Da sua mão sobe o ar ao infinito, de lá treme. A música, por um lado, vê-se; por outro, não se vê. Nada da música se improvisa por acaso. A música corre nas gargantas e pode ser tocada com um só dedo. A música mostra-se feia para os seus pares e bela para os seus ímpares. A música emudece, por vezes, os cantores e deixa-os a sós nos camarins à espera do amigo do carrasco. A música não é a mesma quando ouvida de longe ou quando ouvida de perto. A música não tem explicações a dar a si mesma: isso explica tudo. A música dá asas a quem voa: a quem tem asas para voar. A música faz aos poemas aquilo que os poemas quiseram fazer dela: render-se. E aos outros propõem: rendam-se! Tréguas e batalhas sem ordem de aviso.
A música é tamanha, cabe em qualquer medida.
A música referenda a liberdade? Sim ou não? A música depende dum botão da liberdade e desunha-se a mostrar os efeitos de num dedo a voz humana. A música faz orelhas moucas. A música não se esquece no silêncio: por isso, nos lembramos dela. Permanece em mais que um som. A música vai, por vezes, mais alto e duma torre afunda o eco no centro da terra. A música aguenta-se de pé, dorme sentada, dança e escorrega na cama. A música pausa e pausa, faz das malas a viagem mas se acena, já de longe… A música atira os seus poemas ao mar e recebe-os nas ondas do dia seguinte, nas garrafas outro povo. A música perdeu muitos bons poemas no vento contrário, quem sabe eram bons? A música é uma cópia duma cópia, de cara aberta vai ao fundo e vem à tona por respiração. A música é uma revolução de estilos, é do passarinho herdeira órfã. A música é órfã. Quando nasceu, os seus pais tinham morrido há pouco. É órfã.
A música é tamanha, cabe em qualquer medida.
A música esfrega os dedos em tudo o que der som. A música nunca teve, em si mesma, uma moral; pensa que não pensa e que não perdura. Diz-se que faz muito bem ouvi-la; alguém que pense e que perdure por ela. A música não tem barreiras, mas o amor por ela sim. A música prepara-se, destroçada mas vaidosa, para confessar tudo ao cair do sol. A música chora e ri ao mesmo tempo: uma criança por razões não exactamente compreensíveis. A música quer ser perfeita, sempre que por escolha é imperfeita. Por talento, dá-se a todas: a bondade, a presunção, ressentimento e, mais não fosse, a quatro tempos. A música de repente é a mesma nota repetida e outras vezes. A música mede-se com caneta e gravador. É maior e é menor. A música quando se encontra já lá está. A música nasceu antes de nós termos nascido com ela. A música segue a sua sombra e pela sombra é fácil, não há espelho. Ou é ritmo ou é pausa. Ambos dúbios mas reconhecíveis.
A música é tamanha, cabe em qualquer medida.
A música é feita à janela e aberta vê-se da rua. A música eriça-se ao menor vento, arranha-se a si mesma, ladra ao ar, risca a terra. Gosta mesmo. A música quando a chuva cai com barulho de entre as nuvens, vê-se o mar em dia de acalmia, o que não é explicável nem por norma nem por excepção dos deuses: digamos que são os sons em dia de ofertório. A música vai de rio e desagua: aquece a água doce, rebenta no mar salgado, larga os seus bichos no mar. A música tem duas mãos, é tocada com um só peito e um só dedo. Da música sobe o ar ao infinito. A música tem um só dedo e um só dedo. A música tem um só dedo e um só dedo. Nada da música se improvisa por acaso.
A música é tamanha, cabe em qualquer medida.
Letra e música: Sérgio Godinho Intérprete: Sérgio Godinho (in CD “Mútuo Consentimento”, Universal Music, 2011)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
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António José Ferreira 962 942 759
A Música
[ A Música Inventa o Lume ]
A música está coberta com um manto. E dessa névoa sai um uivo que poisa na água e inventa o lume.
É a voz das fragas e o riso, uma mulher que bate num cântaro para afastar os pássaros dos lagares. De uma cordilheira levanta-se um corvo. A planície, a seu lado, transforma-se num imenso rio onde nascem os limões e a tarde cai como se fosse um toldo de marfim.
A música está coberta com um manto. E dessa névoa sai um uivo que poisa na água e inventa o lume.
É a voz das fragas e o riso, uma mulher que bate num cântaro para afastar os pássaros dos lagares. De uma cordilheira levanta-se um corvo. A planície, a seu lado, transforma-se num imenso rio onde nascem os limões e a tarde cai como se fosse um toldo de marfim.
O lume arde nesta paisagem reencontrada e todos os objectos se viram de repente, em êxtase, anunciando o vinho.
O lume arde nesta paisagem reencontrada e todos os objectos se viram de repente, em êxtase, anunciando o vinho.
Poema: Jaime Rocha Música: Janita Salomé Intérprete: Janita Salomé (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa) Versão original: Janita Salomé com Luanda Cozetti (in CD “Valsa dos Poetas”, Cantar ao Sol/Ponto Zurca, 2018)
Apoiou o arco suavemente
[ Bendita Música ]
Apoiou o arco suavemente sobre as cordas E atacou com toda a naturalidade Mi fá mi ré dó ré mi fá E uma a uma dissecou cada passagem Com preciso e afiado bisturi Fá sol fá mi ré dó ré mi
E espalhou aos quatro ventos os risos e os lamentos Era o sangue posto em pé Sol lá sol fá mi ré dó ré Aprisionado era um grilo que chamava a sua amada: Estou aqui! Fá ré si lá fá dó si lá sol sol lá si
Esquece tudo e vem comigo! Vibrava mágica a voz do músico Parindo música… Música bendita música: Lá dó si si lá sol lá
Em consequência de uma ousada pirueta Que o intérprete salvou com frialdade Mi fá mi ré dó ré mi fá Meu coração foi pelos ares como um cometa Pressentindo que andavas por ali Fá sol fá mi ré dó ré mi
E com a angústia e o talento do final do movimento Não te encontrava. Porquê? Sol lá sol fá mi ré dó ré E entre as cadeiras da segunda galeria, descobriu-te: Eras de mim! Fá ré si lá fá dó si lá sol sol lá si
Esquece tudo e vem comigo! Vibrava mágica a voz do músico Parindo música… Música bendita música: Lá dó si si lá sol lá
Letra e música: Fernando Tordo Arranjo: Josep Mas “Kitflus” Intérprete: Fernando Tordo (in CD “Peninsular”, Fernando Tordo, 1997)
Assim tão simples
[ Música, Música ]
Assim tão simples Tão luminosa Como mulher num dia doce Ai como rosa Assim tão simples Ainda nada Assim te vi e te abracei e fiz-me à estrada
Sem eu saber ali nascia E quem começa já não consegue parar Ali sentia, ali fervia E foi nela que aprendi a navegar
Música Eterna música Maldita música Sempre mulher Música Apassionata Só não te ama quem não sabe acontecer
Música De dia música À noite música Dentro de mim sem eu saber Música Íntima música De madrugada para melhor te conhecer
Música Amor e música Beleza e música Poesia de existir Música Insónia e música Não reconheço outra forma de viver
Como os teus lábios, como um corpo, como dança E a fantasia numa história de criança Assim me minto Assim resisto Pois este mundo de gravatas e favores Ai, de negócios e messias salvadores Ai, meus senhores Nós construímos muito mais que tudo isto
Nós fazemos Música Eterna música Maldita música Sempre mulher Música Apassionata Só não te ama quem não sabe acontecer
Música De dia música À noite música Dentro de mim sem eu saber Música Íntima música De madrugada para melhor te conhecer
Música Amor e música Beleza e música Poesia de existir Música Insónia e música Não reconheço outra forma de viver
Poema e música: Pedro Barroso Intérprete: Pedro Barroso Versão original: Pedro Barroso (in CD “Cantos da Paixão e da Revolta”, Ovação, 2012) Outra versão: Pedro Barroso (in CD/DVD “Memória do Futuro: Ao vivo no Rivoli”, Ovação, 2013)
Pedro Barroso
Eu só quero
[ Música ]
Eu só quero a música, Essa amante incerta, ingrata, Que me vence e persegue, Mais parece que me mata.
