Citações sobre música na literatura, poesia, bíblia, história e dança

Olga Roriz, bailarina e coreógrafa

De bailarinos e coreógrafos e sobre dança

Citações sobre dança e bailado

Andrés Corchero, bailarino e coreógrafo

(n. Ciudad Real, Espanha, 1957)

A dança não é só movimento, também é filosofia, poesia, narrativa…

Na dança, o tempo não se explica mas é intrínseco à atuação. A passagem do tempo constrói-se a partir da composição dos movimentos no espaço ou da relação entre os silêncios e a música.

A dança é efémera. Podes bailar a mesma coreografia cada dia mas sempre a viverás de maneira diferente. O público de hoje tampouco sentirá o mesmo que o público que virá amanhã. Sempre se baila no eterno presente.

A poesia é como bailar escrevendo, podes ir muito longe com a imaginação. Também há uma relação estreita entre a dança e a música.

Estar triste não é mau. Em muitos casos, dá-te força. Pode ser um motor para a criação.

Ao longo da vida, deixas para trás muitas pessoas queridas. A vida tem esse ponto de tristeza. Mas a tristeza pode conviver com a esperança.

O mais importante é despertar emoções no público. O espaço entre o bailarino e os espetadores deve estar cheio de energia. O objetivo é conseguir que se mova algo no interior dos espetadores. A emoção é movimento.

A dança não é só movimento, também é filosofia, poesia, narrativa…

Andrés Corchero

Andrés Conchero, créditos La Vanguardia
Andrés Conchero, créditos La Vanguardia

Traduzido por António José Ferreira de entrevista dada ao jornal La Vanguardia a 16 de janeiro de 2020

Olga Roriz, coreógrafa

(n. Viana do Castelo, 8 de Agosto de 1955)

A dança é terapêutica. A dança eleva intelectual e fisicamente o ser humano. A dança é um apelo à humanidade e uma exaltação das nossas capacidades criativas. A dança é a nossa expressão maior. A poesia primordial. Pela dança o mundo eleva-se expande-se, liberta-se.

O poder do nosso corpo não se mede pela força muscular mas pelo lugar que ocupa, pelo espaço que invade, pelo que comunica.

O corpo e a mente na dança não param mesmo que estáticos. A relação com o vazio, o encontro e diálogo com outros corpos, outras mentes, é inesgotável.

A dança não é entretenimento, é comunicação, reflexão, manifesto.

Celebrar a dança é celebrar o ser humano, a nossa liberdade de expressão sem distinção de género, raça ou estrato social. O corpo feito manifesto.

Cada celebração congrega em si o passado o presente e o futuro. A humanidade precisa de um futuro melhor física e mentalmente. A dança cura e não só ao executar mas também ao apreciá-la.

Olga Roriz

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. 

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António José Ferreira
962 942 759

Sophia de Mello Breyner Andresen

Música na Poesia

Citações de música na poesia e poemas de temática musical

A ópera

Schiller e a ópera

Schiller e a ópera

As cordas

A música e o Anel dos Nibelungos

A música e o Anel dos Nibelungos

[ Simónides

(Séc. VI-V a.C.)

Inúmeras, as aves voavam
sobre a sua cabeça
e os peixes, em pé, saltavam das águas de anil do mar,
ao som do seu belo canto. ]

[ Da epopeia dos Nibelungos

(c. 1200)

Quando soam as cordas
do seu instrumento,
doces e suaves,
então dissolvem-se as dores de quem sofre. ]

[ Al-Kutayyir

(séc. XIII)

O que me dá prazer não é o vinho, não!
Nem tão pouco a música, nem sequer o canto.
Apenas os livros são o meu encanto
e a pena: a espada que tenho sempre à mão. ]

[ Luís de Camões

(n. Lisboa? 1524/1525; m. Lisboa 10 Junho 1580)

Luís de Camões
Luís de Camões

Nos salgueiros pendurei
os órgãos com que cantava.
Aquele instrumento ledo
deixei da vida passada,
dizendo: – Música amada,
deixo-te neste arvoredo,
à memória consagrada.
Frauta minha que, tangendo,
os montes fazíeis vir
p’ra onde estáveis correndo,
e as águas, que iam descendo,
tornavam logo a subir. ]

[ Collecão de Sonetos

(1786)

À morte de José António Carlos Seixas, famoso cravista

Por perpétuo silencio a Parca dura
Do Luso Orféo à doce melodia,
Já se vê os assombros da harmonia
Clauzurados no horror da Sepultura.

Na destreza feliz, na ideia pura
Do impulso humano as forças excedia,
E invejando-lhe a morte a idolatria
Provar-lhe o culto em lágrimas porfia.

Se deve à Pátria o seu merecimento
Glória imortal em vida transitória
Seja igual à jactância hoje o lamento[,]

Porém[,] de tanta perda na memória,
Aonde irá parar o sentimento[,]
Se serve a pena a proporção da glória.

(Soneto presente na “Collecão de Sonetos, serios, que se não achão impressos, extrahidos dos ms. antigos e modernos [Lisboa?], 1786, p. 437. Lisboa: Biblioteca Nacional, Cod. 8610) ]

[ Fernando Pessoa

(Lisboa, 13 de Junho de 1888 – Lisboa, 30 de Novembro de 1935)
Chuva Oblíqua (VI parte)

Fernando Pessoa
Fernando Pessoa

O maestro sacode a batuta,
A lânguida e triste a música rompe …

Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo …

Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo…

Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo…
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos…)

Atiro-a de encontra à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo. e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal… E a música atira com bolas
À minha infância… E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos …

Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo…

E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância…

E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo… ]

Chuva Oblíqua (IV parte)

Que pandeiretas o silêncio deste quarto!.
As paredes estão na Andaluzia.
Há danças sensuais no brilho fixo da luz.
De repente todo o espaço pára.
Pára, escorrega, desembrulha-se,
E num canto do tecto, muito mais longe do que ele está,
Abrem mãos brancas janelas secretas
E há ramos de violetas caindo
De haver uma noite de Primavera lá fora
Sobre o eu estar de olhos fechados. ]

Reciclanda

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[ Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa

A música, sim a música…
Piano banal do outro andar.
A música em todo o caso, a música..
Aquilo que vem buscar o choro imanente
De toda a criatura humana
Aquilo que vem torturar a calma
Com o desejo duma calma melhor…
A música… Um piano lá em cima
Com alguém que o toca mal.
Mas é música…
Ah quantas infâncias tive!
Quantas boas mágoas?,
A música…
Quantas mais boas mágoas!
Sempre a música…
O pobre piano tocado por quem não sabe tocar.
Mas apesar de tudo é música.
Ah, lá conseguiu uma música seguida —
Uma melodia racional —
Racional, meu Deus!
Como se alguma coisa fosse racional!
Que novas paisagens de um piano mal tocado?
A música!… A música…! ]

[ T. S. Eliot

(n. St. Louis, 1888; m. London 1965)

Naquele canto decadente no meio das montanhas
Sob o pálido luar, a erva canta
Sobre as tumbas caídas, em volta da capela.
A capela está vazia, apenas refúgio do vento.
Não tem janelas e a porta bate,
Ossos secos não fazem mal a ninguém.
Sobre o telhado apenas um galo
Cocoricó, cocoricó,
Sob a luz do relâmpago. ]

[ José Gomes Ferreira

(n. Porto 1900, m. Lisboa 1985)

Sofres?
Respira.
Não há outra lira.

+

Chove…
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama. ]

[ Alfredo Pedro Guisado

(n. 1891; m. 1975)

Sinto-as tanger ainda os violinos velhos,
Onde os dedos saltando em cordas de oiro, à tarde,
Te cegaram de som. ]

[ António Aleixo

(n. Vila Real de Santo António 1899; m. 1949)

Tem a música o poder
de tornar o homem f’liz
nem há quem saiba dizer
tanto quanto ela nos diz. ]

[ Florbela Espanca

(n. Vila Viçosa 1894 – m. Matosinhos 1930)

Florbela Espanca
Florbela Espanca

Não se acende hoje a luz… Todo o luar
Fique lá fora. Bem aparecidas
As estrelas miudinhas, dando no ar
As voltas dum cordão de margaridas!

