícia de algas.
Varanda de sol a sul.
Gente firme não se cala.
Que o sonho se faça
pouco a pouco,
passo a passo.
Que a tristeza afogue
na largueza dum abraço.
Que a alegria canse
este cansaço.
É hoje que a gente
vai dizer como é que quer,
seja o bicho homem
ou o bicho seja mulher.
E que venha por bem
quem vier.

Letra e música: Afonso Dias
Intérprete: Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul“, Concertante, 1999; CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)

Lendas do País do Sul

Deus te salve, ó Rosa

– Deus te salve, ó Rosa
Claro Serafim,
Pastora formosa,
Que fazeis aqui?
– Estou guardando o meu gado,
Que eu aqui “deixi”.

– Deixai vosso gado,
Que eu o guardarei,
Quero ser vosso criado,
Linda flor, meu bem.

– Não quero criados
De meias de seda;
Não quero que as “arrompa”
Cá por estas estevas.

– Sapato e meia,
Tudo “arromparei”,
Para ser vosso criado,
Linda flor, meu bem.

– Vá-se já embora,
(E) não me dê mais penas,
Que daqui a nada vem meu amo
Trazer-me a merenda.

– Venha cá, senhora,
(E) Venha cá correndo
Que o amor é louco
Já me vai vencendo…

Letra e música: Tradicional (Aljezur – Algarve)
Recolha: Michel Giacometti
Intérprete: Chuchurumel (in CD “Posta Restante”, Edição de autor, 2007)

Chuchurumel, Posta Restante

Eia, Abu Bacre

[ Evocação a Silves ]

Eia, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves
e pergunta-lhes se,
como penso, ainda se recordam de mim.

Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer.

Ali moravam guerreiros como leões e brancas
gazelas. E em que belas selvas e em que belos covis.

Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado
brancas e morenas que produziam na minha alma
o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!

Quantas noites passei deliciosamente junto a um
recôncavo do rio
com uma donzela cuja pulseira rivalizava
com a curva da corrente!

O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.

As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me
como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões
do colo inimigo.

Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo
de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.

Eduardo Ramos, Cantico para Al Mutamid

Poema de Al-Mutamid (in “Portugal na Espanha Árabe”, vol. 1 – Geografia e Cultura, de António Borges Coelho, 1989)
Recitado por Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul”, Concertante, 1999)
Outras versões: António Baeta de Oliveira / Eduardo Ramos (in CD “Andalusino”, InforArte, 1999); Eduardo Ramos (in CD “Cântico para Al-Mutamid”, Ed. de Autor, 2005)

Eu já fui à tua horta

Eu já fui à tua horta
Eu já fui teu hortelão
Já comi da tua fruta
Não sei s’outros comeram ou não

Já foste à minha horta
Mas eu nunca lá te vi
Já comeste da minha fruta
Só num vento que t’eu vi

‘Tás pr’aí de boca aberta
Cara de sardinha crua
Se esta casa fosse minha
Punha-te já no meio da rua

Letra e música: Popular (Algarve)
Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro
Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)

Moçoilas, Já cá vai roubado

Faça “ai, ai”, meu menino

[ Embalo do Algarve ]

Faça “ai, ai”, meu menino,
Que a mãezinha logo vem!
Foi lavar os cueirinhos
À fontinha de Belém.

Vai-te embora, papá negro,
De cima desse telhado!
Deixa dormir o menino,
Está no sono descansado.

Embala, José, embala!
Embala suavemente,
Entretendo o inocente
Com esta cantiga em verso!

Dorme, dorme, meu menino,
Que a mãezinha logo vem!
Dorme, dorme, meu menino,
Que a mãezinha, ai, logo vem!

Letra e música: Tradicional (Alvor, Portimão, Algarve)
Recolha: Michel Giacometti (“Faça ‘ai, ai’, meu menino”, in LP “Algarve”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1962; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 5 – Algarve, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 6 – Algarve, col. Portugal Som, Numérica, 2008)
Intérprete: Segue-me à Capela*
Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

Ir à bóia de Santana

[ Bóia de Sentença ]

Ir à bóia de Santana
Tinha a sentença rezada
Essa bóia da sentença
Que por mim foi baptizada

Quem me rezou a sentença
Foi o meu patrão ratado
Tem mesmo cara de fome
E tem o nariz furado

Medicamentos me pôs
Lá na caixa de farmácia
P’ra os senhores vou contar
Até lhe acham graça

Um pouco de algodão
E “eneivaquim” contada
Pôs umas gotas de álcool
De mercúrio não me deu nada

Lá parti para a viagem
P’ra Freetown, ir pescar
Ir à ilha das bananas
São muitas horas p’lo mar

