barítono José de Freitas

JOSÉ DE FREITAS

José de Freitas, de nome completo José Cirilo de Freitas Silva, nasceu na Madeira e foi padre da Congregação da Missão (Padres Vicentinos). Já depois de padre, estudou nos conservatórios do Porto e de Lisboa, onde concluiu o Curso Superior de Canto com excelente classificação. Em 1978 tornou-se artista residente do Teatro Nacional de São Carlos onde se estreou com Schaunard em La Bohème. Foi intérprete de importantes papéis de barítono e de baixo-barítono em Portugal e no estrangeiro. Foi também diretor de coros e compositor de cânticos litúrgicos.

ENTREVISTA

Qual foi o primeiro momento em que se lembra de ter tido consciência de que a música era importante para si?

O primeiro momento?! Preferiria falar de uma pequena série de momentos… Concretizando: No meu 5º ano do seminário (hoje 9º ano), cerca dos 16 anos, quando a chamada “mudança de voz” era já algo acentuada, o meu ilustre professor de música, Padre António Ferreira Telles, poucos dias após ter-me convidado para tocar harmónio em algumas cerimónias litúrgicas (ele era o harmonista oficial, obviamente) e pedir-me para, alternadamente com outro colega, iniciar os cânticos na liturgia (o equivalente a solista), veio falar comigo na véspera da festa do Padroeiro do seminário (S. José), e disse-me: “Confio muito em ti para “segurares” a 4ª voz na missa solene de amanhã.” Ora aí tem um “puzzle” com bastante significado na minha “consciência musical” de jovem seminarista…

Quais os professores que mais o influenciaram no tempo de seminário?

Vou referir-me apenas a professores de música, obviamente. Desde os primeiros anos, tive uma veneração especial por um ilustre mestre, muito “sui generis”, mas muito competente e sabedor: o Padre António Ferreira Telles, a que atrás aludi. Era excelente harmonista, compositor, ótimo harmonizador. O Pe. Fernando da Cunha Carvalho, felizmente ainda entre nós, também teve influência na minha orientação musical, e não só. Mas vou salientar, sem querer ser injusto para os atrás citados e porventura outros, o Pe. João Dias de Azevedo, que muito me ajudou sobretudo no harmónio e no órgão, no Seminário de Mafra, onde fiz o meu noviciado (1954-1956). Nesse período, cheguei a tocar órgão em algumas celebrações dominicais e festas na Basílica de Mafra… E, para completar os anos do seminário, não poderei omitir o Pe. Fernando Pinto dos Reis (1929-2010).

Depois de ir para o seminário e de ser padre, quando é que se apercebeu de que cantar era o mais importante na sua vida profissional?

Como disse, cedo me iniciei e fui crescendo na função de solista. Continuei-a ao longo de todo o curso, alternando-a com o múnus de harmonista. Terminado o curso, fui incumbido da disciplina de Música (além de outras), no seminário menor. O concílio do Vaticano II acabava de privilegiar o vernáculo na liturgia. Iniciei a renovação de todo o repertório vigente. Eu próprio dei largas a uma velha paixão e iniciei a composição de cânticos em português, incluindo o “ordinário” e o “próprio” da missa para determinadas solenidades, além de outros cânticos circunstanciais. Aconselhado por não poucos, matriculei-me no Conservatório do Porto. Canto? Composição? Duas paixões. Muito incitado e encorajado pela professora D. Isabel Mallaguerra, decidi-me mais seriamente pelo canto, sem descurar a composição musical.

Após o curso geral de canto no Conservatório do Porto, vim a concluir o Curso Superior no Conservatório Nacional com a professora D. Helena Pina Manique. Com o programa do exame do curso superior concluído com alta classificação, fui convidado para vários recitais em Lisboa e não só. Iniciei logo de seguida o curso de ópera com o professor Álvaro Benamor e D. Helena Pina Manique. Fui admitido no Coro Gulbenkian, onde estive durante alguns meses até seguir para Paris com uma bolsa de estudos.

O diretor do Teatro Nacional de São Carlos, Eng. João Paes, que já me ouvira no Conservatório, convidou-me para, temporariamente, interromper o estágio em Paris e vir a Lisboa preparar o desempenho de um importante papel numa ópera portuguesa. Bem sucedido, pediu-me para, após o estágio parisiense, seguir para Florença, afim de preparar, com o famoso Gino Bechi, o importantíssimo papel de primeiro barítono (Lord Enrico d’Ashthon) da ópera Lucia di Lamermoor, de Donizetti. Cantei esse papel em novembro de 1977, no Teatro Rivoli (Porto)…

Toda esta “bola de neve” a partir da conclusão do curso superior de canto em 1974, todo o incrível desencadear de situações até finais de 1977, todo o ano de 1977 sobretudo, tudo isso responde à sua pergunta… Parafraseando, em contraste, um fadista, diria: “Ser cantor não foi meu sonho, mas cantar foi o meu fado…”

Dos anos em que estudou Música e Canto, que professores tiveram uma influência mais decisiva?

Nos conservatórios do Porto e de Lisboa, tive a felicidade de ser orientado respetivamente pelas professoras D. Isabel Mallaguerra e D. Helena Pina Manique, e ainda, por algum tempo, pela D. Arminda Correia, sem esquecer o Prof. Álvaro Benamor (cena).

Em Paris, como olvidar o trabalho com a famoso baixo Huc-Santana e o não menos célebre barítono Gabriel Bacquier? Em Itália, e aqui em Portugal, Gino Bechi foi simplesmente precioso no trabalho vocal e cénico. Este famoso barítono, que também me honrava com a sua amizade, cantou nos anos 40, em todos os grandes palcos do mundo. A sua famosa “entrega” aos espetáculos e nos espetáculos, quer cenicamente mas sobretudo vocalmente, levou-o a tal desgaste que teve de terminar a sua carreira por volta dos 40 anos, precisamente com a idade com que eu comecei…

Foi difícil deixar de ser padre e optar pela carreira musical?

Quando, em finais dos anos 60, me matriculei no Conservatório do Porto, confesso que o meu sonho era dar uma componente artística à minha missão de padre.

Começaram a surgir, porém, situações que não deixaram de me ir perturbando. Alguma confusão começou a instalar-se nos meus horizontes… Estávamos em pleno pós-74… Sobretudo a partir de 1977, comecei a sentir-me ultrapassado pelos acontecimentos. Tinham de ser tomadas decisões… Não podia viver na ambiguidade!… Houve muitas dúvidas, muitas incertezas… O meu Padre Provincial de então propôs-me fazer as duas coisas: padre e cantor… Tudo se desenrolava vertiginosamente… Eram convites para concertos, para óperas, etc.
Cheguei mesmo a atuar durante não pouco tempo, estando ainda no exercício do ministério… Fui chegando à conclusão de que as duas funções não faziam grande sentido… Em finais de 1978, acabei por tomar a decisão: pedi para Roma a dispensa do exercício das ordens. Não tive resposta fácil. Demorou mais de dois anos. Pelo meio, um apelo a que repensasse…

Qual foi o papel da Igreja na sua vida musical?

Primeiramente, como é obvio, penso em todo o curso do seminário. Para além de todos os aspetos da formação, a música da Igreja, o canto gregoriano, ocupou uma grande parte desse período, quer na teoria, quer na prática. O nosso Cantuale, um livro específico da Congregação da Missão com os mais belos cânticos gregorianos e muitos outros, a uma ou mais vozes, dominou grande parte desses anos, as nossas vozes e as nossas almas.

No seminário Maior, durante o curso de filosofia e teologia, para além das mais belas obras de polifonia sacra, cantávamos, todos os domingos e festas, o “comum” e o “próprio” em gregoriano, de acordo com o emblemático Liber Usualis, a mais completa obra do canto da Igreja. Tudo isto, naturalmente acompanhada da parte teórica, marca indelevelmente a minha personalidade e a minha formação musical. E não esqueço que quase sempre, alternadamente, fui organista e solista…

Após a ordenação, seguiram-se anos dominados pelo Concílio do Vaticano II, com uma série extraordinária de documentos sobre a música e a liturgia em vernáculo,com o aparecimento de excelentes compositores. E foram sempre surgindo, com os diversos papas, importantes documentos sobre a música litúrgica. Não posso esquecer os “famosos” cursos gregorianos de Fátima que frequentei.

Durante os anos 1977-1995, em que a vida artística teve o seu lado prioritário, nunca deixei de estar atento aos documentos da Igreja sobre música sacra e à obra de excelentes compositores que temos.

A partir de 1997, já no pós – S. Carlos, a pedido do meu grande amigo Conégo José Serrasina que acabava de ficar à frente da Paróquia dos Anjos, em Lisboa– a minha paróquia -, comecei a orientar o coro paroquial, tomando a peito a renovação dos cânticos e a dinamização litúrgica. Baseava-me sempre nos textos de cada celebração. Após 5 anos de intenso e profícuo trabalho, abracei outro projeto – na Capela do Palácio da Bemposta (Academia Militar), onde colaborei durante 13 anos (2003 – 2016). Durante este período, compus dezenas de cânticos que vieram a ser publicados pela Academia Militar, em 2012, num volume com o título Deus é Amor. Porque o “contexto” de então era “específico”, o referido volume irá “sofrer” brevemente substancial alteração.

Qual foi a maior deceção na sua vida?

Se me permite, não apresentaria uma mas duas deceções, e ambas no âmbito do mundo lírico. A primeira, logo de início. Tinha feito 40 anos. Eram diferentes, agora, o sonho e o ideal. Imaginava que perante mim, ia surgir um meio pleno de elevação, um ambiente superior, de arte, de cultura, etc. Cedo, porém, fui verificando e concluindo que as cores que sonhara belas, não, não o eram assim tanto… A realidade era bastante mais prosaica… Bem!… Respirei fundo, bem fundo, passe a expressão… E, vamos a isso!… Mas vamos mesmo! O desafio que ora iniciava era para ganhar, era mesmo para vencer!… E foi! Não tive o caminho atapetado de rosas, longe disso, muito longe! Foram necessárias uma fibra excecionalmente forte como considero ter, uma fé inabalável em Deus como efetivamente tenho, e também, obviamente, uma grande confiança nos talentos que Deus me deu, aliados à formação que tive (não poderei esquecê-lo!) E…aí vou eu!… E nem tudo foram espinhos, digamos em abono da verdade. Tive um público que me admirava e apoiava bastante, excelentes e excecionais críticas, outras nem tanto… E, entre um pessoal que rodava as três centenas (coro, orquestra, cantores, técnicos, etc), tive não poucos amigos e admiradores! Não esqueço que, logo no começo, nos primeiros ensaios, vi lágrimas nos olhos de algum do pessoal, ao verem a minha entrada enérgica, decidida, confiante, e pensando no “mundo” donde acabava de chegar… aos 40 anos!…

A segunda deceção foi no fim. Em finais de 92, a SEC, tendo à frente o Dr. Pedro Santana Lopes, achou por bem dissolver a Companhia Portuguesa de Ópera (cantores, orquestra, etc). Éramos 14 os cantores principais. Mesmo tendo em conta que eu continuava a cantar no país e não só, esta foi sem dúvida uma grande deceção. Aos 55 anos, encontrava-me no ponto mais alto da carreira, a nível vocal e cénico, na minha opinião e na de quantos me conheciam e ouviam! Esperava estar “em grande” mais uma boa dezena de anos… Lembrei-me então das palavras de Gino Bechi, quando, certo dia, nos anos 80, após fazer as célebres e espetaculares demonstrações, vocais e cénicas, durante um ensaio, e quando já contava perto dos 80 anos, teve este desabafo: “Agora é que eu sei cantar!”

Pois é!… Parafraseando o meu mestre, diria: “Agora… é que eu sabia cantar!…”

Qual foi o momento mais alto da carreira como cantor lírico?

Desempenhei os mais diversos papéis de 1º barítono, de baixo-barítono, papéis característicos, enfim, foram cerca de 50… Nunca tive um fracasso nos meus desempenhos. Pelo contrário! Escolher o momento mais alto?!… É difícil!… Estou a lembrar-me de não poucos… Do “Le Grand-Prêtre de Dagom” da ópera Samson et Dalila, de Saint-Saëns, em 1983. Quis preparar o papel em Lyon com o meu ex-professor de Paris, o grande barítono Gabriel Bacquier. Estou a recordar-me do “Dulcamara” da ópera L’Elisir d’Amore, de Donizetti, em 1984 e 1985… Do “Rocco”, da ópera Fidelio de Beethoven… Enfim, não vou alongar-me na citação de outras boas e belas hipóteses…

Mas vou escolher como momento mais alto uma ópera fora do estilo clássico: a ópera Kiú, do compositor espanhol Luís de Pablo, levada à cena em 1987 no Teatro Nacional de São Carlos. O meu papel de Babinshy, o pivô da ópera, na sua grande espetacularidade e dificuldade vocal e cénica, foi na verdade um momento muito alto na minha carreira! Não foi por acaso que o próprio compositor Luís de Pablo e o maestro Jesús Ramón Encimar me convidaram, 5 anos depois (dezembro de 1992 – janeiro de 1993), para interpretar em Madrid o mesmo papel!…

Quais foram os cantores líricos mundiais que mais o inspiraram?