Eu deixo-me encantar Na cantiga do bandido, Nas promessas que ela faz Quando faz amor comigo.
Logo me deixo tomar Com fogo e mansidão; Ela pede o que não dá: Cobra em dor e sem razão.
És mais forte do que a força Que me esventra sem quebrar; Dás o sopro, tiras fôlego, Não há como te deixar.
Eu deixo-me encantar Na cantiga do bandido, Nas promessas que ela faz Quando faz amor comigo.
Logo me deixo tomar Com fogo e mansidão; Ela pede o que não dá: Cobra em dor e sem razão.
És mais forte do que a força Que me esventra sem quebrar; Dás o sopro, tiras fôlego, Não há como te deixar.
Quanto mais tomas e prendes, Mais eu tenho p’ra te dar: Abro as portas, desarmada, Para ti, de par em par.
Quanto mais tomas e prendes, Mais eu tenho p’ra te dar: Abro as portas, desarmada, Para ti, de par em par;
Para te fazer a deusa, A reza, o meu altar. Para te fazer a deusa, A reza, o meu altar. Para te fazer a deusa, A reza, o meu altar.
Letra: Ana Barroso Música: José Peixoto Intérprete: Ana Barroso (in CD “Diário”, Ana Barroso, 2014)
Músicos, Cravos e Rosas
É pela música que encantas os sentidos, apurados pelos sonhos mais antigos de entender a emoção e a alegria, provocado o coração, em agonia. Vais levado pelo vento, pelos sons do pensamento.
Cravos são livres, são bravos. Rosas são belas, são prosas.
É pelo som do mar no canto das sereias, que te vão contar compassos e colcheias, mas tu és o tempo forte e o agasalho. Tempo fraco não é sorte, é trabalho. Vais levado pelo vento, pelos sons do pensamento.
Cravos são livres, são bravos. Rosas são belas, são prosas.
Quem te compra cria garras de encantar. Vendes a alma? Essa não se pode comprar. Na viagem pelos sons desta braguesa ouço histórias de uma canção portuguesa. É uma luta contra o vento, não se vende o pensamento.
Cravos são livres, são bravos. Rosas são belas, são prosas.
Cravos e rosas.
Letra e música: José Barros Arranjo: José Barros Intérprete: José Barros e Navegante (in CD “À’Baladiça”, Tradisom, 2018)
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2020/05/sergio-godinho-cantautor.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2020-05-11 22:10:472024-11-13 04:29:19Canções sobre Música
Acertando o passo ou nem tanto escorregavam do lamento ao canto; Sorrindo ao pisar e às estrelas as promessas ateavam alvas velas.
Ardentias do amor anunciadas vindouras dores eram semeadas; No céu, o néon, luzem pregões, desditas eram. Pintavam corações.
Bulia o baile, buliam as raparigas se levadas nas cantigas e repetidos o par.
Bulia o baile, buliam as raparigas se levadas nas cantigas e repetidos o par.
Eram olhares repetidos, eram perfumes sentidos misturados com o arfar.
Veredas de barro e de fel, aço entrançado, favos de mel, desejos jurados sem hesitar, barca dos sonhos a navegar.
As canções meladas ao ouvido eram cruzadas, no seu sentido; e os passos que davam a saber era o amor louco a acontecer.
Bulia o baile, buliam as raparigas se levadas nas cantigas e repetidos o par.
Bulia o baile, buliam as raparigas se levadas nas cantigas e repetidos o par.
Eram olhares repetidos, eram perfumes sentidos misturados com o arfar.
Letra e música: Lindolfo Paiva Intérprete: Dialecto* (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)
Canções de baile
Dança comigo
Dança comigo, morena Leveza de pena Esta dança breve Dança e rodopia Solta-me a alegria De quem nada deve
Acende-me a cara, o rosto Os lábios de mosto Riso de marfim Requebra a cintura Que és a criatura Nascida p’ra mim
Vamos, a dança é louca Dá-me a tua boca Que este beijo é meu Dança comigo, amada Que eu já estou na escada Que me leva ao céu
Ao som da concertina (Cinturinha fina Pele de cetim) Dança, meu amor Não sei doutra flor Que bem dance assim
Dança com fantasia No fim deste dia Que se vai embora No passo da vida Dancemos, querida Que é a nossa hora
Vamos, a dança é louca Dá-me a tua boca Que este beijo é meu Dança comigo, amada Que eu já estou na escada Que me leva ao céu
Vamos, a dança é louca Dá-me a tua boca Que este beijo é meu Dança comigo, amada Que eu já estou na escada Que me leva ao céu
Ah vamos, que a dança é louca Dá-me a tua boca Que este beijo é meu Dança comigo, amada Que eu já estou na escada Que me leva ao céu
Letra e música: Aníbal Raposo (2006-09-26) Intérprete: Aníbal Raposo (in CD “Rocha da Relva”, Aníbal Raposo/Global Point Music, 2013)
Reciclanda
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Dançava, dançar, dançou
[ Saias das Sete Saias ]
Dançava, dançar, dançou, Cantou e alegre cantava… Se a vida alegre voou A vida triste lhe paga; Dançava, dançar, dançou, Cantou e alegre cantava.
Sete saias rompia, Sete saias rompeu… Do nascer ao fim do dia Muitas saias conheceu; Sete saias rompia, Sete saias rompeu.
Diz o povo sem lamúrias Que a terra lhe paga em vida… Que a morte lhe tira os dias E só lhe dá a guarida; Diz o povo sem lamúrias Que a terra lhe paga em vida.
Sete saias rompia, Sete saias rompeu… Do nascer ao fim do dia Muitas saias conheceu; Sete saias rompia, Sete saias rompeu.
Quando as saias compridinhas No final da ceifa ou monda Eram todas mais curtinhas, Quase uma saia redonda… Quando as saias compridinhas Eram todas mais curtinhas.
Sete saias rompia, Sete saias rompeu… Do nascer ao fim do dia Muitas saias conheceu; Sete saias rompia, Sete saias rompeu.
Da terra se faz a história Que um povo diz a cantar… A terra só tem memória E tem muito p’ra contar; Da terra se faz a história Que um povo diz a cantar.
Sete saias rompia, Sete saias rompeu… Do nascer ao fim do dia Muitas saias conheceu; Sete saias rompia, Sete saias rompeu.
