Tag Archive for: Canções de Portugal

Alentejo na Primavera

A flor da branca amora

[ Marcela, Marcelinha ]

A flor da branca amora
Cai na água, faz-se em espuma;
Aqui está quem te namora
Sem falsidade nenhuma.

Lá nos campos, verdes campos,
Eu fui apanhar marcela,
Daquela mais miudinha,
Daquela mais amarela.

Daquela mais amarela,
Daquela mais miudinha,
Lá nos campos, verdes campos,
A marcela, marcelinha.

Fui beber à clara fonte,
Por baixo da flor da murta;
Fui mais por ver os teus olhos,
Que a sede não era muita.

Lá nos campos, verdes campos,
Eu fui apanhar marcela,
Daquela mais miudinha,
Daquela mais amarela.

Daquela mais amarela,
Daquela mais miudinha,
Lá nos campos, verdes campos,
A marcela, marcelinha.

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Intérprete: Afonso Dias
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)

A flor da branca amora

[ Marcela, Marcelinha ]

A flor da branca amora
Cai na água, faz-se em espuma;
Aqui está quem te namora
Sem falsidade nenhuma.

Lá nos campos, verdes campos,
Eu fui apanhar marcela,
Daquela mais miudinha,
Daquela mais amarela.

Daquela mais amarela,
Daquela mais miudinha,
Lá nos campos, verdes campos,
A marcela, marcelinha.

Fui beber à clara fonte,
Por baixo da flor da murta;
Fui mais por ver os teus olhos,
Que a sede não era muita.

Lá nos campos, verdes campos,
Eu fui apanhar marcela,
Daquela mais miudinha,
Daquela mais amarela.

Daquela mais amarela,
Daquela mais miudinha,
Lá nos campos, verdes campos,
A marcela, marcelinha.

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Intérprete: Afonso Dias
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)

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A luta é de quem trabalha

[ Ceifeira ]

A neve já está bem perto

[ O Padrinho ]

A neve já está bem perto
Daquela grande montanha
Virgem Maria é a mãe
E São José a acompanha

São José a acompanha
E acompanha o Deus Menino
Virgem Maria é a mãe
E São José é o padrinho

Diabo a Sete

Letra e música: Tradicional (Elvas, Alto Alentejo)
Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Parainfernália”, Açor/Emiliano Toste, 2007)

Adeus, malvas

[ O Triste ]

Adeus, malvas…
Adeus, malvas…
Adeus, malvas do Rossio!
Tarde ou nun…
Tarde ou nunca as pisarei.

Adeus, moças…
Adeus, moças…
Adeus, moças do meu tempo!
Tarde ou nun…
Tarde ou nunca voltarei.

Ó Triste, ó Triste,
Ó Triste, três vezes triste!
Ó Triste, ó Triste,
P’ra onde irá?

O rico…
O rico…
O rico se compadeça
Da desgra…
Da desgraça do Zé Brás.

A desgraça…
A desgraça…
A desgraça do Zé Brás
Foi a mor…
Foi a morte do Paneiro.

Com um lenço…
Com um lenço…
Com um lenço se enforcou
Às grades…
Às grades do Limoeiro.

Algum dia eu era

[ Erva-Cidreira ]

Algum dia eu era,
E agora já não,
Da tua roseira
O melhor botão.

Ó erva-cidreira
Que estás no alpendre,
Quanto mais se rega
Mais a folha pende.

Mais a folha pende,
Mais a rosa cheira;
Que ‘tás no alpendre,
Ó erva-cidreira.

Os olhos que olham
P’ró chão de repente,
Esses é que são
Os que enganam a gente.

Ó erva-cidreira
Que estás no alpendre,
Quanto mais se rega
Mais a folha pende.

Mais a folha pende,
Mais a rosa cheira;
Que ‘tás no alpendre,
Ó erva-cidreira.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda e Ruben Alves
Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)

Anda cá

[ Pombinha Branca ]

Anda cá, se tu queres ver!
Verás o que ainda não viste:
Verás dois olhos alegres
Chorando lágrimas tristes.

Oh minha pombinha branca,
Onde queres, amor, que eu vá?
É de noite, faz escuro,
Eu sozinho não vou lá.

Eu sozinho não vou lá,
Eu sozinho lá não vou;
Oh minha pombinha branca,
P’ra te amar inda aqui estou.

No quarto aonde eu durmo
Tudo são penas voando:
Umas causadas por mim,
Outras estás-mas tu causando.

Oh minha pombinha branca,
Onde queres, amor, que eu vá?
É de noite, faz escuro,
Eu sozinho não vou lá.

Eu sozinho não vou lá,
Eu sozinho lá não vou;
Oh minha pombinha branca,
P’ra te amar inda aqui estou.

Letra e música: Tradicional do Baixo Alentejo (aprendida com o grupo Modas à Margem do Tempo, em Évora)
Arranjo: Celina da Piedade e músicos participantes
Intérprete: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD1, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)

Anda cá, José se queres

Anda cá, José se queres
a tua roupa lavada,
ai, paga a uma lavadeira
qu’eu não sou tua criada.

Qu’eu não sou tua criada,
qu’eu não sou criada tua.
Ai, Ó José se me não queres,
ai, põe o chapéu, vai prá rua.

Põe o chapéu, vai prá rua,
põe o chapéu, vai prá estrada.
Ai, anda cá, José se queres
ai, a tua roupa lavada.

(Popular – Alentejo)

Aqui ninguém tem trabalho

[ Terra de Catarina (Baleizão, Baleizão)]

Aqui ninguém tem trabalho
E há muito para fazer:
Vieram de toda a parte,
Não tinham pão p’ra comer.

Ó Baleizão, Baleizão!
Ó terra de Catarina,
Onde nasceu e morreu
Por uma bala assassina,
Por uma bala assassina
Cravada no coração;
Ó terra de Catarina!
Ó Baleizão, Baleizão!

Tinha no peito a coragem,
Trazia os filhos na mão;
Ó terra de Catarina!
Ó Baleizão, Baleizão!

Ó Baleizão, Baleizão!

Ó terra de Catarina,
Onde nasceu e morreu
Por uma bala assassina,
Por uma bala assassina
Cravada no coração;
Ó terra de Catarina!
Ó Baleizão, Baleizão!

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

A ribeira quando enche

A ribeira quando enche
Leva o junco acamado
Traz-me tu em teu sentido
Que eu te trago em meu cuidado

A ribeira quando enche
Vai de pedrinha em pedrinha
O homem que leva a barca
Leva seu bem na barquinha

Leva seu bem na barquinha
Inda lhe digo outra vez
Quem namora sempre alcança
Um beijinho, dois ou três

Dizem que a folha do trigo
É maior que a da cevada
Também a minha amizade
Ao pé da tua é dobrada

(Popular – Alentejo)

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Canções do Alentejo

Canções do Alentejo

Canções do Alentejo

Acorda se estás dormindo

[ Janeiras de Évora ]

(Chegada à porta)

Acorda se estás dormindo
Nesse sono tão profundo,
Às portas te estão pedindo
P’rás almas do outro mundo.

E as almas do outro mundo
Batem aos vossos portados,
Acorda se queres ouvir
Das almas os tristes brados.

Tristes brados dão as almas
Isto é tudo bem certo,
P’ra quem vive arrependido
Está o sacramento aberto.

As almas do outro mundo,
Elas te mandam pedir,
Que lhes leves as esmolas
Q’elas não podem cá vir.

(Despedida)

E as esmolas que vós destes,
Se as destes com devoção,
Na terra terás o prémio
Lá no céu a salvação.

Letra e música: Popular (Alto Alentejo)
Recolha: Fernando Costa (em Évora, junto da Sra. Helena Jesus Grilo)
Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, public-art, 2004)

Adeus, Maria

— «Adeus, Maria, até quando,
Eu até quando não sei;
Cá ando no Ultramar, a pensar
No dia em que voltarei.

Espera por mim, se quiseres…
Faz o que tu entenderes;
Acho que deves pensar em casar,
Eu posso por cá morrer.

Ninguém o pode saber,
É uma carta fechada…
E depois te chamarão, pois então,
Viúva sem seres casada.»

— «Ó António, Deus te guie
Nos campos do Ultramar!
Eu penso em ti, cá solteira, há quem queira
Se tu nunca mais voltares.

Espero por ti, meu amor,
Eu d’outro não quero ser!
Nunca mais me casarei, que eu bem sei,
Serei tua até morrer!

A carta que me mandaste
Com um conselho imprudente…
Meu amor, para contigo eu te digo:
‘Inda fiquei mais ardente.»

Meu amor, para contigo eu te digo:
‘Inda fiquei mais ardente.»

Letra: António Pardelha
Música: Monda
Intérprete: Monda
Versão original: Monda com Katia Guerreiro (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)

Ai lei ai lari lari ló lé

[ O Deus Menino ]

Ai lei ai lari lari ló lé,
Jesus, Maria,
Jesus, Maria, José

Entrai pastorinhos, entrai
Por esses portais sagrados.
Vindo ver a Deus Menino,
Numas palhinhas,
Numas palhinhas deitado.

Se quereis criado,
Tratai-o com mimo,
Dêem-lhe leite,
Que ele é pequenino,
Tragam-lhe leite,
Para o Deus menino.

Letra e música: Popular (Baixo Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ceifeiros de Cuba” (in CD “Musical Traditions of Portugal”, Ed. Smithsonian Folkways, 1994)

Alecrim, alecrim aos molhos

Alecrim, alecrim aos molhos
por causa de ti
choram os meus olhos

Ai, meu amor,
quem te disse a ti
que a flor do monte
era o alecrim

Alecrim, alecrim doirado
que nasce no monte
sem ser semeado

Ai, meu amor,
quem te disse a ti
que a flor do monte
era o alecrim

Letra e música: Popular (Baixo Alentejo)
Versão instrumental: Opus Ensemble (in “Temas do cancioneiro Português”, EMI Classics, 1987, reed. 1998)

Almodôvar, nossa terra

Almodôvar, nossa terra
Quando eu de ti vivo ausente
O meu coração encerra
Uma saudade ardente

Uma saudade ardente
O meu coração encerra
Quando eu de ti vivo ausente
Almodôvar nossa terra

(Popular – Baixo Alentejo)

Ao passar a ribeirinha

[ Água Sobe, Água Desce ]

Ao passar a ribeirinha,
Água sobe, água desce;
Dei a mão ao meu amor
Antes que ninguém soubesse.

Se tu és o meu amor,
Dá-me cá abraços teus!
Se não és o meu amor,
Saúdinha, adeus, adeus!

À frente do amor,
Brincas tu, brincarei eu;
Anda cá para meus braços!
Ninguém te quer mais do que eu.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

Ao romper da bela aurora

Ao romper da bela aurora
Sai o pastor da choupana
Vem gritando em altas vozes
Muito padece quem ama

Muito padece quem ama
Mais padece quem adora
Sai o pastor da choupana
Ao romper da bela aurora

Toda a vida fui pastor
Toda a vida guardei gado
Tenho uma nódoa no peito
De me encostar ao cajado

Ao romper da bela aurora
Sai o pastor da choupana
Vem gritando em altas vozes
Muito padece quem ama

Muito padece quem ama
Mais padece quem adora
Sai o pastor da choupana
Ao romper da bela aurora

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Ganhões de Castro Verde (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, ACA “Os Ganhões”, 1997)

Aqui onde canto e ardo

[ Passarinho da charneca ]

Aqui onde canto e ardo
entre papoulas e cardo.
Sete palmos de charneca
são o tamanho de um home
medido em anos de fome,
pesado em anos de seca,
esquecido que teve nome
e que, sendo a morte certa,
vida desta não é d’home,
vida desta não é d’home,
passarinho da charneca.

Passarinho da charneca
entrou na gaiola aberta.
Já tem os olhos cegados
para que cante melhor
que o dono não é cantor.
Traz os colmilhos cerrados
vontades de mandador
e porque é dos mal mandados
julga assim mandar melhor
nos que lhe estão sujeitados,
passarinho da charneca.

Criei o corpo comendo
desta terra da charneca
ao entrar na cova aberta.
Só estou pagando o que devo,
eu sou devedor à terra.
A terra me está devendo,
a terra me está devendo.
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo,
eu pago à terra em morrendo,
passarinho da charneca.

Letra: Tradicional – Alentejo / João Pedro Grabato Dias
Música: Amélia Muge
Intérprete: Amélia Muge (in CD “Todos os Dias”, Columbia/Sony, 1994)

Às vezes me ponho eu

[ A Vila de Castro Verde ]

Às vezes me ponho eu
Na minha vida a pensar:
Quem eu era, quem eu sou,
Ao que eu havia de chegar!

A vila de Castro Verde
És uma estrela brilhante:
Como ela outra não há,
És a mesma que eras dantes.

És a mesma que eras dantes
Desta vila aproximada;
És uma estrela brilhante
Que está na História gravada.

Ó coração, não te assustes!
Quando ouvires cantar bem,
Entra e pede licença
Para cantares também!

A vila de Castro Verde
És uma estrela brilhante:
Como ela outra não há,
És a mesma que eras dantes.

És a mesma que eras dantes
Desta vila aproximada;
És uma estrela brilhante
Que está na História gravada.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

As vozes da minha fala

[ Portel Estás Satisfeito ]

As vozes da minha fala,
Como eram já não são:
Fazem a mesma diferença
Que o Inverno faz do Verão.

Portel estás satisfeito
Em ver teus filhos brilhar,
E até choras de contente
Em os ouvindo cantar.

Minha fala é baixinha,
Não a posso alevantar;
E mesmo assim, sendo baixinha,
Já m’a quiseram comprar.

Portel estás satisfeito
Em ver teus filhos brilhar,
E até choras de contente
Em os ouvindo cantar.

Em os ouvindo cantar
Até bate a mão no peito;
Em ver teus filhos brilhar
Portel estás satisfeito.

Brota a água

Brota a água da pedra bruta:
Sua luta, labuta,
De tudo dessedentar;
Ganha altura, desmesura
De tanto querer ser mar.

Corre campos, cria formas
Que nem ousara sonhar;
Dança ritmos, canta trovas
Antes de chegar ao mar.

A ciência que o mar tem
Não tem nada de pasmar:
Não há regato nem rio
Que ao mar não vá parar.

Brota a água da pedra bruta:
Sua luta, labuta,
De tudo dessedentar;
Ganha altura, desmesura
De tanto querer ser mar.

Corre campos, cria formas
Que nem ousara sonhar;
Dança ritmos, canta trovas
Antes de chegar ao mar.

Brota a água da pedra bruta:
Sua luta, labuta,
De tudo dessedentar;
Ganha altura, desmesura
De tanto querer ser mar.

Corre campos, cria formas
Que nem ousara sonhar;
Dança ritmos, canta trovas
Antes de chegar ao mar.

Letra e música: Pedro Mestre
Intérprete: Pedro Mestre com Janita Salomé (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre com Janita Salomé (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Caminhos do Alentejo

Caminhos do Alentejo.
Terra bravia de fomes
com piteiras aceradas
como pontas de navalhas
em esperas de encruzilhadas!
Caminhos do Alentejo.
Desde valados e sebes,
searas, vilas, aldeias
e chuvas e descampados
— caminhos do Alentejo
desde menino vos piso!

Poema: Manuel da Fonseca (excerto inicial da parte I de “Para um poema a Florbela”)
Música: Paulo Ribeiro
Arranjo: Jorge Moniz
Intérprete: Paulo Ribeiro
Versão original: Paulo Ribeiro com Vitorino (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Campaniça do despique

Campaniça do despique,
Na venda e bailes de roda:
Dedilhando o improviso
Ou trauteando uma moda.

Na rua do velho monte,
Com as moças a bailar
Os passos simples duma dança
E a viola a dedilhar.

Nas feiras e romarias,
Na serra e no alambique,
Na venda e bailes de roda:
Campaniça do despique.

O tocador da viola
É feio mas toca bem;
Se não casar por a prenda,
Formosura não a tem!

Campaniça do despique,
Na venda e bailes de roda:
Dedilhando o improviso,
Ou trauteando uma moda.

Na rua do velho monte,
Com as moças a bailar
Os passos simples duma dança
E a viola a dedilhar.

Nas feiras e romarias,
Na serra e no alambique,
Na venda e bailes de roda:
Campaniça do despique.

Letra e música: Pedro Mestre
Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Canta alentejano

Canta alentejano, canta,
o teu canto é oração,
tens a alma na garganta
solidão, ai não, ai não!

Solidão, ai não, ai não!
Quem canta, seu mal espanta.
O teu canto é oração:
canta, alentejano, canta!

Eu gosto muito de ouvir
cantar a quem aprendeu.
Houvera quem me ensinara,
quem aprendia era eu!

Popular alentejano

Cantam as filhas da Rosa

[ Filhas da Rosa ]

Cantam as filhas da Rosa,
Respondem lá do jardim:
Olaré, quem canta, canta assim!

A minha fala não é
A mesma que era algum dia:
Quem ouvia a minha fala
E o meu nome conhecia.

Cantam as filhas da Rosa,
Respondem lá do jardim:
Olaré, quem canta, canta assim!

E o cantar parece bem,
E é uma prenda bonita:
Não empobrece ninguém
Assim como não enrica.

Cantam as filhas da Rosa,
Respondem lá do jardim:
Olaré, quem canta, canta assim!

Se eu soubesse cantar bem
Nunca estaria calado;
Mesmo assim cantando mal
Não vivo desmarginado.

Cantam as filhas da Rosa,
Respondem lá do jardim:
Olaré, quem canta, canta assim!

Não julgues por eu cantar
Que a vida alegre me corre;
Eu sou como o passarinho:
Tanto canta até que morre.

Cantam as filhas da Rosa,
Respondem lá do jardim:
Olaré, quem canta, canta assim!

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha com grupo Alma Alentejana (in CD “Proibido Adivinhar”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2015)

Chamava-se Catarina

Em Memória de uma Camponesa Assassinada
– Cantar Alentejano

Chamava-se Catarina,
O Alentejo a viu nascer;
Serranas viram-na em vida,
Baleizão a viu morrer.

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr;
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou.

Acalma o furor, campina,
Que o teu pranto não findou!
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou.

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si;
Ó Alentejo queimado,
Ninguém se lembra de ti!

Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar;
Ó Alentejo esquecido,
Inda um dia hás-de cantar!

Letra: António Vicente Campinas
Música: Carlos Paredes (“Em Memória de uma Camponesa Assassinada”) e José Afonso (“Cantar Alentejano”)
Intérprete: Mariana Abrunheiro com o Grupo Coral “Estrelas do Sul” de Portel (in Livro/CD “Cantar Paredes”, Mariana Abrunheiro/BOCA – Palavras Que Alimentam, 2015)
Versão original (“Em Memória de uma Camponesa Assassinada”): Carlos Paredes (1973) (in CD “Na Corrente”, EMI-VC, 1996, Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/4CD “O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993”: CD3 – “Danças”, EMI-VC, 2003)
Versão original (“Cantar Alentejano”): José Afonso (in LP “Cantigas do Maio”, Orfeu, 1971, 1982, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art’Orfeu Media, 2012)

Como podem ser iguais

[ Só Uma Pena Me Existe ]

[Cantiga:]
Como podem ser iguais
Os dedos das nossas mãos,
Se há filhos dos mesmos pais
Que não parecem irmãos?

[Moda:]
Só uma pena me existe,
Minha doce saudade:
É olhar para o teu rosto,
Ver-te assim tão pouca idade.

Ver-te assim tão pouca idade,
Ver-te assim tão criancinha;
Só uma pena me existe,
Minha doce jovenzinha.

[Cantiga:]
Lá por trás daquele outeiro,
Nasce o sol e nasce a lua;
Ando à procura, não acho
Cara mais linda que a tua.

[Moda:]
Só uma pena me existe,
Minha doce saudade:
É olhar para o teu rosto,
Ver-te assim tão pouca idade.

Ver-te assim tão pouca idade,
Ver-te assim tão criancinha;
Só uma pena me existe,
Minha doce jovenzinha.

Só uma pena me existe,
Minha doce saudade:
É olhar para o teu rosto,
Ver-te assim tão pouca idade.

Ver-te assim tão pouca idade,
Ver-te assim tão criancinha;
Só uma pena me existe,
Minha doce jovenzinha.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda e Ruben Alves
Intérprete: Monda
Versão original: Monda com Rui Veloso (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)

Dançando, puleando

Dançando, puleando, brinca mais ele!
Dançando, puleando, brinca mais ela!
Dançando, puleando, brinca mais ele!
És uma rosa amarela!

Anda daí, vem dançar
Em cima deste ladrilho!
Anda agora muito em moda
Colher a flor ao junquilho.

Dançando, puleando, brinca mais ele!
Dançando, puleando, brinca mais ela!
Dançando, puleando, brinca mais ele!
És uma rosa amarela!

Quando eu vejo uma velhinha
Com as saias a arrojar,
Lembra-me a minha avozinha
No seu modesto trajar.

Dançando, puleando, brinca mais ele!
Dançando, puleando, brinca mais ela!
Dançando, puleando, brinca mais ele!
És uma rosa amarela!

Dizem do amor que mata…
Ai quem me dera morrer!
Vale mais morrer de amores
Do que de amores padecer.

Dançando, puleando, brinca mais ele!
Dançando, puleando, brinca mais ela!
Dançando, puleando, brinca mais ele!
És uma rosa amarela!

Dançando, puleando, brinca mais ele!
Dançando, puleando, brinca mais ela!
Dançando, puleando, brinca mais ele!
És uma rosa amarela!…

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Arranjo: Artesãos da Música
Intérprete: Artesãos da Música
Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)

De dia sonho contigo

[ Vira do Dia ]

De dia sonho contigo,
À noite aqui te quero;
Esquecer-te não consigo,
De não te ter desespero.

Oh meu amor, quem te vira
Trinta dias cada mês,
Sete dias da semana,
Cada instante uma vez!

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Acordo, sonho contigo,
Fecho os olhos, só te vejo;
Firme como o firmamento
Só o bem que nos desejo.

É num sonho que começa
O amor na vida inteira;
Quem me dera viver sempre
A sonhar desta maneira.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

É num sonho que começa
O amor na vida inteira;
Quem me dera viver sempre
A sonhar desta maneira.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Nasce o dia, vem a noite,
Põe-se o Sol, torna-se a pôr;
Vejo-te, torno-te a ver
Cada vez com mais amor.

Letra: Tradicional do Alentejo, Macadame e Catarina Gouveia
Música: Macadame
Intérprete: Macadame
Versão original: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Debaixo do lenço azul

[ Maria Campaniça ]

Debaixo do lenço azul com sua barra amarela
os lindos olhos que tem!
Mas o rosto macerado
de andar na ceifa e na monda
desde manhã ao sol-posto,
mas o jeito
de mãos torcendo o xaile nos dedos
é de mágoa e abandono…
Ai Maria Campaniça,
levanta os olhos do chão
que eu quero ver nascer o sol!

Poema: Manuel da Fonseca (in “Rosa-dos-Ventos”, Lisboa: Imprensa Baroeth, 1940; “Poemas Completos”, Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1958; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 3.ª edição, Lisboa: Portugália Editora, 1969 – p. 38; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 60)
Música: Paulo Ribeiro
Arranjo: Jorge Moniz
Intérprete: Paulo Ribeiro
Versão original: Paulo Ribeiro (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Deixei de olhar p’ra quem fui

[ Cantiga do Tempo Novo ]

Deixei de olhar p’ra quem fui,
Do passado estou ausente;
Às vezes mais vale a pena
Rir de tudo o que faz pena
Da alma triste da gente.

Vou lançar mãos à aventura,
Correr noutra direcção;
Quanto mais nos lamentamos
Ainda mais presos ficamos
E nos dói o coração.

Quando me ponho a pensar
Em alguém que tanto quis,
Já não me sento a chorar
E até me dá p’ra cantar
Modas que um dia lhe fiz.

Agora sinto-me livre,
Sem nada p’ra me prender:
E vou pela estrada fora
Rumo ao sul, vou sem demora,
Basta o sol p’ra me aquecer.

A nossa vida é um mar
Com muitas marés e vagas:
Não temos nada a perder,
O melhor mesmo é viver
Combatendo as nossas mágoas.

Tenho o mundo à minha espera,
Há ilhas por descobrir:
E há uma vontade nova,
Um tempo que se renova,
Novo amor que vai surgir.

Letra e música: Paulo Ribeiro
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Versão original: Paulo Ribeiro com o Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” (in CD “Aqui Tão Perto do Sol”, EMI-VC, 2002)
Outra versão de Paulo Ribeiro (in CD “Canções 1998-2002”, Paulo Ribeiro, 2014)

Deste-me uma pêra verde

[ Calimero e a Pêra Verde (hanter-dro) ]

Deste-me uma pêra verde,
Estava a meio de amadurar;
Pêra verde, minha verde pêra,
Não me venhas enganar!

Não me venhas enganar!
A mim não me enganas, não!
Pêra verde, minha verde pêra,
Amor do meu coração.

O amor quando se perde
É como a nódoa da amora:
Só com outra amora verde
A nódoa se vai embora.

Deste-me uma pêra verde,
Estava a meio de amadurar;
Pêra verde, minha verde pêra,
Não me venhas enganar!

Não me venhas enganar!
A mim não me enganas, não!
Pêra verde, minha verde pêra,
Amor do meu coração.

Pediste-me uma laranja,
Meu pai não tem laranjal;
Se queres um limão doce
Vai à porta do meu quintal!

Deste-me uma pêra verde,
Estava a meio de amadurar;
Pêra verde, minha verde pêra,
Não me venhas enganar!

Não me venhas enganar!
A mim não me enganas, não!
Pêra verde, minha verde pêra,
Amor do meu coração.

Deste-me uma pêra verde,
Estava a meio de amadurar;
Pêra verde, minha verde pêra,
Não me venhas enganar!

Não me venhas enganar!
A mim não me enganas, não!
Pêra verde, minha verde pêra,
Amor do meu coração.

Letra: Tradicional do Baixo Alentejo (aprendida com Pedro Mestre e o grupo coral feminino “As Papoilas do Corvo”)
Música: Pascale Rubens (para o duo Naragonia) + Tradicional do Baixo Alentejo (aprendida com Pedro Mestre e o grupo coral feminino “As Papoilas do Corvo”)
Intérprete: Celina da Piedade
Versões originais: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD 1, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)
Celina da Piedade com Naragonia (in 2CD “Em Casa”: CD2, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)

Diz a laranja ao limão

Diz a laranja ao limão:
“Qual de nós será mais doce?”
Sou fiel ao meu amor,
Assim ele p’ra mim fosse.

Assim ele p’ra mim fosse,
Fiel ao meu coração;
“Qual de nós será mais doce?”,
Diz a laranja ao limão.

Diz a laranja ao limão:
“Qual de nós será mais doce?”
Sou fiel ao meu amor,
Assim ele p’ra mim fosse.

Assim ele p’ra mim fosse,
Fiel ao meu coração;
“Qual de nós será mais doce?”,
Diz a laranja ao limão.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda e Ruben Alves
Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)
Primeira versão: Vitorino (in LP “Não Há Terra Que Resista: Contraponto”, Orfeu, 1979, reed. Movieplay, 1991)

Dizem pr’aí que chegou

[ Maria da Rocha ]

Dizem pr’aí que chegou
A liberdade apressada;
Eu inda não dei por nada,
Continuo sendo o que sou.

No Alentejo eu trabalho
Cultivando a dura terra;
Vou fumando o meu cigarro,
Vou cumprindo o meu horário
Lançando a semente à terra.

Maria da Rocha,
Do alto rochedo.
Quem namora a Rocha,
Quem namora a Rocha
Namora sem medo.

Namora sem medo,
Medo de ninguém.
Maria da Rocha,
Maria da Rocha,
Da Rocha, meu bem.

Quem me dera a lua
Que nasce no mar:
Fosse à tua rua
De véu branco e nua
P’ra te namorar.

P’ra te namorar,
Quem me dera um dia
Guardar o luar
Que tens no olhar,
Meu amor, Maria.

Maria da Rocha,
Do alto rochedo.
Quem namora a Rocha,
Quem namora a Rocha
Namora sem medo.

Namora sem medo,
Medo de ninguém.
Maria da Rocha,
Maria da Rocha,
Da Rocha, meu bem.

Letra: Vitorino (quadra “Dizem pr’aí que chegou”), Popular (Alentejo), e João Monge (quintilhas “Quem me dera a lua” e “P’ra te namorar”)
Música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Duarte
Versão original: Duarte (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018)

Dorme, meu menino d’oiro

[ Aurora Tem um Menino ]

Dorme, meu menino d’oiro!
Oh meu lindo amor!
Não chores a tua sorte,
Oh meu lindo amor!
Oh meu lindo bem!

Que eu de ti nunca me perco,
Oh meu lindo amor!
Minha estrela do norte,
Oh meu lindo amor!
Oh meu lindo bem!

Aurora tem um menino
Mas tão pequenino;
O pai quem será?
É o Zé da Aroeira
Que vai p’rá Figueira,
Mais tarde virá.

No adro de São Vicente,
Onde há tanta gente,
Aurora não está;
Cala-te, Aurora, não chores,
Que o pai da criança
Mais tarde virá!

Cala-te, Aurora, não chores,
Que o pai da criança
Mais tarde virá!

Letra: Tradicional do Alentejo, e Celina da Piedade e Alex Gaspar (duas estrofes iniciais)
Música: Tradicional do Alentejo
Intérprete: Celina da Piedade
Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)

É alegre e sonhadora

[ Andei a guardar o gado ]

É alegre e sonhadora
A canção alentejana:
Cantada ao romper de aurora
Nas margens do Guadiana.

Andei a guardar o gado
Em tempos que já lá vão:
Deixei a vida do campo,
Trabalho na construção.

Trabalho na construção,
Já não me encosto ao cajado;
Em tempos que já lá vão
Andei a guardar o gado.

O Alentejo é que é
O celeiro da nação;
Nós somos alentejanos,
Somos da terra do pão.

Andei a guardar o gado
Em tempos que já lá vão:
Deixei a vida do campo,
Trabalho na construção.

Trabalho na construção,
Já não me encosto ao cajado;
Em tempos que já lá vão
Andei a guardar o gado.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

É linda a dama a dançar

[ A vinda do rei a Beja ]

É linda a dama a dançar
É linda a rosa em botão
É lindo o Sol a raiar
Na linda manhã de Verão

Ai que festa! Que linda festa!
Como esta não se usou
A vinda do Rei a Beja
Foi o que mais m’agradou

Viva o Rei, viva a Rainha
Vivam todos com prazer
Uma festa como esta
Já Beja não torna a ver

Desejava, desejava
Ninguém sabe o meu desejo
Desejava, linda rosa
Em teu rosto dar um beijo

(Popular – Baixo Alentejo)

É tão lindo ver no campo

[ Trigueirinha alentejana ]

É tão lindo ver no campo
Tão linda ceifando
Trigueirinha alentejana
Numa mão levas a foice
Tão linda ceifando
Noutra canudos de cana

Com seu traje à camponesa
Tão linda ceifando
Sempre de chapéu ao lado
Cantando lindas cantigas
Tão linda ceifando
As espigas do pão sagrado

(Popular – Alentejo)

Entrai, pastores

Entrai, pastores, entrai
Por este portal sagrado!
Vinde ver o Deus-Menino
Entre palhinhas deitado!

Li, ai li, ai li, ai lé!
Jesus, Maria, José.

Entre os portais de Belém
Está uma árvore de Jassé,
Com três letrinhas que dizem:
Jesus, Maria, José.

Li, ai li, ai li, ai lé!
O Menino nascido é.

Letra e música: Tradicional (Peroguarda, Ferreira do Alentejo, Baixo Alentejo)
Recolha: Michel Giacometti (“Entrai, pastores, entrai”, in LP “Alentejo”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1965; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 4 – Alentejo, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 5 – Alentejo, col. Portugal Som, Numérica, 2008)
Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)

Estando eu na minha loja

[ João Brandão ]

Estando eu na minha loja,
Encostado ao meu balcão,
Mais brando…
Encostado ao meu balcão,

Ouvi uma voz dizer:
«Vais preso, João Brandão!»
Mais brando…
«Vais preso, João Brandão!»

Passarinho prisioneiro,
Pela tua liberdade;
Mais brando…
Pela tua liberdade.

Eu cantando peço a Deus:
Não haja aqui falsidade!
Mais brando…
Não haja aqui falsidade!

Estando eu na minha loja,
Encostado ao meu balcão,
Mais brando…
Encostado ao meu balcão,

Ouvi uma voz dizer:
«Vais preso, João Brandão!»
Mais brando…
«Vais preso, João Brandão!»
Mais brando…
«Vais preso, vais p’rá prisão!»

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

Eu aprendi a cantar

[ Mondadeira Alentejana ]

[Cantiga primeira:]

Eu aprendi a cantar
Lavrando em terra molhada,
Lá na solidão dos campos
Pensando em ti minha amada.

[Moda:]

Mondadeira alentejana
Com seu lenço tapa o rosto:
Anda à calma, chuva e vento
Desde o nascer ao sol-posto.

Desde o nascer ao sol-posto,
Do trabalho nasce a fama;
Com seu lenço tapa o rosto,
Mondadeira alentejana.

[Cantiga segunda:]

É alegre e sonhadora
A canção alentejana:
Cantada ao romper de aurora
Nas margens do Guadiana.

[Moda:]

Mondadeira alentejana
Com seu lenço tapa o rosto:
Anda à calma, chuva e vento
Desde o nascer ao sol-posto.

Desde o nascer ao sol-posto,
Do trabalho nasce a fama;
Com seu lenço tapa o rosto,
Mondadeira alentejana.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

* Ponto – Manuel Pancadas
Alto – Manuel Pontes

Eu ia não sei p’ra onde

[ Que Bonito Que Seria ]

Eu ia não sei p’ra onde,
Encontrei não sei quem era:
Encontrei o mês de Abril
Procurando a Primavera.