Estavam na moda, nos anos 60, cantores líricos que deveras nos entusiasmavam. Lembro-me, por exemplo, de Mário Lanza, de Luís Mariano, de Alfredo Krauss que vim a conhecer em São Carlos, e com o qual contracenei, inicialmente, num ou noutro pequeno papel. E vários outros, quase todos tenores. O meu tipo de voz é de barítono ou de baixo-barítono. Mas foi sobretudo a partir do Curso Superior de Canto que comecei a interessar-me por vozes líricas, o que é absolutamente natural. Dado o meu tipo de voz, cerca de cinco ou seis cantores internacionais dominavam particularmente os meus gostos. Comecemos pelos alemães Dietrich Fischer-Dieskau e Hermann Prey, barítonos. O primeiro, absolutamente excecional em lied, tendo cantado praticamente tudo o que havia nesse domínio. Muitos o consideraram o maior músico do século XX. Foi inclusivamente maestro de música sacra. Ouvi-o ao vivo em Paris. Hermann Prey era superior como ator. As suas interpretações em óperas de Mozart, Rossini, Donizetti ficaram memoráveis. Outros dois barítonos ou baixo-barítonos, Fernando Corena e Rolando Panerai, eram também grandes cantores e atores, mais característicos que os anteriores. Outro barítono que, vocalmente (não cenicamente) me enchia as medidas, era Piero Cappuccilli. Era um barítono a que eu chamaria heróico-dramático, com uma incrível potência de voz. Jamais esquecerei o seu desempenho em Simon Boccanegra de Verdi, no São Carlos…

Poderia obviamente alongar-me, no que às vozes masculinas diz respeito. Mas também não posso deixar de me referir a vozes femininas que, além de nós deixarem siderados, tanto nos ensinaram! Antes de mais, Maria Callas!… Depois, uma Victoria de los Angeles que cheguei a ouvir na Gulbenkian. Fiorenza Cossotto, Mirella Freni, Christa LudwigMonserrat Caballé que ouvi em Paris dirigida por Leonard Bernstein… Uma Joan Sutherland, La Stupenda, a tal que cantou a Traviata no Coliseu na famosa noite de 24 para 25 de abril de 1974, com o já citado Alfredo Kraus… E eu estava lá!…

Quais os músicos portugueses mais influentes na sua carreira?

Por músicos, entendo compositores, professores, pianistas, ensaiadores, “pontos”, cantores, e, porque não, críticos… Antes de mais, as minhas duas professoras nos conservatórios do Porto e de Lisboa, respetivamente: Isabel Malaguerra e Helena Pina Manique. A professora D. Arminda Correia fez de forma extraordinária a breve transição entre uma e outra. Álvaro Benamor, na classe de ópera. A pianista Maria Helena Matos que me acompanhou com enorme competência desde o Conservatório Nacional, incluindo o exame final, e praticamente em todos os recitais que fui dando ao longo da carreira. O maestro Armando Vidal, músico de gema, com o qual preparei, como a generalidade dos artistas, quase todos os papéis que tinha a desempenhar nas dezenas de óperas em que fui interveniente. Entre os maestros – “pontos” – , não esquecerei o maestro Pasquali que tão competentemente orientou, durante os primeiros tempos, as nossas intervenções em palco, e o maestro Ascenso de Siqueira, grande e bom amigo e incrível ser humano… Tive a felicidade de trabalhar com encenadores como António Manuel Couto Viana, que me honrava com a sua amizade, Carlos Avillez (em várias óperas), Luís Miguel Cintra, João Lourenço

Cantores? Álvaro Malta, Hugo Casaes, Elizette Bayan, Armando Guerreiro, e outros… Lembro-me ainda de preciosas “dicas” que me deu Álvaro Malta

Compositores? Antes de mais, o Prof. Cândido Lima. Conheci-o em Paris. Conversávamos muito. Não esqueço o dia em que ele me apresentou ao seu amigo Iannis Xenakis… Fomos juntos a vários concertos. Preparei, com ele ao piano, algumas obras suas para canto. Foi meu pianista num concurso de canto em que fui premiado… Tudo isto em Paris, em 1977.

Com o grande compositor Fernando Lopes-Graça, tive a honra de preparar um importante papel de solista na sua obra As Sete Predicações d’Os Lusíadas, em vista à estreia mundial da mesma no VI Festival da Costa do Estoril (1980).
Joly Braga Santos honrava-me com a sua amizade e admiração. Com ele ensaiei o papel de solista na sua Cantata Das Sombras, sobre texto de Teixeira de Pascoaes, para primeira audição mundial no Teatro de S. Luís, a 27 de julho de 1985, com o Coro Gulbenkian, e enquadrada no XI Festival de Música da Costa do Estoril. De Joly Braga Santos nunca poderei esquecer as suas palavras, em pleno palco, no fim da última récita da sua Trilogia das Barcas, em maio de 1988: “Estou a compor uma ópera, para a Expo de Sevilha (daí a 4 anos), baseada numa obra de Frederico Garcia Llorca, Bodas de Sangue e tenho um muito bom papel para si”. Entretanto, o maestro falecia 2 meses depois, a 18 de julho de 1988, o que constituíu uma grande perda para o País, para a cultura portuguesa.

Quanto a críticos, devo dizer que, entre outros, Francine Benoit, João de Freitas Branco, José Blanc de Portugal muito me encorajaram e elogiaram!

E hoje, o que acha da evolução da ópera em Portugal?

Francamente, tenho dificuldade em responder. Há cerca de vinte e cinco anos, após a extinção da Companhia Portuguesa de Ópera e de ter dado como terminada a minha carreira lírica, abracei outro projeto e alheei-me bastante desse tema. Sei que, sobretudo por razões orçamentais, a programação se ressente, e muito. Tudo parece ser diferente. Repito: não tenho dados que me permitam fazer qualquer juízo de valor…

O que pensa do papel da música na Igreja?

Desde o Seminário Maior, fui lendo atentamente, e mais que uma vez, os documentos papais que surgiram desde o princípio do século XX:
o Motu próprio de São Pio X (1903) sobre a Restauração da Música Sacra;
a Constituição Apostólica Divini Cultus (1928) no pontificado de Pio XI, sobre a liturgia e a música sacra; a Encíclica Musicae Sacrae Disciplina (1953), do Papa Pio XII, sobre a Música Sacra, vocal e instrumental.

Logo após o Concílio do Vaticano II, surge a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (1963), a realçar que “a acção litúrgica reveste maior nobreza quando é celebrada com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação ativa do povo”. E quando fala de canto, obviamente que se refere ao canto sagrado intimamente unido com o texto. E se o canto gregoriano ocupa sempre um lugar privilegiado em igualdade de circunstâncias, não são excluídos os outros géneros de música sacra mormente a Polifonia, desde que em harmonia com o espírito da ação litúrgica, e de acordo com os diversos tempos litúrgicos, com as diversas celebrações e os vários momentos da celebração. Compositores, organistas, mestres de coro, cantores, músicos (instrumentistas) devem formar um todo para o esplendor do canto.

Alguns anos após o Concílio, a famosa Instrução Musicam Sacram (1967), da Sagrada Congregação dos Ritos, é a síntese, diria perfeita, do que à Música Sacra diz respeito, desde o canto na celebração da missa, passando pela preparação de melodias para os textos em vernáculo, depois a música para instrumental, o Canto no Ofício, etc etc.

O assunto levar-nos-ia ainda a três ou quatro intervenções de São João Paulo II, a uma célebre conferência do Cardeal Ratzinger (mais tarde Papa Bento XVI) em 1985, a uma Nota Pastoral dos nossos bispos por ocasião do Ano Europeu da Música (em novembro de 1985).

E o nosso Papa Francisco, por mais de uma vez, tem insistido que a Música Sacra e Canto Litúrgico devem estar plenamente inculturados nas linguagens artísticas atuais.

Quais os compositores que mais ouve e, desses, que obras prefere?

J.S. Bach é incontornável. Oiço com frequência, por exemplo, a Cantata do Café, cuja ária Hat man nicht mit seinen kindern fez parte do programa do meu exame do Curso Superior de Canto de Concerto, e foi uma das provas de acesso ao Coro Gulbenkian, em novembro de 1974; a Missa em Si m, cujas árias de baixo cantei; e a Paixão Segundo S. João, em que interpretei o papel de Jesus, no Porto, em abril de 1977, quando ainda estagiava em Paris…
Haëndel (O Messias, e Música Aquática); Beethoven (Sinfonias 3, 6 e 9) e a ópera Fidelio, cujo papel de Rocco desempenhei em junho de 1986; Mozart (o Requiem que, enquanto membro do Coro Gulbenkian, cantei no Coliseu em 1975, com gravação para a Erato; a Sinfonia nº 40, etc etc); Haydn (A criação, a Missa de Santa Cecília e a Sinfonia Concertante); Bizet (Carmen); Bramhs (Um Requiem Alemão);Rossini (Stabat Mater); Tchaickowsky (Romeu e Julieta e Francesa da Rimini; Dvorak (Sinfonia nº 9, O Novo mundo); Ravel (Bolero); Rodrigo (Concerto de Aranjuez); Strauss (valsas); Elgar (Concerto para violoncelo).

E muito, muito mais, obviamente.

O que o levou a colecionar livros e discos?

Certamente, e de uma forma geral, o meu gosto pela música, a ligação à Igreja, o meu profissionalismo, a cultura. É claro que tudo se desenrola de acordo com as diversas etapas da vida:

a minha função de professor de Música (além de outras disciplinas) no seminário menor, após a minha formação, e o começo dos meus estudos no Conservatório;

a minha transição para a vida pastoral, durante 3 anos;

a minha ida para Lisboa para concluir o curso Superior, do Conservatório, e a minha curta passagem pela Fundação Gulbenkian;

o meu estágio de dois anos em Paris, concluído com 2 meses em Itália;

o começo e a continuação da minha carreira lírica no Teatro Nacional de São Carlos;

os 3 anos pós-São Carlos em que continuei a minha carreira;

o abraçar de novo projeto: “trabalhar” um coro inserido numa missão pastoral na Paróquia dos Anjos (Lisboa), a minha Paróquia, a partir de 1997 e, posteriormente, de 2003 a 2016, na capela do Palácio da Bemposta (Academia Militar);

e porque não dizê-lo, as minhas viagens de automóvel, algumas longas, nos anos 70 e daí para cá, para já não falar da minha própria casa…

Como vê, são muitas as etapas e as circunstâncias em que procurei estar sempre em dia e dentro das exigências das mesmas. Livros, discos, cassetes, CDs, DVDs eram verdadeiros instrumentos de trabalho, de cultura, de ocupação, de prazer…

Julgo ter sintetizado as razões da minha importante biblioteca e discoteca, das quais progressivamente e criteriosamente, me vou voluntariamente desfazendo.

Antes da sua formação académica no conservatório, que lugar tinha a música erudita no seu papel de formador no seminário?

Além de renovar completamente o repertório de cânticos religiosos que vinha de há longos anos (o que supunha rodear-me de bom material), comecei a interessar-me por vozes maravilhosas que os discos faziam chegar até nós (Mario Lanza, Luis Mariano, Alfredo Krauss etc, e por orquestras excecionais que nos traziam as mais belas melodias clássicas, canções famosas, música de filmes históricos…

Tive sempre a preocupação de partilhar com os meus jovens alunos algum desse maravilhoso mundo musical… Era importante para a educação da sua sensibilidade, dos seus gostos, da sua cultura.

Lembro-me, e muitos ex-alunos (quer do seminário, quer do ensino público) se recordarão de ter dado a ouvir, entre outras obras, uma pequena peça do compositor russo Alexander Borodine. Tratava-se de Nas estepes da Ásia Central. Era a caravana que surgia ao longe, a marcha dos camelos, a intensidade instrumental que “subia” a anunciar a chegada da caravana, a permanência no terreno, o retomar da marcha, os sons que se iam extinguido… até a caravana se perder de vista!… Era tudo tão belo, tão claro! Apaixonante!… O interesse era enorme. Os alunos começavam a compreender que a música tem um sentido, um conteúdo, uma intenção, uma finalidade, uma expressão!
O mesmo sucedeu com outras obras, como o Hino da Alegria, da IX Sinfonia de Beethoven! Etc etc.

Mas adverti-os sempre para que nada disto desviasse a atenção do essencial da sua formação!…

Em três palavras como se caracteriza a si mesmo?

Persistente! Perfecionista! Brioso!

Lisboa, 19 de março de 2018

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JOSÉ DE FREITAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL

Um barítono que é crítico de si próprio

Correio da Manhã, 28 de abril de 1986

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De padre a cantor principal de ópera no Teatro São Carlos

Diário de Notícias do Funchal, 11 de maio de 1986

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José de Freitas: de padre a cantor

Correio da Manhã, 02 de agosto de 1987

Casal

Canções de amor

Letras

A azeitona já está preta

[ Chapéu preto ]

A azeitona já está preta,
Já se pode armar aos tordos,
Diz-me lá, ó cara linda: 
Como vais d’amores novos?
Já se pode armar aos tordos.

É mentira, é mentira,
É mentira, sim, senhor!
Eu nunca roubei um beijo,
Quem mo deu foi meu amor.

Quem me dera ser colete!
Quem me dera ser botão,
Para andar agarradinha 
Juntinho ao teu coração!
Quem me dera ser botão!

É mentira, é mentira,
É mentira, sim, senhor!
Eu nunca roubei um beijo,
Quem mo deu foi meu amor.

Ai, que lindo chapéu preto 
Naquela cabeça vai!
Ai, que lindo rapazinho
Para genro do meu pai!
Naquela cabeça vai!

É mentira, é mentira,
É mentira, sim, senhor!
Eu nunca roubei um beijo,
Quem mo deu foi meu amor.

