José de Freitas, de nome completo José Cirilo de Freitas Silva, nasceu na Madeira e foi padre da Congregação da Missão (Padres Vicentinos). Já depois de padre, estudou nos conservatórios do Porto e de Lisboa, onde concluiu o Curso Superior de Canto com excelente classificação. Em 1978 tornou-se artista residente do Teatro Nacional de São Carlos onde se estreou com Schaunard em La Bohème. Foi intérprete de importantes papéis de barítono e de baixo-barítono em Portugal e no estrangeiro. Foi também diretor de coros e compositor de cânticos litúrgicos.
ENTREVISTA
Qual foi o primeiro momento em que se lembra de ter tido consciência de que a música era importante para si?
O primeiro momento?! Preferiria falar de uma pequena série de momentos… Concretizando: No meu 5º ano do seminário (hoje 9º ano), cerca dos 16 anos, quando a chamada “mudança de voz” era já algo acentuada, o meu ilustre professor de música, Padre António Ferreira Telles, poucos dias após ter-me convidado para tocar harmónio em algumas cerimónias litúrgicas (ele era o harmonista oficial, obviamente) e pedir-me para, alternadamente com outro colega, iniciar os cânticos na liturgia (o equivalente a solista), veio falar comigo na véspera da festa do Padroeiro do seminário (S. José), e disse-me: “Confio muito em ti para “segurares” a 4ª voz na missa solene de amanhã.” Ora aí tem um “puzzle” com bastante significado na minha “consciência musical” de jovem seminarista…
Quais os professores que mais o influenciaram no tempo de seminário?
Vou referir-me apenas a professores de música, obviamente. Desde os primeiros anos, tive uma veneração especial por um ilustre mestre, muito “sui generis”, mas muito competente e sabedor: o Padre António Ferreira Telles, a que atrás aludi. Era excelente harmonista, compositor, ótimo harmonizador. O Pe. Fernando da Cunha Carvalho, felizmente ainda entre nós, também teve influência na minha orientação musical, e não só. Mas vou salientar, sem querer ser injusto para os atrás citados e porventura outros, o Pe. João Dias de Azevedo, que muito me ajudou sobretudo no harmónio e no órgão, no Seminário de Mafra, onde fiz o meu noviciado (1954-1956). Nesse período, cheguei a tocar órgão em algumas celebrações dominicais e festas na Basílica de Mafra… E, para completar os anos do seminário, não poderei omitir o Pe. Fernando Pinto dos Reis (1929-2010).
Depois de ir para o seminário e de ser padre, quando é que se apercebeu de que cantar era o mais importante na sua vida profissional?
Como disse, cedo me iniciei e fui crescendo na função de solista. Continuei-a ao longo de todo o curso, alternando-a com o múnus de harmonista. Terminado o curso, fui incumbido da disciplina de Música (além de outras), no seminário menor. O concílio do Vaticano II acabava de privilegiar o vernáculo na liturgia. Iniciei a renovação de todo o repertório vigente. Eu próprio dei largas a uma velha paixão e iniciei a composição de cânticos em português, incluindo o “ordinário” e o “próprio” da missa para determinadas solenidades, além de outros cânticos circunstanciais. Aconselhado por não poucos, matriculei-me no Conservatório do Porto. Canto? Composição? Duas paixões. Muito incitado e encorajado pela professora D. Isabel Mallaguerra, decidi-me mais seriamente pelo canto, sem descurar a composição musical.
Após o curso geral de canto no Conservatório do Porto, vim a concluir o Curso Superior no Conservatório Nacional com a professora D. Helena Pina Manique. Com o programa do exame do curso superior concluído com alta classificação, fui convidado para vários recitais em Lisboa e não só. Iniciei logo de seguida o curso de ópera com o professor Álvaro Benamor e D. Helena Pina Manique. Fui admitido no Coro Gulbenkian, onde estive durante alguns meses até seguir para Paris com uma bolsa de estudos.
O diretor do Teatro Nacional de São Carlos, Eng. João Paes, que já me ouvira no Conservatório, convidou-me para, temporariamente, interromper o estágio em Paris e vir a Lisboa preparar o desempenho de um importante papel numa ópera portuguesa. Bem sucedido, pediu-me para, após o estágio parisiense, seguir para Florença, afim de preparar, com o famoso Gino Bechi, o importantíssimo papel de primeiro barítono (Lord Enrico d’Ashthon) da ópera Lucia di Lamermoor, de Donizetti. Cantei esse papel em novembro de 1977, no Teatro Rivoli (Porto)…
Toda esta “bola de neve” a partir da conclusão do curso superior de canto em 1974, todo o incrível desencadear de situações até finais de 1977, todo o ano de 1977 sobretudo, tudo isso responde à sua pergunta… Parafraseando, em contraste, um fadista, diria: “Ser cantor não foi meu sonho, mas cantar foi o meu fado…”
Dos anos em que estudou Música e Canto, que professores tiveram uma influência mais decisiva?
Nos conservatórios do Porto e de Lisboa, tive a felicidade de ser orientado respetivamente pelas professoras D. Isabel Mallaguerra e D. Helena Pina Manique, e ainda, por algum tempo, pela D. Arminda Correia, sem esquecer o Prof. Álvaro Benamor (cena).
Em Paris, como olvidar o trabalho com a famoso baixo Huc-Santana e o não menos célebre barítono Gabriel Bacquier? Em Itália, e aqui em Portugal, Gino Bechi foi simplesmente precioso no trabalho vocal e cénico. Este famoso barítono, que também me honrava com a sua amizade, cantou nos anos 40, em todos os grandes palcos do mundo. A sua famosa “entrega” aos espetáculos e nos espetáculos, quer cenicamente mas sobretudo vocalmente, levou-o a tal desgaste que teve de terminar a sua carreira por volta dos 40 anos, precisamente com a idade com que eu comecei…
Foi difícil deixar de ser padre e optar pela carreira musical?
Quando, em finais dos anos 60, me matriculei no Conservatório do Porto, confesso que o meu sonho era dar uma componente artística à minha missão de padre.
Começaram a surgir, porém, situações que não deixaram de me ir perturbando. Alguma confusão começou a instalar-se nos meus horizontes… Estávamos em pleno pós-74… Sobretudo a partir de 1977, comecei a sentir-me ultrapassado pelos acontecimentos. Tinham de ser tomadas decisões… Não podia viver na ambiguidade!… Houve muitas dúvidas, muitas incertezas… O meu Padre Provincial de então propôs-me fazer as duas coisas: padre e cantor… Tudo se desenrolava vertiginosamente… Eram convites para concertos, para óperas, etc.
Cheguei mesmo a atuar durante não pouco tempo, estando ainda no exercício do ministério… Fui chegando à conclusão de que as duas funções não faziam grande sentido… Em finais de 1978, acabei por tomar a decisão: pedi para Roma a dispensa do exercício das ordens. Não tive resposta fácil. Demorou mais de dois anos. Pelo meio, um apelo a que repensasse…
Qual foi o papel da Igreja na sua vida musical?
Primeiramente, como é obvio, penso em todo o curso do seminário. Para além de todos os aspetos da formação, a música da Igreja, o canto gregoriano, ocupou uma grande parte desse período, quer na teoria, quer na prática. O nosso Cantuale, um livro específico da Congregação da Missão com os mais belos cânticos gregorianos e muitos outros, a uma ou mais vozes, dominou grande parte desses anos, as nossas vozes e as nossas almas.
No seminário Maior, durante o curso de filosofia e teologia, para além das mais belas obras de polifonia sacra, cantávamos, todos os domingos e festas, o “comum” e o “próprio” em gregoriano, de acordo com o emblemático Liber Usualis, a mais completa obra do canto da Igreja. Tudo isto, naturalmente acompanhada da parte teórica, marca indelevelmente a minha personalidade e a minha formação musical. E não esqueço que quase sempre, alternadamente, fui organista e solista…
Após a ordenação, seguiram-se anos dominados pelo Concílio do Vaticano II, com uma série extraordinária de documentos sobre a música e a liturgia em vernáculo,com o aparecimento de excelentes compositores. E foram sempre surgindo, com os diversos papas, importantes documentos sobre a música litúrgica. Não posso esquecer os “famosos” cursos gregorianos de Fátima que frequentei.
Durante os anos 1977-1995, em que a vida artística teve o seu lado prioritário, nunca deixei de estar atento aos documentos da Igreja sobre música sacra e à obra de excelentes compositores que temos.
A partir de 1997, já no pós – S. Carlos, a pedido do meu grande amigo Conégo José Serrasina que acabava de ficar à frente da Paróquia dos Anjos, em Lisboa– a minha paróquia -, comecei a orientar o coro paroquial, tomando a peito a renovação dos cânticos e a dinamização litúrgica. Baseava-me sempre nos textos de cada celebração. Após 5 anos de intenso e profícuo trabalho, abracei outro projeto – na Capela do Palácio da Bemposta (Academia Militar), onde colaborei durante 13 anos (2003 – 2016). Durante este período, compus dezenas de cânticos que vieram a ser publicados pela Academia Militar, em 2012, num volume com o título Deus é Amor. Porque o “contexto” de então era “específico”, o referido volume irá “sofrer” brevemente substancial alteração.
Qual foi a maior deceção na sua vida?
Se me permite, não apresentaria uma mas duas deceções, e ambas no âmbito do mundo lírico. A primeira, logo de início. Tinha feito 40 anos. Eram diferentes, agora, o sonho e o ideal. Imaginava que perante mim, ia surgir um meio pleno de elevação, um ambiente superior, de arte, de cultura, etc. Cedo, porém, fui verificando e concluindo que as cores que sonhara belas, não, não o eram assim tanto… A realidade era bastante mais prosaica… Bem!… Respirei fundo, bem fundo, passe a expressão… E, vamos a isso!… Mas vamos mesmo! O desafio que ora iniciava era para ganhar, era mesmo para vencer!… E foi! Não tive o caminho atapetado de rosas, longe disso, muito longe! Foram necessárias uma fibra excecionalmente forte como considero ter, uma fé inabalável em Deus como efetivamente tenho, e também, obviamente, uma grande confiança nos talentos que Deus me deu, aliados à formação que tive (não poderei esquecê-lo!) E…aí vou eu!… E nem tudo foram espinhos, digamos em abono da verdade. Tive um público que me admirava e apoiava bastante, excelentes e excecionais críticas, outras nem tanto… E, entre um pessoal que rodava as três centenas (coro, orquestra, cantores, técnicos, etc), tive não poucos amigos e admiradores! Não esqueço que, logo no começo, nos primeiros ensaios, vi lágrimas nos olhos de algum do pessoal, ao verem a minha entrada enérgica, decidida, confiante, e pensando no “mundo” donde acabava de chegar… aos 40 anos!…
A segunda deceção foi no fim. Em finais de 92, a SEC, tendo à frente o Dr. Pedro Santana Lopes, achou por bem dissolver a Companhia Portuguesa de Ópera (cantores, orquestra, etc). Éramos 14 os cantores principais. Mesmo tendo em conta que eu continuava a cantar no país e não só, esta foi sem dúvida uma grande deceção. Aos 55 anos, encontrava-me no ponto mais alto da carreira, a nível vocal e cénico, na minha opinião e na de quantos me conheciam e ouviam! Esperava estar “em grande” mais uma boa dezena de anos… Lembrei-me então das palavras de Gino Bechi, quando, certo dia, nos anos 80, após fazer as célebres e espetaculares demonstrações, vocais e cénicas, durante um ensaio, e quando já contava perto dos 80 anos, teve este desabafo: “Agora é que eu sei cantar!”
Pois é!… Parafraseando o meu mestre, diria: “Agora… é que eu sabia cantar!…”
Qual foi o momento mais alto da carreira como cantor lírico?
Desempenhei os mais diversos papéis de 1º barítono, de baixo-barítono, papéis característicos, enfim, foram cerca de 50… Nunca tive um fracasso nos meus desempenhos. Pelo contrário! Escolher o momento mais alto?!… É difícil!… Estou a lembrar-me de não poucos… Do “Le Grand-Prêtre de Dagom” da ópera Samson et Dalila, de Saint-Saëns, em 1983. Quis preparar o papel em Lyon com o meu ex-professor de Paris, o grande barítono Gabriel Bacquier. Estou a recordar-me do “Dulcamara” da ópera L’Elisir d’Amore, de Donizetti, em 1984 e 1985… Do “Rocco”, da ópera Fidelio de Beethoven… Enfim, não vou alongar-me na citação de outras boas e belas hipóteses…
Mas vou escolher como momento mais alto uma ópera fora do estilo clássico: a ópera Kiú, do compositor espanhol Luís de Pablo, levada à cena em 1987 no Teatro Nacional de São Carlos. O meu papel de Babinshy, o pivô da ópera, na sua grande espetacularidade e dificuldade vocal e cénica, foi na verdade um momento muito alto na minha carreira! Não foi por acaso que o próprio compositor Luís de Pablo e o maestro Jesús Ramón Encimar me convidaram, 5 anos depois (dezembro de 1992 – janeiro de 1993), para interpretar em Madrid o mesmo papel!…
Quais foram os cantores líricos mundiais que mais o inspiraram?