Que bonito que seria
Se houvesse compreensão:
Os Homens não se matavam
E davam-se como irmãos.

É tão linda a liberdade
Até que chegou o dia;
Se houvesse compreensão
Então, que bonito que seria!

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

Eu ouvi um passarinho

[ Alentejo ]

1. Eu ouvi um passarinho
às quatro da madrugada,
Cantando lindas cantigas
à porta da sua amada.

2. Ao ouvir cantar tão bem
a sua amada chorou.
Às quatro da madrugada
o passarinho cantou.

3. Alentejo quando canta,
vê quebrada a solidão;
traz a alma na garganta
e o sonho no coração.

4. Alentejo, terra rasa,
toda coberta de pão;
a sua espiga doirada
lembra mãos em oração.

Eu só quero que me fales

[ Afã ]

Eu só quero que me fales
De cantigas e de vinho;
Deixa lá e não te rales,
Deus perdoa o descaminho!

Eu só quero que me fales
De cantigas e de vinho;
Deixa lá e não te rales,
Deus perdoa o descaminho!

Deixa essa gente vã
Com conversas e intrigas.
Elas não interessam nada
Pois o meu maior afã
É beber minha golada
De vinho na tarde vã,
Ao som de belas cantigas.

Poema: Al-Mu’tamid (1040-1095); trad. Adalberto Alves (in “O Meu Coração É Árabe: A Poesia Luso-Árabe”, Lisboa: Assírio & Alvim, 1987, 2.ª edição, 1991 – p. 151)
Música: Paulo Ribeiro e Pedro Frazão
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016) [gravado na sala A Bruxa Teatro, Évora, Fev. 2017 ]
Versão original: Anonimato (in CD “Anonimato”, Heaven Sound, 1993)
Outras versões: Paulo Ribeiro (in CD “Aqui Tão Perto do Sol”, EMI-VC, 2002); Paulo Ribeiro (in CD “Canções 1998-2002”, Paulo Ribeiro, 2014)

Eu subi àquele monte

[ Altinho ]

Eu subi àquele monte
para ver se te esquecia;
Quanto mais alta estava
mais o meu amor crescia.

Quero ir para o altinho
que eu daqui não vejo bem;
Quero ir ver o meu amor
se ele adora mais alguém.

Se ele adora mais alguém,
se ele me ama a mim sozinha,
que eu daqui não vejo bem,
quero ir para o altinho.

que eu daqui não vejo bem,
quero ir para o altinho.

Letra: Tradicional do Alentejo, e Celina da Piedade e Alex Gaspar (quadra “Eu subi àquele monte”)
Música: Tradicional do Alentejo, e Toon Van Mierlo e Pascale Rubens
Intérprete: Celina da Piedade
Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)

Évora doce

Évora doce
Negro vestido
Por capelinhas
Cercada d’ouro
Trigo em tesouro
Mulher rainha

Guardas histórias
Guerras e amores
Por ti vividas
E tens no quarto
Cercando a praça
Mil avenidas

São tuas mágoas
Que são escutadas
Quando da Sé
Por entre as horas
Amargurada
Bates o pé

E os teus cabelos
Ficam mais belos
Quando tu vês
Capas traçadas
Numa guitarra
Cantando o que és

Évora doce
Negro vestido
Por capelinhas
Cercada d’ouro
Trigo em tesouro
Mulher rainha

Envergonhada
Se o Alentejo
Lhe pede um beijo
E às escondidas
P’ra ninguém ver
Mata o desejo

Letra e música: Duarte
Intérprete: Duarte (in CD “Aquelas coisas da Gente”, JBJ & Viceversa, 2009)
Primeira versão: Duarte (in CD “Fados Meus”, Ovação, 2004)

Fez sábado quinta-feira

Fez sábado quinta-feira,
P’ra lá d’Évora três semanas,
Estive dez dias num Verão
Nas Américas Romanas.

Embarquei em dois caleiros
Na baía de Lisboa;
Arribei, fui dar a Goa,
Desembarquei em Alenquer;
Casei com sete mulheres,
Falta uma p’rá primeira;
Fui dar à Ilha Terceira,
Com três dias numa hora;
Abalei e vim-me embora,
Fez sábado quinta-feira.

Agarrei nos alforginhos,
Pus um pão em quatro enxacas,
Na gamela duas vacas
E na borracha toucinho;
Um açafate com vinho,
Trinta metros de banana;
Dei passos à americana,
Fui passar a Ayamonte;
Abalei hoje, cheguei ontem
P’ra lá d’Évora três semanas.

Eu já estive em Erapouca,
Numa ocharia empregado;
Foi-se um carro carregado
Numa abóbora canoca;
Um mosquito com um boi na boca
Cem léguas em proporção;
Atirei-lhe um bofetão
Que pelo ar o fez ir;
À espera dele cair
Estive dez dias num Verão.

Fui soldado, assentei praça
No 15 de Sapadores;
Maquinista de vapores
Na carreira de Alcobaça;
Venci o Forte da Graça,
Também a Vila de Terena
E as províncias arraianas,
Venci toda a nobrezia;
Bati-me com a Turquia
Nas Américas Romanas.

Fez sábado quinta-feira,
P’ra lá d’Évora três semanas,
Estive dez dias num Verão
Nas Américas Romanas.

Letra: Popular
Música: José Manuel David
Arranjo e direcção musical: José Manuel David
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa com Luís Espinho e João Paulo Sousa (Adiafa) (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012)

Foi Conde da Vidigueira

[ Conde da Vidigueira ]

Foi Conde da Vidigueira
Um herói alentejano
Com seus barcos de madeira
Não temeu o oceano

Esse herói de grande fama
Na Índia içou bandeira
O grande Vasco da Gama
Foi Conde da Vidigueira

(Popular – Vidigueira, Baixo Alentejo)

Folheia-se o caderno e eis o sul

[ Alentejo ]

Folheia-se o caderno e eis o sul
E o sul é a palavra. E a palavra
Desdobra-se
No espaço com suas letras de
Solstício e de solfejo
Além de ti
Além do Tejo

Verás o rio e talvez o azul
Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio
Mas aquela grande linha onde o abstracto
Começa lentamente a ser o
Sul

Outro é o tempo
Outra a medida

Tão grande a página
Tão curta a escrita

Entre o achigã e a perdiz
Entre chaparro e choupo

Tanto país
E tão pouco

Solidão é companheira
E de senhor são seus modos
Rei do céu de todos
E de chão nenhum

À sombra de uma azinheira
Há sempre sombra para mais um

Na brancura da cal o traço azul
Alentejo é a última utopia

Todas as aves partem para o sul
Todas as aves: como a poesia

Manuel Alegre (Alentejo e ninguém)

Gosto muito dos teus olhos

[ O Mocho ]

Gosto muito dos teus olhos, ó Maria,
Muito mais gosto dos meus;
Se não fossem os meus olhos, ó Maria,
Não podia amar os teus.

O triste do mocho piava,
Ó lari, lariava,
Em cima da melancia, ó Maria;
Maria, Maria, Maria Capitôa
Dos montes, tiroli, ó terrim, tim, tim;
As mulheres são a alegria de mim.

Eu não quero mais amar, ó Maria,
Que eu do amar tenho medo;
Eu não quero arriscar, ó Maria,
A pagar o que eu não devo.

O triste do mocho piava,
Ó lari, lariava,
Em cima da melancia, ó Maria;
Maria, Maria, Maria Capitôa
Dos montes, tiroli, ó terrim, tim, tim;
As mulheres são a alegria de mim.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda
Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)

Grândola, vila morena

Grândola, vila morena,
terra da fraternidade,
o povo é quem mais ordena
dentro de ti, ó cidade.

Dentro de ti, ó cidade,
o povo é quem mais ordena,
terra da fraternidade,
Grândola, vila morena.

Em cada esquina um amigo,
em cada rosto igualdade,
Grândola, vila morena,
t erra da fraternidade.

Terra da fraternidade,
Grândola, vila morena,
em cada rosto igualdade,
o povo é quem mais ordena.

À sombra duma azinheira
que já não sabia a idade,
jurei ter por companheira,
Grândola, a tua vontade.

Grândola, a tua vontade
jurei ter por companheira,
à sombra duma azinheira
que já não sabia a idade.

Letra e música: José Afonso
Intérprete: José Afonso (in “Cantigas do Maio”, Orfeu, 1971; reed. Movieplay, 1987)

Há ondas, meu bem

[ Sou das Ondas ]

Há ondas, meu bem, há ondas,
Há ondas sem ser no mar:
Há ondas no teu cabelo,
Há ondas no teu olhar.

Sou das ondas, sou das ondas,
Sou das ondas, sou do mar;
Meu amor já me deixou,
Meu amor vai-me deixar.

Nas ondas do mar, lá fora,
Aprendi eu a cantar
Numa barquinha doirada,
Ó meu bem, a navegar.

Há ondas, meu bem, há ondas,
Há ondas sem ser no mar:
Há ondas no teu cabelo,
Há ondas no teu olhar.

Sou das ondas, sou das ondas,
Sou das ondas, sou do mar;
Meu amor já me deixou,
Meu amor vai-me deixar.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Paulo Ribeiro

Há um sobreiro velhinho

[ Sobreiro Velhinho ]

Há um sobreiro velhinho
Que nasceu à meia-encosta:
É a casa dos pardais,
Malhada dos animais,
Faz sombra que o pastor gosta.

Faz sombra que o pastor gosta
Nos dias quentes de Verão;
Põe o seu gado ao acarro,
Da cortiça faz um tarro,
Corta a lenha, faz carvão.

Corta a lenha, faz carvão
E nasce um novo raminho
Da Primavera ao Inverno;
Deus queira que seja eterno,
Há um sobreiro velhinho.

O sobreiro é obrigado
A sustentar a cortiça;
Quem não ama de vontade,
Seja qual for a idade,
Não se obriga por justiça.

Há um sobreiro velhinho
Que nasceu à meia-encosta:
É a casa dos pardais,
Malhada dos animais,
Faz sombra que o pastor gosta.

Faz sombra que o pastor gosta
Nos dias quentes de Verão;
Põe o seu gado ao acarro,
Da cortiça faz um tarro,
Corta a lenha, faz carvão.

Corta a lenha, faz carvão
E nasce um novo raminho
Da Primavera ao Inverno;
Deus queira que seja eterno,
Há um sobreiro velhinho.

Letra e música: Martinho Marques
Arranjo: José Manuel David
Intérprete: Pedro Mestre com Pedro Calado & Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre com Pedro Calado & Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Já lá vem o Sol nascendo

[ Sarapateado ]

Já lá vem o Sol nascendo
Por entre as nuvens sombrias;
Como pode o Sol ser velho
Se nasce todos os dias?

Se eu for presa por cantar
Não calarei a garganta!
Eu sou como o passarinho
Que até na gaiola canta.

Ai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Ai sim, meu bem, sarapateado.

Meu coração é um quarto
Que tudo lhe cabe dentro:
Vai ouvindo, arrecadando…
Falará quando for tempo.

Ai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Ai sim, meu bem, sarapateado.

Semeei no meu jardim…
Só cravos são mais de mil;
Os cravos que lá nasceram
São cravos do mês de Abril.

Ai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Ai sim, meu bem, sarapateado.

Ai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Ai sim, meu bem, sarapateado.

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Recolhas: José Alberto Sardinha (1984, “Portugal – Raízes Musicais”: CD5 – Estremadura, Ribatejo e Alentejo, BMG/JN, 1997) e José Leite de Vasconcelos (quadras “Já lá vem o Sol nascendo”, “Meu coração é um quarto” e “Semeei no meu jardim”, in “Cancioneiro Popular Português”, 3 vols., Coimbra: Universidade de Coimbra, 1975-1984)
Intérprete: Macadame (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa)
Primeira versão de Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Já são horas da merenda

Já são horas da merenda;
Ai, vamo-nos a merendar
Gaspachinho com vinagre,
Ai, para o peito refrescar!

Já se vai o Sol a pôr
Ai, para trás do cabecinho;
Bem quisera o nosso amo
Ai, prendê-lo c’um baracinho.

Já são horas da merenda;
Ai, vamo-nos a merendar
Gaspachinho com vinagre,
Ai, para o peito refrescar!

Já se vai o Sol a pôr
Ai, para trás do cabecinho;
Bem quisera o nosso amo
Ai, prendê-lo c’um baracinho.

Letra e música: Tradicional
Recolha: Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça
Intérprete: Macadame
Primeira versão de Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Lá nos campos

[ Eu fui apanhar marcela ]

Lá nos campos, verdes campos
Eu fui apanhar marcela
Daquela mais miudinha
Daquela mais amarela

Daquela mais amarela
Daquela mais miudinha
Lá nos campos, verdes campos
A marcela, a marcelinha

(Popular – Alentejo)

Lá traz a cegonha

[ Popular alentejana ]

Lá traz a cegonha
no bico o raminho.
Que seja bem-vinda
branquinha, tão linda
ao seu velho ninho.

Senhora cegonha,
como tem passado?
Não há quem a veja
voar p’rá Igreja,
pousar no telhado.

Quando chega o Outono
e o bando levanta,
anuncia a hora
que se vai embora,
leva a meia branca.

Lá vai Serpa, lá vai Moura

[ Se Fores ao Alentejo ]

Lá vai Serpa, lá vai Moura
E as Pias ficam no meio;
Em chegando à minha terra
Não há que haver arreceio.

Não há que haver arreceio,
Lá vai Serpa, lá vai Moura,
Lá vai Serpa, lá vai Moura
E as Pias ficam no meio.

Se fores ao Alentejo,
Não leves vinho nem pão!
Leva o coração aberto
E o teu filho pela mão!

Se fores ao Alentejo,
Não leves vinho nem pão!
Leva a rosa da justiça
E o teu filho pela mão!

Lá vai Serpa, lá vai Moura
E as Pias ficam no meio;
Em chegando à minha terra
Não há que haver arreceio.

Não há que haver arreceio,
Lá vai Serpa, lá vai Moura,
Lá vai Serpa, lá vai Moura
E as Pias ficam no meio.

Letra: Popular (Baixo Alentejo) e Eduardo Olímpio
Música: Edmundo Silva
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

Lá vai uma embarcação

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora;
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora
Com mágoas no coração;
Por esses mares fora
Lá vai uma embarcação.

Ó mar alto, ó mar alto,
Ó mar alto sem ter fundo!
Mais vale andar no mar alto
Que nem nas bocas do mundo.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora;
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora
Com mágoas no coração;
Por esses mares fora
Lá vai uma embarcação.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Outra versão: Rão Kyao & Os Ganhões de Castro Verde (in CD “Rão Kyao & Riccardo Tesi: Live in Sete Sóis”, Associação Sete Sóis Sete Luas, 2005)

Lembra-me o tempo passado

[ O Almocreve ]

Lembra-me o tempo passado,
Tudo se vai acabando:
O boi puxando o arado,
O almocreve cantando…

O almocreve cantando
Semeando o verde prado.
Quando vejo alguém lavrando
Lembra-me o tempo passado.

A vida do almocreve
É uma vida arriscada:
Ao descer uma ladeira,
Ao cerrar duma carrada.

Lembra-me o tempo passado,
Tudo se vai acabando:
O boi puxando o arado,
O almocreve cantando…

O almocreve cantando
Semeando o verde prado.
Quando vejo alguém lavrando
Lembra-me o tempo passado.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Linda cara que tu tens

[ Fadinho Alentejano ]

Linda cara que tu tens, já sei,
Quando chegas noite fora.
À espera à porta de casa,
Está o teu pai que te adora.

Lindos olhos tem o mocho, piu,
Quando a noite vem chegando.
P’ra deixar passar a noite,
Uma moda eu vou cantando.

Muda a água às azeitonas,
Rega bem os teus tomates,
Tem lá cuidado com a horta!
O cravo já está no vaso,
Sim, senhora, por acaso.

Abalaste para Lisboa, pois,
Deixaste-me ao pé da porta.
Tu seguiste o teu caminho,
A minha alma ficou torta.

Quando cheguei ao Barreiro, já fui,
Lisboa estava fechada.
Voltei p’ra casa a cantar,
Uma vida abençoada.

Muda a água às azeitonas,
Rega bem os teus tomates,
Tem lá cuidado com a horta!
O cravo já está no vaso,
Sim, senhora, por acaso.

Letra e música: Paulo de Carvalho
Intérprete: Ricardo Ribeiro
Versão original: Ricardo Ribeiro com o Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Hoje É Assim, Amanhã Não Sei”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2016)

Maldita sociedade

[ Camponês Alentejano ]

Maldita sociedade,
Estás tão mal organizada:
Quem não trabalha tem tudo,
Quem trabalha não tem nada!

Camponês alentejano,
Camponês agricultor:
Tu trabalhas todo o ano,
Dás produto ao lavrador.

Dás produto ao lavrador,
Tua vida é um engano:
É tão triste o teu valor,
Camponês alentejano!

Todo o homem que trabalha
Não deve nada a ninguém:
Aquele que nada faz
Deve tudo quanto tem.

Camponês alentejano,
Camponês agricultor:
Tu trabalhas todo o ano,
Dás produto ao lavrador.

Dás produto ao lavrador,
Tua vida é um engano:
É tão triste o teu valor,
Camponês alentejano!

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Mariana canta ao despique

[ Ti Mariana ]

Mariana canta ao despique:
Fez do cante a sua lida,
Ali p’rós lados de Ourique,
Nessa planície perdida.

Nessa planície perdida,
Nesse Alentejo adorado,
Ti Mariana achou a vida
E fez do cante o seu fado.

E fez do cante o seu fado,
Cantando com o coração;
As modas vão dando brado
Ao velho estilo baldão.

Quem canta seu mal espanta,
É o ditado que o diz;
Cantar afina a garganta,
Povo que canta é feliz.

Mariana canta ao despique:
Fez do cante a sua lida,
Ali p’rós lados de Ourique,
Nessa planície perdida.

Nessa planície perdida,
Nesse Alentejo adorado,
Ti Mariana achou a vida
E fez do cante o seu fado.

E fez do cante o seu fado,
Cantando com o coração;
As modas vão dando brado
Ao velho estilo baldão.

A viola campaniça,
Em meus dedos dedilhando,
Acompanha sem preguiça
Qualquer Mariana cantando.

Mariana canta ao despique:
Fez do cante a sua lida,
Ali p’rós lados de Ourique,
Nessa planície perdida.

Nessa planície perdida,
Nesse Alentejo adorado,
Ti Mariana achou a vida
E fez do cante o seu fado.

E fez do cante o seu fado,
Cantando com o coração;
As modas vão dando brado
Ao velho estilo baldão.

Letra: Rosa Guerreiro Dias
Música: José Manuel David
Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)

Menina estás à janela

Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua

Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela

Os olhos requerem olhos
E os corações, corações
E os meus requerem os teus
Em todas as ocasiões

Letra e música: Popular (Alentejo)
Recolha e adaptação: Vitorino
Intérprete: Vitorino
Versão original: Vitorino (in “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975; reed. Movieplay, 1999)
Versão instrumental: Opus Ensemble (in “Temas do cancioneiro Português”, EMI Classics, 1987; reed. 1998)

Mértola dormia frente ao Guadiana

[ Em Mértola ]

Mértola dormia frente ao Guadiana
branca, branca, branca
torre de menagem, torre de vigia
de quem mais se ama
iam nas pedrinhas, pequeninos rios
do suor da terra alentejana
para lá dos montes, pertinho da raia
onde a terra passa a ser estranha

Com um sol a pique frente a uma mesquita
branca, branca, branca
subindo ao castelo, subindo à vigia
vendo o panorama
pr’além das muralhas, para aquém dos montes
prendiam-se os olhos à bonita
ficavam nos verdes, ficavam nos brancos
ficavam nos tempos da Moirama

Suando pestanas, frente a uma cegonha
branca, branca, branca
Mértola corria frente ao Guadiana
por quem se derrama
o sol que há nos olhos, o mel que há no peito
a dor que há no corpo de quem sonha
com o sabor das ervas, no cheiro das águas
no voltar a ver a quem mais se ama

Ia viajante frente à moradia
branca, branca, branca
ia sendo moira, noiva tão serena
e alma cigana
o lenço voando, batia no rosto
no silêncio olhava o que não via
para lá da terra, para lá dos montes
nunca mais veria a tarde calma

Mértola dormia frente ao Guadiana
branca, branca, branca
torre de vigia, torre de menagem
a quem mais se ama
iam nas pedrinhas, pequeninos rios
do amor à terra alentejana
para lá dos montes, pertinho da raia
onde a terra passa a ser Espanha

Poema e música: Teresa Muge
Intérprete: Amélia Muge (in CD “Múgica”, UPAV, 1992)

Minha mãe, estou de abalada

[ Minha Mãe, Sou um Mainante ]

Minha mãe, estou de abalada:
Parto já, neste instante;
Adeus, minha mãe amada,
Vou p’rá vida de mainante.

De manta ao ombro e bordão,
Trilho caminhos de amargura:
Tenho fome, não tenho pão,
Durmo assim na noite escura.

Rompe o sol de manhãzinha
E o povoado é distante:
Cantando p’ra ti, mãezinha,
Esta vida de mainante.

As lágrimas não me apagam
As queixas e os martírios:
Só as estrelas acalmam,
À noite, os meus delírios.

De manta ao ombro e bordão,
Trilho caminhos de amargura:
Tenho fome, não tenho pão,
Durmo assim na noite escura.

Rompe o sol de manhãzinha
E o povoado é distante:
Cantando p’ra ti, mãezinha,
Esta vida de mainante.

O meu chão é chão barrento
Pisado com ternura,
De quem dorme ao relento
E faz dele a sepultura.

Letra: Romão Janeiro
Música: Paulo Ribeiro
Intérprete: Paulo Ribeiro
Versão original: Grupo Coral “Os Mainantes” de Pias (in CD “Entre Mestres e Aprendizes”, de Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” & “Os Mainantes”, Açor/Emiliano Toste, 2016)

Moreninha alentejana

– Moreninha alentejana,
quem te fez, morena, assim?
– Foi o sol da Primavera
que caía sobre mim.

Que caía sobre mim,
que andava a ceifar o trigo.
– Moreninha alentejana,
por que não casas comigo?

Por que não casas comigo?
Por que não casas com ela?
– Quem te fez, morena, assim?
– Foi o sol da Primavera.

Morreu Francisco Romão

[ Francisco Romão ]

Morreu Francisco Romão
Que pelas ruas cantava;
Já morreu aquele amigo
Que era quem tanto estimava.

Que era quem tanto estimava,
Que era quem estimava tanto.
Morreu Francisco Romão,
Já pelas ruas não canto.

Morreu Francisco Romão
Que pelas ruas cantava;
Já morreu aquele amigo
Que era quem tanto estimava.

Que era quem tanto estimava,
Que era quem estimava tanto.
Morreu Francisco Romão,
Já pelas ruas não canto.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra* (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

TERRA

Luz que actua

[ Gaia de Saia ]

Luz que actua, Lua cheia em ti, faz querer viver mais
Expões o corpo receptivo à noite, dons de fértil musa

Iluminar põe o clima a subir, noite de clara Lua
Numa dança de saia rodada a sorrir, que essa tua vida é tua

Mãe dos homens que gera vida e luz
Gaia Deusa, musa, Mulher nua
Não se tomba, não se deixa cair
Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua

Mãos de força vergam o tempo a teimar, a lutar sem desistir
Tais direitos nem se devem questionar, direito a se expressar

Ser um ventre e um colo protector, e voluntária na sua dor
Ser mulher é existir entre os iguais, é resistir muito mais

Mãe dos homens que gera vida e luz
Gaia Deusa, musa, Mulher nua
Não se tomba, nem se deixa cair
Que essa tua vida é tua, vida é tua

Mãe dos homens que gera vida e luz
Gaia Deusa, Mulher nua
Não se tomba, nem se deixa cair
Que essa tua, que essa tua vida, que essa tua vida é tua

Letra e música: Luís Pucarinho
Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)

Nunca Marta pressentiu

[ Marta Encruzilhada ]

Nunca Marta pressentiu
A reboque bem sentada
Que o trilho que faz um desvio
Fosse dar à sua estrada

Nunca o sol a torriscou
Nunca à chuva foi molhada
Nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
Não se faz vida do nada
Não se faz do nada gente

E não se faz do nada gente

E nesse trilho com desvio
O seu reboque não passava
E nunca antes Marta sentiu
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o sol a torriscou
E nunca à chuva foi molhada
E nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
E não se faz vida do nada
E não se faz do nada gente

E não se faz do nada gente
E não se faz…

E nunca o sol a torriscou
Nunca à chuva foi molhada
Nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
E não se faz vida do nada
E não se faz do nada gente

E nunca o sol a torriscou
Nunca à chuva foi molhada
Nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
Não se faz vida do nada
E não se faz do nada gente

Letra e música: Luís Pucarinho
Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)

Luís Pucarinho, SaiArodada

* Luís Pucarinho – guitarras e voz
Afonso Castanheira – contrabaixo
Jéssica Pina – trompete
Mário Lopes – bateria e pad
Ideia original e produção – Luís Pucarinho
Gravado em A’MAR Estúdios (Baleal, Peniche), Estúdio Azul (Évora), Estúdio Nuno e Jaime Romano (Alcácer do Sal) e Estúdio Pé-de-Vento (Foros de Salvaterra, Salvaterra de Magos), de 2016 a 2018
Mistura – Luís Pucarinho e Fernando Nunes (Estúdio Pé-de-Vento)
Masterização – Fernando Nunes

Na sociologia do vinho

Na sociologia do vinho
é que se brinda!
É de azeite a gordura
que agradece
a quentura da lã
ventre de linho
e o gosto da azeitona
verde, verde.

No suor do cajado
lã de ovelha
firma-se o peito, esteva
velha.

Nas patas do rafeiro é
que se alonga
a geometria do sul
desfeita em cal
e a rijeza dos nervos já
perdida.

A cegonha já acena um
bater de asas.
Sangrado o campo, mirradas
são as casas.
Não são homens; são sombra
toda sal,
Só vultos de lentidão
ferida.

É no traço do sul que mais
se acolhe
o ermo das lonjuras
desenhadas:
A sombra, o silêncio
e a tristeza
de tristezas mal
balbuciadas.

Geométrico sul, cal
e planura
Loiro de água verde
adormecida.
Quem te dará um alento
uma saída
de alma clara em
escancarada alvura?

Só no cantar do sul
o tempo dura…

Letra: Afonso Dias
Intérprete: Afonso Dias (in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)

Namorei sempre à tardinha

[ A Moda do Chegadinho ]

Namorei sempre à tardinha
Certas moças da minha aldeia:
Fosse magra, fosse gordinha,
Bonita ou menos feia.

Chegadinha, chegadinha a mim,
Chegadinho, chegadinho a ela;
Chegadinho, chegadinha, chegadinhos
Ao postigo e à janela.

Brinquei com uma, brinquei com duas,
Duas, três, quatro ou cinco;
Brinquei contigo, brinquei com ela,
Já sou casado e agora já não brinco.

Chegadinha, chegadinha a mim,
Chegadinho, chegadinho a ela;
Chegadinho, chegadinha, chegadinhos
Ao postigo e à janela.

Sou casado e com juízo,
Mas não deixo de pensar
Quando vejo moças catitas
À janela a namorar.

Chegadinha, chegadinha a mim,
Chegadinho, chegadinho a ela;
Chegadinho, chegadinha, chegadinhos
Ao postigo e à janela.

Letra e música: Francisco Naia
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

Namorei uma costureira

[ Zuca, Zuca ]

Namorei uma costureira
Pelo buraco da chave;
Ela estava zuca, zuca,
Ela estava zuca, zuca;
“Esta porta não se abre!”

“Esta porta não se abre,
Ela é muito má de abrir!”
Ela estava zuca, zuca,
Ela estava zuca, zuca,
E a mamã estava dormir.

A mamã estava a dormir,
E a mamã estava deitada;
Ela estava zuca, zuca,
Ela estava zuca, zuca,
Era já de madrugada.

Era já de madrugada,
Era ao nascer do Sol;
Ela estava zuca, zuca,
Ela estava zuca, zuca,
E o cu dela era um fole.

O cu dela era um fole
E a barriga era um sarilho;
Ela estava zuca, zuca,
Ela estava zuca, zuca
Com o dedo no gatilho.

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Adaptação: Pedro Mestre
Arranjo: José Manuel David
Intérprete: Pedro Mestre* (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Não é a ceifa que mata

Terra Sagrada do Pão

Não é a ceifa que mata
Nem os calores do Verão
É a erva unha-gata
O cardo pica na mão

Alentejo, Alentejo
Terra sagrada do pão
Eu hei-de ir ao Alentejo
Inda que seja no Verão

Ver o doirado do trigo
Na imensa solidão
Alentejo, Alentejo
Terra sagrada do pão

Eu sou devedor à terra
A terra me está devendo
A terra paga-me em vida
Eu pago à terra em morrendo

(Popular – Alentejo)

Não quero mais nada no mundo

[ Nos Campos de Castro Verde ]

[Cantiga:]

Não quero mais nada no mundo
Senão uma sepultura:
Para sepultar meus olhos
Que nasceram sem ventura.

[Moda:]

Nos campos de Castro Verde
Houve uma grande batalha:
Onde D. Afonso Henriques
Ganhou a sua medalha.

Ganhou a sua medalha,
Sem abrigo de parede:
Deu a luz a Portugal
Nos campos de Castro Verde.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Outra versão do Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994)

Nasce o Sol no Alentejo

Nasce o Sol no Alentejo,
Nasce água clara na fonte;
Nasce em mim a saudade
Da lareira do teu monte.

Quem me dera ser o trigo
Que ciranda na peneira,
E poder andar contigo
Cirandando a vida inteira.

Não há cravo como o branco
Que até no cheirar é doce,
Nem amor como o primeiro
Se ele fingido não fosse.

Pelas estrelas da noite
Regulam-se os marinheiros,
E eu pelos teus lindos olhos
Que são astros mais certeiros.

Às ceifeiras nunca digas
Madrigais no teu cantar,
Pois se vão em tais cantigas
Fica o trigo por ceifar.

Eu não sei por que motivo
Tu me recusas um beijo!…
Ao menos sei porque vivo
Tão preso ao teu Alentejo.

Ronda dos Quatro Caminhos, Outras Terras

Letra e música: Popular (Alentejo)
Recolha: José Alberto Sardinha
Arranjo: António Prata, com Carlos Barata e Pedro Fragoso
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD1, Ovação, 2001)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Outras Terras”, Ronda dos Quatro Caminhos, 1999)

No Alentejo eu trabalho

[ É tão grande o Alentejo ]

No Alentejo eu trabalho
Cultivando a dura terra;
Vou fumando o meu cigarro,
Vou cumprindo o meu horário
Lá na encosta da serra.

É tão grande o Alentejo,
Tanta terra abandonada!
A terra é que dá o pão:
Para bem desta nação
Devia ser cultivada.

Tem sido sempre esquecido
À margem ao sul do Tejo:
Há gente desempregada,
Tanta terra abandonada!
É tão grande o Alentejo!

Trabalha, homem, trabalha
Se queres ter o teu valor!
Os calos são os anéis,
Os calos são os anéis
Do homem trabalhador.

É tão grande o Alentejo,
Tanta terra abandonada!
A terra é que dá o pão:
Para bem desta nação
Devia ser cultivada.

Tem sido sempre esquecido
À margem ao sul do Tejo:
Há gente desempregada,
Tanta terra abandonada!
É tão grande o Alentejo!

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Outra versão: Dulce Pontes & Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Primeiro Canto”, de Dulce Pontes, Polydor B.V. the Netherlands/Universal, 1999; CD “O Círculo Que Leva a Lua”, do Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003)

No nosso Alentejo

[ Trigueira de raça ]

No nosso Alentejo
é tão lindo ouvir
cantar as ceifeiras,
ver as mondadeiras
no campo a sorrir.

Trigueira de raça,
quem te fez assim
ceifando os trigais,
ouvindo os teus ais
com pena de mim?

Eu por ti chorando
alegre e cantando
sinto o teu desejo,
linda trigueirinha,
linda alentejana,
dá-me cá um beijo.

À sombra da silva
é que eu adormeço
sonhando contigo.
Linda alentejana,
eu não te mereço.

Popular Alentejano

No tempo da Primavera

No tempo da Primavera,
há lindas flores no prado.
Canta, ó lindo passarinho,
ao nascer do sol doirado.

Ao nascer do Sol doirado,
Ó meu amor, quem me dera,
Pisando os mimosos prados
No tempo da Primavera.

Letra e música: Popular (Baixo Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ceifeiros de Cuba” (in CD “Musical Traditions of Portugal”, col. Traditional Music of the World, vol. 9, Smithsonian Folkways/International Institute for Traditional Music, 1994)

Nove casas

[ Aldeia ]

Nove casas,
duas ruas,
ao meio das ruas
um largo,
ao meio do largo
um poço de água fria.

Tudo isto tão parado
e o céu tão baixo
que quando alguém grita para longe
um nome familiar
se assustam pombos bravos
e acordam ecos no descampado.

Poema: Manuel da Fonseca (in “Planície”, Coimbra: Novo cancioneiro, 1941; “Poemas Completos”, Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1958; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 2.ª edição, Lisboa: Portugália Editora, 1963 – p. 93; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 106)
Música: Paulo Ribeiro
Intérprete: Paulo Ribeiro com Manuel João Vieira (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Poemas de Manuel da Fonseca, canções de Paulo Ribeiro
Poemas de Manuel da Fonseca, canções de Paulo Ribeiro

Ó Alentejo dos pobres

[ Margem Sul (Canção Patuleira) ]

Ó Alentejo dos pobres,
reino da desolação,
não sirvas quem te despreza,
é tua a tua nação.

Não vás a terras alheias
lançar sementes de morte.
É na terra do teu pão
que se joga a tua sorte.