É mentira, é mentira,
É mentira, é mentira,
É mentira, é mentira…

Letra e música: Arlindo de Carvalho
Intérprete: Celeste Rodrigues* [in EP “Celeste (Chapéu Preto)”, Parlophone/VC, 1959; reed. digital: Edições Valentim de Carvalho, 2019]

A lua nasceu

[ Canção de Embalar ]

A lua nasceu e cresceu no além,
A noite surgiu também.
Faz ó-ó, meu amor,
Porque eu velo por ti!
Só aos anjos a lua sorri.

Tu verás, meu amor,
Como é bom sonhos ter:
Deus te dê os melhores que houver.
Faz ó-ó, meu amor,
Porque eu velo por ti!
Só aos anjos a lua sorri.

E tens, porque eu sei e roguei ao Senhor,
Um sonho de paz e amor.
Meu amor, vai dormir!
Vai dormir e sonhar!
Deixa a lua sorrir lá no ar.

Tu verás, meu amor,
Como é bom sonhos ter:
Deus te dê os melhores que houver.
Faz ó-ó, meu amor
Porque eu velo por ti!
Só aos anjos a lua sorri.

Letra e música: Tradicional
Intérprete: Musica Nostra (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)

Ai amor

[ Canção de Ida e Volta ]

Ai amor
O tempo vai e vem
Os meus olhos
Não são de mais ninguém

Quem partiu
Canta o que deixou
Haja alguém
Que mesmo assim cantou

Ai amor
O tempo vai e vem

Estas casas
Não mudarão de cor
São de prata
À hora do Sol-pôr

Corre o vento
Dos lados de Espanha
Ai amor
A ver se me apanha

Estas casas
Não mudarão de cor

Ai amor
O tempo vai e vem
Os meus olhos
Não são de mais ninguém

Volta a rola
Sabe o seu caminho
Volta alguém
Há luz no montinho

Ai amor
O tempo vai e vem

Letra: João Monge
Música: João Gil
Intérprete: Ala dos Namorados / voz de Nuno Guerreiro (in CD “Por Minha Dama”, EMI-VC, 1995)

Amor com amor se paga

Amor com amor se paga.
Porque não pagas, amor?
Olha que Deus não perdoa
A quem é mau pagador!

Amor, não me escrevas cartas,
Que, bem sabes, não sei ler!
Quando sentires saudades,
Perde um dia e vem-me ver!

Amor com amor se paga:
Nunca vi coisa mais justa;
Paga-me contigo mesma,
Meu amor, pouco te custa!

Ainda depois de morto,
Debaixo do frio chão,
Hás-de achar o teu nome
Escrito no meu coração.

Dá-me um beijo, eu dou-te dois!
A minha paga é dobrada:
É o jeito de quem ama,
Pagar e não dever nada.

Amor com amor se paga:
Nunca vi coisa mais justa;
Paga-me contigo mesma,
Meu amor, pouco te custa!

Amor com amor se paga.
Porque não pagas, amor?
Olha que Deus não perdoa
A quem é mau pagador!

Amor, não me escrevas cartas,
Que, bem sabes, não sei ler!
Quando sentires saudades,
Perde um dia e vem-me ver!

Amor com amor se paga:
Nunca vi coisa mais justa;
Paga-me contigo mesma,
Meu amor, pouco te custa!

Letra: Quadras populares
Música: César Prata
Arranjo: César Prata e Vânia Couto
Intérprete: César Prata e Vânia Couto
Versão original: César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)

Reciclanda

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O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

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Ao meio do quarto

[ Na Volta de um Beijo ]

Ao meio do quarto uma rosa cai no chão
Ao fundo do peito uma letra sem canção
Ao canto da sala guitarras sem bordão
Lá fora do meu peito andas tu e o meu perdão

Sentada cá dentro olho a cruz, está sem pregão
Caiu-me a jarra das mãos, caiu uma rosa de paixão
Fechaste o teu peito, levaste-me o coração
Agora andas tu lá fora, sozinho sem paixão

Chora, chora, e a mim que se me dá!
Chora, chora, e a mim que se me dá!

Eu hei-de ir à romaria pedir a Nossa Senhora
Que me traga o meu amor que anda pelo mundo fora
E assim vê-lo na volta, na volta de um beijo
Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo

Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo
Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo

Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo

Letra: Tradicional e Tiago Curado de Almeida
Música: Tiago Curado de Almeida (com motivo melódico de “Boys Don’t Cry”, da autoria de Robert Smith)
Intérprete: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Ao princípio

[ Nasce Afrodite, amor, nasce o teu corpo ]

Ao princípio, é nada. Um sopro apenas,
Um arrepio de escamas, um perpassar de sombra
Como de nuvem marinha que se esgarça
Nos radiais tentáculos da medusa.
Não se dirá que o mar se comoveu
E que a onda vai formar-se deste frémito.
No embalo da água oscilam peixes
E das algas as hastes serpentinas
À corrente se dobram, como ao vento
As searas da terra e as crinas dos cavalos.
Entre dois infinitos de azul a onda vem,
Toda de sol vestida e rebrilhante,
Líquido corpo de reflexos cegos.
E da terra, o vento corre para ela,
Tal o macho cioso para a fêmea aberta,
Transportando consigo o pólen das flores.
Fecundada, a onda rola agora, trovejando,
Na corrida para o parto que a espera
No leito de negras rochas que, na costa,
Se adorna de mil vidas fervilhantes.
Mais alto ainda as águas se suspendem
No segundo final da gestação imensa.
E quando, num furor de vida que começa,
A onda se despedaça no rochedo,
O envolve, o cinge, o aperta e dilacera,
Da branca espuma, do sol e do vento que soprou,
Dos peixes, das flores e do seu pólen,
Das algas trémulas, do trigo e dos braços da medusa,
E das crinas dos cavalos, do mar, da vida toda,
Nasce Afrodite, amor, nasce o teu corpo.

Chamava-se Nini

[ Nini dos Meus Quinze Anos ]

Letra: Fernando Assis Pacheco
Música: Paulo de Carvalho
Intérprete: Paulo de Carvalho (in LP “Volume I”, 1978; CD “Vida”, Farol, 2006)

Chamava-se Nini
Vestia de organdi
E dançava (dançava)
Dançava só pra mim
Uma dança sem fim
E eu olhava (olhava)

E desde então se lembro o seu olhar
É só pra recordar
Que lá no baile não havia outro igual
E eu ia para o bar
Beber e suspirar
Pensar que tanto amor ainda acabava mal

Batia o coração mais forte que a canção
E eu dançava (dançava)
Sentia uma aflição
Dizer que sim, que não
E eu dançava (dançava)

E desde então se lembro o seu olhar
É só pra recordar
Os quinze anos e o meu primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Toda a ternura que tem o primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Que a vida passa
Mas um homem se recorda, é sempre assim
Nini dançava só pra mim

E desde então se lembro o seu olhar
É só pra recordar
Os quinze anos e o meu primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Toda a ternura que tem o primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Que a vida passa
Mas um homem se recorda, é sempre assim
Nini dançava só pra mim

Chamei-te linda

Chamei-te linda, engraçada
Da graça que Deus te deu
E tu deste uma risada
Quem a não tinha era eu

Que mais eu posso fazer
Fazer eu posso, ai de mim
P’ra um dia te ouvir dizer
Ouvir-te dizer que sim

Deixa-me ao menos a esperança
A derradeira a morrer
“Quem espera sempre alcança”
Foi sempre o que ouvi dizer

És a flor que mais desejo
Das flores do meu roseiral
Quanto, rosa, te não vejo
A vida corre-me mal

Sei que tu és o meu par
Sei que nasceste p’ra mim
Não se devem afastar
Flores do mesmo jardim

Rosa branca, tua cor,
No dia em me quiseres
Farei de ti, meu amor,
A mais feliz das mulheres

És a flor que mais desejo
Das flores do meu roseiral
Quanto, rosa, te não vejo
A vida corre-me mal

Sei que tu és o meu par
Sei que nasceste p’ra mim
Não se devem afastar
Flores do mesmo jardim

Rosa branca, tua cor,
No dia em me quiseres
Farei de ti, meu amor,
A mais feliz das mulheres

Letra e música: Aníbal Raposo (2011-02-13)
Intérprete: Aníbal Raposo (in CD “Rocha da Relva”, Aníbal Raposo/Global Point Music, 2013)

Coração, meu coração

[ Coração Que me Pertence ]

Coração, meu coração
Que sonhavas esta vida,
Por que razão tu paraste?
Não digas que adivinhaste
Na hora da despedida
Desta sublime afeição?

Quantas horas, tantas horas
Esvoaçaste de mansinho
No carinho do meu jeito!
Já nem sabes onde moras,
Descuidado passarinho,
Se no teu se no meu peito.

Fechei meus olhos perdidos,
Não fosse com o desgosto
Rogarem-te alguma praga…
Que os teus hão-de ver, sentidos,
No braseiro do sol-posto
O sangue da minha mágoa.

E no fogo da ambição,
Que ao amor julga que vence,
Queimaste a minha raiz…
Como pode ser feliz
Coração que me pertence
No calor duma outra mão?

Como pode ser feliz
Coração que me pertence
No calor duma outra mão?

Letra e música: Armando Estrela
Intérprete: Tereza Tarouca (in single “O Mangas / Coração Que me Pertence”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1979; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994)

Dei-te um desenho meu

[ Eu gosto de ti ]

Dei-te um desenho meu
Feito com as cores do céu
Pra guardares junto a ti
Sempre que eu for embora

Dei-te um desenho meu (dei-te em desenho meu)
Que não caiu do céu
Com os teus lápis de cor
Juntei o teu amor ao meu

Recordações de belas canções
Contigo, baixinho
Recordações de nós

Sei que o tempo passa, voa
Que eu sinto falta
Mas o caminho é voltar
Sempre
Pra te poder abraçar

Sempre
O meu caminho é voltar pra dizer
Eu gosto de ti
Sim, eu
Eu gosto de
Eu gosto de ti

Dei-te um desenho meu (dei-te em desenho meu)
Feito com as cores do céu
Pra guardares junto a ti sempre que eu for
Embora

Recordações daqueles verões
Contigo, contigo
Recordações de nós

Sei que o tempo passa, voa
Que eu sinto falta
Mas o caminho é voltar
Sempre
Pra poder te abraçar
Sempre

O meu caminho é voltar pra dizer
Eu gosto de ti
Sim, sim eu
Eu gosto de ti
Eu gosto de ti
Sim gosto
Sim, eu
Eu gosto de ti
Eu gosto de ti
Sim, eu
Eu gosto
Eu gosto de ti

Música: Marisa Liz, Tiago Pais Dias
Intérprete: Elas (Áurea, Marisa Liz)

Descobri-te na minha boca

[ Quebranto ]

Descobri-te na minha boca
Na minha pele fria deixada na cama vazia
Encontrei o teu sabor nos meus lábios
Nos lençóis caídos no chão
Na manhã de uma primeira noite
Do teu corpo inundado em mim
Só não estás tu e o meu coração

Saí de casa à vossa procura
Sem eira nem beira
Como vagabunda, sem faro, sem dono
Parei na tua rua onde te encontrei
Pela primeira vez
Entre um copo de vinho e um fado vadio
Só não estás tu e o meu coração

Onde estás, coração?
Esse homem ladrão
Que me fez um quebranto
Canto, suor, engano cigano, um encanto
Coração!
Onde estás, coração?
A vida tropeça nas mãos
Deita-se contigo e foge na madrugada

Perdida, relembro-te à mesa
Entre a neblina do fumo e um sorriso mudo
Como quem pede por mim
Sentei-me, falaste com a guitarra
Primeira vez que te vi
Primeira vez que me dei
Sem pudor nem amor
Até que percebi:
Só não estás tu e o meu coração

E agora só me resta a noite
Sou um corpo dos outros
Sem alma, sem fé nem desdém
Despida de amor
Teu corpo uma canção que não pára
Meu corpo a tua guitarra
Meu fado é um filho perdido
Sozinho nas ruas sem mim
Já não sou eu, perdi o meu coração

Onde estás, coração?
Esse homem ladrão
Que me fez um quebranto
Canto, suor, engano cigano, um encanto
Coração!
Onde estás, coração?
A vida tropeça nas mãos
Deita-se contigo e foge na madrugada

Letra e música: Vânia Couto
Intérprete: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

É a tua vida que eu quero bordar

[ A Linha e o Linho ]

É a tua vida que eu quero bordar na minha
Como se eu fosse o pano e tu fosses a linha
E a agulha do real nas mãos da fantasia
Fosse bordando ponto a ponto o nosso dia-a-dia
E fosse aparecendo aos poucos o nosso amor
Os nossos sentimentos loucos, o nosso amor
O zig-zag do tormento, as cores da alegria
A curva generosa da compreensão
Formando a pétala da rosa, da paixão
A tua vida o meu caminho, o nosso amor
Tu és a linha e eu o linho, o nosso amor
A nossa colcha de cama, a nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

A tua vida o meu caminho, o nosso amor
Tu és a linha e eu o linho, o nosso amor
A nossa colcha de cama, a nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

Letra e música: Gilberto Gil
Intérprete: Celina da Piedade
Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)
Versão original: Gilberto Gil (in LP “Extra”, Warner Bros. Records, 1983, reed. WEA Discos, 1995)

Ela tem a boca torta

[ Os embeiçados ]

Ela tem
boca torta
nariz grande
cabelo mal cortado
rói as unhas
usa cunhas
mas eu estou apaixonado

Ele tem
espinhas sardas
pontos negros
e uma boca exagerada
desafina
e desatina
mas eu estou apaixonada

Ela é
ciumenta
rabugenta
embirrenta e tagarela
intriguista
e moralista
mas eu estou louco por ela

Ele faz
cenas gagas
altas fitas
não tem confiança em mim
faz-se caro
faz-me trombas
mas eu gosto dele assim

Diz-se que o amor é cego
deforma tudo a seu jeito
mas eu acho que o amor
descobre o lado melhor
do que parece defeito

Porque eu gosto
gosto dele
e ela gosta
gosta de gostar de mim

Letra: Regina Guimarães
Música: Hélder Gonçalves
Intérprete: Clã

Em tenra laranjeira

[ Fado Laranjeira ]

Em tenra laranjeira, ainda pequenina,
Onde poisava o melro ao declinar do dia,
Depois de te beijar a boca purpurina,
Um nome ali gravei: o teu nome, Maria.