Entram falenas meio entontecidas…
Lusco-fusco… Um morcego, a palpitar,
Passa… torna a passar… torna a passar…
As coisas têm o ar de adormecidas…

Mansinho… Roça os dedos plo teclado,
No vago arfar que tudo alteia e doira,
Alma, Sacrário de Almas, meu Amado!

E, enquanto o piano a doce queixa exala,
Divina e triste, a grande sombra loira
Vem para mim da escuridão da sala… ]

+

Só Schumann, meu Amor! Serenidade…
Não assustes os sonhos… Ah! não varras
As quimeras… Amor, senão esbarras
Na minha vaga imaterialidade…

Liszt, agora, o brilhante; o piano arde…
Beijos alados… ecos de fanfarras…
Pétalas dos teus dedos feitos garras…
Como cai em pó de oiro o ar da tarde!

Eu olhava para ti… «É lindo! Ideal!»
Gemeram nossas vozes confundidas.
– Havia rosas cor-de-rosa aos molhos –

Falavas de Liszt e eu… da musical
Harmonia das pálpebras descidas,
Do ritmo dos teus cílios sobre os olhos… ]

[ Leopold Senghor

(n. Joal, Dacar 1906; m. França 2001)

Quando fiz a primeira comunhão, aos dez anos, pensava que no céu a maior felicidade era cantar, dançando. ]

[ Vinayak Krishna Gokak

(n. Índia 1909; m. 1992)

Com que canção deverei cantar-te, minha mãe?
Perguntei.
Deverei cantar
Os Himalaias com os seus cumes nascidos da neve,
Os três mares que banham a palma da tua mão?
Deverei cantar
A aurora clara com os seus raios de ouro puro?
Disse a Mãe imperturbável, calma:
Canta o mendigo e o leproso
Que enchem as minhas ruas. ]

[ Dorothy Livesay

(n. Canadá 1909; m. 1996)

Tem de lançar-se alto e mais alto ainda
De galáxia em galáxia,
Arrancar às estrelas as suas notas momentâneas
Roubar música à lua. ]

[ Elizabeth Bishop

(n. EUA 1911; m. 1979)

O seu canto ecoava de uma ponta à outra
da escuridão sob uma árvore batida pelo vento
onde reluziam as asas de pequenos insectos.
O seu canto fendeu o céu em dois. ]

[ Jorge de Sena

(1971) (n. Lisboa 1919; m. Santa Bárbara, Califórnia 1978)

Jorge de Sena, foto Fernando Lemos 1949
Jorge de Sena, foto Fernando Lemos 1949

Vulgar, ligeira, música sem nome,
adoecida num rascante falso
de orquestração pedante e requebrada,
tão apelante para o sentimento
e a fácil lágrima pi-rí-pi-rí-
mas em momentos de abandono é como
lubrificante cuspo que, secreto,
faz deslizante n’alma até ao fundo
o membro imenso de aturar-se a vida.
Depois, mesmo sem música, já está,
e a fêmea humana de aceitar-se a dor
até que as pernas junta de prazer
lembrando a melodia oleante e fluida,
vulgar, ligeira, música sem nome. ]

+

A música é, diz-se, o indizível
por ser de inexprimível sentimento
da consciência, ou um estado de alma,
ou uma amargura tão extrema e lúcida
que passa das palavras para ser
apenas o ritmo e os sons e os timbres
só pelos músicos cientes de harmonia
e de composição imaginados. Mas,
se assim fosse, eles só dos homens
saberiam mover-se nos espaços
que a humanidade abandonada encontra
nos desertos de si. Começariam
onde a expressão verbal não se articula
por impossível. Viveriam sempre
na fímbria estreita à beira da maldade
e do absurdo, como que suspensos
na solidão da morte sem palavras.
Não é, portanto, a música o limite
ilimitado dos limites da linguagem,
para dizer-se o que não é dizível.
Mas, se não é, que dizem lancinantes,
neste discreto passeio pelo tempo,
os quatro instrumentos semelhantes
no seu modo de criarem som?
Tão terrível. Sufocante. Doce
ou agridoce desconcerto harmónico.
Que diz? Que diz? Neste contínuo
de temas e andamentos, de tonalidades,
o que se justifica? Que discutem eles?
A sua mesma natureza de instrumentos
e as combinações até ao infinito
de um mecanismo abstracto do imaginar?
Como pode uma coisa que sentimos tão medonha,
tão visionariamente séria e pensativa,
ser irresponsável?
Será que nos diz do aquém, do abaixo,
do infra, do primário, do barbárico,
do animal sem alma e sem razão?
Será que todo este rigor tão belo
é como que a estrutura prévia
de que existimos ao pensar as coisas?
E não a quintessência depurada
de uma estrutura que se consentiu
todo o significar a que as palavras vieram
da analogia nominal e mágica
até à consciência dos universais?
Não há tristeza alguma nesta
vida transformada em puro som,
em homogénea outra realidade?
Não é de angústia este rasgar melódico
da consciência antes de criar-se humana?
De que, portanto, vem este triunfo
que se precipita, contraditório, nas arcadas
dos instrumentos conversando essências?
É simples convenção? É artifício?
Silêncio irresponsável?
Se há mistério na grandeza ignota,
e se há grandeza em se criar mistério,
esta música existe para perguntá-lo.
E porque se interroga e não a nós,
ela se justifica e justifica
o próprio interrogar com que se afirma
não quintessência ela, mas raiz profunda
daquilo que será provável ou possível
como consciência, quando houver palavras
ou quando puramente inúteis forem. ]

+

Ouço-te, ó música, subir aguda
à convergente solidão gelada.
Ouço-te, ó música, chegar desnuda
ao vácuo centro, aonde, sustentada
e da esférica treva rodeada,
tu resplandeces e cintilas muda
como o silente gesto, a mão espalmada
por sobre a solidão que amante exsuda
e lacrimosa corre pelo espaço
além de que só luz grita o pavor.
Ouço-te lá pousada, equidistante
desse clarão cuja doçura é de aço
como do frágil mas potente amor
que em teu ouvir-te queda esvoaçante.

Ó música da morte, ó vozes tantas
e tão agudas que o estertor se cala.
Ó música da carne amargurada
de tanto ter perdido que ora esquece.
Ó música da morte, ah quantas, quantas
mortes gritaram no que em ti não fala.
Ó música da mente espedaçada
de tanto ter sonhado o que entretece,
sem cor e sem sentido, no frevor
de sublimar-se nesse além que és tu.
Ó vida feita uma detida morte.
Ó morte feita um inocente amor.
Amor que as asas sobre o corpo nu
fechas tranquilas no possuir da sorte. ]

[ Sophia de Mello Breyner Andresen

(n. Porto 1919; m. Lisboa 2004)

Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia de Mello Breyner Andresen

Musa ensina-me o canto
Venerável e antigo
O canto para todos
Por todos entendido

Musa ensina-me o canto
O justo irmão das coisas
Incendiador da noite
E na tarde secreto

Musa ensina-me o canto
Em que eu mesma regresso
Sem demora e sem pressa
Tornada planta ou pedra

Ou tornada parede
Da casa primitiva
Ou tornada o murmúrio
Do mar que a cercava

(Eu me lembro do chão
De madeira lavada
E do seu perfume
Que atravessava)

Musa ensina-me o canto
Onde o mar respira
Coberto de brilhos
Musa ensina-me o canto
Da janela quadrada
E do quarto branco

Que eu possa dizer como
A tarde ali tocava
Na mesa e na porta
No espelho e no corpo
E como os rodeava

Pois o tempo me corta
O tempo me divide
O tempo me atravessa
E me separa viva
Do chão e da parede
Da casa primitiva

Musa ensina-me o canto
Venerável e antigo
para prender o brilho
Dessa manhã polida
Que poisava na duna
Docemente os seus dedos
E caiava as paredes
Da casa limpa e branca

Musa ensina-me o canto
Que me corta a garganta

+

O Piano sílaba por sílaba
Viaja através do silêncio
Transpõe um por um
Os múltiplos murais do silêncio
Entre luz e penumbra joga
E de terra em terra persegue
A nostalgia até ao seu último reduto

+

Na voz de oiro e de sombra da guitarra
Algo de mim a si próprio renuncia. ]

+

[ Rosemary Dobson

(n. Austrália 1920)

Estava feito. Enrolando as mangas
Pegou na flauta
E ao caminhar para o local da execução
Tocou uma nova melodia. ]

[ José Saramago

(n. 1922)

José Saramago
José Saramago

Venham leis e homens de balanças,
mandamentos d’aquém e d’além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças,
desça em nós o juízo até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade
a luz vermelha brilhe inquisidora,
risquem no chão os dentes da vaidade
e mandem que os lavemos à vassoura.

