As escolas de guitarra Duarte Costa, excerto da dissertação de mestrado de Aires Pinheiro, José Duarte Costa – Um caso no ensino não-oficial da Música, Universidade de Aveiro 2010.
“Um indivíduo muito cordial, com um grande entusiasmo por aquilo que fazia, pela sua escola, pela sua arte, chamemos-lhe assim e recordo muitas vezes a expressão que ele dizia era que as pessoas têm que sentir “a chamada”, e dizia “a chamada” com uma certa ênfase.”
(Professor Acácio Resende)
José Duarte Costa iniciou a sua a actividade pedagógica com aulas particulares de Guitarra na cidade de Lisboa.
Para angariar alunos, tinha publicidade ao seu trabalho em alguns locais de Lisboa. Um dos locais onde publicitava o seu trabalho era o Clube Onomástico dos Josés de Portugal.
A sua acção como professor particular foi determinante para possibilitar a primeira vinda do professor Emílio Pujol ao Conservatório Nacional no ano de 1947, uma vez que a classe de Guitarra do primeiro curso deste pedagogo na cidade de Lisboa era constituída por alunos do professor José Duarte Costa e pelo próprio Duarte Costa.
Em 1953 fundou a Escola de Guitarra Duarte Costa em Lisboa, esta Escola tornou-se um marco do ensino da Guitarra em Portugal vindo a ramificar-se e implantar-se noutras cidades do País tendo existido delegações em Coimbra (1964), no Porto (1968) e em Faro (1975). Como escreve o Professor Manuel Morais no seu artigo para a Enciclopédia dos Músicos Portugueses do séc. XX:
“São raros os violistas actuais, que se dedicam ao reportório erudito, que não tenham de certo modo estado relacionados com este estabelecimento ou que não tenham recebido algum incentivo através dos ensinamentos directos de Duarte Costa ou de qualquer um dos seus alunos.”
Entre as décadas de cinquenta e oitenta as Escolas de Guitarra Duarte Costa foram uma referência na divulgação e no ensino da Guitarra como instrumento erudito em Portugal. Alguns dos seus alunos e docentes tornaram-se mestres de reconhecido mérito na área da Guitarra, leccionando em importantes instituições de ensino Portuguesas e estrangeiras
Como afirma o Professor Silvestre Fonseca: “A escola Duarte Costa era uma “Escola”, acabou por ser um género de “berço” para muita gente.”
Na segunda metade do séc. XX segundo o Professor Lopes e Silva “As Escolas transformaram-se numa espécie de ciclo guitarrístico em Portugal.”
Ainda hoje a Escola de Guitarra Duarte Costa é uma referência no ensino da Guitarra. Um considerável número de alunos que passaram por esta escola, são hoje pais e avós de alunos que a frequentam ou estão integrados em outras instituições de ensino. Este facto demonstra a repercussão da acção pedagógica desta escola e a importância que teve para a divulgação e transmissão da arte de tocar Guitarra Clássica em Portugal.
Actualmente apenas continua a existir a Escola de Lisboa, sita na Avenida D. João XXI, nº 13E, que é dirigida pelos Professores Miguel Costa e Ricardo Falcão, filho e neto do Mestre José Duarte Costa respectivamente.
1. Organização Didáctica e Pedagógica das Escolas Duarte Costa
As Escolas de Guitarra Duarte Costa eram dirigidas a nível Didáctico e Pedagógico pelo Professor José Duarte Costa que era o seu proprietário.
Nestas escolas era praticado exclusivamente um regime de Curso Livre uma vez que não existia qualquer paralelismo pedagógico ou acreditação e certificação das competências que eram ministradas.
O formato das aulas era individual, com uma duração de trinta minutos e com a regularidade de uma vez por semana. Existia no entanto flexibilidade na prestação deste serviços, segundo o professor Paulo Valente Pereira, as aulas “.. eram normalmente uma vez por semana. Reinava no entanto o princípio do «aluno cliente». O aluno comprava séries de lições que poderiam ser “gastas” como este quisesse, em horário a combinar com o professor; tanto poderia escolher ter 2 ou 3 lições por semana como uma lição por mês ou pontualmente em intervalos regulares ou irregulares mais alargados.”
A base de ensino era o Método de Guitarra (Escola de Guitarra) de José Duarte Costa. O aluno começava por seguir as lições do Método e ia adquirindo progressivamente competências técnicas e artísticas que lhe permitiam o domínio da guitarra.
À medida que o aluno aumentava as suas competências o professor era responsável por introduzir novos autores de forma a proporcionar ao aluno um leque variado de influências técnicas e artísticas. Através das entrevistas e dos inquéritos que efectuei, pude apurar que para além das peças que constituíam o Método de Guitarra e das obras de José Duarte Costa também se abordavam obras de vários autores, desde o período medieval até ao séc. XX.
Nas escolas Duarte Costa o Professor de instrumento era também responsável pelo ensino da restante Formação Musical. Assim sendo cada professor tinha de planificar a sua aula tendo em conta os objectivos técnicos e artísticos do instrumento em conjunto com os objectivos teóricos e práticos da restante Educação Musical.
Houve todavia épocas em que se introduziu o ensino da Formação Musical como disciplina independente, no entanto funcionou sempre de forma bastante irregular e de forma intermitente ao longo da existência das Escolas de Guitarra Duarte Costa.
Como afirma o Professor José Pina: “Os objectivos destes Cursos eram a aprendizagem da Música tendo como veículo a guitarra.”
Segundo o que pude apurar pelas entrevistas que efectuei, a Escola de Guitarra Duarte Costa não estava vocacionada para o ensino de Músicos profissionais, tratava-se de um local acessível a todos quantos quisessem aprender música de uma forma lúdica através da Guitarra.
No entanto existia também a possibilidade de atingir níveis técnicos e artísticos elevados consoante a capacidade, a dedicação e a vontade do aluno.
O testemunho do Professor Fernando Guiomar ilustra perfeitamente o que pretendia o Professor José Duarte Costa nas suas Escolas.
“….faz-me um reparo e chama-me à atenção que aquilo ali não era a Academia nem o Conservatório, portanto ali não se aborrece as pessoas com muitos exercícios, com Pujol, com técnicas, as pessoas ali têm que aprender a tocar qualquer coisinha e como eu dizia, e têm que ficar apaixonados, se quiserem depois fazer mais qualquer coisa a sério, vão para o Conservatório ou vão para a Academia.”
Segundo o que foi possível apurar nas entrevistas efectuadas, os alunos que frequentavam as Escolas Duarte Costa provinham dos mais variados extractos sociais, registando-se uma predominância da classe média. A faixa etária onde se inseriam os alunos era bastante alargada uma vez que frequentavam esta escola crianças, jovens e adultos.
Segundo o Professor Acácio Resende: “Havia estudantes, havia profissionais, havia profissionais de outras profissões e portanto de um modo geral todos os extractos sociais que tivessem dinheiro para pagar a “mensalidadezinha.”
Este testemunho dá-nos de uma forma sintética e pragmática uma definição do nível etário e social a que pertenciam os alunos das Escolas Duarte Costa.