Em volta um coração também com arte e jeito,
Ao circundar teu nome a minha mão gravou:
Esculpi-lhe uma data e o trabalho feito,
Como selo de amor, no tronco lá ficou.

Mas no rugoso tronco eu vejo com saudade
O símbolo do amor que em tempos nos uniu:
Cadeia de ilusões da nossa mocidade
Que o tempo enferrujou e que depois partiu.

E à linda laranjeira, altar pagão do amor,
Que tem a cor da esperança, a cor das esmeraldas,
Vão as noivas colher as simbólicas flores
Para tecer num sonho as virginais grinaldas.

Letra: Júlio César Valente
Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado Alexandrino da Laranjeira)
Arranjo: Filipe Raposo e Marta Pereira da Costa
Intérprete: Marta Pereira da Costa com Camané (in CD “Marta Pereira da Costa”, Marta Pereira da Costa/Parlophone/Warner Music, 2016)
Versão original: Alfredo Marceneiro (in LP “Há Festa na Mouraria”, Columbia/VC, 1965, reed. Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; CD “O Melhor de Alfredo Marceneiro: Vol. 2”, EMI-VC, 1993; CD “Alfredo Marceneiro: Biografias do Fado”, EMI-VC, 1997; CD “Alfredo Marceneiro: Perfil”, Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2010)

Esta noite ao acordar

[ Amor para Dar ]

Esta noite ao acordar
Saltei o muro p’ra ficar por cá
Deixei de ter p’ra ver que ainda há
Amor p’ra dar

Esta noite p’la manhã
Fechei a porta p’ra poder sair
Da cepa torta sem ter p’ra onde ir
E ter de andar

Hoje tive a tentação
De te dizer que sim e porque não
Pedir-te que vás p’ra voltar
Fiquei com a convicção
Que no amor mais vale ser um na mão
Que dois sem amor p’ra dar

No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar
No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar

Esta tarde ao clarear
Soltei a corda só p’ra me prender
Gritei bem alto p’ra te adormecer
E acordar

Ontem quando eu regressar
Vou dar-te a mão p’ra te deixar partir
Dar-te a razão só p’ra te ver sorrir
E acreditar

No tempo em que acontecer
É bom saber como é bom não saber
De nada p’ra não te contar
E por falar em querer
Gostar de ti e não querer dizer
P’ra nem te deixar duvidar

No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar
No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar

Ouvi dizer que as lembranças
São novas verdades p’ra nos acordar
Ouvi contar que as mudanças
São novas vontades p’ra nos ajudar

No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar
No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar

Letra e música: Sebastião Antunes
Arranjo: Gonçalo Pratas
Intérprete: Sebastião Antunes* (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017)

Esta vida

[ Não Há Dinheiro ]

Esta vida, como vês,
É sempre a ver se chega o fim do mês
Mas por muito que eu não queira
Acaba sempre da mesma maneira

Falta isto, falta aquilo
Eu já nem sei o que é que falta primeiro:
Se é o dinheiro que falta
Ou a falta que me faz ter o dinheiro

A jorna não dá p’ra nada,
E a gente sempre a dizer que tem que dar
Já passaram mais uns dias
E o dinheiro está outra vez a acabar

Não há dinheiro, não há dinheiro!
Andamos nesta conversa o ano inteiro.
Não há dinheiro, não há dinheiro!
É cada um que se amanhe,
Não há dinheiro!

Eu queria falar contigo
Mas não sei como é que te hei-de dizer
Eu fui sempre teu amigo
Não sei se já me estás a perceber

É que a coisa está difícil

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha*
Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997)

Esta voz com que canto

Esta voz com que canto
Vem-me d’alma e o tempo
Ensinou-me o encanto
Do vento.

É a voz de amor
Que vem cá de dentro;
É o grito exterior
Do pensamento.

O meu amor é todo para ti:
Desde que te conheci
Canto os teus olhos, a terra e todo o mundo,
O meu sentimento mais profundo.

O meu amor é todo para ti:
Desde que te conheci
Canto os teus olhos, a terra e todo o mundo,
O meu sentimento mais profundo.

O meu amor é todo para ti:
Desde que te conheci
Canto os teus olhos, a terra e todo o mundo,
O meu sentimento mais profundo.

[ Um Canto de Mim ]

Letra e música: Daniel Pereira
Intérprete: Arrefole (in CD “Veículo Climatizado”, Açor/Emiliano Toste, 2006)

Eu fui, tu foste, ele foi

[ Artes do Futuro ]

Eu fui, tu foste, ele foi
Talvez para sempre
Como é da nossa humana
Condição
Levados todos no acre improviso
Da loucura

Mas tu, diva esquecida
Música que eu faço
e me transcendes
Sentada na berma
do sonho apetecido
voltas a despertar
do vendaval da espera
e regressas ainda hesitante
nos meus dedos

E o amanhã pode já ter acontecido
hoje mesmo aqui, ao fim da tarde

e assim iremos enganando
as artes do futuro

E o amanhã pode já ter acontecido
hoje mesmo aqui, ao fim da tarde

e assim iremos enganando
as artes do futuro

E o amanhã pode já ter acontecido
hoje mesmo aqui, ao fim da tarde

e assim iremos enganando
as artes do futuro

Que o amanhã pode já ter acontecido
hoje mesmo aqui, ao fim da tarde

e assim iremos enganando
as artes do futuro

Letra e música: Pedro Barroso
Intérprete: Pedro Barroso
Versão original: Pedro Barroso (in CD “Artes do Futuro”, Ovação, 2017)

Eu queria unir as pedras desavindas

[ Não Me Mintas ]

Eu queria unir as pedras desavindas
escoras do meu mundo movediço
aquelas duas pedras perfeitas e lindas
das quais eu nasci forte e inteiriço

Eu queria ter amarra nesse cais
para quando o mar ameaçar a minha proa
e queria vencer todos os vendavais
que se erguem quando o diabo se assoa

Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber por que dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais

Conta-me os teus truques e fintas
Será que os Nikes fazem voar
Diz-me o que sabes não me mintas
ao menos em ti posso confiar

Agora diz-me agora o que aprendeste
De tanto saltar muros e fronteiras
Olha p’ra mim vê como cresceste
Com a força bruta das trepadeiras

Põe aqui a mão e sente o deserto
Tão cheio de culpas que não são minhas
E ainda que nada à volta bata certo
eu juro ganhar o jogo sem espinhas

Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber por que dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais

Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Intérprete: Rui Veloso (in filme “Jaime”, de António Pedro Vasconcelos, 1999; CD “O Melhor de Rui Veloso”, EMI-VC, 2000)

Eu toquei o Sol

[ Lencinho Azul ]

Eu toquei o Sol, beijei o luar,
Tropecei no céu e caí no chão;
Percorri o mundo e fui encontrar
À beira do mar o meu coração.

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Tudo o que era meu vinha no bornal,
Dei-lhe o pão e mel, dei-lhe a minha mão,
Um lencinho azul feito em Portugal
E os versos de sal da minha canção.

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Rainha de mim quando me entreguei,
Os braços me abriu num chi-coração;
Beijinhos me deu, beijinhos lhe dei:
Quantos já nem sei, mais do que um milhão.

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Não saí dali, era já manhã,
Seus lábios carmim tal qual um tição;
De si me prendeu, deu-me uma maçã,
Ofereci-lhe o céu, não disse que não.

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Letra: José Fanha
Música: Fernando Pereira
Intérprete: Real Companhia (in CD “Serranias”, Tê, 2013)

Façam roda

[ Conto do Bicho Papão ]

Façam roda, a ver quem vai ao meio!
Cada um com o seu par tira a pedrinha!
Sirumba, acabei eu primeiro!
Ficas tu a tapar, não dá madrinha!

Já ninguém te pergunta quantos queres
Já não ouves ninguém contar um-dó-li-tá
Afinal qual é o dedo que preferes?
Quem está livre, livre está!

Ninguém fala do homem do saco
Ninguém espreita por baixo do colchão
Já ninguém acredita na Côca
Nem no bicho papão

Salta à corda, joga à barra do lenço!
Adivinha o que eu penso, dá partida!
Falua, quem acerta na malha?
Danada da canalha está fugida!

Salta ao eixo a fugir à cabra-cega!
Olha o meu pião mas eu não to dou, não!
Onde é que anda a viuvinha que não chega
E a sardinha a dar na mão?

Ninguém fala do homem do saco
Ninguém espreita por baixo do colchão
Já ninguém acredita na Côca
Nem no bicho papão

Ai se eu pudesse habitar um jogo electrónico
Voltava a ser falado, voltava a assustar!
Imaginem lá qual não era a sensação
De uma ‘app’ com o jogo do regresso do papão!

Ninguém fala do homem do saco
Ninguém espreita por baixo do colchão
Já ninguém acredita na Côca
Nem no bicho papão

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha
Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997)

Falei-te

[ Jardim de Poetas ]

Falei-te,
Sem querer, de coisas belas
Como quem abre janelas
P’ra lá do horizonte…

E havia no teu olhar firmamento
Para cem vidas por momento
Ao sabor de um mar de Inverno

E tu,
Sem saber, lá tricotavas
Um romance de palavras
Sem certezas nem futuro

E tu
Sonhavas no areal
Com um jardim de poetas
Superiores e verticais
Que, em rigor, nunca existiu

E tu,
Como se fosse há vinte anos,
Subiste ao alto das rochas
Lá, onde pousam as gaivotas
Subiste ao alto das dunas
Onde o vento, e só o vento te possuiu

Cresceu-te no peito um mar de prata
Como se eu fosse alguma vez exemplo
Como se eu fosse, acaso, alguma vez na vida
A perfeição

Mas quando te contei coisas de mim
Daquelas coisas grandes, que vêm cá de dentro
Caíste em ti do sonho e do jardim
E fiz-te então, amiga, esta canção

E tu
Inda sonhas no areal
Com um jardim de poetas
Superiores e verticais
Que, em rigor, nunca existiu

E tu,
Como se fosse há vinte anos,
Sobes ao alto das rochas
Lá, onde pousam as gaivotas
Sobes ao alto das dunas
Onde o vento te possuiu

E tu
Inda sonhas no areal
Com um jardim de poetas
Superiores e verticais
Que, em rigor, nunca existiu

E tu,
Como se fosse há vinte anos,
Sobes ao alto das rochas
Lá, onde pousam as gaivotas
Sobes ao alto das dunas
Onde o vento, e só o vento te possuiu

Poema e música: Pedro Barroso (Golegã, Novembro de 2000)
Intérprete: Pedro Barroso
Versão original: Pedro Barroso (in CD “Crónicas da Violentíssima Ternura”, Lusogram, 2001)
Outras versões: Pedro Barroso (in CD “De Viva Voz”, Lusogram, 2002); Pedro Barroso (in DVD “40 Anos de Música e Palavras: 1969-2009”, Ovação, 2009) [>> YouTube]; Pedro Barroso (in DVD “Memória do Futuro: Ao vivo no Rivoli”, Ovação, 2013)

Faz-te mar assim

[ Vals’Ilha ]

Faz-te mar assim, calmo!
Abre-me o caminho…
Guia o meu batel!

Ouço alguém chamar longe…
Pudesse eu sair
Para ver Argel!

Quero então dizer-te:
Vou p’ra bem distante,
Valsa então por mim
Aos raios de sol!

Passou tanto tempo
Do tempo que invento…
Toca-me a saudade.

Canta uma gaivota…
Vejo o mar em volta…
Dançarei contigo.

Dança esta vals’ilha
Aos raios de sol!

Letra e música: Jorge Rivotti
Intérprete: Jorge Rivotti
Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Canções de Amor Pintadas de Amarelo”, Vachier & Associados, 2010)

Fui ver se um dia te achava

[ Não Sei Nada sobre o Amor ]

Fui ver se um dia te achava no largo, na praça
Quis dizer-te, contar-te e falar-te e de hoje já não passa
Ai, mas quando te vi as palavras fugiram de mim
Parei, sentei, tanto espreitei, só me escondia de ti

Esperei que as palavras voltassem e me levassem até ti
Ai, mas por que raio espero eu aqui?
Foi então que de tanto esperar atrás do largo da praça
Decorei o sorriso mais lindo, já só quero é andar p’ra ti

Ai, mas de tanto tremer, fugiu-me o sorriso de mim
Querem ver que agora até parece que já nem sei dizer
As palavras mais lindas que guardo só por te ver?!
Ai, mas querem lá ver que contigo não sei nada sobre o amor!

Que contigo não sei nada sobre o amor!
Que contigo não sei nada sobre o amor!
Que contigo não sei nada sobre o amor!