A quantas mãos existam peçam dedos
para sujar nas fichas dos arquivos.
Não respeitem mistérios nem segredos
que é natural os homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte,
relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
que a prosa de registo, o verso acta.

Mas quando nos julgarem bem seguros,
cercados de bastões e fortalezas,
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas.

Os Poemas Possíveis 1966 ]

[ Eugénio de Andrade

(n. Póvoa da Atalaia, Fundão 1923 – m. Porto 2005)

Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade

Canto porque sou homem.
se não cantasse seria
o mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho. ]

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?

Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

+

A música é assim: pergunta,
insiste na demorada interrogação
– sobre o amor?, o mundo?, a vida?
Não sabemos, e nunca
nunca o saberemos.
Como se nada dissesse vai
afinal dizendo tudo.
Assim: fluindo, ardendo até ser
fulguração – por fim
o branco silêncio do deserto.
Antes porém, como sílaba trémula,
volta a romper, ferir,
acariciar a mais longínqua das estrelas… ]

[ Ernesto Cardenal

(n. 1925)

Junto aos rios de Babilónia
Estamos sentados e choramos
Ao lembrar-nos de Sião.
Ao olhar o arranha-céus de Babilónia
e as luzes reflectidas no rio
as luzes dos night-clubs e dos bares de Babilónia
e ao ouvir suas músicas
E choramos
Nos salgueiros da margem
Penduramos nossas cítaras
Dos salgueiros chorosos
E choramos. ]

[ Maria de Macedo

n. Vila Nova de Gaia, Portugal, 1931

Contradição

Fui ao bosque silencioso
Na sua tristeza confusa
Soava um violino sem cordas
E no caminho as folhas mortas
Em modo menor uma Allemanda cansada
Desliza o riacho sem água
E o amor morto vive Ali para mim ]

[ Tomas Tranströmer

(n. Estocolmo, Suécia 1931 – m. Estocolmo 2015)

Tomas Tranströmer, poeta

Allegro

Depois de um dia negro, toco Haydn
e sinto um calor humilde nas mãos.

O teclado quer.
Suaves marteladas batem.
O acorde é verde, animado e calmo.

O acorde diz que a liberdade existe
e que alguém não paga impostos ao imperador.

Enfio as mãos nos meus bolsos de Haydn,
imito alguém que contempla o mundo com serenidade.

Iço a bandeira de Haydn – o que significa:
nós não nos rendemos. Antes queremos paz.

A música é uma casa de vidro na encosta
onde as pedras voam, onde as pedras rolam.

E as pedras rolam em todas as direcções,
mas os vidros das janelas permanecem intactos. ]

[ Gilberto Mendonça Teles

(n. Brasil, 1931-)

Um dia descobriu que a mão esquerda
era mais emotiva e mais ausente:
dedilhava por dentro o que era perda
e sondava por fora o inexistente.

E descobriu que quanto mais isento
o acorde se tornava, e delicado,
tanto mais se ordenava o movimento
da música de fundo no teclado.

E viu-se de repente entretecido
no mais difícil, no desvão do espaço,
quando as notas colhiam seu sentido
nas formas invisíveis do compasso.

Sentiu-se solidário na partida
e chorou solitário na aventura,
como se em cada coisa a própria vida
se lhe escapasse numa partitura.

E foi aí que se sentiu restrito,
que se fez de silêncio e de resvalo:
a mão esquerda desdobrava o mito
e dedilhava as sombras do intervalo. ]

[ Adelina Caravana Rigaud

Se perguntares à música
que tem para dizer,
imagens ou prodígios
a emoção mais real,
viverás bem no fundo
com o ser todo inteiro
o consolo, as respostas.
Viverás muitas vidas
ricas como tesouros.

E então, dentro de ti
Com alimento e cor
dirás um obrigado
mesmo que seja à dor. ]

[ Georges Dor

(n. Drummondville 1931; m. 2001)

Quando canto, torno-me canção,
quando escrevo torno-me poema,
quando vos digo: amo-vos,
torno-me o verbo amar
em todos os tempos. ]

[ Pedro Tamen

(n. Lisboa, 1934)

Cantas. Não sei bem onde,
mas atravessas as paredes da casa
e do coração. O amor indetectado
lança notas da música da terra
– não a das estrelas, que não há

Cantas. E o universo é uno,
é uno neste verso.” ]

[ Manuel Alegre

(n. Águeda, 1936)

De Deus não sei. Mas quase creio
que Deus poisou nas mãos cheias de terra
de um jovem camponês de Sotto il Monte.
Por isso mando à Praça de São Pedro
não uma prece
mas a minha canção fraterna e livre
esta canção
que vai pedir-te a humana bênção
João XXIII: avô do século. ]

Vasco Graça Moura

(n. Porto, 1942 – m. 2014)

blues da morte de amor

já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida,
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.

a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.

há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim. ]

[ Adam Zagajewski

(n. 1945 – m. 2021)

O Violoncelo

Quem não gosta dele diz que é
apenas uma mutação do violino
que foi corrida do coro.
Não é assim.
O violoncelo tem imensos segredos,
mas nunca soluça,
canta apenas na sua voz baixa.
Nem tudo se transforma numa canção,
porém. Às vezes apanhamos
um murmúrio ou um sussurro:
sinto-me sozinho,
não consigo dormir. ]

[ Joaquim Pessoa

(n. Barreiro, 1948)

Joaquim Pessoa
Joaquim Pessoa

Canta
Atreve-te a julgar
Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza.
Respira-te, despe-te,
faz amor com as tuas convicções,
não te limites a sorrir
quando não sabes mais o que dizer.
Os teus dentes
estão lavados, as tuas mãos são amáveis
mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Procura encontrar-te antes que
te agarre a voracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão.
Uma paixão irrequieta que não te dê descanso
e te faça doer a respiração.
Aspira o ar, bebe-o com força, é teu,
nem um cêntimo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo.
Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência
com que crescem as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos,
e cada amigo
como um astro que desponta
no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria.
A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados
e os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida,
talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou.
Canta!
Se sentires medo, canta.
Mas se em ti não couber a alegria, não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta.
Constrói o teu amor, vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem,
o que mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual,
nada será igual alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança.
E canta quando a esperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e
porque gostas de cantar e
porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso.
Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.

Guardar o Fogo, pp. 318-319. ]

[ José Jorge Letria

(n. Cascais, 1951)

Mozart
Última carta

Quem rirá por mim agora quando eu deixar de rir?
E este cansaço que entorpece os gestos
Se converter no absoluto silêncio
Que escreve na sede da Terra a sequiosa palavra
Eternidade
Deixa-me ficar assim
Para sempre
Menino apenas do sobressalto destas cartas
De mim já tudo se disse
E eu quero um cravo temperado com a loucura das estrelas
Um oboé altivo com os segredos do vento
Um flautim arfando com os mistérios da brisa
Deixa-me renascer menino no teu regaço
Amante e mãe
Que a minha música pertence a um tempo maior
Que aquele por que se mede
A grandeza das catedrais
Belíssima mulher
Ninguém me matou
Fui eu que morri
Por não caber em mim
De tamanho espanto
Ao fazer-me música ]

[ Aurelino Costa

(n. Argivai, Póvoa de Varzim, 1956)

De ti ficou
O cavaquinho
E a alegria.

No acorde da festa
E do trabalho
Teus dedos espalmados
Fizeram nascer searas ]

[ Emília Borges Martins

(n. Angola, 1970)

Uma harpa…
Que nos transporta entre sons cálidos,
Sons onde o trajecto faz-se sem compasso,
Sons que nos remetem a sonhos invencíveis.
Um vaguear sem norte…
As imagens que envolvem os movimentos
Numa consciência por concretizar.
Harpa de finas cordas,
A simplicidade
De quem caminha com um propósito.
Parceira numa dança melódica
Onde se desbrava as terras mais áridas,
Onde se adormece numa realidade feita poesia. ]

[ Ana Leonor Pereira

Os inventores dos sinos
Não sabiam do tempo.