Terra sangrenta de Serpa,
terra morena de Moura,
vilas de angústia em botão,
doce raiva em Baleizão.

Ó margem esquerda do Verão
mais quente de Portugal,
margem esquerda deste amor
feito de fome e de sal.

A foice dos teus ceifeiros
trago no peito gravada,
ó minha terra morena
como bandeira sonhada.

Terra sangrenta de Serpa,
terra morena de Moura,
vilas de angústia em botão,
doce raiva em Baleizão.

Adriano Correia de Oliveira, Margem Sul

Poema: Urbano Tavares Rodrigues
Música: Adriano Correia de Oliveira
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in “Margem Sul”, Orfeu, 1967; “Obra Completa”, Movieplay, 1994)

Ó Ana

Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Dá um jeitinho à cintura!
Lá na tua terra, ó Ana,
Nem a tua mãe te atura!

Nem a tua mãe te atura
Nem o S. Bartolomeu!
Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Tu és minha e eu sou teu!

Tu és minha e eu sou teu!
Eu sou teu e tu és minha!
Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Dá lá mais uma voltinha!

Muito gosto eu de ver
As pernas às raparigas:
Se são grossas ou delgadas,
Se são curtas ou compridas!

Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Dá um jeitinho à cintura!
Lá na tua terra, ó Ana,
Nem a tua mãe te atura!

Nem a tua mãe te atura
Nem o S. Bartolomeu!
Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Tu és minha e eu sou teu!

Tu és minha e eu sou teu!
Eu sou teu e tu és minha!
Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Dá lá mais uma voltinha!

Meu amor é pequenino:
Às escuras não no acho;
Uma pulga deu-lhe um coice:
Deitou-o da cama abaixo.

Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Dá um jeitinho à cintura!
Lá na tua terra, ó Ana,
Nem a tua mãe te atura!

Nem a tua mãe te atura
Nem o S. Bartolomeu!
Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Tu és minha e eu sou teu!

Tu és minha e eu sou teu!
Eu sou teu e tu és minha!
Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Dá lá mais uma voltinha!

Já dormi na tua cama,
Já mijei no teu penico,
Já te tirei três vinténs…
Nem por isso estou mais rico.

Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Dá um jeitinho à cintura!
Lá na tua terra, ó Ana,
Nem a tua mãe te atura!

Nem a tua mãe te atura
Nem o S. Bartolomeu!
Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Tu és minha e eu sou teu!

Tu és minha e eu sou teu!
Eu sou teu e tu és minha!
Ó Ana, ó Ana, ó Ana,
Dá lá mais uma voltinha!

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Arranjo: Artesãos da Música
Intérprete: Artesãos da Música
Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)

Ó águia que vais tão alta

Ó águia que vais tão alta,
voando de pólo em pólo,
leva-me ao céu onde eu tenho
a mãe que me trouxe ao colo.

A mãe que me trouxe ao colo
ficou-me fazendo falta,
voando de pólo em pólo,
ó águia que vais tão alta.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Afonso Dias
(in CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)

O Alentejo é que é

[ Cidades, Vilas e Montes ]

O Alentejo é que é
O celeiro da nação;
Nós somos alentejanos,
Nós somos alentejanos,
Somos da terra do pão.

É linda a Reforma Agrária
Nos campos do Alentejo:
Aumentou a produção,
Deu para todos mais pão,
É isso que eu mais invejo.

Cidades, vilas e montes,
Unidade a trabalhar:
Só assim a reacção,
Gente má sem coração,
Nunca mais pode passar.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, ?; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

O Alentejo não tem sombras

[ As Flores da Nossa Terra ]

O Alentejo não tem sombras
Se não as que vêm do céu;
E o camponês tem abrigo,
E o camponês tem abrigo
Às abas do seu chapéu.

Flores da nossa terra
Que abandonaram as mães
Numa linda romaria
Feita com muita alegria:
Foram dar a Guimarães.

Foram dar a Guimarães,
Recordação que se encerra;
Abandonaram as mães
E foram a Guimarães
Flores da nossa terra.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, ?; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Ó Estação de Ourique

Ó Estação de Ourique
Onde eu tive amores!
Onde há pirolitos
E também há flores.

Tem um largo ao meio
Mesmo na estação,
Param os comboios
Que vão p’ra Garvão.

Salta a malta nova
Vinda no furgão;
Grita o maquinista
E o chefe da estação.

E os moços pequenos
Sempre a saltitar;
Ficam para o balho,
Querem é dançar!

Vêm do Carregueiro
Casével e Aivados;
Da vila de Ourique
Chegam convidados.

Muito bem trajados
De Castro chegando,
Vêm cantadores
Modas entoando.

Cantam aos amores
Que estão espreitando;
E a tasca do Mendes
Já está esperando.

Ali num cantinho
Vão servindo copos:
Há sempre bom vinho
Chouriço e tremoços.

O chefe da estação
Junta a filharada
Com banjos, violão
E voz afinada.

Começam as danças
No Salão dos Nobres:
Velhos e crianças
E ricos e pobres.

Ai a balhação!
Aì a brincadeira!
Já está na estação
O comboio p’rá Funcheira.

Seguem seus destinos,
Uns ficam deitados:
Parecem meninos
Muito embriagados.

Ó Estação de Ourique
Onde eu tive amores!
Onde há pirolitos
E também há flores.

Tem um largo ao meio
Mesmo na estação,
Param os comboios
Que vão p’ra Garvão.

Salta a malta nova
Vinda no furgão;
Grita o maquinista
E o chefe da estação.

E os moços pequenos
Sempre a saltitar;
Ficam para o balho,
Querem é dançar!

Letra e música: Francisco Naia
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

O mar deixou o Alentejo

[ Se fores ao Alentejo ]

O mar deixou o Alentejo
onde trouxe canções de oiro
mas volta a matar saudades
mas ondas do trigo loiro.

Se fores ao Alentejo,
vai vai vai vai vai.
Não te esqueças, dá-lhe um beijo,
ai ai ai ai.

Nas capelas e nos montes
há sorrisos de brancura
onde fala a voz de Deus
na voz da cal e da alvura.

Sobe o sol e abrasa a terra
a fecundar as espigas
à sombra das azinheiras
na dolência das cantigas.

Por lonjuras e planuras,
oh solidão, solidão,
eu quero paz no trabalho
p’ra poder ganhar o pão.

Popular do Alentejo

Ó moças façam arquinhos

Arquinhos (II)

Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!
P’ra passar o meu benzinho,
P’ra passar a minha amada.

P’ra passar a minha amada,
P’ra passar o meu benzinho,
Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!

Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!
P’ra passar o meu benzinho,
P’ra passar a minha amada.

P’ra passar a minha amada,
P’ra passar o meu benzinho,
Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!

Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!
P’ra passar o meu benzinho,
P’ra passar a minha amada.

P’ra passar a minha amada,
P’ra passar o meu benzinho,
Ó moças façam arquinhos!
Ó moças façam arcadas!

Cadernos de Danças do Alentejo

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

O Sol é que alegra o dia

[ Menina Florentina ]

O Sol é que alegra o dia
Pela manhã quando nasce
Ai de nós o que seria
Se o Sol um dia faltasse

Ó menina Florentina
És a flor que em meu peito domina
Seu amante delirante
De viagem chegou neste instante

Já cá está o tiroliroliro tiroliroliro
Já cá está o tiroliroliro tiroliroló
Já cá está o tiroliroliro ó amor
Tiroliroliro abre a porta, ó branca flor

Não me inveja de quem tem
Carros, parelhas e montes
Só me inveja de quem bebe
Água em todas as fontes

Ó menina Florentina
És a flor que em meu peito domina
Seu amante delirante
De viagem chegou neste instante

Já cá está o tiroliroliro tiroliroliro
Já cá está o tiroliroliro tiroliroló
Já cá está o tiroliroliro ó amor
Tiroliroliro abre a porta, ó branca flor

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Janita Salomé / Grupo “Vozes do Sul”* (in CD “Vozes do Sul: uma celebração do cante alentejano” , Capella, 2000)

Ó terra morena deitada ao sol

[ Fado do Alentejo ]

Ó terra morena deitada ao sol,
Quero ser a alma do ganhão,
Cheia de horizonte, cântico de fonte,
Catedral do trigo, azeite e pão!

Ó terra morena deitada ao sol,
Quero ser a alma da cegonha
Que sobe no vento e ouve o lamento
Do homem que, ao sul, trabalha e sonha!

Alentejo das casas de cal,
Alentejo do sobro e do sal;
Alentejo poejo, alecrim,
Alentejo das terras sem fim.

Ó terra morena deitada ao sol,
Quero ser a alma do sobreiro:
Estática, selvagem, dona da paisagem
Afrontando o tempo a corpo inteiro!

Alentejo das casas de cal,
Alentejo do sobro e do sal;
Alentejo poejo, alecrim,
Alentejo das terras sem fim.

Ó terra morena deitada ao sol,
Quero ser a alma do ganhão,
Cheia de horizonte, cântico de fonte,
Catedral do trigo, azeite e pão!

Letra: Rosa Lobato de Faria
Música: Rão Kyao
Arranjo: Rabih Abou-Khalil
Intérprete: Ricardo Ribeiro* (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013)
Primeira versão de Ricardo Ribeiro: Rão Kyao & Ricardo Ribeiro (in 2CD “Em’Cantado”: CD 1, Universal, 2009)
Versão original: Manuel de Almeida – “Alma do Ganhão” (in CD “Fado”, Movieplay, 1996)

Olha o passarinho

Letra e música: Popular do Alentejo
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Terra de Abrigo”, Ocarina, 2003) .

Olha o passarinho
que bem que ele canta.
Quando está cantando,
parece que tem
uma guitarra na garganta.

E olha o rouxinol
vai fazer o ninho
dentro do balsedo
p’ra cantar sem medo,
olha o passarinho!

E a moda vai alta,
não lhe posso chegar.
Cantem-na baixinho,
mais devagarinho
que eu quero cantar.

Olhos marotos

[ Vai Colher a Silva ]

Olhos marotos
Que já foram meus
Agora são doutro
Paciência adeus

Vai colher a silva
Vai lindo amor vai
Se ela te picar
Não digas ai ai

Não digas ai ai
Não digas ai ui
Vai colher a silva
Vai que eu também já fui

Ó coração praia
Das embarcações
Onde desembarcam
As minhas paixões

Vai colher a silva
Vai lindo amor vai
Se ela te picar
Não digas ai ai

Não digas ai ai
Não digas ai ui
Vai colher a silva
Vai que eu também já fui

Letra e música: Popular (Baixo Alentejo)
Arranjo: Pedro Fragoso
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos / Grupo Coral Guadiana de Mértola (in CD “Sulitânia”, Ocarina, 2007)

Oliveira e Parreirinha

[ A Tasca do Encalha ]

Oliveira e Parreirinha
Encontram o Tó Careca:
Com a dor que se avizinha
Vão beber uma caneca.

Dão a mão ao Zé Padeiro,
E o braço ao Quim Margarida;
Chamam o Chico Pedreiro,
Vão afogar-se em bebida.

Abraçam-se p’lo caminho,
Até à Tasca do Encalha:
Lá o tintol é fresquinho
E à volta ninguém se espalha.

Tintol, caracol,
Tintão, carrascão,
Com rodelas de limão;
Verdinho, verducho,
Verdete, verdacho,
Mas que graça que eu te acho!

Venha lá outra rodada
Com tapinhas e tremoços!
O tintol é tão maduro
Que até arreganha os ossos.

Vira lá mais um copinho!
Tira outro do briol!
Traz alcagoita torrada
E um pires de caracol!

Diz o Quim para o Oliveira,
Pondo um ar grave no rosto:
«Que uma boa bebedeira
Mata-nos qualquer desgosto!»

Tintol, caracol,
Tintão, carrascão,
Com rodelas de limão;
Verdinho, verducho,
Verdete, verdacho,
Mas que graça que eu te acho!

Mas que graça que eu te acho!…

Letra e música: Francisco Naia
Intérprete: Francisco Naia com Vitorino (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

Ora ponha aqui

[ Pezinho dos Caçadores ]

Ora ponha aqui,
Ora ponha aqui o seu pezinho!
Ora ponha aqui,
Ora ponha aqui ao pé do meu!

Ai ao tirar,
Ai ao tirar o seu pezinho,
Ai um abraço,
E um abraço lhe dou eu!

Ai dizem mal,
Ai dizem mal dos caçadores,
Ai por matarem,
Por matarem os pardais…

Ai os teus olhos,
Os teus olhos, meu amor,
Ainda matam,
Ainda matam muito mais!

Ora ponha aqui,
Ponha aqui o seu pezinho!
Ora ponha aqui,
Ponha aqui ao pé do meu!

Ai ai ao tirar,
Ao tirar o seu pezinho,
Um abraço lhe dou eu!

Ai dizem mal,
Dizem mal dos caçadores,
Por matarem os pardais…

Os teus olhos, meu amor,
Ainda matam,
Ainda matam muito mais!

Ora ponha aqui o seu pezinho!
Ora ponha aqui ao pé do meu!

Ao tirar o seu pezinho,
Ai um abraço lhe dou eu!

Ai dizem mal dos caçadores,
Por matarem os pardais…

Os teus olhos, meu amor,
Ainda matam muito mais!

Letra e música: Tradicional (Ourique / Castro Verde, Baixo Alentejo)
Informantes: Manuel Bento (Aldeia Nova, Ourique) e Pedro Mestre (Sete, Castro Verde)
Recolha: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 53)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

Olival alentejano
Olival alentejano
 

Papoilas vermelhas

[ Querido Alentejo ]

Papoilas vermelhas
Criadas ao vento
São cravos de Abril:
Deixai-os florir
No meu pensamento.

Querido Alentejo,
Minha terra amada:
Eu nunca me esqueço
De seres Alentejo,
És sempre lembrada.

Teus cravos vermelhos
Já não murcharão;
Tens o privilégio
De seres Alentejo,
Celeiro da nação.

Vem o mês de Abril,
Cresce a saudade;
Vem o nosso povo
E a cantar de novo:
«Viva a liberdade!»

Querido Alentejo,
Minha terra amada:
Eu nunca me esqueço
De seres Alentejo,
És sempre lembrada.

Teus cravos vermelhos
Já não murcharão;
Tens o privilégio
De seres Alentejo,
Celeiro da nação.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

Pelo toque da viola

Intérprete: Rancho de cantadores de Aldeia Nova de São Bento

Penteei o meu cabelo

[Moda:]

Penteei o meu cabelo,
Penteei-o para trás,
Com uma travessa nova
Que me deu o meu rapaz.

Que me deu o meu rapaz
Toda cheia de pedrinhas;
Penteei o meu cabelo,
Ficou-me todo às ondinhas.

Ficou-me todo às ondinhas,
Ficou-me todo ondulado;
Penteei o meu cabelo
Para trás e para o lado.

[ Cantiga: ]

Há ondas, meu bem, há ondas,
Há ondas sem ser no mar:
Há ondas no teu cabelo,
Há ondas no teu olhar.

Penteei o meu cabelo,
Penteei-o para trás,
Com uma travessa nova
Que me deu o meu rapaz.

Que me deu o meu rapaz
Toda cheia de pedrinhas;
Penteei o meu cabelo,
Ficou-me todo às ondinhas.

Ficou-me todo às ondinhas,
Ficou-me todo ondulado;
Penteei o meu cabelo
Para trás e para o lado.

[ Cantiga: ]

Há ondas, meu bem, há ondas,
Há ondas sem ser no mar:
Há ondas no teu cabelo,
Há ondas no teu olhar.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013) [Gravado no Festival Andanças, Castelo de Vide, 21 Ago. 2013
Introdução: Grupo Coral Feminino “As Papoilas do Corvo”, ensaiado por Pedro Mestre

Por eu ser alentejano

[ Há Lobos Sem Ser na Serra ]

Por eu ser alentejano,
Alguém me chamou ladrão:
Foi o que eu nunca chamei
A quem me roubava o pão.

Há lobos sem ser na serra,
Eu ainda não sabia…
Debaixo do arvoredo
Trabalham com valentia.

Trabalham com valentia
Cada um na sua arte;
Eu ainda não sabia:
Há lobos em toda parte.

Maldita sociedade,
Estás tão mal organizada:
Quem não trabalha tem tudo,
Quem trabalha não tem nada!

Há lobos sem ser na serra,
Eu ainda não sabia…
Debaixo do arvoredo
Trabalham com valentia.

Trabalham com valentia
Cada um na sua arte;
Eu ainda não sabia:
Há lobos em toda parte.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Quando eu tinha 15 anos

[ Camponês alentejano ]

Intérprete: Grupo Coral Vozes da Aldeia

Quando o melro assobia

[ Castro Verde É Nossa Terra ]

Quando o melro assobia,
Escondido nos silvados:
Quer de noite, quer de dia,
São lindos os seus trinados.

Castro Verde é nossa terra!
Ai quem nos dera lá estarmos agora
P’rá mocidade, com saudade,
Ouvir cantar como ouvi outrora.

Terra bela
Tão desejada!
Casa singela
De branco caiada!

Eu nunca esqueço
Que foste meu berço,
Lindo cantinho
Desta pátria amada!

Grupo Coral de Castro Verde “Os Ganhões da nossa terra”

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Castro Verde É Nossa Terra”, Valentim de Carvalho, 1975; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Que é da casaquinha?

[ Casaquinha (dança marcada) ]

Que é da casaquinha?
(Oli doli doli dó!)
Está toda rasgada.
(Ó purum pum pum!)

Já não vai à missa,
(Oli doli doli dó!)
Sem ser amanhada.
(Ó purum pum pum!)

Que é da casaquinha?
(Oli doli doli dó!)
Está toda rasgada.
(Ó purum pum pum!)

Já não vai à missa,
(Oli doli doli dó!)
Sem ser amanhada.
(Ó purum pum pum!)

Que é da casaquinha?
(Oli doli doli dó!)
Está toda rasgada.
(Ó purum pum pum!)

Já não vai à missa,
(Oli doli doli dó!)
Sem ser amanhada.
(Ó purum pum pum!)

Que é da casaquinha?
(Oli doli doli dó!)
Está toda rasgada.
(Ó purum pum pum!)

Já não vai à missa,
(Oli doli doli dó!)
Sem ser amanhada.
(Ó purum pum pum!)

Que é da casaquinha?
(Oli doli doli dó!)
Está toda rasgada.
(Ó purum pum pum!)

Já não vai à missa,
(Oli doli doli dó!)
Sem ser amanhada.
(Ó purum pum pum!)

Que é da casaquinha?
(Oli doli doli dó!)
Está toda rasgada.
(Ó purum pum pum!)

Já não vai à missa,
(Oli doli doli dó!)
Sem ser amanhada.
(Ó purum pum pum!)

Letra e música: Tradicional (Ourique / Castro Verde, Baixo Alentejo)
Informantes: Manuel Bento (Aldeia Nova, Ourique) e Pedro Mestre (Sete, Castro Verde)
Recolhas: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 46-48)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

Quem disse que o Alentejo

[ É Tarde, Vou-me Deitar ]

Quem disse que o Alentejo
Vive de costas p’ró mar
Não viu aquilo que eu vejo
Não viu aquilo que eu vejo
Nas ondas do teu olhar

Ceifeira, os teus cabelos
Enrodilhados ao vento
São baraços de novelos
São baraços de novelos
Que esvoaçam pelo tempo

São teus olhos dois barquinhos
Onde vão pescar os meus
Como as searas do mar
Como as searas do mar
Que se agitam num adeus
É tarde, vou-me deitar
É tarde, vou-me deitar
e sonhar com os olhos teus
É tarde, vou-me deitar
É tarde, vou-me deitar
e sonhar com os olhos teus

Lá longe, no horizonte
Onde o Sol se vai deitar
O trigo serve de ponte
O trigo serve de ponte
Entre a terra e entre o mar

De dia guardo o rebanho
À noite sou marinheiro
Faço veleiros com sonhos
Faço veleiros com sonhos
Navego por mar trigueiro

São teus olhos dois barquinhos
Onde vão pescar os meus
Como as searas do mar
Como as searas do mar
Que se agitam num adeus
É tarde, vou-me deitar
É tarde, vou-me deitar
e sonhar com os olhos teus
É tarde, vou-me deitar
É tarde, vou-me deitar
e sonhar com os olhos teus

É tarde, vou-me deitar
É tarde, vou-me deitar
e sonhar com os olhos teus
É tarde, vou-me deitar
É tarde, vou-me deitar
e sonhar com os olhos teus
É tarde, vou-me deitar
É tarde, vou-me deitar
e sonhar com os olhos teus
É tarde, vou-me deitar
É tarde, vou-me deitar
e sonhar com os olhos teus

Luís Galrito, Menino do Sonho Pintado

Letra e música: Paulo Abreu de Lima
Intérprete: Luís Galrito com João Afonso (in CD “Menino do Sonho Pintado”, Kimahera, 2018)

Quem trabalha e mata a fome

[ Bem Podia a Andorinha ]

Quem trabalha e mata a fome
Não come o pão de ninguém;
Mas quem não trabalha e come,
Come sempre o pão de alguém.

Bem podia a andorinha
Fazer paragem no chão;
Bem podia o meu amor
Ser firme ao meu coração.

Ser firme ao meu coração,
Ser firme e não me enganar;
Bem podia a andorinha
Fazer paragem no ar.

Bem podia quem tem muito
Repartir por quem não tem:
O rico ficava rico
E o pobre ficava bem.

Bem podia a andorinha
Fazer paragem no chão;
Bem podia o meu amor
Ser firme ao meu coração.

Ser firme ao meu coração,
Ser firme e não me enganar;
Bem podia a andorinha
Fazer paragem…

Letra: António Aleixo (1.ª quadra) e tradicional do Baixo Alentejo
Música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Intérprete: Afonso Dias
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)

Quem tiver olhos azuis

[ Fui-te Ver, Estavas Lavando ]

[ Cantiga: ]

Quem tiver olhos azuis
Bem os pode arrecadar:
Os olhos azuis são poucos,
São custosos de alcançar.

[ Moda: ]

Fui-te ver, estavas lavando
No rio sem assabão;
Lavas em água de rosas,
Fica-te o cheiro na mão.

Fica-te o cheiro na mão,
Fica-te o cheiro no fato;
Se eu morrer e tu ficares,
Adora-me o meu retrato!

Adora-me o meu retrato,
Adora meu coração!
Fui-te ver, estavas lavando
No rio sem assabão.

[ Cantiga: ]

Menina, tire a camisa [bis]
Que tem à sua janela!
A camisa sem a dona [bis]
Lembra-me a dona sem ela.

[ Moda: ]

Fui-te ver, estavas lavando
No rio sem assabão;
Lavas em água de rosas,
Fica-te o cheiro na mão.

Fica-te o cheiro na mão,
Fica-te o cheiro no fato;
Se eu morrer e tu ficares,
Adora-me o meu retrato!

Adora-me o meu retrato,
Adora meu coração!
Fui-te ver, estavas lavando
No rio sem assabão.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Monda e Ruben Alves
Intérprete: Monda (in CD “Monda”, Monda/Tánaforja, 2016)

Quero ir para o altinho

[ Moda: ]

Quero ir para o altinho
Que eu daqui não vejo bem;
Quero ir ver do meu amor
Se ele adora mais alguém.

Se ele adora mais alguém
Ou se ele ama a mim sozinho;
Que eu daqui não vejo bem,
Quero ir para o altinho.

[ Cantiga: ]

A alegria de uma vida
É amar só o nosso bem;
Nasce a dor e fica a vida
Sem sentido e sem ninguém.

Fica a vida sem sentido
E só a morte é companheira;
Ai de mim, o que farei
Agora com a vida inteira?!

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP “Amores de Maio”, Contradança, 1986, reed. Ovação, 1992, 1997)

Ribeira vai cheia

Ribeira vai cheia
e o barco não anda.
Tenho o meu amor
lá daquela banda.

Lá daquela banda
e eu cá deste lado;
ribeira vai cheia
e o barco parado.

(Popular – Alentejo)

Roendo uma laranja na falésia

[ Porto Covo ]

Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente,
Ouvindo um rouxinol nas redondezas,
No calmo improviso do poente

Em baixo fogos trémulos nas tendas
Ao largo as águas brilham como prata
E a brisa vai contando velhas lendas
De portos e baías de piratas

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Covo

A lua já desceu sobre esta paz
E reina sobre todo este luzeiro
À volta toda a vida se compraz
Enquanto um sargo assa no brazeiro

Ao longe a cidadela de um navio
Acende-se no mar como um desejo
Por trás de mim o bafo do destino
Devolve-me à lembrança do Alentejo

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Covo

Roendo uma laranja na falésia
Olhando à minha frente o azul escuro
Podia ser um peixe na maré
Nadando sem passado nem futuro

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Covo

Rui Veloso, O Concerto Acústico

Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Intérprete: Rui Veloso (in “Rui Veloso”, EMI-VC, 1986; “Ao Vivo”, EMI-VC, 1988; “O Concerto Acústico”, EMI, 2003)

Rompe a aurora

[ Primavera alentejana ]

Rompe a aurora, nasce o dia
iluminando o montado.
Como um hino à alegria
ouve-se balir o gado.

Roxo, verde e amarelo,
olho à volta é o que vejo.
Não há nada assim tão belo,
ó meu querido Alentejo.

Refrão:
Lindos campos verdejantes
matizados de papoilas,
já não são como eram antes
mondados pelas moçoilas.

Perfumados de poejo
os campos de solidão,
é assim o Alentejo
que trago no coração.

O melro canta no silvado,
o grilo no buraquinho,
e eu por ti apaixonado,
Alentejo, meu cantinho.

Roda Pé, Escarpados Caminhos

Refrão

Poema: Hermínia Gaidão Costa (em memória de Margarida Gaidão)
Música: Hermínia Costa / Rodapé
Intérprete: Roda Pé (in CD “Escarpados Caminhos”, 2004

Rosa Branca Desmaiada

Rosa branca desmaiada,
Onde deixaste o cheiro?
Deixei-o no meu quintal,
À sombra do limoeiro.

À sombra do limoeiro,
Por não ter sido regada.
Onde deixaste o cheiro,
Rosa branca desmaiada?

Ó luar da meia-noite,
Não digas à minha amada
Que eu passei à rua dela
Às quatro da madrugada!

Às quatro da madrugada
Que eu passei à rua dela.
Ó luar da meia-noite,
Não digas à minha amada!

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)

Roubei-te um beijo

Intérprete: De Moda em Moda

Rouxinol repenica o cante

Rouxinol repenica o cante
ao passar da passadeira.
Nunca mais tornas a Beja, oh ai,
sem passares à Vidigueira,

sem passares à Vidigueira,
sem ires beber ao falcante
e ao passar da passadeira, oh ai,
rouxinol repenica o cante.

Eu gosto muito de ouvir
cantar a quem aprendeu.
Se houvera quem me ensinara, oh ai,
quem aprendia era eu.

Rouxinol repenica o cante
ao passar da passadeira.
Nunca mais tornas a Beja, oh ai,
sem passares à Vidigueira.

Sem passares à Vidigueira,
sem ires beber ao falcante
e ao passar da passadeira, oh ai,
rouxinol repenica o cante.

Letra e música: Popular; adaptação: Vitorino
Intérprete: Vitorino (in “Os Malteses”, Orfeu, 1977; “Negro Fado”, EMI-VC, 1988)

Vitorino, Os Malteses

Santa Cruz é a nossa terra

Santa Cruz é a nossa terra
Beja é o nosso distrito,
O concelho é Almodôvar
Não há nada mais bonito.

Santa Cruz é a nossa terra
Rodeada de olivais,
Com suas casas branquinhas
E os seus antigos beirais.

E os seus antigos beirais
É a nossa tradição,
Santa Cruz é a nossa terra
Terra da nossa paixão.

Aldeia de Santa Cruz
É terra que eu mais invejo,
Ficas à beira da serra
Mesmo ao sul do Alentejo.

Santa Cruz é a nossa terra
Rodeada de olivais,
Com suas casas branquinhas
E os seus antigos beirais.

E os seus antigos beirais
É a nossa tradição,
Santa Cruz é a nossa terra
Terra da nossa paixão.

(Popular – Santa Cruz, Baixo Alentejo)

Santa Vitória, Ervidel

[ O Homem da Campaniça (Ao Ricardo Fonseca) ]

Santa Vitória, Ervidel:
Minha cantiga é castiça,
Minha voz doce de mel,
Meus dedos na campaniça.

Rosa, Mariana, Maria:
Todas me ouviram cantar,
Fosse de noite ou de dia
Ou com um sol de abrasar.

Rasguei modas e cantares,
Dízimas disse, que eu fiz;
Andei por muitos lugares
Ora alegre ora infeliz.

Andei com moças brejeiras,
Mulheres feitas, ricas donas;
Dormi com elas nas eiras
E na apanha de azeitonas.

Inda hoje eu sou falado
Da serra à charneca inteira,
Pelo homem da campaniça
Tocando à sua maneira.

Com a minha campaniça
Nas tabernas, no baldão,
Toda a gente me conhece
De Beja a Corte Malhão…

Letra e música: Francisco Naia
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

Sambombita, sambombita

Sambombita, sambombita
Yo te tengo que romper!
A la puerta de mi novia
No quisiste tocar bien.

Abre la tristeza que pasa por mi,
Las mozas del baile me dicen así:

Pandereterita, moza,
Pandereterás,
No te vayas
Sí no quieres
Que yo me muera!

Esta noche es Nochebuena,
Es noche de hacer briñuelos;
Mas mi madre no los hace
Porque no tiene dinero.

Abre la tristeza que pasa por mi,
Las mozas del baile me dicen así:

Pandereterita, moza,
Pandereterás,
No te vayas
Sí no quieres
Que yo me muera!

Los ratones de mi casa
Tienen la fea costumbre
De rascar a los cojones
Con el gancho de la lumbre.

Abre la tristeza que pasa por mi,
Las mozas del baile me dicen así:

Pandereterita, moza,
Pandereterás,
No te vayas
Sí no quieres
Que yo me muera!

Al subir las escaleras
Te vi las ligas azules,
Y un poco más arriba…
Sábado, domingo y lunes.

Abre la tristeza que pasa por mi,
Las mozas del baile me dicen así:

Pandereterita, moza,
Pandereterás,
No te vayas
Sí no quieres
Que yo me muera!

Letra e música: Tradicional (Barrancos, Baixo Alentejo)
Arranjo: Artesãos da Música
Intérprete: Artesãos da Música
Versão discográfica dos Artesãos da Música (in CD “Puleando”, Artesãos da Música/ARMA, 2012)

São chegados os Três Reis

[ Reis ]

São chegados os Três Reis
à porta do lavrador
Se tem a mulher bonita
a filha é uma flor

Que cavalos são aqueles
que fazem sombra no Mar
São os três do Oriente
que a Jesus vão adorar

O menino chora, chora
porque anda descalcinho
Haja quem lhe dê as meias
que eu lhe dou os sapatinhos

Nossa Senhora lavava
e São José estendia
E o menino chorava
com o frio que fazia

Calai-vos meu menino
calai-vos meu amor
Isto são navalhinhas
que cortam sem dor

Saíram as três Marias
de noite pelo luar
Em busca do Deus menino
sem No poderem achar

Foram-No achar em Roma
vestidinho no altar
Com cálix d’oiro na mão
missa nova quer cantar

E dai-la esmola e… e dai-la esmola bem dada
Para quem, para quem vier pedir
que ela lhe, que ele lhe sirva de escada
Para quando, para quando ao céu subir

Letra e música: Popular (Redondo – Alentejo)
Intérprete: Janita Salomé / cantadores de Redondo* (in CD “Vozes do Sul: uma celebração do cante alentejano”, Capella, 2000)

Se eu for preso por cantar

[ Sarapateado ]

Se eu for preso por cantar
Não calarei a garganta;
Eu sou como o passarinho
Que até na gaiola canta.

Vai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Vai sim, meu bem, sarapateado. [bis]

À porta da minha sogra
Vem uma silva nascendo;
Todos passam, não se enleiam,
Só eu na silva me prendo.

Vai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Vai sim, meu bem, sarapateado. [bis]

Vai sim, meu bem, sarapatear!
Quem quiser bailar traga bom calça…,
Traga bom calça…, traga bom calçado!
Vai sim, meu bem, sarapateado. [4x]

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Arranjo: Há Lobos Sem Ser na Serra
Intérprete: Há Lobos Sem Ser na Serra
Primeira versão do grupo Há Lobos Sem Ser na Serra (in CD “Cantares do Sul e da Utopia”, Há Lobos Sem Ser na Serra/Alain Vachier Music Editions, 2016)

Há lobos sem ser na serra, Cantares do Sul e da Utopia

Se fores ao Alentejo

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão:
Leva o coração aberto,
E ao lado do coração
Leva a rosa da justiça
E o teu filho pela mão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão:
Leva o teu braço liberto
Para abraçar teu irmão;
Esse irmão que está tão perto
Do teu aperto de mão
E que tão longe amanhece
Nos campos da solidão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão:
Leva a alegria de seres
Irmão de quem vai parir
Uma seara de trigo,
Uma charneca a florir,
Um rebanho e um abrigo
E um amanhã que há-de vir
Como se fosse outro amigo
Dentro do sol, a sorrir.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão:
Leva o coração aberto
E o teu filho pela mão.
Leva o coração aberto
E o teu filho pela mão.

Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.
Se fores ao Alentejo
Não leves vinho nem pão.

Letra: Eduardo Olímpio
Música: Carlos Alberto Moniz
Intérprete: Carlos Alberto Moniz
Versão original: Carlos Alberto Moniz (in Livro/2CD “O Vinho dos Poetas”: CD 2, Carlos Alberto Moniz/Ovação, 2014)

Se fores ao mar pescar

Se fores ao mar pescar,
Pesca-me uma margarida!
Margarida, és meu amor,
Que andava no mar perdida.