Letra e música: José Barros Arranjo: José Barros Intérprete: Navegante com Janita Salomé (in CD “Meu Bem, Meu Mal”, Tradisom, 2008)
Quantas voltas tem a dança
[ Se Ainda Der para Disfarçar ]
Quantas voltas tem a dança em tantas voltas contadas? Um segredo de criança escondido em mil gargalhadas Tantas mãos que foram dadas na ternura de um abraço Quantas vontades caladas na volta meiga de um passo
Quantas horas de viagem na alegria de te ver? Quanta falta de coragem, tanta coisa por dizer E acabamos a esconder, vá-se lá saber porquê Nestas coisas do querer os sinais são p’ra quem os lê
Dá-me uma dança, faz-me acreditar Uma lembrança p’ra eu levar Que eu tenho sempre vontade de voltar e te dizer Se ainda der p’ra disfarçar Ensina-me a dançar
Faz de conta que o poente acontece a qualquer hora Quando a noite se faz quente e um beijo se demora Já o frio se foi embora ao tocar da tua mão Que há-de ser de nós agora? Faz sentido: sim ou não?
Dá-me uma dança, faz-me acreditar Uma lembrança p’ra eu levar Que eu tenho sempre vontade de voltar e te dizer Se ainda der p’ra disfarçar Ensina-me a dançar
É a valsa do começo, é a vida a esvoaçar É a pele a soltar um arrepio É uma cor que eu não conheço, um sabor de acreditar Uma praia cor de um desafio
Dá-me uma dança, faz-me acreditar Uma lembrança p’ra eu levar Que eu tenho sempre vontade de voltar e te dizer Se ainda der p’ra disfarçar Ensina-me a dançar
Ensina-me a dançar Ensina-me a dançar Ensina-me a dançar
Letra e música: Sebastião Antunes Intérprete: Sebastião Antunes (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017) Versão original: Sebastião Antunes (in CD “Cá Dentro”, Vachier & Associados, 2009)
Sete saias da Nazaré
Sete portadas
[ Baile das Vozes ]
Sete portadas De pedra, E mais sete De madeira
Sete meninas Sentadas Outras sete Na ladeira
Foram lavar Suas vestes Toda a noite Noite inteira
Menina que olhos Esses que me Encantam De maneira
E neste baile Cruzado, Sete cruzes Se transformam,
Em redor Do seu amado Sete vénias Que se Formam…
Ficam Bailando Num pé E no outro Saltitando,
Cinco meninas Saíram E só duas Vão ficando!…
E se acordarem Os santos Num bailado De folia
Juntam-se as vozes À noite Bailam apenas De dia!…
Menina que dança E canta, E seu canto É noite fria!
E rodopia cantando, No seu baile De alegria!…
Letra: José Flávio Martins Música: José Flávio Martins e Rui Tinoco Intérprete: Frei Fado d’El Rei (in CD “Em Concerto”, Açor/Emiliano Toste, 2003)
Sorvem-me o sangue
[ Trocaram-me a Dança! ]
Sorvem-me o sangue, Deixam-me exangue, Ceifam-me a vida na terra prometida.
Tolhem-me a esperança, Trocam-me a dança, Solta-se o grito na raiva incontida.
Sorvem-me o sangue, Deixam-me exangue, Ceifam-me a vida na terra prometida.
Tolhem-me a esperança, Trocam-me a dança, Solta-se o grito na raiva incontida.
Na dança da vida com o passo trocado, Na dança das fitas estou no filme errado; Destroços de sonhos errantes na serra Espezinham-me a flor…, tenho a Primavera.
Cercam-me o tempo, Varrem-me o alento, Ferem-me o voo, a paixão e o sustento.
Lanço a semente, Rasgo o silêncio, Cerro a decência, declino ser inocente.
Na dança da vida com o passo trocado, Na dança das fitas estou no filme errado; Destroços de sonhos errantes na serra Espezinham-me a flor…, tenho a Primavera.
Cercam-me o tempo, Varrem-me o alento, Ferem-me o voo, a paixão e o sustento.
Letra e música: Álvaro M. B. Amaro Intérprete: Dialecto* (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)
Vai ao centro
[ Centro ao centro ]
Vai ao centro, vai ao meio! Agora vou andar Com meu amor em passeio; Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Vá de roda, cantem todas Cada qual sua cantiga! Eu também cantarei… Eu também cantarei uma Que a mocidade me obriga.
Vá de roda, cantem todas Cada qual sua cantiga! Que eu também cantarei uma Que a mocidade me obriga.
Vai ao centro!…
Moda:
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar…
Cantiga:
Vá de roda, cantem todos Cada qual sua cantiga! Que eu também cantarei uma Que a mocidade me obriga.
Moda:
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar…
Moda:
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar Com meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar…
Cantiga:
Minha mãe, p’ra m’eu casar, Ofereceu-me uma panela; Depois de me ver casada, Partiu-me a cara com ela.
Moda:
Vai de centro ao centro ao centro! Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou andar om meu amor em passeio.
Com meu amor em passeio, Com meu bem a passear, Vai de centro ao centro ao meio! Agora é que eu vou… andar…
Centro ao Centro (dança de roda) Letra e música: Tradicional (Ourique / Castro Verde, Baixo Alentejo) Informantes: Grupo Coral e Etnográfico “As Papoilas do Corvo” (Aldeia do Corvo, Castro Verde), Manuel Bento (Aldeia Nova, Ourique) e Pedro Mestre (Sete, Castro Verde) Recolha: Lia Marchi (in “Caderno de Danças do Alentejo”, Associação Pédexumbo e Olaria Cultural, 2010 – p. 34-35) Intérprete: Aqui Há Baile (in CD “Caderno de Danças do Alentejo – adaptações”, Associação Pédexumbo/Caracol Secreto, 2013)
Vai de roda
Vai de roda, vai de roda, Vai de roda que é tão breve; Tenho uns amigos na roda, Tenho uns amigos na roda, Deixam a roda mais leve.
Vai de roda, vai de roda, Vai de roda alguns amores; Quantos mais amores na roda, Quantos mais amores na roda Mais te perseguem as dores.
Vai de roda, vai de roda, Vai de roda até ao fim; Já tentei fugir da roda, Já tentei fugir da roda Mas ela rodou por mim.
Vai de roda, vai de roda, Vai de roda sem parar; Quem nunca esteve na roda, Quem nunca esteve na roda Não pode a roda enganar.
Vai de roda, vai de roda, Vai de roda até ao fim; Já tentei fugir da roda, Já tentei fugir da roda Mas ela rodou por mim.
Vai de roda, vai de roda, Vai de roda sem parar; Quem nunca esteve na roda, Quem nunca esteve na roda Não pode a roda enganar.