Não sonhavam que as suas badaladas
Poderiam cortar fatias de horas finas,
Definir minutos,
Encaixar os dias.
Os sinos, esses, viram-se defraudados
Na sua tarefa primordial –
– A de adornar as manhãs e as tardes
Com o seu som de metal.

Alguns, ainda tiveram o privilégio
De cantar uns hinos,
Salmodiar uns risos,
Encantar meninos.

Outros, brilharam na tarde preguiçosa
Com as costas a dourar ao sol.

Mas nenhuns,
Nenhuns mesmo,
Querem saber do tempo!
Ignoram as horas e tocam caprichosamente
Quando lhes apetece badalar!

Os sinos conhecem o segredo da música
E sabem esculpir
Em teia fina
A filigrana da vida.
Sabem parar o dia.
Enfim, sabem tocar. ]

Heródoto

Música na História e nos historiadores

Heródoto

(n. Halicarnasso 484 a. C.; m. Túrio 420)

Ciro ouviu-lhes as propostas e, no fim, contou-lhes esta história: Um tocador de flauta, começou ele, viu os peixes no mar e pôs-se a tocar, convencido de que eles iam saltar para terra. Mas quando viu gorada a sua expectativa, pegou na rede, apanhou uma grande quantidade de peixes e tirou-os da água. Ao vê-los debaterem-se, disse: ‘Acabem-me com essas danças que, quando eu estava a tocar flauta, não quiseram vocês saltar cá para fora e dançar’. ]

Heródoto
Heródoto

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Escrito grego

(90 a. C.)

Praz à Boa Fortuna que seja feito o elogio de Antipatros, filho de Breucos, de Eleuternes, tocador de órgão hidráulico, pela sua reverência e a sua piedade em relação a Deus, pela predilecção que manifesta pela sua arte e pela sua benevolência para com a nossa cidade. ]

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Plínio o jovem

(112)

Têm por costume, em dias marcados, reunir-se antes de raiar o sol e cantar, em coros alternados, um hino a Cristo como a Deus. ]

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Ateneu

(Séc. II)

Ouviu-se nas redondezas o som de um hidraulo, tão agradável e tão encantador que nos fez voltar, fascinados pela harmonia. Então Ulpiano, voltando o olhar para o músico Alcides, disse: – Entendes tu, o maior músico dos homens, esta bela sinfonia que nos fez voltar, deslumbrados?… ]

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Jullius Pollux

(séc. II)

O hidraulo parece uma siringe invertida; os seus tubos são de bronze e soprados por baixo. O mais pequeno destes instrumentos é alimentado por foles; no maior, é a água que comprime o vento. O segundo dispõe de múltiplos sons e a voz dos seus tubos de bronze é muito brilhante. ]

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Texto árabe

(séc. IX)

Um dia, Ismail ibn al-Hâdi entrou em casa de Al-Mamun, quando ouviu uma música que lhe chamou a atenção. Quando Al-Mamun lhe perguntou: – Que tem?, ele respondeu: – Ouvi qualquer coisa que me comoveu. Fui o mais arrebatado a negar o facto que o órgão bizantino fazia morrer de prazer; mas agora posso afirmar que é verdade. ]

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Harun Bem-Jahra

(867)

Em seguida, introduz-se uma coisa chamada al-urgana; é um objecto de madeira, em forma quadrada, tendo o aspecto de uma prensa de azeite; esta prensa está revestida de um couro muito forte e suporta sessenta tubos de cobre. A parte dos tubos situada por cima do couro é revestida a ouro, mas só se vê uma pequena parte, pois cada tudo pouca diferença faz, em comprimento, do seu vizinho. De cada lado do objecto quadrado, há um buraco: lá se encontram foles semelhantes aos dos ferreiros. Dois homens começam então a manobrá-los; depois, chega o organista, que faz cantar os tubos. Cada tubo dá um som proporcional à sua altura e celebra o Imperador, enquanto todo o povo está sentado à mesa. ]

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D. Diogo de Sousa

(1505)

Todos aqueles que quiserem ser sacerdotes, ou haver benefícios, saibam ler bem, cantar, e gramática, e vivam bem e honestamente. ]

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. 

Contacto

António José Ferreira
962 942 759

Santo Agostinho de Hipona

Música nos filósofos

Platão e a Música

Platão e a Música

Confúcio

(n. China 551 – 479 a.C.)

Minhas crianças, por que é que não aprendem canções? Elas são capazes de vos dar encorajamento e estímulo; elas podem ensinar-vos a observar e a preservar as coisas; podem ensinar-vos a associar, a compreender com profundidade; são capazes de apagar a vossa raiva; elas ensinam-vos a ouvir o vosso pai, que conhece todas as regras que regem a vossa longa caminhada; elas ensinam-vos os nomes dos pássaros, dos animais, das árvores. ]

Santo Agostinho de Hipona

(n. Tagaste 354; m. 430)

Santo Agostinho de Hipona
Santo Agostinho de Hipona

Confesso que ainda agora encontro algum descanso nos cânticos que as vossas palavras vivificam, quando são entoados com suavidade e arte… Quando oiço cantar essas vossas palavras com mais piedade e ardor, sinto que o meu espírito também vibra com devoção mais religiosa e ardente, do que se fossem cantadas de outro modo. Sinto que todos os afectos da minha alma encontram na voz e no canto, segundo a diversidade de cada um, as suas próprias modulações, vibrando em razão de um parentesco oculto, para mim desconhecido, que entre eles existe. ]

Boécio

(n. Roma c. 480-m.524)

Nada é mais característico da natureza humana do que ser acalmado pelos modos doces e excitado pelos seus opostos. Crianças, jovens e adultos estão tão naturalmente ligados aos modos por uma espécie de sentimento espontâneo que não há quem se não delicie com as canções doces. ]

Jean Jacques Rousseau

(n. Genève 1712; m. 1778)

Mesmo que toda a natureza esteja adormecida, o que a contempla não dorme, e a arte do músico consiste em substituir a imagem insensível do objecto pela dos movimentos que a sua presença excita no coração do contemplador: não só ele agitará o mar, animará a chama de um fogo, fará correr os ribeiros, cair a chuva e aumentar as torrentes, como pintará o horror de um deserto medonho, denegrirá os muros de uma prisão subterrânea, acalmará a tempestade, tornará tranquilo e sereno o ar e da orquestra espargirá nova frescura sobre os bosques…

Friedrich Nietzsche

(n. Rocken 1844; m. Weimar 1900)

Que o teatro não acabe por dominar todas as outras artes;
que o comediante não acabe por subornar os puros;
que a música não se torne uma arte de mentir. ]

Theodor Wiesengrund Adorno

(n. Francoforte 1903; m. Suiça 1969)

Toda a música tem por Ideia a forma do Nome divino. Oração desmitificada, liberta da magia do efeito, a música representa a tentativa humana, por mais vâ que ela seja, de enunciar o próprio Nome em vez de comunicar significações. ]

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. 

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Eduardo Lourenço

(n. Portugal 1923 – m. Portugal 2020)

O que eu sou como ser mortal (o que todos somos), está contido na melancolia absoluta do allegretto da Sétima Sinfonia. Mas o que desejaria ser, o que não tenho a coragem de ser, só se revela nesta Suite em Si Menor de Bach. Diante desta torrente luminosa devia depor a minha velha pele, esta pele de que só a música me despe num instante, deixando-me nu e redimido, mas que no instante seguinte afogo em trevas. Delas só um Deus me poderia libertar. Digo Deus sabendo bem que esse absoluto que me atrevo a invocar é ainda o supremo álibi. É de mim, das ardentes seduções do meu próprio ser, que não quero ou de que não sou capaz de abdicar. Queria ir por um caminho de rosas para aquele sítio onde sei que me foi fixado o encontro. E ninguém lá chega nunca sem antes morrer para si mesmo.]

Penso que, de todas as artes, a que revela o que a Humanidade é de mais profundo e absoluto é a música. A literatura é uma música um tom abaixo. Não se explica, não é da ordem do conceito como a filosofia.]

A música é o canto do nosso próprio inconsciente.]

