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Raquel Tavares

Fado

“Raquel Tavares nasceu em Lisboa, no dia 11 de Janeiro de 1985, oriunda de uma família com ligação ao panorama musical da canção de Lisboa. Desde muito nova frequentava os “cantos e recantos” das tertúlias do fado.

Os estudos levaram-na a outros caminhos, seguindo um percurso normal de educação e amadurecimento, até ao momento em que o seu “destino” a levou a decidir a sua vida e carreira.

Voltou aos locais habituais do Fado, já com 18 anos de idade. Passou pelas casas de Fado mais importantes da cidade e assinou com a Movieplay Portugal (Editora) e com a HM Música (Management).

Edita o seu primeiro disco em 2006, que lhe vale o prémio revelação “Prémios Amália Rodrigues”, e cria o seu espectáculo, sempre ao redor de uma personagem que se baseia na sua identidade artística.”

Helder Moutinho

“Cartografia de um fado”

“Raquel Tavares vive onde o seu fado mora. No coração de Alfama. Um coração tradicionalmente ao pé da boca, na ligação mais directa aos sentimentos que se pode ambicionar.

É o Bairro que molda a voz de Raquel. É ali, ao vivê-lo dia e noite, que ela é e se sente mais fadista. Foram aquelas colectividades que a viram cantar as primeiras vezes, ainda miúda. São aquelas ruas que lhe conhecem cada passo do seu dia-a-dia. São aquelas gentes que, quer o saibam quer não, estão fatalmente ligadas a cada palavra que sai do peito de Raquel. Cada palavra que soa como se tivesse sido arrancada à sua alma, descoberta algures no mais fundo de si e trazida à superfície da casa de fados para se extinguir logo em seguida. Raquel dá-lhes a maior verdade de todas: a verdade momentânea, que só é válida naquele sítio e naquele momento.

Não deve ficar a mais de duzentos metros da sua casa, essoutra casa, a dos fados, onde canta profissionalmente todas as noites. Tal como não deve ficar a mais de dois metros a janela da vizinha da frente que lhe pergunta ‘como é que vão as cantigas, menina?’. Tudo isto se passa nas ruas estreitas de Alfama, em que as vidas são pouco privadas e entram pelas casas do lado sem estranheza. É desse sentimento colectivo, de um povo no máximo da sua autenticidade e que tudo vive de forma excessiva, dramática e por consequência apaixonada, que a voz de Raquel se alimenta.

Raquel canta aquilo que vê, sente e cheira à sua volta, que vive diariamente. E nada lhe enche mais as medidas que as histórias reais e palpáveis escritas pela mão de Linhares Barbosa, o poeta do fado que melhor narrava as voltas do povo.

Mas se Bairro remete muito naturalmente para Alfama, aponta ao mesmo tempo para uma outra geografia. Uma geografia interior feita de outras ruas e outros becos, de outras portas e janelas, que traçam o percurso musical de Raquel Tavares. De menina que cantava por graça, a mulher que só acha graça a cantar. Este disco documenta uma série de momentos fulcrais no percurso musical da fadista. Só ela terá a chave para abrir cada um dos segredos que aqui se encerra, mas o segredo que já deixou de o ser é que Raquel Tavares, vencedora do Prémio Relevação Amália Rodrigues 2006, já não é apenas uma voz que promete muito. Aqui, em Bairro, é onde ela se começa a cumprir.”

Gonçalo Frota
“Inevitavelmente, “O Destino”

Sente-se na voz, na atitude, na expressão e, acima de tudo, na coragem que tem em assumir-se como “uma Fadista”. Tudo isto não pode ser por acaso, nem pelo facto de se falar de uma artista com um enorme talento para representar. Nenhuma grande actriz poderia assumir tão bem este papel…

Na sua atitude, apercebe-se a vivência e fantástica absorção desta arte de quem nasce e cresce no meio. Na essência do seu canto, nota-se a postura, a regra e a influência, com a maior das naturalidades, de um naipe de outros grandes construtores desta forma de estar e viver a que chamamos “Fado”.

Para se ser intérprete não basta saber cantar, colocar a voz e afinar nas notas da melodia. É importante criar, pegar na poesia e sintonizá-la com a música, que também nos é sugerida.

Um grande intérprete é também um grande compositor, pois tem o talento de saber gerir o contexto entre a voz, a melodia e as palavras, para tudo se transformar numa mensagem. Uma mensagem que tem de chegar a todos, como se, de olhos fechados, pudessem ver e acreditar nas várias descrições apresentadas.

Existe dentro da artista um “íman” que estimula a criação de todos os que a rodeiam, desde os discos aos espectáculos, que se foram criando por si só, na inspiração daquela que é a personagem principal e ao mesmo tempo a “musa” deste projecto. Tinha de ser mesmo assim. Não se poderia abordar outro tema senão a história de Raquel Tavares. “

HM Música / Museu do Fado, acesso a 15 de abril de 2018

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