Repositório de teses, dissertações e artigos científicos nos campos da música e da dança

Jorge Castro Ribeiro, etnomusicólogo

Cantar os Reis e o Património Cultural Imaterial em Portugal

O Cantar os Reis em Ovar é uma prática poético-musical multi-localizada, performada em coletivo, em espaços públicos e privados do concelho de Ovar por ocasião da Festa dos Reis Magos (6 de Janeiro), em formato apresentativo.

O Cantar os Reis em Ovar é uma prática poético-musical multi-localizada, performada em coletivo, em espaços públicos e privados do concelho de Ovar por ocasião da Festa dos Reis Magos (6 de Janeiro), em formato apresentativo.

Embora partilhe algumas características com outras práticas em Portugal e noutros países da Europa, que ocorrem no mesmo contexto temporal, designadas genericamente por “Cantar dos Reis” ou “Cantar as janeiras”, em Ovar esta prática ao longo dos anos sofreu um processo de codificação artística, social e performativa que é reconhecida e afirmada localmente como diferenciada, uma vez que adquiriu um recorte cultural próprio, sofisticado ao nível da composição musical e poética, e especializado ao nível da performance, que não é encontrado nas outras práticas conhecidas a nível nacional e europeu.

Nesta aula foi observado o Cantar os Reis em Ovar nas suas especificidades afirmadas localmente como distintivas, na veiculação de valores, visão e identidade “vareira”. Foi a forte adesão dos protagonistas à ideia de patrimonialização, e apresentados dados etnomusicológicos e a percepção da investigação etnográfica no processo de inventariação desta prática com vista ao Património Cultural Imaterial de Portugal.

A aula foi complementada com uma visita guiada e exclusiva a Ovar, exactamente no único momento do ano em que a prática tem lugar.

por Jorge Castro Ribeiro

Jorge Castro Ribeiro, etnomusicólogo

Jorge Castro Ribeiro, etnomusicólogo

05 de janeiro de 2019, Curso livre sobre Música & Músicos: aspetos do Património Musical Português, no Solar Condes de Resende, Canelas, Vila Nova de Gaia.

Fonte: Solar Condes de Resende

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.

Contacto

António José Ferreira
962 942 759

Maria do Rosário Pestana, investigadora

O compositor e folclorista Armando Leça: resgate, criação e disseminação da música portuguesa

Armando Leça foi uma figura versátil e multifacetada. Compositor, intérprete, regente, folclorista, crítico, musicólogo, ensaísta, novelista e poeta, ilustrou de modo exemplar a vida musical portuguesa nos anos a seguir à implantação da República.

Maria do Rosário Pestana

O seu percurso é revelador das oportunidades e dos novos desafios colocados aos músicos profissionais por uma sociedade em franca mobilidade, após a dissolução da ordem monárquica.

Armando Leça foi uma figura que, no universo musical português, ocupou um lugar «do meio», entre os polos erudito e folclórico, dialogando com diferentes esferas do fazer música em Portugal.

Vemo-lo como pianista a tocar durante as projeções de cinema, como compositor nacionalista e ideologicamente comprometido e como coletor de músicas e vozes dos lugares recônditos e por mapear. A sua ação pautou-se por um compromisso com a questão nacional na música.

Vemo-lo, de facto, a participar no processo de construção e disseminação da «canção portuguesa», um género poético-musical que, na sua ótica, refletia o caráter e a alma dos portugueses. Atento às demandas do seu tempo, foi pioneiro ao explorar os novos meios de comunicação de massas: o cinema, a rádio e, mais tarde, a indústria discográfica.

por Maria do Rosário Pestana

Maria do Rosário Pestana, investigadora

Maria do Rosário Pestana, investigadora

Sábado, 23 de março de 2019, no Curso livre sobre Música & Músicos: aspetos do Património Musical Português, no Solar Condes de Resende, Canelas, Vila Nova de Gaia.

Fonte: Solar Condes de Resende

Elisa Lessa, investigadora

A música nos conventos femininos em Portugal (séculos XVII a XIX):
o caso do Mosteiro de Corpus Christi em Vila Nova de Gaia.

A existência de um conjunto de monjas músicas conventuais, tanto cantoras como instrumentistas nos mosteiros assegurava uma prática musical sacra de relevo que importa conhecer, pese embora o facto de até nós ter chegado apenas uma ínfima parte deste valioso património musical.

Elisa Lessa

A primeira casa do ramo feminino da Ordem Dominicana foi fundada cerca de 1219, em Chelas, nos arredores de Lisboa. A partir deste mosteiro, as fundações de monjas domínicas multiplicaram-se, chegando à data da extinção das ordens religiosas pelo governo liberal em 1834 a atingir cerca de duas dezenas de casas monásticas.

Por sua vez o Convento de Corpus Christi de Vila Nova de Gaia foi edificado por iniciativa de Maria Mendes Petite, mãe de Pêro Coelho e carrasco de Inês de Castro, tendo sido acolhidas as primeiras monjas em 1354. A lição, fundamentada em documentação histórica, revela aspetos da prática musical conventual feminina em Portugal e em particular no mosteiro de Corpus Christi de Gaia.

A música estava presente ao logo do dia, pautando-se a vida quotidiana monacal pelo cumprimento de um conjunto de regras, numa observância marcada pelo Ofício Divino e por um quadro diário de atividades traçado ao pormenor e lembradas a cada batida dos sinos do mosteiro.

A existência de um conjunto de monjas músicas conventuais, tanto cantoras como instrumentistas nos mosteiros assegurava uma prática musical sacra de relevo que importa conhecer, pese embora o facto de até nós ter chegado apenas uma ínfima parte deste valioso património musical.

por Elisa Lessa

Elisa Lessa, investigadora

Elisa Lessa, investigadora

13 de abril, no Curso livre sobre Música & Músicos: aspetos do Património Musical Português, no Solar Condes de Resende, Canelas, Vila Nova de Gaia.

Fonte: Solar Condes de Resende

Jorge Castro Ribeiro, etnomusicólogo

Entre 27 de outubro de 13 de abril, em dias de sábado entre as 15:00 e as 17:00, decorreu no Solar Condes de Resende, Canelas, Vila Nova de Gaia, o Curso livre sobre Música & Músicos: aspetos do Património Musical Português.

O Solar Condes de Resende quis organizar pela primeira vez entre nós um curso sobre aspetos inéditos ou pouco conhecidos do Património Musical Português com especial incidência em compositores de Gaia e do Norte de Portugal, mas com a dimensão universal que a Música tem. As aulas recorreram à audição de excertos das obras referidas e ao complemento da indicação de concertos ao vivo onde as mesmas sejam executadas durante o período em que decorre o curso. Com o curso, o Solar Condes de Resende quis também assinalar o centenário do nascimento de César Morais.

Solar Condes de Resende

Solar Condes de Resende

Fonte: Confraria Queirosiana

Fotos: António José Ferreira

27 de outubro de 2018

Sociologia da Música

por Eduardo Vítor Rodrigues, sociólogo e presidente da Câmara Municipal de Gaia

Eduardo Vítor Rodrigues, sociólogo e presidente da C.M. de Gaia

Eduardo Vítor Rodrigues, sociólogo e presidente da C.M. de Gaia

10 de novembro de 2018

Os órgãos ibéricos: instrumentos, textos e contextos no noroeste português

por Elisa Lessa

Elisa Lessa, investigadora

Elisa Lessa, investigadora

Os órgãos de tubos ibéricos representam património musical único com características peculiares desenvolvidas na península ibérica, nos séculos XVII e XVIII. Além da abordagem organológica, da identidade e variedade sonora do instrumento, a lição incluiu reflexões breves sobre exemplos de repertório musical, respetivos compositores e contextos de intervenção e alguns organeiros. Em particular foram abordados os órgãos construídos já no século XIX pelo mestre organeiro Manuel de Sá Couto, “o Lagoncinha”, ativo na região no século XIX.

