barítono José de Freitas

JOSÉ DE FREITAS

José de Freitas, de nome completo José Cirilo de Freitas Silva, nasceu na Madeira e foi padre da Congregação da Missão (Padres Vicentinos). Já depois de padre, estudou nos conservatórios do Porto e de Lisboa, onde concluiu o Curso Superior de Canto com excelente classificação. Em 1978 tornou-se artista residente do Teatro Nacional de São Carlos onde se estreou com Schaunard em La Bohème. Foi intérprete de importantes papéis de barítono e de baixo-barítono em Portugal e no estrangeiro. Foi também diretor de coros e compositor de cânticos litúrgicos.

ENTREVISTA

Qual foi o primeiro momento em que se lembra de ter tido consciência de que a música era importante para si?

O primeiro momento?! Preferiria falar de uma pequena série de momentos… Concretizando: No meu 5º ano do seminário (hoje 9º ano), cerca dos 16 anos, quando a chamada “mudança de voz” era já algo acentuada, o meu ilustre professor de música, Padre António Ferreira Telles, poucos dias após ter-me convidado para tocar harmónio em algumas cerimónias litúrgicas (ele era o harmonista oficial, obviamente) e pedir-me para, alternadamente com outro colega, iniciar os cânticos na liturgia (o equivalente a solista), veio falar comigo na véspera da festa do Padroeiro do seminário (S. José), e disse-me: “Confio muito em ti para “segurares” a 4ª voz na missa solene de amanhã.” Ora aí tem um “puzzle” com bastante significado na minha “consciência musical” de jovem seminarista…

Quais os professores que mais o influenciaram no tempo de seminário?

Vou referir-me apenas a professores de música, obviamente. Desde os primeiros anos, tive uma veneração especial por um ilustre mestre, muito “sui generis”, mas muito competente e sabedor: o Padre António Ferreira Telles, a que atrás aludi. Era excelente harmonista, compositor, ótimo harmonizador. O Pe. Fernando da Cunha Carvalho, felizmente ainda entre nós, também teve influência na minha orientação musical, e não só. Mas vou salientar, sem querer ser injusto para os atrás citados e porventura outros, o Pe. João Dias de Azevedo, que muito me ajudou sobretudo no harmónio e no órgão, no Seminário de Mafra, onde fiz o meu noviciado (1954-1956). Nesse período, cheguei a tocar órgão em algumas celebrações dominicais e festas na Basílica de Mafra… E, para completar os anos do seminário, não poderei omitir o Pe. Fernando Pinto dos Reis (1929-2010).

Depois de ir para o seminário e de ser padre, quando é que se apercebeu de que cantar era o mais importante na sua vida profissional?

Como disse, cedo me iniciei e fui crescendo na função de solista. Continuei-a ao longo de todo o curso, alternando-a com o múnus de harmonista. Terminado o curso, fui incumbido da disciplina de Música (além de outras), no seminário menor. O concílio do Vaticano II acabava de privilegiar o vernáculo na liturgia. Iniciei a renovação de todo o repertório vigente. Eu próprio dei largas a uma velha paixão e iniciei a composição de cânticos em português, incluindo o “ordinário” e o “próprio” da missa para determinadas solenidades, além de outros cânticos circunstanciais. Aconselhado por não poucos, matriculei-me no Conservatório do Porto. Canto? Composição? Duas paixões. Muito incitado e encorajado pela professora D. Isabel Mallaguerra, decidi-me mais seriamente pelo canto, sem descurar a composição musical.

Após o curso geral de canto no Conservatório do Porto, vim a concluir o Curso Superior no Conservatório Nacional com a professora D. Helena Pina Manique. Com o programa do exame do curso superior concluído com alta classificação, fui convidado para vários recitais em Lisboa e não só. Iniciei logo de seguida o curso de ópera com o professor Álvaro Benamor e D. Helena Pina Manique. Fui admitido no Coro Gulbenkian, onde estive durante alguns meses até seguir para Paris com uma bolsa de estudos.

O diretor do Teatro Nacional de São Carlos, Eng. João Paes, que já me ouvira no Conservatório, convidou-me para, temporariamente, interromper o estágio em Paris e vir a Lisboa preparar o desempenho de um importante papel numa ópera portuguesa. Bem sucedido, pediu-me para, após o estágio parisiense, seguir para Florença, afim de preparar, com o famoso Gino Bechi, o importantíssimo papel de primeiro barítono (Lord Enrico d’Ashthon) da ópera Lucia di Lamermoor, de Donizetti. Cantei esse papel em novembro de 1977, no Teatro Rivoli (Porto)…

Toda esta “bola de neve” a partir da conclusão do curso superior de canto em 1974, todo o incrível desencadear de situações até finais de 1977, todo o ano de 1977 sobretudo, tudo isso responde à sua pergunta… Parafraseando, em contraste, um fadista, diria: “Ser cantor não foi meu sonho, mas cantar foi o meu fado…”

Dos anos em que estudou Música e Canto, que professores tiveram uma influência mais decisiva?

Nos conservatórios do Porto e de Lisboa, tive a felicidade de ser orientado respetivamente pelas professoras D. Isabel Mallaguerra e D. Helena Pina Manique, e ainda, por algum tempo, pela D. Arminda Correia, sem esquecer o Prof. Álvaro Benamor (cena).

Em Paris, como olvidar o trabalho com a famoso baixo Huc-Santana e o não menos célebre barítono Gabriel Bacquier? Em Itália, e aqui em Portugal, Gino Bechi foi simplesmente precioso no trabalho vocal e cénico. Este famoso barítono, que também me honrava com a sua amizade, cantou nos anos 40, em todos os grandes palcos do mundo. A sua famosa “entrega” aos espetáculos e nos espetáculos, quer cenicamente mas sobretudo vocalmente, levou-o a tal desgaste que teve de terminar a sua carreira por volta dos 40 anos, precisamente com a idade com que eu comecei…

Foi difícil deixar de ser padre e optar pela carreira musical?