Bernard Sève

(n. França 1951)

Uma vez concluído o quadro, o pintor não precisa mais do seu pincel; mas, terminada a partitura, o compositor tem, mais do que nunca, necessidade dos instrumentos. Tocando a obra, o instrumento passa do seu corpo físico ao seu corpo musical, quando o corpo natural do instrumentista se faz corpo músico.”

São Gregório de Nazianzo

Música nos Santos da Igreja

Santo Inácio de Antioquia

(n. c. 50; m. c. 110)

O vosso presbitério, tão justamente reputado e tão digno de Deus, está ligado ao bispo como as cordas estão unidas à cítara. Assim, no acorde dos vossos sentimentos e na harmonia do vosso amor, vós cantais Jesus Cristo. Que cada um de vós se torne membro deste coro. Então, no uníssono das vozes nascerá o canto que agrada a Deus e de uma só boca, elevareis ao Pai, por Jesus Cristo, os vossos hinos. Ele vos escutará, e na beleza das vossas obras reconhecerá que fazeis parte do coro do seu Filho.

São Clemente de Alexandria

(séc. II-III)

Toda a nossa vida cristã é um dia de festa e por isso trabalhamos nos campos cantando hinos e entoamos cantos de louvor enquanto navegamos.

São Basílio de Cesareia

(n. Cesareia c. 329; m. 379)

Tens o canto do salmo, tens a profecia, os preceitos do evangelho, as pregações dos apóstolos. A língua cante e a mente trate de conhecer o sentido das palavras cantadas, para cantares com o espírito e também com a tua mente. ]

São Gregório de Nazianzo

(séc. IV)

Tu estás para lá de tudo.
Que outra coisa sobre Ti poderá dizer o canto?
De que servem palavras diante de Ti
se palavra alguma Te narra?

Santo Ambrósio de Milão

(n. Trèves c. 335; m. 397)

Alguns consideram que seduzi o povo com o encanto melódico dos meus hinos. Obviamente, não me vou defender. Há neles, sem dúvida, um encanto poderoso. Há algo mais poderoso do que a confissão da Trindade renovada, cada dia, pela confissão de todo o povo?

São João Crisóstomo

(n. Antioquia 344; m. 407)

Não podeis objectar nem a pobreza, nem a falta de tempo, nem a lentidão do vosso espírito. Sois pobres, e por isso não podeis fruir dos livros; ou então tendes livros, mas não tendes tempo para ler. A satisfação de meditar os versos dos salmos que aqui cantastes não uma, nem duas, nem três vezes, mas em muitas circunstâncias vos dará abundante matéria de consolação.

São Jerónimo

(n. Estridon c. 347; m. 420?)

A Deus não há que cantar com a voz, mas com o coração, nem é necessário tratar a garganta com doces remédios, como fazem os actores de teatro, para depois fazer ouvir no templo modulações próprias de um teatro; é antes necessário cantar a Deus com o temor, com as boas obras e com o conhecimento das escrituras. Mesmo que alguém seja desafinado, desde que tenha boas obras, para Deus é bom cantor. ]

Santo Agostinho de Hipona

(n. Tagaste 354; m. 430)

Cantar bem a Deus é cantar com júbilo. O que quer dizer cantar: cantar com júbilo? Entender, não poder explicar com palavras o que se canta no coração. Pois aqueles que cantan na colheita, na vinha, em algum trabalho pesado, começando a exultar de alegria por meio das palavras dos cânticos e estando repletos de tanta alegria que não podem exprimi-la, deixam as sílabas das palavras e emitem sons jubilosos. O júbilo é som significativo de que o coração está concebendo o indizível. E diante de quem é conveniente tal júbilo senão diante do Deus inefável? Inefável aquilo de quem é impossível falar. E se não podes falar e não deves calar, o que resta senão jubilar? O coração rejubila sem palavras e a imensidão da alegria não se limita a sílabas. ]

São Gregório Magno

(n. Roma c. 540; m. 604)

O som é produzido por tubos no órgão, por cordas na cítara. Esta dupla imagem evoca, por um lado, as boas obras e, por outro, a pregação sagrada. Comparar a boca dos pregadores a tubos de órgão, e o desejo de bem viver a cordas da cítara, é paralelismo que aceitamos com naturalidade. Este desejo de bem viver, por exemplo, sempre em tensão para a outra vida graças à ascese do corpo é como uma corda bem esticada: soa afinado e provoca admiração nos que a ouvem. ]

São Bernardo de Claraval

(n. 1091; m. 1153)

Há um cântico que, pela sua singular dignidade e doçura, merecidamente supera todos os cânticos… E chamar-lhe-ei, com todo o direito, o Cântico dos Cânticos, porque ele é o fruto de todos os outros. Tal cântico, só a unção do Espírito no-lo ensina, só a experiência no-lo mostra. Que o reconheçam aqueles que o experimentaram; os que não têm esta experiência, que ardam de desejo, não tanto de conhecer mas, sobretudo, de o experimentar. Não é um murmúrio saído da boca mas júbilo do coração, nem um som produzido pelos lábios mas um movimento de alegria, um recital das vontades e não das vozes. Não se ouve exteriormente, porque não ressoa em público. Só o escutam aquela que o canta e aquele a quem é cantado, isto é, o Esposo e a Esposa. É um verdadeiro cântico nupcial, que exprime os castos e alegres abraços das almas, a harmonia dos costumes, o amor recíproco no acorde dos sentimentos. ]

Santa Hildegarda de Bingen

(n. 1098; m. 1179)

Quando o Diabo enganador soube que o homem, sob a inspiração de Deus, começara a cantar e, desse modo, lembrava a doçura dos cânticos da pátria celeste, vendo que as maquinações da sua manha tinham ficado reduzidas a nada, ficou apavorado e atormentado. E começou a reflectir e a procurar entre os múltiplos recursos da sua maldade, o modo de multiplicar más sugestões e pensamentos imundos ou distracções diversas, não só no coração do homem mas no próprio coração da Igreja, onde fosse possível para, através de contendas e escândalos ou ordens injustas perturbar ou impedir a celebração e a beleza do louvor divino e dos hinos espirituais. ]

Considerações sobre os estigmas de São Francisco de Assis

(1182; m. 1226)

Dias antes da sua morte, São Francisco estava enfermo em Assis, na casa episcopal, com alguns dos seus companheiros; e apesar de todas as suas enfermidades, cantava muitas vezes louvores a Cristo. Um dos companheiros disse-lhe: Pai, sabes que esta população te considera um santo homem e, por isso podem pensar que, se és realmente o que eles julgam, deverias, na tua doença, pensar na morte e chorar em vez de cantar, uma vez que tens doença grave; concordarás que o teu canto e o que nos fazes cantar são ouvidos por muitas pessoas, dentro e fora do palácio. ]

São Tomás de Aquino

(n. 1228; m. 1274)

Se cantamos apenas pelo prazer de cantar, a alma distrai-se e não dá atenção às palavras. Se, pelo contrário, cantamos por devoção, meditamos com mais atenção no que dizemos. ]

São Pio X

(n. Riese 1835; m. Roma 1914)

Mais do que os instrumentos, deve ouvir-se nos templos a voz humana. ]

Gregório de Nazianzo
são Gregório de Nazianzo

São João Paulo II

(Papa 1978; m. 2004)

A introdução das línguas vulgares na liturgia romana exige uma valorização das tradições hinológicas locais. A nova sensibilidade cultural e, antes ainda, uma óptica eclesial autenticamente católica pedem que se abram o coração e a mente às realidades musicais das culturas extraeuropeias. ]

Citações de Música na Sagrada Escritura

Canto, no Livro do Êxodo

Ex 15, 1-2

Moisés e os filhos de Israel cantaram ao Senhor o seguinte cântico:
Cantemos ao Senhor, que é solenemente grande;
Precipitou no mar o cavalo e o cavaleiro.
O Senhor é a minha força e a minha glória,
Foi Ele quem me salvou. ]

Trombetas, no Livro de Josué

Jos 6, 4-5

Sete sacerdotes, tocando sete trombetas, irão à frente da arca. No sétimo dia, dareis sete vezes a volta à cidade, com os sacerdotes a tocar a trombeta. À medida que o som da trombeta for crescendo, e a sua voz se tornar mais penetrante, todo o povo irromperá num grande clamor e a muralha da cidade desabará. ]