Estavam na moda, nos anos 60, cantores líricos que deveras nos entusiasmavam. Lembro-me, por exemplo, de Mário Lanza, de Luís Mariano, de Alfredo Krauss que vim a conhecer em São Carlos, e com o qual contracenei, inicialmente, num ou noutro pequeno papel. E vários outros, quase todos tenores. O meu tipo de voz é de barítono ou de baixo-barítono. Mas foi sobretudo a partir do Curso Superior de Canto que comecei a interessar-me por vozes líricas, o que é absolutamente natural. Dado o meu tipo de voz, cerca de cinco ou seis cantores internacionais dominavam particularmente os meus gostos. Comecemos pelos alemães Dietrich Fischer-Dieskau e Hermann Prey, barítonos. O primeiro, absolutamente excecional em lied, tendo cantado praticamente tudo o que havia nesse domínio. Muitos o consideraram o maior músico do século XX. Foi inclusivamente maestro de música sacra. Ouvi-o ao vivo em Paris. Hermann Prey era superior como ator. As suas interpretações em óperas de Mozart, Rossini, Donizetti ficaram memoráveis. Outros dois barítonos ou baixo-barítonos, Fernando Corena e Rolando Panerai, eram também grandes cantores e atores, mais característicos que os anteriores. Outro barítono que, vocalmente (não cenicamente) me enchia as medidas, era Piero Cappuccilli. Era um barítono a que eu chamaria heróico-dramático, com uma incrível potência de voz. Jamais esquecerei o seu desempenho em Simon Boccanegra de Verdi, no São Carlos…
Poderia obviamente alongar-me, no que às vozes masculinas diz respeito. Mas também não posso deixar de me referir a vozes femininas que, além de nós deixarem siderados, tanto nos ensinaram! Antes de mais, Maria Callas!… Depois, uma Victoria de los Angeles que cheguei a ouvir na Gulbenkian. Fiorenza Cossotto, Mirella Freni, Christa Ludwig… Monserrat Caballé que ouvi em Paris dirigida por Leonard Bernstein… Uma Joan Sutherland, La Stupenda, a tal que cantou a Traviata no Coliseu na famosa noite de 24 para 25 de abril de 1974, com o já citado Alfredo Kraus… E eu estava lá!…
Quais os músicos portugueses mais influentes na sua carreira?
Por músicos, entendo compositores, professores, pianistas, ensaiadores, “pontos”, cantores, e, porque não, críticos… Antes de mais, as minhas duas professoras nos conservatórios do Porto e de Lisboa, respetivamente: Isabel Malaguerra e Helena Pina Manique. A professora D. Arminda Correia fez de forma extraordinária a breve transição entre uma e outra. Álvaro Benamor, na classe de ópera. A pianista Maria Helena Matos que me acompanhou com enorme competência desde o Conservatório Nacional, incluindo o exame final, e praticamente em todos os recitais que fui dando ao longo da carreira. O maestro Armando Vidal, músico de gema, com o qual preparei, como a generalidade dos artistas, quase todos os papéis que tinha a desempenhar nas dezenas de óperas em que fui interveniente. Entre os maestros – “pontos” – , não esquecerei o maestro Pasquali que tão competentemente orientou, durante os primeiros tempos, as nossas intervenções em palco, e o maestro Ascenso de Siqueira, grande e bom amigo e incrível ser humano… Tive a felicidade de trabalhar com encenadores como António Manuel Couto Viana, que me honrava com a sua amizade, Carlos Avillez (em várias óperas), Luís Miguel Cintra, João Lourenço…
Cantores? Álvaro Malta, Hugo Casaes, Elizette Bayan, Armando Guerreiro, e outros… Lembro-me ainda de preciosas “dicas” que me deu Álvaro Malta…
Compositores? Antes de mais, o Prof. Cândido Lima. Conheci-o em Paris. Conversávamos muito. Não esqueço o dia em que ele me apresentou ao seu amigo Iannis Xenakis… Fomos juntos a vários concertos. Preparei, com ele ao piano, algumas obras suas para canto. Foi meu pianista num concurso de canto em que fui premiado… Tudo isto em Paris, em 1977.
Com o grande compositor Fernando Lopes-Graça, tive a honra de preparar um importante papel de solista na sua obra As Sete Predicações d’Os Lusíadas, em vista à estreia mundial da mesma no VI Festival da Costa do Estoril (1980). Joly Braga Santos honrava-me com a sua amizade e admiração. Com ele ensaiei o papel de solista na sua Cantata Das Sombras, sobre texto de Teixeira de Pascoaes, para primeira audição mundial no Teatro de S. Luís, a 27 de julho de 1985, com o Coro Gulbenkian, e enquadrada no XI Festival de Música da Costa do Estoril. De Joly Braga Santos nunca poderei esquecer as suas palavras, em pleno palco, no fim da última récita da sua Trilogia das Barcas, em maio de 1988: “Estou a compor uma ópera, para a Expo de Sevilha (daí a 4 anos), baseada numa obra de Frederico Garcia Llorca, Bodas de Sangue e tenho um muito bom papel para si”. Entretanto, o maestro falecia 2 meses depois, a 18 de julho de 1988, o que constituíu uma grande perda para o País, para a cultura portuguesa.
Quanto a críticos, devo dizer que, entre outros, Francine Benoit, João de Freitas Branco, José Blanc de Portugal muito me encorajaram e elogiaram!
E hoje, o que acha da evolução da ópera em Portugal?
Francamente, tenho dificuldade em responder. Há cerca de vinte e cinco anos, após a extinção da Companhia Portuguesa de Ópera e de ter dado como terminada a minha carreira lírica, abracei outro projeto e alheei-me bastante desse tema. Sei que, sobretudo por razões orçamentais, a programação se ressente, e muito. Tudo parece ser diferente. Repito: não tenho dados que me permitam fazer qualquer juízo de valor…
O que pensa do papel da música na Igreja?
Desde o Seminário Maior, fui lendo atentamente, e mais que uma vez, os documentos papais que surgiram desde o princípio do século XX:
o Motu próprio de São Pio X (1903) sobre a Restauração da Música Sacra;
a Constituição Apostólica Divini Cultus (1928) no pontificado de Pio XI, sobre a liturgia e a música sacra; a Encíclica Musicae Sacrae Disciplina (1953), do Papa Pio XII, sobre a Música Sacra, vocal e instrumental.
Logo após o Concílio do Vaticano II, surge a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (1963), a realçar que “a acção litúrgica reveste maior nobreza quando é celebrada com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação ativa do povo”. E quando fala de canto, obviamente que se refere ao canto sagrado intimamente unido com o texto. E se o canto gregoriano ocupa sempre um lugar privilegiado em igualdade de circunstâncias, não são excluídos os outros géneros de música sacra mormente a Polifonia, desde que em harmonia com o espírito da ação litúrgica, e de acordo com os diversos tempos litúrgicos, com as diversas celebrações e os vários momentos da celebração. Compositores, organistas, mestres de coro, cantores, músicos (instrumentistas) devem formar um todo para o esplendor do canto.
Alguns anos após o Concílio, a famosa Instrução Musicam Sacram (1967), da Sagrada Congregação dos Ritos, é a síntese, diria perfeita, do que à Música Sacra diz respeito, desde o canto na celebração da missa, passando pela preparação de melodias para os textos em vernáculo, depois a música para instrumental, o Canto no Ofício, etc etc.
O assunto levar-nos-ia ainda a três ou quatro intervenções de São João Paulo II, a uma célebre conferência do Cardeal Ratzinger (mais tarde Papa Bento XVI) em 1985, a uma Nota Pastoral dos nossos bispos por ocasião do Ano Europeu da Música (em novembro de 1985).
E o nosso Papa Francisco, por mais de uma vez, tem insistido que a Música Sacra e Canto Litúrgico devem estar plenamente inculturados nas linguagens artísticas atuais.
Quais os compositores que mais ouve e, desses, que obras prefere?
J.S. Bach é incontornável. Oiço com frequência, por exemplo, a Cantata do Café, cuja ária Hat man nicht mit seinen kindern fez parte do programa do meu exame do Curso Superior de Canto de Concerto, e foi uma das provas de acesso ao Coro Gulbenkian, em novembro de 1974; a Missa em Si m, cujas árias de baixo cantei; e a Paixão Segundo S. João, em que interpretei o papel de Jesus, no Porto, em abril de 1977, quando ainda estagiava em Paris… Haëndel (O Messias, e Música Aquática); Beethoven (Sinfonias 3, 6 e 9) e a ópera Fidelio, cujo papel de Rocco desempenhei em junho de 1986; Mozart (o Requiem que, enquanto membro do Coro Gulbenkian, cantei no Coliseu em 1975, com gravação para a Erato; a Sinfonia nº 40, etc etc); Haydn (A criação, a Missa de Santa Cecília e a Sinfonia Concertante); Bizet (Carmen); Bramhs (Um Requiem Alemão);Rossini (Stabat Mater); Tchaickowsky (Romeu e Julieta e Francesa da Rimini; Dvorak (Sinfonia nº 9, O Novo mundo); Ravel (Bolero); Rodrigo (Concerto de Aranjuez); Strauss (valsas); Elgar (Concerto para violoncelo).
E muito, muito mais, obviamente.
O que o levou a colecionar livros e discos?
Certamente, e de uma forma geral, o meu gosto pela música, a ligação à Igreja, o meu profissionalismo, a cultura. É claro que tudo se desenrola de acordo com as diversas etapas da vida:
a minha função de professor de Música (além de outras disciplinas) no seminário menor, após a minha formação, e o começo dos meus estudos no Conservatório;
a minha transição para a vida pastoral, durante 3 anos;
a minha ida para Lisboa para concluir o curso Superior, do Conservatório, e a minha curta passagem pela Fundação Gulbenkian;
o meu estágio de dois anos em Paris, concluído com 2 meses em Itália;
o começo e a continuação da minha carreira lírica no Teatro Nacional de São Carlos;
os 3 anos pós-São Carlos em que continuei a minha carreira;
o abraçar de novo projeto: “trabalhar” um coro inserido numa missão pastoral na Paróquia dos Anjos (Lisboa), a minha Paróquia, a partir de 1997 e, posteriormente, de 2003 a 2016, na capela do Palácio da Bemposta (Academia Militar);
e porque não dizê-lo, as minhas viagens de automóvel, algumas longas, nos anos 70 e daí para cá, para já não falar da minha própria casa…
Como vê, são muitas as etapas e as circunstâncias em que procurei estar sempre em dia e dentro das exigências das mesmas. Livros, discos, cassetes, CDs, DVDs eram verdadeiros instrumentos de trabalho, de cultura, de ocupação, de prazer…
Julgo ter sintetizado as razões da minha importante biblioteca e discoteca, das quais progressivamente e criteriosamente, me vou voluntariamente desfazendo.
Antes da sua formação académica no conservatório, que lugar tinha a música erudita no seu papel de formador no seminário?
Além de renovar completamente o repertório de cânticos religiosos que vinha de há longos anos (o que supunha rodear-me de bom material), comecei a interessar-me por vozes maravilhosas que os discos faziam chegar até nós (Mario Lanza, Luis Mariano, Alfredo Krauss etc, e por orquestras excecionais que nos traziam as mais belas melodias clássicas, canções famosas, música de filmes históricos…
Tive sempre a preocupação de partilhar com os meus jovens alunos algum desse maravilhoso mundo musical… Era importante para a educação da sua sensibilidade, dos seus gostos, da sua cultura.
Lembro-me, e muitos ex-alunos (quer do seminário, quer do ensino público) se recordarão de ter dado a ouvir, entre outras obras, uma pequena peça do compositor russo Alexander Borodine. Tratava-se de Nas estepes da Ásia Central. Era a caravana que surgia ao longe, a marcha dos camelos, a intensidade instrumental que “subia” a anunciar a chegada da caravana, a permanência no terreno, o retomar da marcha, os sons que se iam extinguido… até a caravana se perder de vista!… Era tudo tão belo, tão claro! Apaixonante!… O interesse era enorme. Os alunos começavam a compreender que a música tem um sentido, um conteúdo, uma intenção, uma finalidade, uma expressão!
O mesmo sucedeu com outras obras, como o Hino da Alegria, da IX Sinfonia de Beethoven! Etc etc.
Mas adverti-os sempre para que nada disto desviasse a atenção do essencial da sua formação!…
A azeitona já está preta, Já se pode armar aos tordos, Diz-me lá, ó cara linda: Como vais d’amores novos? Já se pode armar aos tordos.
É mentira, é mentira, É mentira, sim, senhor! Eu nunca roubei um beijo, Quem mo deu foi meu amor.
Quem me dera ser colete! Quem me dera ser botão, Para andar agarradinha Juntinho ao teu coração! Quem me dera ser botão!
É mentira, é mentira, É mentira, sim, senhor! Eu nunca roubei um beijo, Quem mo deu foi meu amor.
Ai, que lindo chapéu preto Naquela cabeça vai! Ai, que lindo rapazinho Para genro do meu pai! Naquela cabeça vai!
É mentira, é mentira, É mentira, sim, senhor! Eu nunca roubei um beijo, Quem mo deu foi meu amor.
É mentira, é mentira, É mentira, é mentira, É mentira, é mentira…
Letra e música: Arlindo de Carvalho Intérprete: Celeste Rodrigues* [in EP “Celeste (Chapéu Preto)”, Parlophone/VC, 1959; reed. digital: Edições Valentim de Carvalho, 2019]
A lua nasceu
[ Canção de Embalar ]
A lua nasceu e cresceu no além, A noite surgiu também. Faz ó-ó, meu amor, Porque eu velo por ti! Só aos anjos a lua sorri.
Tu verás, meu amor, Como é bom sonhos ter: Deus te dê os melhores que houver. Faz ó-ó, meu amor, Porque eu velo por ti! Só aos anjos a lua sorri.
E tens, porque eu sei e roguei ao Senhor, Um sonho de paz e amor. Meu amor, vai dormir! Vai dormir e sonhar! Deixa a lua sorrir lá no ar.