Quando, em finais dos anos 60, me matriculei no Conservatório do Porto, confesso que o meu sonho era dar uma componente artística à minha missão de padre.

Começaram a surgir, porém, situações que não deixaram de me ir perturbando. Alguma confusão começou a instalar-se nos meus horizontes… Estávamos em pleno pós-74… Sobretudo a partir de 1977, comecei a sentir-me ultrapassado pelos acontecimentos. Tinham de ser tomadas decisões… Não podia viver na ambiguidade!… Houve muitas dúvidas, muitas incertezas… O meu Padre Provincial de então propôs-me fazer as duas coisas: padre e cantor… Tudo se desenrolava vertiginosamente… Eram convites para concertos, para óperas, etc.
Cheguei mesmo a atuar durante não pouco tempo, estando ainda no exercício do ministério… Fui chegando à conclusão de que as duas funções não faziam grande sentido… Em finais de 1978, acabei por tomar a decisão: pedi para Roma a dispensa do exercício das ordens. Não tive resposta fácil. Demorou mais de dois anos. Pelo meio, um apelo a que repensasse…

Qual foi o papel da Igreja na sua vida musical?

Primeiramente, como é obvio, penso em todo o curso do seminário. Para além de todos os aspetos da formação, a música da Igreja, o canto gregoriano, ocupou uma grande parte desse período, quer na teoria, quer na prática. O nosso Cantuale, um livro específico da Congregação da Missão com os mais belos cânticos gregorianos e muitos outros, a uma ou mais vozes, dominou grande parte desses anos, as nossas vozes e as nossas almas.

No seminário Maior, durante o curso de filosofia e teologia, para além das mais belas obras de polifonia sacra, cantávamos, todos os domingos e festas, o “comum” e o “próprio” em gregoriano, de acordo com o emblemático Liber Usualis, a mais completa obra do canto da Igreja. Tudo isto, naturalmente acompanhada da parte teórica, marca indelevelmente a minha personalidade e a minha formação musical. E não esqueço que quase sempre, alternadamente, fui organista e solista…

Após a ordenação, seguiram-se anos dominados pelo Concílio do Vaticano II, com uma série extraordinária de documentos sobre a música e a liturgia em vernáculo,com o aparecimento de excelentes compositores. E foram sempre surgindo, com os diversos papas, importantes documentos sobre a música litúrgica. Não posso esquecer os “famosos” cursos gregorianos de Fátima que frequentei.

Durante os anos 1977-1995, em que a vida artística teve o seu lado prioritário, nunca deixei de estar atento aos documentos da Igreja sobre música sacra e à obra de excelentes compositores que temos.

A partir de 1997, já no pós – S. Carlos, a pedido do meu grande amigo Conégo José Serrasina que acabava de ficar à frente da Paróquia dos Anjos, em Lisboa– a minha paróquia -, comecei a orientar o coro paroquial, tomando a peito a renovação dos cânticos e a dinamização litúrgica. Baseava-me sempre nos textos de cada celebração. Após 5 anos de intenso e profícuo trabalho, abracei outro projeto – na Capela do Palácio da Bemposta (Academia Militar), onde colaborei durante 13 anos (2003 – 2016). Durante este período, compus dezenas de cânticos que vieram a ser publicados pela Academia Militar, em 2012, num volume com o título Deus é Amor. Porque o “contexto” de então era “específico”, o referido volume irá “sofrer” brevemente substancial alteração.

Qual foi a maior deceção na sua vida?

Se me permite, não apresentaria uma mas duas deceções, e ambas no âmbito do mundo lírico. A primeira, logo de início. Tinha feito 40 anos. Eram diferentes, agora, o sonho e o ideal. Imaginava que perante mim, ia surgir um meio pleno de elevação, um ambiente superior, de arte, de cultura, etc. Cedo, porém, fui verificando e concluindo que as cores que sonhara belas, não, não o eram assim tanto… A realidade era bastante mais prosaica… Bem!… Respirei fundo, bem fundo, passe a expressão… E, vamos a isso!… Mas vamos mesmo! O desafio que ora iniciava era para ganhar, era mesmo para vencer!… E foi! Não tive o caminho atapetado de rosas, longe disso, muito longe! Foram necessárias uma fibra excecionalmente forte como considero ter, uma fé inabalável em Deus como efetivamente tenho, e também, obviamente, uma grande confiança nos talentos que Deus me deu, aliados à formação que tive (não poderei esquecê-lo!) E…aí vou eu!… E nem tudo foram espinhos, digamos em abono da verdade. Tive um público que me admirava e apoiava bastante, excelentes e excecionais críticas, outras nem tanto… E, entre um pessoal que rodava as três centenas (coro, orquestra, cantores, técnicos, etc), tive não poucos amigos e admiradores! Não esqueço que, logo no começo, nos primeiros ensaios, vi lágrimas nos olhos de algum do pessoal, ao verem a minha entrada enérgica, decidida, confiante, e pensando no “mundo” donde acabava de chegar… aos 40 anos!…

A segunda deceção foi no fim. Em finais de 92, a SEC, tendo à frente o Dr. Pedro Santana Lopes, achou por bem dissolver a Companhia Portuguesa de Ópera (cantores, orquestra, etc). Éramos 14 os cantores principais. Mesmo tendo em conta que eu continuava a cantar no país e não só, esta foi sem dúvida uma grande deceção. Aos 55 anos, encontrava-me no ponto mais alto da carreira, a nível vocal e cénico, na minha opinião e na de quantos me conheciam e ouviam! Esperava estar “em grande” mais uma boa dezena de anos… Lembrei-me então das palavras de Gino Bechi, quando, certo dia, nos anos 80, após fazer as célebres e espetaculares demonstrações, vocais e cénicas, durante um ensaio, e quando já contava perto dos 80 anos, teve este desabafo: “Agora é que eu sei cantar!”