17 de novembro de 2018

Música e ritual nas cerimónias fúnebres luso-brasileiras – Séculos XVIII e XIX.

por Rodrigo Teodoro

Rodrigo Teodoro, investigador

Rodrigo Teodoro, investigador

Diversos manuscritos musicais setecentistas e oitocentistas, dedicados ao cerimonial fúnebre católico encontram-se, atualmente, custodiados em acervos de algumas cidades portuguesas e brasileiras. Essas obras revelam uma prática que teve como referência estética a produção musical religiosa em Itália, e foram produzidas, principalmente, a partir do processo de equiparação cerimonial levado a cabo por D. João V. As ações ritualísticas e as “novidades sonoras”, implementadas nesse processo, provocaram reflexos no cerimonial religioso e no sistema produtivo musical português que seria, inclusivamente, transplantado para suas colónias. Pretendemos, neste curso, apresentar as relações entre a produção musical fúnebre em Portugal e no Brasil, durante os séculos XVIII e XIX, e promover o entendimento da funcionalidade da música, entre outros sons, nos rituais católicos dedicados às cerimónias da morte.

15 de dezembro de 2018

Os músicos Napoleão

por A. Gonçalves Guimarães

Gonçalves Guimarães, historiador

Gonçalves Guimarães, historiador

A cidade do Porto viu nascer, em meados do séc. XIX, três irmãos músicos de apelido Napoleão: Artur (1843-1925), Aníbal (1845-1880) e Alfredo (1852-1917). Estes três irmãos notabilizaram-se ao longo da sua vida como pianistas, compositores e xadrezistas nos dois lados do Atlântico. Sendo filhos do músico italiano Alessandro Napolleone, este ficou conhecido em Portugal como Alexandre Napoleão. Este músico refugiou-se no Porto, onde foi professor de música, casando-se em Vila Nova de Gaia com Joaquina Amália Pinto dos Santos, natural desta cidade. Artur foi o mais famoso dos três irmãos. Estabeleceu-se no Brasil, onde criou uma editora de partituras e desenvolveu uma respeitosa carreira como pianista e compositor, sendo autor de cerca de 90 opus. Alfredo foi mais errante. Teve muito sucesso em vários países, principalmente como compositor-pianista, executando as suas próprias obras, com destaque para as que escreveu para piano e orquestra. Aníbal, por sua vez, morreu precocemente, aos 35 anos. Contudo, as suas 20 obras publicadas revelam um compositor promissor (Daniel Cunha).

05 de janeiro de 2019

Cantar os Reis e o Património Cultural Imaterial em Portugal

por Jorge Castro Ribeiro

Jorge Castro Ribeiro, etnomusicólogo

Jorge Castro Ribeiro, etnomusicólogo

O Cantar os Reis em Ovar é uma prática poético-musical multi-localizada, performada em coletivo, em espaços públicos e privados do concelho de Ovar por ocasião da Festa dos Reis Magos (6 de Janeiro), em formato apresentativo. Embora partilhe algumas características com outras práticas em Portugal e noutros países da Europa, que ocorrem no mesmo contexto temporal, designadas genericamente por “Cantar dos Reis” ou “Cantar as janeiras”, em Ovar esta prática ao longo dos anos sofreu um processo de codificação artística, social e performativa que é reconhecida e afirmada localmente como diferenciada, uma vez que adquiriu um recorte cultural próprio, sofisticado ao nível da composição musical e poética, e especializado ao nível da performance, que não é encontrado nas outras práticas conhecidas a nível nacional e europeu.

Nesta aula foi observado o Cantar os Reis em Ovar nas suas especificidades afirmadas localmente como distintivas, na veiculação de valores, visão e identidade “vareira”. Será indagada a forte adesão dos protagonistas à idéia de patrimonialização, e apresentados dados etnomusicológicos e a percepção da investigação etnográfica no processo de inventariação desta prática com vista ao Património Cultural Imaterial de Portugal. A aula será complementada com uma visita guiada e exclusiva a Ovar, exactamente no único momento do ano em que a prática tem lugar.

19 de janeiro de 2019

O Orpheon Portuense e os Concertos a ele dedicados pela Casa da Música

por Henrique Luís Gomes de Araújo

Henrique Luís Gomes de Araújo, investigador

Henrique Luís Gomes de Araújo, investigador

Apresentamos em 2005, à Casa da Música (CdM) como investigador do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes (CITAR) da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa e com o Prof. Rui Vieira Nery, um “Projecto de Edição de Obra sobre o Orpheon Portuense”. Participa em 2008, na Assembleia Geral do Orpheon Portuense, que teve como o ponto único: Extinção do Orpheon Portuense, onde apresenta a proposta de a Casa da Música incluir, todos os anos, na sua programação um concerto comemorativo do Orpheon Portuense, pelo dia 12 de Janeiro (dia da sua fundação). Na verdade, como foi por ele aduzida na proposta apresentada à CdM, um dos “resultados previstos” do referido projecto, consistia na realização de um concerto anual (2013, p.17).

26 de janeiro de 2019

Conservatório Regional de Gaia – 30 anos ao serviço do Ensino e da Cultura

por Mário Mateus

Mário Mateus, diretor de Orquestra e pedagogo

Mário Mateus, diretor de Orquestra e pedagogo

O Conservatório iniciou oficialmente as suas atividades em 1985 – ano mundial da música.

A estrutura foi criada com o objetivo de promover o ensino formal da música até ao nível superior, de criar espaços de reflexão sobre temáticas da performance e da criação musical contemporâneas e de promover atividades culturais vocacionadas para o enriquecimento da Agenda Cultural do Município.

Como polo cultural a que aspirou ser, o Conservatório, desenvolveu, além dos cursos regulares de música, um plano de atividades desenhado de forma interdisciplinar e multidimensional.

Dando corpo a este desiderato e à sua vocação internacional assumida desde a primeira hora da sua existência, o Conservatório promoveu ao longo dos anos os cursos Internacionais de Música, o Concurso Internacional de Canto Francisco de Andrade, Seminários sobre a criação musical Contemporânea, Colóquios sobre o ensino vocacional de música, Festival Internacional de Música de Gaia, etc. Essas iniciativas colocaram o Conservatório Regional de Gaia nos roteiros internacionais e trouxeram a Portugal e a Gaia nomes destacados do panorama musical internacional como: Bidu Saião, G. di Stefano, João de Freitas Branco, Tibor Varga, Paul Schilhawsky, Gundula Janowiz, entre muitos outros nomes célebres.

Com esta exposição pretende-se fazer a crónica da atividade letiva e cultural, desenvolvida pelo C.R.G. ao longo de três décadas ao serviço da cultura e do ensino, em suma, em prol da valorização do potencial humano e da coesão territorial.

16 de fevereiro de 2019

Scarlatti e a troca das princesas

por José Manuel Tedim

José Manuel Tedim, professor universitário

José Manuel Tedim, professor universitário

As cortes de Filipe V de Espanha e de D. João V de Portugal levaram à concretização de um duplo casamento entre uma infanta da Casa Real portuguesa e o futuro rei de Espanha e vice-versa, facto que passou à História como a Troca das Princesas.