Letra e música: Duarte (Outubro de 2010) Intérprete: Duarte, com Mara (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018) Versão original: Duarte (in CD “Sem Dor Nem Piedade”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2015)
Coragem é ter cabeça dura
sem contrair defesas veneráveis
paro, fico tolo, não quero viver
passa tudo quando estou ao pé de ti
e se ela quer só trocar transpiração
não posso dar a minha desprovida
em todo o suor vai um coração
que à partida há-de ter volta após a ida
sacrifica-se a memória e recalco o que passou
isto que aqui está é outra história e vou ser mais do que fui
o tribunal conclui que o réu está bom
heróis do mar
somos tão valentes
mas a paixão dá cabo da força
preciso de ti p’ra ficar perto de mim
passa tudo quando te distrais de ti
e se amanhã me apareceres à frente
com intenções e alma decotada
a transpiração fica cheia de razão
fim do filme, pôr-do-sol de mãos atadas
sacrifica-se a memória e recalco o que passou
isto que aqui está é outra história e vou ser mais do que fui
o tribunal conclui que o réu está bom
o mal que pode correr é inversamente proporcional
ao bem que te pode fazer, ao bem
compro uma matilha p’ra não teres medo de mim
dizes que estás desacreditada
e já não lês histórias da carochinha
tu julgas que não mas sou o teu João Ratão
e mulher podes escrever que vais ser minha
tu julgas que não mas sou o teu João Ratão
e mulher podes escrever que vais ser minha
sacrifica-se a memória e recalco o que passou
isto que aqui está é outra história e vou ser mais do que fui
o tribunal conclui…
o tribunal conclui que o réu está bom
Letra e música: Carlos Oliveira Martins Intérprete: A Caruma* (in CD “Hóstia de Mentol”, Caruma & Alain Vachier/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Desenraizado
[ Fado ]
Desenraizado, não sei cantar fado nem sou popular
estou sempre ali perto dum país incerto a apanhar do ar
não sei ser de Alfama, não tenho saudade, eu nem sou daqui
então concentro de fora p’ra dentro a minha raiz
estás desgraçado, rapaz, oxalá não te percas
este país está dentro de ti
encadernado e usado com palavras certas
quem serás tu neste mundo se não és daqui?
beira mal plantado, cantinho encostado com sabor a nós
eu sou neste mundo Portugal profundo que já teve voz
se faço perguntas, se sou ou não fado, se ele já foi meu
passadas vitórias, vivo numa inglória, num país-museu
e tudo o que aqui resta sou só eu
estás desgraçado, rapaz, oxalá não te percas
este país esta dentro de ti
encaixotado e usado com palavras certas
quem serás tu neste mundo se não és daqui?
santificado é o fado de aceitar o fado de ser português
é um Bandarra, é Vieira, Pessoa que cheira a Pedro e Inês
ser Portugal é a sina, maldição divina de gente que crê
ser Portugal é a sina, maldição divina de gente que crê
Letra e música: Carlos Oliveira Martins
Intérprete: Caruma* com José Medeiros (in CD “Hóstia de Mentol”, Caruma & Alain Vachier/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Estás armado em parvo
[ Minar a Liberdade ]
Estás armado em parvo mas está tudo bem
vou ali num instante desmembrar alguém
vícios separados do tutano
limpo o coração muito muito bem
energia dura sem pátria ou poluição
pura das entranhas mas fora da pele não
e eu não fui
chega-te p’ra lá, toma lá dá cá
vais-me abandonar e eu vou já atrás
sarilhos que metem aviões
e sexo são arranca-corações
não te vejo aqui mas está cheio de ti aqui
esgueiraste o veneno e tu pensas que eu não vi
mas não sou tão drogada assim
eu não fui
eu sei que tudo passa e que vem tudo outra vez
sou da tua raça mas em fraco e tu não vês
isto de ser gente um p’ró outro
mais valia sermos tortos
e amar tudo de uma vez
aí está ele a minar a liberdade
estraguei outra vez depressa de mais
vais-te alimentar de mim com vontade
sou bicho-de-conta por medo de mim
mas é que se não for às cegas não vou
se não for com trapos e malas não vou
e escuto um grande “não” quando sussurras que sim
o teu magnetismo explica tanto cinismo
e a ser alguém que sejas tu
eu não fui
eu sei que tudo passa e que vem tudo outra vez
sou da tua raça mas em fraco e tu não vês
isto de ser gente um p’ró outro
mais valia sermos tortos
e amar tudo de uma vez
aí está ele a minar a liberdade
aí está ele a minar a liberdade
aí está ele a minar a liberdade
aí está ele a minar a liberdade
estás armado em parvo mas está tudo bem
vou ali num instante desmembrar alguém
vícios separados do tutano
eu não fui
Letra e música: Carlos Oliveira Martins Intérprete: A Caruma* (in CD “Hóstia de Mentol”, Caruma & Alain Vachier/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Quando dizes que a cerveja
[ Magnetismo em Riste ]
Quando dizes que a cerveja fez-te apaixonar por mim
foi por ela que deixaste de gostar de mim assim
que a boémia dá-me charme
que sou magnetismo em riste
que sou suor e sou carne
e sou ressaca de triste
ansioso e mal amado
estou de fora a ver-me a ser
sou assim encurralado
com bons modos a “des-ser”
catadupa em dissonante
por mais cantigas que cante
vou morrer sem mudar nada
dou-me armas e bagagens
dormente de encharcado
faço quatro mil viagens
e não vou p’ra nenhum lado
quero ser sem comprimidos
quero que sejas de mim
esperar mais é dar-me a morte
medicada pelo fim
canto de pupilas gastas
hipertenso cheio de sede
amanhã não me procures
amanhã não tenho rede
catadupa em dissonante
por mais cantigas que cante
vou morrer sem mudar nada
sei saltar de corpo em corpo
encarnado em ser melhor
sei ser um corpo no teu corpo
nasci a saber de cor
sou moldado a respirar
mando rajadas de sangue
e sai tudo disparado
e sai tão embriagado
vai montanha-russa abaixo
educado em pequenez
esfrego o pai-nosso do corpo
e sou puro duma vez
catadupa em dissonante
por mais cantigas que cante
vou morrer sem mudar nada
Letra e música: Carlos Oliveira Martins
Intérprete: Caruma* com José Medeiros (in CD “Hóstia de Mentol”, Caruma & Alain Vachier/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Ri sozinho de paspalhice
[ Projecto Internacional ]
Ri sozinho de paspalhice, chorei de devagar e disse:
«Isto não devia acontecer
dizeres que me amas
e depois que em duas semanas não acontece amor»
quero a minha casa
os braços dos meus
senti-me pujante de burro
eu num canto a olhar p’ra nada
a soluçar em nada
voltaste atrás assim:
«I was blind»
isso é dum filme
«I could not see»
é cantiga dos U2
e dormimos com arrepios
de tanto drama espojados na nossa cama
a fazer de conta amor
não sei, acho que isto já se partiu
eu já não suspiro e suspirar é bom
estar apaixonado em Budapeste
e ficar a leste sozinho com a maior das penas de estar sozinho
mas já sei o que faço aqui
espero a hora de virar daqui
não sou o teu projecto internacional
isso é dum filme
“I could not see”
é cantiga dos U2
e dormimos com arrepios
de tanto drama espojados na nossa cama
a fazer de conta amor
Letra e música: Carlos Oliveira Martins Intérprete: A Caruma* (in CD “Hóstia de Mentol”, Caruma & Alain Vachier/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Saltei p’ra ver
[ Boa Educação Imoral ]
Saltei p’ra ver
estou dentro de tão boa educação
emparedada de redondo
a arrastar a solidão de ser antigo
faça o favor de ser quem é
não tem de ser o que faz
faça o favor de usar juízo
desligar dispositivo e gostar mais de andar por cá
cansei de ser
borrego nesta imensa multidão
carecida de vontade
extremamente encarecida
há pão e vinho
santificado é o Senhor
que me santifica a bilha
chupa a teta e faz-me um filho
baptizados que hão-de vir têm a vida vencida
carcomido à nascença
e o teu Deus em contrapeso
que tapa o Sol com hóstias de mentol
boa educação imoral
não pode haver vontade em fabricar vontades, não
podia ser
tão bem encarrilhado em alemão
vida com chave na mão
empenhado até projeccionar a alma
suicidar a emoção
anti-anti-depressiva
bebo vinho a toda a hora
adormeço de vergonha a vontade de ser vida
carcomido à nascença
e o teu Deus em contrapeso
que tapa o Sol com hóstias de mentol
boa educação imoral
não pode haver vontade em fabricar vontades
não pode haver vontade em fabricar vontades
não pode haver vontade em fabricar vontades, não
Letra e música: Carlos Oliveira Martins
Intérprete: A Caruma* (in CD “Hóstia de Mentol”, Caruma & Alain Vachier/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Tenho dinheiro p’ra trinta caixões
[ Trinta Caixões ]
Tenho dinheiro p’ra trinta caixões e nem um é para mim
tenho dinheiro p’ra trinta caixões e são todos por ti
está descansada que vives mil anos
mas com calminha p’ra não causar danos
tenho dinheiro p’ra trinta caixões e são todos por ti
vou tratar do meu casulo
afastar a gente má
que há quem viva neste mundo
e há quem queira andar só por cá
aquele já é doutor
e apregoa falsidade
algemados gritam alto:
«Viva a nossa liberdade!»