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor
Versão original: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Há já demasiados segredos

[ O Cheiro ]

Há já demasiados segredos nos poros
para eu encher a noite
de ti mesma.

E um oceano imenso não chega
para eu contar todas as arribas deste sal.

A maresia parou, para saber coisas de ti
e eu tinha nas mãos apenas as rosas de ontem,

e não sabia nem onde
nem como
navegar-te.

De longe trouxe a fé que nem eu sabia
e deitei-me em teus leitos de alfazema e alecrim.
Recolhi quando a noite mansa já
amanhecia…
E devagar
– porque a vida nunca deixa de nos matar um pouco
em cada dia –
foi no teu regaço
que eu adormeci de mim.

E acordei inteiro por sentir o teu cheiro
na cama
e enrolei-me nos lençóis, mesmo já sem ti
de corpo inteiro.

Não quero saber de mais
nem tenho que explicar.

É este o cheiro.
Eu quero aqui ficar.
Eu quero aqui ficar.
É este o cheiro.

E acordei inteiro por sentir o teu cheiro
na cama
e enrolei-me nos lençóis, mesmo já sem ti
de corpo inteiro.

Não quero saber de mais
nem tenho que explicar.

É este o cheiro.
Eu quero aqui ficar.
Eu quero aqui ficar.
É este o cheiro.

Poema e música: Pedro Barroso
Intérprete: Pedro Barroso
Versão original: Pedro Barroso (in CD “Sensual Idade”, Ovação, 2008)
Outras versões: Pedro Barroso (in DVD “40 Anos de Música e Palavras: 1969-2009”, Ovação, 2009)

Há um caminho inseguro

[ Paixão ]

Música: Jorge Fernando
Intérprete: Mariza

Há voos de pássaros nos teus olhos

[ Poema para o Meu Amor ]

Há voos de pássaros nos teus olhos castanhos de sereia
Batuques africanos no balouçar do teu corpo de gazela
E há frutos maduros na tumidez dos teus pequenos seios
E promessas loucas na humidade dos teus lábios entreabertos

Há como um tango argentino no desafio da tua cintura estreita
Há um doce encanto no urdir das tuas trancinhas de menina
E há estranhos sortilégios escondidos nas tuas mãos de fada
E há rouxinóis magoados, tão magoados de cada vez que cantas

Há ondas de ternura neste teu jeito tão suave
E danças peruanas nas tuas ancas pela alba
Há calor dos trópicos no aperto dos teus braços tão sinceros
E uma paz das ilhas no teu macio leito de princesa

Há druidas, de novo, preparando filtros à sombra de carvalhos
E lagos privados onde nadam altivos cisnes brancos
E há luas de fajãs que riscam no mar trilhos de prata
E nascentes de água que brotam do teu riso cristalino

Letra e música: Aníbal Raposo (Praia Formosa, 2003-08-22)
Intérprete: Aníbal Raposo
Primeira versão discográfica: Aníbal Raposo (in CD “Mar de Capelo”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Hoje o dia foi um dia assim

[ Canção de Nanar ]

Hoje o dia foi um dia assim:
Esta sede e vontade de ti.
Se eu pudesse amar-te mais,
Bem sei que a lua ia dançar também.

Quantas horas faltam p’ra te ver
Nesta espera de aprender a ser?
Mais um som no tom do teu brilhar,
Mais um traço ao sol do teu vibrar.

Vem saber que o que vejo em ti
É sal e sopro e luz dentro de mim;
E a música da terra e ar
Ficam uma só no teu pulsar.

Se ainda não sorris, carmim,
Perdoa a minha falta de cetim!
Nas palavras que não escrevi
Vive o amor que não se escreve.

Se ainda não sorris, carmim,
Perdoa a minha falta de cetim!
Nas palavras que não escrevi
Vive o amor que não se escreve…

Mas está aqui.

Letra e música: Teresa Gentil
Intérprete: Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)

Já pensei dar-te uma flor

[ Adivinha o quanto gosto de ti ]

Já pensei dar-te uma flor, com um bilhete, mas nem sei o que escrever.
Sinto as pernas a tremer, quando sorris p’ra mim, quando deixo de te ver.
Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim.
Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

Ando a ver se me decido, como te vou dizer, como hei-de te contar.
Até já fiz um avião, com um papel azul, mas voou da minha mão.
Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim.
Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

Quantas vezes eu parei à tua porta.
Quantas vezes nem olhaste para mim.
Quantas vezes eu pedi que adivinhasses.
Quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

Quantas vezes eu parei à tua porta.
Quantas vezes nem olhaste para mim.
Quantas vezes eu pedi que adivinhasses.
Quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

André Sardet

Lá na festa da aldeia

Lá na festa da aldeia,
Debaixo da cameleira,
Convidaste-me a dançar:
Tamanha era a borracheira
Que no adro da igreja
Nos chegámos a casar.

No nariz, sinal de perigo,
Quem dorme contigo
Má sorte vai enfrentar:
Mas na festa da aldeia,
Com as vizinhas na soleira,
Eu fui-me enamorar.

Peço aos dias tempo emprestado
P’ra apagar esta recordação;
Na frase sem predicado
Há vírgulas sem cuidado
Entre o sujeito e o coração.

Entre o sujeito e o coração.

Lá na festa da aldeia,
Debaixo da cameleira,
A saia sempre a rodar:
A tua mão que se esgueira
Debaixo da pregadeira…
Eu vermelha, a corar.

No banco, dívidas, assombros;
Fiado não vais em ombros;
Fim do mês, falta-te o ar;
Debaixo da cameleira
Foi grande a ciumeira,
Começámos a namorar.

Peço aos dias tempo emprestado
P’ra apagar esta recordação;
Na frase sem predicado
Há vírgulas sem cuidado
Entre o sujeito e o coração.

Entre o sujeito e o coração.

Mas na festa da aldeia,
Tu de mão na algibeira,
Nós chegámos a casar:
Porque na festa da aldeia
Debaixo da cameleira
Tu puseste-me a dançar.

Peço aos dias tempo emprestado
P’ra apagar esta recordação;
Na frase sem predicado
Há vírgulas sem cuidado
Entre o sujeito e o coração.

Entre o sujeito e o coração.

Letra: Filipa Martins
Música: Rogério Charraz
Arranjo: João Balão
Intérprete: Rogério Charraz (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)

Lindos olhos tem Silvina

[ Ai Silvina, Silvininha ]

Lindos olhos tem Silvina,
lindas mãos Silvina tem,
e a cintura da Silvina
é fina como o azevém.

Em Silvina tudo exala
um cheiro de coisa fina,
mas o que a nada se iguala
é a fala da Silvina.

— Porque não cantas, Silvina?
Se a tua voz é tão doce
talvez cantada que fosse
mais doce que a glicerina.

— Não me apetece cantar
e muito menos p’ra ti.
Eu sou nova, tu és velho,
já não és homem p’ra mim.

— Não me tentes, Silvininha,
que eu já nem te olho a direito.
Sou como um ladrão escondido
na azinhaga do teu peito.

— A azinhaga do meu peito
corre entre duas colinas.
E o ladrão do meu amor
tem pé leve e pernas finas.

— Canta, canta, Silvininha,
como se fosse p’ra mim.
Dar-te-ei um lençol de estrelas
e uma enxerga de alecrim.

— Deixa o teu corpo estendido
à terra que o há-de comer.
A tua cama é de pinho,
teus lençóis de entristecer.

— Canta, canta, Silvininha,
uma canção só p’ra mim.
Dar-te-ei um escorpião de oiro
e um aguilhão de marfim.

— Não quero o teu escorpião,
nem de oiro nem de prata.
Quero o meu amor trigueiro
que é firme e não se desata.

— Pois não cantes, Silvininha,
se essa é a tua vontade.
Canto eu, mesmo assim velho,
que o cantar não tem idade.

Hás-de ser tu morta e fria,
cem anos se passarão,
já de ti ninguém se lembra
nem de quem te pôs a mão.

Mas sempre há-de haver quem canta
os versos desta canção:
Ai Silvina, ai Silvininha,
Amor do meu coração.

Letra: António Gedeão (adaptado)
Música: Alain Oulman
Intérprete: Camané (in 2CD “Camané: O Melhor 1995-2013 (Edição Especial)”: CD 1, EMI, 2013)
Versão original (música de José Barros): José Barros e Navegante com Verónica (in CD “Rimances”, JBN, 2001)
Outra versão de José Barros e Navegante, com Isabel Silvestre (in DVD “Cantares do Povo Português”, Ocarina, 2012)

Menina das tranças negras

[ Os Olhos com que Eu te Vejo ]

Menina das tranças negras
Levanta a cara bonita
Que se o caminho tem pedras
A esperança é infinita
Menina das tranças negras
Ai ai, larai, lai ai

Menina dos meus encantos
Princesa do meu destino
Os meus anseios são tantos
Que o meu fado é um desatino
Menina dos meus encantos
Ai ai, larai, lai ai

Mal-me-quer ou bem-me-quer
Muito, pouco ou nada
Eu só quero tudo
O que o amor quiser
Diga o mundo o que disser
Muito, pouco ou nada
Bem-me-queres tudo
Nada mal-me-quer

Senhora dos olhos tristes
Objecto do meu desejo
Eu sei que nunca te vistes
Nos olhos com que eu te vejo
Menina dos olhos tristes
Ai ai, larai, lai ai

Mal-me-quer ou bem-me-quer
Muito, pouco ou nada
Eu só quero tudo
O que o amor quiser
Diga o mundo o que disser
Muito, pouco ou nada
Bem-me-queres tudo
Nada mal-me-quer
Menina dos olhos tristes
Ai ai, larai, larai, lai ai

Mal-me-quer ou bem-me-quer
Muito, pouco ou nada
Eu só quero tudo
O que o amor quiser
Diga o mundo o que disser
Muito, pouco ou nada
Bem-me-queres tudo
Nada mal-me-quer

Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão)
Música: Rui Filipe Reis
Intérprete: Rosa Negra (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)

Meu amor disse que eu tinha

[ Cantiga de Seguir ]

Meu amor disse que eu tinha
Uns olhos como gaivotas
E uma boca onde começa
O mar de todas as rotas.

O mundo dá tanta volta;
Quem dera que fora assim
E que, numa dessas voltas,
Tu viesses para mim.

Sei que ele um dia virá,
Assim muito de repente,
Como se o mar e o vento
Nascessem dentro da gente.

Letra: Manuel Alegre (1.ª e 3.ª quadras) e Francisco Menano
Música: Ricardo Ribeiro e Pedro Caldeira Cabral
Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013)

Meu Amor Eterno

Meu Amor Eterno,
Doce verde olhar,
Ilumina o meu caminho!
Acompanha o meu andar!

Meu Amor Eterno,
Mãos de acarinhar,
Segura no teu menino!
Ajuda-me a continuar!

Meu Amor Eterno,
Fada do meu lar,
Alimenta-me a saudade!
Sacia o meu paladar!

Meu Amor Eterno,
Cordão de umbilicar,
Relembra-me do teu cheiro!
Não me deixes de cantar! [bis]

Ema te fez,
Deus te criou,
Paulo te abriu,
José completou.

“Morrer por morrer!”,
Disseste-o assim;
Da tua coragem
Tiveste-me a mim.

Meu Amor Eterno,
Cordão de umbilicar,
Relembra-me do teu cheiro!
Não me deixes de cantar! [3x]

Letra: Rogério Charraz (dedicada à sua Mãe)
Música: Rogério Charraz e Júlio Resende
Arranjo: Júlio Resende
Intérprete: Rogério Charraz (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)

Meu amor, meu amor

[ Ó Meu Amor ]

Meu amor, meu amor,
Se tu fores,
Leva meu ser!
Meu ser, amor!

Ó meu amor, se tu fores,
Leva-me, podendo ser!
Eu quero ir acabar
Onde tu fores morrer.

Eu hei-de morrer cantando,
Já que chorando nasci,
Já que as glórias deste mundo
Se acabaram p’ra mim.

Letra e música: Tradicional (Fundão, Beira Baixa)
Arranjo: José Manuel David
Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Primeira versão: Brigada Victor Jara – “Tosquia” (in LP “Monte Formoso”, MBP, 1989, reed. Farol Música, 1996; Livro/11CD “Ó Brigada!: Discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: CD “Monte Formoso”, Tradisom, 2015)

Brigada Victor Jara, Monte Formoso
Brigada Victor Jara, Monte Formoso

Na Rua dos Meus Ciúmes

Na rua dos meus ciúmes,
Onde eu morei e tu moras,
Vi-te passar fora de horas
Com a tua nova paixão;
De mim não esperes queixumes
Quer seja desta ou daquela,
Pois sinto só pena dela
E até lhe dou meu perdão…
Na rua dos meus ciúmes
Deixei o meu coração.

Inda que me custe a vida,
Pensarei com ar sereno
Que esse teu ombro moreno
Beijos de amor vão queimar;
Saudades são fé perdida,
São folhas mortas ao vento
Que eu piso sem um lamento
Na tua rua, ao passar…
Inda que me custe a vida,
Não hás-de ver-me chorar.

Na rua dos meus ciúmes
Deixei o meu coração.