Tudo pode acontecer
Pode vir bem ou vir mal
Pode a gente adoecer
Ou apanhar temporal

Quando os patrões se opuseram
Esses homens nem falaram
Lá foram para a sentença
Foram e nem piaram

Esses que vão p’ra a sentença
Vão porque são obrigados
Mas a mim não mandam eles
Comigo estão enganados

Tanto que eles diziam
E nada os via fazer
Essas palavras serviam
P’ra outros homens perder

Garganta de rouxinóis
Com olhinhos de aldrabões
Dentes de mentirosos
E boca de trapalhões

Garganta de rouxinóis
Com olhinhos de aldrabões
Dentes de mentirosos
E boca de trapalhões

Trapalhões, trapalhões,
Trapalhões, trapalhões,
Trapalhões, trapalhões…

Letra: Hermínio José Machado
Música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)

“Leva, Leva!” (in LP “Algarve”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1962; “Portuguese Folk Music”: CD 5 – Algarve, Portugal Som/Strauss, 1998; “Música Regional Portuguesa”: CD 6 – Algarve, Portugal Som/Numérica, 2008)

Manelzinho

Manelzinho, ora você chora…
Você chora, alguém lhe deu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?

Tocam nos sinos no Porto
E o meu coração é teu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?

Manelzinho, ora você chora…
Você chora, alguém lhe deu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?

Anda lá para diante
Que eu atrás de ti não vou!
Não me pede o coração
Amar a quem me deixou.

Manelzinho, ora você chora…
Você chora, alguém lhe deu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?

Manelzinho, ora você chora…
Você chora, alguém lhe deu.
Qual seria a falsa ingrata
Que o Manelzinho ofendeu?

Letra e música: Tradicional (Algarve)
Arranjo: Artesãos da Música
Intérprete: Artesãos da Música
Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)

Mestre Zé cantou um dia

[ Faz Cá Falta a Armação ]

Mestre Zé cantou um dia
Teu nome, Maria Faia
Pouca gente então sabia
Dos índios da Meia-Praia
Gente honrada e lutadora
Em Lagos, Luz e meia arraia

Também nós somos do Sul
Da Vila Santa Luzia
Já cá canta o Ti Saul
E a velha sabedoria
Faz cá falta a armação
O saveiro e o calão

Os velhos lobos do mar
Que agora ficam em terra
Mandou a Europa de lá
Abateram embarcações
Os senhores da nova guerra
Mandam mais, são os patrões

Em Espanha fazem-se ao mar
E nós parados a ver
Na lota manda o espanhol
Onde exerce o seu poder
Enfrentemos mar e sol
Mais vale quebrar que torcer

Se há fé de tudo mudar
Em cada volta do mundo
Se o sal da baixa-mar
É igual ao que há no fundo
Vamos de novo lutar
Com a força do deus Neptuno

Também nós somos do Sul
Da Vila Santa Luzia
Já cá canta o Ti Saul
E a velha sabedoria
Faz cá falta a armação
O saveiro e o calão

Letra: Nuno Manuel Faria
Música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)

Meu Algarve, cheio de luz

Meu Algarve, cheio de luz,
és o sol que me ilumina,
u ma estrela que reluz,
o amor que me domina.

És o meu sol branco e doirado
a tua luz me seduz,
paraíso inconquistado,
meu Algarve, minha luz.

És o sol que me ilumina,
minha flor, meu girassol,
a semente que germina,
meu Algarve, cheio de sol.

És uma estrela a brilhar
a minha constelação,
um jardim à beira-mar,
a minha flor em botão.

Letra: Maria José Fraqueza
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)

Meu Algarve das baladas

[ Corridinho, corridinho ]

Meu Algarve das baladas
Não és bem como te cantam
Mais que moiras encantadas
Tens moiras que nos encantam

Corridinho, corridinho
Antes que a morte apareça
Corridinho, corridinho
Vamos lá viver depressa.

Cava a terra, pisa o mosto
Puxa a rede e continua
A ‘balhar’ até dá gosto
O suor que a gente sua

Corre, pula, rodopia
Até manhanita, moça
Já alugámos o dia
Mas a noite é toda nossa.

Tia Anica da Fuzeta
Tia Anica de Loulé
Da barra da saia preta
Ou da caixa de rapé.

Fala, fala se és capaz
Cantorica, bailarica,
Que no céu não poderás
Já sem corpo, Tia Anica

Letra: Leonel Neves
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)

Meu Algarve encantador

I. Meu Algarve encantador,
P’ra o poeta e p’ra o pintor
Tens motivos de sobejo…
Até eu, se tivesse arte,
Queria ao mundo mostrar-te
Como te sinto e te vejo.