mãe, ó da guarda, ele não me liga mais
mãe, estou à venda a quem me oferecer mais
tenho planos nesta vida de ter carro, casa e pão
se não for com este jovem, homem velho não diz “não”
gosto mais de mim assim
a saber que sei gostar
gosto ainda bem de ti
mas não sei pagar pr’amar
somos todos tão fofinhos
eu sem ti não sei viver
venha daí o corpinho
isso eu sei fazer render
está descansada, vives mil anos
mas com calminha, cuidado com os danos
dança-me o corridinho com sapato velho
ai que acumulas a vida com a sorte da morte que p’ra ti não vem
mãe, ó da guarda, ele não me liga mais
mãe, estou à venda a quem me oferecer mais
tenho planos nesta vida de ter carro, casa e pão
se não for com este jovem, homem velho não diz…
tenho dinheiro p’ra trinta caixões e é tudo p’ra mim
Letra e música: Carlos Oliveira Martins
Intérprete: A Caruma* (in CD “Hóstia de Mentol”, Caruma & Alain Vachier/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Troca-se o visto por dito
[ Visto por Dito ]
Troca-se o visto por dito
que cá na casa que fiz
gasta-se guito e imito
toda a gente a ser feliz
cada conta com seu conto
cada rei com seu carrasco
há polícia e Carnaval
para garantir o tasco
sapatinho no Natal
sandália o ano todo
o vento muda de Leste
e sou sempre eu que me lixo
carapaus e caviar
às vezes na mesma mesa
uns tostões, outros milhões
a cantar “A Portuguesa”
mandas na marca da minha sardinha
mas não mandas nada do que me vai cá na pinha
dizes p’ra ti: «sou tão inteligente!»
um dia destes ainda vais ouvir da gente
cantoria no Rossio, escanzelada a pontapé
a conversa vai madura na esquina do meu café
estremunhada acorda a banca, promessas de terror
amanhã colecta o fisco a gente a fazer amor
com tanta saliva fresca, com tanto sangue miúdo
sou da Jota não sei quê e já pareço graúdo
o sistema está assim bem montado em comité
tenho três paredes falsas com olho que tudo vê
mandas na marca da minha sardinha
mas não mandas nada do que me vai cá na pinha
dizes p’ra ti: «sou tão inteligente!»
um dia destes ainda vais ouvir da gente
ah que isto agora é um sonho mau
dissonância, arrastadeira, cantadeira, a maluqueira é tanta
que um dia vai tudo a pau
contam-se os mortos no fim
que a haver um fim vai ser com graça
que a desgraça não existe
que o que existe é ser feliz
mandas na marca da minha sardinha
mas não mandas nada do que me vai cá na pinha
dizes p’ra ti: «sou tão inteligente!»
um dia destes ainda vais ouvir…
um dia destes ainda vais ouvir…
um dia destes ainda vais ouvir da gente
Letra e música: Carlos Oliveira Martins Intérprete: A Caruma* (in CD “Hóstia de Mentol”, Caruma & Alain Vachier/Alain Vachier Music Editions, 2016)
Vivo como um chulo à consignação
[ Bêbado ]
Vivo como um chulo à consignação
vendo lixo rico – é a minha obsessão
sentaste-te em cima da alma
agora queres comprar-me com mais calma
chulas-me a saúde e eu perco-me doente
quero mais de ti além de só saliva quente
atrofio o teu caminho, nunca foi o nosso
dá-me p’ra virar daqui sempre que posso
tudo tem de ser como tem de ser
conheci-te a tempo de te esquecer tão bem
dá-me mais um copo, juro desta é que me vou
sei que é sempre o mesmo a esta hora mas eu vou
disse-lhe três vezes que sou torto, parvo e bêbado
o bêbado não precisa de amigos nem tu precisas dum bêbado
tira-me este cheiro a sol e vinho velho
é sempre nesta altura que me queres levar p’rá cama
faço contas para decidir quando te beijo
e estou sempre ali preso na lama
tudo tem de ser como tem de ser
conheci-te a tempo de te esquecer tão bem
dá-me mais um copo, juro desta é que me vou
sei que é sempre o mesmo a esta hora mas eu vou
disse-lhe três vezes que sou torto, parvo e bêbado
o bêbado não precisa de amigos nem tu precisas de mim
nem tu precisas de mim
tudo tem de ser como tem de ser
conheci-te a tempo de te esquecer tão bem
dá-me mais um copo, juro desta é que me vou
sei que é sempre o mesmo a esta hora mas eu vou
disse-lhe três vezes que sou torto, parvo e bêbado
o bêbado não precisa de amigos nem tu precisas dum bêb…
sai daqui e deixa-me cair que eu vou cair
não há mais conversa, porque estás a insistir?
disse quatro vezes que sou torto, parvo e bêbado
o bêbado não precisa de amigos nem tu precisas de mim
Letra e música: Carlos Oliveira Martins
Intérprete: A Caruma* (in CD “Hóstia de Mentol”, Caruma & Alain Vachier/Alain Vachier Music Editions, 2016)
A lonjura é um degredo Sem grades para assaltar; Sem olhos, sem mãos, segredo, Boca calada de amar.
É mar que afunda a fragata, É cotovia sem voz; É um orvalho sem prata Letra sem rosto, sem foz.
É lágrima, é destempero, É tabuada aldrabada; Diário do desespero, Diário branco, sem nada.
Um chapéu cheio de traça, A sina contada à toa; A lonjura é uma desgraça, Não há dor que tanto doa.
Letra: Joaquim Sarmento Música: João Black (Fado Menor do Porto) Intérprete: Helena Sarmento Versão original: Helena Sarmento (in CD “Lonjura”, Helena Sarmento, 2018)
A minha alma está doente
[ Confirmação ]
A minha alma está doente, Quiseram em vão curá-la E quantos ingenuamente Tentaram amortalhá-la!
Fizeram cerco e, no meio De toda aquela muralha, Eu (que sofria!) cantava… Não me servira a mortalha!
E à medida que o segredo Vinha em meus lábios poisar-se, | Embriagado, eu cantava… Não me servira o disfarce!