Pois é!… Parafraseando o meu mestre, diria: “Agora… é que eu sabia cantar!…”

Qual foi o momento mais alto da carreira como cantor lírico?

Desempenhei os mais diversos papéis de 1º barítono, de baixo-barítono, papéis característicos, enfim, foram cerca de 50… Nunca tive um fracasso nos meus desempenhos. Pelo contrário! Escolher o momento mais alto?!… É difícil!… Estou a lembrar-me de não poucos… Do “Le Grand-Prêtre de Dagom” da ópera Samson et Dalila, de Saint-Saëns, em 1983. Quis preparar o papel em Lyon com o meu ex-professor de Paris, o grande barítono Gabriel Bacquier. Estou a recordar-me do “Dulcamara” da ópera L’Elisir d’Amore, de Donizetti, em 1984 e 1985… Do “Rocco”, da ópera Fidelio de Beethoven… Enfim, não vou alongar-me na citação de outras boas e belas hipóteses…

Mas vou escolher como momento mais alto uma ópera fora do estilo clássico: a ópera Kiú, do compositor espanhol Luís de Pablo, levada à cena em 1987 no Teatro Nacional de São Carlos. O meu papel de Babinshy, o pivô da ópera, na sua grande espetacularidade e dificuldade vocal e cénica, foi na verdade um momento muito alto na minha carreira! Não foi por acaso que o próprio compositor Luís de Pablo e o maestro Jesús Ramón Encimar me convidaram, 5 anos depois (dezembro de 1992 – janeiro de 1993), para interpretar em Madrid o mesmo papel!…

Quais foram os cantores líricos mundiais que mais o inspiraram?

Estavam na moda, nos anos 60, cantores líricos que deveras nos entusiasmavam. Lembro-me, por exemplo, de Mário Lanza, de Luís Mariano, de Alfredo Krauss que vim a conhecer em São Carlos, e com o qual contracenei, inicialmente, num ou noutro pequeno papel. E vários outros, quase todos tenores. O meu tipo de voz é de barítono ou de baixo-barítono. Mas foi sobretudo a partir do Curso Superior de Canto que comecei a interessar-me por vozes líricas, o que é absolutamente natural. Dado o meu tipo de voz, cerca de cinco ou seis cantores internacionais dominavam particularmente os meus gostos. Comecemos pelos alemães Dietrich Fischer-Dieskau e Hermann Prey, barítonos. O primeiro, absolutamente excecional em lied, tendo cantado praticamente tudo o que havia nesse domínio. Muitos o consideraram o maior músico do século XX. Foi inclusivamente maestro de música sacra. Ouvi-o ao vivo em Paris. Hermann Prey era superior como ator. As suas interpretações em óperas de Mozart, Rossini, Donizetti ficaram memoráveis. Outros dois barítonos ou baixo-barítonos, Fernando Corena e Rolando Panerai, eram também grandes cantores e atores, mais característicos que os anteriores. Outro barítono que, vocalmente (não cenicamente) me enchia as medidas, era Piero Cappuccilli. Era um barítono a que eu chamaria heróico-dramático, com uma incrível potência de voz. Jamais esquecerei o seu desempenho em Simon Boccanegra de Verdi, no São Carlos…

Poderia obviamente alongar-me, no que às vozes masculinas diz respeito. Mas também não posso deixar de me referir a vozes femininas que, além de nós deixarem siderados, tanto nos ensinaram! Antes de mais, Maria Callas!… Depois, uma Victoria de los Angeles que cheguei a ouvir na Gulbenkian. Fiorenza Cossotto, Mirella Freni, Christa LudwigMonserrat Caballé que ouvi em Paris dirigida por Leonard Bernstein… Uma Joan Sutherland, La Stupenda, a tal que cantou a Traviata no Coliseu na famosa noite de 24 para 25 de abril de 1974, com o já citado Alfredo Kraus… E eu estava lá!…

Quais os músicos portugueses mais influentes na sua carreira?

Por músicos, entendo compositores, professores, pianistas, ensaiadores, “pontos”, cantores, e, porque não, críticos… Antes de mais, as minhas duas professoras nos conservatórios do Porto e de Lisboa, respetivamente: Isabel Malaguerra e Helena Pina Manique. A professora D. Arminda Correia fez de forma extraordinária a breve transição entre uma e outra. Álvaro Benamor, na classe de ópera. A pianista Maria Helena Matos que me acompanhou com enorme competência desde o Conservatório Nacional, incluindo o exame final, e praticamente em todos os recitais que fui dando ao longo da carreira. O maestro Armando Vidal, músico de gema, com o qual preparei, como a generalidade dos artistas, quase todos os papéis que tinha a desempenhar nas dezenas de óperas em que fui interveniente. Entre os maestros – “pontos” – , não esquecerei o maestro Pasquali que tão competentemente orientou, durante os primeiros tempos, as nossas intervenções em palco, e o maestro Ascenso de Siqueira, grande e bom amigo e incrível ser humano… Tive a felicidade de trabalhar com encenadores como António Manuel Couto Viana, que me honrava com a sua amizade, Carlos Avillez (em várias óperas), Luís Miguel Cintra, João Lourenço

Cantores? Álvaro Malta, Hugo Casaes, Elizette Bayan, Armando Guerreiro, e outros… Lembro-me ainda de preciosas “dicas” que me deu Álvaro Malta

Compositores? Antes de mais, o Prof. Cândido Lima. Conheci-o em Paris. Conversávamos muito. Não esqueço o dia em que ele me apresentou ao seu amigo Iannis Xenakis… Fomos juntos a vários concertos. Preparei, com ele ao piano, algumas obras suas para canto. Foi meu pianista num concurso de canto em que fui premiado… Tudo isto em Paris, em 1977.