Letra: Nelson de Barros (para a revista “A Vida É Bela”, 1960, Teatro Capitólio)
Música: Frederico Valério
Intérprete: Rua da Lua (in CD “Rua da Lua”, Rua da Lua, 2016)
Versão original: Helena Tavares (in EP “Rua dos Meus Ciúmes”, Alvorada, 1960; CD “Helena Tavares”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 7, Movieplay, 1994; CD “Helena Tavares”, col. Clássicos da Renascença, vol. 51, Movieplay, 2000)

Nas coisas do amor

[ Quando a Lua Voltar a Passar ]

Nas coisas do amor
É melhor nem entender
Não é fácil perceber
O que o amor tem p’ra dar ou não
E pode ser duro
É deixar acontecer

Malmequer de bem-querer
Ninguém pode adivinhar
Eu sei que não
Nem precisa de razão
Não é bem um sim ou não
É uma carta bem fechada

Não há-de ser nada
Vai passar e tu nem vês
É levar a vida
Um dia de cada vez
E se calhar tu já nem te vais lembrar
E vai ser já quando a Lua voltar a passar

Vou acreditar que amanhã vai ser melhor
Eu conheço até de cor
O que o amor vai fazer talvez nem sei
Ainda bem que acreditei
Não faz mal se eu arrisquei
E fui bater à porta errada

Não há-de ser nada
Vai passar e tu nem vês
É levar a vida
Um dia de cada vez
E se calhar tu já nem te vais lembrar
E vai ser já quando a Lua voltar a passar

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha*
Primeira gravação discográfica: Sebastião Antunes & Quadrilha com Rubi Machado & Rão Kyao (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Versão original: Rubi Machado

Não encontro o teu perfume

[ À Procura de um Perfume ]

Não encontro o teu perfume
Em jardim algum…
Vou plantá-lo aqui mesmo ao lado,
Juntinho a mim!

Não entendo o caminho
Que chega ao pé de ti…
Só sei que um tal destino
Far-me-á chegar aí.

Caminhando vago,
Na rua aqui ao lado,
Encontrei-te enfim!

Aproximei-me de ti…
“Não adies mais o destino!”,
Pensei eu cá só p’ra mim.

Letra e música: Jorge Rivotti
Intérprete: Jorge Rivotti
Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Canções de Amor Pintadas de Amarelo”, Vachier & Associados, 2010)

Não sei por que razão

[ Não Rias ]

Não sei por que razão te quero tanto
E é louco por ti meu coração;
Não sei por que razão este meu pranto
Só riso te provoca, sem razão.

Não rias, meu amor,
Da minha grande dor!
Não rias, por favor, do meu sofrer!
Tem cuidado comigo:
Talvez p’ra teu castigo
A sorte à minha porta vá bater.

Podes passar na vida sem cuidados
E fazer juras a mentir;
Mas olha, meu amor, estás enganada:
A vida não é só levada a rir.

Não rias, meu amor,
Da minha grande dor!
Não rias, por favor, do meu sofrer!
Tem cuidado comigo:
Talvez p’ra teu castigo
A sorte à minha porta vá bater.

Não rias, meu amor,
Da minha grande dor!
Não rias, por favor, do meu sofrer!
Tem cuidado comigo:
Talvez p’ra teu castigo
A sorte à minha porta vá bater.

Letra: Ivete Pessoa
Música: Armando Machado (Fado Tertúlia)
Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013)
Versão original: Ivete Pessoa [?]

Não te ver nos meus braços

[ Beijo ]

Não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços, meu amor,
Pedi aos rios do meu pranto
Que te levassem do meu canto

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços
Pedi aos rios do meu pranto
Que te levassem do meu canto

Mas as marés do teu jeito
Essas marés do teu beijo
Que me agitam o peito
Que me habitam o leito
Só me desfazem o peito
Com esse teu beijo perfeito

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços
Despi o corpo do teu cheiro
Lavei a pele do teu beijo

Mas as marés do meu peito
Essas marés do meu peito
Vestiram-me o teu desejo
Levaram-me ao teu leito
Quero esquecer-te a qualquer jeito
Mas tenho um beijo cravado no peito

Mas as marés do meu peito
Essas marés do meu peito
Vestiram-me o teu desejo
Levaram-me ao teu leito
Quero esquecer-te a qualquer jeito
Mas tenho um beijo cravado no peito

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor
Versão original: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Nos teus braços

Intérprete: Cuca Roseta

Nunca Marta pressentiu

[ Marta Encruzilhada ]

Nunca Marta pressentiu
A reboque bem sentada
Que o trilho que faz um desvio
Fosse dar à sua estrada

Nunca o sol a torriscou
Nunca à chuva foi molhada
Nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
Não se faz vida do nada
Não se faz do nada gente

E não se faz do nada gente

E nesse trilho com desvio
O seu reboque não passava
E nunca antes Marta sentiu
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o sol a torriscou
E nunca à chuva foi molhada
E nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
E não se faz vida do nada
E não se faz do nada gente

E não se faz do nada gente
E não se faz…

E nunca o sol a torriscou
Nunca à chuva foi molhada
Nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
E não se faz vida do nada
E não se faz do nada gente

E nunca o sol a torriscou
Nunca à chuva foi molhada
Nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
Não se faz vida do nada
E não se faz do nada gente

Letra e música: Luís Pucarinho
Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)

Oh meu amor

[ Um Anjo em Meu Lugar ]

Oh meu amor… tu não vás
Que se tu fores já não há
Nem rosas no meu jardim
Nem sonhos dentro de mim

Ai! Minha dor não tem fim
Se o desamor for sempre assim
Por cada dia esperar
Até o Sol se apagar

Olha, olha o meu olhar
E nele hás-de ver
Que eu só canto este fado
Para não esquecer

E se uma noite sem luar
A tua fé quebrar
Espera um pouco que há-de vir
Um anjo em meu lugar

Amor, amor divino
Vai, vai em liberdade
Que o teu breve destino
É ir com a saudade

Olha, olha o meu olhar
E nele hás-de ver
Que eu só canto este fado
Para não esquecer

Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão)
Música: Rui Filipe Reis
Intérprete: Rosa Negra com Cramol (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)

Olha, basta uma nota

[ Basta Um Sorriso ]

Olha, basta uma nota
P’ra dizer que te quero
Um compasso sem tempo
P’ra ver o que ainda espero
Sabendo eu que não vens
Sabendo tu que não me tens

Olha, trago uma ferida
A queimar nos meus lábios
Um pedaço sem cor
Uma ferida aberta
Um gosto imenso de ti
Vais dizendo que não queres
Vais fugindo de manhã
E vais mentindo ao dizer…:
São precisas duas mãos
Para se agarrar um coração

Olha, basta uma nota
P’ra dizer que te quero
Um compasso sem tempo
P’ra ver o que ainda espero
Sabendo eu que não vens
Sabendo tu que não me tens

Diz-me: porque me olhas assim
Quando os corpos não se encontram
Porque choras assim
Se o teu corpo só reclama de paixão
Vais dizendo que não queres
Vais fugindo de manhã
E vais mentindo ao dizer…:
Basta um sorriso para não dizer adeus
Meu amor, basta um sorriso para não dizer adeus [bis]

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor
Versão original: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Pedes-me o respeito

[ Tenho Tanto p’ra te Dar ]

Pedes-me o respeito
E eu dou
Pedes-me a coragem
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Pedes-me a confiança
E eu dou
Pedes-me a esperança
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Tenho tanto p’ra te dar
No meu canto de amar
Terei sempre na minha voz
A memória do grande que somos nós

Pedes-me a vontade
E eu dou
Pedes-me a unidade
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Pedes-me a alegria
E eu dou
Pedes-me a harmonia
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Tenho tanto p’ra te dar
No meu canto de amar
Terei sempre na minha voz
A memória do grande que somos nós

Pedes-me a paciência
E eu dou
Pedes-me a consciência
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Letra e música: Luís Galrito
Intérprete: Luís Galrito* com Dino d’ Santiago (in CD “Menino do Sonho Pintado”, Kimahera, 2018)

Pelo fim da tarde

[ Nem Sequer Dei Por Isso ]

Pelo fim da tarde tu sais do emprego
E eu não sei porque é que aqui vim parar
É assim um desassossego
Tento ir sempre onde possas estar

Por sorte tu até sorris
E nem sequer me vens com muitos ‘porquês’
E dizes com um certo ar feliz:
“Com que então, por aqui outra vez?”

Num parque ao domingo
P’lo meio da cidade
Ou num café ao entardecer

Será que é mentira?
Será que é verdade?
Mas o que é que me está acontecer?

Já sei! Não há explicação
A cabeça está num reboliço
Se calhar apaixonei-me por ti
E nem sequer dei por isso

Ao virar da esquina, em qualquer transporte
Acabamos sempre por nos cruzar
E eu acho um caso de sorte
Cada vez que te posso encontrar

Está-me a correr bem, já ganhei o dia
Só porque me dissestes um “olá!”
E gosto da tua ironia
Se perguntas mais uma vez: “Por cá?”

Mensagem trocada, gesto embaraçado
Lá vou eu outra vez a planar
Desculpa, desculpa! Foi número errado
Mas ficamos uma hora a falar

Já sei! Não há explicação
A cabeça está num reboliço
Se calhar apaixonei-me por ti
E nem sequer dei por isso

Tanto melhor quando não se espera
E era bom que fosse como imaginei

Já sei! Não há explicação
A cabeça está num reboliço
Se calhar apaixonei-me por ti
E nem sequer dei por isso

Já sei! Não há explicação
A cabeça está num reboliço
Se calhar apaixonei-me por ti
E nem sequer dei por isso

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha* (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa)
Versão original: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)

Por não te ver nos meus braços

[ Beijo ]

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços, meu amor,
Pedi aos rios do meu pranto
Que te levassem do meu canto

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços
Pedi aos rios do meu pranto
Que te levassem do meu canto

Mas as marés do teu jeito
Essas marés do teu beijo
Que me agitam o peito
Que me habitam o leito
Só me desfazem o peito
Com esse teu beijo perfeito

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços
Despi o corpo do teu cheiro
Lavei a pele do teu beijo

Mas as marés do meu peito
Essas marés do meu peito
Vestiram-me o teu desejo
Levaram-me ao teu leito
Quero esquecer-te a qualquer jeito
Mas tenho um beijo cravado no peito

Mas as marés do meu peito
Essas marés do meu peito
Vestiram-me o teu desejo
Levaram-me ao teu leito
Quero esquecer-te a qualquer jeito
Mas tenho um beijo cravado no peito

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Por que voltas de que lei

Letra: Amália Rodrigues
Música: Mário Pacheco
Intérprete: Maria Ana Bobone

Porque sou o cavaleiro andante

[ Cavaleiro andante ]

Porque sou o cavaleiro andante
Que mora no teu livro de aventuras
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras

Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe

Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou

Sempre que a rádio diga
Que a América roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua

Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz

Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau

Porque teimas nesta dor

Letra: José Luís Gordo
Música: Carlos Gomes
Intérprete: Ana Moura

Que bom dar-te a mão

[ Balada para o Meu Amor ]

Que bom dar-te a mão
e juntos para crer
fazer o coração e a senda
de viver no perdão
e no amor
E ao ver-te chegar
com sonhos p’ra me dar
de calma e silêncio vindo
que seja bem-vindo
o meu amor

Existe e ficou aqui
encostado ao meu ombro
Prometeu cuidar de mim
O meu amor está sempre do meu lado
quando a vida atira e queima
e na luta saio magoado

Porta que teima abriu
do paraíso um ser sorriu
e a Eva no jardim resiste
à culpa do pecado que não existe
Trouxe a luz e eis que ensina
que há um braço que segura
na água mole na pedra dura
no bem e no mal o amor perdura

Existe e ficou aqui
encostado ao meu ombro
Prometeu cuidar de mim
O meu amor está sempre do meu lado
quando a vida atira e queima
e na luta saio magoado

Letra e música: Luís Galrito
Intérprete: Luís Galrito (in CD “Menino do Sonho Pintado”, Kimahera, 2018)

Rasga esses versos

[ Os Meus Versos ]

Rasga esses versos que eu te fiz, Amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!…

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente…

Rasgas os meus versos… Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!…

Poema: Florbela Espanca (in Reliquiae, 1934)
Música: Paulo Valentim
Intérprete: Kátia Guerreiro (in CD “Nas Mãos do Fado”, Ocarina, 2003)

Roubei-te um beijo

Roubei-te um beijo,
Não querias dar;
Estou muito triste,
Mas por ti não vou chorar.

Não vou chorar,
Não vou sofrer;
Estou muito triste,
Mas por ti não vou morrer.

Estou d’abalada,
Vou para terras de Espanha;
Tu não me queres,
Aqui mais ninguém me apanha.

Ninguém me apanha,
Já cá não está quem sofria;
Meu lindo Amor,
Tu hás-de chorar um dia.

Tristes lamúrias
Do rouxinol
Enchem minh’alma
Do nascer ao pôr-do-sol.

Ao pôr-do-sol,
À luz da lua,
Não há no mundo
Cara mais linda que a tua.

Estou d’abalada,
Vou para terras de Espanha;
Tu não me queres,
Aqui mais ninguém me apanha.

Ninguém me apanha,
Já cá não está quem sofria;
Meu lindo Amor,
Tu hás-de chorar um dia.

Roubei-te um beijo,
Foi por paixão;
Vê lá, não digas a ninguém
Que eu sou ladrão!

Que eu sou ladrão
Apaixonado!
Meu lindo amor,
Quero viver a teu lado!

Estou d’abalada,
Vou para terras de Espanha;
Tu não me queres,
Aqui mais ninguém me apanha.

Ninguém me apanha,
Já cá não está quem sofria;
Meu lindo Amor,
Tu hás-de chorar um dia.