Tu verás, meu amor, Como é bom sonhos ter: Deus te dê os melhores que houver. Faz ó-ó, meu amor Porque eu velo por ti! Só aos anjos a lua sorri.
Letra e música: Tradicional Intérprete: Musica Nostra (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)
Ai amor
[ Canção de Ida e Volta ]
Ai amor O tempo vai e vem Os meus olhos Não são de mais ninguém
Quem partiu Canta o que deixou Haja alguém Que mesmo assim cantou
Ai amor O tempo vai e vem
Estas casas Não mudarão de cor São de prata À hora do Sol-pôr
Corre o vento Dos lados de Espanha Ai amor A ver se me apanha
Estas casas Não mudarão de cor
Ai amor O tempo vai e vem Os meus olhos Não são de mais ninguém
Volta a rola Sabe o seu caminho Volta alguém Há luz no montinho
Ai amor O tempo vai e vem
Letra: João Monge Música: João Gil Intérprete: Ala dos Namorados / voz de Nuno Guerreiro (in CD “Por Minha Dama”, EMI-VC, 1995)
Amor com amor se paga
Amor com amor se paga. Porque não pagas, amor? Olha que Deus não perdoa A quem é mau pagador!
Amor, não me escrevas cartas, Que, bem sabes, não sei ler! Quando sentires saudades, Perde um dia e vem-me ver!
Amor com amor se paga: Nunca vi coisa mais justa; Paga-me contigo mesma, Meu amor, pouco te custa!
Ainda depois de morto, Debaixo do frio chão, Hás-de achar o teu nome Escrito no meu coração.
Dá-me um beijo, eu dou-te dois! A minha paga é dobrada: É o jeito de quem ama, Pagar e não dever nada.
Amor com amor se paga: Nunca vi coisa mais justa; Paga-me contigo mesma, Meu amor, pouco te custa!
Amor com amor se paga. Porque não pagas, amor? Olha que Deus não perdoa A quem é mau pagador!
Amor, não me escrevas cartas, Que, bem sabes, não sei ler! Quando sentires saudades, Perde um dia e vem-me ver!
Amor com amor se paga: Nunca vi coisa mais justa; Paga-me contigo mesma, Meu amor, pouco te custa!
Letra: Quadras populares Música: César Prata Arranjo: César Prata e Vânia Couto Intérprete: César Prata e Vânia Couto Versão original: César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)
Reciclanda
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Ao meio do quarto
[ Na Volta de um Beijo ]
Ao meio do quarto uma rosa cai no chão Ao fundo do peito uma letra sem canção Ao canto da sala guitarras sem bordão Lá fora do meu peito andas tu e o meu perdão
Sentada cá dentro olho a cruz, está sem pregão Caiu-me a jarra das mãos, caiu uma rosa de paixão Fechaste o teu peito, levaste-me o coração Agora andas tu lá fora, sozinho sem paixão
Chora, chora, e a mim que se me dá! Chora, chora, e a mim que se me dá!
Eu hei-de ir à romaria pedir a Nossa Senhora Que me traga o meu amor que anda pelo mundo fora E assim vê-lo na volta, na volta de um beijo Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo
Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo
Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo
Letra: Tradicional e Tiago Curado de Almeida Música: Tiago Curado de Almeida (com motivo melódico de “Boys Don’t Cry”, da autoria de Robert Smith) Intérprete: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)
Ao princípio
[ Nasce Afrodite, amor, nasce o teu corpo ]
Ao princípio, é nada. Um sopro apenas, Um arrepio de escamas, um perpassar de sombra Como de nuvem marinha que se esgarça Nos radiais tentáculos da medusa. Não se dirá que o mar se comoveu E que a onda vai formar-se deste frémito. No embalo da água oscilam peixes E das algas as hastes serpentinas À corrente se dobram, como ao vento As searas da terra e as crinas dos cavalos. Entre dois infinitos de azul a onda vem, Toda de sol vestida e rebrilhante, Líquido corpo de reflexos cegos. E da terra, o vento corre para ela, Tal o macho cioso para a fêmea aberta, Transportando consigo o pólen das flores. Fecundada, a onda rola agora, trovejando, Na corrida para o parto que a espera No leito de negras rochas que, na costa, Se adorna de mil vidas fervilhantes. Mais alto ainda as águas se suspendem No segundo final da gestação imensa. E quando, num furor de vida que começa, A onda se despedaça no rochedo, O envolve, o cinge, o aperta e dilacera, Da branca espuma, do sol e do vento que soprou, Dos peixes, das flores e do seu pólen, Das algas trémulas, do trigo e dos braços da medusa, E das crinas dos cavalos, do mar, da vida toda, Nasce Afrodite, amor, nasce o teu corpo.
Chamava-se Nini
[ Nini dos Meus Quinze Anos ]
Letra: Fernando Assis Pacheco Música: Paulo de Carvalho Intérprete: Paulo de Carvalho (in LP “Volume I”, 1978; CD “Vida”, Farol, 2006)
Chamava-se Nini Vestia de organdi E dançava (dançava) Dançava só pra mim Uma dança sem fim E eu olhava (olhava)
E desde então se lembro o seu olhar É só pra recordar Que lá no baile não havia outro igual E eu ia para o bar Beber e suspirar Pensar que tanto amor ainda acabava mal
Batia o coração mais forte que a canção E eu dançava (dançava) Sentia uma aflição Dizer que sim, que não E eu dançava (dançava)
E desde então se lembro o seu olhar É só pra recordar Os quinze anos e o meu primeiro amor Foi tempo de crescer Foi tempo de aprender Toda a ternura que tem o primeiro amor Foi tempo de crescer Foi tempo de aprender Que a vida passa Mas um homem se recorda, é sempre assim Nini dançava só pra mim
E desde então se lembro o seu olhar É só pra recordar Os quinze anos e o meu primeiro amor Foi tempo de crescer Foi tempo de aprender Toda a ternura que tem o primeiro amor Foi tempo de crescer Foi tempo de aprender Que a vida passa Mas um homem se recorda, é sempre assim Nini dançava só pra mim
Chamei-te linda
Chamei-te linda, engraçada Da graça que Deus te deu E tu deste uma risada Quem a não tinha era eu
Que mais eu posso fazer Fazer eu posso, ai de mim P’ra um dia te ouvir dizer Ouvir-te dizer que sim
Deixa-me ao menos a esperança A derradeira a morrer “Quem espera sempre alcança” Foi sempre o que ouvi dizer
És a flor que mais desejo Das flores do meu roseiral Quanto, rosa, te não vejo A vida corre-me mal
Sei que tu és o meu par Sei que nasceste p’ra mim Não se devem afastar Flores do mesmo jardim
Rosa branca, tua cor, No dia em me quiseres Farei de ti, meu amor, A mais feliz das mulheres
És a flor que mais desejo Das flores do meu roseiral Quanto, rosa, te não vejo A vida corre-me mal
Sei que tu és o meu par Sei que nasceste p’ra mim Não se devem afastar Flores do mesmo jardim
Rosa branca, tua cor, No dia em me quiseres Farei de ti, meu amor, A mais feliz das mulheres
Letra e música: Aníbal Raposo (2011-02-13) Intérprete: Aníbal Raposo (in CD “Rocha da Relva”, Aníbal Raposo/Global Point Music, 2013)
Coração, meu coração
[ Coração Que me Pertence ]
Coração, meu coração Que sonhavas esta vida, Por que razão tu paraste? Não digas que adivinhaste Na hora da despedida Desta sublime afeição?
Quantas horas, tantas horas Esvoaçaste de mansinho No carinho do meu jeito! Já nem sabes onde moras, Descuidado passarinho, Se no teu se no meu peito.
Fechei meus olhos perdidos, Não fosse com o desgosto Rogarem-te alguma praga… Que os teus hão-de ver, sentidos, No braseiro do sol-posto O sangue da minha mágoa.
E no fogo da ambição, Que ao amor julga que vence, Queimaste a minha raiz… Como pode ser feliz Coração que me pertence No calor duma outra mão?
Como pode ser feliz Coração que me pertence No calor duma outra mão?
Letra e música: Armando Estrela Intérprete: Tereza Tarouca (in single “O Mangas / Coração Que me Pertence”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1979; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994)
Dei-te um desenho meu
[ Eu gosto de ti ]
Dei-te um desenho meu Feito com as cores do céu Pra guardares junto a ti Sempre que eu for embora
Dei-te um desenho meu (dei-te em desenho meu) Que não caiu do céu Com os teus lápis de cor Juntei o teu amor ao meu
Recordações de belas canções Contigo, baixinho Recordações de nós
Sei que o tempo passa, voa Que eu sinto falta Mas o caminho é voltar Sempre Pra te poder abraçar
Sempre O meu caminho é voltar pra dizer Eu gosto de ti Sim, eu Eu gosto de Eu gosto de ti
Dei-te um desenho meu (dei-te em desenho meu) Feito com as cores do céu Pra guardares junto a ti sempre que eu for Embora
Recordações daqueles verões Contigo, contigo Recordações de nós
Sei que o tempo passa, voa Que eu sinto falta Mas o caminho é voltar Sempre Pra poder te abraçar Sempre
O meu caminho é voltar pra dizer Eu gosto de ti Sim, sim eu Eu gosto de ti Eu gosto de ti Sim gosto Sim, eu Eu gosto de ti Eu gosto de ti Sim, eu Eu gosto Eu gosto de ti
Música: Marisa Liz, Tiago Pais Dias Intérprete: Elas (Áurea, Marisa Liz)
Descobri-te na minha boca
[ Quebranto ]
Descobri-te na minha boca Na minha pele fria deixada na cama vazia Encontrei o teu sabor nos meus lábios Nos lençóis caídos no chão Na manhã de uma primeira noite Do teu corpo inundado em mim Só não estás tu e o meu coração
Saí de casa à vossa procura Sem eira nem beira Como vagabunda, sem faro, sem dono Parei na tua rua onde te encontrei Pela primeira vez Entre um copo de vinho e um fado vadio Só não estás tu e o meu coração
Onde estás, coração? Esse homem ladrão Que me fez um quebranto Canto, suor, engano cigano, um encanto Coração! Onde estás, coração? A vida tropeça nas mãos Deita-se contigo e foge na madrugada
Perdida, relembro-te à mesa Entre a neblina do fumo e um sorriso mudo Como quem pede por mim Sentei-me, falaste com a guitarra Primeira vez que te vi Primeira vez que me dei Sem pudor nem amor Até que percebi: Só não estás tu e o meu coração
E agora só me resta a noite Sou um corpo dos outros Sem alma, sem fé nem desdém Despida de amor Teu corpo uma canção que não pára Meu corpo a tua guitarra Meu fado é um filho perdido Sozinho nas ruas sem mim Já não sou eu, perdi o meu coração
Onde estás, coração? Esse homem ladrão Que me fez um quebranto Canto, suor, engano cigano, um encanto Coração! Onde estás, coração? A vida tropeça nas mãos Deita-se contigo e foge na madrugada
Letra e música: Vânia Couto Intérprete: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)
É a tua vida que eu quero bordar
[ A Linha e o Linho ]
É a tua vida que eu quero bordar na minha Como se eu fosse o pano e tu fosses a linha E a agulha do real nas mãos da fantasia Fosse bordando ponto a ponto o nosso dia-a-dia E fosse aparecendo aos poucos o nosso amor Os nossos sentimentos loucos, o nosso amor O zig-zag do tormento, as cores da alegria A curva generosa da compreensão Formando a pétala da rosa, da paixão A tua vida o meu caminho, o nosso amor Tu és a linha e eu o linho, o nosso amor A nossa colcha de cama, a nossa toalha de mesa Reproduzidos no bordado A casa, a estrada, a correnteza O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza
A tua vida o meu caminho, o nosso amor Tu és a linha e eu o linho, o nosso amor A nossa colcha de cama, a nossa toalha de mesa Reproduzidos no bordado A casa, a estrada, a correnteza O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza
Letra e música: Gilberto Gil Intérprete: Celina da Piedade Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016) Versão original: Gilberto Gil (in LP “Extra”, Warner Bros. Records, 1983, reed. WEA Discos, 1995)
Ela tem a boca torta
[ Os embeiçados ]
Ela tem boca torta nariz grande cabelo mal cortado rói as unhas usa cunhas mas eu estou apaixonado
Ele tem espinhas sardas pontos negros e uma boca exagerada desafina e desatina mas eu estou apaixonada
Ela é ciumenta rabugenta embirrenta e tagarela intriguista e moralista mas eu estou louco por ela
Ele faz cenas gagas altas fitas não tem confiança em mim faz-se caro faz-me trombas mas eu gosto dele assim
Diz-se que o amor é cego deforma tudo a seu jeito mas eu acho que o amor descobre o lado melhor do que parece defeito
Porque eu gosto gosto dele e ela gosta gosta de gostar de mim
Letra: Regina Guimarães Música: Hélder Gonçalves Intérprete: Clã
Em tenra laranjeira
[ Fado Laranjeira ]
Em tenra laranjeira, ainda pequenina, Onde poisava o melro ao declinar do dia, Depois de te beijar a boca purpurina, Um nome ali gravei: o teu nome, Maria.
Em volta um coração também com arte e jeito, Ao circundar teu nome a minha mão gravou: Esculpi-lhe uma data e o trabalho feito, Como selo de amor, no tronco lá ficou.
Mas no rugoso tronco eu vejo com saudade O símbolo do amor que em tempos nos uniu: Cadeia de ilusões da nossa mocidade Que o tempo enferrujou e que depois partiu.
E à linda laranjeira, altar pagão do amor, Que tem a cor da esperança, a cor das esmeraldas, Vão as noivas colher as simbólicas flores Para tecer num sonho as virginais grinaldas.