Com o grande compositor Fernando Lopes-Graça, tive a honra de preparar um importante papel de solista na sua obra As Sete Predicações d’Os Lusíadas, em vista à estreia mundial da mesma no VI Festival da Costa do Estoril (1980).
Joly Braga Santos honrava-me com a sua amizade e admiração. Com ele ensaiei o papel de solista na sua Cantata Das Sombras, sobre texto de Teixeira de Pascoaes, para primeira audição mundial no Teatro de S. Luís, a 27 de julho de 1985, com o Coro Gulbenkian, e enquadrada no XI Festival de Música da Costa do Estoril. De Joly Braga Santos nunca poderei esquecer as suas palavras, em pleno palco, no fim da última récita da sua Trilogia das Barcas, em maio de 1988: “Estou a compor uma ópera, para a Expo de Sevilha (daí a 4 anos), baseada numa obra de Frederico Garcia Llorca, Bodas de Sangue e tenho um muito bom papel para si”. Entretanto, o maestro falecia 2 meses depois, a 18 de julho de 1988, o que constituíu uma grande perda para o País, para a cultura portuguesa.

Quanto a críticos, devo dizer que, entre outros, Francine Benoit, João de Freitas Branco, José Blanc de Portugal muito me encorajaram e elogiaram!

E hoje, o que acha da evolução da ópera em Portugal?

Francamente, tenho dificuldade em responder. Há cerca de vinte e cinco anos, após a extinção da Companhia Portuguesa de Ópera e de ter dado como terminada a minha carreira lírica, abracei outro projeto e alheei-me bastante desse tema. Sei que, sobretudo por razões orçamentais, a programação se ressente, e muito. Tudo parece ser diferente. Repito: não tenho dados que me permitam fazer qualquer juízo de valor…

O que pensa do papel da música na Igreja?

Desde o Seminário Maior, fui lendo atentamente, e mais que uma vez, os documentos papais que surgiram desde o princípio do século XX:
o Motu próprio de São Pio X (1903) sobre a Restauração da Música Sacra;
a Constituição Apostólica Divini Cultus (1928) no pontificado de Pio XI, sobre a liturgia e a música sacra; a Encíclica Musicae Sacrae Disciplina (1953), do Papa Pio XII, sobre a Música Sacra, vocal e instrumental.

Logo após o Concílio do Vaticano II, surge a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (1963), a realçar que “a acção litúrgica reveste maior nobreza quando é celebrada com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação ativa do povo”. E quando fala de canto, obviamente que se refere ao canto sagrado intimamente unido com o texto. E se o canto gregoriano ocupa sempre um lugar privilegiado em igualdade de circunstâncias, não são excluídos os outros géneros de música sacra mormente a Polifonia, desde que em harmonia com o espírito da ação litúrgica, e de acordo com os diversos tempos litúrgicos, com as diversas celebrações e os vários momentos da celebração. Compositores, organistas, mestres de coro, cantores, músicos (instrumentistas) devem formar um todo para o esplendor do canto.

Alguns anos após o Concílio, a famosa Instrução Musicam Sacram (1967), da Sagrada Congregação dos Ritos, é a síntese, diria perfeita, do que à Música Sacra diz respeito, desde o canto na celebração da missa, passando pela preparação de melodias para os textos em vernáculo, depois a música para instrumental, o Canto no Ofício, etc etc.

O assunto levar-nos-ia ainda a três ou quatro intervenções de São João Paulo II, a uma célebre conferência do Cardeal Ratzinger (mais tarde Papa Bento XVI) em 1985, a uma Nota Pastoral dos nossos bispos por ocasião do Ano Europeu da Música (em novembro de 1985).

E o nosso Papa Francisco, por mais de uma vez, tem insistido que a Música Sacra e Canto Litúrgico devem estar plenamente inculturados nas linguagens artísticas atuais.

Quais os compositores que mais ouve e, desses, que obras prefere?

J.S. Bach é incontornável. Oiço com frequência, por exemplo, a Cantata do Café, cuja ária Hat man nicht mit seinen kindern fez parte do programa do meu exame do Curso Superior de Canto de Concerto, e foi uma das provas de acesso ao Coro Gulbenkian, em novembro de 1974; a Missa em Si m, cujas árias de baixo cantei; e a Paixão Segundo S. João, em que interpretei o papel de Jesus, no Porto, em abril de 1977, quando ainda estagiava em Paris…
Haëndel (O Messias, e Música Aquática); Beethoven (Sinfonias 3, 6 e 9) e a ópera Fidelio, cujo papel de Rocco desempenhei em junho de 1986; Mozart (o Requiem que, enquanto membro do Coro Gulbenkian, cantei no Coliseu em 1975, com gravação para a Erato; a Sinfonia nº 40, etc etc); Haydn (A criação, a Missa de Santa Cecília e a Sinfonia Concertante); Bizet (Carmen); Bramhs (Um Requiem Alemão);Rossini (Stabat Mater); Tchaickowsky (Romeu e Julieta e Francesa da Rimini; Dvorak (Sinfonia nº 9, O Novo mundo); Ravel (Bolero); Rodrigo (Concerto de Aranjuez); Strauss (valsas); Elgar (Concerto para violoncelo).

E muito, muito mais, obviamente.

O que o levou a colecionar livros e discos?