Ajustado o duplo consórcio, nos primeiros dias de Janeiro de 1728, dava-se início aos dias da festa, que, ao longo de mais de um ano, constituíram repetidos momentos de entusiasmo e entretenimento dos habitantes da urbe lisboeta.

O casamento por procuração, do Príncipe do Brasil e D. Mariana Victória aconteceu, em Madrid, em finais de dezembro, tendo chegado a notícia pelos inícios do mês seguinte. Logo, por decreto, o rei fez questão de informar o Senado da Câmara da feliz notícia e solicitar que se fizessem três noites de luminárias, acompanhadas de salvas de artilharia e da tradicional cerimónia do beija-mão. No Terreiro do Paço fez-se arder um fogo de artifício, cuja estrutura cénica se concentrava na imagem do templo de Diana.

Após esta manifestação celebrou-se o acontecimento no Paço com urna serenata em língua italiana composta expressamente para o momento por Doménico Scarlatti. Por sua vez o Marquez de los Balbazes completou estes dias de fausto, de júbilo e entusiasmo com a organização de uma Zarzuela no seu palácio, intitulada Amor aumenta el Valor.

02 de março de 2019

Bandas Filarmónicas em Portugal

por André Granjo

André Granjo, maestro

André Granjo, maestro

As Bandas representam uma das formas de prática musical de carácter formal mais disseminadas no nosso país e são também um fenómeno relevante em toda a Cultura Ocidental.

Apesar desta preponderância são ainda hoje um fenómeno pouco estudado no nosso país e em boa verdade em toda a Europa. Indefinições semânticas e confusões históricas tornam difícil a arriscada a pesquisa sobre este campo. As bandas são ainda objecto de estigma por parte de muitos investigadores e no nosso caso, o campo de acção em que se movem: espaços de fronteira entre o erudito e o vernacular; levam a uma indefinição sobre qual o olhar que deve actuar sobre elas: o da musicologia ou da etnomusicologia. As bandas são populares, funcionais, algumas militares, dão concertos informais ao ar livre, participam ou colaboram em várias actividades populares, mas concomitantemente dispõem também de repertórios elaborados, de linguagem contemporânea e complexidade normalmente associada ao grande repertório de orquestra. Por tudo isto as bandas têm estado num limbo científico, reconhecidas como de extrema relevância, mas sem uma atenção proporcional por parte da comunidade académica.

Esta situação tem, no entanto, vindo a ser alterada tendo surgido nos últimos anos investigadores, alguns dos quais insiders do próprio fenómeno, que procuram compreender melhor este tão rico meio de criação e recriação musical.

Esta alocução pretende traçar um pouco do que se sabe sobre o percurso de agrupamentos musicais de instrumentos de sopro no nosso país, o aparecimento das “Bandas Filarmónicas” e a sua evolução ao longo do tempo.

09 de março de 201

O maestro Pedro de Freitas Branco

por Cesário Costa

Cesário Costa, diretor de orquestra e investigador

Cesário Costa, diretor de orquestra e investigador

O Maestro Pedro de Freitas Branco (1896-1963) foi uma das figuras mais proeminentes da música portuguesa do séc. XX. Ao longo da sua carreira, foi um impulsionador da vida musical portuguesa, através da criação de diferentes companhias de ópera, da organização dos Novos Concertos Sinfónicos de Lisboa e como maestro da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (OSEN). Um dos seus principais propósitos consistiu em dar a conhecer a música do seu tempo, através da estreia absoluta e da estreia nacional, de um número significativo de obras dos mais importantes compositores contemporâneos. Paralelamente, desenvolveu uma carreira internacional dirigindo regularmente diferentes orquestras europeias, sendo considerado um intérprete de referência da música orquestral de Maurice Ravel.

16 de março de 2019

O compositor César Morais

por A. Gonçalves Guimarães

Gonçalves Guimarães, historiador

Gonçalves Guimarães, historiador

Em 2018 passaram 100 anos após o nascimento do compositor gaiense César Morais. Nascido em Canelas, a 3 de janeiro de 1918, cedo manifestou o talento para a composição, criando canções para as festas da escola primária. O seu dom musical precoce levou-o a ingressar no Conservatório de Música do Porto onde estudou com os Mestres Luís Costa e Lucien Lambert e se formou com 20 valores. Foi extremamente prolífico como compositor, sendo especialmente associado à música sacra, com cerca de 50 missas, 60 Avé-Marias, Te-Deums, etc.. No entanto, a sua obra profana não é menos importante e abundante, destacando-se várias composições sinfónicas e coral-sinfónicas, concertos para piano e orquestra, violino e orquestra, violoncelo e orquestra e múltiplas obras para piano solo. Era um homem extremamente modesto e existem poucas obras da sua produção publicadas. No entanto, é de destacar o belíssimo Concerto para Violoncelo e Orquestra numa interpretação da Orquestra Clássica do Porto, sob a direção do maestro Werner Stiefel tendo como solista o violoncelista Martin Ostertag.

Foi pai da pianista Maria José Morais.

Sábado, 23 de março de 2019

O compositor e folclorista Armando Leça: resgate, criação e disseminação da música portuguesa

por Maria do Rosário Pestana

Maria do Rosário Pestana, investigadora

Maria do Rosário Pestana, investigadora

Armando Leça foi uma figura versátil e multifacetada. Compositor, intérprete, regente, folclorista, crítico, musicólogo, ensaísta, novelista e poeta, ilustrou de modo exemplar a vida musical portuguesa nos anos a seguir à implantação da República. O seu percurso é revelador das oportunidades e dos novos desafios colocados aos músicos profissionais por uma sociedade em franca mobilidade, após a dissolução da ordem monárquica. Armando Leça foi uma figura que, no universo musical português, ocupou um lugar «do meio», entre os polos erudito e folclórico, dialogando com diferentes esferas do fazer música em Portugal.

Vemo-lo como pianista a tocar durante as projeções de cinema, como compositor nacionalista e ideologicamente comprometido e como coletor de músicas e vozes dos lugares recônditos e por mapear. A sua ação pautou-se por um compromisso com a questão nacional na música. Vemo-lo, de facto, a participar no processo de construção e disseminação da «canção portuguesa», um género poético-musical que, na sua ótica, refletia o caráter e a alma dos portugueses. Atento às demandas do seu tempo, foi pioneiro ao explorar os novos meios de comunicação de massas: o cinema, a rádio e, mais tarde, a indústria discográfica.

Sábado, 13 de abril de 2019

A música nos conventos femininos em Portugal (séculos XVII a XIX): o caso do Mosteiro de Corpus Christi em Vila Nova de Gaia.

por Elisa Lessa

Elisa Lessa, investigadora

Elisa Lessa, investigadora

A primeira casa do ramo feminino da Ordem Dominicana foi fundada cerca de 1219, em Chelas, nos arredores de Lisboa. A partir deste mosteiro, as fundações de monjas domínicas multiplicaram-se, chegando à data da extinção das ordens religiosas pelo governo liberal em 1834 a atingir cerca de duas dezenas de casas monásticas. Por sua vez o Convento de Corpus Christi de Vila Nova de Gaia foi edificado por iniciativa de Maria Mendes Petite, mãe de Pêro Coelho e carrasco de Inês de Castro, tendo sido acolhidas as primeiras monjas em 1354. A lição, fundamentada em documentação histórica, revela aspetos da prática musical conventual feminina em Portugal e em particular no mosteiro de Corpus Christi de Gaia. A música estava presente ao logo do dia, pautando-se a vida quotidiana monacalpelo cumprimento de um conjunto de regras, numa observância marcada pelo Ofício Divino e por um quadro diário de atividades traçado ao pormenor e lembradas a cada batida dos sinos do mosteiro. A existência de um conjunto de monjas músicas conventuais, tanto cantoras como instrumentistas nos mosteiros assegurava uma prática musical sacra de relevo que importa conhecer, pese embora o facto de até nós ter chegado apenas uma ínfima parte deste valioso património musical.