Letra: Júlio César Valente Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado Alexandrino da Laranjeira) Arranjo: Filipe Raposo e Marta Pereira da Costa Intérprete: Marta Pereira da Costa com Camané (in CD “Marta Pereira da Costa”, Marta Pereira da Costa/Parlophone/Warner Music, 2016) Versão original: Alfredo Marceneiro (in LP “Há Festa na Mouraria”, Columbia/VC, 1965, reed. Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; CD “O Melhor de Alfredo Marceneiro: Vol. 2”, EMI-VC, 1993; CD “Alfredo Marceneiro: Biografias do Fado”, EMI-VC, 1997; CD “Alfredo Marceneiro: Perfil”, Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2010)
Esta noite ao acordar
[ Amor para Dar ]
Esta noite ao acordar Saltei o muro p’ra ficar por cá Deixei de ter p’ra ver que ainda há Amor p’ra dar
Esta noite p’la manhã Fechei a porta p’ra poder sair Da cepa torta sem ter p’ra onde ir E ter de andar
Hoje tive a tentação De te dizer que sim e porque não Pedir-te que vás p’ra voltar Fiquei com a convicção Que no amor mais vale ser um na mão Que dois sem amor p’ra dar
No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar
Esta tarde ao clarear Soltei a corda só p’ra me prender Gritei bem alto p’ra te adormecer E acordar
Ontem quando eu regressar Vou dar-te a mão p’ra te deixar partir Dar-te a razão só p’ra te ver sorrir E acreditar
No tempo em que acontecer É bom saber como é bom não saber De nada p’ra não te contar E por falar em querer Gostar de ti e não querer dizer P’ra nem te deixar duvidar
No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar
Ouvi dizer que as lembranças São novas verdades p’ra nos acordar Ouvi contar que as mudanças São novas vontades p’ra nos ajudar
No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar
Letra e música: Sebastião Antunes Arranjo: Gonçalo Pratas Intérprete: Sebastião Antunes* (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017)
Esta vida
[ Não Há Dinheiro ]
Esta vida, como vês, É sempre a ver se chega o fim do mês Mas por muito que eu não queira Acaba sempre da mesma maneira
Falta isto, falta aquilo Eu já nem sei o que é que falta primeiro: Se é o dinheiro que falta Ou a falta que me faz ter o dinheiro
A jorna não dá p’ra nada, E a gente sempre a dizer que tem que dar Já passaram mais uns dias E o dinheiro está outra vez a acabar
Não há dinheiro, não há dinheiro! Andamos nesta conversa o ano inteiro. Não há dinheiro, não há dinheiro! É cada um que se amanhe, Não há dinheiro!
Eu queria falar contigo Mas não sei como é que te hei-de dizer Eu fui sempre teu amigo Não sei se já me estás a perceber
É que a coisa está difícil
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha* Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019) Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997)
Esta voz com que canto
Esta voz com que canto Vem-me d’alma e o tempo Ensinou-me o encanto Do vento.
É a voz de amor Que vem cá de dentro; É o grito exterior Do pensamento.
O meu amor é todo para ti: Desde que te conheci Canto os teus olhos, a terra e todo o mundo, O meu sentimento mais profundo.
O meu amor é todo para ti: Desde que te conheci Canto os teus olhos, a terra e todo o mundo, O meu sentimento mais profundo.
O meu amor é todo para ti: Desde que te conheci Canto os teus olhos, a terra e todo o mundo, O meu sentimento mais profundo.
[ Um Canto de Mim ]
Letra e música: Daniel Pereira Intérprete: Arrefole (in CD “Veículo Climatizado”, Açor/Emiliano Toste, 2006)
Eu fui, tu foste, ele foi
[ Artes do Futuro ]
Eu fui, tu foste, ele foi Talvez para sempre Como é da nossa humana Condição Levados todos no acre improviso Da loucura
Mas tu, diva esquecida Música que eu faço e me transcendes Sentada na berma do sonho apetecido voltas a despertar do vendaval da espera e regressas ainda hesitante nos meus dedos
E o amanhã pode já ter acontecido hoje mesmo aqui, ao fim da tarde
e assim iremos enganando as artes do futuro
E o amanhã pode já ter acontecido hoje mesmo aqui, ao fim da tarde
e assim iremos enganando as artes do futuro
E o amanhã pode já ter acontecido hoje mesmo aqui, ao fim da tarde
e assim iremos enganando as artes do futuro
Que o amanhã pode já ter acontecido hoje mesmo aqui, ao fim da tarde
e assim iremos enganando as artes do futuro
Letra e música: Pedro Barroso Intérprete: Pedro Barroso Versão original: Pedro Barroso (in CD “Artes do Futuro”, Ovação, 2017)
Eu queria unir as pedras desavindas
[ Não Me Mintas ]
Eu queria unir as pedras desavindas escoras do meu mundo movediço aquelas duas pedras perfeitas e lindas das quais eu nasci forte e inteiriço
Eu queria ter amarra nesse cais para quando o mar ameaçar a minha proa e queria vencer todos os vendavais que se erguem quando o diabo se assoa
Tu querias perceber os pássaros Voar como o Jardel sobre os centrais Saber por que dão seda os casulos Mas isso já eram sonhos a mais
Conta-me os teus truques e fintas Será que os Nikes fazem voar Diz-me o que sabes não me mintas ao menos em ti posso confiar
Agora diz-me agora o que aprendeste De tanto saltar muros e fronteiras Olha p’ra mim vê como cresceste Com a força bruta das trepadeiras
Põe aqui a mão e sente o deserto Tão cheio de culpas que não são minhas E ainda que nada à volta bata certo eu juro ganhar o jogo sem espinhas
Tu querias perceber os pássaros Voar como o Jardel sobre os centrais Saber por que dão seda os casulos Mas isso já eram sonhos a mais
Letra: Carlos Tê Música: Rui Veloso Intérprete: Rui Veloso (in filme “Jaime”, de António Pedro Vasconcelos, 1999; CD “O Melhor de Rui Veloso”, EMI-VC, 2000)
Eu toquei o Sol
[ Lencinho Azul ]
Eu toquei o Sol, beijei o luar, Tropecei no céu e caí no chão; Percorri o mundo e fui encontrar À beira do mar o meu coração.
Do que eu sou Dei-lhe o meu melhor, Oh meu doce amor! Oh minha paixão!
Tudo o que era meu vinha no bornal, Dei-lhe o pão e mel, dei-lhe a minha mão, Um lencinho azul feito em Portugal E os versos de sal da minha canção.
Do que eu sou Dei-lhe o meu melhor, Oh meu doce amor! Oh minha paixão!
Rainha de mim quando me entreguei, Os braços me abriu num chi-coração; Beijinhos me deu, beijinhos lhe dei: Quantos já nem sei, mais do que um milhão.
Do que eu sou Dei-lhe o meu melhor, Oh meu doce amor! Oh minha paixão!
Não saí dali, era já manhã, Seus lábios carmim tal qual um tição; De si me prendeu, deu-me uma maçã, Ofereci-lhe o céu, não disse que não.
Do que eu sou Dei-lhe o meu melhor, Oh meu doce amor! Oh minha paixão!
Do que eu sou Dei-lhe o meu melhor, Oh meu doce amor! Oh minha paixão!
Letra: José Fanha Música: Fernando Pereira Intérprete: Real Companhia (in CD “Serranias”, Tê, 2013)
Façam roda
[ Conto do Bicho Papão ]
Façam roda, a ver quem vai ao meio! Cada um com o seu par tira a pedrinha! Sirumba, acabei eu primeiro! Ficas tu a tapar, não dá madrinha!
Já ninguém te pergunta quantos queres Já não ouves ninguém contar um-dó-li-tá Afinal qual é o dedo que preferes? Quem está livre, livre está!
Ninguém fala do homem do saco Ninguém espreita por baixo do colchão Já ninguém acredita na Côca Nem no bicho papão
Salta à corda, joga à barra do lenço! Adivinha o que eu penso, dá partida! Falua, quem acerta na malha? Danada da canalha está fugida!
Salta ao eixo a fugir à cabra-cega! Olha o meu pião mas eu não to dou, não! Onde é que anda a viuvinha que não chega E a sardinha a dar na mão?
Ninguém fala do homem do saco Ninguém espreita por baixo do colchão Já ninguém acredita na Côca Nem no bicho papão
Ai se eu pudesse habitar um jogo electrónico Voltava a ser falado, voltava a assustar! Imaginem lá qual não era a sensação De uma ‘app’ com o jogo do regresso do papão!
Ninguém fala do homem do saco Ninguém espreita por baixo do colchão Já ninguém acredita na Côca Nem no bicho papão
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019) Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997)
Falei-te
[ Jardim de Poetas ]
Falei-te, Sem querer, de coisas belas Como quem abre janelas P’ra lá do horizonte…
E havia no teu olhar firmamento Para cem vidas por momento Ao sabor de um mar de Inverno
E tu, Sem saber, lá tricotavas Um romance de palavras Sem certezas nem futuro
E tu Sonhavas no areal Com um jardim de poetas Superiores e verticais Que, em rigor, nunca existiu
E tu, Como se fosse há vinte anos, Subiste ao alto das rochas Lá, onde pousam as gaivotas Subiste ao alto das dunas Onde o vento, e só o vento te possuiu
Cresceu-te no peito um mar de prata Como se eu fosse alguma vez exemplo Como se eu fosse, acaso, alguma vez na vida A perfeição
Mas quando te contei coisas de mim Daquelas coisas grandes, que vêm cá de dentro Caíste em ti do sonho e do jardim E fiz-te então, amiga, esta canção
E tu Inda sonhas no areal Com um jardim de poetas Superiores e verticais Que, em rigor, nunca existiu
E tu, Como se fosse há vinte anos, Sobes ao alto das rochas Lá, onde pousam as gaivotas Sobes ao alto das dunas Onde o vento te possuiu
E tu Inda sonhas no areal Com um jardim de poetas Superiores e verticais Que, em rigor, nunca existiu
E tu, Como se fosse há vinte anos, Sobes ao alto das rochas Lá, onde pousam as gaivotas Sobes ao alto das dunas Onde o vento, e só o vento te possuiu
Poema e música: Pedro Barroso (Golegã, Novembro de 2000) Intérprete: Pedro Barroso Versão original: Pedro Barroso (in CD “Crónicas da Violentíssima Ternura”, Lusogram, 2001) Outras versões: Pedro Barroso (in CD “De Viva Voz”, Lusogram, 2002); Pedro Barroso (in DVD “40 Anos de Música e Palavras: 1969-2009”, Ovação, 2009) [>> YouTube]; Pedro Barroso (in DVD “Memória do Futuro: Ao vivo no Rivoli”, Ovação, 2013)
Faz-te mar assim
[ Vals’Ilha ]
Faz-te mar assim, calmo! Abre-me o caminho… Guia o meu batel!
Ouço alguém chamar longe… Pudesse eu sair Para ver Argel!
Quero então dizer-te: Vou p’ra bem distante, Valsa então por mim Aos raios de sol!
Passou tanto tempo Do tempo que invento… Toca-me a saudade.
Canta uma gaivota… Vejo o mar em volta… Dançarei contigo.
Dança esta vals’ilha Aos raios de sol!
Letra e música: Jorge Rivotti Intérprete: Jorge Rivotti Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Canções de Amor Pintadas de Amarelo”, Vachier & Associados, 2010)
Fui ver se um dia te achava
[ Não Sei Nada sobre o Amor ]
Fui ver se um dia te achava no largo, na praça Quis dizer-te, contar-te e falar-te e de hoje já não passa Ai, mas quando te vi as palavras fugiram de mim Parei, sentei, tanto espreitei, só me escondia de ti
Esperei que as palavras voltassem e me levassem até ti Ai, mas por que raio espero eu aqui? Foi então que de tanto esperar atrás do largo da praça Decorei o sorriso mais lindo, já só quero é andar p’ra ti
Ai, mas de tanto tremer, fugiu-me o sorriso de mim Querem ver que agora até parece que já nem sei dizer As palavras mais lindas que guardo só por te ver?! Ai, mas querem lá ver que contigo não sei nada sobre o amor!
Que contigo não sei nada sobre o amor! Que contigo não sei nada sobre o amor! Que contigo não sei nada sobre o amor!
Letra e música: Tiago Curado de Almeida Intérprete: Pensão Flor Versão original: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)
Há já demasiados segredos
[ O Cheiro ]
Há já demasiados segredos nos poros para eu encher a noite de ti mesma.
E um oceano imenso não chega para eu contar todas as arribas deste sal.
A maresia parou, para saber coisas de ti e eu tinha nas mãos apenas as rosas de ontem,
e não sabia nem onde nem como navegar-te.
De longe trouxe a fé que nem eu sabia e deitei-me em teus leitos de alfazema e alecrim. Recolhi quando a noite mansa já amanhecia… E devagar – porque a vida nunca deixa de nos matar um pouco em cada dia – foi no teu regaço que eu adormeci de mim.
E acordei inteiro por sentir o teu cheiro na cama e enrolei-me nos lençóis, mesmo já sem ti de corpo inteiro.
Não quero saber de mais nem tenho que explicar.
É este o cheiro. Eu quero aqui ficar. Eu quero aqui ficar. É este o cheiro.
E acordei inteiro por sentir o teu cheiro na cama e enrolei-me nos lençóis, mesmo já sem ti de corpo inteiro.
Não quero saber de mais nem tenho que explicar.
É este o cheiro. Eu quero aqui ficar. Eu quero aqui ficar. É este o cheiro.