Que andava no mar perdida,
No meio de água salgada;
Pesca-me uma margarida,
Margarida, és minha amada!

Letra e música: Tradicional (Beja, Baixo Alentejo)
Recolha: Michel Giacometti (in LP “Alentejo”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1965; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 4 – Alentejo, Strauss, 1998)
Intérprete: Macadame* (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Semeei salsa ao reguinho

[ Semear Salsa ao Reguinho ]

Semeei salsa ao reguinho
Hortelã daquela banda
Para lograr os teus carinhos
Tive que andar em demanda

Tive que andar em demanda
Para lograr os teus carinhos
Hortelã daquela banda
Semeei salsa ao reguinho

Não julgues por eu cantar
Que a vida alegre me corre
Eu sou como um passarinho
Tanto canta até que morre

Letra e música: Popular (Alentejo)
Recolha e arranjo: Vitorino
Intérprete: Vitorino (in “Semear Salsa ao Reguinho”, Orfeu, 1975; reed. Movieplay, 1999; CD “Ao Vivo A Preto e Branco”, Magic Music/Som Livre, 2007)

Vitorino, Semear Salsa ao Reguinho

Senhora que és padroeira

[ Nossa Senhora do Carmo ]

Senhora que és padroeira
Da nossa terra hospitaleira

Nossa Senhora do Carmo
Que está no seu altar
Todos lá vamos ajoelhar
E a cantar, a cantar
Vamos rezar

Oremos p’la nossa voz
Nossa Senhora rogai por nós

Nossa Senhora do Carmo
Que está no seu altar
Todos lá vamos ajoelhar
E a cantar, a cantar
Vamos rezar

Unidos a uma voz
Nossa Senhora rogai por nós

Nossa Senhora do Carmo
Que está no seu altar
Todos lá vamos ajoelhar
E a cantar, a cantar
Vamos rezar

(Popular – Alentejo)

Silva, Silva, Enleio, Enleio

Castro Verde

Castro Verde

[ dança encadeada ]

Moda:

Silva, silva, enleio, enleio!
Silva, silva, enleado, enleado!
Não me venhas cá dizer,
Ó sim, sim, meu bem-amado!

Ó sim, sim, meu bem-amado!
Ó sim, sim, ó meu recreio!
Silva, silva, enleado, enleado!
Silva, silva, enleio, enleio!

Letra e música: Tradicional (Castro Verde, Baixo Alentejo)
Informantes: Grupo Coral Feminino “As Atabuas” (São Marcos da Ataboeira, Castro Verde) e Pedro Mestre (Sete, Castro Verde)
Recolha: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 42-45)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

Castro Verde
Castro Verde

Solidão, ai dão, ai dão

Solidão, ai dão, ai dão,
Para mim quer sim, quer não;
Vem a morte e leva a gente,
Quem não há-de ter paixão?

Quem não há-de ter paixão?
Quem paixão não há-de ter?
Solidão, ai dão, ai dão,
Resistir até morrer.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Bernardo Charrua “Calabaça” (in CD “Monda”, de Monda*, Monda/Tánaforja, 2016)

Suspirava por te ver

[ Ó Menina Florentina ]

Suspirava por te ver,
Já matei a saudade.
Muito custa uma ausência
P’ra quem ama na verdade.

Ó menina Florentina,
És a flor que em meu peito domina!
Seu amante, delirante,
De viagem chegou nesse instante.

Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé!
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló!
Já cá está tiro-liro-li, meu amor,
Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!

Anda cá para meus braços,
Se tu vida queres ter!
Os meus braços dão saúde
A quem está para morrer.

Ó menina Florentina,
És a flor que em meu peito domina!
Seu amante, delirante,
De viagem chegou nesse instante.

Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé!
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló!
Já cá está tiro-liro-li, meu amor,
Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!

Graças a Deus que chegou
Quem eu desejava ver:
Deu palavra, não faltou,
Assim é que deve ser.

Ó menina Florentina,
És a flor que em meu peito domina!
Seu amante, delirante,
De viagem chegou nesse instante.

Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-lé!
Já cá está tiro-liro-li, tiro-liro-ló!
Já cá está tiro-liro-li, meu amor,
Tiro-liro-li abre a porta, ó branca flor!

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)

Tá preso o João Brandão

[ Mais Brando João Brandão ]

‘Tá preso o João Brandão
Às grades do Limoeiro;
Mais brando…
Às grades do Limoeiro.

Era rico, agora é pobre…
Olha o que faz o dinheiro!
Mais brando…
Olha o que faz o dinheiro!

Estando eu na minha loja,
Encostadinho ao balcão,
Mais brando…
Encostadinho ao balcão,

Ouvi uma voz dizer:
“‘Tá preso o João Brandão.”
Mais brando…
“‘Tá preso o João Brandão.”

Ouvi uma voz dizer:
“‘Tá preso o João Brandão.”
Mais brando…
Mais Brando João Brandão.

Monda – grupo de cante alentejano

Letra: Popular (Alentejo)
Música: Monda
Intérprete: Monda com o Grupo de cantadores de Portel (in CD “Monda”, Monda/TáNaForja, 2016)

Trago um jardim no sentido

[ Jardim dos Sentidos ]

Trago um jardim no sentido,
Por ter sentido o que sinto:
Amor que não faz sentido
Num coração louco e faminto.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Coração louco e faminto,
Rosa que tenho sentido;
Jardim que anda perdido,
Por ter sentido o que sinto.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Por ter sentido o que sinto,
Amor que não faz sentido,
Jardim que anda perdido,
Trago um jardim no sentido.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Trago um jardim no sentido…

Letra e música: Pedro Mestre
Intérprete: Pedro Mestre com António Zambujo (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre com António Zambujo (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Uma estrela se foi pôr

[ Canção ao Menino ]

Uma estrela se foi pôr
Em cima duma cabana
A cabana era pequena
Não cabiam todos três
Adoravam o menino
Cada um da sua vez

E abram-se lá essas portas
Ainda não estão bem abertas
Que nasceu o Deus menino
Vou-lhe dar as Boas Festas

Boas Festas meus senhores
Boas Festas lhes vou dar
Que nasceu o Deus menino
Alta noite de Natal

E alta Noite de Natal
Noite de santa alegria
Que nasceu o Deus menino
Filho da Virgem Maria

Senhora dona da casa
Deixe-se estar que está bem
Mande-nos dar a esmola
Por essa rosa que aí tem

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in CD “Terra de Abrigo”, Ocarina, 2003)

Ronda dos Quatro Caminhos, Terra de Abrigo

Vai ao centro, vai ao meio

Vai ao centro, vai ao meio!
Agora vou andar
Com o meu amor em passeio;
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Vá de roda, cantem todas
Cada qual sua cantiga!
Eu também cantarei,
Eu também cantarei uma
Que a mocidade me obriga.

Vá de roda, cantem todas
Cada qual sua cantiga!
Que eu também cantarei uma
Que a mocidade me obriga.

Vai ao centro…

[ Moda: ]

Vai de centro ao centro ao centro!
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Com meu amor em passeio,
Com meu bem a passear,
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar.

[ Cantiga: ]

Vá de roda, cantem todos
Cada qual sua cantiga!
Que eu também cantarei uma
Que a mocidade me obriga.

[ Moda: ]

Vai de centro ao centro ao centro!
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Com meu amor em passeio,
Com meu bem a passear,
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar.

[ Moda: ]

Vai de centro ao centro ao centro!
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Com meu amor em passeio,
Com meu bem a passear,
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar.

[ Cantiga: ]

Minha mãe, p’ra m’eu casar,
Ofereceu-me uma panela;
Depois de me ver casada,
Partiu-me a cara com ela.

[ Moda: ]

Vai de centro ao centro ao centro!
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar
Com meu amor em passeio.

Com meu amor em passeio,
Com meu bem a passear,
Vai de centro ao centro ao meio!
Agora é que eu vou andar.

Letra e música: Tradicional (Alentejo)
Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)

Vai colher a rosa

Vai colher a rosa
Vai colhê-la, vai.
Se ela te picar
Não digas ai ai.

Não digas ai ai
Não digas ai ui
Vai colher a rosa
Vai, vai que eu também fui.

O meu lindo amor
Já não me visita
É certo que tem
Outra mais bonita.

Outra mais bonita
Outro bem querer.
O meu lindo amor
Já não me vem ver.

(Popular – Alentejo)

Vamos nós seguindo

Vamos nós seguindo,
por esses campos fora…
Que a manhã vem vindo
dos lados da aurora.

Dos lados da aurora
a manhã vem vindo.
Por esses campos fora,
vamos nós seguindo.

(Popular – Alentejo)

Venho da ilha dos vidros

[ Ilha dos Vidros ]

[Moda:]

Venho da ilha dos vidros,
Da praia dos diamantes;
Vivo no mundo perdido
Pelos teus olhos brilhantes.

Pelos teus olhos brilhantes,
Pelo teu rosto de prata;
Ter amores não me custa,
Deixá-los é que me mata.

[Cantiga:]

Os teus olhos é que são
A causa de eu te querer bem:
Que não me deixam tomar
Amizade a mais ninguém.

[Moda:]

Venho da ilha dos vidros,
Da praia dos diamantes;
Vivo no mundo perdido
Pelos teus olhos brilhantes.

Pelos teus olhos brilhantes,
Pelo teu rosto de prata;
Ter amores não me custa,
Deixá-los é que me mata.

[Cantiga:]

A paixão me há-de matar,
É o mais certo que eu tenho:
Não me há-de deixar gozar
Um amor que eu faço empenho.

[Moda:]

Venho da ilha dos vidros,
Da praia dos diamantes;
Vivo no mundo perdido
Pelos teus olhos brilhantes.

Pelos teus olhos brilhantes,
Pelo teu rosto de prata;
Ter amores não me custa,
Deixá-los é que me mata.

Venho da ilha dos vidros,
Da praia dos diamantes;
Vivo no mundo perdido
Pelos teus olhos brilhantes.

Pelos teus olhos brilhantes,
Pelo teu rosto de prata;
Ter amores não me custa,
Deixá-los é que me mata.

Letra e música: Tradicional (Baixo Alentejo)
Arranjo: José Manuel David
Intérprete: Pedro Mestre* com cantadores do Sul (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outras versões com Pedro Mestre: Grupo de Violas Campaniças (in CD “Ilha dos Vidros”, Associação de Cante Alentejano “Os Cardadores”, 2006); 4uatro ao Sul (in CD “Demudado em Tudo”, 4uatro ao Sul/Ocarina, 2011); Pedro Mestre com 4uatro ao Sul (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Pedro Mestre, Campaniça do Despique

Vim do campo

[ Tira o Capotinho ]

Vim do campo, já ceei;
Hoje vou dar uma voltinha:
Vou à venda, bebo um copo,
Regresso de manhãzinha.

Esta noite, nem me eu deito
Sem primeiro ouvir cantar;
Gosto de ouvi-lo bem feito
E em certo particular.

Tira o capotinho, sim, sim!
Esta noite havemos ver;
Tira o capotinho, sim, sim,
Esta noite ao amanhecer!

Esta noite soprou vento
Com pontinhas de suão:
Abriram-se as rosas todas
Dentro do teu coração.

Para ver a minha amada,
Espreitei à sua janela;
Ela já estava deitada,
Fui-me embora a pensar nela.

Tira o capotinho, sim, sim!
Esta noite havemos ver;
Tira o capotinho, sim, sim,
Esta noite ao amanhecer!

O cantar de madrugada
É uma coisa excelente:
Acorda quem está dormindo,
Alegra quem está doente.

Toda a noite eu andei
Por estradas tão medonhas,
Sempre sonhando contigo;
Só comigo tu não sonhas…

Tira o capotinho, sim, sim!
Esta noite havemos ver;
Tira o capotinho, sim, sim,
Esta noite ao amanhecer!

Letra: Popular (Baixo Alentejo) e Francisco Naia
Música: Popular (Baixo Alentejo)
Intérprete: Francisco Naia (in CD “Francisco Naia e a Ronda Campaniça”, Francisco Naia/Ovação, 2012)

Francisco Naia e a Ronda Campaniça
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Jardim do Paço Episcopal, Castelo Branco, Beira Baixa

Canções da (e sobre a) Beira Baixa

A lua nasceu

[ Canção de Embalar ]

A lua nasceu e cresceu no além,
A noite chegou também;
Meu bebé, vai dormir!
Vai dormir e sonhar!
Deixa a lua subir lá no ar.
Meu bebé, vai dormir!
Vai dormir e sonhar!
Deixa a lua subir lá no ar.

A rôca poisou e largou sem chorar,
Seus olhos vão já fechar;
Nada pode impedir
Que o bebé durma bem,
Nem papão há-de vir nem ninguém.

Tu verás, meu amor,
Como é bom sonhos ter:
Deus te dê os melhores que houver!
Amanhã contarás tudo o que se passar
E depois voltarás a sonhar.

A lua nasceu e cresceu no além,
A noite surgiu também;
Vai dormir, meu amor,
Porque eu velo por ti!
Só aos anjos a lua sorri.
Vai dormir, meu amor,
Porque eu velo por ti!
Só aos anjos a lua sorri.

Tu verás, meu amor,
Como é bom sonhos ter:
Deus te dê os melhores que houver!
Vai dormir, meu amor!
Vai dormir e sonhar!
Deixa a lua subir lá no ar.

Tu verás, meu amor,
Como é bom sonhos ter:
Deus te dê os melhores que houver!
Vai dormir, meu amor!
Vai dormir e sonhar!
Deixa a lua crescer lá no ar.

Amanhã contarás tudo o que se passar
E depois voltarás a sonhar.

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Intérprete: Musicalbi (in CD “Mastiço”, Musicalbi/I Som, 2007; CD “Lado Calmo”, Musicalbi, 2014)

Conheça AQUI os produtos Meloteca!

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Pode ser do seu interesse o Musorbis, sítio do património musical dos concelhos, ou o Instrumentário Português, que já contém 100 instrumentos tradicionais no País.

Cala-te, Menino, Cala!

Cala-te, menino, cala!
Cala-te, menino, cala!
Que a senhora logo vem!
Que a senhora logo vem!
Foi lavar os cueirinhos,
Foi lavar os cueirinhos,
Ao chafariz de Belém,
Ao chafariz de Belém.

Ó, ó, ó, ó, ó, menino, ó!

Cala-te, menino, cala!
Cala-te, menino, cala!
Cala-te e torna a calar!
Cala-te e torna a calar!
Eu tenho muito que fazer,
Eu tenho muito que fazer,
Não te posso embalar,
Não te posso embalar.

Cala-te, menino, cala!
Cala-te, menino, cala!
Cala-te e torna a calar!
Cala-te e torna a calar!
Eu tenho muito que fazer,
Eu tenho muito que fazer,
Não te posso embalar,
Não te posso embalar.

Ó, ó, ó, ó, ó, menino, ó!
Ó, ó, ó, ó, ó, menino, ó!

Letra e música: Tradicional (Paul, Covilhã, Beira Baixa)
Recolha: José Alberto Sardinha (“Embalo”, 1981, in “Recolhas Musicais da Tradição Oral Portuguesa: LP 1 – Beira Baixa e Minho”, Contralto – Música Popular, Lda., 1982; “Portugal – Raízes Musicais”: CD 4 – Beira Baixa e Beira Trasmontana, BMG/JN, 1997)
Intérprete: O Baú* (in CD “Achega-te”, O Baú, 2012)

O Baú

Cravo roxo à janela

Cravo roxo à janela
É sinal de casamento
Menina recolha o cravo, ó ai
Que o casar ainda tem tempo
Cravo roxo ama, ama
Ó jasmim adora, adora
Rosa branca brumelhinha, ó ai
Se tens pena chora, chora
Cravo roxo sentimento
Que eu bem sentida estou
Por amar quem me não ama, ó ai
Querer bem a quem me deixou
Tenho à minha janela
O que tu não tens à tua
Cravo roxo salpicado, ó ai
Que dá cheiro a toda a rua

Letra e música: Popular (Beira Baixa)
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos / Coro Polifónico Eborae Musica / Adufeiras de Monsanto / Coral Guadiana de Mértola (in CD “Sulitânia”, Ocarina, 2007)

Ronda dos Quatro Caminhos, Sulitânia

Era ainda pequenino

Era ainda pequenino
Acabado de nascer
Inda mal abria os olhos
Já era para te ver

Acabado de nascer
Quando eu já for velhinho
Acabado de morrer
Olha bem para os meus olhos

Sem vida são p’ra te ver
Acabados de morrer
Era ainda pequenino
Acabado de nascer

Inda mal abria os olhos
Já era para te ver
Acabado de nascer

Letra e música: Popular (Beira Baixa)
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in “Cantigas Portuguesas”, Orfeu, 1980; “Obra Completa”, Movieplay, 1994, 2007)

Esta noite não é noite

[ Moda da Zamburra ]

Esta noite não é noite
não é noite de dormir
nem esta nem a que vem
nem a que está para vir
não é noite de dormir

Pelo mar abaixo
vai um pintassilgo
c’o arado às costas
semeando o trigo

Estas casas não são casas
Estas casas são casinhas
Tantos anos viva o mundo
Como elas têm de pedrinhas

Estas casas são casinhas
Pelo mar abaixo
vai uma cabaça
Se ela leva vinho
leva toda a graça
Pelo mar abaixo
vai um pintassilgo
c’o arado às costas
semeando o trigo

Ó Entrudo, ó Entrudo
ó Entrudo chocalheiro
tu não deixas assentar
as mocinhas ao solheiro
ó Entrudo chocalheiro

Pelo mar abaixo
vai um pintassilgo
c’o arado às costas
semeando o trigo

Pelo mar abaixo
vai uma cabaça
Se ela leva vinho
leva toda a graça

Letra e música: Popular (Concelho de Castelo Branco, Beira Baixa)
Arranjo: Aurélio Malva
Intérprete: Brigada Victor Jara (in CD “Danças e Folias”, Farol, 1995)

Brigada Victor Jara, Danças e Folias

Estava a velha no seu lugar

[ A Velha a Fiar (Lengalenga) ]

Estava a velha no seu lugar
Veio a mosca chatear
A mosca na velha, a velha a fiar
Estava a mosca no seu lugar
Veio a aranha chatear
A aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar
Estava a aranha no seu lugar
Veio o rato chatear
O rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar
Estava o rato no seu lugar
Veio o gato chatear
O gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar
Estava o gato no seu lugar
Veio o cão chatear
O cão no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar
Estava o cão no seu lugar
Veio o homem chatear
O homem no cão, o cão no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar
Estava o homem no seu lugar
Veio a morte chatear
A morte no homem, o homem no cão, o cão no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar

Letra e música: Tradicional (Proença-a-Nova, Beira Baixa)
Recolha: José Alberto Sardinha (1989, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 4 – “Beira Baixa e Beira Trasmontana”, BMG/JN, 1997)
Arranjo: Velha Gaiteira
Intérprete: Velha Gaiteira (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa)
Versão discográfica de Velha Gaiteira, com Grupo de Percussão da Escola Cidade de Castelo Branco (vozes) (in CD “Velha Gaiteira”, Velha Gaiteira/Ferradura, 2010)

Eu venho de marcelada

[ Marcelada ]

Eu venho de marcelada.

Eu venho de marcelada,
Venho de colher marcela,
Lá dos campos do castelo,
Daquela mais amarela.
Venho de marcelada.

Eu venho de marcelada,
Venho de colher uma flor,
Lá dos campos do castelo,
Para dar ao meu amor.
Venho de marcelada.

Eu venho de marcelada,
Venho de colher um cravo,
Lá das bandas do castelo,
Para dar ao namorado.
Venho de marcelada.

Eu venho de marcelada,
Venho de colher marcela,
Lá dos campos do castelo,
Daquela mais amarela.
Venho de marcelada.

Eu venho de marcelada,
Venho de colher uma flor,
Lá dos campos do castelo,
Para dar ao meu amor.
Venho de marcelada.

Eu venho de marcelada,
Venho de colher um cravo,
Lá das bandas do castelo,
Para dar ao namorado.
Venho de marcelada.

Letra e música: Tradicional (Monsanto, Idanha-a-Nova, Beira Baixa)
Recolha: Hubert de Fraysseix
Intérprete: Musicalbi* (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)

Eu venho de aqui

[ Debaixo da Laranjeira ]

Eu venho de aqui, de aqui
Eu venho de aqui, de além
Debaixo da laranjeira, ó ai
Muita laranja apanhei
Muita laranja apanhei
Uma verde outra amarela
Debaixo da laranjeira, ó ai
Namorei uma donzela
Namorei uma donzela
Namorei o meu amor
Debaixo da laranjeira, ó ai
Nem chove nem faz calor
Nem chove nem faz calor
Ó que vento tão fresquinho
Debaixo da laranjeira, ó ai
Meu amor deu-me um beijinho
Meu amor deu-me um beijinho
E um abraço apertado
Debaixo da laranjeira, ó ai
Saímos de lá casados
Saímos de lá casados
De dia e a toda a hora
Debaixo da laranjeira, ó ai
Meu amor, vamos embora

Letra e música: Popular (Beira Baixa)
Arranjo: Pedro Pitta Groz
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos / Adufeiras de Monsanto (in CD “Sulitânia”, Ocarina, 2007)

Florinda, vem à Janela!

— «Florinda, vem à janela
Que eu quero falar contigo!
Se tu não vens à janela
Dou um tiro no ouvido!

Dou um tiro no ouvido,
Dou um tiro no coração!»
— «Ó minha mãe, venha ver
O Mário morto no chão!»

— «Que fizeste tu, Florinda,
Para se o Mário matar?»
— «Eu pedi-lhe as minhas cartas
Para o namoro acabar.»

No dia do funeral
Tudo foi a acompanhar,
Só a mãe da Florindinha
Ficou em casa a chorar.

— «Tira o luto, ó Florinda,
Que o luto não te diz bem!
Se quisesses bem ao Mário
Matavas-te a ti também.»

Da janela do meu quarto
Vejo a pedra ensanguentada
Onde o Mário se matou
Por causa da namorada.

Da janela do meu quarto
Vejo as portas do cemitério
Onde o Mário está dormindo
O seu soninho eterno.

Letra e música: Tradicional (Zebreira, Idanha-a-Nova)
Informante: Maria Luísa Roseiro
Recolha: César Prata
Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016)
Primeira versão: César Prata (in CD “Canções de Cordel”, Teatro Municipal da Guarda, 2010)

Fui um ano às vindimas

[ Vindimas ]

Fui um ano às vindimas,
Pagaram-me a trinta reis;
Dei um vintém ao barqueiro,
Ai, fui p’ra casa com dez reis.

Foram todos à vindima,
Foram todos vindimar;
As uvas foram p’ró cesto,
Do cesto para o lagar.

Não se me dá que vindimem
Vinhas que eu já vindimei;
Não se me dá que outros logrem
Amores que eu rejeitei.
Não se me dá que outros logrem
Amores que eu rejeitei.

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Intérprete: Velha Gaiteira

Hei-de cercar a Idanha

[ Moda das Sachas ]

Hei-de cercar a Idanha
Com muitas peças de fita;
À porta do meu amor
Hei-de pôr a mais bonita.

As armas do meu adufe
São de pau de laranjeira;
Quem houver de tocar nele
Há-de ter a mão ligeira.

Todos os males se curam
Com remédios da botica;
Só as saudades não saram:
Quem as tem com elas fica.

As armas do meu adufe
São de pau de laranjeira;
Quem houver de tocar nele
Há-de ter a mão ligeira.

O Sol quando se quer pôr
Anda de ramo em ramo:
Alegria de nós todos,
Tristeza do nosso amo.

As armas do meu adufe
São de pau de laranjeira;
Quem houver de tocar nele
Há-de ter a mão ligeira.

Letra e música: Tradicional (Idanha-a-Nova, Beira Baixa)
Arranjo: Musicalbi
Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)

Musicalbi
Musicalbi

Indo eu d’aqui tão longe

[ Canção de Romaria ]

Indo eu d’aqui tão longe,
Sem pôr os pés na calçada,
Venho dar os parabéns
À senhora esposada.

Venho dar os parabéns
À senhora esposada;
Indo eu d’aqui tão longe
Sem pôr os pés na calçada.

Lá em cima ao altar-mor
Aqui treme o coração,
Quando o senhor vigário diz:
“Ponha aqui a sua mão!”

Quando o senhor vigário diz:
“Ponha aqui a sua mão!”
Lá em cima ao altar-mor
Aqui treme o coração.

Já não tenho coração,
Já mo tiraram do peito;
No lugar do coração
Nasceu-me um amor-perfeito.

No lugar do coração
Nasceu-me um amor-perfeito;
Já não tenho coração,
Já mo tiraram do peito.

Letra e música: Popular (Beira Baixa)
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD1, Ovação, 2001)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in LP/CD “Romarias”, Ovação, 1991)

Já são horas da merenda

(canção de ceifa)

Já são horas da merenda;
Ai, vamo-nos a merendar
Gaspachinho com vinagre,
Ai, para o peito refrescar!

Já se vai o Sol a pôr
Ai, para trás do cabecinho;
Bem quisera o nosso amo
Ai, prendê-lo c’um baracinho.

Já são horas da merenda;
Ai, vamo-nos a merendar
Gaspachinho com vinagre,
Ai, para o peito refrescar!

Já se vai o Sol a pôr
Ai, para trás do cabecinho;
Bem quisera o nosso amo
Ai, prendê-lo c’um baracinho.

Letra e música: Tradicional (Malpica, Castelo Branco, Beira Baixa)
Recolha: José Diogo Correia (in “Cantares de Malpica”, Lisboa: Tip. Henrique Torres, 1938; “A Canção Popular Portuguesa”, de Fernando Lopes Graça, Lisboa: Publicações Europa-América, Colecção Saber, n.º 23, 1953 – p. 65, 3.ª edição, Colecção Saber, n.º 23, Mem Martins: Publicações Europa-América, s/d. – p. 63)
Intérprete: Macadame (in Livro/CD “Firmamento”, Macadame, 2016)

Lá virá Sábado d’Aleluia

[ Sábado d’Aleluia ]

Lá virá Sábado d’Aleluia,
Guitarras não faltarão:
Vêm do fundo da rua
A cantar ao S. João.

Rua abaixo, rua acima,
Toda a gente me quer bem;
Só a mãe do meu amor…
Não sei que raiva me tem.

Quem canta nem males espanta,
Quem ama não quer amar,
Quem sabe não quer saber,
Quem ama sabe encantar.

Lá virá Sábado d’Aleluia,
Guitarras não faltarão:
Vêm do fundo da rua
A cantar ao S. João.

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Adaptação: José Barros
Arranjo: José Manuel David e José Barros
Intérprete: Navegante (in CD “Meu Bem, Meu Mal”, Tradisom/Iplay, 2008)

Lava, lava, lavadeira

[ Bate Lavadeira ]

Lava, lava, lavadeira
Na Ribeira do Paul!
Põe a roupinha a brilhar
Como oiro sobre azul!

Na Ribeira do Paul,
Encanto das raparigas
Que desfiam, quando lavam,
Seu rosário de cantigas.

Letra e música: Tradicional (Paul, Covilhã, Beira Baixa)
Arranjo: Velha Gaiteira
Intérprete: Velha Gaiteira* com Ti Zita (in CD “Velha Gaiteira”, Velha Gaiteira/Ferradura, 2010)

Loureiro, verde loureiro

Loureiro, verde loureiro,
Loureiro, assim, assim;
Engaste uma donzela:
Casa com ela, ó Joaquim!

Loureiro, verde loureiro,
Loureiro, assim, assim; (bis)
Engaste uma donzela:
Casa com ela, ó Joaquim! (bis)

Casar com ela, não caso
Que ela de mim não faz conta! (bis)
Loureiro, verde loureiro,
Seco no meio, verde na ponta (bis)

Por mais que o loureiro cresça
Ao céu não há-de chegar; (bis)
Por mais amores que eu tenha
Ai, a ti não te hei-de deixar. (bis)

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Arranjo: Musicalbi
Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)

Milho Verde

Milho verde, milho verde,
Ai, milho verde, milho verde;
Ai, milho verde, maçaroca,
Ai, namorei uma… ai, uma cachopa.

Milho verde, milho verde,
Ai, milho verde, milho verde;
Ai, milho verde miudinho,
Ai, namorei um… ai, um rapazinho.

Milho verde, milho verde,
Ai, milho verde, milho verde;
Ai, milho verde, folha larga,
Ai, namorei uma… ai, uma casada.

Mondadeiras do meu milho,
Ai, mondadeiras do meu milho,
Ai, mondai o meu milho bem,
Ai, que a merenda… ela já lá vem.

Milho verde, milho verde,
Ai, milho verde, milho verde;
Ai, milho verde miudinho,
Ai, namorei um… ai, um rapazinho.

Mondadeiras do meu milho,
Ai, mondadeiras do meu milho,
Ai, mondai o meu milho bem,
Ai, que a merenda… ela já lá vem.

Letra e música: Tradicional (Fundão, Beira Baixa)
Intérprete: Musicalbi (in CD “Mastiço”, Musicalbi/I Som, 2007; CD “Lado Calmo”, Musicalbi, 2014)

Musicalbi, Lado Calmo

Minha roda ‘stá parada

[ O Diabo Tocador ]

Minha roda ‘stá parada
Por falta de tocador;
Anda a roda, anda a roda
Que eu já vou, ó meu amor
Minha roda ‘stá parada
Por falta de tocador;
Anda a roda, anda a roda
Que eu já vou, ó meu amor.
Esta água ‘stá parada:

Quem seria que a parou?
Foi a mãe do meu amor
Que esta noite aqui passou.
Ó mar largo, ó mar largo,
Ó mar largo sem ter fundo!
Mais vale andar no mar largo
Que andar nas bocas do mundo.

Letra: Popular
Música: Danças Ocultas (sobre o tema tradicional “Minha Roda ‘stá Parada”, Beira Baixa)
Intérprete: Danças Ocultas & Orquestra Filarmonia das Beiras, com Carminho (in CD “Amplitude”, Danças Ocultas/Uguru/Sony Music, 2016)
Versão original: Danças Ocultas – instrumental (in CD “Tarab”, Numérica, 2009)

Ó entrudo, ó entrudo

[ Moda do Entrudo (1.ª versão) ]

Ó entrudo, ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
as mocinhas ao solheiro

Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Que no monte é qu’eu estou bem
Que no monte é qu’eu estou bem
Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém
Que no monte é qu’eu estou bem

Estas casas são caiadas
Estas casas são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira
Foi o noivo mais a noiva
Foi o noivo mais a noiva
Com um ramo de laranjeira
Quem seria a caiadeira

Letra e música: Popular (Malpica, Beira Baixa)
Intérprete: José Afonso (in “Traz Outro Amigo Também”, Orfeu, 1970; reed. Movieplay, 1987)
Outras versões: Teresa Silva Carvalho (in “Ó Rama, Ó Que Linda Rama”, Orfeu, 1977; reed. Movieplay, 1994); Roda Pé (in CD “Cor dos Ventos”, public-art, 2000); Erva de Cheiro (in CD “Que Viva o Zeca: Tributo”, Musicart, 2007)
Versão instrumental: Júlio Pereira (in “Cavaquinho”, Sassetti, 1981; reed. CNM, 1993)

José Afonso, Traz outro amigo também

Ó filho não vás à mina

– Ó filho não vás à mina
Que as minas estão a cair
– Quer elas caiam quer não
Eu às minas quero ir

Não canto por bem cantar
Nem por bem cantar o digo
Eu canto para espalhar
Paixões que trago comigo

– Ó filho não vás à mina
Que as minas estão a cair
– Quer elas caiam quer não
Eu às minas quero ir

Eu não quero nem brincando
Dizer adeus a ninguém
Quem parte leva saudades
Quem fica saudades tem

– Ó filho não vás à mina
Que as minas estão a cair
– Quer elas caiam quer não
Eu às minas quero ir

Letra e música: Popular (Beira Baixa)
Arranjo: Pedro Fragoso
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos / Coro Polifónico Eborae Musica (in CD “Sulitânia”, Ocarina, 2007)

Ó entrudo, ó entrudo

[ Moda do Entrudo (2.ª versão) ]

Ó entrudo, ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
As mocinhas ao solheiro

Ó entrudo chocalheiro
Estas casas são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira
Foi o noivo mais a noiva
Com um ramo de laranjeira
Quem seria a caiadeira
Lá em baixo vai o entrudo
Em farrapos pelo chão
Em farrapos pelo chão
Que comeu um burro morto
Entre o Inverno e o Verão
Em farrapos pelo chão
O entrudo foi à vila
Já não quer de lá sair
Já não quer de lá sair
Caiu dentro de uma pipa
Dá-lhe a mão que quer subir
Já não quer de lá sair
Lá em baixo está o entrudo
De gordo não pode andar
De gordo não pode andar
Que comeu um burro morto
Entre o almoço e o jantar
De gordo não pode andar

Letra e música: Popular (Malpica, Beira Baixa)
Intérprete: Janita Salomé (in “Galinhas do Mato”, de José Afonso, Transmédia, 1985; reed. CNM, 1993)

Ó Linda

[ A canção Raiana Perdida ]

Ó meu amor

[ Tosquia ]

Ó meu amor, se te fores,
Leva-me, podendo ser,
Que eu quero ir acabar
Onde tu fores morrer!

Eu hei-de ir morrer cantando,
Já que chorando nasci,
Já que as glórias deste mundo
Se acabaram para mim.

Letra e música: Tradicional (Fundão, Beira Baixa)
Intérprete: Musicalbi* (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)

Ó minha farrapeirinha

[ Farrapeira ]

Ó minha farrapeirinha!
Ó minha troca-farrapos!
Ó meu bem!
Ó minha troca-farrapos!
Tenho uma camisa nova
Toda cheia de buracos.
Larilolela!
Toda cheia de buracos.
Ó minha farrapeirinha!
Ó minha troca-farrapos!