II. Meu Algarve encantador,
A parte da tua alegria,
Tens o encanto, a magia,
Das amendoeiras em flor.

III. Meu q’rido Algarve, em Janeiro,
Ao turista endinheirado,
Escondes o corpo ulcerado
No fatinho domingueiro.

IV. Só vêem flores os olhos
Desses ilustres senhores,
Mas no Algarve, os abrolhos
São muito mais do que as flores.

V. Mas quem, como eu, o conhece,
Sabe que ele, infelizmente,
Por dentro é muito diferente
Do que por fora parece.

(António Aleixo, in Este Livro Que Vos Deixo, 1969)

Milho verde, milho verde

Deu-me a mim muito trabalho

Milho verde, milho verde
Milho verde, maçaroca
À sombra do milho verde
Namorei uma cachopa

Namorei uma cachopa
Namorei um rapazinho
À sombra do milho verde
Milho verde, miudinho

Milho verde, milho verde
Milho verde, folha larga
À sombra do milho verde
Namorei uma fidalga

Namorei uma fidalga
Namorei o meu amor
Milho verde, milho verde
E à sombra não faz calor

Nem chove nem faz calor
Nem chove nem cai orvalho
E o amor para ser meu
Deu-me a mim muito trabalho

Letra e música: Popular (Algarve)
Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro
Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)

Não há noite mais alegre

Não há noite mais alegre
Que a noite de Natal
Onde nasceu Deus Menino
Antes do galo cantar

Deu o galo três cantadas
Deu o menino nascido
Bendito seja o ventre
Qu’o trouxe nove meses escondido

E a mula como era maldosa
Destapava-o com a ferradura
Mas o boi como era manso
Destapava-o com a armadura

Deus a bem disse ao aboio
Deus lhe deu a bênção
Toda a terra aqui milagre
Toda ela cheira a pão

Sejam altas, sejam baixas
Sejam nada as dê lição
Cada bago dê um moio
Cada moio dê um milhão

Letra e música: Popular (Algarve)
Arranjo: Eduarda Alves; Margarida Guerreiro; José Martins
Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado “, 2001)

No Garb realça o azul deuses morenos

As Hespérides são moças algarvias

No Garb realça o azul deuses morenos
À doçura dos figos submetidos.
Vieram gregos. Ficaram Sarracenos.
Nardos enfolham seus nomes esquecidos.

À noite ordenham luas nos terraços,
Dão leite à sombra. Abrolham os perfumes.
Silêncio. Só de um lírio ouvem-se os passos.
Madruga a pesca, rompe um mar de lumes.

Esvoaçam suas túnicas de abelhas
Entre vinhas, seus bêbados recintos;
E quando a amendoeira nas orelhas
Põe flores, deram-lhe os deuses esses brincos.

Vem de turbante o sol e toma posse
De corpos, cactos, milhos e vinhedos.
Excita o açúcar na batata-doce
E despe as almas gregas dos penedos.

Ouro firme, crepúsculos de cinabre
Senhorio de azul. Balcões mouriscos.
Ferve a prata na pesca. O cheiro abre
No ar quente uma vulva de mariscos.

Jardins da Hespéria? Ninfeu de ondas macias,
O mar. As ninfas guardam os pomares.
As Hespérides são moças algarvias
Todas jasmim, da testa aos calcanhares.

Garb de praia e pele magia e lendas,
Branco de extasiadas geometrias.
Absorto o tempo. São gregas as calendas
Com pálpebras de mouras gelosias.

Laranjas, cal, areia e rocha ardente
Têm sede da luz que dá mais vida.
Índigos deuses. Ardor. Tudo é presente.
Causa clara de beira-mar garrida.

Poema de Natália Correia (in “O Armistício”, 1985)
Recitado por Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)
Outra Versão: Carla Moreira / Trupe Barlaventina (in CD “O Perfume da Palavra”, Concertante, 1999)

No Palácio das Varandas

[ Do Palácio das Varandas ]

No Palácio das Varandas
namorei moiras de sonho
escrevi meus versos de luz.
De ruiva cor eram o trono
e o sangue que me sangraram
com espadas sombras de cruz.
Naveguei Arade abaixo
‘té ao azul que gritava
Valentias de aventura.

Em preparos de abalada
do abrigo da enseada
fiz-me ao sonho e à sepultura
trepei agruras de pedra
espojei-me em areias de seda
nadei águas de amargura
Levei os cheiros do monte
plantei estevas no horizonte
flori o mar e a lonjura.

Num tempo antigo de igreja
a santidade da inveja
impôs-se a golpes de espada,
neste sul, do sul sobeja
mais geometria das almas
do que agressões de cruzada.
O Guadiana é travesso
e faz caber num só verso
um povo de duas águas.

