P.E LUÍS DE SOUSA RODRIGUES

por António José Ferreira

Nascido em Rande, Felgueiras, a 6 de Julho de 1906, o P.e Luís de Sousa Rodrigues faleceu a 24 de Abril de 1979, no Porto, onde teve uma vida fecunda como sacerdote, compositor e pedagogo.

Homem de vasta cultura, atraía muitos fiéis à igreja da Lapa pela clareza e pertinência das homilias e pelo impulso musical dado às celebrações, que contaram com a colaboração dos italianos D. Angelo Fasciolo, organista e compositor, e Inno Savinni, director da Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto. Sociável e pontual, apaixonado pela música e pela natureza, criou mesmo uma tintura de camomila usada e vendida ainda hoje numa farmácia da Rua Serpa Pinto, Porto, que pertenceu à família Reis, sua amiga.

Tendo feito os primeiros estudos no antigo Colégio da Longra, prosseguindo-os no Porto, Luís Rodrigues foi ordenado padre pela Diocese em 1930. No início do século XX, embora houvesse um Comissão Diocesana de Música Sacra e alguns padres compusessem uns cânticos para as edições de Eduardo da Fonseca, a música litúrgica no Porto não parece ter sido brilhante.

A partir dos anos 40 e durante cerca de quatro décadas, o P.e Luís Rodrigues desenvolveu uma actividade que lhe valeria, a título póstumo, o grau de Oficial da Ordem de Santiago da Espada.

Tendo frequentado Harmonia, Contraponto e Fuga com o ilustre compositor Cláudio Carneyro, no Conservatório de Música do Porto e aprofundou esses estudos com Charles Koechlin, pedagogo e compositor francês. Visitou as abadias de Saint Wandrille e Solesmes e actualizou-se com mestres do canto gregoriano.

Foi colaborador da “Révue du Chant Grégorien”, dirigida por Lucien David, e das revistas “Cäcilian Vereins Organ” (de Colónia, Alemanha) e Lumen (Lisboa). No Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição, Porto, foi professor de canto gregoriano, tendo aí publicado em 1946 o Tratado de Canto gregoriano e Polifonia Sagrada.

Às portas do Concílio Vaticano II, fundou em 1957 o Coro Misto de São Tarcísio, que continua dinâmico na animação litúrgica e na divulgação da música sacra sob a direcção de Jairo Grossi, ligado à Igreja da Trindade desde 1997.

Especialmente prolífico nas décadas 1930/1950, Luís Rodrigues tem um extenso catálogo de obras publicadas nas edições Lopes da Silva (Porto), Van Rossum (Utrecht, Holanda) e Carrara (Bérgamo, Itália). Publicou Música Sacra. História e Legislação, a única obra do género publicada em Portugal, e biografias de grandes compositores (Débussy, Mussorgsky).

Compôs cânticos litúrgicos e religiosos, para crianças e adultos, peças para coro, órgão e orquestra. Curiosamente, o filme “A cidade e o pintor”(1956), de Manoel de Oliveira, tem banda sonora da sua autoria.

A sua relação com a cultura reflecte-se nas suas ligações pessoais, desde o organista da Catedral de Compostela à violoncelista Guilhermina Suggia, sem esquecer as pessoas que encontrava dia-a-dia.

Luís Rodrigues é um dos eclesiásticos que merecem figurar na galeria de notáveis do século XX em Portugal, um dos padres presentes na Enciclopédia da Música em Portugal no século XX.

Artigo publicado na Agência “Ecclesia” (10-03-2004) e na “Voz Portucalense” (10-03-2004), nos 25 anos da sua morte.

BIBLIOGRAFIA:

António José Ferreira, A igreja e a cultura contemporânea em Portugal, coord. de Natália Correia Guedes e Manuel Braga da Cruz. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa Editora 2001, 2000.

António José Ferreira

CITANDO

Luís Rodrigues é um dos eclesiásticos que merecem figurar na galeria de notáveis do século XX em Portugal.

António José Ferreira

Padre Luís de Sousa Rodrigues

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