Larilolela, larilolela!
Larilolela, lariloló!

Encontrei a farrapeira
Lá no Alto da Portela.
Ó meu bem!
Lá no Alto da Portela.
A moda da farrapeira
É bonita e gosto dela.
Larilolela!
É bonita e gosto dela.
Encontrei a farrapeira
Lá no Alto da Portela.

Larilolela, larilolela!
Larilolela, lariloló!

Ó minha farrapeirinha!
Ó minha farrapeirela!
Ó meu bem!
Ó minha farrapeirela!
O meu pai é muito rico:
Tem macacos à janela.
Larilolela!
Tem macacos à janela.
Ó minha farrapeirinha!
Ó minha farrapeirela!

Larilolela, larilolela!
Larilolela, lariloló!
Lariloló!

Chamaste-me farrapeira,
Ó meu grande farrapão!
Ó meu bem!
Ó meu grande farrapão!
Farrapeira é você
Mais a sua geração!
Larilolela!
Mais a sua geração!
Chamaste-me farrapeira,
Ó meu grande farrapão!

Lariloló!

Larilolela, larilolela!
Larilolela, larilolela!
Larilolela, larilolela!
Larilolela, larilolela!
Larilolela, larilolela!
Larilolela, larilolela!
Larilolela, larilolela!
Larilolela, larilole…

Letra e música: Tradicional (Paul, Covilhã, Beira Baixa)
Arranjos: Hélio Ribeiro e Tiago Soares
Intérprete: Pé na Terra (in CD “13”, Tempestades e Macaréus, 2010)

Ó ó, São João do meio

[ Manhaninha de São João ]

Ó ó, São João do meio,
Ai hei-de morar noutra rua!
Ainda não tenho casa,
Ai menina, arrende-me a sua!

Manhaninha de São João,
Ao redor da alvorada,
Jesus Cristo se passeia
Ao redor da fonte clara.

Eu hei-de ir ao São João,
Ai hei-de lá ir, se lá for,
Ou a pé ou a cavalo
Ai ou nos braços do amor.

Jesus Cristo se passeia
De volta da fonte clara,
E a água fica benzida
E a fonte fica sagrada.

Eu hei-de ir ao São João,
Ai hei-de lá ir, se lá for,
Ou a pé ou a cavalo
Ai ou nos braços do amor.

Manhaninha de São João,
Manhaninha de São João.

Letra e música: Tradicional (Idanha-a-Nova, Beira Baixa / Moimenta da Raia, Vinhais, Trás-os-Montes)
Intérprete: Segue-me à Capela
Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

O que lindos olhos tem

[ Cancioneiro Tradicional da Beira Baixa ]

Intérprete: Miguel Calhaz

Ó velha, ó boa velha

[ A Velha (cantiga de roda) ]

— Ó velha, ó boa velha,
Que foste fazer à feira?
— Meninas, minhas meninas,
Fui comprar uma cadeira,
Oh ai, olaré, comprar uma cadeira.

— Ó velha, ó boa velha,

Viste lá o meu amor?
— Lá o vi, minhas meninas,
Na Rua do Mercador,
Oh ai, olaré, na Rua do Mercador.

Letra e música: Tradicional (Penamacor, Beira Baixa)
Intérprete: Musicalbi* (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012; CD “Lado Calmo”, Musicalbi, 2014)
Primeira versão de Musicalbi (in CD “Musicalbi”, Discotoni, 1998)

Oh, meu amor, se te fores

[ Tosquia

Oh, meu amor, se te fores
Leva-me, podendo ser:
Que eu quero ir acabar
Onde tu fores morrer.

Eu hei-de ir morrer cantando,
Já que chorando nasci,
Já que as glórias deste mundo
Se acabaram para mim.

Letra e música: Tradicional (Fundão, Beira Baixa)
Arranjo: Musicalbi
Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)

Beira Baixa

Onde as searas cruzam o granito
e a voz do longe é feita de suor.
A suave beleza solitária
das oliveiras raras numa encosta.
A estranha consolação das giestas,
tão floridas em campos desolados.
E a verde esperança filha da sem esperança.

A estranha consolação das giestas,
tão floridas em campos desolados.
E a verde esperança filha da sem esperança.

Onde as searas

[ Beira Baixa ]

(António Salvado, in “Interior à Luz”, 1982)

Onde as searas cruzam o granito
e a voz do longe é feita de suor.

A suave beleza solitária
das oliveiras raras numa encosta.

A estranha consolação das giestas
tão floridas em campos desolados.

E o verde esperança filho da sem esperança.

Poema: António Salvado (ligeiramente adaptado)
Música: António Pedro
Intérprete: Musicalbi
Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)

Musicalbi em Castelo Branco
Musicalbi no Cine-Teatro Avenida, Castelo Branco, 12/01/2019, no lançamento do CD Solidão e Xisto.

Para que quero eu olhos

Para que quero eu olhos,
Senhora Santa Luzia,
Se eu não vejo o meu amor
Nem de noite nem de dia?

Oh és tão linda!
Tu és tão fermosa
Como a fresca rosa
Que eu no jardim vi!

Ai dá-me um beijo
P’ra matar desejos
Que eu sinto por ti!
Ai, que eu sinto por ti!

Ai dá-me um beijo
P’ra matar desejos
Que eu sinto por ti!

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Primeira versão: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Para Que Quero Eu Olhos”, Orfeu, 1967; 2LP “Memória de Adriano”: LP 1, Orfeu, 1983, reed. Movieplay, 1992; CD “Adriano Correia de Oliveira”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 40, Movieplay, 1994; “Obra Completa”: CD “Cantigas Portuguesas”, Movieplay, 1994, 2007)

Quatro coisas quer o amo

Quatro coisas quer o amo,
ai quatro coisas quer o amo
do criado que o serve:
deitar tarde e erguer cedo,
ai deitar tarde e erguer cedo,
comer pouco e andar alegre.

Já lá abaixo vem a noite,
ai já lá abaixo vem a noite,
já lá vem nossa alegria;
tristeza p’ra o nosso amo,
ai tristeza p’ra o nosso amo
que se acabou o dia.

Já o Sol se vai embora,
ai já o Sol se vai embora
por detrás do cabecinho;
quem dera ao patrão atá-lo
ai quem dera ao patrão atá-lo,
na ponta de um nagalhinho.

Se ele pudesse e bem quisera,
ai se ele pudesse e bem quisera
fazer o dia maior,
dava um nó na fita verde,
ai dava um nó na fita verde,
fazia parar o Sol.

Quatro coisas quer o amo,
ai quatro coisas quer o amo
do criado que o serve…

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Intérprete: Afonso Dias* com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Primeira versão: GAC – Grupo de Acção Cultural (in LP “…E Vira Bom”, Vozes na Luta, 1977, reed. Edições Valentim de Carvalho/iPlay, 2010)

Recordai, fiéis cristãos

[ Encomendação das Almas ]

Recordai, fiéis cristãos, de Jesus
No dia em que estava na cruz!
Aleluia! Aleluia!
Lembrai-vos de quem lá tendes:
Vossas mães e vossos pais!
Aleluia! Aleluia!
E ajudai-os a tirar:
Padre-nosso e uma ave-maria!
Aleluia! Aleluia!
Seja p’lo amor de Deus.

Letra e música: Tradicional (Penha Garcia, Idanha-a-Nova, Beira Baixa)
Intérprete: Segue-me à Capela
Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

Minha Roda (cantiga de rega)

Roda, roda…
Minha roda ‘stá parada,
Minha roda, roda,
Minha roda, roda, ó…

Minha roda ‘stá parada
Por falta de tocador;
Anda roda, anda roda,
Qu’ eu cá vou com meu amor!

Esta água ‘stá parada:
Quem seria que a parou?
Foi a mãe do meu amor
Qu’ esta noite aqui passou.

Letra e música: Tradicional (Margens do rio Zêzere, provavelmente em Dornelas do Zêzere, Pampilhosa da Serra, Beira Baixa)
Recolha: António Avelino Joyce (“Minha Roda ‘stá Parada”, 1938, in revista “Ocidente”, IV, Lisboa, 1939; “cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, 1981 – p. 145)
Arranjo: Toni Andrade
Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

Dornelas do Zêzere
Dornelas do Zêzere

Santa Barburinha bendita

[ Bendito e Louvado das Trovoadas ]

— «Santa Barburinha bendita,
Livrai-nos das trovoadas!
Lev’as p’ra bem longe!
Santa Barburinha bendita,
Com um ramo de água benta
Arramai esta tormenta.»
Santa Bárbara pequenina
Se vestiu e se calçou,
Bordão na mão tomou.
— «Onde vais, Santa Barburinha,
Que no céu estais escrita?»
— «Eu vou p’ra bem longe!
Vou correr esta trovoada
Onde não há pão e vinho,
Nem bafo de menino!
Só a serpente e as sete filhas
Bebem leite de maldição
E água de trovão.»

Letra e música: Tradicional (Penha Garcia, Idanha-a-Nova, Beira Baixa)
Recolha: Ernesto Veiga de Oliveira
Intérprete: Segue-me à Capela
Primeira versão de Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)

Se fôreis ao São João

[ São João ]

Se fôreis ao São João
Se fôreis ao São João
Ai traguei-me um São Joãozinho
Ai traguei-me um São Joãozinho
Se não pudéreis com um grande
Se não pudéreis com um grande
Ai traguei-me um mais picanino
Ai traguei-me um mais picanino

São João, casai as moças
São João, casai as moças
Ai as que vos fazem fogueiras
Ai as que vos fazem fogueiras
E aquelas que não as fazem
E aquelas que não as fazem
Ai deixai-as ficar solteiras
Ai deixai-as ficar solteiras

Eu hei-de ir ao São João
Eu hei-de ir ao São João
Ai o meu marido não quer
Ai o meu marido não quer
Deixai-o vós abalar
Deixai-o vós abalar
Ai eu farei o que eu quiser
Ai eu farei o que eu quiser

Do São João ao São Pedro
Do São João ao São Pedro
Ai quatro dias, cinco são
Ai quatro dias, cinco são
Moças que andais à soldada
Moças que andais à soldada
Ai aligrai o coração
Ai aligrai o coração
Ai aligrai o coração
Ai aligrai o coração
Ai aligrai o coração

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha
Versão original: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Proibido Adivinhar”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2015)

Senhora Maria

[ Moda dos Bombos ]

Senhora Maria, Senhora Maria,
O seu galo canta e o meu assobia!
Larilolela, e o meu assobia…
Larilolela, e o meu assobia…
Ó Ana vem ver, ó Ana vem ver
Os peixes no mar e o mar a arder!
Larilolela, e o mar a arder…
Larilolela, e o mar a arder…
Eu quero, eu quero, eu quero, eu quero
Eu quero, eu quero, eu quero, eu queria
Dormir contigo uma noite, ó Maria!…
Dormir contigo uma noite, ó Maria!…

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Intérprete: Velha Gaiteira
Versão discográfica de Velha Gaiteira (in CD “Velha Gaiteira”, Velha Gaiteira/Ferradura, 2010)

Velha Gaiteira

Senhora da Consolação

[ Virgem da Consolação – Senhora da Azenha ]

Senhora da Consolação,
Já vos varreu a capela
Ai, a gente de Salvaterra
Com raminhos de marcela.

Virgem da Consolação,
Vosso nome é Maria;
Ai, tendes um manto de seda
Com um raminho de alegria.

Ai, que tendes na vossa coroa?
Que tendes na vossa coroa?
Ai, uma pombinha de prata,
Tem asas e não avoa.

Ai, quem vos pudera levar,
Quem vos pudera eu levar
Para a minha companhia
Em braços, sem descansar!

Ai, quem vos pudera trazer,
Quem vos pudera eu trazer
Para a minha companhia
Em braços, sem ninguém ver!

Virgem da Consolação
Ficou à porta a chorar;
Ai não, Senhora, não chores
Que eu p’ró ano hei-de voltar!

Letra e música: Tradicional (Salvaterra do Extremo e Monsanto, Idanha-a-Nova, Beira Baixa)
Arranjo: Musicalbi
Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)

Senhora… Senhora do Almurtão

[ Senhora do Almurtão ]

Senhora…
Senhora do Almurtão, (bis)
Ó minha linda raiana,
Voltai costas…
Voltai costas a Castela, (bis)
Não queirais ser castelhana!

Senhora…
Senhora do Almurtão, (bis)
Quem vos varreu o terreiro?
Foram as…
Foram as moças de Idanha (bis)
Com raminhos de loureiro.

Senhora do Almurtão,
Bem me podeis perdoar!
Venho à vossa romaria
Só p’ra cantar e bailar.

Senhora do Almurtão,
Eu p’ró ano não prometo;
Que me morreu um amor,
Ando vestida de preto.

Letra e música: Tradicional (Idanha-a-Nova, Beira Baixa)
Arranjo: Musicalbi
Intérprete: Musicalbi (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)

Outra versão: Afonso Dias com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)

Sou da Beira

Intérprete: Adufeiras do Rancho Folclórico de Monsanto

Tenho à minha janela

[ Cantiga Bailada ]

Tenho à minha janela — eras tão bonita e eu já te não quero —
O que tu não tens à tua, o que tu não tens à tua:
Um vaso de manjerico — eras tão bonita e eu já te não quero —
Que dá cheiro a toda a rua, que dá cheiro a toda a rua.

Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló!

Adeus, ó rua da ponte, — eras tão bonita e eu já te não quero —
Calçadinha mal sigura, calçadinha mal sigura!
E quando o meu amor passa — eras tão bonita e eu já te não quero —
Não há pedra que não bula, não há pedra que não bula.

Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló!

As pedras do meu balcão — eras tão bonita e eu já te não quero —
Estão todas a três a três, estão todas a três a três.
Os meus amores de algum dia — eras tão bonita e eu já te não quero —
Já os cá tenho outra vez, já os cá tenho outra vez.

Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló!
Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló!
Ó ai ó larilolela! Ó ai ó lariloló!

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)

Canções de Labor e Lazer

Venho da ribeira nova

[ Aventali ]

Venho da ribeira nova,
Debaixo do laranjali;
Já cá levo uma folhinha
Debaixo do aventali.

Debaixo do aventali,
Na barra do meu vestido.
Anda cá ó minha amada!
Deixa-me dormir contigo!

Deixa-me dormir contigo!
Uma noite não é nada,
Eu entro pelo escuro,
E saio de madrugada.

Nem entras pelo escuro
E nem sais de madrugada!
Eu sou rapariga nova,
Não quero andar difamada.

Venho da ribeira nova,
Debaixo do laranjali;
Já cá levo uma folhinha
Debaixo do aventali.

Debaixo do aventali,
Na barra do meu vestido.
Anda cá ó minha amada!
Deixa-me dormir contigo!

Deixa-me dormir contigo!
Uma noite não é nada,
Eu entro pelo escuro,
E saio de madrugada.

Nem entras pelo escuro
E nem sais de madrugada!
Eu sou rapariga nova,
Não quero andar difamada.

Letra e música: Tradicional (Vale de Senhora da Póvoa, Penamacor, Beira Baixa)
Intérprete: O Baú com Sebastião Antunes (in CD “Achega-te”, O Baú, 2012)

Venho de macelada

[ Macelada – São João ]

Venho de macelada,
Venho de colher macela,
Lá dos campos do castelo,
Daquela mais amarela!
Venho de macelada!
Olô ai larilolela,
Olô ai lariloló,
Venho de macelada!
Venho de macelada!
Venho de macelada,
Venho de colher o cravo,
Lá dos campos do castelo,
Para dar ao namorado!
Venho de macelada!
Olô ai larilolela,
Olô ai lariloló,
Venho de macelada!
Venho de macelada!
Venho de macelada,
Venho de colher uma flor,
Lá dos campos do castelo,
Para dar ao meu amor!
Venho de macelada!

Olô ai larilolela,
Olô ai lariloló,
Venho de macelada!
Venho de macelada!
Olô ai larilolela,
Olô ai lariloló,
Venho de macelada!
Venho de macelada!
Se fores ao São João

Ai trazei-me um São Joãozinho!
Se não puderes com um grande
Ai trazei-me um mais pequenino!

São João era bom homem
Ai se não fora tão velhaco;
Foram três moças à fonte
Ai foram três, vieram quatro.

Eu hei-de ir ao São João,
Ai o meu marido não quer;
Deixai-o vós abalar,
Ai eu farei o que eu quiser!

Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Recolhas: Hubert de Fraysseix (“Macelada”) e GEFAC (“São João”)
Intérprete: Segue-me à Capela

Segue me a capela
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Algarve

A mula puxava o carrão

[ Esteiro Novo ]

A mula puxava o carrão
Com gente fina e perfumada
Vais a pé pela areia quente
Descalço, pois não vales nada

No copejo tens todo o valor
És homem com sabedoria
Capaz de enfrentar o mar
O mestre e sua tirania

Vai trabalhar! Vai trabalhar!
Vai trabalhar! Vai trabalhar!

Há cascas e cascabulho
Cuidado, não cortes os pés!
No copo começa o barulho
Outro peixe e atum de revés

Caminhas com o moço à cintura
Do arraial ao esteiro novo
A vida continua dura
A força da mulher do povo

A caminhar, a caminhar,
A caminhar, a caminhar.

Ao longe no cerro brincavam
Os moços e moças cantavam
Traziam morraça e sapeiras
Os remos com chamuceiras

Quem remava era o barqueiro
Tónhe Sousa na sua cadência
Cansado embarca toda a gente
Seja homem mulher ou criança

Salta p’ra terra! Salta p’ra terra!
Salta p’ra terra! Salta p’ra terra!

Carregavas o “João de Olhão”
Ferro de grande envergadura
“Maria Alice” e o “Pé Morto”
Eras homem de grande estatura

Um dia foste para Angola
Lá o clima era mais quente
Meteste o pé na argola
A vida negra a muita gente

Jiku lu mesu! Jiku lu mesu!
Jiku lu mesu! Jiku lu mesu!

Letra e música: José Francisco Vieira
Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)

Os Marenostrum são uma banda do Algarve formada por Zé Francisco, guitarra, bandolim e voz; João Frade, acordeão; Lino Guerreiro, saxofones e flautas; Paulo Machado, baixo e acordeão; e João Vieira, bateria e percussões.

Notas:

  1. Morraça – erva que cresce nos sapais da Ria Formosa e que depois de seca servia para fazer estrume.
  2. Sapeira – espécie de erva nativa da Ria Formosa, também conhecida por salgueira.
  3. Chamuceira ou chumaceira – peça metálica que serve para diminuir o atrito de um eixo ou de um veio (no caso, de um remo). Nos antigos barcos de pesca era feita em corda.
  4. “Jiku lu mesu” é uma expressão em quimbundo (língua do Noroeste de Angola) que significa “abre os olhos”.
Marenostrum, Rua do Peixe Frito
Marenostrum, Rua do Peixe Frito

Ao raiar do dia

[ Corrido Algarvio ]

Ao raiar do dia
Sagres vê passar…
Até no Burgau
Viram navegar.

Vinham quatro barcos
Lá no meio do mar;
Foram para Lagos
Para atracar.

Saem para terra
De malas na mão;
Correm pela vila
Até Portimão.

Seguem o caminho,
Agora à boleia;
Muda-se o destino:
É para Albufeira!

Muda-se o destino:
É para Albufeira!

Faro é em frente,
Com sua magia
Da cidade velha
Sonham com a Ria.

Lá vai o comboio
Para sotavento:
Vai até Tavira
Que inda vai a tempo.

Passa por Cacela,
Por Castro Marim;
Chega ao Guadiana,
Eis que é o fim!

Chega ao Guadiana,
Eis que é o fim!

E lá vão de roda,
Seguem para trás,
Que o carro não pára
Antes de São Brás.

Agora sem carro
Vão os quatro a pé…
Bem devagarinho
Chegam a Loulé.

Montados num burro,
Pelos montes fora,
Vão os quatro a Silves:
Correm sem demora.

Vão os quatro a Silves:
Correm sem demora.

Vão até Monchique
Que é sempre a subir:
Só param na Fóia,
Já não voltam a vir.

Que os quatro poetas,
Deitados no chão,
Olham as estrelas,
Luz da criação.

Já passaram anos
E os quatro poetas
Ainda lá repousam:
São agora pedras.

Ainda lá repousam:
São agora pedras.

Letra e música: Carlos Norton
Intérprete: OrBlua (in Livro/CD “Retratos Cinéticos”, Fungo Azul/Ocarina, 2015)

Da serra veste perfumes

[ De Sol a Sul ]

Da serra veste perfumes,
do levante inquietações.
Do tempo lhe vêm famas
do mar as consolações.
Velha Romana, Tuaregue,
maruja, aventureira,
dos mares sabida e da vida
sabe tudo, de matreira.
Minha loira, meu azul
faz-te ao mar, despe esse manto
de nevoeiro e de sal,
desnuda-te do quebranto
de seres ponto de partir.
Navega com rumo a ti,
descobre-te em Portugal,
teu porto é de hoje e aqui.

Velhas profecias,
meu 29 de Agosto.
Meu queijo de figo,
sueste agreste,
sol posto.
Meu Infante
navegante.
Cheiro a sardinha
no rosto.

Cidade, eu te escuto
tu me acolhes,
tu me afagas.
Regaço de mãe,
doce carícia de algas.
Varanda de sol a sul.
Gente firme não se cala.

Que o sonho se faça
pouco a pouco,
passo a passo.
Que a tristeza afogue na largueza dum abraço.
Que a alegria canse
este cansaço.
É hoje que a gente
vai dizer como é que quer,
seja o bicho homem
ou o bicho seja mulher.
E que venha por bem
quem vier.

Letra e música: Afonso Dias
Intérprete: Afonso Dias / Trupe Barlaventina (in CD “Lendas do País do Sul “, Concertante, 1999; CD “Geometria do Sul”, Edere, 2002)

Era um rei

[ Fado das Amendoeiras ]

Era um rei
da terra que cheira a luar
da terra vermelha que tem a centelha
do cheiro do mar.

Terra amendoeira
terraço a sangrar
albufeira dos barcos que pescam
com a lamparina da luz a piscar.
Era um rei que vivia na terra
deitado no mar.

Era um rei
que foi da Moirama lutar
à terra da neve que tem o silêncio
que faz sufocar.

País da princesa
que no seu tear
inventava a lenda da renda
nos olhos de amêndoa do amor por chegar.
Da princesa bordando tristeza
na orla do mar.

É no sul que nos dói mais o sol
é ao sol que se vê o azul
Do Algarve que roda como um girassol.
VÁ DE BRAÇOS VÁ À PESCA!
NÃO QUEREMOS BRAÇO MOLE!
À aguardente chamamos um figo
à verdade chamamos Aleixo
que ainda é mais doce que um D. Rodrigo.
NÃO O MATAM QUE EU NÃO DEIXO!
O ALEIXO É MEU AMIGO!

É o povo
da maré que cheira a suor
e quer o rei queira ou não queira
resiste num mar que é maior.

O mar da traineira, mar do pescador
este mar amar desta maneira
que é a força primeira
do mar por amor
este mar que morre na esteira
de aquém e além dor.

É no sul que nos dói mais o sol
é ao sol que se vê o azul

Letra: Ary dos Santos
Música: Fernando Tordo
Intérprete: Carlos do Carmo (in “Um Homem no País”, Polygram, 1983)

Marcadinho, puladinho

[ Corridinho Aluljé ]

Marcadinho, puladinho, joelhos em terra, moças ao ar
Barracoleza, terra firme, muita beleza
Mais acima o barranco, uma eira e um palanco
Moita de Guerra, lava-pé, boca-de-peixe
Quarteira mais abaixo, a ribeira e o riacho
Cá em Loulé toda gente bate o pé
Bate palmas, bate o queixo e as quadras do Aleixo
Oh i oh ai! marcadinho vai e nã vai
Todos dançam, ninguém sai à moda da Ti Anica
Arrabanhita, todos saltam cabanita
Uns rodam, outros não, sarnadinha, morrião

Lá vai, lá vai, roda a moça, roda bem!
Saca-rabos e galinhas pé comprido ninguém tem
Nos Barrigões encontrei uma gineta
Anda tudo aos encontrões, anda tudo arraboleta
Arraboleta, linda saia roda preta
Mas que raio de meia branca! Califórnia e Casablanca
As voltas do corridinho mandado e puladinho
Vir’ó baile! Ah moços dum raio!

Ah mano Zeca!
Entra o fole!

Lá vai, lá vai, roda a moça, roda bem!
Oh i oh ai! pé comprido ninguém tem
Lá vai, lá vai, encontrei uma gineta
Oi oh ai! anda tudo arraboleta
Lá vai, lá vai, linda saia roda preta
Mas que raio de meia branca! Califórnia e Casablanca
As voltas do corridinho mandado e puladinho

Vir’ó baile!
Já está!

Notas:

  1. Barracoleza – lugar na Serra do Caldeirão, perto de Salir (onde está projectado um enorme complexo turístico com campo de golfe).
  2. Barranco – sulco feito no solo pelas enxurradas; barroca, ravina, precipício.
  3. Palanco – corda que se prende à vela, e que serve para a içar.
  4. Moita de Guerra – localidade da freguesia de Salir, concelho de Loulé.
  5. Lava-pé – planta arbustiva.
  6. Boca-de-peixe – planta.
  7. Arrabanhita – jogo de crianças em que se jogava uma guloseima e todas elas corriam para a apanhar.
  8. Cabanita – nome de uma escola básica do 2.º e 3.º ciclos, em Loulé, assim baptizada em homenagem ao Padre João Coelho Cabanita.
  9. Sarnadinha – planta herbácea, também conhecida por morrião.
  10. Morrião – planta herbácea, também conhecida por sarnadinha.
  11. Saca-rabo – mamífero carnívoro da família dos Vivérridas, de cauda muito longa, também conhecido por mangusto ou manguço.
  12. Barrigões – localidade da freguesia de Salir, concelho de Loulé.
  13. Gineta – mamífero carnívoro da família dos Vivérridas, com pelagem cinzento-clara muito manchada de negro, também conhecido por gineto, gato-bravo ou martaranho.
  14. Arraboleta – brincadeira de crianças em que elas rebolam/giram sob si mesmas.
  15. Califórnia – localidade da freguesia de Salir, concelho de Loulé.
  16. Casablanca – cidade de Marrocos, considerada a capital económica do país. Também o nome de um lugar do concelho de Loulé.

Letra: José Francisco Vieira
Música: João Frade, Paulo Machado, José Francisco Vieira, João Vieira, Paulo Jorge Temeroso
Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)

Mercado de Loulé
Mercado de Loulé

Na rua do peixe frito

[ Rua do Peixe Frito ]

Na rua do peixe frito
Havia lá boa gente
Na esquina o Ti Gaspar
E o terramoto de Agadir
Havia uma porta aberta
E um prato de milho quente
Havia lá boa gente

Havia poesia e mais
Na maneira como viviam
Um acordeão encarnado
Caiu ao mar embriagado
Pescadores, guardas-fiscais
E paixão à luz do dia
Na maneira como viviam

Uma bacia com brasas
Ao ar livre a fumejar
Uma pelengana e azeite
Com peixe fresco a fritar
Corria nua Mila Coelha
Pela rua a cantararolar
Ao ar livre a fumejar

Na rua do peixe frito
Havia lá boa gente
A cara chapada do pai
Zé Manel Jesus Sacramento
Havia lá boa gente

Na rua do peixe frito
Folia madrugada adentro
Sardinhas e pão quente
Gorgulho, petisco a monte
Na casa da Tia Leonarda
Charro alimado era o sustento
Até madrugada adentro

Um candeeirinho de arame
Que iluminava a noite inteira
Um garrafão franquinhal
À porta aberta de um quintal
Uma moça linda a sorrir
Passava por lá sorrateira
Iluminava a noite inteira

Na rua do peixe frito
Havia lá boa gente
A cara chapada do pai
Zé Manel Jesus Sacramento
Havia lá boa gente

Na rua do peixe frito
Havia lá boa gente
A cara chapada do pai
Zé Manel Jesus Sacramento
Havia lá boa gente

Letra e música: José Francisco Vieira
Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)

Notas:

  1. Agadir – cidade do Sudoeste de Marrocos (na costa atlântica) que, a 29 de Fevereiro de 1960, foi abalada por um sismo violento (de magnitude 5,7 na escala de Richter) que a deixou bastante destruída e causou cerca de 20 mil mortos (metade da população).
  2. Pelengana ou palangana – recipiente largo e pouco fundo, de barro ou metal, usado para servir assados ou fritos.
  3. Charro – chicharro.
  4. Franquinhal – nome do vinho feito em Santa Luzia, Tavira, até aos anos 70, por uma família de galegos fugidos da Guerra Civil Espanhola.
Marenostrum, Rua do Peixe Frito
Marenostrum, Rua do Peixe Frito

Aldeia da Meia-Praia

[ Os índios da Meia-Praia ]

Aldeia da Meia-Praia
Ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga
Da melhor que sei e faço

De Monte-Gordo vieram
Alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta
Outro foi de marcha a ré

Houve até quem estendesse
A mão a mãe caridade
Para comprar um bilhete
De paragem para a cidade

Oh mar que tanto forcejas
Pescador de peixe ingrato
Trabalhaste noite e dia
Para ganhares um pataco

Quando os teus olhos tropeçam
No voo duma gaivota
Em vez de peixe vê peças
De ouro caindo na lota

Quem aqui vier morar
Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana

Uma cabana de colmo
E viva a comunidade
Quando a gente está unida
Tudo se faz de vontade

Tudo se faz de vontade
Mas não chega a nossa voz
Só do mar tem o proveito
Quem se aproveita de nós

Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Chupam-te o couro cab’ludo

Quem dera que a gente tenha
De Agostinho a valentia
Para alimentar a sanha
De esganar a burguesia

Diz o amigo no aperto
Pouco ganho, muita léria
Hei-de fazer uma casa
Feita de pau e de pedra

Adeus disse a Monte-Gordo
(Nada o prende ao mal passado)
Mas nada o prende ao presente
Se só ele é o enganado

Foram “ficando ficando”
Quando um dia um cidadão
Não sei nem como nem quando
Veio à baila a habitação

Mas quem tem calos no rabo
E isto não é segredo –
É sempre desconfiado
Põe-se atrás do arvoredo

Oito mil horas contadas
Laboraram a preceito
Até que veio o primeiro
Documento autenticado

Veio um cheque pelo correio
E alguns pedreiros amigos
Disse o pescador consigo
Só quem trabalha é honrado

Quem aqui vier morar
Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana

Eram mulheres e crianças
Cada um c’o seu tijolo
“Isto aqui era uma orquestra”
Quem diz o contrário é tolo

E toda a gente interessada
Colaborou a preceito
Vamos trabalhar a eito
Dizia a rapaziada

Não basta pregar um prego
Para ter um bairro novo
Só “unidos venceremos”
Reza um ditado do Povo

E se a má lingua não cessa
Eu daqui vivo não saia
Pois nada apaga a nobreza
Dos índios da Meia-Praia

Foi sempre a tua figura
Tubarão de mil aparas
Deixar tudo à dependura
Quando na presa reparas

Das eleições acabadas
Do resultado previsto
Saiu o que tendes visto
Muitas obras embargadas

Quem vê na praia o turista
Para jogar na roleta
Vestir a casaca preta
Do malfrão ** capitalista

Mas não por vontade própria
Porque a luta continua
Pois é dele a sua história
E o povo saiu à rua

Mandadores de alta finança
Fazem tudo andar pra trás
Dizem que o mundo só anda
Tendo à frente um capataz

E toca de papelada
No vaivém dos ministérios
Mas hão-de fugir aos berros
Inda a banda vai na estrada

Eram mulheres e crianças
Cada um c’o seu tijolo
“Isto aqui era uma orquestra”
Quem diz o contrário é tolo

* Texto e música: Zeca Afonso

Para o filme Índios da Meia Praia, realizado por Cunha Teles. A versão do disco não inclui todas as quadras.

** Palavra algarvia que significa dinheiro.

José Afonso, Os Índios da Meia-Praia
José Afonso, Os Índios da Meia-Praia

Praia da Rocha, guitarra

[ Fado de Portimão ]

Praia da Rocha, guitarra
Doirada que o mar dedilha
Ferragudo e a maravilha
Do castelo junto à barra

Mas quer chova ou faça sol
Quer o mar deixe ou não deixe
A cidade é um anzol

Portimão sonha com peixe
Como a foz do rio Arade
Como o cais de Portimão
Há-de haver tão lindos, há-de,
Mas mais lindos é que não.

Ah! Se o luar não vier
Às redes de Portimão
Luar de peixe a morrer
Antes do fim do Verão.

“Vá fome”
Diz Zé Fataça
Que outrora foi pescador
E é agora engraxador
Junto ao coreto da praça

Então a fome é verdade
E alguns vão buscar seu pão
A mil léguas do Arade
E do cais de Portimão.

Como a foz do rio Arade
Como o cais de Portimão
Há-de haver tão lindos, há-de,
Mas mais lindos é que não.

Letra: Leonel Neves
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)

Procuro o sul

[ Fado Corridinho ]

Procuro o sul que me aqueça
A voz que canta esta terra
De seu clima abençoado
Que dá calor ao meu fado
E cheirinho a mar e serra

Descubro de costa a costa
Praias onde o mar descansa
Nas areias com memórias
Falésias que são histórias
De partidas, de esperança

O fado corridinho é um bailinho
Que alegra a gente
Sete passos para a frente
Mais três de cada lado do caminho
O fado corridinho é um cantar,
Um desafio algarvio, vai de roda sem parar

No ciclo de cada ano
A terra é fértil e espera
Amendoeiras em flor
Um pomar cheio de cor
Prenúncio de primavera

Nesta viagem a sul
Dou por mim em rodopio
Entro num baile mandado
Que alegra o meu fado
Com um abraço algarvio

O fado corridinho é um bailinho
Que alegra a gente
Sete passos para a frente
Mais três de cada lado do caminho
O fado corridinho é um cantar,
Um desafio algarvio, vai de roda sem parar

O fado corridinho é um bailinho
Que alegra a gente
Sete passos para a frente
Mais três de cada lado do caminho
O fado corridinho é um cantar,
Um desafio algarvio, vai de roda sem parar

Ah moço dum raio!