Em capital de canções
manda o baile de emoções
esta orgia de poetas.
A velha Garb se ufana
de em mistérios ser estranha
como convém aos profetas.
A velha Garb se ufana
de em mistérios ser estranha
como convém aos profetas.

Hoje o Garb é ribeirinho
e o montanheiro, sozinho
é velhice e sais de pedra.
Da beira-mar para o sol
há que acender o farol
do norte que aponta a serra.
Da beira-mar para o sol
há que acender o farol
do norte que aponta a serra.

Letra: Afonso Dias
Música: Alfredo Correeiro
Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)

Nome de Maria

Nome de Maria
Tão bonito é
Salva-me a minha alma
Que ela vossa é

Que ela vossa é
Sempre o há-de ser
Salva-me a minha alma
Quando eu morrer

Quando eu morrer
Quando eu acabar
Salva-me a minha alma
Para bom lugar

Para bom lugar
Para o Paraíso
Salva-me a minha alma
Dia do Juízo

Dia do Juízo
Para a eternidade
Salva-me a minha alma
Mãe da Piedade

Mãe da Piedade
Senhora das Dores
Salva-me a minha alma
Mãe dos pecadores

Mãe dos pecadores
Senhora da Luz
Salva-me a minha alma
Meu doce Jesus

Meu doce Jesus
Mãe do Nazareno
Salva-me a minha alma
Para sempre, Ámen.

E Jesus é meu
E eu quero ser vosso
Por isso lhe rezo
Este Pai-Nosso.

Popular – voz feminina (Monchique, Algarve)
Recolha de José Alberto Sardinha (1981) (in CD n.º 6 de “Portugal: Raízes Musicais”, JN/BMG, 1997)

Ó água que vais correndo

[ Verde-Gaio ]

Ó água que vais correndo
Mansamente vagarosa,
Passa pelo meu jardim,
Rega-me lá uma rosa!

Água da Fóia corre alta,
Por canais vai à cidade;
Eu não sou rica, mas tenho
Amores à minha vontade.

O ladrão do Verde-Gaio
Foi-se gabar à rainha
Que era dono do morgado
E nem sequer sapatos tinha.

E nem sequer sapatos tinha
Nem dinheiro para os comprar;
O ladrão do Verde-Gaio
Foi-me falso no amar.

Eu tenho à minha janela
O que tu não tens à tua:
Um vaso de violetas
Que perfuma toda a rua.

Bem sei que me andais mirando
Por debaixo do chapéu;
Se eu não sou do vosso gosto
Quem quer anjos vai ao céu.

O ladrão do Verde-Gaio
Foi-se gabar à rainha
Que era dono do morgado
E nem sequer sapatos tinha.

E nem sequer sapatos tinha
Nem dinheiro para os comprar;
O ladrão do Verde-Gaio
Foi-me falso no amar.

O ladrão do Verde-Gaio
Foi-se gabar à rainha
Que era dono do morgado
E nem sequer sapatos tinha.

E nem sequer sapatos tinha
Nem dinheiro para os comprar;
O ladrão do Verde-Gaio
Foi-me falso no amar.

Letra e música: Tradicional (Algarve)
Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)

O Algarve é branco

O Algarve é branco, manchado
De espuma branca do mar
Quando o mar endiabrado
Anda com ela a brincar

O Algarve é branco
Nas belas chaminés tão rendilhadas
Das suas casas singelas
Todas de branco caiadas

O Algarve é branco nas praias
Quando as ondas, uma a uma
As vestem de brancas saias
Feitas de rendas de espuma

O Algarve é branco
Nas velas dos seus barcos navegando
Em mar azul, sem procelas
Que de branco o vão pintando

O Algarve é branco nos dias
Que as amendoeiras em flor
Lembram neve em terras frias
Tão semelhantes na cor

O Algarve é branco
À noitinha, quando a lua, ao despertar,
Enche a paisagem inteirinha
De luz branca de luar

O Algarve é branco
À noitinha, quando a lua, ao despertar,
Enche a paisagem inteirinha
De luz branca de luar

Letra: Elisa Maçanita
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)

Ó Maria, vem bailar

[ Bailarico Algarvio (Corridinho) ]

– Ó Maria, vem bailar o corridinho!
– Ó Manel, não me faltes ao respeito!
– Ó Maria, que as penas do teu peitinho…
E eu não sou Maneleto!
– Ó Maneleto, que eu já te tenho dito:
Cá comigo só se baila com preceito!
– Ó Maria, não sejas tão esquisita,
Que bailamos ao toque da concertina!
Raios me parta se há alguma mais bonita,
Ai que tem como tu a pele tão fina…

Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem!
Andas no ar como uma pena levezinha.
Só tenho pena que as penas que o peito tem,
Só tenho pena que as penas não sejam minhas…

Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem!
Andas no ar como uma pena levezinha.
Só tenho pena que as penas que o peito tem,
Só tenho pena que as penas não sejam minhas…

– Ó Maria, vem bailar o corridinho!
– Ó Manel, não me faltes ao respeito!
– Ó Maria, que as penas do teu peitinho…
E eu não sou Maneleto!
– Ó Maneleto, que eu já te tenho dito:
Cá comigo só se baila com preceito!
– Ó Maria, não sejas tão esquisita,
Que bailamos ao toque da concertina!
Raios me parta se há alguma mais bonita,
Ai que tem como tu a pele tão fina…

Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem!
Andas no ar como uma pena levezinha.
Só tenho pena que as penas que o peito tem,
Só tenho pena que as penas não sejam minhas…

Que bem que bailas, ó Maria, mas que bem!
Andas no ar como uma pena levezinha.
Só tenho pena que as penas que o peito tem,
Só tenho pena que as penas não sejam minhas…

Letra e música: Tradicional (Tavira, Algarve)
Recolha: Grupo Folclórico de Tavira
Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)

Cardo-roxo, Alvorada

O Sol é que alegra o dia

[ Arquinhos ]

Cantiga:

O Sol é que alegra o dia
Pela manhã quando nasce;
Ai de nós o que seria
Se o Sol um dia faltasse!

Moças, façam arquinhos!
Moças, façam arcadas
P’ra passar o meu benzinho,
P’ra passar a minha amada!

P’ra passar a minha amada,
O meu benzinho,
Moças, arquinhos!
Moças, arcadas!

P’ra passar o meu benzinho,
A minha amada, |
Moças, arquinhos!
Moças, arcadas!

O meu benzinho…

A minha amada…

Arquinhos (dança de roda)
Letra e música: Tradicional (Ourique / Castro Verde, Alentejo)
Informantes: Grupo Coral e Etnográfico “As Papoilas do Corvo” (Aldeia do Corvo), Manuel Bento (Aldeia Nova) e Pedro Mestre (Sete)
Recolha: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 36-37)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

Ó Sol, vibrante sol

[ O meu Algarve ]

Ó Sol, vibrante sol, do meu Algarve de oiro,
que fazes palpitar os peitos e os jardins
no mesmo grande amor, fecundo, imorredoiro,
que rebenta, na Vida, em olhos e jasmins:
ó Sol que pões no Céu um brilho violento
e fazes chamejar, ao longe, os horizontes,
que pões fogo no ar e pões brasas no vento
e que vais calcinar a epiderme aos montes,
adoro a tua luz vigorosa e sadia,
que modula no campo a música das cores,
que rega, em nossa alma, os cactos da Alegria
e esculpe nas sementes os bustos das flores.
Cai-me sobre o olhar: banha-me em teu fulgor,
ó Sol que pões no Céu um latejante azul:
Dá-me a tua alegria e dá-me o teu vigor,
ó Sol, imortal sol, do meu país do Sul…

Poema (excerto): João Lúcio (in “O Meu Algarve”, 1905)
Música: Pedro Guerreiro
Intérprete: Carla Moreira / Trupe Barlaventina (in CD ” Lendas do País do Sul “, Concertante, 1999)

Olá vizinha prenda o seu galo

Olá vizinha prenda o seu galo
Qu’a minha galinha ricócó
Quer namorá-lo
Quer namorá-lo
Eu não m’importa
Galo à janela ricócó
Galinha à porta

Cró, cró, cró
A galinha foi-se embora
E o galinho ficou só

Letra e música: Popular (Algarve)
Arranjo: Margarida Guerreiro; Teresa Muge
Vassouras: Eduarda Alves, Margarida Guerreiro, Teresa Colaço, Teresa Muge
Intérprete: Moçoilas (in CD “Já Cá Vai Roubado”, 2001)

Perguntei ao Sol

[ Ponta nova do Algarve ]

Perguntei ao Sol se viu
E à lua se conheceu,
Às estrelas se encontraram
Um amor que já foi meu.

Ponta nova do Algarve
Está feita numa romã,
Onde o meu amor passeia
Domingo pela manhã.

Domingo pela manhã
Na segunda-feira à tarde,
Está feita numa romã
Ponta nova do Algarve.

O meu amor é aquele
Que não me tira o chapéu,
Tem a porta para a rua
E o telhado para o céu.

Ponta nova do Algarve
Está feita numa romã,
Onde o meu amor passeia
Domingo pela manhã.

Domingo pela manhã
Na segunda-feira à tarde,
Está feita numa romã
Ponta nova do Algarve.