Certamente, e de uma forma geral, o meu gosto pela música, a ligação à Igreja, o meu profissionalismo, a cultura. É claro que tudo se desenrola de acordo com as diversas etapas da vida:

a minha função de professor de Música (além de outras disciplinas) no seminário menor, após a minha formação, e o começo dos meus estudos no Conservatório;

a minha transição para a vida pastoral, durante 3 anos;

a minha ida para Lisboa para concluir o curso Superior, do Conservatório, e a minha curta passagem pela Fundação Gulbenkian;

o meu estágio de dois anos em Paris, concluído com 2 meses em Itália;

o começo e a continuação da minha carreira lírica no Teatro Nacional de São Carlos;

os 3 anos pós-São Carlos em que continuei a minha carreira;

o abraçar de novo projeto: “trabalhar” um coro inserido numa missão pastoral na Paróquia dos Anjos (Lisboa), a minha Paróquia, a partir de 1997 e, posteriormente, de 2003 a 2016, na capela do Palácio da Bemposta (Academia Militar);

e porque não dizê-lo, as minhas viagens de automóvel, algumas longas, nos anos 70 e daí para cá, para já não falar da minha própria casa…

Como vê, são muitas as etapas e as circunstâncias em que procurei estar sempre em dia e dentro das exigências das mesmas. Livros, discos, cassetes, CDs, DVDs eram verdadeiros instrumentos de trabalho, de cultura, de ocupação, de prazer…

Julgo ter sintetizado as razões da minha importante biblioteca e discoteca, das quais progressivamente e criteriosamente, me vou voluntariamente desfazendo.

Antes da sua formação académica no conservatório, que lugar tinha a música erudita no seu papel de formador no seminário?

Além de renovar completamente o repertório de cânticos religiosos que vinha de há longos anos (o que supunha rodear-me de bom material), comecei a interessar-me por vozes maravilhosas que os discos faziam chegar até nós (Mario Lanza, Luis Mariano, Alfredo Krauss etc, e por orquestras excecionais que nos traziam as mais belas melodias clássicas, canções famosas, música de filmes históricos…

Tive sempre a preocupação de partilhar com os meus jovens alunos algum desse maravilhoso mundo musical… Era importante para a educação da sua sensibilidade, dos seus gostos, da sua cultura.

Lembro-me, e muitos ex-alunos (quer do seminário, quer do ensino público) se recordarão de ter dado a ouvir, entre outras obras, uma pequena peça do compositor russo Alexander Borodine. Tratava-se de Nas estepes da Ásia Central. Era a caravana que surgia ao longe, a marcha dos camelos, a intensidade instrumental que “subia” a anunciar a chegada da caravana, a permanência no terreno, o retomar da marcha, os sons que se iam extinguido… até a caravana se perder de vista!… Era tudo tão belo, tão claro! Apaixonante!… O interesse era enorme. Os alunos começavam a compreender que a música tem um sentido, um conteúdo, uma intenção, uma finalidade, uma expressão!
O mesmo sucedeu com outras obras, como o Hino da Alegria, da IX Sinfonia de Beethoven! Etc etc.

Mas adverti-os sempre para que nada disto desviasse a atenção do essencial da sua formação!…

Em três palavras como se caracteriza a si mesmo?

Persistente! Perfecionista! Brioso!

Lisboa, 19 de março de 2018

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JOSÉ DE FREITAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL

Um barítono que é crítico de si próprio

Correio da Manhã, 28 de abril de 1986

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De padre a cantor principal de ópera no Teatro São Carlos

Diário de Notícias do Funchal, 11 de maio de 1986

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José de Freitas: de padre a cantor

Correio da Manhã, 02 de agosto de 1987

Santo Agostinho de Hipona

Música nos filósofos

Platão e a Música

Platão e a Música

Confúcio

(n. China 551 – 479 a.C.)

Minhas crianças, por que é que não aprendem canções? Elas são capazes de vos dar encorajamento e estímulo; elas podem ensinar-vos a observar e a preservar as coisas; podem ensinar-vos a associar, a compreender com profundidade; são capazes de apagar a vossa raiva; elas ensinam-vos a ouvir o vosso pai, que conhece todas as regras que regem a vossa longa caminhada; elas ensinam-vos os nomes dos pássaros, dos animais, das árvores. ]

Santo Agostinho de Hipona

(n. Tagaste 354; m. 430)

Santo Agostinho de Hipona
Santo Agostinho de Hipona

Confesso que ainda agora encontro algum descanso nos cânticos que as vossas palavras vivificam, quando são entoados com suavidade e arte… Quando oiço cantar essas vossas palavras com mais piedade e ardor, sinto que o meu espírito também vibra com devoção mais religiosa e ardente, do que se fossem cantadas de outro modo. Sinto que todos os afectos da minha alma encontram na voz e no canto, segundo a diversidade de cada um, as suas próprias modulações, vibrando em razão de um parentesco oculto, para mim desconhecido, que entre eles existe. ]

Boécio

(n. Roma c. 480-m.524)

Nada é mais característico da natureza humana do que ser acalmado pelos modos doces e excitado pelos seus opostos. Crianças, jovens e adultos estão tão naturalmente ligados aos modos por uma espécie de sentimento espontâneo que não há quem se não delicie com as canções doces. ]

Jean Jacques Rousseau

(n. Genève 1712; m. 1778)

Mesmo que toda a natureza esteja adormecida, o que a contempla não dorme, e a arte do músico consiste em substituir a imagem insensível do objecto pela dos movimentos que a sua presença excita no coração do contemplador: não só ele agitará o mar, animará a chama de um fogo, fará correr os ribeiros, cair a chuva e aumentar as torrentes, como pintará o horror de um deserto medonho, denegrirá os muros de uma prisão subterrânea, acalmará a tempestade, tornará tranquilo e sereno o ar e da orquestra espargirá nova frescura sobre os bosques…

Friedrich Nietzsche

(n. Rocken 1844; m. Weimar 1900)

Que o teatro não acabe por dominar todas as outras artes;
que o comediante não acabe por subornar os puros;
que a música não se torne uma arte de mentir. ]

Theodor Wiesengrund Adorno

(n. Francoforte 1903; m. Suiça 1969)

Toda a música tem por Ideia a forma do Nome divino. Oração desmitificada, liberta da magia do efeito, a música representa a tentativa humana, por mais vâ que ela seja, de enunciar o próprio Nome em vez de comunicar significações. ]

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. 