Letra: Jorge Mangorrinha
Música: José Francisco Vieira, Paulo Machado, João Vieira, João Frade, Paulo Jorge Temeroso
Intérprete: Marenostrum (in CD “Rua do Peixe Frito”, Marenostrum/Alain Vachier Music Editions, 2019)

Vai com trote certo

[ Carrinha Antiga ]

Vai com trote certo
Esse cavalinho
Todo empenachado
E o boleeiro esperto
Faz do seu caminho
Seu baile mandado.

Lá vai a carrinha
A carrinha antiga
Com seu toldo armado.
Uma sombra amiga
A sombra fresquinha
Sob um sol doirado

Leva os estrangeiros
Muito prazenteiros
Que vão passear.
Ver a Rocha e o mar
Mar das caravelas
Que inda é mar das velas.

E a carrinha lesta
Do Algarve florido
É folha que resta
De um romance lido
De um conto feliz
De Júlio Dinis.

Letra: José Galvão Balsa
Música: António Vinagre
Intérprete: Grupo Coral de Portimão* (in CD “Algarve”, Tradisom, 200?)

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Sobreiro

Colmeias

[ Urbes ]

Colmeias,
Laços de aço forjado,
Um suor doce-salgado
Do rio que abraça o mar…

Na tempestade e na bonança,
Onde navega a esperança,
Rouco, o vento esforça a voz:
Ânsias de chegar… de chegar à foz.

Inocentes moinhos de maré.
Complacentes as casas alinhadas,
Escuras, esfumadas;
Prostradas à chaminé,
Sentinela de obreiras exploradas…
Noite e dia.

Outro tempo o dos Camarros,
Que eram senhores do rio.
E o pescado bem regado
Com Bastardinho do Lavradio.

O vento arrasta o manto sufocante,
Avista-se Seixal e Almada.
Sente-se o cheiro da madrugada
E o sabor da brisa siflante,
Que acaricia a vela de um varino.

Lá em cima é a mina,
Diz a douta menina.
O Cristo é Rei e o burgo cresce.
Vai de Cacilhas a burricada,
Passa em Almada, cidade bela;
Na Piedade espero por ela.

Que torrente de sentidos!
Respiro na maré cheia.
Nos meus sonhos proibidos,
Na Caparica pesco a sereia.

Letra e música: Álvaro M. B. Amaro
Intérprete: Dialecto
Versão original: Dialecto (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)

Cristo Rei

Cristo Rei

De varino ou de falua

[ Beira-Tejo ]

De varino ou de falua,
Vou da Moita a Alcochete
Abraçar teus braços de água,
Ver as Festas do Barrete.

Rio fadado, quantos laços
Um cordão umbilical!
Teus beijos aprisionados
Em marinhas de sal.

Quantas canastras passaram
Pelos braços extenuados,
Na faina dos salineiros
Que na Festa são forcados?!

Moita, Montijo, Alcochete,
A faena é querida:
O sangue pulsa nas veias,
Vermelho na investida.

Tanta terra, tanto mar!
Tanta história p’ra contar!

Estórias, estórias
De Festa rija,
De campos loiros, carícias,
Moças, papoilas, conquistas.

Tanta terra e tanto mar!
Tanta terra e tanto mar!
Tanta terra e tanto mar!
Tanta terra e tanto mar!
Tanta terra!…

Letra e música: Álvaro M. B. Amaro
Intérprete: Dialecto*
Versão original: Dialecto (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)

Desembarquei numa Angra de saudade

[ Terceira Meu Fado ]

Intérprete: Fadoalado

Indo eu caminho abaixo

[ Amphiguris ]

Indo eu caminho abaixo,
Por um caminho que não vi,
Encontrei a minha cabra,
Cabra que não era minha.
Vi pereiras com maçãs,
Subi, colhi avelãs,
Veio o dono das romãs:
Que lhe importam estas uvas
Qu’estão em faval alheio?

N’esta idade qu’inda tenho,
Ninguém viu mais do que eu,
Vi até entre uma hora,
A cidade de Viseu.
Vi a torre de Almeirim,
Lutar com uma formiga,
Qual de baixo, qual de riba,
Fez-lhe sangue na barriga;

Acolheu-se a uma toca
De lá veio uma minhoca.
Sete porcos vi na eira,
Debulhar um calcadoiro,
Tudo isto eu vi jogar,
E mai-lo jogo do toiro.
Também vinha na companha
Uma loba a pedir p’ra presos,
Com sete sacas de novelos,
Nas ancas de um carrapato,
Também no caminho vi,
Um pisco a vender tabaco.

Letra: Popular (Algarve)
Música: Amélia Muge
Intérprete: Amélia Muge (in CD “Taco a Taco”, Polygram, 1998)

Já que aqui estou

[ Viva Quem Canta ]

Já que aqui estou
Vou-lhes agora contar
De mil pessoas feitos vida
Desta vida atribulada
Desta vida de cantar

Se sobrar peito
Depois de mil melodias
Depois de tantas palavras
Tantas terras tantas estradas
Tantas noites tantos dias

Viva quem canta
Que quem canta é quem diz
Quem diz o que vai no peito
No peito vai-me um país

No Algarve mandei baile
Toquei adufes na Beira
Em Trás-os-Montes aprendi
A bombar como um Zé Pereira

Mundo fora dei abraços
Nos Açores e na Madeira
Deixei amigos do peito
E em casa cantei na eira

Viva quem canta
Que quem canta é quem diz
Quem diz o que vai no peito
No peito vai-me um país

Trago nos dedos malhões
Toquei rondas de caminho
No Douro aprendi janeiras
Dancei as chulas no Minho

No Alentejo fica o peito
Da planície de cantar
No fado colhi o jeito
De um país por inventar

Viva quem canta
Que quem canta é quem diz
Quem diz o que vai no peito
No peito vai-me um país

Cantei no alto de um monte
Num tractor ou num celeiro
Para vinte ou vinte mil
E das palavras fiz viveiro

Para quem canta por cantar
Pouco mais se pediria
Mas quem canta para sentir
Para explicar-se e para ser
Pensem só quanto haveria
Ainda por dizer

Letra e música: Pedro Barroso
Intérprete: Pedro Barroso (in “Do Lado de Cá de Mim”, Rádio Triunfo, 1983; reed. Movieplay, 2003; CD “Cantos d’Oxalá”, CD Top, 1996)

Minha terra não tem rios

[ Quadras dum Dia Sozinho ]

Minha terra não tem rios,
Minha terra não tem mar;
Mas todos os meus vazios
Vão à minha terra dar.

Meu amor nunca lá foi,
Meu amor nunca me quis;
Eu vivo do que não foi
Com tudo o mais que não fiz.

Indiferença no sentir,
À-vontade no calar…
Acredito que há-de vir
No dia em que não vou estar.

Minha terra não tem rios,
Minha terra não tem mar;
Vão-se embora os meus vazios
Quando o meu amor chegar.

«Minha terra não tem rios,
Minha terra não tem mar;
Mas todos os meus vazios
Vão à minha terra dar.

Meu amor nunca lá foi,
Meu amor nunca me quis;
Eu vivo do que não foi
Com tudo o mais que não fiz.

Indiferença no sentir,
À-vontade no calar…
Acredito que há-de vir
No dia em que não vou estar.

Minha terra não tem rios,
Minha terra não tem mar;
Vão-se embora os meus vazios
Quando o meu amor chegar.»

Meu amor nunca lá foi,
Meu amor nunca me quis;
Eu vivo do que não foi
Com tudo o mais que não fiz.

Letra: Duarte (Março de 2011)
Música: Carlos Manuel Proença e Duarte
Intérprete: Duarte* com Albano Jerónimo (in CD “Sem Dor Nem Piedade”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2015)

No sonho se mede o encanto

[ Todavia Eu Sou Pastor ]

No sonho se mede o encanto
que me dá esta alegria
a saudade só me chama
quando a noite se faz dia

As estrelas já eu sei
que são luzes pequeninas
como os ciganos que cantam
dia e noite as suas sinas

Tenho o nome de uma pedra
sou cascalho e vivo só
passei toda a mocidade
em casa de minha avó

Tinha fruta no quintal
duas videiras verdosas
um eucalipto crescido
ao pé dum vaso de rosas

Bebi água em muitas fontes
e vi estrelas lá no céu
todavia eu sou pastor
dum gado que não é meu

Sonhei guitarras e guizos
ouvi poetas nas vendas
cantando a vida dos pobres
com os seus vícios e lendas

Comi uvas, bebi vinho
vi lagartos e lebrões
andei com velhos malteses
assassinos e ladrões

Dormi a sesta nos montes
levei porcos ao Barreiro
andei nas feiras guardando
o meu gado o ano inteiro

Lá nas moitas aprendi
a ser aquilo que sou
um camponês que não pensa
nas coisas que já pensou

Da macela faço o chá
e da esteva faço a cama
a hortelã tira o sarro
aos frutos verdes sem rama

Agarro a névoa aqui perto
nas margens duma ribeira
é na saudade que sinto
que mato a minha canseira

Montei cavalos de Alter
vi galgos de Montemor
saltei valados e rios
e compus versos de amor

É na lonjura que eu gozo
o vento que vem do céu
todavia eu sou pastor
dum gado que não é meu

Poema: Antunes da Silva
Música: Paco Bandeira
Intérprete: Paco Bandeira (in LP “Todavia Eu Sou Pastor”, Decca/Valentim de Carvalho, 1975; CD “O Melhor de Paco Bandeira”, EMI-VC, 1989; CD “O Melhor de Paco Bandeira”, Valentim de Carvalho/Iplay, 2008) [? YouTube]
Outra versão de Paco Bandeira (in CD “Uma Vida de Canções”, Farol Música, 2006)

Ó Coimbra do Mondego

[ Saudades de Coimbra ]

Letra: António de Sousa
Música: Mário Faria Fonseca
Intérprete: Edmundo de Bettencourt (in CD “Fados e baladas de Coimbra: Para Uma História do Fado”, EMI-VC/Corda Seca/Público, 2004)
Outra versão: José Afonso (in “Fados de Coimbra e Outras Canções”, Orfeu, 1981, reed. Movieplay, 1987)

Ó Coimbra do Mondego
E dos amores que eu lá tive
Quem te não viu anda cego
Quem te não ama não vive

Do Choupal até à Lapa
Foi Coimbra os meus amores
A sombra da minha capa
Deu no chão, abriu em flor

Roendo uma laranja na falésia

[ Porto Covo ]

Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Intérprete: Rui Veloso (in “Rui Veloso”, EMI-VC, 1986)

Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente,
Ouvindo um rouxinol nas redondezas,
No calmo improviso do poente

Em baixo fogos trémulos nas tendas
Ao largo as águas brilham como prata
E a brisa vai contando velhas lendas
De portos e baías de piratas

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Covo

A lua já desceu sobre esta paz
E reina sobre todo este luzeiro
À volta toda a vida se compraz
Enquanto um sargo assa no brazeiro

Ao longe a cidadela de um navio
Acende-se no mar como um desejo
Por trás de mim o bafo do destino
Devolve-me à lembrança do Alentejo

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Covo

Roendo uma laranja na falésia
Olhando à minha frente o azul escuro
Podia ser um peixe na maré
Nadando sem passado nem futuro

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Covo

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Alentejo na Primavera

Ainda trago um gosto a trigo

[ Toada do Alentejo ]

Ainda trago um gosto a trigo atrás de mim
Que se me agarrou à alma ao nascer
Sou como um carreiro longe de ter fim
Como quem ceifou searas sem saber

Sou lá de onde ninguém fala das marés
De onde o horizonte queima o olhar
Por paixão ainda trago a arder nos pés
O calor de uma seara por cortar

Já cantei desde a nascente até à hora do sol-pôr
Já naveguei nas ribeiras ao luar
Ai Alentejo quem te amou não te esqueceu
E ainda se ouvem os teus ecos nas cantilenas do sol

O sol deu-me histórias velhas p’ra contar
Que eu guardei de manhãzinha ao pé dum rio
Em Janeiro roubei mantas ao luar
E a um pastor roubei um tarro e um assobio

Já corri atrás dos corvos
Já me escondi nos trigais
Ouvi rolas nos sobreiros a arrulhar
Ai Alentejo quem te amou não te esqueceu
E ainda se ouvem os teus ecos cada vez que a lua cai

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes
Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes com Pedro Mestre (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017)

As pedras contam segredos

[ Mértola ]

As pedras contam segredos do rio e guardam lembranças do mar
O sul traz a alma e a cor do Estio que a calma demora a espalhar
A terra descobre tesouros que o vento nos vai contando devagar
Mértola ai que tens tanto p’ra contar

Irmã das areias que o tempo guardou na terra onde dorme o calor
Destino de moura que o sol coroou e dizem que foi por amor
Se o Pulo do Lobo te leva pró sul desertos de cobre a ferver
Mértola ai que tens tanto p’ra dizer

Pelo canto da tarde nas tardes do canto o encanto do sol a abalar
Um deus ainda espreita p’la curva do rio que eu bem sei
Mértola ai, Mértola ai

A noite é uma história das arcas do tempo e nem dá p’lo mundo a rodar
O pio da coruja descansa no vento Invernos por adivinhar
A vida tem gosto de mel e medronho caiada de paz e vagar
Mértola ai que tens tanto p’ra contar

Segredos do mundo guardados no trigo, eterna vontade a florir
Museu de mistérios, terreiro de abrigo, vontade de nunca partir
Serás alma gémea das terras do sul, o sul diz que sim a sorrir
Mértola ai que tens tanto p’ra sentir

Pelo canto da tarde nas tardes do canto o encanto do sol a abalar
Um deus ainda espreita p’la curva do rio que eu bem sei
Mértola ai, Mértola ai

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Quadrilha com a participação de Janita Salomé (in CD “A Cor da Vontade”, Vachier & Associados, 2003)

Às vezes me ponho eu

[ A Vila de Castro Verde ]

Cantiga primeira:

Às vezes me ponho eu
Na minha vida a pensar:
Quem eu era, quem eu sou,
Ao que eu havia chegar!

Moda:

A vila de Castro Verde
És uma estrela brilhante:
Como ela outra não há,
És a mesma que eras dantes.

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Outras versões: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Castro Verde É Nossa Terra”, Valentim de Carvalho, 1975); Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “É Tão Grande o Alentejo”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 1997)

Castro Verde, Casa da Dona Maria

Castro Verde, Casa da Dona Maria

Caminhos do Alentejo

Caminhos do Alentejo.
Terra bravia de fomes
com piteiras aceradas
como pontas de navalhas
em esperas de encruzilhadas!
Caminhos do Alentejo.
Desde valados e sebes,
searas, vilas, aldeias
e chuvas e descampados
— caminhos do Alentejo
desde menino vos piso!

Caminhos do Alentejo.
Desde valados e sebes,
searas, vilas, aldeias
e chuvas e descampados
— caminhos do Alentejo
desde menino vos piso!

Caminhos do Alentejo
Poema: Manuel da Fonseca (excerto inicial da parte I de “Para um poema a Florbela”)
Música: Paulo Ribeiro
Intérprete: Paulo Ribeiro com Vitorino (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Castelo de Beja

Castelo de Beja

Para um poema a Florbela

Manuel da Fonseca, in “Planície”, Coimbra: Novo cancioneiro, 1941; “Poemas Completos”, Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1958; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 2.ª edição, Lisboa: Portugália Editora, 1963 – p. 119-133; “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 129-140

I

Caminhos do Alentejo.
Terra bravia de fomes
com piteiras aceradas
como pontas de navalhas
em esperas de encruzilhadas!
Caminhos do Alentejo.
Desde valados e sebes,
searas, vilas, aldeias
e chuvas e descampados
(sem manta de me abrigar,
ai, sem Maria Campaniça!…)
— caminhos do Alentejo,
desde menino vos piso!

Charneca de vida a vida
tolhida de solidão;
névoa da água dos olhos…
Rude coração pesado
do coro de ganhões perdidos
na sombra que cai do céu.
Ladrões a comerem estradas
entre cavalos da guarda
para a cadeia das vilas.
Bebedeira de malteses
desgraçados e terríveis
gritando facas de mola!
Caminhos do Alentejo,
desde menino vos piso
no meu caminho pra Beja!

Que Beja tem um Castelo,
mirante do Alentejo:
— quando a gente olha de longe
vê Florbela na torre alta,
esguia como quem era!
Que da torre alta de Beja
os olhos de Florbela,
tão rasgados de lonjuras,
vagueiam nos horizontes
— como dois verdes faróis
dos passos do meu caminho!
Que a noite não é a noite
tombando na planície:
— é da torre alta de Beja
os cabelos de Florbela
destrançados sobre o mundo!
Que a manhã não é manhã
iluminando a charneca:
— é da torre alta de Beja
os olhos de Florbela
abrindo-se, devagar!…

Ó navalhas de malteses,
coro de ganhões perdidos,
emboscadas de ladrões,
ó urzes, cardos, esteveiras,
terra bravia de fomes,
caminhos do Alentejo
— deixai-me passar em frente!
Que na torre alta de Beja
Florbela grita o meu nome
Sorrindo para os meus olhos!…
Sorrindo para os meus olhos
com os seios tão redondos
como duas rosas cheias!

II

Florbela não foi à monda
nem às searas ceifar.

Nasceu senhora da vila:
— nunca as suas mãos esguias
colheram as azeitonas
nos galhos das oliveiras.

Mas ela sabia tudo
que há no coração da gente:
— ouviu a gente cantar.

Desde menina cresceu
ouvindo a gente cantar
em ranchos, pelos montados,
quando a noite vai subindo!…

III

Florbela às vezes descia
às casas ricas da vila.
Falava de tal maneira
que ninguém a entendia
nas casas ricas da vila.

Senhora na sua terra,
sua terra abandonou…:
— porque lá ninguém a queria…

Senhora numa cidade.
Florbela as vezes descia
às casas dos lavradores.
Falava (como tu cantas
ó Maria Campaniça!…)
falava… — quem a entendia
nas casas dos lavradores?!…
Senhora numa cidade,
a cidade abandonou…:
— porque lá ninguém a queria…

IV

… Jogou-se às estradas da vida,
caminhos do Alentejo,
esbanjando braçados cheios
da grande vida que tinha!

E os campaniços leais
que bem a compreendiam!
Raparigas de olhos pretos
o modo como a olhavam!
Maiores de largo gado
ínvios atalhos desciam
até às estradas reais.
Moinhos presos nos cerros,
velas pelo céu giravam;
nos longes do descampado
ardem queimadas vermelhas!…

E Florbela, de negro,
esguia como quem era,
seus longos braços abria
esbanjando braçados cheios
da grande vida que tinha!

V

Quando o vento leva o Sol,
apaga a Lua e as estrelas
e grita pelos pinhais;
junto a brasas esquecidas
— das esperas de ladrões
pelas noites desgraçadas,
carreiro da negra sina
as mortes que te contava!…
E o porcariço, menino
solitário no montado,
estremecendo em teu peito
que apaixonado terror
toda a noite o acordava!…
Pobre cavador de enxada
na dura terra sem fim…
da fome da sua casa
que lágrimas te chorava!…
Maltês de correr o mundo,
tão rasgado e tão senhor,
da sua vida de sol
linda manhã te ofertava!…
E as camponesas, em coro
pelas searas e olivais,
um hino feito de mágoas
em tua glória cantavam!…

VI

… Té que um dia, cansada
de tanta vida dar,
Florbela adormeceu
antes da noite vir.

Ora foi que passava
a nossa boa mãe
Senhora Dona Morte.
E vendo aquela moça
caída a meio da estrada,
com ternura a ergueu.

— Que alta e formosa
Florbela era!

Ceifeiros que a viram
passar junto à seara,
a seara deixaram!
Cavadores, nos cerros
prà terra dobrados,
os bustos ergueram
descendo as encostas.
Malteses sem rumo
na estrada pararam.
E as moças dos montes,
que em casa lidavam,
abriram postigos,
de olhos deslumbrados!…

VII

… Ceifeiros sentiram
que estavam bebendo
água fria da fonte;

cavadores pensaram
que tinham herdado
a grande courela;

malteses juraram
haver descoberto
uma Estrada Nova!;

e as moças dos montes
tremeram de espanto
como se na noite
um homem viesse
tocar-lhes nos peitos!…

E Florbela passando
parecia levada
na vela da saia!…

VIII

… A cidade onde viveu
seus olhos não a olharam:
porque lá inda a não querem…
Porque lá ninguém a quis,
os seus olhos se voltaram
da vila onde nasceu…

Senhora — como quem era!,
alto Castelo de Beja
para morada escolheu.

IX

Veio a noite e a manhã,
veio um dia e outro dia:
a Lua cresceu, minguou.
E agora, na lua nova
das negras noites sem fim,
Florbela não aparece
a ensinar o Caminho!…
Florbela não aparece
a levar-nos à Courela
onde há a fonte e a moça,
que são nossas!…,
onde há a água e o pão
e o amor que prometeu!…

X

Longínquos ecos que ouvi
quando acordei noite fora,
não eram vozes do vento
falando pelas searas:

— eram os rumores dos gestos
de Florbela despertando.

Sombra que surpreendi
quando meus olhos voltei,
não era sombra da árvore
fugidia pelo chão:

— era Florbela errando
inquieta ao meio do montado.

O calor que vem da terra
ondulando como asas
de subtilíssima chama,
não é do lume do Sol:

— é cio que treme, solto
dos alvos seios de Florbela.

A calma que cai do céu
quando a noite principia
e eu tombo de cansado
faminto de a procurar,
não é frescura da noite:

— é a mão de Florbela
tocando na minha fronte.

Eis a página em branco

[ Utopia ]

Eis a página em branco do país azul
Alentejo é a última utopia
todas as aves partem para o sul
todas as aves: como a poesia.

Poema: Manuel Alegre
Música: Janita Salomé
Intérprete: Janita Salomé (in CD “Raiano”, Farol, 1994)

Fui hoje ao Alentejo

Fui hoje ao Alentejo e vi paisagens
De fome, de secura e desalento
Nenhuma alma dali sonha as viagens
Que ao brilho de um sol doiro faz o vento
De fome, de secura e desalento

Meu Deus que gente é esta, que degredo
Vive este povo ao Sul que nada clama
Há rugas de azinheiras nos seus dedos
Mas não há nossas senhoras sobre a rama
Deste meu povo ao Sul que nada clama

Olhem que céu azul
Com nuvens de poejo
Que veio morar aqui no Alentejo
Enxada a querer tirar do coração
A terra onde me sofro e me revejo
Malteses meus irmãos
Baixem-me o Sol de Agosto
Venham cantar-me modas ao Sol-Posto
A este povo honesto é que eu pertenço
A este mar de orgulho de amor imenso

Fui hoje ao Alentejo e vim chorando
Eu que sou feita em pedra da mais dura
Meu povo, minha esperança em fogo brando
Quando é que fazes tua a tua altura
Quando é que fazes tua a tua altura

Fui hoje ao Alentejo e percebi
Porque é que de Além-Tejo és só o nome
Porque é que há tantos deuses por aí
Enquanto tanta gente aqui tem fome
Porque é que de Além-Tejo és só o nome

Letra: Eduardo Olímpio
Música: Paco Bandeira
Intérprete: Margarida Bessa (in CD “Entre Cantos”)
Versão original: Luísa Basto (in CD “Alentejo”, C. M. Serpa, 199?)

Em minarete

[ Rondel do Alentejo ]

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

Meia-noite
do Segredo
no penedo
duma noite
de luar.

Olhos caros
de Morgada
enfeitada
com preparos
de luar.

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

Rompem fogo
pandeiretas
morenitas,
bailam tetas
e bonitas,
bailam chitas
e jaquetas,
são as fitas
desafogo
de luar.

Voa o xaile
andorinha
pelo baile,
e a vida
doentinha
e a ermida
ao luar.

Laçarote
escarlate
de cocote
alegria
de Maria
la-ri-rate
em folia
de luar.

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

Giram pés
giram passos
girassóis
e os bonés,
e os braços
destes dois
giram laços
ao luar.

O colete
desta Virgem
endoidece
como o S
do foguete
em vertigem
de luar.

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

Rompem fogo
pandeiretas
morenitas,
bailam tetas
e bonitas,
bailam chitas
e jaquetas,
são as fitas
desafogo
de luar.

Voa o xaile
andorinha
pelo baile,
e a vida
doentinha
e a ermida
ao luar.

Laçarote
escarlate
de cocote
alegria
de Maria
la-ri-rate
em folia
de luar.

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

Giram pés
giram passos
girassóis
e os bonés,
e os braços
destes dois
giram laços
ao luar.

O colete
desta Virgem
endoidece
como o S
do foguete
em vertigem
de luar.

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

Poema: Almada Negreiros (adaptado)
Música: Afonso Dias
Intérprete: Vá-de-Viró com Afonso Dias (in CD “Por Aí…”, Música XXI – Associação Cultural, 2013)
Versão original: Afonso Dias (in CD “Olhar de Pássaro”, Concertante, 2000)

Eu ia não sei p’ra onde

[ Pelo Toque da Viola ]

Eu ia não sei p’ra onde,
Encontrei não sei quem era:
Encontrei o mês de Abril
Procurando a Primavera.

[ Moda: ]

Pelo toque da viola
Já sei as horas que são:
Inda não é meia-noite,
Já passei um bom serão.

Já passei um bom serão,
Vai dormir, vai descansar!
Vai dormir, vai descansar,
Amor da minh’afeição!

[ Cantiga segunda: ]

É alegre, sonhadora
A canção alentejana:
Cantada ao romper de aurora
Nas margens do Guadiana.

[ Moda: ]

Pelo toque da viola
Já sei as horas que são:
Inda não é meia-noite,
Já passei um bom serão.

Já passei um bom serão,
Vai dormir, vai descansar!
Vai dormir, vai descansar,
Amor da minh’afeição!

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “Modas”, Robi Droli, 1994; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 1, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Há lobos sem ser na serra

Cantiga primeira:

Por eu ser alentejano,
Alguém me chamou ladrão;
Foi o que eu nunca chamei
A quem me roubava o pão.

Moda:

Há lobos sem ser na serra,
Eu ainda não sabia…
Debaixo do arvoredo
Trabalham com valentia.

Trabalham com valentia
Cada um na sua arte;
Eu ainda não sabia:
Há lobos em toda parte.

Cantiga segunda:

Maldita sociedade,
Estás tão mal organizada:
Quem não trabalha tem tudo,
Quem trabalha não tem nada!

Moda:

Há lobos sem ser na serra,
Eu ainda não sabia…
Debaixo do arvoredo
Trabalham com valentia.

Trabalham com valentia
Cada um na sua arte;
Eu ainda não sabia:
Há lobos em toda parte.

Há Lobos sem Ser na Serra
Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde”* (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Quando eu oiço os cascavéis

[ Meu Alentejo Querido ]

[ Cantiga primeira: ]

Quando eu oiço os cascavéis
Lembra-me a minha parelha,
Quando eu era ganhão
(Meu lindo Alentejo)
Lavrando terra vermelha.

[ Moda: ]

Meu Alentejo querido,
Cheio de sol e calor:
És meu torrão preferido!
(Meu lindo Alentejo)
És p’ra mim encantador!

És p’ra mim encantador
Embora vivas esquecido;
Cheio de sol e calor,
(Meu lindo Alentejo)
Meu Alentejo querido!

[ Cantiga segunda: ]

Quando me ponho a pensar
Fico de alma amargurada:
Fico triste quando vejo
(Meu lindo Alentejo)
Tanta terra abandonada.

[ Moda: ]

Meu Alentejo querido,
Cheio de sol e calor:
És meu torrão preferido!
(Meu lindo Alentejo)
És p’ra mim encantador!

És p’ra mim encantador
Embora vivas esquecido;
Cheio de sol e calor,
(Meu lindo Alentejo)
Meu Alentejo querido!

Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)

Roendo uma laranja na falésia

[ Porto Covo ]

Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente,
Ouvindo um rouxinol nas redondezas,
No calmo improviso do poente

Em baixo fogos trémulos nas tendas
Ao largo as águas brilham como prata
E a brisa vai contando velhas lendas
De portos e baías de piratas

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Covo

A lua já desceu sobre esta paz
E reina sobre todo este luzeiro
À volta toda a vida se compraz
Enquanto um sargo assa no brazeiro

Ao longe a cidadela de um navio
Acende-se no mar como um desejo
Por trás de mim o bafo do destino
Devolve-me à lembrança do Alentejo

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Covo

Roendo uma laranja na falésia
Olhando à minha frente o azul escuro
Podia ser um peixe na maré
Nadando sem passado nem futuro

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Covo

Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Intérprete: Rui Veloso

Verão

Verão,
A brasa dourada e celeste
Esvaiu do Sol agreste
Doirando mais as espigas;
Ceifeiros, corpos curvados
Cortando e atando em molhos
A bênção loira da vida.

Meu Alentejo,
Enquanto isto se processa,
O sol ferino e sem pressa
Queima mais a tez bronzeada;
O suor rasga as camisas,
Um homem queimado mais fica,
E a vida é feita de brasa.

O calor caustica os corpos,
Os ceifeiros vão ceifando
Sem parar no seu labor;
O seu cantar é dolente,
É certo que é boa gente,
É verdade e tem mais sol.

Meu Alentejo,
Enquanto isto se processa,
O sol ferino e sem pressa
Queima mais a tez bronzeada;
O suor rasga as camisas,
Um homem queimado mais fica,
E a vida é feita de brasa.

O calor caustica os corpos,
Os ceifeiros vão ceifando
Sem parar no seu labor;
O seu cantar é dolente,
É certo que é boa gente,
É verdade e tem mais sol.

Meu Alentejo,
Enquanto isto se processa,
O sol ferino e sem pressa
Queima mais a tez bronzeada;
O suor rasga as camisas,
Um homem queimado mais fica,
E a vida é feita de brasa.

Letra e música: Manuel Conde Fialho
Intérprete: Grupo Banza / voz solo de António Jacob (in CD “A Açorda Alentejana”, Grupo Banza, 2004; CD “25 Anos”, Grupo Banza, 2006)

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Cancioneiro do Ribatejo

Nesta terra há um rio antigo

[ Fado Ribatejo ]

Nesta terra há um rio antigo de saudade
que nos dá vida e sonho e encantamento
e a paz que o campo tem e a verdade
de quem vive outro sítio, outro momento.

Ter o Tejo aqui, assim, ao pé da porta
é um berço de força e de saber.
Traz-se ao peito o gosto da paixão
enquanto o sol nos fala ao entardecer.

Viver assim é outro modo, outra maneira,
outra vida, outro sonho a comandar.
Passa o tempo escorregando à minha beira,
cantam-se fados à noite para lembrar

E o sol e a gente e o campo e a cidade
e a cheia, esse chão de água a cobrir tudo
e a alma imensa de um povo sem idade
não mudes tu, meu povo, que eu não mudo.

Nesta pátria Ribatejo se ama e canta
se dança, se trabalha e se resiste
e onde o peito alcance haverá chama
ninguém é mais alegre nem mais triste.

E doce e forte e sereno ao mesmo tempo
como os cavalos ao longe, ao pôr do sol
existe aqui um templo que é eterno
na lenda e no feitiço do Almourol.

E o sol e a gente e o campo e a cidade
e a cheia, esse chão de água a cobrir tudo
e a alma imensa de um povo sem idade
não mudes tu, meu povo, que eu não mudo.

Letra e música: Pedro Barroso
Intérprete: João Chora (in CDs “João Chora”, 1999; “Ao Vivo na Chamusca”, 2001)

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Lisboa

Ai, ai, ai! O meu amor

[ Toada (mazurca) ]

Ai, ai, ai!
O meu amor foi-se embora;
Já lá vai com a maré cheia,
Já lá vai p’la barra fora.

Ai, ai, ai!
O meu amor anda ao mar;
Quem tem amor mareante
Não tem homem p’ra casar.

Ai, ai, ai!
O meu amor foi-se embora;
Já lá vai com a maré cheia,
Já lá vai p’la barra fora.

Ai, ai, ai!
O meu amor anda ao mar;
Quem tem amor mareante
Não tem homem p’ra casar.

Ai, ai, ai!
O meu amor foi-se embora;
Já lá vai com a maré cheia,
Já lá vai p’la barra fora.

Celina da Piedade, Em Casa

Letra: Tradicional da região de Setúbal (recolhida em finais do séc. XIX)
Música: Tradicional da região de Setúbal (recolhida finais do séc. XIX) + “Bonny Sweet Robin”, de autor anónimo inglês do séc. XVI
Arranjo: Daniel Schvetz
Intérprete: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD1, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)

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Estando a dobar

Estando a dobar meadinhas d’ouro
Caiu-me o novelo, ficou em pó d’ouro.
Cheguei-me à janela para ver quem vinha:
Vinha uma saloia pela rua acima.

Trazia uma menina muito doentinha.
Que lhe receitaram? Caldos de galinha.
Chamaram por ela: «Toninha! Toninha!»
Logo se curou mais a meadinha.

Estando a dobar meadinhas d’ouro
Caiu-me o novelo, ficou em pó d’ouro.
Cheguei-me à janela para ver quem vinha:
Vinha uma saloia pela rua acima.

Trazia uma menina muito doentinha.
Que lhe receitaram? Caldos de galinha.
Chamaram por ela: «Toninha! Toninha!»
Logo se curou mais a meadinha.