Mas, por fim, vendo, talvez, Que nenhum remédio havia Deram à minha surdez O nome de poesia…
Poema: Pedro Homem de Mello (ligeiramente adaptado) Música: Renato Varela (Fado Meia-Noite) Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Fado e Folclore”, RCA Victor, 1970)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
CONFIRMAÇÃO
(Pedro Homem de Mello, in “Eu Hei-de Voltar um Dia”, Lisboa: Edições Ática, 1966, reimp. 1999 – p. 63)
A minha alma está doente, Quiseram em vão curá-la E quantos ingenuamente Tentaram amortalhá-la! Formaram cerco e, no meio De toda aquela muralha, Eu (que sofria!) cantava… Não me servira a mortalha! E à medida que o segredo Vinha em meus lábios poisar-se, Embriagado, eu cantava… Não me servira o disfarce! Mas, por fim, vendo, talvez, Que nenhum remédio havia Deram à minha surdez O nome de poesia…
À rapariga mais nova
[ Testamento ]
À rapariga mais nova Do bairro mais velho e escuro, Deixo meus brincos lavrados Em cristal límpido e puro.
E àquela virgem esquecida, Sonhando alto uma lenda, Deixo o meu vestido branco Todo tecido de renda.
E este meu rosário antigo, De contas da cor dos céus, Ofereço-o àquele amigo Que não acredita em Deus.
E os livros, rosários meus Das contas d’outro sofrer, São para os homens humildes Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos, Esses que são só de dor, E aqueles que são de esperança São para ti, meu amor.
P’ra que tu possas, um dia, Com passos feitos de lua, Oferecê-los às crianças Que encontrares em cada rua.
Poema: Alda Lara (adaptado) Música: Popular (Fado Menor) Intérprete: Tereza Tarouca (in EP “O Riso Que me Deste”, RCA Victor, 1967; LP “Os Melhores Fados de Tereza Tarouca”, RCA Camden, 1978; 2LP “Álbum de Recordações”: LP 1, Polydor/PolyGram, 1985; CD “Temas de Ouro da Música Portuguesa”, Polydor/PolyGram, 1992; CD “Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006; CD “Tereza Tarouca”, col. Fado Alma Lusitana III, vol. 3, Levoir / Correio da Manhã, 2014)
TESTAMENTO
(Alda Lara, in “Poemas”, Sá da Bandeira, Angola: Imbondeiro, 1966, reed. Braga: APPACDM, 1997, 2005)
À prostituta mais nova do bairro mais velho e escuro, deixo os meus brincos, lavrados em cristal, límpido e puro… E àquela virgem esquecida, rapariga sem ternura sonhando algures uma lenda, deixo o meu vestido branco, o meu vestido de noiva, todo tecido de renda… Este meu rosário antigo ofereço-o àquele amigo que não acredita em Deus… E os livros, rosários meus das contas de outro sofrer, são para os homens humildes que nunca souberam ler. Quanto aos meus poemas loucos, esses, que são de dor sincera e desordenada… esses, que são de esperança, desesperada mas firme, deixo-os a ti, meu amor… Para que, na paz da hora, em que a minha alma venha beijar de longe os teus olhos, vás por essa noite fora, com passos feitos de lua, oferecê-los às crianças que encontrares em cada rua…
Caía a tarde
[ O Bêbado e a Equilibrista ]
Caía a tarde feito um viaduto E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos A lua, tal qual a dona de um bordel, Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel E nuvens, lá no mata-borrão do céu, Chupavam manchas torturadas, que sufoco! Louco, um bêbado com chapéu-côco Fazia irreverências mil p’rá noite do Brasil, meu Brasil Que sonha com a volta do irmão do Henfil Com tanta gente que partiu num rabo-de-foguete Chora a nossa pátria, mãe gentil Choram Marias e Clarices no solo do Brasil Mas sei que uma dor assim pungente Não há-de ser inutilmente a esperança Dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo dessa linha pode se machucar Azar, a esperança equilibrista Sabe que o show de todo o artista tem que continuar
Letra: Aldir Blanc Música: João Bosco (a partir da música “Smile”, de Charles Chaplin, composta para a banda sonora do filme “Tempos Modernos”, 1936) Intérprete: Helena Sarmento* Versão original: Helena Sarmento (in CD “Lonjura”, Helena Sarmento, 2018) Versão original: João Bosco (in LP “Linha de Passe”, RCA Victor, 1979, reed. RCA, 2004) Outra versão: Elis Regina (in LP “Elis, Essa Mulher”, Warner Bros. Records, 1979, reed. Warner Music Brasil/WEA Music, 1989)
Ciganos
Ciganos! Vou cantar, não a beleza Dos vossos corações que não conheço. Mas esse busto de medalha e preço Que nem é carne vã, nem alma acesa!
Saúdo em vós o corpo, unicamente, Desumano e cruel como uma chama! Em vós, saúdo a graça omnipotente Do lírio que ainda flor por entre a lama.
A vossa vida não pertence ao rei. Não mutilaste estradas verdadeiras. Quem ama a liberdade odeia a lei Que deu à terra a foice das fronteiras.
E, enquanto o aroma e a brisa e até as almas Ficam irmãs das pérolas roubadas, As mãos dos homens que vos são negadas Tremem quando passais. Mas batem palmas.
As mãos dos homens que vos são negadas Tremem quando passais. Mas batem palmas.
Poema: Pedro Homem de Mello (excerto adaptado) Música: José Belo Marques (Fado Fora d’Horas) Intérprete: Tereza Tarouca* (in LP “Tereza Tarouca Canta Pedro Homem de Mello”, Edisom, 1989; CD “Teresa Tarouca”, col. Clássicos da Renascença, vol. 15, Movieplay, 2000; CD “Tereza Tarouca”, col. Fado Alma Lusitana III, vol. 3, Levoir / Correio da Manhã, 2014)
CIGANOS
(Pedro Homem de Mello, in “Miserere”, Porto, 1948; “Poesias Escolhidas”, col. Biblioteca de Autores Portugueses, Lisboa: IN-CM, 1983 – p. 110)
Ciganos! Vou cantar, não a beleza Dos vossos corações que não conheço. Mas esse busto de medalha e preço Que nem é carne vã, nem alma acesa! Saúdo em vós o corpo, unicamente, Desumano e cruel como o dum bicho! Em vós, saúdo a graça omnipotente Do lírio que ainda flor por entre o lixo. Eu vos saúdo, pela poesia, Que nasceu pura e não se acaba mais. E pelo ritmo ardente que inebria Meus olhos como fios que enlaçais! A vossa vida não pertence ao rei. Não mutilaste estradas verdadeiras. Quem ama a liberdade odeia a lei Que deu à terra a foice das fronteiras. E, enquanto o aroma e a brisa e até as almas Ficam irmãs das pérolas roubadas, As mãos dos homens que vos são negadas Tremem quando passais. Mas batem palmas.
Era um Redondo Vocábulo
Era um redondo vocábulo Uma soma agreste Revelavam-se ondas Em maninhos dedos Polpas seus cabelos Resíduos de lar Nos degraus de Laura A tinta caía No móvel vazio Convocando farpas Chamando o telefone Matando baratas A fúria crescia Clamando vingança Nos degraus de Laura No quarto das danças Na rua os meninos Brincavam e Laura Na sala de espera Inda o ar educa…
Era um redondo vocábulo Uma soma agreste Revelavam-se ondas Em maninhos dedos Polpas seus cabelos Resíduos de lar Nos degraus de Laura A tinta caía No móvel vazio Convocando farpas Chamando o telefone Matando baratas A fúria crescia Clamando vingança Nos degraus de Laura No quarto das danças Na rua os meninos Brincavam e Laura Na sala de espera Inda o ar educa…
Nos degraus de Laura No quarto das danças Nos degraus de Laura No quarto das danças
Letra e música: José Afonso Intérprete: Helena Sarmento Versão original: Helena Sarmento (in CD “Lonjura”, Helena Sarmento, 2018)
Éramos três
[ A Rapariga das Violetas ]
Éramos três quando passou por nós quando passou por nós com o cesto das violetas. Disse a primeira: como vai cansada, e descalça, coitada, coitada! Disse a outra: tão suja e desgrenhada, olhem os pés sem cor, as unhas pretas!