Tamborim, no Livro dos Juízes

Jz 5, 5,1

Naquele dia, Débora e Barac, filho de Abinoam, entoaram o seguinte cântico: Louvai o Senhor! Pois em Israel os chefes comandam e o povo espontaneamente se ofereceu. Ouvi-me, ó reis; prestai-me ouvidos, ó príncipes, que eu vou cantar ao Senhor, o Senhor, Deus de Israel celebrarei.” ]

Dança, canto, tamborim no Livro dos Juízes

Jz 11, 34

Quando Jefté regressou a sua casa em Mispá, eis que sua filha saiu para o vitoriar, dançando e tocando tamborim; ela era filha única. ]

Canto, no 1º Livro de Samuel

1Sm 2, 1

Ana orou, cantando este cântico: “Exulta o meu coração de júbilo no Senhor. Nele se ergue a minha fronte, a minha boca desafia os meus adversários, porque me alegro na tua salvação.” ]

Lira no 1º Livro de Samuel

1 Sam 16, 16

[ Mande nosso senhor e os servos que te assistem irão buscar um homem que saiba dedilhar a lira e, quando o mau espírito da parte de Deus te atormentar,ele tocará e tu te sentirás melhor. Então Saúl disse aos servos: Procurai pois um homem que toque bem e trazei-mo. Um dos seus servos pediu para falar e disse: Tenho visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar e é um valente guerreiro, fala bem, é de bela aparência e Iahweh está com ele. Saul despachou logo mensageiros a Jessé com esta ordem: Manda-me o teu filho David (que está com o rebanho). ]

Canto, címbalos, cítara, harpa, trombeta nas Crónicas

2 Cron 5, 13

[ Os levitas cantores, Asaf, Heman, Idutun e os seus filhos e irmãos, vestidos de linho fino, colocados a leste do altar, tocavam címbalos, cítaras e harpas, acompanhados por cento e vinte sacerdotes que tocavam trombetas. Todos os tocadores de trombeta e os cantores se uniam para entoar, numa mesma sinfonia, o louvor do Senhor, entre o ressoar das trombetas, dos címbalos e dos outros instrumentos musicais; e cantavam: Louvor ao Senhor porque é bom e a sua misericórdia é eterna. ]

Canto, tamborim, címbalos no Livro de Judite

Jdt 13, 16, 1

Disse Judite:
‘Entoai um cântico ao meu Deus com tamborins,
cantai ao meu Deus com címbalos,
cantai-lhe um salmo novo,
exaltai-O e invocai o seu nome. ]

Coro, cordofones no livro dos Salmos

Sl 5, 1-2

Ao director do coro. Salmo de David. Com instrumentos de corda.

Ouve, Senhor, as minhas palavras
e atende a minha súplica. ]

Coro, cordofones

Sl 6, 1-2

Ao director do coro. Para instrumentos de oito cordas. Salmo de David.

Senhor, não me repreendas na tua ira,
nem me castigues com o teu furor. ]

Coro, lira no livro dos Salmos

Sl 8, 1-2

Ao director do coro. Sobre a Lira de Gat. Salmo de David.

Ó Senhor, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra! ]

Coro, soprano no livro dos Salmos

Sl 9, 1-1

Ao director do coro. Com voz de soprano. Salmo de David.

Quero louvar-Te,
Senhor, com todo o coração,
e narrar todas as tuas maravilhas. ]

Coro, canto no livro dos Salmos

Sl 22(21), 1

Ao director do coro. Pela melodia “A corça pela aurora”. Salmo de David.

Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? ]

Canto no livro dos Salmos

Sl 30(29), 1

Salmo. Cântico da dedicação do templo. De David.

Senhor, eu Te enalteço, porque me salvaste
e não permitiste que os inimigos se rissem de mim.” ]

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Meloteca, recursos musicais criativos para crianças, professores, educadores e animadores

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Cítara, harpa, canto no livro dos Salmos

Sl 33(32), 2-3

Louvai o Senhor com a cítara,
cantai-Lhe salmos com a harpa de dez cordas.
Cantai-Lhe um cântico novo,
tocai com arte por entre aclamações. ]

Coro, canto no livro dos Salmos

Sl 45(44), 1-2

Ao director do coro. Segundo a melodia “Os lírios”. Poema dos Filhos de Coré. Cântico de amor.

O meu coração vibra com belas palavras;
vou recitar ao rei o meu poema! ]

Coro no livro dos Salmos

Sl 56(55), 1-2

Ao director do coro. Pela melodia “a pomba dos terebintos longínquos”. Elegia. De David, quando os filisteus se apoderaram dele, em Gat.

Tem compaixão de mim, ó Deus,
pois há quem me queira destruir
oprimindo-me e fazendo-me guerra todo o dia.

Canto, tamborim, cítara, lira, trombeta nos Salmos

Sl 81(80), 1-4

Ao director do coro. Sobre a lira de Gat. De Asaf.

Alegrai-vos em Deus, nossa força,
aclamai o Deus de Jacob.
Cantai ao som do tamborim,
da cítara harmoniosa e da lira.
Tocai a trombeta na festa da Lua-nova
e na Lua-cheia, dia da nossa festa.

Canto, cítara e harpa no livro dos Salmos

Sl 92(91), 1-4

Salmo. Cântico. Para do dia de sábado.

É bom louvar-Te, Senhor
e cantar salmos ao teu nome, ó Altíssimo,
proclamar pela manhã a tua bondade
e durante a noite a tua fidelidade,
ao som da da lira e da cítara
e com as melodias da harpa. ]

Canto e dança no livro dos Salmos

Sl 87(86), 6-7

O Senhor escreverá no registo dos povos,
anotando: “Este nasceu em Sião.”

E eles dirão, cantando e dançando:
“A minha única fonte está em ti.” ]

Canto no livro dos Salmos

Sl 96(95), 1-2

Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira!
Cantai ao Senhor bendizei o seu nome,
proclamai, dia após dia, a sua salvação. ]

Canto, harpa, cornetim, trombeta nos Salmos

Sl 98(97), 1, 4-6, 8

Cantai ao Senhor um cântico novo,
porque Ele fez maravilhas!

Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai!
Cantai hinos ao Senhor ao som da harpa,
ao som da lira e da cítara;
ao som de cornetins e trombetas,
aclamai o nosso rei e senhor.

Batam palmas os rios,
e as montanhas, em coro, gritem de alegria.

Canto, lira e cítara no livro dos Salmos

Sl 108(107), 1-4

Cântico. Salmo de David.

Ó Deus, meu coração está firme;
quero cantar e salmodiar, ó minha glória!
Despertai, lira e cítara!
Quero acordar a aurora!
Louvar-Te-ei, Senhor, entre os povos,
cantar-Te-ei entre as nações. ]

Harpa no livro dos Salmos

Sl 137 (136), 1-4

Junto aos rios de Babilónia nos sentámos a chorar,
com saudades de Sião.
Nos salgueiros das suas margens
pendurámos as nossas harpas.
Os que nos levaram para ali cativos
queriam ouvir os nossos cânticos
e os nossos opressores, uma canção de alegria:
“Cantai-nos um cântico de Sião”.
Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor
estando numa terra estranha? ]

Canto e harpa no livro dos Salmos

Sl 147(146), 1, 7

Aleluia!
Louvai ao Senhor, porque é bom cantar!
É agradável e justo louvar o nosso Deus.

Cantai ao Senhor com gratidão;
cantai ao nosso Deus ao som da harpa. ]

Canto, dança, harpa e tambor no livro dos Salmos

Sl 149, 1, 3

Aleluia!
Cantai ao Senhor um cântico novo;
louvai-o na assembleia dos fiéis!