Letra e música: Tradicional
Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)

Nossa Senhora do Cabo

Nossa Senhora do Cabo,
Ao cabo de tantos anos,
Tantas dores e desenganos,
Já não sei para onde vou:
Atravessei oceanos,
Torrentes e tempestades
E tantas são as saudades
Que o meu peito se afundou.

Nossa Senhora do Cabo,
Ao abrir esta janela
Volto a ver a tua estrela
Que me vem alumiar:
E a sua luz é tão bela
Que de pronto o meu caminho
Se adivinha mais mansinho
E mais doce o meu cantar.

Pela tua linda graça,
Viageiro vagabundo,
Enfrentei muita desgraça,
Fui p’ra lá do fim do mundo:
Tua graça é o sustento
Do meu peito vagabundo
Que enrolado pelo vento
Vai e vem do fim do mundo.

Nossa Senhora do Cabo,
Ao cabo do Ocidente,
Tu que velas docemente
Por quem se fizer ao mar,
Abre os braços e consente
Que o bichinho da aventura
De novo traga a loucura
Que sempre me fez voar!

Nossa Senhora do Cabo,
Ao cabo de tanta estrada,
Tanta rota atribulada,
Só desejo regressar
À pedra que foi talhada
Nos teus braços de rainha,
À terra a que chamo minha,
À luz desse teu olhar.

Pela tua linda graça,
Viageiro vagabundo,
Enfrentei muita desgraça,
Fui p’ra lá do fim do mundo:
Tua graça é o sustento
Do meu peito vagabundo
Que enrolado pelo vento
Vai e vem do fim do mundo.

Letra: José Fanha
Música: Fernando Pereira
Intérprete: Real Companhia
Versão original: Real Companhia (in CD “Serranias”, Tê, 2013)

Real Companhia, Serranias
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Montalegre, Trás-os-Montes

A la puorta d’un rico abariento

[ Rico Abariento ]

A la puorta d’un rico abariento
chega un pobre ciego, limosna pediu;
L rico an beç de le dar la limosna,
ls perros qu’habie se los assomou.

Nun beis que sou Dius?
Nun beis que sou Dius?

Que los perros todos se morrirun,
L rico abariento ciego se quedou.
Que los perros todos se morrirun,
L rico abariento ciego se quedou.

L bielho rico abariento ciego
cuidaba qu’ls benes de l mundo éran sous;
Quedou siete dies a las scuras
a pedir la lhuç de ls uolhos a Dius.

Abre ls uolhos, ciego, i chama ls tous perros!
La riqueza dás-la a quien precisa
i quedas pra ti cun pouco de l que tenes!
La riqueza dás-la a quien precisa
i quedas pra ti cun pouco de l que tenes!

Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofes incipit “L bielho rico abariento ciego” e “Abre ls uolhos, ciego, i chama ls tous perros”)
Música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina* (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

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A quetobia patorra

A quetobia patorra
Está debaixo do torrão!
A quetobia patorra, ai!
A quetobia patorra
Está debaixo do torrão;

Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Moidinha com pancadas
Que lhe deu o gafanhão;
Moidinha com pancadas, ai!
Moidinha com pancadas
Que lhe deu o gafanhão;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Lá em baixo vem a raposa
Pela rodeira do carro;
Lá em baixo vem a raposa, ai!
Lá em baixo vem a raposa,
Pela rodeira do carro;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Traz os olhos na carcota
E o cu debaixo do rabo;
Traz os olhos na carcota, ai!
Traz os olhos na carcota
E o cu debaixo do rabo;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

O lagarto é pintado
Da cabeça até ao meio;
O lagarto é pintado, ai!
O lagarto é pintado
Da cabeça até ao meio;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Não sei como às mulheres pode
Com tanta carne no seio;
Não sei como às mulheres pode, ai!
Não sei como às mulheres pode
Com tanta carne no seio;
Mas ai! ai! ai! ai! ai!

Letra e música: Popular (Cardanha, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes)
Recolha/transcrição: Maestro Afonso Valentim (de “Coreografia Popular Transmontana – III – O Galandum”, in “Douro Litoral”, Porto, 1953, 5.ª série, VII-VIII; “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 120)
Arranjo e orquestração: Carlos Barata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa & as Cantadeiras do Vale do Neiva (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)

Adeus, ó Vale de Gouvinhas

[ Marião ]

Adeus, ó Vale de Gouvinhas, Marião!
Não és vila nem cidade, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
És um povo pequenino, Marião,
Feito à minha vontade, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.

Hei-de cercar Vale de Gouvinhas, Marião,
Com trinta metros de fita, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
À porta do meu amor, Marião,
Hei-de pôr a mais bonita, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.

Os meus olhos não são olhos, Marião,
Sem estarem os teus defronte, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
Parecem dois rios de água, Marião,
Quando vão de monte em monte, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.

Já corri os mares em volta, Marião,
Com uma vela branca acesa, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
Em todo o mar achei água, Marião;
Só em ti pouca firmeza, Marião.
Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.

Sim, sim, Marião;
Não, não, Marião.
Adeus, ó Vale de Gouvinhas, Marião!

Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes)
Intérprete: Afonso Dias com Teresa Silva
Primeira versão de Afonso Dias, com Teresa Silva (in CD “Andanças & Cantorias”, Bons Ofícios – Associação Cultural, 2016)
Primeira versão: Brigada Victor Jara (in LP “Eito Fora: Cantares Regionais”, Mundo Novo/Editorial Caminho, 1977, reed. Farol Música, 1995)
Outra versão da Brigada Victor Jara, com Minela Medeiros (in 2CD “Por Sendas, Montes e Vales”: CD 2, Farol Música, 2000)

Vale de Gouvinhas

Vale de Gouvinhas

Ai, lá se vai o Conde Ninho

[ Conde Ninho ]

Ai, lá se vai o Conde Ninho,
Ao seu cavalo vai a banhar;
Ai, enquanto o cavalo bebe
Vai cantando um lindo cantar.

Ai, lá se vai o Conde Ninho,
Ao seu cavalo vai a banhar;
Ai, enquanto o cavalo bebe
Vai cantando um lindo cantar.

Letra e música: Popular (Parada de Infanções, Bragança, Trás-os-Montes)
Recolha: Michel Giacometti (in LP “Trás-os-Montes”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1960; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 2 – Trás-os-Montes, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 3 – Trás-os-Montes, col. Portugal Som, Numérica, 2008)
Arranjo e direcção musical: José Manuel David
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012)

Ai lé lé lai lé lá

[ Primavera (Canção amoroso-pastoril) ]

Ai lé lé lai lé lá,
Ai lé lé lai ló:
Foi a primeira cantiga
Que me ensinou minha avó.

A Primavera passada
Foi o meu divertimento:
Tomei amores mui cedo,
Logrei-os mui pouco tempo.

Primavera, Primavera,
Tempo de tomar amores;
Não há tempo mais alegre
Que Maio com suas flores.

Primavera, Primavera,
Primavera dos boieiros;
Coitadinhos dos pastores
Que dormem pelos chiqueiros.

Ai lé lé lai lé lá,
Ai lé lé lai ló:
Foi a primeira cantiga
Que me ensinou minha avó.

Ai lé lé lai lé lá,
Ai lé lé lai ló:
Foi a primeira cantiga
Que me ensinou minha avó.

Letra e música: Popular (Paradela, Miranda do Douro, Trás-os-Montes e Alto Douro)
Recolha: Fernando Lopes Graça (in livro “A Canção Popular Portuguesa”, Publicações Europa-América, 1953; 3.ª edição, col. Saber, Publicações Europa-América, s/d. – p. 75)
Intérprete: Cantos d’Aurora (in CD “Sabores”, Cantos d’Aurora, 1996)

Ai minha mãe mandou-me à fonte

[ Fonte do Salgueirinho ]

— «Ai minha mãe mandou-me à fonte,
à fonte do Salgueirinho;
Ai mandou-me labar a cântara
com a flor do rosmaninho.
Ai eu labei-a com arena
e scachei-le um bocadinho.»

— «Ai anda cá, perra traidora!
Onde tinhas o sentido?
Ai tinha-lo naquele mancebo
que anda de amores contigo.»

— «Ai, minha mãe, não me bata
com bara de marmeleiro!
Ai que stou muito doentinha,
mandai chamar o barbeiro!»

Ai o barbeiro já lá vem
com uma lanceta na mão,
Ai p’ra sangrar a menina
na veia do coração.

— «Ai, minha mãe, não me bata
com bara de marmeleiro!
Ai que stou muito doentinha,
mandai chamar o barbeiro!»

Letra e música: Tradicional (Caçarelhos, Vimioso, Trás-os-Montes)
Informante: Adélia Garcia
Recolha: Anne Caufriez (Julho de 1978, in LP “Trás-os-Montes: Chants du Blé et Cornemuses de Berger”, Ocora/Radio France, 1980, reed. Ocora/Radio France, 1993; CD “Traz os Montes”, de Né Ladeiras, Almalusa/EMI-VC, 1994)
Adaptação: Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina* (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Ainita

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ya después de haber bubido
Ya José se lo dará.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!

Eche usted um trago
Outro traguito,
Um trago grande;
Agora si que vai bueno
Yo estoi com hambre.

Ainita, toma, l’Ainita!
Ainita, toma, l’Ainita!
Ai no!…

Letra e música: Tradicional (Freixiosa, Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
Informante: Clementina Rosa Afonso
Recolha: Mário Correia e Abílio Topa (in CD “Clementina Rosa Afonso: Modas, Lhaços e Rimances”, col. Cantos Tradicionais, vol. 2, Sons da Terra, 1998; CD “Cantos das Mulheres da Terra de Miranda”, col. Cantos Tradicionais, vol. 7, Sons da Terra, 2005)
Arranjo: César Prata
Intérprete: César Prata e Vânia Couto
Versão discográfica de César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)

Aqui se canta

[ Anima Mea ]

Aqui se canta, aqui se baila,
Aqui se joga a laranjinha;
Eu conheço o meu amor
Pelo nó da gravatinha.

Pelo nó da gravatinha,
Pelo lenço cachiné;
Aqui se canta, aqui se baila,
Aqui se joga o dominé.

Triste és anima mea,
Triste és anima tua;
Quando estiver em teus braços
Então direi: aleluia!

Triste és anima mea,
São palavras em latim;
O meu amor p’ra contigo
Só por morte terá fim.

Letra e música: Popular (Trás-os-Montes)
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD1, Ovação, 2001)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Recantos”, Polygram, 1996)

Outra versão da Ronda dos Quatro Caminhos com Katia Guerreiro, Inna Rechetnikova, Orquestra Sinfonietta de Lisboa e Coros do Alentejo (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005)

Beijai o Menino

Beijai o Menino,
Beijai-o agora!
Beijai o Menino
De Nossa Senhora!

Encontrei a Maria
Na beira do rio,
Lavando os cueiros
Do seu bendito Filho.

Maria lavava,
São José estendia,
E o Menino chorava
Com o frio que tinha.

Cala, cala, meu Menino!
Cala, cala, meu amor,
Que as vossas verdades
Me cortam com dor!

Os filhos dos ricos
Em berços doirados…
Só vós, meu Menino,
Em palhas deitado!

Em palhas deitado,
Em palhas aquecido,
Filho de uma rosa,
De um cravo nascido.

Beijai o Menino,
Beijai-o agora!
Beijai o Menino
De Nossa Senhora!

Letra e música: Tradicional (Miranda do Douro)
Recolha: José Alberto Sardinha (1982, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD2 – Trás-os-Montes, BMG/JN, 1997)
Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)

Bruxos há por estas terras

[ Terras de Feiticeiros ]

Bruxos há por estas terras
Que só as luas conhecem:
Sabem rezas, dizem falas
Quando os dias anoitecem.

Choram com os lobos
Pelo sangue dos cordeiros,
Pela carne dos rebanhos.
Pelas águas dos ribeiros.

Choram com os lobos,
No calor das alcateias,
Pelos irmãos lobisomens
Que se escondem p’las aldeias.

Bruxos há por estes montes
Nos ventos, nas noites calmas:
Invocam anjos e santos
P’ra cuidar das nossas almas.

Chamam os mortos,
Todos são filhos de Deus:
Os que ardem nos infernos
E os que vivem lá nos Céus.

Chamam os mortos
Para andar no nosso chão:
Vêm do fundo dos tempos,
Sabem do vinho e do pão.

Letra: António Prata
Música: Popular (Trás-os-Montes)
Arranjo: António Prata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos
Versão original: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)

Canedo stá borracho

Canedo stá borracho
de bino i augardiente;
Mandou tocar la gaita
Delantre de toda giente.

Canedo nun podie
Qu’era hora de l sagrado:
Tocórun a rebate
pra le botar la mano.

Yá matórun l Canedo
mas nun fui na sue tierra:
Fui an Santo Anton da Barca
delantre de la capielha.

La giente inda se lhembra
daqueilha maldiçon:
Fazírun la barraige,
mudórun l Santo Anton.

Nun ye culpa de l Canedo
nien da gaita i bordon:
Ye culpa de quien manda
afogar l Santo Anton.

Canedo stá borracho
de bino i augardiente;
Mandou tocar la gaita
Delantre de toda giente.

Yá matórun l Canedo
mas nun fui na sue tierra:
Fui an Santo Anton da Barca
delantre de la capielha.

Letra: Tradicional (Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofes incipit”Canedo nun podie”, “La giente inda se lhembra” e “Nun ye culpa de l Canedo”)
Música: Tradicional (Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Quatrada, Galandum Galundaina

Quatrada, Galandum Galundaina

Despediu-se o Sol da Aurora

[ Chora, Aurora ]

Despediu-se o Sol da Aurora,
Aurora ficou chorando…
Não chores, Aurora, não chores, não chores!…
Aurora, não chores, que eu virei de quando em quando!

Ai, tu é que és o meu rapaz…
Quando é que lá vais?
Ai, vai ao jardim das flores!
Lá me encontrarás.

Ai, se lá me não encontrares,
Torna a voltar, torna a voltar!
Ai, pergunta a quem tenha amores,
A quem tenha amores, a quem saiba amar!

A quetobia patorra
Está debaixo do torrão;
A quetobia patorra, ai!
A quetobia patorra
Está debaixo do torrão.
Mas ai! ai! ai!

Moidinha com pancadas
Que lhe deu o gafanhão;
Moidinha com pancadas, ai!
Moidinha com pancadas
Que lhe deu o gafanhão.
Mas ai! ai! ai! ai!

Letra: Tradicional (“Nós somos trabalhadores” – Ferreira do Alentejo, Baixo Alentejo / “Ai, tu é que és o meu rapaz” – Amareleja, Baixo Alentejo / “A quetobia patorra” – Cardanha, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes)
Recolhas: Michel Giacometti (“Nós somos trabalhadores”, in “Cancioneiro Popular Português”, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 127) / Pe. António Marvão (“Ai, tu é que és o meu rapaz”, 1920-42, in “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 106) / Maestro Afonso Valentim (“A quetobia patorra”, 1953, in “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 120)
Música: Tradicional (“A quetobia patorra” – Cardanha, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes) e Carmina Repas Gonçalves
Arranjo: Carmina Repas Gonçalves
Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)

Deus te salve, ó Rosa

Deus te salve, ó Rosa
Claro Serafim
Pastora formosa
Que fazeis aqui?

Estou guardando meu gado
Que eu aqui deixei.

Deixai o vosso gado
Que eu o guardarei
Quero ser vosso criado
Linda flor, meu bem

Não quero criados
De meias de seda
Não quero que as rompa
Cá por estas estevas

Sapatos e meias
Tudo as romperei
Para ser vosso criado
Linda flor, meu bem

Vá-se já embora
E não me dê mais penas
Que daqui a nada
Vem meu amo
Trazer-me a merenda

Letra e música: Popular (Trás-os-Montes)
Intérprete: Voz feminina solo
Recolha: Michel Giacometti (in “Cantos e Danças de Portugal”, Diapasão/Sassetti, 1981)

Dius te salve, Rosa!

[ Linda Pastorica (romance) ]

— Dius te salve, Rosa!
— Lindo serafin!
— Linda pastorica,
que fazeis eiqui?

— Guardo l miu ganado
qu’anda pur aí.
— L tou ganado, Rosa,
traio-l you eiqui.

— S’el yé de sou donho,
nun te dê cuidado!
— Queres-me tu, Rosica,
para tou criado?

— Criados tan nobres,
bestidos de seda,
poden-se rumpér
ainda nestas estebas.

— Çapatos i meias
tudo rumperei;
pur bias de ti
la bida darei.

— Ide-bos ambora,
nun me deixeis pena!
Poden benir mius âmos
traer la merenda.

— Balga-te Dius, Rosa,
mas que amperteniente!
Âmos nun son lhobos
que comam la gente.

— Ide-bos ambora,
yá bos ampuntei!
Han-de dezir mius âmos
an que m’acupei.

— S’eilhes te deziren
an que t’acupéste,
nun dilúbio d’auga
parqui me chaméste.

— Ide-bos ambora,
nun me deis tromento!
Nun bos podo ber
nin pur pensamento.

— Yá qu’antun m’ampuntas,
you me bou andando;
tu te quedas rindo,
you me bou chorando.

— Bós ides chorando,
bulbei-bos fugindo;
l’amor yé tan bário
yá me bou rendindo.

Ninas de l lhugar,
beni pal miu ganado!
You me bou ambora
cu’l miu namorado.

— Bamo-nos ambora
a drumir la sestia!
— Nun se m’amporta nada
que l ganado se perda.

— Bamo-nos ambora,
mas pur mal andamos!
Sabes tu, Rosica,
que you sou tou armano?

— Se sois miu armano,
armano de l’alma,
pur favor te pido
que nun digas nada!

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Canto Ondo (in CD “Entre o Alto do Peito e as Campainhas da Garganta”, A Monda – Associação Cultural/Canto Ondo, 2016)

Mi Morena

Donde estará mi morena?
Donde estará mi salada?
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

Donde estará mi morena?
A la fuente a buscar agua.
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

Me diste una cinta verde,
Tan verde como la rama.
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

La cinta la traigo al cuelo,
A ti te traigo en el alma.
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

Con tus ojitos azules sobre tu cara morena,
Los resplendores del cielo caiendo sobre la tierra.
De baxo del puente jora una morena,
De baxo del puente de la carretera.

Mi morena…
Mi morena…
Mi morena…
Mi morena…

Letra e música: Popular (Rio de Onor, Trás-os-Montes)
Arranjo: Paulo Loureiro
Intérprete: Ana Laíns (in CD “Portucalis”, Ana Laíns/Seven Muses, 2017)
Primeira versão [?]: Brigada Victor Jara / voz solo de Margarida Miranda (in CD “Danças e Folias”, Farol Música, 1995; Livro/11CD “Ó Brigada!: discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: CD “Danças e Folias”, Tradisom, 2015)

Rio de Onor
Rio de Onor

Donde vas

— Donde vas, donde vas, Adelaida?
Donde vas, donde vas por ahi?
— Voy en busca de mi amante Enrique
Que se ha vuelto loco de penas por mí.

— Es la luna y Enrique no viene,
Son las dos y Enrique no está.
— Yo no siento que Enrique me deje
Teniendo la ropa para nos casar.

— Donde vas, donde vas, Adelaida?
Donde vas, donde vas por ahi?
— Voy en busca de mi amante Enrique
Que se ha vuelto loco de penas por mí.

— Es la luna y Enrique no viene,
Son las dos y Enrique no está.
— Yo no siento que Enrique me deje
Teniendo la ropa para nos casar.

Letra e música: Tradicional (Rio de Onor, Trás-os-Montes)
Recolha: Margot Dias
Arranjo: Brigada Victor Jara
Intérprete: Brigada Victor Jara, com Luísa Cruz (in 2CD “Por Sendas, Montes e Vales”: CD 2, Farol Música, 2000; Livro/11CD “Ó Brigada!: discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: “Por Sendas, Montes e Vales”: CD 2, Tradisom, 2015)

Eito fora

Eito fora, eito fora, eito fora!
Ai, e ó ai, e ó ai, e ó ai!
Em lá chegando ao cabo, descansar!
Ai, e ó ai, e ó ai, e ó ai!

Letra e música: Tradicional (“Cantiga da Ceifa” – Lourosa da Trapa, São Pedro do Sul, Beira Alta / “Passacalhes” – Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
Recolhas: Michel Giacometti (“Cantiga da Ceifa I”, 1969, in LP “Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1970; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 3 – Beiras, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 4 – Beiras, col. Portugal Som, Numérica, 2008) / Pe. António Mourinho (“Passacalhes”)
Intérprete: Cardo-Roxo (in CD “Alvorada”, Cardo-Roxo, 2015)

Esta ye la tonadica de l fraile

[ Fraile Cornudo ]

Esta ye la tonadica de l fraile…

Fraile cornudo,
Hecha-te al baile
Que te quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Busca cumpanha,
Que te quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Deixa-la sola,
Que la quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Fraile cornudo,
Hecha-te al baile
Que te quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Busca cumpanha,
Que te quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Deixa-la sola,
Que la quiero ber beilar,
Saltar i brincar
I andar por l aire!

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…
Esta ye la tonadica de l fraile…

Letra e música: Tradicional (Fonte da Aldeia, Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Primeira versão de Galandum Galundaina (in DVD “Ao Vivo no Teatro Municipal de Bragança”, Açor/Emiliano Toste, 2007)
Outra versão de Galandum Galundaina (in CD “Senhor Galandum”, Açor/Emiliano Toste, 2009) [ ao vivo em Coimbra, Festival Passagem de Ano 2009/2010 ]

Este pandeiro que eu toco

[ Balsagaita cun Pandeiros ]

Este pandeiro que toco,
este que tengo na mano,
que me lo dou mie cunhada,
la mulhier de miu armano.

Acudi-me, moças!
Beni-me acudir!
Las pulgas son tantas,
nun me déixan drumir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…

Este pandeiro que toco
ten un aro de cortiça;
You toco an Dues Eigreijas,
respónden na Belariça.

Acudi-me, moças!
Beni-me acudir!
Las pulgas son tantas,
nun me déixan drumir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…

Este pandeiro que toco,
a la puorta de la frauga,
fai las moças mais bonitas
chegar l burrico a l’auga.

Acudi-me, moças!
Beni-me acudir!
Las pulgas son tantas,
nun me déixan drumir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…
Bóto-me a agarrá-las,
bótan-se a fugir…

Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofe incipit “Este pandeiro que toco / a la puorta de la frauga”)
Música: Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Emiliano Toste
Emiliano Toste

Eu nunca fui cantador

Eu nunca fui cantador
Nem aos descantes chamado;
Meu pai é trabalhador,
Trabalho me tem matado.

A sorte de um marinheiro
É de todas a mais dura:
Anda sempre a trabalhar
Por cima da sepultura.

Eu nunca fui cantador
Nem aos descantes chamado;
Meu pai é trabalhador,
Trabalho me tem matado.

Letra e música: Popular (Trás-os-Montes)
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos*
Arranjo: António Prata
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in CD “Outras Terras”, Ronda dos Quatro Caminhos, 1999)
Segunda versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 2, Ovação, 2001) [com o Quarteto Opus 4, ao vivo no Centro Cultural Raiano, Idanha-a-Nova, 2007
Terceira versão da Ronda dos Quatro Caminhos, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)

L gaiteiro de la Gudinha

L gaiteiro de la Gudinha
Iá nun toca quando quier
Scachoron-le la gaitica
I amprenhoron-le la mulhier

Se tu quieres iou quiero
Mas se iou quiero tu nó
Saliste bien teimosa
Sós pior que la tue bó

Indo malhada arriba
Tropecei-te na rodeira
Fugiste cumo la lhiebre
Quando se anda atrás deilha

Nel meio del lhugar
Hai ua grande lhagona
Onde se meten eilhas
A tocaren la çanfona

Letra: Tradicional (1.ª quadra) e Célio Pires
Música: Tradicional
Intérprete: Trasga (in CD “Al Absedo…”, Sons da Terra, 2012)

Gerinaldo, Gerinaldo

— Gerinaldo, Gerinaldo,
pajem d’El-Rei tão querido,
bem puderas, Gerinaldo,
passar a noite comigo.
— Zombais comigo, senhora,
por ser o vosso cativo.
— Eu não to digo zombando,
é deveras que to digo.
Logo ao dar a meia-noite,
Gerinaldo, o atrevido;
foi ao quarto da princesa,
deu um ai mui dolorido.
— Ide abrir a minha porta,
que El-Rei não seja sentido;
anda cá, ó Gerinaldo,
podes-te deitar comigo. —
Já era quase sol fora
e Gerinaldo dormido.
Acorda o rei de repente,
chama o seu pajem querido,
mas Gerinaldo não vem
p’ra lhe trazer o vestido.
— Ou estará morto o meu pajem
ou traição me há cometido. —
Responde dali um pajem
que tudo tinha sentido:
— Lá no quarto da princesa
estará adormecido. —
O rei levanta-se à pressa
e leva o punhal consigo,
Dormiam os dois na cama
como mulher e marido.
— Eu se mato Gerinaldo,
criei-o de pequenino,
e se mato a princesa
fica o meu reino perdido. —
Tira El-Rei o seu punhal,
deixa-o entre os dois metido,
Ia-se a virar o pajem,
logo se sentiu ferido.
— Acordai, ó bela infanta,
acordai, que estou perdido:
o punhal d’oiro d’El-Rei
entre nós está metido!
— O castigo que te dou,
por seres meu pajem querido,
é que a tomes por mulher
e ela a ti por seu marido. —
Gerinaldo, Gerinaldo,
pajem d’El-Rei tão querido,
E assim ficou bem feliz
Gerinaldo, o atrevido.

Romance tradicional (Trás-os-Montes)
Adaptação e arranjo: José Barros
Intérprete: José Barros e Navegante (in CDs ” Rimances”, JBN, 2001; “…Vivos. E ao vivo”, Ocarina, 2003)

Indo you mie siêrra arriba

[ La Lhoba Parda ]

Indo you mie siêrra arriba,
Delantre de miu ganado,
Repicando lo caldeiro,
Remendando l miu çamarro,
Aparcírun-me siête lhobos:
Todos siête na niada
Trazien ua lhoba al meio
Que era mais lhieba que parda;
Me quitou ua cordeira
La mejor de la piara.

Era ua cordeira branca,
Filha dua oubeilha negra,
Filha de l melhor maron
Que se passiaba na siêrra.
— «Arriba, arriba, cachorros!
Abaixo, perra gudiana!
Se m’agarrardes la lhoba
La cena tenereis ganha
I se num me l’agarrardes
Cula caiata cenais!»

Siête lhéguas han corrido
Los mius perros por arada
I al fin de las siête lhéguas
La lhoba staba cansada.
— «Toma, perro, la cordeira!
Lhiêba-la pa la piara!»
— «Nun te quiêro la cordeira
Que la tenes lhobadada.
Só te quiêro la tue çamarra
Para fazer ua albarda;

Las tripas para biolas,
Para beiláren las damas;
El rabo para correias,
Para atacarmos las bragas.»
— «Chames tous perros, pastor,
Yá me bou pa las muntanhas!
Direi a ls mius cumpanheiros
Q’ you nun buolbo a tu’ malhada,
Porque perros cumo ls tous
Nun los tem l Rei de Spanha!»

Letra e música: Popular (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Arranjo e orquestração: Pedro Pitta Groz
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)

Né Ladeiras

Né Ladeiras

Marinheiro novo

Marinheiro novo,
Que levas no teu navio?
Levo rouxinóis que cantam,
Passarinhos que assobiam.

Ora adeus, adeus!
Ora adeus que já me vou!
Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Marinheiro novo,
Que levas no teu vapor?
Levo lencinhos de seda
Para dar ao meu amor.

Ora adeus, adeus!
Ora adeus que já me vou!
Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Marinheiro novo,
Que levas na tua barca?
Eu levo muitas saudades
De quem fica e não embarca.

Ora adeus, adeus!
Ora adeus que já me vou!
Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Marinheiro novo,
Que levas nas tuas águas?
Levo barquinhos de oiro
Para dar às namoradas.

Ora adeus, adeus!
Ora adeus que já me vou!
Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Não chores, amor, não chores!
Não chores, que ainda aqui estou!

Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes)
Intérprete: Ai! (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)

Mirandum se fui a la guerra

Mirandum se fui a la guerra,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Num sei quando benerá:
Se benerá por la Pascua
Mirandum, Mirandum. Mirandela!
Ou se por la Trenidade?

La Trenidade se passa,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Mirandum num bieno yá;
Birun benir un passe,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Que nobidades trairá?

Las nobidades que traio
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Bos han de fazer chorar:
Que Mirandum yá ye muorto,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
You bien lo bi anterrar.

Mirandum, Mirandum, Mirandela!
Mirandum se fui a la guerra,
Num sei quando benerá,
Num sei quando benerá:
Se benerá por la Pascua
Mirandum, Mirandum. Mirandela!
Se benerá por la Pascua
Ou se por la Trenidade?

La Trenidade se passa,
Mirandum, Mirandum, Mirandela!
La Trenidade se passa,
Mirandum num bieno yá…

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

No lhugar de Dues Eigreijas

[ Duas Igrejas ]

No lhugar de Dues Eigreijas
hay una piedra redonda
onde se sentan los moços
quando benen de la ronda.

Cardai, cardicas, cardai
la lhana pa los cobertores!
Que las pulgas stan prenhadas,
ban a parir cardadores.

No lhugar de Dues Eigreijas
hay una piedra burmeilha
onde se sentan los moços
a peináre la guedeilha.

Cardai, cardicas, cardai
la lhana pa los cobertores!
Que las pulgas stan prenhadas,
ban a parir cardadores.

Letra e música: Popular (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Arranjo: Carlos Barata
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa)
Primeira versão da Ronda dos Quatro Caminhos (in 2CD “Alçude”: CD 1, Ovação, 2001)
Segunda versão da Ronda dos Quatro Caminhos, com Orquestra Sinfonietta de Lisboa (in DVD/CD “Ao Vivo no Centro Cultural de Belém”, Ocarina, 2005)

Nós tenemos muitos nabos

Nós tenemos muitos nabos
a cozer nua panela…

Nós tenemos muitos nabos
a cozer nua panela;
Nun tenemos sal nien unto,
nien presunto nien bitela.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Ls chocalhos rúgen, rúgen,
ls carneiros alhá ban;
An chegando a Ourrieta Cuba
ls carneiros bulberan.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Roubórun la Malgarida
pula ripa de l telhado,
cuidando que era toucino
que stava çpindurado.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Nós tenemos muitos nabos
a cozer nua panela;
Nun tenemos sal nien unto,
nien presunto nien bitela.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Ls chocalhos rúgen, rúgen,
ls carneiros alhá ban;
An chegando a Ourrieta Cuba
ls carneiros bulberan.

Mirai qu’alforjas, mirai qu’alforjas!
Uas mais lhargas, outras mais gordas,
uas de lhana, outras de stopa.

Bai, Pedro, bai
al lhugar de la justicia!
Di le a tou amo,
cumo you te digo a ti:
Que la filha de l Lima
stá ne l lhume i pinga;
La filha de la Bergada
stá ne l lhume i bai assada.

Pedro, que te falta?
Repica la tue gaita!
Tenes l pan na tulha
l bino na bodega;
Tenes la melhor moça
que habie nesta tierra:
Ciega dun uolho
i manca dua pierna.

Bai, Pedro, bai
al lhugar de la justicia!
Di le a tou amo,
cumo you te digo a ti:
Que la filha de l Lima
stá ne l lhume i pinga;
La filha de la Bergada
stá ne l lhume i bai assada.

Pedro, que te falta?
Repica la tue gaita!
Tenes l pan na tulha
l bino na bodega;
Tenes la melhor moça
que habie nesta tierra:
Ciega dun uolho
i manca dua pierna.

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Versão anterior de Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)
Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “L Purmeiro”, Açor/Emiliano Toste, 2002)
Outra versão de Galandum Galundaina (in DVD “Ao Vivo no Teatro Municipal de Bragança”, Açor/Emiliano Toste, 2007)

Nun me gusta l pan centeno

[ Para Namorar Morena ]

Nun me gusta l pan centeno
que m’amarga la costreza;
S’algun die falei contigo,
nun me pesa, nun me pesa!

Para namorar,
para namorar, morena…
Para namorar,
bun çapato i buona meia!

(bis)

Sei un ciento de cantigas
i mais ua talagada:
Puodo cantar toda a noite
i mais toda la madrugada.

Para namorar,
para namorar, morena…
Para namorar,
bun çapato i buona meia!

Diabos lhieben ls ratos
i ls dientes das formigas,
Que me robírun ls lhibros
donde stában las cantigas!

Para namorar,
para namorar, morena…
Para namorar,
bun çapato i buona meia!

Yá comi, yá bui,
tengo la barriga chena!
Mas de l amor tengo fame:
só te quiero a ti, morena!

Para namorar,
para namorar, morena…
Para namorar,
bun çapato i buona meia!

Ó senhor da casa,
quiero la mano da sue filha!
You yá la namoro
hai nuobe meses i un die;
Tengo l lhume aceso,
quiero ser sou marido,
la cama caliente
pra deitar l nuosso nino.

Alhá na nuossa tierra
sou you l regidor;
Yá nun tengo mula,
cumprei um tractor;
Cabeço de la Trindade
yá sembrei la huorta;
Tardo quatro jeiras
para dar la ronda.

Ó senhor da casa,
quiero la mano da sue filha!
You yá la namoro
hai nuobe meses i un die;
Tengo l lhume aceso,
quiero ser sou marido,
la cama caliente
pra deitar l nuosso nino.

Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina (estrofes incipit “Ó senhor da casa” e “Alhá na nuossa tierra”)
Música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina
Versão original: Galandum Galundaina (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Nunca andes com mentiras

[ Mentiras ]

Nunca andes com mentiras
Que é um caso perigoso
Que eu já tive um namorado
Deixei-o por mentiroso

Vais dizendo pelas ruas
Que tu já me tens deixado
Bem sabe já toda a gente
Que tu andas enganado

Vais dizendo pelas ruas
Que tu me tens esquecido
Bem sabe já toda a gente
Que eu nunca te tenho querido

Tenho-te dito mil vezes
Não venhas aonde estou
Sempre estás a vir p’ra mim
E aonde estás não vou.