Auditório Municipal Escola de Música da Póvoa de Varzim

Excerto da dissertação de mestrado de Catarina Sousa “Consciência Corporal na Música: breve abordagem sobre a sua importância no ensino do cravo, Porto ESMAE 2018, 2-3.

Ainda que criada em 1988 pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, a escola de música apenas obteve autorização provisória de funcionamento do Ensino Básico, com paralelismo pedagógico em 1990; no ano lectivo 1991/92, obteve a mesma autorização de funcionamento agora para o Ensino Complementar sendo que, no ano lectivo 1996/97, obteve autorização definitiva de funcionamento concedida pelo Ministério da Educação através do Departamento de Ensino Secundário.

No seu primeiro ano de funcionamento foram registadas 58 matrículas e desde o ano lectivo 1995/96 que as matrículas estabilizaram numa média de 250 alunos, salientando que a frequência real é superior (350 alunos por ano), correspondendo ao limite físico das suas instalações.

De 1988 a 1995, a escola começou inicialmente por funcionar em instalações provisórias cedidas pela paróquia de S. José de Ribamar inaugurando as actuais instalações na Rua D. Maria I nº 56 no dia 1 de Outubro de 1995, estando inserida nas instalações camarárias do Auditório Municipal da Póvoa de Varzim. Inicialmente propriedade da Câmara Municipal, a Escola deveu a sua manutenção e funcionamento ao subsídio anual do Ministério da Educação (Contrato de Patrocínio), às mensalidades dos alunos e comparticipação da autarquia sendo que actualmente, para além destas entidades, acrescenta-se também o financiamento do Programa Operacional Potencial Humano (POPH) através do Eixo 1.6 (financia os 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico).

A 24 de Janeiro de 2003, foi criada, pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e pela Banda Musical da Póvoa de Varzim, a Associação Pró-Música da Póvoa de Varzim (APMPV) que passou a gerir o Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim (FIMPV), a Orquestra Sinfónica da Póvoa de Varzim (designada mais tarde por Orquestra/Quarteto Verazin) e a Escola de Música da Póvoa de Varzim (EMPV), anteriormente denominada como Escola Municipal de Música da Póvoa de Varzim-EMMPV.

A partir do ano lectivo 2009/2010 foi estabelecido um protocolo entre a Escola de Música e as Escolas Básicas do 2º e 3º Ciclo Dr. Flávio Gonçalves e Cego do Maio onde foi possível dar início à constituição de duas turmas de 5º ano (1º Grau) de Ensino Artístico Especializado de Música, em Regime Articulado (uma em cada estabelecimento de ensino), privilegiando a existência de uma formação de base musical, reforçando a educação artística dos alunos e salvaguardando a possibilidade de interagir com os planos de estudos do Ensino Regular.

É permitida a frequência de cursos em diferentes instrumentos aos alunos através da leccionação da componente de formação vocacional na escola garantindo, àqueles que concluam com aproveitamento todas as disciplinas dos respectivos planos de estudos do Curso Básico de Música, a obtenção de uma dupla certificação: a da conclusão do Ensino Básico e o Diploma do Curso Básico da área artística de Música (do Instrumento em que estiver matriculado).

Catarina Sousa

Catarina Sousa

guitarrista José Duarte Costa

As escolas de guitarra Duarte Costa, excerto da dissertação de mestrado de Aires Pinheiro, José Duarte Costa – Um caso no ensino não-oficial da Música, Universidade de Aveiro 2010.

“Um indivíduo muito cordial, com um grande entusiasmo por aquilo que fazia, pela sua escola, pela sua arte, chamemos-lhe assim e recordo muitas vezes a expressão que ele dizia era que as pessoas têm que sentir “a chamada”, e dizia “a chamada” com uma certa ênfase.”

(Professor Acácio Resende)

José Duarte Costa iniciou a sua a actividade pedagógica com aulas particulares de Guitarra na cidade de Lisboa.

Para angariar alunos, tinha publicidade ao seu trabalho em alguns locais de Lisboa. Um dos locais onde publicitava o seu trabalho era o Clube Onomástico dos Josés de Portugal.

A sua acção como professor particular foi determinante para possibilitar a primeira vinda do professor Emílio Pujol ao Conservatório Nacional no ano de 1947, uma vez que a classe de Guitarra do primeiro curso deste pedagogo na cidade de Lisboa era constituída por alunos do professor José Duarte Costa e pelo próprio Duarte Costa.

Em 1953 fundou a Escola de Guitarra Duarte Costa em Lisboa, esta Escola tornou-se um marco do ensino da Guitarra em Portugal vindo a ramificar-se e implantar-se noutras cidades do País tendo existido delegações em Coimbra (1964), no Porto (1968) e em Faro (1975). Como escreve o Professor Manuel Morais no seu artigo para a Enciclopédia dos Músicos Portugueses do séc. XX:

“São raros os violistas actuais, que se dedicam ao reportório erudito, que não tenham de certo modo estado relacionados com este estabelecimento ou que não tenham recebido algum incentivo através dos ensinamentos directos de Duarte Costa ou de qualquer um dos seus alunos.”

Entre as décadas de cinquenta e oitenta as Escolas de Guitarra Duarte Costa foram uma referência na divulgação e no ensino da Guitarra como instrumento erudito em Portugal. Alguns dos seus alunos e docentes tornaram-se mestres de reconhecido mérito na área da Guitarra, leccionando em importantes instituições de ensino Portuguesas e estrangeiras

Como afirma o Professor Silvestre Fonseca: “A escola Duarte Costa era uma “Escola”, acabou por ser um género de “berço” para muita gente.”

Na segunda metade do séc. XX segundo o Professor Lopes e Silva “As Escolas transformaram-se numa espécie de ciclo guitarrístico em Portugal.”

Ainda hoje a Escola de Guitarra Duarte Costa é uma referência no ensino da Guitarra. Um considerável número de alunos que passaram por esta escola, são hoje pais e avós de alunos que a frequentam ou estão integrados em outras instituições de ensino. Este facto demonstra a repercussão da acção pedagógica desta escola e a importância que teve para a divulgação e transmissão da arte de tocar Guitarra Clássica em Portugal.

Actualmente apenas continua a existir a Escola de Lisboa, sita na Avenida D. João XXI, nº 13E, que é dirigida pelos Professores Miguel Costa e Ricardo Falcão, filho e neto do Mestre José Duarte Costa respectivamente.

1. Organização Didáctica e Pedagógica das Escolas Duarte Costa

As Escolas de Guitarra Duarte Costa eram dirigidas a nível Didáctico e Pedagógico pelo Professor José Duarte Costa que era o seu proprietário.

Nestas escolas era praticado exclusivamente um regime de Curso Livre uma vez que não existia qualquer paralelismo pedagógico ou acreditação e certificação das competências que eram ministradas.

O formato das aulas era individual, com uma duração de trinta minutos e com a regularidade de uma vez por semana. Existia no entanto flexibilidade na prestação deste serviços, segundo o professor Paulo Valente Pereira, as aulas “.. eram normalmente uma vez por semana. Reinava no entanto o princípio do «aluno cliente». O aluno comprava séries de lições que poderiam ser “gastas” como este quisesse, em horário a combinar com o professor; tanto poderia escolher ter 2 ou 3 lições por semana como uma lição por mês ou pontualmente em intervalos regulares ou irregulares mais alargados.”