Contacto

António José Ferreira
962 942 759

Eduardo Lourenço

(n. Portugal 1923 – m. Portugal 2020)

O que eu sou como ser mortal (o que todos somos), está contido na melancolia absoluta do allegretto da Sétima Sinfonia. Mas o que desejaria ser, o que não tenho a coragem de ser, só se revela nesta Suite em Si Menor de Bach. Diante desta torrente luminosa devia depor a minha velha pele, esta pele de que só a música me despe num instante, deixando-me nu e redimido, mas que no instante seguinte afogo em trevas. Delas só um Deus me poderia libertar. Digo Deus sabendo bem que esse absoluto que me atrevo a invocar é ainda o supremo álibi. É de mim, das ardentes seduções do meu próprio ser, que não quero ou de que não sou capaz de abdicar. Queria ir por um caminho de rosas para aquele sítio onde sei que me foi fixado o encontro. E ninguém lá chega nunca sem antes morrer para si mesmo.]

Penso que, de todas as artes, a que revela o que a Humanidade é de mais profundo e absoluto é a música. A literatura é uma música um tom abaixo. Não se explica, não é da ordem do conceito como a filosofia.]

A música é o canto do nosso próprio inconsciente.]

Bernard Sève

(n. França 1951)

Uma vez concluído o quadro, o pintor não precisa mais do seu pincel; mas, terminada a partitura, o compositor tem, mais do que nunca, necessidade dos instrumentos. Tocando a obra, o instrumento passa do seu corpo físico ao seu corpo musical, quando o corpo natural do instrumentista se faz corpo músico.”

São Gregório de Nazianzo

Música nos Santos da Igreja

Santo Inácio de Antioquia

(n. c. 50; m. c. 110)

O vosso presbitério, tão justamente reputado e tão digno de Deus, está ligado ao bispo como as cordas estão unidas à cítara. Assim, no acorde dos vossos sentimentos e na harmonia do vosso amor, vós cantais Jesus Cristo. Que cada um de vós se torne membro deste coro. Então, no uníssono das vozes nascerá o canto que agrada a Deus e de uma só boca, elevareis ao Pai, por Jesus Cristo, os vossos hinos. Ele vos escutará, e na beleza das vossas obras reconhecerá que fazeis parte do coro do seu Filho.

São Clemente de Alexandria

(séc. II-III)

Toda a nossa vida cristã é um dia de festa e por isso trabalhamos nos campos cantando hinos e entoamos cantos de louvor enquanto navegamos.

São Basílio de Cesareia

(n. Cesareia c. 329; m. 379)

Tens o canto do salmo, tens a profecia, os preceitos do evangelho, as pregações dos apóstolos. A língua cante e a mente trate de conhecer o sentido das palavras cantadas, para cantares com o espírito e também com a tua mente. ]

São Gregório de Nazianzo

(séc. IV)

Tu estás para lá de tudo.
Que outra coisa sobre Ti poderá dizer o canto?
De que servem palavras diante de Ti
se palavra alguma Te narra?

Santo Ambrósio de Milão

(n. Trèves c. 335; m. 397)

Alguns consideram que seduzi o povo com o encanto melódico dos meus hinos. Obviamente, não me vou defender. Há neles, sem dúvida, um encanto poderoso. Há algo mais poderoso do que a confissão da Trindade renovada, cada dia, pela confissão de todo o povo?

São João Crisóstomo

(n. Antioquia 344; m. 407)

Não podeis objectar nem a pobreza, nem a falta de tempo, nem a lentidão do vosso espírito. Sois pobres, e por isso não podeis fruir dos livros; ou então tendes livros, mas não tendes tempo para ler. A satisfação de meditar os versos dos salmos que aqui cantastes não uma, nem duas, nem três vezes, mas em muitas circunstâncias vos dará abundante matéria de consolação.

São Jerónimo

(n. Estridon c. 347; m. 420?)

A Deus não há que cantar com a voz, mas com o coração, nem é necessário tratar a garganta com doces remédios, como fazem os actores de teatro, para depois fazer ouvir no templo modulações próprias de um teatro; é antes necessário cantar a Deus com o temor, com as boas obras e com o conhecimento das escrituras. Mesmo que alguém seja desafinado, desde que tenha boas obras, para Deus é bom cantor. ]

Santo Agostinho de Hipona

(n. Tagaste 354; m. 430)

Cantar bem a Deus é cantar com júbilo. O que quer dizer cantar: cantar com júbilo? Entender, não poder explicar com palavras o que se canta no coração. Pois aqueles que cantan na colheita, na vinha, em algum trabalho pesado, começando a exultar de alegria por meio das palavras dos cânticos e estando repletos de tanta alegria que não podem exprimi-la, deixam as sílabas das palavras e emitem sons jubilosos. O júbilo é som significativo de que o coração está concebendo o indizível. E diante de quem é conveniente tal júbilo senão diante do Deus inefável? Inefável aquilo de quem é impossível falar. E se não podes falar e não deves calar, o que resta senão jubilar? O coração rejubila sem palavras e a imensidão da alegria não se limita a sílabas. ]

São Gregório Magno

(n. Roma c. 540; m. 604)

O som é produzido por tubos no órgão, por cordas na cítara. Esta dupla imagem evoca, por um lado, as boas obras e, por outro, a pregação sagrada. Comparar a boca dos pregadores a tubos de órgão, e o desejo de bem viver a cordas da cítara, é paralelismo que aceitamos com naturalidade. Este desejo de bem viver, por exemplo, sempre em tensão para a outra vida graças à ascese do corpo é como uma corda bem esticada: soa afinado e provoca admiração nos que a ouvem. ]

São Bernardo de Claraval

(n. 1091; m. 1153)