Poema e música: Pedro Barroso Intérprete: Pedro Barroso Versão original: Pedro Barroso (in CD “Sensual Idade”, Ovação, 2008) Outras versões: Pedro Barroso (in DVD “40 Anos de Música e Palavras: 1969-2009”, Ovação, 2009)
Há um caminho inseguro
[ Paixão ]
Música: Jorge Fernando Intérprete: Mariza
Há voos de pássaros nos teus olhos
[ Poema para o Meu Amor ]
Há voos de pássaros nos teus olhos castanhos de sereia Batuques africanos no balouçar do teu corpo de gazela E há frutos maduros na tumidez dos teus pequenos seios E promessas loucas na humidade dos teus lábios entreabertos
Há como um tango argentino no desafio da tua cintura estreita Há um doce encanto no urdir das tuas trancinhas de menina E há estranhos sortilégios escondidos nas tuas mãos de fada E há rouxinóis magoados, tão magoados de cada vez que cantas
Há ondas de ternura neste teu jeito tão suave E danças peruanas nas tuas ancas pela alba Há calor dos trópicos no aperto dos teus braços tão sinceros E uma paz das ilhas no teu macio leito de princesa
Há druidas, de novo, preparando filtros à sombra de carvalhos E lagos privados onde nadam altivos cisnes brancos E há luas de fajãs que riscam no mar trilhos de prata E nascentes de água que brotam do teu riso cristalino
Letra e música: Aníbal Raposo (Praia Formosa, 2003-08-22) Intérprete: Aníbal Raposo Primeira versão discográfica: Aníbal Raposo (in CD “Mar de Capelo”, Açor/Emiliano Toste, 2017)
Hoje o dia foi um dia assim
[ Canção de Nanar ]
Hoje o dia foi um dia assim: Esta sede e vontade de ti. Se eu pudesse amar-te mais, Bem sei que a lua ia dançar também.
Quantas horas faltam p’ra te ver Nesta espera de aprender a ser? Mais um som no tom do teu brilhar, Mais um traço ao sol do teu vibrar.
Vem saber que o que vejo em ti É sal e sopro e luz dentro de mim; E a música da terra e ar Ficam uma só no teu pulsar.
Se ainda não sorris, carmim, Perdoa a minha falta de cetim! Nas palavras que não escrevi Vive o amor que não se escreve.
Se ainda não sorris, carmim, Perdoa a minha falta de cetim! Nas palavras que não escrevi Vive o amor que não se escreve…
Mas está aqui.
Letra e música: Teresa Gentil Intérprete: Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)
Já pensei dar-te uma flor
[ Adivinha o quanto gosto de ti ]
Já pensei dar-te uma flor, com um bilhete, mas nem sei o que escrever. Sinto as pernas a tremer, quando sorris p’ra mim, quando deixo de te ver. Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim. Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.
Gosto de ti, desde aqui até à lua. Gosto de ti, desde a Lua até aqui. Gosto de ti, simplesmente porque gosto. E é tão bom viver assim.
Ando a ver se me decido, como te vou dizer, como hei-de te contar. Até já fiz um avião, com um papel azul, mas voou da minha mão. Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim. Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.
Gosto de ti, desde aqui até à lua. Gosto de ti, desde a Lua até aqui. Gosto de ti, simplesmente porque gosto. E é tão bom viver assim.
Quantas vezes eu parei à tua porta. Quantas vezes nem olhaste para mim. Quantas vezes eu pedi que adivinhasses. Quanto é que eu gosto de ti.
Gosto de ti, desde aqui até à lua. Gosto de ti, desde a Lua até aqui. Gosto de ti, simplesmente porque gosto. E é tão bom viver assim.
Quantas vezes eu parei à tua porta. Quantas vezes nem olhaste para mim. Quantas vezes eu pedi que adivinhasses. Quanto é que eu gosto de ti.
Gosto de ti, desde aqui até à lua. Gosto de ti, desde a Lua até aqui. Gosto de ti, simplesmente porque gosto. E é tão bom viver assim.
André Sardet
Lá na festa da aldeia
Lá na festa da aldeia, Debaixo da cameleira, Convidaste-me a dançar: Tamanha era a borracheira Que no adro da igreja Nos chegámos a casar.
No nariz, sinal de perigo, Quem dorme contigo Má sorte vai enfrentar: Mas na festa da aldeia, Com as vizinhas na soleira, Eu fui-me enamorar.
Peço aos dias tempo emprestado P’ra apagar esta recordação; Na frase sem predicado Há vírgulas sem cuidado Entre o sujeito e o coração.
Entre o sujeito e o coração.
Lá na festa da aldeia, Debaixo da cameleira, A saia sempre a rodar: A tua mão que se esgueira Debaixo da pregadeira… Eu vermelha, a corar.
No banco, dívidas, assombros; Fiado não vais em ombros; Fim do mês, falta-te o ar; Debaixo da cameleira Foi grande a ciumeira, Começámos a namorar.
Peço aos dias tempo emprestado P’ra apagar esta recordação; Na frase sem predicado Há vírgulas sem cuidado Entre o sujeito e o coração.
Entre o sujeito e o coração.
Mas na festa da aldeia, Tu de mão na algibeira, Nós chegámos a casar: Porque na festa da aldeia Debaixo da cameleira Tu puseste-me a dançar.
Peço aos dias tempo emprestado P’ra apagar esta recordação; Na frase sem predicado Há vírgulas sem cuidado Entre o sujeito e o coração.
Entre o sujeito e o coração.
Letra: Filipa Martins Música: Rogério Charraz Arranjo: João Balão Intérprete: Rogério Charraz (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)
Lindos olhos tem Silvina
[ Ai Silvina, Silvininha ]
Lindos olhos tem Silvina, lindas mãos Silvina tem, e a cintura da Silvina é fina como o azevém.
Em Silvina tudo exala um cheiro de coisa fina, mas o que a nada se iguala é a fala da Silvina.
— Porque não cantas, Silvina? Se a tua voz é tão doce talvez cantada que fosse mais doce que a glicerina.
— Não me apetece cantar e muito menos p’ra ti. Eu sou nova, tu és velho, já não és homem p’ra mim.
— Não me tentes, Silvininha, que eu já nem te olho a direito. Sou como um ladrão escondido na azinhaga do teu peito.
— A azinhaga do meu peito corre entre duas colinas. E o ladrão do meu amor tem pé leve e pernas finas.
— Canta, canta, Silvininha, como se fosse p’ra mim. Dar-te-ei um lençol de estrelas e uma enxerga de alecrim.
— Deixa o teu corpo estendido à terra que o há-de comer. A tua cama é de pinho, teus lençóis de entristecer.
— Canta, canta, Silvininha, uma canção só p’ra mim. Dar-te-ei um escorpião de oiro e um aguilhão de marfim.
— Não quero o teu escorpião, nem de oiro nem de prata. Quero o meu amor trigueiro que é firme e não se desata.
— Pois não cantes, Silvininha, se essa é a tua vontade. Canto eu, mesmo assim velho, que o cantar não tem idade.
Hás-de ser tu morta e fria, cem anos se passarão, já de ti ninguém se lembra nem de quem te pôs a mão.
Mas sempre há-de haver quem canta os versos desta canção: Ai Silvina, ai Silvininha, Amor do meu coração.
Letra: António Gedeão (adaptado) Música: Alain Oulman Intérprete: Camané (in 2CD “Camané: O Melhor 1995-2013 (Edição Especial)”: CD 1, EMI, 2013) Versão original (música de José Barros): José Barros e Navegante com Verónica (in CD “Rimances”, JBN, 2001) Outra versão de José Barros e Navegante, com Isabel Silvestre (in DVD “Cantares do Povo Português”, Ocarina, 2012)
Menina das tranças negras
[ Os Olhos com que Eu te Vejo ]
Menina das tranças negras Levanta a cara bonita Que se o caminho tem pedras A esperança é infinita Menina das tranças negras Ai ai, larai, lai ai
Menina dos meus encantos Princesa do meu destino Os meus anseios são tantos Que o meu fado é um desatino Menina dos meus encantos Ai ai, larai, lai ai
Mal-me-quer ou bem-me-quer Muito, pouco ou nada Eu só quero tudo O que o amor quiser Diga o mundo o que disser Muito, pouco ou nada Bem-me-queres tudo Nada mal-me-quer
Senhora dos olhos tristes Objecto do meu desejo Eu sei que nunca te vistes Nos olhos com que eu te vejo Menina dos olhos tristes Ai ai, larai, lai ai
Mal-me-quer ou bem-me-quer Muito, pouco ou nada Eu só quero tudo O que o amor quiser Diga o mundo o que disser Muito, pouco ou nada Bem-me-queres tudo Nada mal-me-quer Menina dos olhos tristes Ai ai, larai, larai, lai ai
Mal-me-quer ou bem-me-quer Muito, pouco ou nada Eu só quero tudo O que o amor quiser Diga o mundo o que disser Muito, pouco ou nada Bem-me-queres tudo Nada mal-me-quer
Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão) Música: Rui Filipe Reis Intérprete: Rosa Negra (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)
Meu amor disse que eu tinha
[ Cantiga de Seguir ]
Meu amor disse que eu tinha Uns olhos como gaivotas E uma boca onde começa O mar de todas as rotas.
O mundo dá tanta volta; Quem dera que fora assim E que, numa dessas voltas, Tu viesses para mim.
Sei que ele um dia virá, Assim muito de repente, Como se o mar e o vento Nascessem dentro da gente.
Letra: Manuel Alegre (1.ª e 3.ª quadras) e Francisco Menano Música: Ricardo Ribeiro e Pedro Caldeira Cabral Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013)
Meu Amor Eterno
Meu Amor Eterno, Doce verde olhar, Ilumina o meu caminho! Acompanha o meu andar!
Meu Amor Eterno, Mãos de acarinhar, Segura no teu menino! Ajuda-me a continuar!
Meu Amor Eterno, Fada do meu lar, Alimenta-me a saudade! Sacia o meu paladar!
Meu Amor Eterno, Cordão de umbilicar, Relembra-me do teu cheiro! Não me deixes de cantar! [bis]
Ema te fez, Deus te criou, Paulo te abriu, José completou.
“Morrer por morrer!”, Disseste-o assim; Da tua coragem Tiveste-me a mim.
Meu Amor Eterno, Cordão de umbilicar, Relembra-me do teu cheiro! Não me deixes de cantar! [3x]
Letra: Rogério Charraz (dedicada à sua Mãe) Música: Rogério Charraz e Júlio Resende Arranjo: Júlio Resende Intérprete: Rogério Charraz (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)
Meu amor, meu amor
[ Ó Meu Amor ]
Meu amor, meu amor, Se tu fores, Leva meu ser! Meu ser, amor!
Ó meu amor, se tu fores, Leva-me, podendo ser! Eu quero ir acabar Onde tu fores morrer.
Eu hei-de morrer cantando, Já que chorando nasci, Já que as glórias deste mundo Se acabaram p’ra mim.
Letra e música: Tradicional (Fundão, Beira Baixa) Arranjo: José Manuel David Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015) Primeira versão: Brigada Victor Jara – “Tosquia” (in LP “Monte Formoso”, MBP, 1989, reed. Farol Música, 1996; Livro/11CD “Ó Brigada!: Discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: CD “Monte Formoso”, Tradisom, 2015)
Brigada Victor Jara, Monte Formoso
Na Rua dos Meus Ciúmes
Na rua dos meus ciúmes, Onde eu morei e tu moras, Vi-te passar fora de horas Com a tua nova paixão; De mim não esperes queixumes Quer seja desta ou daquela, Pois sinto só pena dela E até lhe dou meu perdão… Na rua dos meus ciúmes Deixei o meu coração.
Inda que me custe a vida, Pensarei com ar sereno Que esse teu ombro moreno Beijos de amor vão queimar; Saudades são fé perdida, São folhas mortas ao vento Que eu piso sem um lamento Na tua rua, ao passar… Inda que me custe a vida, Não hás-de ver-me chorar.
Na rua dos meus ciúmes Deixei o meu coração.
Letra: Nelson de Barros (para a revista “A Vida É Bela”, 1960, Teatro Capitólio) Música: Frederico Valério Intérprete: Rua da Lua (in CD “Rua da Lua”, Rua da Lua, 2016) Versão original: Helena Tavares (in EP “Rua dos Meus Ciúmes”, Alvorada, 1960; CD “Helena Tavares”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 7, Movieplay, 1994; CD “Helena Tavares”, col. Clássicos da Renascença, vol. 51, Movieplay, 2000)
Nas coisas do amor
[ Quando a Lua Voltar a Passar ]
Nas coisas do amor É melhor nem entender Não é fácil perceber O que o amor tem p’ra dar ou não E pode ser duro É deixar acontecer
Malmequer de bem-querer Ninguém pode adivinhar Eu sei que não Nem precisa de razão Não é bem um sim ou não É uma carta bem fechada
Não há-de ser nada Vai passar e tu nem vês É levar a vida Um dia de cada vez E se calhar tu já nem te vais lembrar E vai ser já quando a Lua voltar a passar
Vou acreditar que amanhã vai ser melhor Eu conheço até de cor O que o amor vai fazer talvez nem sei Ainda bem que acreditei Não faz mal se eu arrisquei E fui bater à porta errada
Não há-de ser nada Vai passar e tu nem vês É levar a vida Um dia de cada vez E se calhar tu já nem te vais lembrar E vai ser já quando a Lua voltar a passar
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha* Primeira gravação discográfica: Sebastião Antunes & Quadrilha com Rubi Machado & Rão Kyao (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019) Versão original: Rubi Machado
Não encontro o teu perfume
[ À Procura de um Perfume ]
Não encontro o teu perfume Em jardim algum… Vou plantá-lo aqui mesmo ao lado, Juntinho a mim!