Letra e música: Armando Torrão
Intérprete: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD 2, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)

Celina da Piedade
Celina da Piedade, Roubei-te um beijo

Sem ser ainda

[ Portal dos Ventos ]

Sem ser ainda
Um mal que finda,
Portal dos Ventos
De um outro… Amor!

Marés que passam,
Luas que mudam,
E os dias correm
Ao teu… Sabor!

E se o silêncio
Navega calmo,
Mais calmo fica
O teu… Calor!

À luz de agora
Aquece a alma,
E o Vento aperta
O teu… Sabor!

Sei que os teus medos
São raios de seda,
E que os segredos
Não há quem os traga…

Mas, os teus olhos
Não fogem dos meus,
Cantam segredos
À luz de um amor…

De um amor…

Sem ser ainda…
E se o silêncio…
Sei que os teus medos…

Sei que os teus medos
São raios de seda,
E que os segredos
Não há quem os traga…

Mas, os teus olhos
Não fogem dos meus,
Cantam segredos
À luz de um amor…

De um amor…

Letra: José Flávio Martins
Música: António Pedro
Intérprete: Musicalbi
Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)

Musicalbi, Solidão e Xisto
Musicalbi, Solidão e Xisto

Subir, Subir

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Mensageiros de Cupido
Eu ando deprimido
Intercedei por mim ao vosso Deus!
Estou de amores com uma catraia
Que p’ra subir a saia
Exige grandes sacrifícios meus

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Levantei velas à barca
Mas a brisa era parca
Nem deu para agitar o meu corcel
Assim nunca mais te chego
A ter no aconchego
Tirar-te dessa ilha de papel

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Fiz consulta a feiticeiros
E santos padroeiros
Deixei bruxeiros de cabeça à toa
Findei o consultamento
E como rendimento
Saíram-me (imaginem!) os Gaiteiros de Lisboa

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Letra e música: Mário Alves (Vozes da Rádio)
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão discográfica ao vivo dos Gaiteiros de Lisboa, com Vozes da Rádio (in 2CD “Dançachamas: Ao Vivo”: CD 1, Farol Música, 2000)
Versão original: Vozes da Rádio com Gaiteiros de Lisboa (in CD “Mappa do Coração”, Ariola/BMG Portugal, 1997)

Sábado à noite

[ Primavera ]

Sábado à noite não sou tão só
Somente só
A sós contigo assim
E sei dos teus erros
Os meus e os teus
Os teus e os meus amores que não conheci

Parasse a vida
Um passo atrás
Quis-me capaz
Dos erros renascer em ti

E se inventado, o teu sorriso for
Fui inventor
Criei o paraíso assim

Algo me diz que há mais amor aqui
Lá fora só menti
Eu já fui de cool por aí
Somente só, só minto só
Hei-de te amar, ou então hei-de chorar por ti
Mesmo assim, quero ver te sorrir…
E se perder vou tentar esquecer-me de vez, conto até três
Se quiser ser feliz…

Se há tulipas
No teu jardim
Serei o chão e a água que da chuva cai
Para te fazer crescer em flor, tão viva a cor
Meu amor eu sou tudo aqui…

Sábado à noite não sou tão só
Somente só
A sós contigo assim
Não sou tão só, somente só

Intérprete: The Gift

Tenho uma rosa p’ra ti

[ Tangerina dos Algarves ]

Tenho uma rosa p’ra ti
Tenho uma rosa encarnada
Tenho uma rosa no mar
Tenho uma rosa molhada
Circula a noite no tempo
sobre as nossas gargalhadas
Tenho uma rosa p’ra ti
Tenho uma rosa encarnada

Vou sonhar com o teu olhar
oceano de água e mar

Vou fugir com o teu olhar
oceano de água e mar
sobre o mistério

Vou fugir com o teu olhar
oceano de água e mar
sobre o mistério

Em castelos de areia
eu escrevi um nome ao lado
Foi por ti que conheci
a tangerina dos Algarves

Em castelos de areia
eu escrevi um nome ao lado
Foi por ti que conheci
a tangerina dos Algarves

Anda o Sol por trás da serra
Há cheiro a funcho queimado
E este abanão duma vaga
que chega sem avisar

Vinho rubro a navegar
por segredos do Universo
Desfolho a rosa no rio
p’ra te oferecer com um verso

Vou sentir o teu sabor
oceano de água e mar

Vou sentir com o teu sabor
oceano de água e flor
de tangerina

Vou sentir com o teu sabor
oceano de água e flor
de tangerina

Em castelos de areia
eu escrevi um nome ao lado
Foi por ti que conheci
a tangerina dos Algarves

Em castelos de areia
eu escrevi um nome ao lado
Foi por ti que conheci
a tangerina dos Algarves

Letra e música: João Afonso Lima
Intérprete: João Afonso (in CD “Barco Voador”, Mercury/Universal Music Portugal, 1999; CD “João Afonso: A Arte e a Música”, Universal Music Portugal, 2004)

Trago um jardim no sentido

[ Jardim dos Sentidos ]

Trago um jardim no sentido,
Por ter sentido o que sinto:
Amor que não faz sentido
Num coração louco e faminto.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Coração louco e faminto,
Rosa que tenho sentido;
Jardim que anda perdido,
Por ter sentido o que sinto.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Por ter sentido o que sinto,
Amor que não faz sentido
Jardim que anda perdido,
Trago um jardim no sentido.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Trago um jardim no sentido…

Letra e música: Pedro Mestre
Intérprete: Pedro Mestre com António Zambujo (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre, com António Zambujo (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Tu e eu meu amor

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua a mão que segura
outra mão que lhe é dada
nua a suave ternura
na face apaixonada
nua a estrela mais pura
nos olhos da amada
nua a ânsia insegura
de uma boca beijada.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nu o riso e o prazer
como é nua a sentida
lágrima a correr
na face dolorida
nu o corpo do ser
na hora prometida
meu amor que ao nascer
nus viemos à vida.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua nua a verdade
tão forte no criar
adulta humanidade
nu o querer e o lutar
dia a dia pelo que há-de
os homens libertar
amor que a eternidade
é ser livre e amar.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Poema: Manuel da Fonseca (De “Poemas Inéditos”, in “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 179-180)
Música: Paulo Ribeiro
Intérprete: Paulo Ribeiro com Ana Lúcia Magalhães (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Paulo Ribeiro

Paulo Ribeiro

Vem

Vem no vento que envolve a montanha
E lhe esculpe grutas e segredos
Que a cinge e a estreita nas fragas
Vem nas silvas que rasgam os dedos

Como a rocha que na costa aguarda
A tal onda que explode ao morrer
Chicoteando do mar os penhascos
Por mais ásperos que pareçam ser

Vem cantando na verde campina
Terra-mãe de onde nasce o pão
Ondulante seara menina
Como as crinas dos cavalos que vão

Como criança pela mão do avô
Vai para a escola no dia primeiro
Passo a passo alcançar o futuro
Destrinçar o saber verdadeiro

Vem nos braços da rua a cidade
Se for praça de causas perfeitas
E o coração te falar mais verdade
Que as palavras dos outros, tão estreitas

Vem-me aos braços, que eu não me envergonho
Planta o mundo todo qu’inda houver
Traz a alma, que eu trago o meu sonho
E o espanto pode acontecer

Letra e música: Pedro Barroso («Dedicado à minha neta Constança, em nome do Futuro»)
Intérprete: Pedro Barroso*
Versão original: Pedro Barroso (in CD “Artes do Futuro”, Ovação, 2017)

Vem, quero beijar-te o corpo

[ Profano ]

Vem, quero beijar-te o corpo
Quero provar-te o gosto
Quero rasgar-te a pele
Soltar-te o corpo em mim

Que te faço tão profano
Soldado do meu ventre
Que emudece à minha frente
As regras deste amor

Vem pedir-me a preceito
Que te possua em desejo
Que te consuma nesse leito
E desse jeito que é teu

Quando me devoras os sentidos
E me pedes aos ouvidos
Que te amarra, te prenda,
Te bata, te faça assim mulher vulgar

Vem beijar este meu corpo
Vem provar deste meu gosto
Vem rasgar esta pele
E soltar-me o corpo em ti

Que me faço tão profana
Desejo desse teu corpo
Que emudece à tua frente
As regras deste amor

Quero pedir-te a preceito
Que me consumas em desejo
Que me consumas nesse leito
E desse jeito que é teu

Que me devoras os sentidos
Quero pedir-te aos ouvidos
Que me amarres, me prendas,
Me batas, me faças assim mulher vulgar

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor* (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Vi-te dum vermelho antigo

[ A Minha Cor (Vermelho Antigo) ]

Vi-te dum vermelho antigo,
Trazias a minha cor;
Meus olhos foram contigo
E alguém disse que era amor.

Cor de sangue aveludado,
Cor de seda ou de cetim,
Cor de vinho ou de pecado:
Foi a cor que viste em mim.

De fadista só me viste
Um olhar estranho e sombrio:
Não era ardente nem triste,
Não era vago nem frio.

Tua voz, cor de cantiga,
Espalhava de mãos cheias
Um sabor a raça antiga
Que salta nas minhas veias.

Fosse sede ou fosse amor,
Que importa o que foi, enfim?
Trazias a minha cor,
Nada mais contou p’ra mim.

Letra: Manuel Andrade
Música: Pedro Rodrigues (Fado Pedro Rodrigues de Quadras)
Intérprete: Marta Pereira da Costa* com Hélder Moutinho
Versão discográfica de Hélder Moutinho (com música de Joaquim Campos – Fado Amora) (in CD “Sete Fados e Alguns Cantos”, Ocarina, 1999)
Versão original: João Braga (in EP “Janeiro Proibido”, Aquila, 1968; “Todos os Fados de A a Z: Vol. 12 – Fado Pajem ao Fado Pintadinho”, Movieplay/Visão, 2005; CD “João Braga: Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006)

Volta e meia estou de volta

[ Fado às Voltas ]

Volta e meia estou de volta,
volta e meia já não estou;
quem me quis à rédea solta
foi quem comigo ficou.

Quem, em troca de carinho,
quis prender-me o coração
ficou a falar sozinho
nas voltinhas do Marão.

Quantas voltas dá o mundo
P’ra ensinar que a verdade
é que a vida é um segundo
aos olhos da eternidade?

Vamos lá: é volta e meia
cada qual escolhe o seu par!
Que eu posso mudar de ideia,
antes da volta acabar.

Volta e meia estou de volta,
volta e meia já não estou;
quem me quis à rédea solta
foi quem comigo ficou.

Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Alberto Costa (Fado Dois Tons)
Intérprete: Cristina Nóbrega
Versão original: Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014)

Cristina Nóbrega
Cristina Nóbrega
Lua Branca

Canções à lua

Letras

Anoiteceu no meu olhar

[ Garça Perdida ]

Anoiteceu no meu olhar
de feiticeira, de estrela do mar,
de céu, de lua cheia,
de garça perdida na areia.

Anoiteceu no meu olhar,
perdi as penas, não posso voar,
deixei filhos e ninhos,
cuidados, carinhos, no mar…

Só sei voar dentro de mim
neste sonho de abraçar
o céu sem fim,
o mar, a terra inteira!

E trago o mar dentro de mim,
com o céu vivo a sonhar
e vou sonhar até ao fim,
até não mais acordar…

Então, voltarei a cruzar
este céu e este mar,
voarei, voarei sem parar
à volta da terra inteira!

Ninhos faria de lua cheia
e depois, dormiria na areia…

Letra: João Mendonça
Música: Leonardo Amuedo
Intérprete: Dulce Pontes (in CD “O Primeiro Canto”, Polydor, 1999)

Branca era a noite

[ Uma Estrela no Sul ]

Branca era a noite
Uma estrela no sul
A lua cheia
Num céu tão azul
Rendas de espuma no mar, dando à costa um abraço
E este meu coração a bater a compasso…

Que morra o dia
Pois a noite é irmã
Voos tão altos
Na minha fajã
Quero reter essa luz, são momentos escassos
Depois recolher ao meu quarto e apertar-te nos braços

Ai meu amor
Escuta a minha voz
Pensando bem
Quem está como nós?
Grande é o mundo
Tantas vezes bisonho
Mas tão pequeno
Comparado com o sonho…

Branca era a noite
E era roxa a saudade
Dos dias longos…
Que é da mocidade?
Os olhos rasos em águas de recordações
Livres, à solta, sem rédeas estão as emoções

Corre agitada
Esta vida maruja
Águas serenas
Piares de coruja
Há nesta noite tranquila uma bênção no ar
Convite da natureza p’ra a gente se amar

Ai meu amor
Escuta a minha voz
Pensando bem
Quem está como nós?
Grande é o mundo
Tantas vezes bisonho
Mas tão pequeno
Comparado com o sonho…

Branca era a noite
E era roxa a saudade
Dos dias longos…
Que é da mocidade?
Os olhos rasos em águas de recordações
Livres, à solta, sem rédeas estão as emoções

Corre agitada
Esta vida maruja
Águas serenas
Piares de coruja
Há nesta noite tranquila uma bênção no ar
Convite da natureza p’ra a gente se amar

Ai meu amor
Escuta a minha voz
Pensando bem
Quem está como nós?
Grande é o mundo
Tantas vezes bisonho
Mas tão pequeno
Comparado com o sonho…

Letra e música: Aníbal Raposo (2010-01-21)
Intérprete: Aníbal Raposo (in CD “Rocha da Relva”, Aníbal Raposo/Global Point Music, 2013)