Há um cântico que, pela sua singular dignidade e doçura, merecidamente supera todos os cânticos… E chamar-lhe-ei, com todo o direito, o Cântico dos Cânticos, porque ele é o fruto de todos os outros. Tal cântico, só a unção do Espírito no-lo ensina, só a experiência no-lo mostra. Que o reconheçam aqueles que o experimentaram; os que não têm esta experiência, que ardam de desejo, não tanto de conhecer mas, sobretudo, de o experimentar. Não é um murmúrio saído da boca mas júbilo do coração, nem um som produzido pelos lábios mas um movimento de alegria, um recital das vontades e não das vozes. Não se ouve exteriormente, porque não ressoa em público. Só o escutam aquela que o canta e aquele a quem é cantado, isto é, o Esposo e a Esposa. É um verdadeiro cântico nupcial, que exprime os castos e alegres abraços das almas, a harmonia dos costumes, o amor recíproco no acorde dos sentimentos. ]

Santa Hildegarda de Bingen

(n. 1098; m. 1179)

Quando o Diabo enganador soube que o homem, sob a inspiração de Deus, começara a cantar e, desse modo, lembrava a doçura dos cânticos da pátria celeste, vendo que as maquinações da sua manha tinham ficado reduzidas a nada, ficou apavorado e atormentado. E começou a reflectir e a procurar entre os múltiplos recursos da sua maldade, o modo de multiplicar más sugestões e pensamentos imundos ou distracções diversas, não só no coração do homem mas no próprio coração da Igreja, onde fosse possível para, através de contendas e escândalos ou ordens injustas perturbar ou impedir a celebração e a beleza do louvor divino e dos hinos espirituais. ]

Considerações sobre os estigmas de São Francisco de Assis

(1182; m. 1226)

Dias antes da sua morte, São Francisco estava enfermo em Assis, na casa episcopal, com alguns dos seus companheiros; e apesar de todas as suas enfermidades, cantava muitas vezes louvores a Cristo. Um dos companheiros disse-lhe: Pai, sabes que esta população te considera um santo homem e, por isso podem pensar que, se és realmente o que eles julgam, deverias, na tua doença, pensar na morte e chorar em vez de cantar, uma vez que tens doença grave; concordarás que o teu canto e o que nos fazes cantar são ouvidos por muitas pessoas, dentro e fora do palácio. ]

São Tomás de Aquino

(n. 1228; m. 1274)

Se cantamos apenas pelo prazer de cantar, a alma distrai-se e não dá atenção às palavras. Se, pelo contrário, cantamos por devoção, meditamos com mais atenção no que dizemos. ]

São Pio X

(n. Riese 1835; m. Roma 1914)

Mais do que os instrumentos, deve ouvir-se nos templos a voz humana. ]

Gregório de Nazianzo
são Gregório de Nazianzo

São João Paulo II

(Papa 1978; m. 2004)

A introdução das línguas vulgares na liturgia romana exige uma valorização das tradições hinológicas locais. A nova sensibilidade cultural e, antes ainda, uma óptica eclesial autenticamente católica pedem que se abram o coração e a mente às realidades musicais das culturas extraeuropeias. ]

Citações de Música na Sagrada Escritura

Canto, no Livro do Êxodo

Ex 15, 1-2

Moisés e os filhos de Israel cantaram ao Senhor o seguinte cântico:
Cantemos ao Senhor, que é solenemente grande;
Precipitou no mar o cavalo e o cavaleiro.
O Senhor é a minha força e a minha glória,
Foi Ele quem me salvou. ]

Trombetas, no Livro de Josué

Jos 6, 4-5

Sete sacerdotes, tocando sete trombetas, irão à frente da arca. No sétimo dia, dareis sete vezes a volta à cidade, com os sacerdotes a tocar a trombeta. À medida que o som da trombeta for crescendo, e a sua voz se tornar mais penetrante, todo o povo irromperá num grande clamor e a muralha da cidade desabará. ]

Tamborim, no Livro dos Juízes

Jz 5, 5,1

Naquele dia, Débora e Barac, filho de Abinoam, entoaram o seguinte cântico: Louvai o Senhor! Pois em Israel os chefes comandam e o povo espontaneamente se ofereceu. Ouvi-me, ó reis; prestai-me ouvidos, ó príncipes, que eu vou cantar ao Senhor, o Senhor, Deus de Israel celebrarei.” ]

Dança, canto, tamborim no Livro dos Juízes

Jz 11, 34

Quando Jefté regressou a sua casa em Mispá, eis que sua filha saiu para o vitoriar, dançando e tocando tamborim; ela era filha única. ]

Canto, no 1º Livro de Samuel

1Sm 2, 1

Ana orou, cantando este cântico: “Exulta o meu coração de júbilo no Senhor. Nele se ergue a minha fronte, a minha boca desafia os meus adversários, porque me alegro na tua salvação.” ]

Lira no 1º Livro de Samuel

1 Sam 16, 16

[ Mande nosso senhor e os servos que te assistem irão buscar um homem que saiba dedilhar a lira e, quando o mau espírito da parte de Deus te atormentar,ele tocará e tu te sentirás melhor. Então Saúl disse aos servos: Procurai pois um homem que toque bem e trazei-mo. Um dos seus servos pediu para falar e disse: Tenho visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar e é um valente guerreiro, fala bem, é de bela aparência e Iahweh está com ele. Saul despachou logo mensageiros a Jessé com esta ordem: Manda-me o teu filho David (que está com o rebanho). ]

Canto, címbalos, cítara, harpa, trombeta nas Crónicas

2 Cron 5, 13

[ Os levitas cantores, Asaf, Heman, Idutun e os seus filhos e irmãos, vestidos de linho fino, colocados a leste do altar, tocavam címbalos, cítaras e harpas, acompanhados por cento e vinte sacerdotes que tocavam trombetas. Todos os tocadores de trombeta e os cantores se uniam para entoar, numa mesma sinfonia, o louvor do Senhor, entre o ressoar das trombetas, dos címbalos e dos outros instrumentos musicais; e cantavam: Louvor ao Senhor porque é bom e a sua misericórdia é eterna. ]

Canto, tamborim, címbalos no Livro de Judite

Jdt 13, 16, 1

Disse Judite:
‘Entoai um cântico ao meu Deus com tamborins,
cantai ao meu Deus com címbalos,
cantai-lhe um salmo novo,
exaltai-O e invocai o seu nome. ]

Coro, cordofones no livro dos Salmos

Sl 5, 1-2

Ao director do coro. Salmo de David. Com instrumentos de corda.