Não entendo o caminho Que chega ao pé de ti… Só sei que um tal destino Far-me-á chegar aí.
Caminhando vago, Na rua aqui ao lado, Encontrei-te enfim!
Aproximei-me de ti… “Não adies mais o destino!”, Pensei eu cá só p’ra mim.
Letra e música: Jorge Rivotti Intérprete: Jorge Rivotti Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Canções de Amor Pintadas de Amarelo”, Vachier & Associados, 2010)
Não sei por que razão
[ Não Rias ]
Não sei por que razão te quero tanto E é louco por ti meu coração; Não sei por que razão este meu pranto Só riso te provoca, sem razão.
Não rias, meu amor, Da minha grande dor! Não rias, por favor, do meu sofrer! Tem cuidado comigo: Talvez p’ra teu castigo A sorte à minha porta vá bater.
Podes passar na vida sem cuidados E fazer juras a mentir; Mas olha, meu amor, estás enganada: A vida não é só levada a rir.
Não rias, meu amor, Da minha grande dor! Não rias, por favor, do meu sofrer! Tem cuidado comigo: Talvez p’ra teu castigo A sorte à minha porta vá bater.
Não rias, meu amor, Da minha grande dor! Não rias, por favor, do meu sofrer! Tem cuidado comigo: Talvez p’ra teu castigo A sorte à minha porta vá bater.
Letra: Ivete Pessoa Música: Armando Machado (Fado Tertúlia) Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013) Versão original: Ivete Pessoa [?]
Não te ver nos meus braços
[ Beijo ]
Não te ver nos meus braços Por não te ver nos meus braços, meu amor, Pedi aos rios do meu pranto Que te levassem do meu canto
Por não te ver nos meus braços Por não te ver nos meus braços Pedi aos rios do meu pranto Que te levassem do meu canto
Mas as marés do teu jeito Essas marés do teu beijo Que me agitam o peito Que me habitam o leito Só me desfazem o peito Com esse teu beijo perfeito
Por não te ver nos meus braços Por não te ver nos meus braços Despi o corpo do teu cheiro Lavei a pele do teu beijo
Mas as marés do meu peito Essas marés do meu peito Vestiram-me o teu desejo Levaram-me ao teu leito Quero esquecer-te a qualquer jeito Mas tenho um beijo cravado no peito
Mas as marés do meu peito Essas marés do meu peito Vestiram-me o teu desejo Levaram-me ao teu leito Quero esquecer-te a qualquer jeito Mas tenho um beijo cravado no peito
Letra e música: Tiago Curado de Almeida Intérprete: Pensão Flor Versão original: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)
Nos teus braços
Intérprete: Cuca Roseta
Nunca Marta pressentiu
[ Marta Encruzilhada ]
Nunca Marta pressentiu A reboque bem sentada Que o trilho que faz um desvio Fosse dar à sua estrada
Nunca o sol a torriscou Nunca à chuva foi molhada Nunca ao vento esteve ao frio E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o bem esteve tão mal E nunca o mal veio de frente Não se faz vida do nada Não se faz do nada gente
E não se faz do nada gente
E nesse trilho com desvio O seu reboque não passava E nunca antes Marta sentiu E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o sol a torriscou E nunca à chuva foi molhada E nunca ao vento esteve ao frio E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o bem esteve tão mal E nunca o mal veio de frente E não se faz vida do nada E não se faz do nada gente
E não se faz do nada gente E não se faz…
E nunca o sol a torriscou Nunca à chuva foi molhada Nunca ao vento esteve ao frio E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o bem esteve tão mal E nunca o mal veio de frente E não se faz vida do nada E não se faz do nada gente
E nunca o sol a torriscou Nunca à chuva foi molhada Nunca ao vento esteve ao frio E nunca a pé foi pela estrada
E nunca o bem esteve tão mal E nunca o mal veio de frente Não se faz vida do nada E não se faz do nada gente
Letra e música: Luís Pucarinho Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Oh meu amor
[ Um Anjo em Meu Lugar ]
Oh meu amor… tu não vás Que se tu fores já não há Nem rosas no meu jardim Nem sonhos dentro de mim
Ai! Minha dor não tem fim Se o desamor for sempre assim Por cada dia esperar Até o Sol se apagar
Olha, olha o meu olhar E nele hás-de ver Que eu só canto este fado Para não esquecer
E se uma noite sem luar A tua fé quebrar Espera um pouco que há-de vir Um anjo em meu lugar
Amor, amor divino Vai, vai em liberdade Que o teu breve destino É ir com a saudade
Olha, olha o meu olhar E nele hás-de ver Que eu só canto este fado Para não esquecer
Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão) Música: Rui Filipe Reis Intérprete: Rosa Negra com Cramol (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)
Olha, basta uma nota
[ Basta Um Sorriso ]
Olha, basta uma nota P’ra dizer que te quero Um compasso sem tempo P’ra ver o que ainda espero Sabendo eu que não vens Sabendo tu que não me tens
Olha, trago uma ferida A queimar nos meus lábios Um pedaço sem cor Uma ferida aberta Um gosto imenso de ti Vais dizendo que não queres Vais fugindo de manhã E vais mentindo ao dizer…: São precisas duas mãos Para se agarrar um coração
Olha, basta uma nota P’ra dizer que te quero Um compasso sem tempo P’ra ver o que ainda espero Sabendo eu que não vens Sabendo tu que não me tens
Diz-me: porque me olhas assim Quando os corpos não se encontram Porque choras assim Se o teu corpo só reclama de paixão Vais dizendo que não queres Vais fugindo de manhã E vais mentindo ao dizer…: Basta um sorriso para não dizer adeus Meu amor, basta um sorriso para não dizer adeus [bis]
Letra e música: Tiago Curado de Almeida Intérprete: Pensão Flor Versão original: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)
Pedes-me o respeito
[ Tenho Tanto p’ra te Dar ]
Pedes-me o respeito E eu dou Pedes-me a coragem E eu sou Pedes-me o amor E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar
Pedes-me a confiança E eu dou Pedes-me a esperança E eu sou Pedes-me o amor E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar
Tenho tanto p’ra te dar No meu canto de amar Terei sempre na minha voz A memória do grande que somos nós
Pedes-me a vontade E eu dou Pedes-me a unidade E eu sou Pedes-me o amor E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar
Pedes-me a alegria E eu dou Pedes-me a harmonia E eu sou Pedes-me o amor E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar
Tenho tanto p’ra te dar No meu canto de amar Terei sempre na minha voz A memória do grande que somos nós
Pedes-me a paciência E eu dou Pedes-me a consciência E eu sou Pedes-me o amor E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar
Letra e música: Luís Galrito Intérprete: Luís Galrito* com Dino d’ Santiago (in CD “Menino do Sonho Pintado”, Kimahera, 2018)
Pelo fim da tarde
[ Nem Sequer Dei Por Isso ]
Pelo fim da tarde tu sais do emprego E eu não sei porque é que aqui vim parar É assim um desassossego Tento ir sempre onde possas estar
Por sorte tu até sorris E nem sequer me vens com muitos ‘porquês’ E dizes com um certo ar feliz: “Com que então, por aqui outra vez?”
Num parque ao domingo P’lo meio da cidade Ou num café ao entardecer
Será que é mentira? Será que é verdade? Mas o que é que me está acontecer?
Já sei! Não há explicação A cabeça está num reboliço Se calhar apaixonei-me por ti E nem sequer dei por isso
Ao virar da esquina, em qualquer transporte Acabamos sempre por nos cruzar E eu acho um caso de sorte Cada vez que te posso encontrar
Está-me a correr bem, já ganhei o dia Só porque me dissestes um “olá!” E gosto da tua ironia Se perguntas mais uma vez: “Por cá?”
Mensagem trocada, gesto embaraçado Lá vou eu outra vez a planar Desculpa, desculpa! Foi número errado Mas ficamos uma hora a falar
Já sei! Não há explicação A cabeça está num reboliço Se calhar apaixonei-me por ti E nem sequer dei por isso
Tanto melhor quando não se espera E era bom que fosse como imaginei
Já sei! Não há explicação A cabeça está num reboliço Se calhar apaixonei-me por ti E nem sequer dei por isso
Já sei! Não há explicação A cabeça está num reboliço Se calhar apaixonei-me por ti E nem sequer dei por isso
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha* (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa) Versão original: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Por não te ver nos meus braços
[ Beijo ]
Por não te ver nos meus braços Por não te ver nos meus braços, meu amor, Pedi aos rios do meu pranto Que te levassem do meu canto
Por não te ver nos meus braços Por não te ver nos meus braços Pedi aos rios do meu pranto Que te levassem do meu canto
Mas as marés do teu jeito Essas marés do teu beijo Que me agitam o peito Que me habitam o leito Só me desfazem o peito Com esse teu beijo perfeito
Por não te ver nos meus braços Por não te ver nos meus braços Despi o corpo do teu cheiro Lavei a pele do teu beijo
Mas as marés do meu peito Essas marés do meu peito Vestiram-me o teu desejo Levaram-me ao teu leito Quero esquecer-te a qualquer jeito Mas tenho um beijo cravado no peito
Mas as marés do meu peito Essas marés do meu peito Vestiram-me o teu desejo Levaram-me ao teu leito Quero esquecer-te a qualquer jeito Mas tenho um beijo cravado no peito
Letra e música: Tiago Curado de Almeida Intérprete: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)
Por que voltas de que lei
Letra: Amália Rodrigues Música: Mário Pacheco Intérprete: Maria Ana Bobone
Porque sou o cavaleiro andante
[ Cavaleiro andante ]
Porque sou o cavaleiro andante Que mora no teu livro de aventuras Podes vir chorar no meu peito As mágoas e as desventuras
Sempre que o vento te ralhe E a chuva de maio te molhe Sempre que o teu barco encalhe E a vida passe e não te olhe
Porque sou o cavaleiro andante Que o teu velho medo inventou Podes vir chorar no meu peito Pois sabes sempre onde estou
Sempre que a rádio diga Que a América roubou a lua Ou que um louco te persiga E te chame nomes na rua
Porque sou o que chega e conta Mentiras que te fazem feliz E tu vibras com histórias De viagens que eu nunca fiz
Podes vir chorar no meu peito Longe de tudo o que é mau Que eu vou estar sempre ao teu lado No meu cavalo de pau
Porque teimas nesta dor
Letra: José Luís Gordo Música: Carlos Gomes Intérprete: Ana Moura
Que bom dar-te a mão
[ Balada para o Meu Amor ]
Que bom dar-te a mão e juntos para crer fazer o coração e a senda de viver no perdão e no amor E ao ver-te chegar com sonhos p’ra me dar de calma e silêncio vindo que seja bem-vindo o meu amor
Existe e ficou aqui encostado ao meu ombro Prometeu cuidar de mim O meu amor está sempre do meu lado quando a vida atira e queima e na luta saio magoado
Porta que teima abriu do paraíso um ser sorriu e a Eva no jardim resiste à culpa do pecado que não existe Trouxe a luz e eis que ensina que há um braço que segura na água mole na pedra dura no bem e no mal o amor perdura
Existe e ficou aqui encostado ao meu ombro Prometeu cuidar de mim O meu amor está sempre do meu lado quando a vida atira e queima e na luta saio magoado
Letra e música: Luís Galrito Intérprete: Luís Galrito (in CD “Menino do Sonho Pintado”, Kimahera, 2018)
Rasga esses versos
[ Os Meus Versos ]
Rasga esses versos que eu te fiz, Amor! Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento, Que a cinza os cubra, que os arraste o vento, Que a tempestade os leve aonde for!
Rasga-os na mente, se os souberes de cor, Que volte ao nada o nada de um momento! Julguei-me grande pelo sentimento, E pelo orgulho ainda sou maior!…
Tanto verso já disse o que eu sonhei! Tantos penaram já o que eu penei! Asas que passam, todo o mundo as sente…
Rasgas os meus versos… Pobre endoidecida! Como se um grande amor cá nesta vida Não fosse o mesmo amor de toda a gente!…
Poema: Florbela Espanca (in Reliquiae, 1934) Música: Paulo Valentim Intérprete: Kátia Guerreiro (in CD “Nas Mãos do Fado”, Ocarina, 2003)
Roubei-te um beijo
Roubei-te um beijo, Não querias dar; Estou muito triste, Mas por ti não vou chorar.
Não vou chorar, Não vou sofrer; Estou muito triste, Mas por ti não vou morrer.
Estou d’abalada, Vou para terras de Espanha; Tu não me queres, Aqui mais ninguém me apanha.
Ninguém me apanha, Já cá não está quem sofria; Meu lindo Amor, Tu hás-de chorar um dia.
Tristes lamúrias Do rouxinol Enchem minh’alma Do nascer ao pôr-do-sol.
Ao pôr-do-sol, À luz da lua, Não há no mundo Cara mais linda que a tua.
Estou d’abalada, Vou para terras de Espanha; Tu não me queres, Aqui mais ninguém me apanha.
Ninguém me apanha, Já cá não está quem sofria; Meu lindo Amor, Tu hás-de chorar um dia.
Roubei-te um beijo, Foi por paixão; Vê lá, não digas a ninguém Que eu sou ladrão!
Que eu sou ladrão Apaixonado! Meu lindo amor, Quero viver a teu lado!
Estou d’abalada, Vou para terras de Espanha; Tu não me queres, Aqui mais ninguém me apanha.
Ninguém me apanha, Já cá não está quem sofria; Meu lindo Amor, Tu hás-de chorar um dia.