Letra e música: Tradicional (Trás-os-Montes)
Recolha: Domingos Morais (1985, cantada por Francisco dos Reis Domingues)
Intérprete: Stockholm Lisboa Project (in CD “Sol”, Nomis Musik, 2007)

Oh bento airoso

Oh bento airoso, mistério divino!
Encontrei a Maria à beira do rio
E lavando os cueiros do bendito Filho.

Oh bento airoso, mistério divino!
Maria lavava, S. José estendia
E o Menino chorava c’o frio que fazia.

Oh bento airoso, mistério divino!
Calai, meu Menino! Calai, meu amor!
As vossas verdades me matam com dor.

Letra e música: Tradicional (Paradela, Miranda do Douro, Trás-os-Montes)
Recolha: Michel Giacometti (1960, in “Cancioneiro Popular Português”, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 43)
Intérprete: Janita Salomé (in CD “Em Nome da Rosa”, Cantar ao Sol/Ponto Zurca, 2014)

Ó minha mãe, deixe

[ Arraial de Valpaços ]

Ó minha mãe, deixe, deixe!
Ó minha mãe deixe-me ir
Ao arraial a Valpaços
Qu’eu vou e torno a vir!

Ó Senhora da Saúde,
Que dais a quem vos vai ver?
Bom terreiro p’ra dançar,
Água fresca p’ra beber.

Ó Senhora da Saúde,
Que dais aos vossos romeiros?
Dou-lhe água da minha fonte,
Sombra dos meus castinheiros.

Ó Senhora da Saúde,
Mandai varrer as areias!
Já lá rompi os sapatos,
Não quero romper as meias.

Ó Senhora da Saúde,
Eu p’rò ano lá irei
Ou casada ou solteira;
Santinha, isso é qu’eu não sei.

Ó Senhora da Saúde,
Eu p’rò ano não prometo,
Que me morreu o amor;
Ando vestida de preto.

Letra e música: Popular
Intérprete: Caminhos da Romaria (in CD “Doce Amanhecer”, Açor/Emiliano Toste, 2008)

Pur baixo de la punte

Kyrie Eleison
Kyrie Eeison
Christe Eleison
Christe Eleison
Kyrie Eleison

Pur baixo de la punte
Retomba l rio;
Ye ua lhabadeira
Kus, kus, bulis, bulis!
Kai, kai, minha bida!
Que lhaba trigo,
Que lhaba trigo.

Pur baixo de la punte
Retomba l’água;
Ye ua lhabadeira
Kus, kus, bulis, bulis!
Kai, kai, minha bida!
Que panhos lhaba,
Que panhos lhaba.

Pur baixo de la punte,
Stá la raposa
Remendando sue sáia
Kus, kus, bulis, bulis!
Kai, kai, minha bida!
De çaragoça,
De çaragoça.

Pur baixo de la punte,
Stá Catalina
Remendando sue sáia
Kus, kus, bulis, bulis!
Kai, kai, minha bida!
De costorina,
De costorina.

Letra e música: Popular (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) / Introdução: Canto gregoriano Kyrie XI (Orbis Factor), Sécs. XIV-XVI
Arranjo, orquestração e harmonização do coro: Vasco Pearce de Azevedo
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, Armando Possante e coro gregoriano (in CD “Tierra Alantre”, Ocarina, 2014)
Primeira versão [?]: Galandum Galundaina (in CD “Modas i Anzonas”, Açor/Emiliano Toste, 2005)

Glossário:

  1. çaragoça (em português: saragoça) – tecido grosseiro de lã preta, geralmente usado na confecção de roupa dos camponeses. Deve o nome à circunstância de ser fabricado, primitivamente, na cidade aragonesa de Saragoça.
  2. costorina (em português: castorina, do fr. castorine) – nome dado, originalmente, ao tecido feito do pêlo do castor; posteriormente passou também a designar um tecido de lã, leve, macio e sedoso.
Galandum Galundaina, Modas i anzonas
Galandum Galundaina, Modas i anzonas

Senhor Galandun

Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun!…

Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Madre la bizcaia, cun las trés traseiras, cun las delantreiras,
Dá-me la mano squierda, dá-me la dreita!
I arréden-se atrás, que manda la reberéncia!

Yá nun manda l Rei, que manda la Justícia!
Esses bailadores que se cáian cun la risa,
que se cáian, que se cáian!
Esses bailadores que se cáian cun la risa,
que se cáian, que se cáian!

Yá nun manda l Rei, que yá manda l’Alcaide!
Yá nun manda l Rei, que yá manda l’Alcaide!
Esses bailadores que se lhebanten i que bailen,
que bailen, que bailen!
Esses bailadores que se lhebanten i que bailen,
que bailen, que bailen!

Yá nun manda l Rei, que manda l Regidor!
Yá nun manda l Rei, que manda l Regidor!
Essas bailadeiras que se cáian cun la risa,
que se caian, que se cáian!
Essas bailadeiras que se cáian cun la risa,
que se caian, que se cáian!

Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galandun, Galandun Galundaina!
Senhor Galundaina!…

La casa de l Cura nun ten mais que ua cama,
La casa de l Cura nun ten mais que ua cama:
An la cama drume l Cura donde conhos drume l’ama,
donde conhos drume l’ama;
An la cama drume l Cura donde conhos drume l’ama,
donde conhos drume l’ama.
Tu madre me dixo que eras machorra,
Tu madre me dixo que eras machorra;
Me saliste prenha, mira que porra,
que porra, que porra!
Me saliste prenha, mira que porra,
que porra, que porra!

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Intérprete: Galandum Galundaina
Primeira versão de Galandum Galundaina (in CD “Senhor Galandum”, Açor/Emiliano Toste, 2009)

Siga a malta

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta pra diante!
Siga a malta pra diante!
Esta malta stá parada
só por nun haber quien cante,
só por nun haber quien mande.

No tiempo de primabera
todo l mundo reberdece:
Bien lhargo l eimbierno seia
d’amberdecer nun se squece
i naide outra cousa spera
por esso naide se spante
que téngamos esta eideia.
Siga a malta pra diante!

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta pra diante!
Siga a malta pra diante!
Esta malta stá parada
só por nun haber quien cante,
só por nun haber quien mande.

Na selombra dun sobreiro
quememos nuossa merenda:
Çcansados apuis la ronda
i se nun hai quien santenda;
Qualquier un quier ser purmeiro
ou por nada fáien guerra,
nós dezimos que yá bonda.
Siga a malta i trema a tierra!

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta pra diante!
Siga a malta pra diante!
Esta malta stá parada
só por nun haber quien cante,
só por nun haber quien mande.

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta i trema a tierra!
Siga a malta i trema a tierra!
Benga d’alhá quien benir,
esta malta nun arreda!
Esta malta nun arreda!

Anriba deste cabeço
l praino bemos, i Spanha;
Mas l cielo nunca l bimos,
muito hai quien mos anganha;
Yá muitá tubo esse ampeço
por esso rábia mos medra
i a cantar eiqui benimos.
Esta malta nun arreda!

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta pra diante!
Siga a malta pra diante!
Esta malta stá parada
só por nun haber quien cante,
só por nun haber quien mande.

Siga a malta, siga a malta,
siga a malta i trema a tierra!
Siga a malta i trema a tierra!
Benga d’alhá quien benir,
esta malta nun arreda!
Esta malta nun arreda!

Letra: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Amadeu Ferreira (estrofes incipit “No tiempo de primabera”, “Na selombra dun sobreiro” e “Anriba deste cabeço”)
Música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes) e Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina
Versão original: Galandum Galundaina com José Medeiros (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Galandum Galundaina

Galandum Galundaina

Tanta silba

[ Tanta Pomba ]

Tanta silba, tanta silba,
tanta silba, tanta muora!
Tanta rapaza bonita
i miu pai sien ua nora!

I miu pai sien ua nuora,
pra l miu pai nuora nun hai;
Cumo há-de tener nuora
se nun falo para naide?

Atira, caçador, atira
a la palomba qu’anda na eira!
Ah lhadron que la mateste,
andaba para ser freira!

Andaba para ser freira,
traíe ua bela na mano;
Lhembrou-se de ls sous amores:
«Nun quiero ser freira, nó!»

Yá murriu la palomba branca,
yá alhá bai l portador;
Yá nun tengo quien me lhiebe
las cartas al miu amor.

La palomba chubiu a l aire,
la palomba alhá chubiu;
Nos braços de l miu amor
agarrei la palomba i eilha nun fugiu.

Atira, caçador, atira
a la palomba qu’anda na eira!
Ah lhadron que la mateste,
andaba para ser freira!

Andaba para ser freira,
traíe ua bela na mano;
Lhembrou-se de ls sous amores:
«Nun quiero ser freira, nó!»

Yá murriu la palomba branca,
yá alhá bai l portador;
Yá nun tengo quien me lhiebe
las cartas al miu amor.

La palomba chubiu a l aire,
la palomba alhá chubiu;
Nos braços de l miu amor
agarrei la palomba i eilha nun fugiu.
Piu!

Letra e música: Tradicional (Planalto Mirandês, Trás-os-Montes)
Arranjo: Clã e Galandum Galundaina
Intérprete: Galandum Galundaina com Manuela Azevedo (in CD “Quatrada”, Açor/Emiliano Toste, 2015)

Tinha vinte e quatro freiras

[ Trângulo-Mângulo (lengalenga) ]

Tinha vinte e quatro freiras,
mandei-as fazer um doce:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão doze.

Dessas doze que ficaram,
mandei-as vestir de bronze:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão onze.

Dessas onze que ficaram,
mandei-as lavar os pés:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão dez.

Dessas dez que me ficaram,
mandei-as p’ró Dezanove:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão nove.

Dessas nove que ficaram,
mandei-as comer biscoito:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão oito.

Dessas oito que ficaram
mandei-as p’ró Dezassete:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão sete.

Dessas sete que me ficaram,
mandei-as cantar os Reis:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão seis.

Dessas seis que me ficaram,
mandei-as p’ró João Pinto:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão cinco.

Dessas cinco que ficaram,
mandei-as cortar tabaco:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão quatro.

Dessas quatro que ficaram,
mandei-as lá outra vez:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão três.

Dessas três que me ficaram,
mandei-as calçar as luvas:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão duas.

Dessas duas que ficaram,
mandei-as comer pirua:
deu-lhes o trângulotrico trângulomângulo nelas,
não ficaram senão uma.

Tinha vinte e quatro freiras,
fi-las andar na poeira:
elas morreram-me todas
com uma grande borracheira.

Letra: Popular (Santa Marta de Penaguião, Trás-os-Montes e Alto Douro)
Música: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa*
Versão original: Gaiteiros de Lisboa com Vozes da Rádio (in CD “Bocas do Inferno”, Farol Música, 1997; CD “A História”, Uguru, 2017) [>> YouTube]
Outra versão: Gaiteiros de Lisboa com Vozes da Rádio (in 2CD “Dançachamas: Ao Vivo”: CD 2, Farol Música, 2000)

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Porto

Água do rio clara

[ Barqueiros ]

Água do rio clara
Deixa passar a barrenta;
Quem tem o coração duro
Cai ao chão e não rebenta.

Ai, amor, deita a barca ao rio!
Deita a barca ao rio!
Vamos barquear!
Ai, amor, se a barca tomba
Caio ao rio,
Não sei nadar!

A água daquele rio
Corre que desaparece;
Quem tem amor vadio

Tanto “alembra” como esquece.
Ai, amor, deita a barca ao rio!
Deita a barca ao rio!
Vamos barquear!
Ai, amor, se a barca tomba
Caio ao rio,
Não sei nadar!

Minha mãe diz que não quer
Ter um filho marinheiro:
Tem medo que lhe morra
Nos embalos do Loureiro.

Ai, amor, deita a barca ao rio!
Deita a barca ao rio!
Vamos barquear!
Ai, amor, se a barca tomba
Caio ao rio,
Não sei nadar!

Letra e música: Tradicional (“Deita a Barca ao Rio” e “Amendoeira” – Barqueiros, Mesão Frio, Douro Litoral/Alto Douro; “Muinheira de Piornedo” – Galiza)
Intérprete: Arrefole (in CD “Veículo Climatizado”, Açor/Emiliano Toste, 2006)

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Neste porto manso eterno

[ Porto Antigo ]

Neste porto manso eterno onde descanso
porque me fica aqui o peito e o sentido
com aquela água imensa navegando,
este rio, ao passar, fala comigo
e parece murmurar-se quente e brando
como o mundo é mais sereno em Porto antigo.

O velho Douro é como um hino à natureza
escorrendo entre os dedos da montanha
ao sol que o faz vibrar e pressentir
mostrando a história em socalcos vinhateiros
nos solares de baronetes e herdeiros
com brasões verdadeiros ou a fingir

Dos barcos que se cruzam indo e vindo
alguém levanta a mão saudando ao longe
como um monge pagão fugido à norma.
O próprio rio me esmaga e me transforma,
o casario dá impressão que vai cair
e eu sei que vou chorar quando partir.

Sei que o tempo ali parou naquele cais
e não quero saber de mais informação
que a que me traz com majestade o Douro amigo.
Eu quero ficar ali para sempre, ali contigo,
olhos nas margens do sentir, a mão na mão.
Ai, como o mundo é mais sereno em Porto Antigo.

Poema e música: Pedro Barroso
Intérprete: Pedro Barroso
(in CD “Navegador do Futuro”, Ocarina, 2004)

Pedro Barroso, Navegador do Futuro

Quem vem e atravessa o rio

[ Porto sentido ]

Quem vem e atravessa o rio
junto à Serra do Pilar,
vê um velho casario
que se estende até ao mar.

Quem te vê ao vir da ponte,
és cascata são-joanina
erigida sobre um monte
no meio da neblina

por ruelas e calçadas
da Ribeira até à Foz,
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.

Esse teu ar grave e sério
dum rosto de cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria.

Ver-te assim abandonado
nesse timbre pardacento,
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa.

Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Intérprete: Rui Veloso
(in “Rui Veloso”, EMI-VC, 1986)

Tenho dentro do meu peito

[ Cantiga da Segada ]

Tenho dentro do meu peito,
Ai dentro do meu peito,
Dois moinhos a moer:
Um anda, o outro desanda,
Ai o outro desanda,
Assim é o bem-querer.

Tenho dentro do meu peito,
Ai dentro do meu peito,
Um alambique d’aguardente,
P’ra destilar as saudades,
Ai ouvides, ouvides,
Quando de ti estou ausente.

Letra e música: Tradicional (Castro Daire, Douro Litoral)
Recolha: José Alberto Sardinha (1977, in “Portugal – Raízes Musicais”: CD 1 – Minho e Douro Litoral, BMG/JN, 1997)
Intérprete: Segue-me à Capela
Primeira versão de Segue-me à Capela (in CD “Segue-me à Capela”, Segue-me à Capela, 2004)

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Viriato

Canções da (e sobre a) Beira Alta

Adeus, Maria da Graça

— «Adeus, Maria da Graça!
Na Espanha foste criada,
Foste a servir p’rá Póvoa, (oh ai)
Lá vieste enganada.

Lá vieste enganada
De Manuel Celestino;
Fugiste p’ró Feijoal, (oh ai)
Lá tiveste o menino.

Lá tiveste o menino,
No teu ventre foi gerado;
Agarraste-o pelas pernas, (oh ai)
Deitaste-o p’ró telhado.

Deitaste-o p’ró telhado
De sem o ninguém saber;
Tens a casa rodeada, (oh ai)
Já te querem vir prender.»

— «Não tenho medo à Polícia
Nem à Guarda Fiscal,
Só tenho medo ao juiz (oh ai)
Que me leva ao tribunal.

Viva lá, senhor juiz!
Tenho muito a agradecer:
Deu-me cama p’ra dormir (oh ai)
E casa p’ra eu viver.

Letra e música: Tradicional (Aldeia do Bispo, Guarda, Beira Alta)
Informante: Júlia Costa Fonseca
Recolha: Américo Rodrigues
Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata* (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016)
Primeira versão: César Prata (in CD “Canções do Ceguinho”, Aquilo, 2003)

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Ay eu, coitada

I
Ay eu, coitada,
como vivo em gram cuidado
por meu amigo que ei alongado!
Muito me tarda o meu amigo na Guarda!
II
Ay eu, coitada,
como vivo em gram desejo
por meu amigo que tarda e nom vejo!
Muito me tarda o meu amigo na Guarda!

Poema: D. Sancho I (c. 1199)
Música (reconstituição): Pedro Caldeira Cabral Intérprete: La Batalla (in “Cantigas d’Amigo”, EMI-VC, 1984, reed. 1991)

Pedro Caldeira Cabral, Cantigas d’Amigo

As façanhas do coveiro

[ O Coveiro de Pínzio ]

As façanhas do coveiro
De Pínzio, lindo lugar:
Desenterrava os defuntos
Para a roupa lhes tirar.

Como nunca tinham visto,
Tudo estava a duvidar…
Até que um certo dia
Lá o foram a espreitar.

Dia primeiro de Junho,
Fez tão grande tirania:
Defunto desenterrou
Manuel Francisco Maria.

Estava o povo lastimando
A morte daquele vizinho
Por na vida ser honrado,
Mostrava a todos carinho.

Talvez que durante a vida
Nunca levasse pancada,
Como lhe deu o coveiro
Nos braços com uma enxada.

Roubando-lhe toda a roupa,
Só com a camisa o deixou;
E até os próprios sapatos
Ao defunto raptou.

Letra e música: Tradicional (Castanheira, Guarda, Beira Alta)
Informante: José Fortunato
Recolha: César Prata
Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata* (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016)
Primeira versão: César Prata (in CD “Canções de Cordel”, Teatro Municipal da Guarda, 2010)

Nota: Pínzio é o nome de uma freguesia do concelho de Pinhel, distrito da Guarda.

De Lisboa me mandaram

[ E o Cai Di e o Cai Dá ]

De Lisboa me mandaram
(E o cai di e o cai dá!)
Um prato com um belo molho:
(E o cai di ai dá!)
As costelas de uma pulga
E o coração de um piolho.

E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai dá!

De Lisboa me mandaram
(E o cai di e o cai dá!)
Quatro pêras num raminho:
(E o cai di ai dá!)
Como era coisa boa
Comeram-nas no caminho.

E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai dá!

Minha mãe, p’ra me eu casar,
(E o cai di e o cai dá!)
Prometeu-me quanto tinha:
(E o cai di ai dá!)
Assim que me agarrou casada
Deu-me uma agulha sem linha.

E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai dá!

Minha mãe, p’ra me eu casar,
(E o cai di e o cai dá!)
Prometeu-me três ovelhas:
(E o cai di ai dá!)
Uma cega, outra coxa
E outra mocha sem orelhas.

E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai di ai dá!
E o cai di e o cai dá!
E o cai di ai dá!

Letra e música: Tradicional (Beira Alta)
Intérprete: Ai!* (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)

Deu-se agora, há pouco tempo

[ Casório Divertido ]

Deu-se agora, há pouco tempo,
Um casório divertido:
A noiva mais que danada,
Lá pela noite adiantada,
Arrancou o nariz ao marido.

É o que acontece aos velhos
Que procuram mocidade…
Quando se despiu deitou
E o nariz lhe arrancou
Por não fazer a vontade.

Procuraram-lhe as vizinhas:
— «Que fizeste ao teu Viriato?»
— «Dormir com homem e ter frio,
Dormir com homem e ter frio,
Vale mais dormir com gato!»

Foi consultar o doutor,
Disse-lhe que não tinha cura;
E agora, por qualquer lado,
E a chorar o desgraçado
Faz uma triste figura.

Letra e música: Tradicional (Aldeia do Bispo, Guarda, Beira Alta)
Informante: Júlia Costa Fonseca
Recolha: Américo Rodrigues
Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016)
Primeira versão: César Prata (in CD “Canções do Ceguinho”, Aquilo, 2003)

E onde vais, Rosalina?

[ Rosalina ]

— «E onde vais, ó Rosalina?
Onde vais que eu também vou?»
— «Vou colher caldo à horta,
Vou colher caldo à horta,
Que a minha mãe me mandou.

Chegou ao portão da horta,
Deitou-lhe um braço por cima…
— «Tu andas a namorar!
Tu andas a namorar!
Não mo negues, Rosalina!

— «Eu não lo nego a si,
Nem a si nem a ninguém;
Eu vou à minha vontade,
Eu vou à minha vontade,
De meu pai, de minha mãe.

— «Toma lá uma facada!
Vai levá-la à tua mãe!
Se não casares comigo,
Se não casares comigo,
Não casas com mais ninguém!

Toma lá outra facada
Já depois de estares morta!»
Isto foi acontecido,
Isto foi acontecido
Ao portal da nossa horta.

Até as faces lhe cortou
P’ra ninguém a conhecer;
Atou-lhe um lenço ao rosto,
Atou-lhe um lenço ao rosto
Para o sangue não correr.

Torradas, novas torradas,
E a faca corta as urtigas.
Olha o que os rapazes fazem,
Olha o que os rapazes fazem
Por causa das raparigas!

Letra e música: Tradicional (Avelãs de Ambom, Guarda, Beira Alta)
Informante: Maria dos Prazeres Ganhão
Recolha: Américo Rodrigues
Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata* (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016)
Primeira versão: César Prata (in CD “Canções do Ceguinho”, Aquilo, 2003)

Estando a Dona Infanta

[ A Bela Infanta (romance novelesco) ]

Estando a Dona Infanta
No seu jardim assentada,
Com o seu pente d’oiro
Seus cabelos penteava.

Deitou os olhos ao largo,
Viu vir uma grande armada;
Capitão que nela vinha
Muito bem a governava.

— «Dizei-me, meu capitão
Dessa tão formosa armada,
Se vistes o meu marido
Em terras que Deus pisava!»

— «Dizei-me, minha senhora,
Os sinais que ele levava!»
— «Levava cavalo branco,
Selim de prata dourada;
Na ponta da sua lança
A cruz de Cristo levava.»

— «Pelos sinais que me deste
Tal cavaleiro não vi…
Mas quanto dareis, senhora,
A quem o trouxera aqui?»

— «Daria tanto dinheiro
Que não tem conto nem fim
E as telhas do meu telhado
Que são de oiro e marfim.»

— «Guardai o vosso dinheiro,
Vossas telhas de marfim!
Vosso marido sou eu,
Reparai bem para mim!

O anel de sete pedras
Que eu convosco reparti:
Que é dela a outra metade?
Pois a minha vê-la aqui!»

— «Andai cá, ó minhas filhas,
Que o vosso pai é chegado!
Abram-se os novos portões
Há tanto tempo fechados!
Vamos dar graças a Deus,
Graças a Deus consagrado!»

Letra e música: Tradicional (Dirão da Rua, Sortelha, Sabugal, Beira Alta)
Arranjo: César Prata e Vânia Couto
Intérprete: César Prata e Vânia Couto
Versão discográfica de César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)

Sortelha
Sortelha

Nasci em terras de xisto

[ Serra do Açor ]

Nasci em terras de xisto
à beira do rio Ceira
em lugar de balsa sem porto
numa serra onde o Açor pousou
em leito de feno dormi.
Cresci na terra de sargaço
correndo em lameiros verdejantes
ouvi o sopro dos ventos
junto ao correr das levadas
vi noites sem luar.
Ouvi histórias de bruxaria
lendas de lobisomens
almocreves e mouras encantadas
vi sementeiras e colheitas
as malhas e debulhas.
Saltei fogueiras de rosmaninho
acendi o madeiro de Natal
cantei janeiras pelo povoado,
cheirei alecrim e loureiro,
bebi chá de sabugueiro.
Nadei nas águas do Alva
na ponte que tem três entradas
em Avô, terra de poetas;
cantei baladas ao luar
até o galo cantar.
Que importa ser acordado
dos sonhos desta noite
pela coruja que é a “surga”
ou pelo sino da capela?
Tudo isto existe, tudo isto é belo,
nada mudou, tudo está como era dantes…

Letra e música: Fernando Pereira
Intérprete: Real Companhia in CD “Em Forma de Abraço”, 2005)

Os três Reis do Oriente

[ São José Estava Triste (Canção de Natal) ]

Os três Reis do Oriente
Toda a noite caminharam:
Procuraram o Deus-Menino,
Só em Belém o acharam.
Quando a Belém chegaram
Já toda a gente dormia:
Porteiro, abri a porta,
Porteiro da portaria!
São José estava triste
Ao ver Maria a sofrer;
Um anjo do céu lhe disse:
– Jesus está pra nascer!
Não há graça embaladora
Como a de mãe quando cria:
É como Nossa Senhora,
Mãe de Deus, Ave-Maria!
Indo José e Maria
Recensear-se a Belém,
Numa noite escura e fria
Nossa Senhora foi mãe.

Letra e música: Popular (Minho / Beira Litoral / Beira Alta)
Recolha: José Alberto Sardinha
Intérprete: Maio Moço (in CD “Canto Maior, Tradisom, 2002)

Maio Moço, Canto Maior

Pastoras da Estrela

Pastoras da Estrela
Pastoras para Estrela vão
Cantando e animadas
A vida em flor
Nenhum amor
Que as torne malfadadas
Com a Primavera
A palpitar
À serra vão chegar
No prado verde
Cheiros mil
Mal rompe
O sol a aurora
Com mantos vão
Um rancho são
De moças encantadas
Dançam em roda
Alegres estão
Saudando a alvorada
Ao longe no horizonte luz
O bronze aguçado
Da guerra vêm
Guerreiros cem
O louro festejado
Entram na dança
Magia no ar
P’la noite a repousar
No Outono é hora de voltar
Para a aldeia engalanada
Pastoras vão
Mas já não são
Meninas encantadas

Cristina Branco, Sensus

Letra e música: Miguel Carvalhinho
Intérprete: Cristina Branco (in CD “Sensus”, Universal, 2003)

Sei que vais ficar sozinha

[ Carta da Mãe para a Filha ]

Sei que vais ficar sozinha,
Meu amor, minha filhinha,
Meu anjo, minha adorada!
Só pede o meu coração
Que tu tenhas compaixão
Da tua mãe desgraçada!

Minha filha, meu amor,
Por não suportar a dor
Do desgosto mais profundo,
Eu morro de sofrer farta!
Quando ouvires ler esta carta
Eu já não sou deste mundo.

Meu amor, minha querida,
Por não suportar a vida
Tormentosa que levava,
Morro sem soltar um “ai”!
Matei-me e matei teu pai
Que com outra me enganava.

Peço em minha confissão:
Não me negues teu perdão,
Diga o mundo o que disser!
Já por ti a Deus pedi:
Não sofras o que eu sofri
Quando um dia fores mulher!

Música: César Prata
Letra: Tradicional (Vela, Guarda, Beira Alta)
Informante: Joaquim Santos
Recolha: Américo Rodrigues
Intérpretes: Ariel Ninas & César Prata (in CD “Cantos de Cego da Galiza e Portugal”, aCentral Folque, 2016)
Primeira versão: César Prata (in CD “Canções do Ceguinho”, Aquilo, 2003)

Trigo loiro

Trigo loiro, trigo loiro,
Ai, quem me dera o teu valor!
Que entrara no cálice de oiro,
Ai, onde entra Nosso Senhor.

Trigo loiro, trigo loiro,
Ai, quem me dera a tua cor!
Levara a cruz ao Calvário,
Ai, como fez Nosso Senhor.

Trigo loiro, trigo loiro,
Ai, quem me dera o teu valor!
Que entrara no cálice de oiro,
Ai, onde entra Nosso Senhor.

Trigo loiro, trigo loiro,
Ai, quem me dera a tua cor!
Levara a cruz ao Calvário,
Ai, como fez Nosso Senhor.

Trigo Loiro (cantiga de ceifa)
Letra e música: Tradicional (Gonçalo, Guarda, Beira Alta)
Intérprete: Ai! (in CD “Lavra, Boi, Lavra: Canções de Trabalho”, Ai!/Coruja do Mato, 2015)
Outras versões com César Prata: Chuchurumel – “Canção da Ceifa” (in CD “No Castelo de Chuchurumel”, Chuchurumel/Luzlinar, 2005); Ai! (in CD “Ai!”, Ai!/RequeRec, 2013)

Trigo loiro
Trigo loiro

Tenho Sede, Amor, Dá-me Água

[ Tenho um grande amor por ti! ]

Tenho sede, amor, dá-me água!
Não me dês pela panela!
Dá-me pela tua boca
Que eu não tenho nojo dela!

Tenho sede, amor, dá-me água
Lá da fonte do Outeiro,
Que me não saiba a lodo
Nem à raiz do pinheiro!

Água da fonte da aldeia,
Ensina-me o teu cantar
Que os meus olhos volta e meia
Andam com água a chorar!

Tenho sede, amor, dá-me água!
Não me dês pela panela!
Dá-me pela tua boca
Que eu não tenho nojo dela!

Tenho sede, amor, dá-me água
Lá da fonte do Outeiro,
Que me não saiba a lodo
Nem à raiz do pinheiro!

Água da fonte da aldeia,
Ensina-me o teu cantar
Que os meus olhos volta e meia
Andam com água a chorar!

Letra e música: Tradicional (Guarda, Beira Alta)
Arranjo: César Prata e Vânia Couto
Intérprete: César Prata e Vânia Couto* (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa)
Versão discográfica de César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)

Uma casa muito velha

[ Ó Zé ]

Uma casa muito velha, ó Zé,
Cheia de teias de aranha, ó Zé:
Está uma bruxa num canto, ó Zé,
Que te mata se te apanha, ó Zé.

Ó Zé, Ó Zé, Ó Zé, pequenino é!
Ó Zé, vai lavar a cara! Vai lavar a cara!
Vai lavar o pé!

Cala-te! Aí vem a raposa, ó Zé,
Com o rabo muito comprido, ó Zé:
Quer comer o meu menino, ó Zé,
Mas eu tenho-o aqui escondido, ó Zé.

Ó Zé, Ó Zé, Ó Zé, pequenino é!
Ó Zé, vai lavar a cara! Vai lavar a cara!
Vai lavar o pé!

Eu vi um lobo na serra, ó Zé,
Que te come se tu choras, ó Zé:
Não chores mais, meu menino, ó Zé,
Senão ele sabe onde moras, ó Zé.

Ó Zé, Ó Zé, Ó Zé, pequenino é!
Ó Zé, vai lavar a cara! Vai lavar a cara!
Vai lavar o pé!

O meu menino é bonito, ó Zé,
Está farto que se lhe diga, ó Zé:
«Assim bom e bonitinho, ó Zé,
Um dia será feliz, ó Zé.»

Ó Zé, Ó Zé, Ó Zé, pequenino é!
Ó Zé, vai lavar a cara! Vai lavar a cara!
Vai lavar o pé!

Letra e música: Tradicional (Manhouce, São Pedro do Sul, Beira Alta)
Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)

Vai-te embora, ó papão

Vai-te embora, ó papão,
De cima desse telhado!
Vai-te embora, ó papão,
De cima desse telhado!
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado!
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado!

Vai-te embora, ó papão,
De cima desse telhado!
Vai-te embora, ó papão,
De cima desse telhado!
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado!
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado!

Letra e música: Tradicional (Arganil, Beira Alta)
Recolha: Rodney Gallop (1932-33, in livro “Cantares do Povo Português”, trad. António Emílio de Campos, Lisboa: Instituto para a Alta Cultura, 1937; “A Canção Popular Portuguesa”, de Fernando Lopes Graça, col. Saber, Vol. 23, Lisboa: Publicações Europa-América, 1953 – p. 61; 3.ª edição, col. Saber, Vol. 23, Mira-Sintra: Publicações Europa-América, s/d. – p. 58; “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, Lisboa: Círculo de Leitores, 1981 – p. 17)
Intérpretes: Ana Tomás & Ricardo Fonseca (in CD “Canções de Labor e Lazer”, Ana Tomás & Ricardo Fonseca, 2017)

Vós chamais-me Moreninha

Vós chamais-me Moreninha,
Isto é do pó do linho;
Lá me vereis ao domingo
Como a flor de rosmaninho.

O meu amor não é este,
Não é este nem o quero;
O meu tem os olhos verdes,
O teu tem-nos amarelos.

Tu dizes que me queres muito,
O teu querer é engano:
Cortais pela minha vida
Como a tesoura no pano.

Vós chamais-me Moreninha,
Isto é do pó do linho;
Lá me vereis ao domingo
Como a flor de rosmaninho.

Letra e música: Tradicional (Malhada Sorda, Almeida, Beira Alta)
Recolha: Michel Giacometti (“Maçadela do Linho”, 1969, in LP “Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral”, série “Antologia da Música Regional Portuguesa”, Arquivos Sonoros Portugueses/Michel Giacometti, 1970; 5CD “Portuguese Folk Music”: CD 3 – Beiras, Strauss, 1998; 6CD “Música Regional Portuguesa”: CD 4 – Beiras, col. Portugal Som, Numérica, 2008)
Intérprete: Musicalbi* (in CD “Adufando: Sinais da Beira Baixa”, Musicalbi, 2012)
Outra versão: O Baú (in CD “Achega-te”, O Baú, 2012)

* Musicalbi:
Carlos Salvado – bandolim, boukouki, banjo, guitarra folk, guitarra eléctrica, adufe, voz
Filipa Melo – voz
Horácio Pio – acordeão, coros
Maria Côrte – violino, harpa
António Pedro – piano, percussões, voz
Dario Vaz – baixo
António Lourinho – bateria
Gravação – Gil Duarte, no Estúdio I Som, Alcains
Mistura e masterização – Jorge Barata

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