Eu, a terceira… eu não disse nada, não disse nada, não disse nada. … Que lindas as violetas!
Poema: Fernanda de Castro (adaptado) Música: Manuel Lima Brummon Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Portugal Triste”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1980; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994; CD “Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006)
A rapariga das violetas
(Fernanda de Castro, in “Exílio”, Lisboa: Livraria Bertrand, 1952 – p. 93)
Éramos três quando passou por nós com o cesto das violetas. Disse a primeira: como vai cansada, e descalça, coitada! Disse a outra: tão suja e desgrenhada, olhem os pés sem cor, as unhas pretas!
Eu, a terceira… eu não disse nada. … Que lindas as violetas!
Fado
Ao passar pelo ribeiro Onde, às vezes, me debruço, Fitou-me alguém. Corpo inteiro, Curvado com um soluço!
Que palidez nesse rosto Sob o lençol do Luar! Tal e qual quem, ao Sol-Posto, Estivera a agonizar…
E aquelas pupilas baças Acaso seriam minhas? Meu amor, quando me enlaças, Porventura as adivinhas?
Deram-me, então, por conselho, Tirar de mim o sentido. Mas, depois, vendo-me ao espelho, Cuidei que tinha morrido!
Poema: Pedro Homem de Mello (ligeiramente adaptado) Música: José Marques do Amaral (Fado José Marques do Amaral) Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Fado e Folclore”, RCA Victor, 1970)
FADO
(Pedro Homem de Mello, in “As Perguntas Indiscretas”, Porto: Editorial Domingos Barreira, 1968; “Poesias Escolhidas”, col. Biblioteca de Autores Portugueses, Lisboa: IN-CM, 1983 – p. 295)
Ao passar pelo ribeiro Onde, às vezes, me debruço, Fitou-me alguém. Corpo inteiro, Curvado como um soluço!
Que palidez nesse rosto Sob o lençol do Luar! Tal e qual quem, ao Sol-Posto, Estivera a agonizar…
Aquelas pupilas baças Acaso seriam minhas? Meu amor, quando me enlaças, Porventura as adivinhas?
Deram-me, então, por conselho, Tirar de mim o sentido. Mas, depois, vendo-me ao espelho, Cuidei que tinha morrido!
Fica longe o sol que vi
[ Quadras da Minha Solidão ]
Fica longe o sol que vi aquecer meu corpo outrora… Como é breve o sol daqui! E como é longa esta hora!…
Donde estou vejo partir quem parte certo e feliz. Só eu fico. E sonho ir rumo ao sol do meu país…
Por isso as asas dormentes suspiram por outro céu. Mas ai delas! tão doentes não podem voar mais eu…
que comigo, preso a mim, tudo quanto sei de cor… Chamem-lhe nomes sem fim, por todos responde a dor.
E assim, no pulso dos dias, sinto chegar outro Outono… Passam as horas esguias, levando o meu abandono…
Poema: Alda Lara (excerto) Música: Jaime Santos (Fado da Bica) Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Fado e Folclore”, RCA Victor, 1970)
QUADRAS DA MINHA SOLIDÃO
(Alda Lara, in “Poemas”, Sá da Bandeira, Angola: Imbondeiro, 1966, reed. Braga: APPACDM, 1997, 2005)
Fica longe o sol que vi aquecer meu corpo outrora… Como é breve o sol daqui! E como é longa esta hora!…
Donde estou vejo partir quem parte certo e feliz. Só eu fico. E sonho ir rumo ao sol do meu país…
Por isso as asas dormentes suspiram por outro céu. Mas ai delas! tão doentes não podem voar mais eu…
que comigo, preso a mim, tudo quanto sei de cor… Chamem-lhe nomes sem fim, por todos responde a dor.
Mas dor de quê? dor de quem, se nada tenho a sofrer?… Saudade?… Amor?… Sei lá bem! É qualquer coisa a morrer…
E assim, no pulso dos dias, sinto chegar outro Outono… Passam as horas esguias, levando o meu abandono…
Lá vem num corcel
[ Trovas do Meu Povo ]
Lá vem num corcel o príncipe real vem saber dos favos vem medir o mel
vem ver os pastores pastarem o gado são seus os pastores e é seu todo o prado
Lá vem num cavalo o senhor regedor vem ver como cumprem as ordem do rei
pela terra alheia vem ver lavradores vê o que semeiam vem contar as flores
Lá vem num burrico o senhor abade vem pedir prás almas prás almas salvar
são suas as almas que o povo lhas deu partilha por todos a fé que perdeu
Lá vem todo o povo a pé no povoado de Cristo nos ombros à cruz arrancado
pois Cristo resiste não morre entre o povo porque em cada um há sempre um Cristo novo
La, la, la…
Letra: Manuel Lima Brummon Música: Luís Alexandre Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Portugal Triste”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1980; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994; CD “Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006)
Lavava no rio, lavava
Lavava no rio, lavava, Gelava-me o frio, gelava, Quando ia ao rio lavar! Passava fome, passava, Chorava também, chorava Ao ver minha mãe chorar!
Cantava também, cantava! Sonhava também, sonhava! E na minha fantasia Tais coisas fantasiava, Que esquecia que chorava, Que esquecia que sofria!
Já não vou ao rio lavar, Mas continuo a chorar! Já não sonho o que sonhava! Se já não lavo no rio, Porque me gela este frio Mais do que então me gelava?
Ai, minha mãe, minha mãe, Que saudades desse bem, Do mal que então conhecia! Dessa fome que eu passava, Do frio que nos gelava E da minha fantasia!
Já não temos fome, mãe, Mas já não temos também O desejo de a não ter! Já não sabemos sonhar, Já andamos a enganar O desejo de morrer!
Letra: Amália Rodrigues Música: José Fontes Rocha Intérprete: Joana Amendoeira (in CD “Amor Mais Perfeito: Tributo a José Fontes Rocha”, CNM, 2012) Versão original: Amália Rodrigues (in LP “Gostava de Ser Quem Era”, Valentim de Carvalho, 1980, reed. EMI-VC, 1995, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; “Amália 50 Anos”: CD “Amália Mais os Poetas Populares”, EMI-VC, 1989; 2CD “O Melhor de Amália”: vol. III – “Fado da Saudade”: CD 2, EMI-VC, 2003)
Meu país esperando
[ Portugal Triste ]
Meu país esperando na esquina do tempo de braços abertos a todo o momento vou seguindo sempre calculando os passos e se o que criei desfaço e refaço meus olhos despertos abrem-se para o mundo e eu caio em mim cada vez mais fundo
Meu país perdido na esquina do tempo triste Portugal tão pequeno e imenso pois eu te garanto, país, que este povo traz no coração sempre um amor novo
Não quero que pensem que já me perdi nem quero que julguem que fujo de mim tenho lucidez para poder viver eu sou vertical, não me hão-de torcer sempre fui mais forte quando me quiseram tornar serva ou fraca e nunca me venceram
Tenho a dimensão do que quero alcançar e nada que fiz tenho a lamentar pois para me encontrar ainda vos digo que nunca vendi meu cantar de amigo
Portugal que eu canto deixa a boca amarga mas eu estou bem firme, não estou derrotada
Letra e música: Manuel Lima Brummon Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Portugal Triste”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1980; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994; CD “Tereza Tarouca”, col. Fado Alma Lusitana III, vol. 3, Levoir / Correio da Manhã, 2014)
Mordi a Tua Mão
Mordi a tua mão, depois morri; Caí sobre o teu corpo inanimado: Que importa se estou preso ou se prendi! Quem morre assim não tem que ser julgado.