A base de ensino era o Método de Guitarra (Escola de Guitarra) de José Duarte Costa. O aluno começava por seguir as lições do Método e ia adquirindo progressivamente competências técnicas e artísticas que lhe permitiam o domínio da guitarra.

À medida que o aluno aumentava as suas competências o professor era responsável por introduzir novos autores de forma a proporcionar ao aluno um leque variado de influências técnicas e artísticas. Através das entrevistas e dos inquéritos que efectuei, pude apurar que para além das peças que constituíam o Método de Guitarra e das obras de José Duarte Costa também se abordavam obras de vários autores, desde o período medieval até ao séc. XX.

Nas escolas Duarte Costa o Professor de instrumento era também responsável pelo ensino da restante Formação Musical. Assim sendo cada professor tinha de planificar a sua aula tendo em conta os objectivos técnicos e artísticos do instrumento em conjunto com os objectivos teóricos e práticos da restante Educação Musical.

Houve todavia épocas em que se introduziu o ensino da Formação Musical como disciplina independente, no entanto funcionou sempre de forma bastante irregular e de forma intermitente ao longo da existência das Escolas de Guitarra Duarte Costa.

Como afirma o Professor José Pina: “Os objectivos destes Cursos eram a aprendizagem da Música tendo como veículo a guitarra.”

Segundo o que pude apurar pelas entrevistas que efectuei, a Escola de Guitarra Duarte Costa não estava vocacionada para o ensino de Músicos profissionais, tratava-se de um local acessível a todos quantos quisessem aprender música de uma forma lúdica através da Guitarra.

No entanto existia também a possibilidade de atingir níveis técnicos e artísticos elevados consoante a capacidade, a dedicação e a vontade do aluno.

O testemunho do Professor Fernando Guiomar ilustra perfeitamente o que pretendia o Professor José Duarte Costa nas suas Escolas.

“….faz-me um reparo e chama-me à atenção que aquilo ali não era a Academia nem o Conservatório, portanto ali não se aborrece as pessoas com muitos exercícios, com Pujol, com técnicas, as pessoas ali têm que aprender a tocar qualquer coisinha e como eu dizia, e têm que ficar apaixonados, se quiserem depois fazer mais qualquer coisa a sério, vão para o Conservatório ou vão para a Academia.”

Segundo o que foi possível apurar nas entrevistas efectuadas, os alunos que frequentavam as Escolas Duarte Costa provinham dos mais variados extractos sociais, registando-se uma predominância da classe média. A faixa etária onde se inseriam os alunos era bastante alargada uma vez que frequentavam esta escola crianças, jovens e adultos.

Segundo o Professor Acácio Resende: “Havia estudantes, havia profissionais, havia profissionais de outras profissões e portanto de um modo geral todos os extractos sociais que tivessem dinheiro para pagar a “mensalidadezinha.”

Este testemunho dá-nos de uma forma sintética e pragmática uma definição do nível etário e social a que pertenciam os alunos das Escolas Duarte Costa.

guitarrista Aires Pinheiro

guitarrista Aires Pinheiro

O guitarrista e pedagogo José Duarte Costa, excerto da dissertação de mestrado de Aires Pinheiro, José Duarte Costa – Um caso no ensino não-oficial da Música, Universidade de Aveiro 2010.

“Ele foi uma das primeiras pedras onde se pousa a guitarra clássica portuguesa”.

(Professora Maria Lívia São Marcos)

José Duarte Costa (1921-2004) nasceu no dia 4 de Setembro de 1921 na Rua Capitão Leitão que se situa na Freguesia do Beato na cidade de Lisboa.

Começou a sua actividade musical como tocador de Banjo, integrado no grupo Troupe Jazz “Os Luziadas”.

Começou a praticar guitarra por influência do seu tio Aníbal que também integrava este grupo.

Aos dezasseis anos começou a frequentar aulas de solfejo e a estudar com o Professor Martinho D’Assunção, vindo a integrar o seu grupo de guitarras nos anos de 1937 e 1938, em parceria com Constança Maria (voz), Francisco Carvalhinho e Fernando Freitas (guitarra portuguesa).

Um dia estava a tocar guitarra numa casa de música na zona do Beato e foi abordado por uma pessoa que criticou a sua forma de tocar. De educação polida, Duarte Costa retorquiu que se a sua forma de tocar não era a melhor, estava sempre disposto a aprender, convidando desde logo o seu crítico a ensiná-lo. A pessoa em causa era o Dr. José Mendonça Braga que influenciou decisivamente José Duarte Costa a dedicar-se ao reportório erudito.

Além da opinião que fez mudar o seu rumo artístico, para Duarte Costa este encontro significou também o acesso a partituras que não conhecia e que lhe proporcionaram o acesso à música erudita para Guitarra.

Com um rumo artístico definido, José Duarte Costa aprofundou o estudo da Guitarra, sob a orientação e patrocínio do Dr. José Mendonça Braga.

Deu o seu primeiro recital no ano de 1946 no Sindicato dos Músicos.

Em 1947, integrou no Conservatório Nacional de Lisboa a classe do eminente guitarrista e pedagogo espanhol – Emílio Pujol, que o menciona como um aluno dotado e com um temperamento de verdadeiro artista.

No ano de 1948 obteve o 1º Prémio do concurso para instrumentistas organizado pela Emissora nacional.

Devido ao seu sucesso como guitarrista é-lhe concedida, em 1949, uma bolsa de estudo pelo Instituto de Alta Cultura para estudar em Espanha, contactando com os Guitarristas Daniel Fortea e Narciso Yepes.

Interessado na divulgação e no ensino da Guitarra em Portugal fundou em 1953, a Escola de Guitarra Duarte Costa, no nº 13E da Avenida João XXI em Lisboa. Esta escola foi determinante para a divulgação e evolução da Guitarra Clássica em Portugal.

Duarte Costa dedicou-se também à composição, produzindo obras para o seu instrumento.

Elaborou uma obra pedagógica constituída por cinco volumes de forma a proporcionar uma evolução contínua e progressiva por parte do aluno. Esta obra é prefaciada pelo guitarrista Narciso Yepes que tece elogios à acção pedagógica de Duarte Costa.

Compôs obras de concerto para guitarra solo e formações de música de câmara a duo e a trio, destacando-se entre estas um concerto para Guitarra Clássica a que deu o nome de Concerto Ibérico.

Compôs música para os filmes Ladrão, Precisa-Se! (1946, Jorge Brum do Canto), Arouca (1958, Perdigão Queiroga), A Ilha Que Nasce do Mar (1956, Fernando Garcia), A Caçada do Malhadeiro (1969, Quirino Simões) e Lisboa Cultural (1983, Manuel de Oliveira).

Não obstante a sua ocupada missão pedagógica e performativa, Duarte Costa fundou uma fábrica de guitarras na cidade de Coimbra. Procurava desta forma suprir no País a falta de instrumentos de qualidade em Portugal.

Duarte Costa divulgou a guitarra Clássica por todo o território nacional tocando na Rádio e na Televisão.

Em 1962 sob o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, deslocou-se ao Brasil integrado no grupo de poesia «Fernando Pessoa». Apresentou-se na qualidade de concertista em vários países nomeadamente Espanha, Itália, Inglaterra, Canadá e Moçambique.

No ano de 1967 foi convidado pelo compositor Fernando Lopes-Graça e pela pianista Maria Vitória Quintas a implantar e organizar o curso de guitarra na Academia de Amadores de Música de Lisboa.