Letra e música: Popular (Algarve)
Recolha: José Alberto Sardinha (Castro Marim, 1994) (in CD n.º 6 de “Portugal – Raízes Musicais”, ed. JN/BMG, 1997)
Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Parainfernália”, Açor/Emiliano Toste, 2007)

Praia da Rocha

[ Fado de Portimão ]

Praia da Rocha, guitarra
Doirada que o mar dedilha
Ferragudo e a maravilha
Do castelo junto à barra

Mas quer chova ou faça sol
Quer o mar deixe ou não deixe
A cidade é um anzol
Portimão sonha com peixe

Como a foz do rio Arade
Como o cais de Portimão
Há-de haver tão lindos, há-de,
Mas mais lindos é que não.

Ah! Se o luar não vier
Às redes de Portimão
Luar de peixe a morrer
Antes do fim do Verão.

“Vá fome”
Diz Zé Fataça
Que outrora foi pescador
E é agora engraxador
Junto ao coreto da praça

Então a fome é verdade
E alguns vão buscar seu pão
A mil léguas do Arade
E do cais de Portimão.

Como a foz do rio Arade
Como o cais de Portimão
Há-de haver tão lindos, há-de,
Mas mais lindos é que não.

Letra: Leonel Neves
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)

Quatro horas da madrugada

[ Naufragou Valentina ]

Quatro horas da madrugada
Barcos p’rá pesca iam
Naufragou Valentina
Barco de Santa Luzia

Apelido Cavalo Raio
Que tanta fama deixou
À barra de Vila Real
Esse barco naufragou

Veio o vento de repente
Que nem um remate de bola
O barco que os salvou
Foi uma parelha espanhola

Aldemiro de Mateus
Seria o primeiro a faltar
Pela forte maresia
Arrebatado pelo mar

Manuel Milho e Joaquim
De suas mulheres se lembraram
Até que chegou a parelha
Que os naufragados salvava

Naufragou Valentina
Barco de Santa Luzia
O barco que os salvou
Barco de Punta Umbria

Para que fique na ideia
Esta grande e triste imagem
Se chegarem a naufragar
Nunca percam a coragem

Com toda a força gritava
Na maior aflição
O mestre fez desmerecer
A sua tripulação

Naufragou Valentina
Barco de Santa Luzia
O barco que os salvou
Barco de Punta Umbria

Naufragou Valentina
Barco de Santa Luzia
O barco que os salvou
Barco de Punta Umbria

Letra: Hermínio José Machado
Música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)

Quem vive nos ardis da ilusão

Quem vive nos ardis da ilusão
E, assim, vai fugindo do amigo
Poderá encontrar consolação?

Quando será que estarei
Livre de desdém tão fero
Cujos fortes esquadrões
Me dão guerra que eu não quero.
Juro pela luz altaneira
Que em suas tranças se divisa:
Não sou cobra traiçoeira
Das que mudam de camisa.

De negras madeixas
Amo uma gazela
Um sol é o seu rosto
E palmeira é ela
De ancas opulentas.
Há entre seus lábios
De néctar o gosto.
Ó sede, se intentas
Sua boca beijar
Não o vais lograr.
Ó sede, se intentas
Sua boca beijar.

No encanto não tem
Rival tal senhora,
E fora do sonho,
Quem bela assim fora?
Qual espadas seus olhos
Lhe brilham; e rosas
Lhe enfeitam a face
Na sombra vistosas
Mas se as vais olhar
As farás murchar.
Lhe enfeitam a face
Na sombra as rosas.

Dá paz ao ardor
De quem te deseja.
Contenta o amor
E faz dom de ti,
Vamos lá, sorri,
Quando a boca beija.
Me disse na hora:
“Pecar me refreia”
Respondi-lhe: “Ora!
Não é coisa feia.”
Me disse na hora:
“Pecar me refreia”

Uma vez era noite
De bem longa festa.
Eu adormeci
E ela acordou-me com esta:
“Teu sono vai longo,
Toca a levantar!”
Então me beijou
E eu pus-me a cantar:
“Fazem reviver
Teus lábios a arder!”.
Então me beijou
E eu pus-me a cantar.

Dá paz ao ardor
De quem te deseja.
Contenta o amor
E faz dom de ti,
Vamos lá, sorri,
Quando a boca beija.
Me disse na hora:
“Pecar me refreia”
Respondi-lhe: “Ora!
Não é coisa feia.”
Me disse na hora:
“Pecar me refreia”

Uma vez era noite
De bem longa festa.
Eu adormeci
E ela acordou-me com esta:
“Teu sono vai longo,
Toca a levantar!”
Então me beijou
E eu pus-me a cantar:
“Fazem reviver
Teus lábios a arder!”.
Então me beijou
E eu pus-me a cantar.