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

Lua branca das ribeiras

[ Lua Branca das Ribeiras ]

Lua branca das ribeiras a quem mostras o caminho
Às bruxas, às feiticeiras ou a quem anda sozinho
A ribeira tem segredos que tu andas a esconder
Hão-de contar-se p’los dedos os que tu me hás-de dizer

Lua branca das ribeiras com quem passas o serão
De companha às fiandeiras à janela do ganhão
À porta das raparigas que não se querem deitar
Vais ensinando as cantigas de quem se há-de apaixonar
Lua branca das ribeiras

Tenho um banco à minha porta onde a lua vai dormir
Já a vi lá com tristeza e a sorrir
Eu dei um segredo à lua para quando ela se deitar
Poder encontrar alguém a quem contar

Lua branca das ribeiras de quem é o teu brilhar
Das moças namoradeiras ou de quem as faz penar
Dos que se enganam na vida p’lo correr da madrugada
Ou de uma alma perdida que passa a noite calada

Se a ribeira me levasse onde a lua vai dormir
Talvez eu por lá contasse tanto que eu ando a sentir
De quem é a cor da lua que nos traz tanto querer
Não é minha nem é tua, é de quem a entender
Lua branca das ribeiras

Tenho um banco à minha porta onde a lua vai dormir
Já a vi lá com tristeza e a sorrir
Eu dei um segredo à lua para quando ela se deitar
Poder encontrar alguém a quem contar

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Quadrilha (in CD “A Cor da Vontade”, Vachier & Associados, 2003)

Ó lua faz-me uma trança

[ À Porta do Mundo ]

Ó lua faz-me uma trança
P’ra de dia desmanchar
Guarda-me a última dança
Quando o fio se acabar

Gosto de ver o teu rosto
Que a mil caminhos se presta
Para uma noite desgosto
Por uma noite de festa

Voltaria à tua terra
Por um mergulho de mar
Entre a cidade e a serra
Fica algures o meu lugar

Este mundo não tem porta
Nem uma chave escondida
Por trás de tudo o que importa
Vem um sentido p’rá vida

Se te fizeres ao caminho
Em horas de arrebol
P’ra fermentar o meu vinho
Traz-me um pedaço de sol

Vamos escrever uma história
Rever um filme a passar
Logo virá à memória
O que eu te queria dar

Será verdade ou mentira
Como um segredo roubado
Sou como a lua que gira
Hei-de dançar ao teu lado

Este mundo não tem porta
Nem uma chave escondida
Por trás de tudo o que importa
Vem um sentido p’rá vida

Letra e música: João Afonso Lima e José Moz Carrapa
Arranjo: Ricardo Dias
Intérprete: Filipa Pais (in CD “À Porta do Mundo”, Vachier & Associados, 2003)

Formiga

A formiga no carreiro

Letra e música: José Afonso
Intérprete: José Afonso (in “Venham Mais Cinco”, Orfeu, 1973; reed. Movieplay, 1987)

A formiga no carreiro
vinha em sentido contrário,
caiu ao Tejo
ao pé dum septuagenário.

Larpou, trepou às tábuas
que flutuavam nas águas
e de cima duma delas
virou-se p’ró formigueiro:
“Mudem de rumo!
Já lá vem outro carreiro.”

A formiga no carreiro
vinha em sentido diferente.
Caiu à rua
no meio de toda a gente,
buliu, abriu as gâmbias
para trepar às varandas
e de cima duma delas
virou-se pró formigueiro:
“Mudem de rumo!
Já lá vem outro carreiro.”

A formiga no carreiro
andava à roda da vida.
Caiu em cima
Duma espinhela caída
furou, furou à brava
numa cova que ali estava
e de cima duma delas
virou-se pró formigueiro:
“Mudem de rumo!
Já lá vem outro carreiro.”

Formiga

Formiga

Com as pernas já cansadas

António José Ferreira
Adaptado da fábula de La Fontaine

Com as pernas já cansadas
e a barriga tão vazia,
a raposa viu uns cachos
e deu pulos de alegria.

Tentava apanhar as uvas,
mas cansava-se em vão
e a alegria que tivera
tornou-se desilusão.

Enganando-se a si mesma
por já não conseguir tê-las,
disse então que eram verdes,
só cães podiam comê-las.

Mas quando, ao ir-se embora,
ouviu um leve ruído,
voltou-se com a esperança
de um bago ter caído.

Dias a fio andou

[ O Pulo do Lobo ]

Dias a fio andou
Por andar chegou
Em chegando viu
E então sorriu
A sorrir pensou
Por pensar agiu
Ao agir falou

“Diz-me andorinha,
Deste voo teu,
Se é dança ou feitiço,
Se me emprestas a vertigem
Dessa queda livre
Do teu voo raso
Desse baile alado
Sim?”

E saltou,
Ao saltar tremeu
A tremer subiu
Por subir desceu
E então caiu,
A cair bateu
Ao bater sentiu,
Ao sentir pensou

“Diz-me andorinha,
Sentes como eu?
O poder da terra
Na torrente, rodopio
Estilhaço o corpo
Num grito calado
Sob um manto de água
Não?”

Letra e música: Manuel Maio
Intérprete: A Presença das Formigas* (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)

Durante todo o Verão

António José Ferreira
Adaptado da fábula “A cigarra e a formiga”

Durante todo o Verão,
que bem cantou a cigarra;
de dia, ‘stava na praia,
à noite, ia para a farra.

Ficou no campo a formiga,
pensando no seu celeiro.
O esforço do seu trabalho,
rendeu-lhe um bom mealheiro.

O Inverno só trouxe frio
e nada para comer:
à porta do formigueiro
foi a cigarra bater.

– Durante todo o verão
cantei p’ra te alegrar:
dá-me um pouco de comida
para eu poder jantar.

– Enquanto te divertias,
eu ‘stava a trabalhar.
Cantavas todos os dias,
agora vai lá dançar.

Eu sou o cão D. Pantaleão

Letra e música: José Barata Moura

– Eu sou o cão D. Pantaleão!
– E eu sou um cão apenas cão… (bis)

– Tenho um barbeiro e uma criada,
um casaco e uma almofada!
– E eu cá não tenho nada!

– Eu sou o cão D. Pantaleão!
– E eu sou um cão apenas cão… (bis)

– Tenho uma casa aquecida,
boa cama e comida!
– Não é lá muito boa a minha vida…

– Eu sou o cão D. Pantaleão!
– E eu sou um cão apenas cão… (bis)

– Tenho sombrinha e cachecol,
luvas e chapéu mole!
– Eu cá tanto ando à chuva como ao sol.

– Eu sou o cão D. Pantaleão!
– E eu sou um cão apenas cão… (bis)

– Tenho uma coleira amarela,
que parece uma estrela!
– Mas eu cá não gosto da trela!

– Eu sou o cão D. Pantaleão!
– E eu sou um cão apenas cão… (bis)

Intérprete: José Barata Moura

Havia um pescador

Texto: António José Ferreira

Havia um pescador,
um pescador havia.

Um dia foi à pesca,
foi fraca a pescaria.

Pescou só um peixinho,
levou-o à Maria.

Quando chegou a casa,
ouviu o que não queria.

– Se fosse um peixe grande,
que almoço não daria!

– O peixe é pequenino
e muito cresceria!

José pegou no balde,
deitou o peixe à ria.

Lamentava-se o pavão

António José Ferreira
Adaptado da fábula de La Fontaine

Lamentava-se o pavão
de não cantar nada bem,
de não ter a voz bonita
que o rouxinol sempre tem.

– Não reclames – disse Deus -,
pavãozinho despeitado!
Não vês que, p’las tuas cores,
és famoso em todo o lado?

Cada um tem seu encanto:
a águia tem a coragem,
o melro tem o seu canto,
o pavão rica plumagem.

A ave compreendeu:
não se podia queixar.
Ninguém é perfeito em tudo,
em tudo há que se alegrar.

Muitas nozes e avelãs

António José Ferreira
Adaptado da fábula de La Fontaine

Muitas nozes e avelãs
tinha o Senhor Esquilo:
lembrou-se de partilhar
alguns frutos do seu silo.

Pegou na melhor bandeja,
para as nozes of’recer,
e mandou o seu filhote
ao vizinho, a correr.

Quando viram a bandeja
os olhos do seu vizinho,
nem se lembraram das nozes
of’recidas com carinho.

Nem o esquilo viu de volta
a bandeja preferida,
nem na casa do vizinho
houve prenda parecida.

No meio de uma floresta

António José Ferreira
Adaptado da fábula de La Fontaine

No meio de uma floresta,
um veado adoeceu.
Um grupo dos seus amigos
foi ver o que aconteceu.

Foram para socorrê-lo,
ou talvez o consolar,
para cumprir o dever
de o amigo ajudar.

No fim da sua visita,
tiveram um bom repasto:
e da erva do veado,
quase não deixaram rasto.

Com pouco alimento perto,
aquele velho veado,
morreu ainda mais cedo,
infeliz, esfomeado.

No ramo de um arbusto

António José Ferreira
Adaptado da fábula de La Fontaine

No ramo de um arbusto,
o corvo mostrava um queijo:
a raposa aproximou-se
atraída p’lo desejo.

Muito esperta, a raposa
passou a elogiar o corvo,
as suas penas e o canto,
e até a forma de andar.

Cego pelo seu orgulho,
o corvo pôs-se a cantar:
o queijo caiu do bico
e à raposa foi parar.

O leão, o rei da selva

António José Ferreira
Adaptado da fábula de La Fontaine

O leão, o rei da selva,
perdeu forças e poder:
tornou-se apenas um velho
preparado p’ra morrer.

Os burros davam-lhe coices
e os lobos davam dentadas;
gazelas faziam troça
e os bois davam cornadas.

Mal conseguia rugir
o cansado rei leão:
chegara a hora de os fracos
lhe poderem dizer não.

Um dia, o Senhor Lobo

António José Ferreira

Um dia, o Senhor Lobo
que andava a passear,
avistou o Capuchinho
e foi logo perguntar:

– Aonde vais, ó menina,
com essa linda cestinha?
– Vou levar um bolo e mel
à minha rica avozinha.

Mais depressa foi o lobo
à casa da avozinha
enquanto ia praticando
falar com voz de netinha.

(Alguém bate à porta)

– Quem está a bater à porta?
– É a tua qu’rida netinha.
– Ai meu Deus, é o lobo mau.
– Não te como, avozinha.

(Entretanto, o Capuchinho Vermelho chega a casa da avó e vai ter com ela. )

– Que grandes são os teus olhos!
– São para te observar!
– Que grande é o teu nariz!
– É p’ra melhor te cheirar!

– Que fofas as tuas mãos!
– São p’ra melhor te tocar!
– Que grande é a tua boca!
– É p’ra melhor te beijar!

Os deuses da Grécia antiga

António José Ferreira

Os deuses da Grécia antiga
eram gente como nós:
casavam-se, tinham filhos,
não gostavam de estar sós.

Plim plim (lira)

Zeus, o grande pai dos deuses,
do Olimpo era o Senhor.
Era casado com Hera,
que tinha muito amor.

Saxapum (pratos)

Os deuses de antigamente
contavam-se por dezenas.
Do Olimpo adoravam
ver os jogos em Atenas.

Te te te (trombeta)

Poseidon, irmão de Zeus,
era o rei dos oceanos.
Se fazia tempestades
assustavam-se os humanos.

Tum tum (tambor)

Artémis, filha de Zeus,
protegia os animais.
Bebia néctar puro
como seus irmãos e pais.

Té té té té (trombeta)

Deméter, irmã de Zeus,
passou por muita aventura.
Gostava muito de plantas,
protegia a agricultura.

Fi fi fi (flauta)

Um pescador foi à pesca

António José Ferreira
Adaptado da fábula de La Fontaine

1. Um pescador foi à pesca
com vontade de pescar
todo o peixe que pudesse
para comer ao jantar.

2. Pescou cinco bons robalos,
e apanhou uma enguia
que lhe encheram a sacola
e lhe deram alegria.

3. Viu, por fim, um robalinho
preso no anzol, a chorar:
– Sou ainda muito novo,
não darei grande manjar.

4. – Mais vale um peixe no saco
que um cardume a nadar.
– Mas, se pescas todo o peixe,
que vais amanhã pescar?

5. O pescador quis levá-la,
mas a tempo percebeu:
– Se não há peixes no rio,
amanhã, que pesco eu?

Uma rã, que era vaidosa

António José Ferreira
Adaptado da fábula de La Fontaine

1. Uma rã, que era vaidosa,
viu no campo uma vitela,
admirou o seu tamanho
e quis ser igual a ela.

2. Deixou logo o seu charquinho,
começou a engordar,
tanto era o seu desejo
de à vitela se igualar.

3. A rã perguntava às outras
se já era grande e bela,
mas estava muito longe
do tamanho da vitela.

4. Tanto a rã inchou de inveja
que um dia rebentou:
não foi uma rã feliz
nem à vaca se igualou.

Uma vez, uma pastora

1. Uma vez, uma pastora,
larau, larau, larito,
com o leite do seu gado
mandou fazer um queijito.

Mas o gato espreitava,
larau, larau, larito,
mas o gato espreitava
com sentido no queijito.

E aqui metia a pata
larau, larau, larito,
e aqui metia a pata
e além o focinhito.

A pastora, de zangada,
larau, larau, larito,
a pastora de zangada
castigou o seu gatito.

E aqui termina a estória,
larau, larau, larito,
e aqui termina a estória
da pastora e do queijito.