Em 1979 Duarte Costa realizou um dos seus sonhos mais antigos – tocar o seu Concerto Ibérico acompanhado por uma Orquestra. Apresentou-se em público no Teatro Rivoli na cidade do Porto, acompanhado pela Orquestra do Porto sob a direcção do Maestro Günter Arglebe. Este concerto foi gravado pela Emissora Nacional.

Deixou também um EP como registo fonográfico, para além de registos na Rádio e na Televisão.

O guitarrista espanhol Miguel Rubio gravou a sua peça intitulada Lenda Chinesa e o “Alhambra Duo” constituído pelos guitarristas alemães Peter Brekau e Ulrich Stracke, gravou a sua obra “Concerto Ibérico” na versão de duo de guitarras. O Guitarrista português Silvestre Fonseca gravou também as peças Balada da Solidão, Fantasia Oriental, Valsa à Brasileira e Habanera.

Em 1994 o Mestre Duarte Costa, como era conhecido pelo seu ciclo de amigos e admiradores, participou no filme “A Caixa”. Esta longa-metragem foi realizada pelo reconhecido realizador Manuel de Oliveira e trata-se de uma adaptação da obra do escritor português Prista Monteiro. José Duarte Costa representou o papel de guitarrista. Com este personagem Duarte Costa aparece vestindo a sua própria pele como podemos notar num diálogo em que contracena com o reconhecido actor Rui de Carvalho – “Eu sou professor de música. De guitarra mais propriamente”.

Neste filme podemos ouvir a interpretação do Ave Maria de Franz Schübert, num arranjo para Guitarra do próprio Duarte Costa onde a melodia ganha vida através do maravilhoso tremolo que desponta das mãos do Mestre. Trata-se de um momento de grande beleza artística que representa uma cena pouco comum mas no entanto possível – o músico erudito a tocar numa taberna de Lisboa e a comover o boçal taberneiro com a sua arte.

A mente criadora de José Duarte Costa levou-o a dedicar-se também à escrita. Do seu punho saiu a obra literária “A verdade Nua e Crua”, livro de carácter ideológico e pedagógico dirigido à juventude.

Não obstante a sua importante acção de divulgação da Guitarra em Portugal, Duarte Costa permanece hoje em dia ignorado por grande parte dos guitarristas portugueses. Este facto poderá dever-se também ao próprio mestre, que se foi fechando cada vez mais e não tomou parte na revolução do ensino da guitarra que decorreu a nível institucional em Portugal.

Enquanto a Guitarra já era leccionada nos conservatórios e Academias de Música a nível oficial, existindo a possibilidade de se obter um diploma que proporcionava aos estudantes de guitarra o acesso ao mercado de trabalho, Duarte Costa mantinha-se exclusivamente dedicado ao seu projecto de décadas, com um cariz particular e não oficial.

Desta forma, Duarte Costa passou a viver numa espécie de mundo paralelo à evolução do ensino e da divulgação do instrumento em Portugal o que fez com que fosse progressivamente esquecido.

José Duarte Costa morreu no dia vinte e sete de Junho de 2004 com oitenta e dois anos, esquecido e desconhecido pela maior parte dos guitarristas portugueses. A sua vida foi inteiramente dedicada e consagrada ao estudo, divulgação e ensino da Guitarra Clássica tendo dado um grande contributo para o estabelecimento do instrumento no nosso País.

Existem, no nosso País, reflexos da sua importante acção artística e pedagógica que carecem de divulgação junto à maioria dos interessados pela guitarra. É chegado o momento de se fazer jus a uma personalidade que tanto trabalhou em favor de uma arte que hoje se encontra em franca expansão.

O Mestre José Duarte Costa lançou-se em busca de um sonho, busca essa que só terminou quando foi travado pela doença de Alzheimer que importunou a recta final da sua vida. As suas cinzas repousam no cemitério de Odemira no jazigo da família Falcão da qual fazia parte por laços matrimoniais.

Aires Pinheiro

José Duarte Costa com guitarra clássica

Excerto da dissertação de mestrado de Aires PinheiroJosé Duarte Costa – Um caso no ensino não-oficial da Música Universidade de Aveiro 2010.

A guitarra clássica é actualmente um instrumento bastante popularizado em todo o mundo. O ensino deste instrumento tem uma longa história e tradição a nível erudito, existindo vários métodos de abordagem técnica e teórica.

Os métodos realizados por Fernando Sor (14/02/1778 – 10/07/1839), Mauro Giuliani (27/07/1781- 08/04/1829), Dionísio Aguado (08/04/1784-29/12/1849), Mateo Carcassi(?/?/1792-16/01/1853), Ferdinando Caruli (09/02/1770-17/02/1841) e Napoleon Coste (28/06/1805-17/02/1883), entre outros, são ainda hoje utilizados no âmbito pedagógico do instrumento.

Durante o séc. XIX a popularidade de que a Guitarra Clássica gozava ao nível da música erudita sofreu um forte abalo devido à sua sonoridade débil, o que se traduziu num decréscimo do interesse dos músicos eruditos por este instrumento. Desta forma, a guitarra foi relegada para segundo plano tendo ficado por muitos anos fora do ambiente artístico erudito dominante.

Na segunda metade do séc. XIX, os guitarristas espanhóis Julian Arcas (1832/1882) e Francisco Tarrega (21/11/1852 – 15/12/ 1909) iniciaram um trabalho artístico e pedagógico em torno do seu instrumento que se revelou de uma importância capital para o reaparecimento da guitarra como instrumento de concerto.

A sua influência junto dos construtores de guitarras, nomeadamente Miguel de Torres (1817/1892), proporcionou o desenvolvimento de um instrumento com maior capacidade sonora e mais adequado às exigências técnicas e artísticas da época.

A acção pedagógica e artística de Francisco Tarrega, Miguel Llobet (18/10/1878- 22/02/ 1938), Emílio Pujol (07/04/1886-15/11/1980 ), Daniel Fortea (28/04/1878- 05/03/1953 ) e Andrés Segóvia (21/02/1893- 03/06/1987), entre outros, fez com que a Guitarra na sua qualidade de instrumento erudito ganhasse um novo impulso, sendo actualmente um dos instrumentos com maior popularidade em todo mundo. No entanto, não sendo um instrumento de tradição erudita contínua, o seu ensino permaneceu por muitos anos à margem do ensino oficial da Música.

Na actualidade, em Portugal, de Norte a Sul do País, existem conservatórios e Academias que se dedicam ao ensino oficial e estruturado da Música onde se lecciona Guitarra. No entanto, o desenvolvimento escolar deste instrumento processou-se durante muitos anos em regime não-oficial.

Este regime de ensino teve uma importância vital para o desenvolvimento técnico e artístico da Guitarra incrementando a sua popularidade e aceitação. Em Portugal registam-se vários casos de abordagem não-oficial do ensino instrumental que apresentam uma cuidada e organizada estruturação. Os casos de José Duarte Costa na guitarra, Vitorino Matono no Acordeão, Tobias Cardoso nos instrumentos de plectro, Eurico A. Cebôlo em vários instrumentos, entre outros, são assinaláveis do ponto de vista da divulgação pedagógica instrumental. O presente estudo pretende compensar a falta de informação e documentação existente sobre este assunto e contribuir para explicar a possível influência desta actividade no incremento do ensino oficial da guitarra no nosso País.

O estudo da guitarra clássica no nosso País está actualmente institucionalizado e devidamente regulamentado pelo Decreto-lei nº 310 de 1983.