Letra e música: Armando Torrão Intérprete: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD 2, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)
Celina da Piedade, Roubei-te um beijo
Sem ser ainda
[ Portal dos Ventos ]
Sem ser ainda Um mal que finda, Portal dos Ventos De um outro… Amor!
Marés que passam, Luas que mudam, E os dias correm Ao teu… Sabor!
E se o silêncio Navega calmo, Mais calmo fica O teu… Calor!
À luz de agora Aquece a alma, E o Vento aperta O teu… Sabor!
Sei que os teus medos São raios de seda, E que os segredos Não há quem os traga…
Mas, os teus olhos Não fogem dos meus, Cantam segredos À luz de um amor…
De um amor…
Sem ser ainda… E se o silêncio… Sei que os teus medos…
Sei que os teus medos São raios de seda, E que os segredos Não há quem os traga…
Mas, os teus olhos Não fogem dos meus, Cantam segredos À luz de um amor…
De um amor…
Letra: José Flávio Martins Música: António Pedro Intérprete: Musicalbi Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)
Musicalbi, Solidão e Xisto
Subir, Subir
Subir, subir lnd’ hei-de conseguir Morder-te, ó cachopa, Por dentro do teu vestir Subir, subir lnd’ hei-de conseguir Morder-te, ó cachopa, Por dentro do teu vestir
Mensageiros de Cupido Eu ando deprimido Intercedei por mim ao vosso Deus! Estou de amores com uma catraia Que p’ra subir a saia Exige grandes sacrifícios meus
Subir, subir lnd’ hei-de conseguir Morder-te, ó cachopa, Por dentro do teu vestir Subir, subir lnd’ hei-de conseguir Morder-te, ó cachopa, Por dentro do teu vestir
Levantei velas à barca Mas a brisa era parca Nem deu para agitar o meu corcel Assim nunca mais te chego A ter no aconchego Tirar-te dessa ilha de papel
Subir, subir lnd’ hei-de conseguir Morder-te, ó cachopa, Por dentro do teu vestir Subir, subir lnd’ hei-de conseguir Morder-te, ó cachopa, Por dentro do teu vestir
Fiz consulta a feiticeiros E santos padroeiros Deixei bruxeiros de cabeça à toa Findei o consultamento E como rendimento Saíram-me (imaginem!) os Gaiteiros de Lisboa
Subir, subir lnd’ hei-de conseguir Morder-te, ó cachopa, Por dentro do teu vestir Subir, subir lnd’ hei-de conseguir Morder-te, ó cachopa, Por dentro do teu vestir
Letra e música: Mário Alves (Vozes da Rádio) Intérprete: Gaiteiros de Lisboa Versão discográfica ao vivo dos Gaiteiros de Lisboa, com Vozes da Rádio (in 2CD “Dançachamas: Ao Vivo”: CD 1, Farol Música, 2000) Versão original: Vozes da Rádio com Gaiteiros de Lisboa (in CD “Mappa do Coração”, Ariola/BMG Portugal, 1997)
Sábado à noite
[ Primavera ]
Sábado à noite não sou tão só Somente só A sós contigo assim E sei dos teus erros Os meus e os teus Os teus e os meus amores que não conheci
Parasse a vida Um passo atrás Quis-me capaz Dos erros renascer em ti
E se inventado, o teu sorriso for Fui inventor Criei o paraíso assim
Algo me diz que há mais amor aqui Lá fora só menti Eu já fui de cool por aí Somente só, só minto só Hei-de te amar, ou então hei-de chorar por ti Mesmo assim, quero ver te sorrir… E se perder vou tentar esquecer-me de vez, conto até três Se quiser ser feliz…
Se há tulipas No teu jardim Serei o chão e a água que da chuva cai Para te fazer crescer em flor, tão viva a cor Meu amor eu sou tudo aqui…
Sábado à noite não sou tão só Somente só A sós contigo assim Não sou tão só, somente só
Intérprete: The Gift
Tenho uma rosa p’ra ti
[ Tangerina dos Algarves ]
Tenho uma rosa p’ra ti Tenho uma rosa encarnada Tenho uma rosa no mar Tenho uma rosa molhada Circula a noite no tempo sobre as nossas gargalhadas Tenho uma rosa p’ra ti Tenho uma rosa encarnada
Vou sonhar com o teu olhar oceano de água e mar
Vou fugir com o teu olhar oceano de água e mar sobre o mistério
Vou fugir com o teu olhar oceano de água e mar sobre o mistério
Em castelos de areia eu escrevi um nome ao lado Foi por ti que conheci a tangerina dos Algarves
Em castelos de areia eu escrevi um nome ao lado Foi por ti que conheci a tangerina dos Algarves
Anda o Sol por trás da serra Há cheiro a funcho queimado E este abanão duma vaga que chega sem avisar
Vinho rubro a navegar por segredos do Universo Desfolho a rosa no rio p’ra te oferecer com um verso
Vou sentir o teu sabor oceano de água e mar
Vou sentir com o teu sabor oceano de água e flor de tangerina
Vou sentir com o teu sabor oceano de água e flor de tangerina
Em castelos de areia eu escrevi um nome ao lado Foi por ti que conheci a tangerina dos Algarves
Em castelos de areia eu escrevi um nome ao lado Foi por ti que conheci a tangerina dos Algarves
Letra e música: João Afonso Lima Intérprete: João Afonso (in CD “Barco Voador”, Mercury/Universal Music Portugal, 1999; CD “João Afonso: A Arte e a Música”, Universal Music Portugal, 2004)
Trago um jardim no sentido
[ Jardim dos Sentidos ]
Trago um jardim no sentido, Por ter sentido o que sinto: Amor que não faz sentido Num coração louco e faminto.
No jardim do meu sentido Nascem cravos cardinais; Também eu nasci no mundo P’ra te querer cada vez mais.
No jardim do rei há rosas, Também há malvas de cheiro; Não há luz como a do dia, Nem amor como o primeiro.
Coração louco e faminto, Rosa que tenho sentido; Jardim que anda perdido, Por ter sentido o que sinto.
No jardim do meu sentido Nascem cravos cardinais; Também eu nasci no mundo P’ra te querer cada vez mais.
No jardim do rei há rosas, Também há malvas de cheiro; Não há luz como a do dia, Nem amor como o primeiro.
Por ter sentido o que sinto, Amor que não faz sentido Jardim que anda perdido, Trago um jardim no sentido.
No jardim do meu sentido Nascem cravos cardinais; Também eu nasci no mundo P’ra te querer cada vez mais.
No jardim do rei há rosas, Também há malvas de cheiro; Não há luz como a do dia, Nem amor como o primeiro.
Trago um jardim no sentido…
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre com António Zambujo (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre, com António Zambujo (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Tu e eu meu amor
Tu e eu meu amor meu amor eu e tu que o amor meu amor é o nu contra o nu.
Nua a mão que segura outra mão que lhe é dada nua a suave ternura na face apaixonada nua a estrela mais pura nos olhos da amada nua a ânsia insegura de uma boca beijada.
Tu e eu meu amor meu amor eu e tu que o amor meu amor é o nu contra o nu.
Nu o riso e o prazer como é nua a sentida lágrima a correr na face dolorida nu o corpo do ser na hora prometida meu amor que ao nascer nus viemos à vida.
Tu e eu meu amor meu amor eu e tu que o amor meu amor é o nu contra o nu.
Nua nua a verdade tão forte no criar adulta humanidade nu o querer e o lutar dia a dia pelo que há-de os homens libertar amor que a eternidade é ser livre e amar.
Tu e eu meu amor meu amor eu e tu que o amor meu amor é o nu contra o nu.
Poema: Manuel da Fonseca (De “Poemas Inéditos”, in “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 179-180) Música: Paulo Ribeiro Intérprete: Paulo Ribeiro com Ana Lúcia Magalhães (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)
Paulo Ribeiro
Vem
Vem no vento que envolve a montanha E lhe esculpe grutas e segredos Que a cinge e a estreita nas fragas Vem nas silvas que rasgam os dedos
Como a rocha que na costa aguarda A tal onda que explode ao morrer Chicoteando do mar os penhascos Por mais ásperos que pareçam ser
Vem cantando na verde campina Terra-mãe de onde nasce o pão Ondulante seara menina Como as crinas dos cavalos que vão
Como criança pela mão do avô Vai para a escola no dia primeiro Passo a passo alcançar o futuro Destrinçar o saber verdadeiro
Vem nos braços da rua a cidade Se for praça de causas perfeitas E o coração te falar mais verdade Que as palavras dos outros, tão estreitas
Vem-me aos braços, que eu não me envergonho Planta o mundo todo qu’inda houver Traz a alma, que eu trago o meu sonho E o espanto pode acontecer
Letra e música: Pedro Barroso («Dedicado à minha neta Constança, em nome do Futuro») Intérprete: Pedro Barroso* Versão original: Pedro Barroso (in CD “Artes do Futuro”, Ovação, 2017)
Vem, quero beijar-te o corpo
[ Profano ]
Vem, quero beijar-te o corpo Quero provar-te o gosto Quero rasgar-te a pele Soltar-te o corpo em mim
Que te faço tão profano Soldado do meu ventre Que emudece à minha frente As regras deste amor
Vem pedir-me a preceito Que te possua em desejo Que te consuma nesse leito E desse jeito que é teu
Quando me devoras os sentidos E me pedes aos ouvidos Que te amarra, te prenda, Te bata, te faça assim mulher vulgar
Vem beijar este meu corpo Vem provar deste meu gosto Vem rasgar esta pele E soltar-me o corpo em ti
Que me faço tão profana Desejo desse teu corpo Que emudece à tua frente As regras deste amor
Quero pedir-te a preceito Que me consumas em desejo Que me consumas nesse leito E desse jeito que é teu
Que me devoras os sentidos Quero pedir-te aos ouvidos Que me amarres, me prendas, Me batas, me faças assim mulher vulgar
Letra e música: Tiago Curado de Almeida Intérprete: Pensão Flor* (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)
Vi-te dum vermelho antigo
[ A Minha Cor (Vermelho Antigo) ]
Vi-te dum vermelho antigo, Trazias a minha cor; Meus olhos foram contigo E alguém disse que era amor.
Cor de sangue aveludado, Cor de seda ou de cetim, Cor de vinho ou de pecado: Foi a cor que viste em mim.
De fadista só me viste Um olhar estranho e sombrio: Não era ardente nem triste, Não era vago nem frio.
Tua voz, cor de cantiga, Espalhava de mãos cheias Um sabor a raça antiga Que salta nas minhas veias.
Fosse sede ou fosse amor, Que importa o que foi, enfim? Trazias a minha cor, Nada mais contou p’ra mim.
Letra: Manuel Andrade Música: Pedro Rodrigues (Fado Pedro Rodrigues de Quadras) Intérprete: Marta Pereira da Costa* com Hélder Moutinho Versão discográfica de Hélder Moutinho (com música de Joaquim Campos – Fado Amora) (in CD “Sete Fados e Alguns Cantos”, Ocarina, 1999) Versão original: João Braga (in EP “Janeiro Proibido”, Aquila, 1968; “Todos os Fados de A a Z: Vol. 12 – Fado Pajem ao Fado Pintadinho”, Movieplay/Visão, 2005; CD “João Braga: Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006)
Volta e meia estou de volta
[ Fado às Voltas ]
Volta e meia estou de volta, volta e meia já não estou; quem me quis à rédea solta foi quem comigo ficou.
Quem, em troca de carinho, quis prender-me o coração ficou a falar sozinho nas voltinhas do Marão.
Quantas voltas dá o mundo P’ra ensinar que a verdade é que a vida é um segundo aos olhos da eternidade?
Vamos lá: é volta e meia cada qual escolhe o seu par! Que eu posso mudar de ideia, antes da volta acabar.
Volta e meia estou de volta, volta e meia já não estou; quem me quis à rédea solta foi quem comigo ficou.
Letra: Tiago Torres da Silva Música: Alberto Costa (Fado Dois Tons) Intérprete: Cristina Nóbrega Versão original: Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014)
Cristina Nóbrega
https://www.Meloteca.com/wp-content/uploads/2020/05/amor-casal.jpg400400António Ferreirahttps://www.Meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-Meloteca-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 05:43:482025-06-19 22:09:12Canções de amor
Anoiteceu no meu olhar de feiticeira, de estrela do mar, de céu, de lua cheia, de garça perdida na areia.
Anoiteceu no meu olhar, perdi as penas, não posso voar, deixei filhos e ninhos, cuidados, carinhos, no mar…
Só sei voar dentro de mim neste sonho de abraçar o céu sem fim, o mar, a terra inteira!
E trago o mar dentro de mim, com o céu vivo a sonhar e vou sonhar até ao fim, até não mais acordar…
Então, voltarei a cruzar este céu e este mar, voarei, voarei sem parar à volta da terra inteira!