Eduardo Ramos, Andalusino

Poema (adaptado): Al-Mutamid (in “O Meu Coração é Árabe”, de Adalberto Alves)
Música: Eduardo Ramos
Intérprete: Eduardo Ramos (in CD “Andalusino”, InforArte, 1999; CD “Cântico para Al-Mutamid”, Ed. de Autor, 2005)

Rio Guadiana

Rio Guadiana, que vais p’ró mar
Correm-te as águas tão gentis
Em terra estranha…
Toma cuidado, olha que em Espanha
Criam-se as mágoas que me inquietam
Dum pesadelo…

Frescas manhãs em Abril
Onde andarão lembranças mil…

Clara Joana foi-se hoje embora
Deixa a saudade num portado
Ninguém a chora
A felicidade é coisa simples
Vai de barquinha rio abaixo
Nunca mais torna…

Frescas manhãs em Abril
Onde andarão lembranças mil…

Espelho da cara da nossa gente
Tira a confiança a quem te mente
Ai se te vejo no Alentejo
Sem laranjais, sem trigo d’oiro
És a fonte dos meus receios

Frescas manhãs em Abril
Onde andarão lembranças mil…

Vitorino, Flor de la Mar

Letra e música: Vitorino
Intérprete: Vitorino (in “Flor de La Mar”, EMI-VC, 1983; reed. 1992)

Siga a roda, siga ela

[ Romance da Donzela Guerreira ]

(“Siga a roda, siga ela,
Que agora se vai contar
A história duma donzela
Que à guerra vai guerrear!”)

– As guerras se apregoaram
Entre França e Aragão:
Ai de mim que já sou velho,
Sem ter um filho varão!…
Sem ter um filho varão!… ­

Responde a filha mais moça
Com toda a resolução:
– Venham armas e cavalos
Que eu serei filho varão. –

(“A roda sempre a girar,
Que a história vai começar!”)
– Tendes as tranças compridas,
Filha, conhecer-vos-ão.
– Venham pentes e tesouras,
Vê-las-eis cair no chão!
Vê-las-eis cair no chão!

– Tendes os olhos garridos,
Filha, conhecer-vos-ão.
– Quando passar pela armada
Porei os olhos no chão!

(“Vai rodando sem parar,
Que o baile está a animar!”)

– Tendes peitos muito altos,
Filha, conhecer-vos-ão.
– Venham fardas apertadas,
Que eles logo abaixarão!
Que eles logo abaixarão!

– Tendes as mãos muito finas,
Filha, conhecer-vos-ão.
– Venham já guantes de ferro,
De lá nunca sairão!

(“A donzela triunfou
E prá guerra caminhou!
Logo o capitão da armada
Dos seus olhos se encantou…
E julgando-a disfarçada,
Em casa se aconselhou.”)

– Convidai-o vós, meu filho,
Para convosco dormir;
Que se ele for mulher,
Não se há-de querer despir.

– Linda cama pra mulher,
Mas ai, quem a fora convidar…
Mas dois homens numa cama?
Quem os mandará açoitar!

(“Sem mais nada descobrir,
Torna ele a insistir.”)

– Convidai-o vós, meu filho,
Para ir ao rio nadar;
Que se ele for mulher,
Logo se há-de acobardar.

– Águas doces são pra damas,
Mas ai, quem as fora convidar…
Porém, não servem pra homens
Senão as águas do mar!

(“Roda agora c’o seu par,
Que a história vai terminar!”)

Monta, monta, cavaleiro,
Se me queres acompanhar;
Se quereis ser o meu marido,
Minha mão te quero dar!
Minha mão te quero dar!

Sete anos andei na guerra
Mas ai, E fiz de filho varão;
Ninguém me conheceu nunca
Senão o meu capitão:
Conheceu-me pelos olhos,
Que por outra coisa não!

Letra: Tradicional
Música: Vítor Reino
Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002)
Outras versões: Amélia Muge – Donzela Guerreira (in CD “Novas Vos Trago”, Tradisom, 1998); José Barros e Navegante – “Donzela que vai à guerra” (in CD “Rimances”, JBN, 2001)

Tem o poial de um vizinho

[ Toada de Aljezur ]

Tem o poial de um vizinho
o telhado de outro ao fundo:
entre eles passa um caminho
de ambos e de todo o mundo.

Topo das casas-escadas:
Castelo, quem lá te pôs?
Cobres moiras encantadas,
descobres várzeas de arroz.

Sonhar rosas, pedir cravos
bom é que aos pobres se oiça…
Que os corpos sejam escravos,
as almas são outra loiça!

Que os corpos sejam escravos,
as almas são outra loiça!
Sonhar rosas, pedir cravos
bom é que aos pobres se oiça…

Eis a capital da Serra
do Espinhaço de Cão!
Mato com nódoas de terra,
muita pedra, pouco pão.