Actualmente existem por todo o País conservatórios e Academias de Música que ministram cursos oficiais deste instrumento nos níveis Elementar, Básico e Secundário. A nível Superior existem Universidades e Institutos Politécnicos que ministram Licenciaturas e Mestrados. A Universidade de Aveiro oferece também a possibilidade de realização de Doutoramento nesta área.

A primeira situação de que há registo da inclusão deste instrumento a nível oficial surge no Conservatório Nacional de Música de Lisboa no ano de 1947 através de um Curso Especial de Guitarra, ministrado pelo conceituado Professor Emílio Pujol. Este foi o primeiro de vários cursos que decorreram entre 1947 e 1969 no Conservatório Nacional de Música de Lisboa.

Os Cursos Especiais embora tenham ocorrido com uma certa frequência não tinham um carácter regular como o que se convenciona ser necessário para a realização de um curso conducente a um grau académico. Esta possibilidade só se começou a delinear em 1967 com a abertura do Curso de Guitarra na Academia de Amadores de Música de Lisboa sob a responsabilidade do Professor José Duarte Costa coadjuvado pelo Professor Piñero Nagy e em 1972 com o Programa de Experiência Pedagógica no Conservatório Nacional de Lisboa na qual ficaram responsáveis pela disciplina de guitarra, designada para o efeito com o nome de Viola Dedilhada, os Professores José Lopes e Silva e Manuel Morais.

A situação descrita anteriormente resulta de um processo de trabalho que se desenrolou ao longo de vários anos.

Foi a resiliência de algumas pessoas que tornou possível as condições que hoje se oferecem a todos quantos se dedicam à Guitarra em Portugal. É portanto necessário que os guitarristas, estudantes e professores de guitarra que vivem em Portugal, conheçam e valorizem o trabalho destes pioneiros do ensino da Guitarra no nosso País.

O guitarrista José Duarte Costa faz parte deste grupo de pioneiros que acreditou firmemente na guitarra e semeou as bases do ensino que hoje floresce em Portugal. Penso que é um dever moral, de todos quantos se dedicam ao ensino da guitarra em Portugal, conhecer e dar a conhecer o contributo deste mestre, que durante muitos anos formou várias gerações de guitarristas no nosso país. Este trabalho converte-se numa tentativa de conhecer o passado para compreender o presente e evoluir no futuro.

guitarrista Aires Pinheiro

Aires Pinheiro tocando guitarra clássica

guitarrista José Duarte Costa

Excerto da dissertação de mestrado de Aires Pinheiro, José Duarte Costa – Um caso no ensino não-oficial da Música, Universidade de Aveiro 2010.

A obra pedagógica mais divulgada de José Duarte Costa é o seu Método de Guitarra composto em cinco partes. O autor começou a compor esta obra em 1942, tendo sido revista e modificada pelo compositor durante vários anos.

No entanto, o nome que figura nas duas primeiras edições é diferente do citado anteriormente.

Durante a minha investigação, apareceram dois exemplares que não fazem referência ao seu número de edição e se intitulam Escola de Guitarra e Escola Completa de Guitarra Clássica. Não se tornou desde o início claro qual destas duas edições seria a primeira edição desta obra.

Depois de uma demorada reflexão e extensiva análise das várias partes conclui que a primeira edição seria a que tem o título Escola de Guitarra. Para esta conclusão contribuíram os seguintes factos:

  • Existe uma edição do Método Preliminar que vem associado à Escola de Guitarra datada de 1959.
  • A nível estrutural a organização do actual Método de Guitarra é completamente diferente da organização apresentada pela Escola de Guitarra, no entanto é semelhante à “Escola Completa de Guitarra”.
  • O tipo de caracteres utilizados na Escola Completa de Guitarra Clássica é igual ao utilizado na terceira edição. O mesmo não se passa com os utilizados na Escola de Guitarra.
  • A Escola de Guitarra aparece com uma encadernação datada de 1960 e sabemos que a Escola Completa de Guitarra Clássica foi vendida aos estudantes de Coimbra por volta do ano de 1964.
  • Na capa todas as edições, incluindo a Escola Completa de Guitarra Clássica, fazem alusão a Escolas de Guitarra de Duarte Costa à excepção da Escola de Guitarra que apenas faz alusão a Escola de Guitarra de Duarte Costa.
  • Só a partir de 1964 com a entrada em funcionamento da Escola Duarte Costa de Coimbra é que podemos dizer que Duarte Costa tem Escolas, até aí tinha uma Escola em Lisboa que funcionava em dois pólos.
  • Os alunos que estudaram na Escola de Lisboa nos anos cinquenta e princípios dos anos sessenta possuem a edição intitulada Escola de Guitarra.
  • As peças que se mantêm entre as várias edições são semelhantes à Escola Completa de Guitarra Clássica apresentando várias diferenças a nível de texto musical com a edição intitulada “Escola de Guitarra”.

Os factos anteriormente citados levaram-me a considerar a Escola de Guitarra como primeira edição e a Escola Completa de Guitarra Clássica como segunda edição do Método de Guitarra de Duarte Costa.

O nome pelo qual é conhecida actualmente – Método de Guitarra composto em 5 partes – surge somente a partir da terceira edição que apresenta um prefácio do autor datado de Outubro de 1967.

A primeira edição do método apresenta um formato bastante diferente das edições seguintes.

A obra encontra-se organizada por anos. Nas capas dos livros desta edição podemos ver que existe um projecto para dez métodos que seriam intitulados de 1º Ano, 2º Ano e assim sucessivamente até ao 10º Ano.

A segunda edição apresenta um formato muito semelhante ao actual. Nesta edição o autor divide a obra em cinco volumes tal como na versão actual.

A partir da terceira edição como já foi referido o autor cristalizou o formato estrutural da obra dividindo-a em cinco partes.

No ano de 1949 o conhecido guitarrista espanhol Narciso Yepes, escreveu um prefácio para esta obra onde elogia o engenho de Duarte Costa:

José Duarte Costa ha desarrollado com gran acierto y sumo sentido musical, la ingente labor de crear un método donde la guitarra encuentra um principio agradable y alentador para ofrecerlo a todos quantos se dediquen al estúdio del bello instrumento.

Yo felicito com mi más rendida admiración a este extraordinário artista português, que pone su vida e sus conocimientos musicales al servicio de la guitarra en la más pura esencia artística.

Mucho me complace conocer el método de José Duarte Costa y lo aconsejo a quienes deseen trabajar la técnica guitarrística com música de gran inspiración y belleza.”

Inicialmente o método era difundido através de um processo de cópia em ozalide sendo as reproduções feitas pelo próprio Duarte Costa. Este processo era pouco controlado o que faz com que uma cópia em ozalide se torne quase única pois muitas vezes o professor acrescentou ou suprimiu páginas.

Apenas se conhecem edições tipográficas da primeira parte do Método de Guitarra, existindo seis edições conhecidas. Notam-se todavia diferenças de conteúdo entre elas, fruto da constante revisão do Professor Duarte Costa.

As restantes partes do Método só chegaram até nós através da cópia em ozalide não sendo conhecida qualquer edição tipográfica.

Esta obra foi bastante disseminada pelo território nacional podendo ser adquirida em vários pontos do País e até no estrangeiro.

O Método de Guitarra de Duarte Costa encontrava-se à venda nas cidades de Lisboa, Coimbra, Porto, Faro e Amadora podendo também ser adquirido em Paris, São Paulo e Barcelona.