Ninhos faria de lua cheia e depois, dormiria na areia…
Letra: João Mendonça Música: Leonardo Amuedo Intérprete: Dulce Pontes (in CD “O Primeiro Canto”, Polydor, 1999)
Branca era a noite
[ Uma Estrela no Sul ]
Branca era a noite Uma estrela no sul A lua cheia Num céu tão azul Rendas de espuma no mar, dando à costa um abraço E este meu coração a bater a compasso…
Que morra o dia Pois a noite é irmã Voos tão altos Na minha fajã Quero reter essa luz, são momentos escassos Depois recolher ao meu quarto e apertar-te nos braços
Ai meu amor Escuta a minha voz Pensando bem Quem está como nós? Grande é o mundo Tantas vezes bisonho Mas tão pequeno Comparado com o sonho…
Branca era a noite E era roxa a saudade Dos dias longos… Que é da mocidade? Os olhos rasos em águas de recordações Livres, à solta, sem rédeas estão as emoções
Corre agitada Esta vida maruja Águas serenas Piares de coruja Há nesta noite tranquila uma bênção no ar Convite da natureza p’ra a gente se amar
Ai meu amor Escuta a minha voz Pensando bem Quem está como nós? Grande é o mundo Tantas vezes bisonho Mas tão pequeno Comparado com o sonho…
Branca era a noite E era roxa a saudade Dos dias longos… Que é da mocidade? Os olhos rasos em águas de recordações Livres, à solta, sem rédeas estão as emoções
Corre agitada Esta vida maruja Águas serenas Piares de coruja Há nesta noite tranquila uma bênção no ar Convite da natureza p’ra a gente se amar
Ai meu amor Escuta a minha voz Pensando bem Quem está como nós? Grande é o mundo Tantas vezes bisonho Mas tão pequeno Comparado com o sonho…
Letra e música: Aníbal Raposo (2010-01-21) Intérprete: Aníbal Raposo (in CD “Rocha da Relva”, Aníbal Raposo/Global Point Music, 2013)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Lua branca das ribeiras
[ Lua Branca das Ribeiras ]
Lua branca das ribeiras a quem mostras o caminho Às bruxas, às feiticeiras ou a quem anda sozinho A ribeira tem segredos que tu andas a esconder Hão-de contar-se p’los dedos os que tu me hás-de dizer
Lua branca das ribeiras com quem passas o serão De companha às fiandeiras à janela do ganhão À porta das raparigas que não se querem deitar Vais ensinando as cantigas de quem se há-de apaixonar Lua branca das ribeiras
Tenho um banco à minha porta onde a lua vai dormir Já a vi lá com tristeza e a sorrir Eu dei um segredo à lua para quando ela se deitar Poder encontrar alguém a quem contar
Lua branca das ribeiras de quem é o teu brilhar Das moças namoradeiras ou de quem as faz penar Dos que se enganam na vida p’lo correr da madrugada Ou de uma alma perdida que passa a noite calada
Se a ribeira me levasse onde a lua vai dormir Talvez eu por lá contasse tanto que eu ando a sentir De quem é a cor da lua que nos traz tanto querer Não é minha nem é tua, é de quem a entender Lua branca das ribeiras
Tenho um banco à minha porta onde a lua vai dormir Já a vi lá com tristeza e a sorrir Eu dei um segredo à lua para quando ela se deitar Poder encontrar alguém a quem contar
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Quadrilha (in CD “A Cor da Vontade”, Vachier & Associados, 2003)
Ó lua faz-me uma trança
[ À Porta do Mundo ]
Ó lua faz-me uma trança P’ra de dia desmanchar Guarda-me a última dança Quando o fio se acabar
Gosto de ver o teu rosto Que a mil caminhos se presta Para uma noite desgosto Por uma noite de festa
Voltaria à tua terra Por um mergulho de mar Entre a cidade e a serra Fica algures o meu lugar
Este mundo não tem porta Nem uma chave escondida Por trás de tudo o que importa Vem um sentido p’rá vida
Se te fizeres ao caminho Em horas de arrebol P’ra fermentar o meu vinho Traz-me um pedaço de sol
Vamos escrever uma história Rever um filme a passar Logo virá à memória O que eu te queria dar
Será verdade ou mentira Como um segredo roubado Sou como a lua que gira Hei-de dançar ao teu lado
Este mundo não tem porta Nem uma chave escondida Por trás de tudo o que importa Vem um sentido p’rá vida
Letra e música: João Afonso Lima e José Moz Carrapa Arranjo: Ricardo Dias Intérprete: Filipa Pais (in CD “À Porta do Mundo”, Vachier & Associados, 2003)
https://www.Meloteca.com/wp-content/uploads/2018/11/lua-branca.jpg401400António Ferreirahttps://www.Meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-Meloteca-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 05:40:272024-11-13 11:19:05Canções à lua
Letra e música: José Afonso Intérprete: José Afonso (in “Venham Mais Cinco”, Orfeu, 1973; reed. Movieplay, 1987)
A formiga no carreiro vinha em sentido contrário, caiu ao Tejo ao pé dum septuagenário.
Larpou, trepou às tábuas que flutuavam nas águas e de cima duma delas virou-se p’ró formigueiro: “Mudem de rumo! Já lá vem outro carreiro.”
A formiga no carreiro vinha em sentido diferente. Caiu à rua no meio de toda a gente, buliu, abriu as gâmbias para trepar às varandas e de cima duma delas virou-se pró formigueiro: “Mudem de rumo! Já lá vem outro carreiro.”
A formiga no carreiro andava à roda da vida. Caiu em cima Duma espinhela caída furou, furou à brava numa cova que ali estava e de cima duma delas virou-se pró formigueiro: “Mudem de rumo! Já lá vem outro carreiro.”
Formiga
Com as pernas já cansadas
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
Com as pernas já cansadas e a barriga tão vazia, a raposa viu uns cachos e deu pulos de alegria.
Tentava apanhar as uvas, mas cansava-se em vão e a alegria que tivera tornou-se desilusão.
Enganando-se a si mesma por já não conseguir tê-las, disse então que eram verdes, só cães podiam comê-las.
Mas quando, ao ir-se embora, ouviu um leve ruído, voltou-se com a esperança de um bago ter caído.
Dias a fio andou
[ O Pulo do Lobo ]
Dias a fio andou Por andar chegou Em chegando viu E então sorriu A sorrir pensou Por pensar agiu Ao agir falou
“Diz-me andorinha, Deste voo teu, Se é dança ou feitiço, Se me emprestas a vertigem Dessa queda livre Do teu voo raso Desse baile alado Sim?”
E saltou, Ao saltar tremeu A tremer subiu Por subir desceu E então caiu, A cair bateu Ao bater sentiu, Ao sentir pensou
“Diz-me andorinha, Sentes como eu? O poder da terra Na torrente, rodopio Estilhaço o corpo Num grito calado Sob um manto de água Não?”
Letra e música: Manuel Maio Intérprete: A Presença das Formigas* (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)
Durante todo o Verão
António José Ferreira Adaptado da fábula “A cigarra e a formiga”
Durante todo o Verão, que bem cantou a cigarra; de dia, ‘stava na praia, à noite, ia para a farra.
Ficou no campo a formiga, pensando no seu celeiro. O esforço do seu trabalho, rendeu-lhe um bom mealheiro.
O Inverno só trouxe frio e nada para comer: à porta do formigueiro foi a cigarra bater.
– Durante todo o verão cantei p’ra te alegrar: dá-me um pouco de comida para eu poder jantar.
– Enquanto te divertias, eu ‘stava a trabalhar. Cantavas todos os dias, agora vai lá dançar.
Eu sou o cão D. Pantaleão
Letra e música: José Barata Moura
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
– Tenho um barbeiro e uma criada, um casaco e uma almofada! – E eu cá não tenho nada!
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
– Tenho uma casa aquecida, boa cama e comida! – Não é lá muito boa a minha vida…
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
– Tenho sombrinha e cachecol, luvas e chapéu mole! – Eu cá tanto ando à chuva como ao sol.
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
– Tenho uma coleira amarela, que parece uma estrela! – Mas eu cá não gosto da trela!
– Eu sou o cão D. Pantaleão! – E eu sou um cão apenas cão… (bis)
Intérprete: José Barata Moura
Havia um pescador
Texto: António José Ferreira
Havia um pescador, um pescador havia.
Um dia foi à pesca, foi fraca a pescaria.
Pescou só um peixinho, levou-o à Maria.
Quando chegou a casa, ouviu o que não queria.
– Se fosse um peixe grande, que almoço não daria!
– O peixe é pequenino e muito cresceria!
José pegou no balde, deitou o peixe à ria.
Lamentava-se o pavão
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
Lamentava-se o pavão de não cantar nada bem, de não ter a voz bonita que o rouxinol sempre tem.
– Não reclames – disse Deus -, pavãozinho despeitado! Não vês que, p’las tuas cores, és famoso em todo o lado?
Cada um tem seu encanto: a águia tem a coragem, o melro tem o seu canto, o pavão rica plumagem.
A ave compreendeu: não se podia queixar. Ninguém é perfeito em tudo, em tudo há que se alegrar.
Muitas nozes e avelãs
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
Muitas nozes e avelãs tinha o Senhor Esquilo: lembrou-se de partilhar alguns frutos do seu silo.
Pegou na melhor bandeja, para as nozes of’recer, e mandou o seu filhote ao vizinho, a correr.
Quando viram a bandeja os olhos do seu vizinho, nem se lembraram das nozes of’recidas com carinho.
Nem o esquilo viu de volta a bandeja preferida, nem na casa do vizinho houve prenda parecida.
No meio de uma floresta
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
No meio de uma floresta, um veado adoeceu. Um grupo dos seus amigos foi ver o que aconteceu.
Foram para socorrê-lo, ou talvez o consolar, para cumprir o dever de o amigo ajudar.
No fim da sua visita, tiveram um bom repasto: e da erva do veado, quase não deixaram rasto.
Com pouco alimento perto, aquele velho veado, morreu ainda mais cedo, infeliz, esfomeado.
No ramo de um arbusto
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
No ramo de um arbusto, o corvo mostrava um queijo: a raposa aproximou-se atraída p’lo desejo.
Muito esperta, a raposa passou a elogiar o corvo, as suas penas e o canto, e até a forma de andar.
Cego pelo seu orgulho, o corvo pôs-se a cantar: o queijo caiu do bico e à raposa foi parar.
O leão, o rei da selva
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
O leão, o rei da selva, perdeu forças e poder: tornou-se apenas um velho preparado p’ra morrer.
Os burros davam-lhe coices e os lobos davam dentadas; gazelas faziam troça e os bois davam cornadas.
Mal conseguia rugir o cansado rei leão: chegara a hora de os fracos lhe poderem dizer não.
Um dia, o Senhor Lobo
António José Ferreira
Um dia, o Senhor Lobo que andava a passear, avistou o Capuchinho e foi logo perguntar:
– Aonde vais, ó menina, com essa linda cestinha? – Vou levar um bolo e mel à minha rica avozinha.
Mais depressa foi o lobo à casa da avozinha enquanto ia praticando falar com voz de netinha.
(Alguém bate à porta)
– Quem está a bater à porta? – É a tua qu’rida netinha. – Ai meu Deus, é o lobo mau. – Não te como, avozinha.
(Entretanto, o Capuchinho Vermelho chega a casa da avó e vai ter com ela. )
– Que grandes são os teus olhos! – São para te observar! – Que grande é o teu nariz! – É p’ra melhor te cheirar!
– Que fofas as tuas mãos! – São p’ra melhor te tocar! – Que grande é a tua boca! – É p’ra melhor te beijar!
Os deuses da Grécia antiga
António José Ferreira
Os deuses da Grécia antiga eram gente como nós: casavam-se, tinham filhos, não gostavam de estar sós.
Plim plim (lira)
Zeus, o grande pai dos deuses, do Olimpo era o Senhor. Era casado com Hera, que tinha muito amor.
Saxapum (pratos)
Os deuses de antigamente contavam-se por dezenas. Do Olimpo adoravam ver os jogos em Atenas.
Te te te (trombeta)
Poseidon, irmão de Zeus, era o rei dos oceanos. Se fazia tempestades assustavam-se os humanos.
Tum tum (tambor)
Artémis, filha de Zeus, protegia os animais. Bebia néctar puro como seus irmãos e pais.
Té té té té (trombeta)
Deméter, irmã de Zeus, passou por muita aventura. Gostava muito de plantas, protegia a agricultura.
Fi fi fi (flauta)
Um pescador foi à pesca
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
1. Um pescador foi à pesca com vontade de pescar todo o peixe que pudesse para comer ao jantar.
2. Pescou cinco bons robalos, e apanhou uma enguia que lhe encheram a sacola e lhe deram alegria.
3. Viu, por fim, um robalinho preso no anzol, a chorar: – Sou ainda muito novo, não darei grande manjar.
4. – Mais vale um peixe no saco que um cardume a nadar. – Mas, se pescas todo o peixe, que vais amanhã pescar?
5. O pescador quis levá-la, mas a tempo percebeu: – Se não há peixes no rio, amanhã, que pesco eu?
Uma rã, que era vaidosa
António José Ferreira Adaptado da fábula de La Fontaine
1. Uma rã, que era vaidosa, viu no campo uma vitela, admirou o seu tamanho e quis ser igual a ela.
2. Deixou logo o seu charquinho, começou a engordar, tanto era o seu desejo de à vitela se igualar.
3. A rã perguntava às outras se já era grande e bela, mas estava muito longe do tamanho da vitela.
4. Tanto a rã inchou de inveja que um dia rebentou: não foi uma rã feliz nem à vaca se igualou.
Uma vez, uma pastora
1. Uma vez, uma pastora, larau, larau, larito, com o leite do seu gado mandou fazer um queijito.
Mas o gato espreitava, larau, larau, larito, mas o gato espreitava com sentido no queijito.
E aqui metia a pata larau, larau, larito, e aqui metia a pata e além o focinhito.
A pastora, de zangada, larau, larau, larito, a pastora de zangada castigou o seu gatito.
E aqui termina a estória, larau, larau, larito, e aqui termina a estória da pastora e do queijito.
https://www.Meloteca.com/wp-content/uploads/2020/05/formiga.jpg400400António Ferreirahttps://www.Meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-Meloteca-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-07 05:25:082023-05-02 21:18:47Canções com fábulas