Louvem o seu nome com danças;
cantem-Lhe ao som de harpas e tambores! ]

Trombeta, cítara e dança no livro dos Salmos

Sl 150, 3-6

Aleluia!
Louvai-O ao som da trombeta,
louvai-O com a harpa e a cítara!
Louvai-O com tambores e danças,
Louvai-O com instrumentos de corda e flautas!
Louvai-O com címbalos sonoros,
Louvai-O com címbalos retumbantes!
Tudo quanto respira louve ao Senhor!
Aleluia! ]

Rei David, por Gerard van Honthorst
Bento XIV ao piano

Música em eclesiásticos e documentos

Martinho Lutero

(n. Eisleben 1483; m. Eisleben 1546)

Há, sem dúvida, numerosas sementes das mais raras virtudes nos corações acessíveis à música; pelo contrário, os que repelem a música parecem-me ter apenas calhaus e pedras. Sabemos que a música é odiada pelos diabos, que a não podem suportar e, segundo a Teologia, não há outra arte que se lhe possa igualar. E tanto assim é, que a música pode, como a Teologia, sossegar o ânimo e alegrá-lo. Por isso, o diabo, causador de tristes cuidados e pensamentos inquietos, foge tanto da música como das palavras da Teologia. ]

Concílio de Trento

(1545-1563)

A música não deve ser composta em ordem a um mero deleite dos ouvintes, mas de tal maneira que as palavras possam ser compreendidas por todos, a fim de que os corações dos ouvintes sejam arrebatados pelo desejo das harmonias celestes e pela contemplação das alegrias dos bem-aventurados. ]

Bento XIV

(1778)

Se é verdade que a música das representações cénicas, como nos foi relatado, deleita os espectadores com os seus artifícios, modulações harmónicas, com o ritmo e a suavidade das vozes, de tal maneira que se não perceba o texto por longo espaço de tempo, nesse caso, a música litúrgica tem objectivos bem diferentes, pois que a sua primeira preocupação deve ser a perfeita e integral compreensão das palavras. ]

Pio XI

(n. Desio 1857; m. Roma 1939)

Nenhum instrumento, por mais exímio que seja, pode superar a voz humana ao exprimir os sentimentos da alma. ]

Pio XII

(n. Roma 1876; m. Roma 1958; Papa 1939-1958)

O artista que tem uma fé profunda e leva uma vida digna de um cristão, impelido pelo amor de Deus e usando religiosamente os dons concedidos pelo Criador, procurará com todo o empenho exprimir e propor as verdades em que crê e a piedade que cultiva. ]

João XXIII

(n. Sotto il Monte 1881; m. Roma 1963; Papa 1958-1963)

A voz doce e penetrante do órgão simboliza bem o sopro vivificante do Espírito do Senhor que enche o mundo. ]

Constituição Sacrosanctum Concilium

(1963)

A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte. ]

Paulo VI

(n. Concesio 1897; m. Roma 1978)

Canta-se? Então vai-se à igreja. Vai-se à igreja? Então existe religião. Há religião? Então crê-se. Crê-se? Então salva-se. Eis uma cadeia que é paradoxal e, todavia, tem a sua importância. Se se canta, conserva-se a vida religiosa numa comunidade. ]

Instrução De Musica Sacra et Sacra Liturgia

(1958)

Melhor será omitir totalmente a música instrumental (quer de órgão, quer de outros instrumentos) do que tocar mal; e, em geral, melhor será fazer bem uma coisa ainda que limitada, do que projectar coisas maiores, se faltam os meios aptos para as realizar. ]

Instrução Musicam Sacram

(1967)

A oração adopta uma expressão mais penetrante; o mistério da sagrada liturgia e o seu carácter hierárquico e comunitário manifestam-se mais claramente; mediante a união das vozes chega-se a uma mais profunda união de corações; da beleza do sagrado o espírito eleva-se mais facilmente ao invisível; enfim, toda a celebração prefigura com mais clareza a liturgia santa da nova Jerusalém. ]

Comissão Episcopal de Liturgia de Portugal

(1967)

O canto não constitui na liturgia um luxo, um elemento meramente decorativo. É um elemento primordial inerente ao carácter de festa. ]

D. Júlio Tavares Rebimbas

(n. Murtosa 1922)

O órgão é uma imagem do homem, a duplo título: com efeito, nesta maravilha da arte admiravelmente concorrem o sopro e a mão; a mão que modelou o homem e joga no teclado; o sopro que animou o homem e canta nos tubos. ]

Universa Laus

(1980)

Graças à palavra, a música pode nomear o Deus de Jesus Cristo; pela música, a voz humana tenta dizer o inefável. ]

Joseph Ratzinger, papa Bento XVI

(n. Marktl an Inn, Alemanha 1927)

A madeira e o metal tornam-se som, o inconsciente e o indefinido torna-se sonoridade ordenada plena de significado. Alternam-se uma corporização que é espiritualização e uma espirirualização que é corporização. ]

D. Jorge Ortiga

(2001)

Em todas as culturas existem manifestações artísticas que foram assumidas pelas respectivas celebrações cultuais. A liturgia cristã, porém, apesar de envolver toda a realidade humana e cósmica, só utiliza os eleemntos mais nobres e marcados por características determinadas, conforme o seu significado cultural, religioso e simbólico. ]

Mário Cláudio, créditos Presidência da República

A música nas linhas da literatura

Camilo Castelo Branco e a música na igreja

Camilo Castelo Branco e a música na igreja

Friedrich von Schiller

(n. Narbach, Alemanha, 1759; m. Weimar 1805)

Friedrich Schiller por Anton Graff
Friedrich Schiller por Anton Graff

A ópera, graças ao poder da música, afina o sentimento e torna-o apto a bem receber impressões de beleza; aqui o próprio patético se sente à vontade para se exprimir, porque a música o ajuda e o maravilhoso, tão difícil de traduzir no palco, encontra finalmente a forma teatral que lhe convém. ]

Camilo Castelo Branco

(n. Lisboa, Portugal, 1825; m. São Miguel de Seide, Famalicão, 1890)

Busto de Camilo Castelo Branco
Busto de Camilo Castelo Branco

Verei se consigo afinar a minha alma por umas toadas que rumorejam de entre as selvas. Dá Deus estas harpas místicas aos arvoredos em benefício dos ânimos conturbados, que se acolhem fugitivos a ermos onde eles cuidam que o Céu os há-de ouvir. Acalentava a música o exasperado Saúl. Bons tempos! A música de agora é irritante. Há pouco entrei no templo: o sacerdote consagrava a hóstia, e o órgão entoava a Traviatta. Santo Deus! Quem quiser música de adormecer dores e levantar a alma à sua origem, há-de pedi-la à vibração e à folhagem das florestas. ]

José de Almada Negreiros

(n. Trindade, São Tomé e Príncipe, 1893; m. Lisboa, 1970)

José de Almada Negreiros por San Payo
José de Almada Negreiros por San Payo

Uma flauta triste vinha de viagem pelo caminho; chorava de seguida imensas canções de choros e tinha acompanhamentos funéreos de guisalhadas surdas. Calou-se a flauta, um cipreste distante gemia baixinho as dores da tatuagem que lhe iam abrindo no peito. O pastor lembrava ali o nome do seu Bem. ]

Emil Cioran

(n. Rasinari, Roménia, 1911; m. Paris, França, 1995)

Emil Cioran
Emil Cioran, escritor e filósofo romeno

E, subitamente, o prodígio das vozes do órgão, na catedral onde nos julgávamos sós. Calaram-se os arcos, as colunas, as abóbadas, a nossa matéria dilatou-se sob as vibrações, a catedral cresceu até às dimensões do mundo. Para quê procurar limites aos sons do órgão, a essa música do além, para lá dos limites do mundo e da alma? Nesse instante, os céus repousavam sobre a nossa alma…

Margriet de Moor

(n. Noordwijk, Holanda, 1941)

Margriet de Moor
Margriet de Moor

Dizem que a criação é demasiado grande para os homens, demasiado grande e demasiado confusa, e que, precisamente por este motivo, se inventou a linguagem. Língua, palavras, e no final das palavras a música. Criação de Deus dissolvida numa poção inventada pelo homem. ]

Mário Cláudio

(n. Porto, Portugal, 1941)

Mário Cláudio, créditos Presidência da República
Mário Cláudio, créditos Presidência da República

Dança a nossa população, com os seus trajes multicolores, nas pouquíssimas horas livres, que sobram das fadigas do labor agrário e dos esforços da faina piscatória. São desenhos muito puros, em que o corpo participa das cadências espontâneas, executadas por rapazes e por raparigas, exibindo a sua mocidade e galhardia, a sua graça e a sua beleza. E é como se este bailado reproduzisse a agitação que o vento provoca, nas searas, ou a languidez com que se espreguiçam as ondas, nos areais. ]

