Francisco José Alves Gato

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Francisco José Alves Gato

Carrilhão

Francisco José Alves Gato nasceu na vila de Mafra em 9 de agosto de 1945 e faleceu a 28 de outubro de 2024.

Aos 6 anos iniciou os estudos de música, tendo como primeiro mestre José Henrique dos Santos, professor do Conservatório Nacional de Música.

Seu pai, Francisco Alves Gato, distinto carrilhanista do Palácio Nacional de Mafra durante o período de 1947 a 1957, transmitiu-lhe os ensinamentos que permitiram completar a sua formação musical, iniciando-o na execução de diversos instrumentos, entre os quais o carrilhão.

Em 1965, participou, com total aproveitamento no Curso de Carrilhão promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, dirigido pelo carrilhanista belga Delmotte.

Embora sem carácter regular, executou a partir de 1972 numerosos concertos no carrilhão de Mafra.

Durante o ano de 1984, retomou com regularidade essa actividade realizando concertos aos domingos.

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

Excertos de uma entrevista

Em entrevista a Paulo Anunciação (Blogue Um Português em Londres), dizia em 2015, entre outras coisas:

Eu não toco por profissão ou por dever de ofício. Toco por paixão, por amor a esta arte.

Habituei-me a ouvir o carrilhão quando ainda estava na barriga da minha mãe. O meu pai – que também se chamava Francisco Gato – tocava todos os domingos. E eu ia sempre com ele para a torre. Isto foi quando eu tinha cinco, seis anos. Habituei-me, tal como toda a população de Mafra, a ouvir o carrilhão enquanto se comia pevides na praça.

Visualizei de tal maneira a forma de tocar que um dia estava na escola – tinha oito anos, mais ou menos – e comecei a tamborilar na carteira, com as mãos. O carrilhão é tocado com as mãos e com os pés, tem um teclado superior e um outro em baixo. A professora perguntou-me o que é que eu estava a fazer. «Estou a tocar carrilhão!», disse eu. Ela expulsou-me da sala. Mas nem isso demoveu toda a minha vontade de vir a ser carrilhanista. Nem mesmo quando o meu pai foi demitido, em 1957.

[ O carrilhão ] tem os sinos, o teclado, os tirantes e toca-se com os pés e a parte exterior da mão, de punho fechado ou com os dedos abertos. Podem tocar-se sete sinos ao mesmo tempo. Mas é importante tocar-se devagar para se perceber bem.

Tocar carrilhão magoa as mãos e faz calos. Sai música, é certo, mas é preciso tocar-se a murro e a pontapé. O meu pai tinha-me avisado: “Filho, prepara-te para sofrer com o carrilhão”. E ele tinha razão.

Mafra poderia ter todas as condições para criar uma escola portuguesa de carrilhão. Existe imensa gente que gostaria de aprender a tocar e que, de momento, se vê obrigada a ir para a Holanda ou para a Bélgica. Falta a vontade política. Até temos um mestre com formação, que poderia dar lições. Mas as avenças são tão precárias que ele precisa de ganhar dinheiro com outras coisas.

Tive vários dissabores, é certo, mas o meu amor pelo carrilhão era superior a tudo o resto.

Nas escolas de carrilhão na Bélgica e na Holanda – as únicas reconhecidas no mundo inteiro – pensou-se num «carrilhinho», ou seja, um simulador de carrilhão. Trata-se de um teclado de estudo, que reproduz fielmente o do carrilhão. Uma réplica em que o som é produzido por marimbas metálicas e, inclusive, tubos ou sinos pequenos. Em princípio, os carrilhanistas deveriam ter esse simulador em casa, para preparar as pautas antes de ir para a torre. Aqui, não. Havia teclados de estudo, mas estavam fora de serviço há muito tempo. Eram peças de museu. Por isso fui directamente para a torre, comecei a tocar sozinho. De pés e mãos. Mas depois cancelaram-me a bolsa. Porquê? Nessa altura eu tinha 20 anos e estávamos no auge da guerra colonial. O Estado pensou que eu estava a querer fugir ao serviço militar. Cancelaram tudo. O meu pai já tinha avisado: «Filho, prepara-te para sofrer com o carrilhão».