Actualmente apenas se pode adquirir esta obra, directamente na Escola Duarte Costa em Lisboa, sendo que a primeira parte é editada e as quatro partes restantes do método são apenas disponibilizadas em fotocópia.

A primeira parte do Método de Guitarra é a mais conhecida dos guitarristas em geral, tendo sido utilizada regularmente nas Escolas Duarte Costa desde a sua fundação até aos nossos dias.

Assim sendo, esta obra esteve na base do ensino de centenas de alunos de Guitarra em Portugal, tendo-se disseminado por todo o país. Para este factor muito contribuiu o facto de o Professor Duarte Costa ter fundado Escolas nas cidades de Coimbra, Porto e Faro paralelamente à Escola de Lisboa.

Segundo o Professor Doutor Miguel de Campos:

“Os alunos inscreviam-se e iam aparecendo para as aulas, seguia-se o método de Duarte Costa e eles iam evoluindo de volume para volume. A maioria apenas frequentava a escola durante um ano.”

Como podemos perceber por este testemunho a maior parte dos alunos não ficava muito tempo a frequentar as Escolas de Guitarra Duarte Costa. Desta forma tinham só contacto com a primeira parte do método. Assim sendo percebe-se a razão pela qual a primeira parte do método é a mais editada, revista e referenciada.

Para além da informação técnica estruturada e rigorosa, a primeira parte do “Método de Guitarra” apresenta uma abordagem pedagógica interessante do ponto de vista emocional e motivacional como nos testemunha o Professor Doutor José César de Sá:

“Um aspecto interessante do primeiro livro do Método era que havia sempre duas partes para cada música. Os alunos, logo na primeira aula em que tocavam algo muito simples, eram acompanhados pela 2ª guitarra do docente e ficavam com a sensação que estavam já a tocar algo de bom. Era uma forma de motivar os alunos.”

Na maior parte dos casos quando alguém se refere ao “Método de Guitarra” de Duarte Costa está-se a referir à primeira parte do método pois essa é que ficou amplamente conhecida.

O facto de ser bastante utilizada levou a várias revisões feitas pelo autor na tentativa de melhorar um ou outro aspecto. Desta forma podemos actualmente registar a existência de seis edições tipográficas da primeira parte do “Método de Guitarra” de Duarte Costa.

Não se conhecem edições tipográficas das restantes partes do método, no entanto durante a minha investigação encontrei quatro versões diferentes da segunda parte do método e quatro versões diferentes da terceira parte, difundidas através do processo de cópia em ozalide.

As análises descritivas feitas às diferentes edições do método centralizam-se em exclusivo nas peças subordinadas a um título.

Pude apurar que entre todas as edições e partes conhecidas Duarte Costa apresenta cento e oitenta e uma peças.

Nas edições das várias partes ainda disponíveis apenas se encontram cento e sessenta e uma peças.

Existem vinte peças que não figuram nas edições actuais do Método de Guitarra.

Aires Pinheiro tocando guitarra

Aires Pinheiro, foto João Guerra

Excerto da dissertação de mestrado de Aires Pinheiro, José Duarte Costa – Um caso no ensino não-oficial da Música, Universidade de Aveiro 2010.

Na sua obra “Método de Guitarra” José Duarte Costa (1926-2004) introduz a guitarra aos Portugueses como instrumento erudito.

Depois de um prefácio escrito pelo famoso guitarrista espanhol Narciso Yepes o autor apresenta uma sucinta história da evolução da guitarra e a sua influência na música das sociedades em que se inseriu. Este breve texto termina com a sua opinião pessoal sobre os benefícios do estudo da música e em particular da guitarra na formação psicossocial dos jovens.

“É portanto, a guitarra o instrumento ideal para a juventude que estuda oferecendo-lhe o prazer de tocar um belo instrumento que pode aliviar-lhe a fadiga mental e contribuir para um conhecimento de si próprio, desenvolvendo-lhe através da sublimação, uma personalidade mais forte em benefício de tudo quanto venha a realizar na vida.”

Como podemos notar pelas suas palavras, José Duarte Costa é uma pessoa preocupada com a formação da juventude. O seu trabalho não tem como objectivo unicamente a formação de técnicos especializados na arte musical, mas também a formação de pessoas com um bom carácter e uma personalidade sólida e saudável. Assim sendo, podemos notar uma preocupação de âmbito pedagógico. Duarte Costa procura conduzir a juventude para um “bom caminho”, utilizando a música e particularmente a guitarra como veiculo de transporte.

Além de preocupações sociais Duarte Costa manifesta também preocupações de nível motivacional como se percebe pela seguinte frase de sua autoria: “Que fosse fácil, progressivo e sobretudo agradável, foi sempre o propósito psico-pedagógico que me propus”. Esta é uma frase que se destaca no prefácio escrito por Duarte Costa para a primeira parte do seu Método de Guitarra composto em cinco partes.

Nesta frase o autor dá-nos a conhecer as suas preocupações no âmbito formativo e o seu ponto de partida para a elaboração desta obra de pendor pedagógico.

Neste prefácio José Duarte Costa apresenta a linha estrutural do que constitui o seu Método, enunciando os princípios de base que orientaram a elaboração do seu trabalho.

“1º – Proporcionar aos dedos da mão direita uma preparação isolada.

2º – Evitar, de princípio, a presença de notas agudas e ligados.

3º – Oferecer o maior número possível de estudos recreativos, quase pequenas peças, tudo dentro dos primeiros quatro trastos.

4º – A dedilhação, essa, foi estudada escrupulosamente de forma a oferecer a maior segurança ao estudante. Assim, as barras levam indicadas o número exacto de cordas que o dedo deve abranger, de quando são fixos os dedos da mão esquerda e, o mais importante, quando a pulsação da mão direita tem de ser apoiada.”

Os princípios a que se propõe o autor revelam uma preocupação formativa coerente do ponto de vista cinestésico e mecânico associado ao estabelecimento de momentos recreativos durante o processo de aprendizagem. O autor procura assim inter-relacionar duas vertentes que são indispensáveis para o sucesso da aprendizagem – a cognição e a motivação.

Em 1942, data do inicio da realização deste método, José Duarte Costa era já um professor consciente dos benefícios da interacção entre o processo cognitivo e motivacional.

As suas preocupações a este nível revelam que se trata de um professor consciente e informado sobre as questões pedagógicas. Não se trata de mais um virtuoso a dar aulas mas sim de um pedagogo que aplica as mais variadas técnicas didácticas de forma a extrair o melhor resultado possível do seu aluno.

Neste texto o autor ainda chama a atenção para a inclusão de uma segunda guitarra destinada aos professores de forma a embelezar o método e proporcionar uma maior fruição da performance por parte do aluno.

O facto da inclusão de uma segunda guitarra para embelezar e dar uma maior sensação de fruição ao aluno mostra a preocupação que Duarte Costa tem em proporcionar momentos de fluxo na aprendizagem. Duarte costa termina o seu prefácio em forma de conselho para as novas gerações, segundo o qual:

“…tão ligadas devem estar às coisas do espírito.”

Através deste prefácio podemos perceber a importância do ensino da Guitarra e da Música para José Duarte Costa.

Trata-se de um músico e de um professor inspirado que tem preocupações pedagógicas de nível formal e social.

Para Duarte Costa o ensino da Música está para além do simples lazer ou do aprofundamento virtuosístico da técnica, deve fazer parte da educação e formação do cidadão. A Música é um pilar estruturante da personalidade do indivíduo.

Aires Pinheiro, Universidade de Aveiro, 2010

guitarrista Aires Pinheiro

Aires Pinheiro tocando guitarra clássica