Robert Schneider

(n. Bregenz, Áustria, 1961)

Robert Schneider escritor austríaco
Robert Schneider escritor austríaco

Elias tocava já há mais de meia hora e não se avistava um fim. Mas do caos imenso e escuro sobressaíam gradualmente vozes reconciliadoras. Às melodias, seguiam-se outras melodias, aromáticas e suaves, como as ervas balouçando ao sabor do ventinho da Primavera. ]

Margarida Rebelo Pinto

(n. Lisboa, Portugal, 1965)

escritora Margarida Rebelo Pinto, revista Estante FNAC
escritora Margarida Rebelo Pinto, revista Estante FNAC

É a virtude que nos faz querer ser todos os dias pessoas melhores. Não é por acaso que na música o termo virtuoso é tão popular. Um músico virtuoso é alguém que põe todo o seu corpo, o seu coração e a sua alma na execução, e que por isso, além da técnica irrepreensível, se transcende através da entrega. ]

Sérgio Azevedo

Músicos sobre Música

Aaron Copland e a música

Aaron Copland e a música

Mozart na perspetiva de Dvorak

Mozart na perspetiva de Dvorak

Elgar e a música

Elgar e a música

Jordi Savall e a cultura

Jordi Savall e a cultura

Penderecki e a composição musical

Penderecki e a composição musical

Ray Charles e a música

Ray Charles e a música

Yo-Yo Ma e a música

Yo-Yo Ma e a música

Wolfgang Amadeus Mozart

(n. Salzburg 1756; m. Viena 1791)

Não consigo escrever poesia: não sou poeta. Não consigo dispor as palavras com tal arte que elas reflictam as sombras e a luz: não sou pintor… Mas consigo fazer tudo isso com a música…

Para mim, o órgão é o rei dos instrumentos. ]

Ludwig Von Beethoven

(n. Bona 1770; m. Viena 1827)

Bem-aventurado o que, tendo aprendido a triunfar sobre todas as paixões, emprega a sua energia na realização de tarefas que a vida impõe sem se procupar com o resultado. ]

Franz Schubert

(n. Viena 1797; m. Viena 1828)

Atormentado por uma santa angústia, aspiro a viver num mundo mais belo e desejo povoar esta terra sombria de um poderosíssimo sonho de amor. Senhor Deus, oferece enfim ao teu filho, esta criança feliz, como sinal redentor um raio de luz. ]

Felix Mendelssohn-Bartholdy

(n. Hamburgo 1809; m. Leipzig 1947)

Nada pode impedir-me de apreciar e desenvolver tudo o que os grandes mestres deixaram atrás de si, porque não faria sentido para cada um recomeçar do princípio; mas é preciso que seja um desenvolvimento ao melhor nível das minhas capacidades e não uma repetição inútil do que já foi.

Fryderyk Chopin

(n. Zelazowa Wola 1810; m. Paris 1849)

Ela traz-me sempre a Bíblia, fala-me da alma e marca-me os salmos a ler. É religiosa e boa, mas excessivamente preocupada com a minha alma. Passa o tempo a dizer-me que o outro mundo é melhor do que este, e tudo isso eu sei de cor. Respondo-lhe com citações da Sagrada Escritura e declaro-lhe que tudo isso me é conhecido.

Chopin e a inspiração

Chopin e a inspiração

Franz Liszt

(n. Raiding 1811; m. Bayreuth 1886)

As artes são o mais seguro meio de se esconder do mundo e são também o meio mais seguro de se unir a ele. ]

Claude Débussy

(n. Saint Germain-en-Laye, 1862; m. Paris 1918)

Houve e há, apesar das desordens que a civilização traz, pequenos povos encantadores que aprendem música tão naturalmente como se aprende a respirar. O seu conservatório é o ritmo eterno do mar, o vento nas folhas e mil pequenos ruídos que escutaram com atenção, sem jamais terem lido despóticos tratados. ]

Erik Satie

(n. Honfleur, 1866; m. Paris 1925)

Resolvemos, de acordo com a nossa consciência e confiando na misericórdia de Deus, edificar na metrópole desta nação franca que, durante tantos séculos, ostentou o título de Filha Dilecta da Igreja, um Templo digno do Salvador, director e redentor dos povos; faremos dele o refúgio onde a catolicidade e as Artes, que lhe estão indissociavelmente ligadas, crescerão e prosperarão resguardadas de toda a profanação e na completa expansão da sua pureza que os esforços do Maligno não conseguiriam manchar. ]

(n. Empoli 1866; m. Berlim 1924)

Ferruccio Benvenuto Busoni

A música nasceu livre, o seu destino é libertar-se. ]

(n. Moscovo 1872; m. Moscovo 1915)

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. 

Contacto

António José Ferreira
962 942 759

Aleksandr Nikolaïevitch Scriabine

O mundo é uma sumptuosa sinfonia
de mil vozes diversas.
As verdades terrestres,
consonantes com as verdades dos céus
soam em acordes cerrados e vibrantes
sobre as cordas dos milagres destruídos ]

Heitor Villa-Lobos

(n. Rio de Janeiro 1887; Rio de Janeiro 1959)

Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta. ]

Cláudio Carneyro

(n. Porto 1895; m. 1963)

O ritmo e a musicalidade de um poema, senão mesmo a vibração etérea da Ideia poética, irradiam da mesma Esfera que a poesia dos sons, a harmónica substância, o Verbo musical. ]

Olivier Messiaen

(n. Avignon, 1908; m. Clichy 1992)

Na hierarquia artística, os pássaros são os grandes músicos do planeta.

A Natureza, tesouro inesgotável das cores e dos sons, das formas e dos ritmos, modelo inigualável de desenvolvimento total e de variação perpétua, a Natureza é a fonte suprema! ]

Olivier Messiaen e os pássaros

Olivier Messiaen e os pássaros

Vitaly Margulis

(n. Charkov, Ucrânia 1928)

A surdez de Beethoven não era uma deficiência. Foi uma dádiva dos Céus. Incapaz de escutar as vozes exteriores, estava em condições de ouvir dentro de si próprio a voz de Deus. ]

Cândido Lima

(n. Viana do Castelo 1939-)

Havia um órgão de tubos na minha aldeia. O meu contacto com a música deu-se, portanto, desde que tenho consciência, aos 4-5 anos, nas cerimónias religiosas, a ouvir as pessoas mais velhas que vinham de Braga para tocar órgão. Ficou-me, portanto, o órgão no ouvido e as vozes das pessoas de família a cantar. ]

Emmanuel Nunes

(n. Lisboa 1941 – m. Paris 2012)

O meu avô paterno era moleiro e o meu avô materno era padeiro. Talvez tenha sido o imenso pão que me alimentou intelectualmente. ]

Rão Kyao

(n. Lisboa 1946-)

A música é uma prova de Deus. ]

João Pedro Oliveira

(n. Lisboa 1959-)

O acto de criação na sua essência, e tal como eu o concebo, não existe por si só, mas é resultado de uma revelação que se processa através do nosso Espírito para a nossa Mente, e cujas origens não podemos determinar. Para o ateu, talvez ele seja considerado como toda uma vivência em termos musicais, todo o conhecimento e compreensão de um passado e presente, ou mesmo um reflexo ou síntese da sua experiência humanamente vivida. Para o crente, essa revelação vem de Deus.

João Pedro Oliveira, composição
Foto Expresso

Fabio Armiliato

(n. Génova, Itália, 1956)

A música é importantíssima na educação, e todas as famílias devem sentir-se responsáveis por isso. Propondo-a mesmo aos próprios filhos da maneira mais amplas, de modo que não os impeçam de desenvolver o seu talento em todas as formas: música clássica ou ligeira, não importa, mas sempre com grande preparação, respeito e cultura.

Inés María Monreal

(n. Santander, Espanha, 1974)

A disciplina de música não tem o peso específico que merece dentro do currículo atual. O conteúdo a ministrar é fundamental para o desenvolvimento integral do estudante, traz-lhe a ampliação da sua capacidade criativa e reflexiva e facilita o desenvolvimento de competências numa dimensão transversal.

Gustavo Dudamel

(n. Barquisimeto, Venezuela, 1981)

O poder de transformação que a música tem é único, especialmente para crianças desfavorecidas.