Mato com nódoas de terra,
muita pedra, pouco pão.
Eis a capital da Serra
do Espinhaço de Cão!

Vila de Aljezur,
arrasada sejas
de cravos e rosas
até às igrejas!

(Se nada valem os montes
que o concelho anda a lavrar,
talvez venda os horizontes
que tem à beira do mar…)

(Talvez venda os horizontes
que tem à beira do mar…
Se nada valem os montes
que o concelho anda a lavrar.)

Vila de Aljezur,
arrasada sejas
de cravos e rosas
até às igrejas!

Que faz tanta casa junta
subindo uma encosta louca?
Diz talvez que a gente é muita,
diz talvez que a terra é pouca.

Diz talvez que a gente é muita,
diz talvez que a terra é pouca.
Que faz tanta casa junta
subindo uma encosta louca?

Vila de Aljezur,
arrasada sejas
de cravos e rosas
até às igrejas!

Letra: Leonel Neves
Música: Afonso Dias
Intérprete: Afonso Dias com Tânia Silva (in CD “O Mar ao Fundo”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2015)

Vai, minha lanchinha à vela

[ Lanchinha à Vela ]

Vai, minha lanchinha à vela
Lá longe o horizonte
Vejo nuvens de esperança
Notícias de Levante

Se o mar a mim me engana
Tormentas, tempestades
Vai, minha lanchinha à vela
Antes que seja tarde

Trago cheiro a maresia
Gengibre e fruta sã
Levo a brisa pela proa
Rainha, minha romã

Vai, minha lanchinha à vela
Que a noite não tem fim
Vai buscar a chama eterna
Canela e alecrim

Vai, minha lanchinha, vai
Por mares e marés
Vai em busca de bonança
Mostrar quem tu és

Vai, minha lanchinha à vela
Lá longe o horizonte
Vejo nuvens de esperança
Notícias de Levante [3x]

Letra e música: José Francisco Vieira
Intérprete: Zé Francisco & Orquestra Azul (in CD “Caminho de Mar e Luz”, José Francisco Vieira/Alain Vachier Music Editions, 2013)

Vê-se ranchos de raparigas

[ Al Algarve ]

Vê-se ranchos de raparigas
a desfolhar uma rosa,
cantando lindas cantigas,
formando bailes de roda.

Refrão:

Ai, Algarve, tens amendoeiras floridas!
Ai, Algarve, tens o nome da canção!
Ai, Algarve, tens tão lindas raparigas!
Ai, Algarve, tens tão lindo Portimão!

Envolvidas na canção
fazem arraiais de feira,
gritam “viva Portimão”,
viva a flor da amendoeira.

Envolvida nas cantigas
só eu ficarei no pó
que as amendoeiras despidas
causam pena, metem dó.

Letra: Anónimo
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)

Vimos dar as Boas Festas

Vimos dar as Boas Festas,
Já que Deus as nos deixou:
É nascido o Deus-Menino,
De manhã se baptizou.

Depois dele baptizado
Nesse tão humano dia,
Para a Glória foi levado
Com prazer e alegria.

Letra e música: Popular (Algarve / Estremadura)
Recolha: José Alberto Sardinha
Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002)

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Campino

Nesta terra há um rio

[ Fado Ribatejo ]

Nesta terra há um rio antigo de saudade
que nos dá vida e sonho e encantamento
e a paz que o campo tem e a verdade
de quem vive outro sítio, outro momento.

Ter o Tejo aqui, assim, ao pé da porta
é um berço de força e de saber.
Traz-se ao peito o gosto da paixão
enquanto o sol nos fala ao entardecer.

Viver assim é outro modo, outra maneira,
outra vida, outro sonho a comandar.
Passa o tempo escorregando à minha beira,
cantam-se fados à noite para lembrar

E o sol e a gente e o campo e a cidade
e a cheia, esse chão de água a cobrir tudo
e a alma imensa de um povo sem idade
não mudes tu, meu povo, que eu não mudo.

Nesta pátria Ribatejo se ama e canta
se dança, se trabalha e se resiste
e onde o peito alcance haverá chama
ninguém é mais alegre nem mais triste.

E doce e forte e sereno ao mesmo tempo
como os cavalos ao longe, ao pôr do sol
existe aqui um templo que é eterno
na lenda e no feitiço do Almourol.

E o sol e a gente e o campo e a cidade
e a cheia, esse chão de água a cobrir tudo
e a alma imensa de um povo sem idade
não mudes tu, meu povo, que eu não mudo.

Letra e música: Pedro Barroso
Intérprete: João Chora (in CDs “João Chora”, 1999; “Ao Vivo na Chamusca”, 2001)

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No Ribatejo

[ Canção do Ribatejo ]

Intérprete: João Chora

João Chora

João Chora

João Chora, cantor

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