Ouve, Senhor, as minhas palavras
e atende a minha súplica. ]

Coro, cordofones

Sl 6, 1-2

Ao director do coro. Para instrumentos de oito cordas. Salmo de David.

Senhor, não me repreendas na tua ira,
nem me castigues com o teu furor. ]

Coro, lira no livro dos Salmos

Sl 8, 1-2

Ao director do coro. Sobre a Lira de Gat. Salmo de David.

Ó Senhor, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra! ]

Coro, soprano no livro dos Salmos

Sl 9, 1-1

Ao director do coro. Com voz de soprano. Salmo de David.

Quero louvar-Te,
Senhor, com todo o coração,
e narrar todas as tuas maravilhas. ]

Coro, canto no livro dos Salmos

Sl 22(21), 1

Ao director do coro. Pela melodia “A corça pela aurora”. Salmo de David.

Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? ]

Canto no livro dos Salmos

Sl 30(29), 1

Salmo. Cântico da dedicação do templo. De David.

Senhor, eu Te enalteço, porque me salvaste
e não permitiste que os inimigos se rissem de mim.” ]

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Cítara, harpa, canto no livro dos Salmos

Sl 33(32), 2-3

Louvai o Senhor com a cítara,
cantai-Lhe salmos com a harpa de dez cordas.
Cantai-Lhe um cântico novo,
tocai com arte por entre aclamações. ]

Coro, canto no livro dos Salmos

Sl 45(44), 1-2

Ao director do coro. Segundo a melodia “Os lírios”. Poema dos Filhos de Coré. Cântico de amor.

O meu coração vibra com belas palavras;
vou recitar ao rei o meu poema! ]

Coro no livro dos Salmos

Sl 56(55), 1-2

Ao director do coro. Pela melodia “a pomba dos terebintos longínquos”. Elegia. De David, quando os filisteus se apoderaram dele, em Gat.

Tem compaixão de mim, ó Deus,
pois há quem me queira destruir
oprimindo-me e fazendo-me guerra todo o dia.

Canto, tamborim, cítara, lira, trombeta nos Salmos

Sl 81(80), 1-4

Ao director do coro. Sobre a lira de Gat. De Asaf.

Alegrai-vos em Deus, nossa força,
aclamai o Deus de Jacob.
Cantai ao som do tamborim,
da cítara harmoniosa e da lira.
Tocai a trombeta na festa da Lua-nova
e na Lua-cheia, dia da nossa festa.

Canto, cítara e harpa no livro dos Salmos

Sl 92(91), 1-4

Salmo. Cântico. Para do dia de sábado.

É bom louvar-Te, Senhor
e cantar salmos ao teu nome, ó Altíssimo,
proclamar pela manhã a tua bondade
e durante a noite a tua fidelidade,
ao som da da lira e da cítara
e com as melodias da harpa. ]

Canto e dança no livro dos Salmos

Sl 87(86), 6-7

O Senhor escreverá no registo dos povos,
anotando: “Este nasceu em Sião.”

E eles dirão, cantando e dançando:
“A minha única fonte está em ti.” ]

Canto no livro dos Salmos

Sl 96(95), 1-2

Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira!
Cantai ao Senhor bendizei o seu nome,
proclamai, dia após dia, a sua salvação. ]

Canto, harpa, cornetim, trombeta nos Salmos

Sl 98(97), 1, 4-6, 8

Cantai ao Senhor um cântico novo,
porque Ele fez maravilhas!

Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai!
Cantai hinos ao Senhor ao som da harpa,
ao som da lira e da cítara;
ao som de cornetins e trombetas,
aclamai o nosso rei e senhor.

Batam palmas os rios,
e as montanhas, em coro, gritem de alegria.

Canto, lira e cítara no livro dos Salmos

Sl 108(107), 1-4

Cântico. Salmo de David.

Ó Deus, meu coração está firme;
quero cantar e salmodiar, ó minha glória!
Despertai, lira e cítara!
Quero acordar a aurora!
Louvar-Te-ei, Senhor, entre os povos,
cantar-Te-ei entre as nações. ]

Harpa no livro dos Salmos

Sl 137 (136), 1-4

Junto aos rios de Babilónia nos sentámos a chorar,
com saudades de Sião.
Nos salgueiros das suas margens
pendurámos as nossas harpas.
Os que nos levaram para ali cativos
queriam ouvir os nossos cânticos
e os nossos opressores, uma canção de alegria:
“Cantai-nos um cântico de Sião”.
Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor
estando numa terra estranha? ]

Canto e harpa no livro dos Salmos

Sl 147(146), 1, 7

Aleluia!
Louvai ao Senhor, porque é bom cantar!
É agradável e justo louvar o nosso Deus.

Cantai ao Senhor com gratidão;
cantai ao nosso Deus ao som da harpa. ]

Canto, dança, harpa e tambor no livro dos Salmos

Sl 149, 1, 3

Aleluia!
Cantai ao Senhor um cântico novo;
louvai-o na assembleia dos fiéis!

Louvem o seu nome com danças;
cantem-Lhe ao som de harpas e tambores! ]

Trombeta, cítara e dança no livro dos Salmos

Sl 150, 3-6

Aleluia!
Louvai-O ao som da trombeta,
louvai-O com a harpa e a cítara!
Louvai-O com tambores e danças,
Louvai-O com instrumentos de corda e flautas!
Louvai-O com címbalos sonoros,
Louvai-O com címbalos retumbantes!
Tudo quanto respira louve ao Senhor!
Aleluia! ]

Rei David, por Gerard van Honthorst