Mordi a tua mão, depois morri; Passei por um lugar que não tem nome, Que fica muito além do que sofri: Maior que a dor, que o mar, maior que a fome.
Beijei a tua mão, depois vivi; Deixei-me ali ficar de olhos fechados. Ainda perguntei: “Tu estás aqui?”; Depois dormi nos braços arranhados.
Letra: Duarte Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado CUF) Intérprete: Duarte (in CD “Só a Cantar”, Duarte/Alain Vachier Music Editions, 2018)
Nesse teu olhar magoado
[ Espero a Morte a Cantar ]
Nesse teu olhar magoado Vejo a cor dos olhos meus; Tem a dor um tom pisado Que é o tom dos olhos teus.
Sofro a dor por te querer Esquecendo que te perdi, Mas um dia quis te ver E louca d’amor fugi.
Nos meus olhos vivem ainda Saudades dum olhar teu; No meu peito vive infinda Essa dor que em ti viveu.
Hoje canto de amargura Já cansada de te amar, E vencida pela tortura Espero a morte a cantar.
Letra: Francisco Pessoa Música: Joaquim Campos (Fado Amora) Intérprete: Tereza Tarouca (in EP “Saudade, Silêncio e Sombra”, RCA Victor, 1964)
No silêncio do meu quarto
[ Um Fado para Fred Astaire ]
No silêncio do meu quarto… de incerteza Não vos sei dizer se morro… ou ressuscito; Faz-se noite quando parto… com tristeza E talvez peça socorro… mas não grito.
Quem diria que os teus pés… de bailarino Entrariam para a história… da saudade, E que meio de viés… por teu destino Brindarias à memória… que me invade?!
Quase toco a tua mão… presa ao ecrã, Mas tropeço nos meus passos… sem esperança; Não existe solidão… nem amanhã Quando danço nos teus braços… de criança.
Eu é que sou a menina,… mas não quero, E não vou mudar de idade… e ai de mim Se a memória só termina… e volta a zero Quando acabar a saudade… que é sem fim.
Letra: Tiago Torres da Silva Música: Popular e Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado Menor com Versículo) Intérprete: Cristina Nóbrega Versão discográfica de Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014) Versão original: Deolinda Rodrigues (inédita)
O Cristo inerte
[ Não Fui Eu ]
O Cristo inerte preso à cruz A luz da vela que O reduz À sombra triste na parede entrecortada
Dos lábios solta-se, indulgente A prece inútil do não-crente Entre palavras que por fim não dizem nada
Não fui eu, não fui eu Não deixei a porta aberta Não fui eu, não fui eu Ficou-me a casa deserta
Há como um fugidio rumor De passos no corredor Induzem na minh’alma a dor da esperança vã
Sinais do tempo a humedecer A voz que teima enrouquecer E o corpo dorido pela noite no divã
Não fui eu, não fui eu Não deixei a porta aberta Não fui eu, não fui eu Ficou-me a casa deserta
Como esta febre me destrói Perdido amor, quanto me dói Desceste em mim o cruel manto da tristeza
Em cada noite morro, amor E a solidão faz-me maior Mal amanhece e volta o medo que anoiteça
Não fui eu, não fui eu Não deixei a porta aberta Não fui eu, não fui eu Ficou-me a casa deserta
Letra e música: Jorge Fernando Intérprete: Rua da Lua (in CD “Rua da Lua”, Rua da Lua, 2016)
Por ti cheguei a amar o desumano
[ A Outra Face da Alegria ]
Por ti cheguei a amar o desumano e fiz da minha angústia amor total vi florir primaveras todo o ano nunca ninguém te amou com amor igual
Por ti bastava a sombra fugidia do teu olhar no meu insatisfeito e tudo o que não tinha pressentia como quem tem dois corações no peito
Por ti reinventei lindas palavras nas mãos tive oiro e estrelas só por ti e nada te bastou, nada aceitavas mas roubaste o melhor que havia em mim
Por ti gastei a face da alegria e andei morrendo um pouco em toda a parte embriagaste a luz de cada dia os dias mais belos da minha idade
Letra e música: Manuel Lima Brummon Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Portugal Triste”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1980; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994; CD “Tereza Tarouca”, col. Fado Alma Lusitana III, vol. 3, Levoir / Correio da Manhã, 2014)
Quem dorme à noite comigo?
[ Medo ]
Quem dorme à noite comigo? É meu segredo. Mas se insistirem lhes digo: O medo mora comigo, Mas só o medo, mas só o medo.
E cedo, porque me embala Num vai-e-vem de solidão, É com o silêncio que fala: Com voz que move onde estala E nos perturba a razão.
Gritar? Quem pode salvar-me Do que está dentro de mim? Gostava até de matar-me, Mas eu sei que ele há-de esperar-me Ao pé da ponte do fim.
Poema: Reinaldo Ferreira Música: Alain Oulman Intérprete: Júlio Resende com Amália Rodrigues (in CD “Amália por Júlio Resende”, Edições Valentim de Carvalho, 2013) Versão original: Amália Rodrigues (grav. 1966, CD “Segredo”, EMI-VC, 1997; 2CD “O Melhor de Amália: Vol. II – Tudo Isto É Fado”: CD 1, EMI-VC, 2000; Livro/4CD “O Melhor de Amália”: CD 3, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
Talvez a solidão se torne um mito
[ Um Quê de Eternidade ]
Talvez a solidão se torne um mito pr’àqueles que se entregam à saudade, pois se uma tem um pouco de infinito a outra tem um quê de eternidade.
A solidão não sabe de quem gosta: por isso é que elas andam sempre juntas, porque uma é a pergunta sem resposta e a outra é a resposta sem perguntas.
Mas é com a saudade que me entendo, porque ela se apaixona só por quem descobre em cada verso que vai lendo que a solidão não gosta de ninguém.
Não sei porque é que vai baixando a voz, nem sei porque é que esconde o que revela, mas sei que se ela diz gostar de nós já não aceita que gostemos dela.
Letra: Tiago Torres da Silva Música: Raul Pereira (Fado Zé Grande) Intérprete: Cristina Nóbrega Versão original: Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014)
Um malmequer desfolhei
[ Malmequer Desfolhado ]
Um malmequer desfolhei, Nunca tal tivesse feito; Não sabia o que já sei, Tinha-te ainda no peito!
P’ra saber s’inda era meu O homem que eu tanto amei, Com os olhas fitos no céu Um malmequer desfolhei!
E da flor fui arrancando Esperanças que fora deito; E agora eu estou chorando… Nunca tal tivesse feito!
Julgando ter-te na vida E seres p’ra mim minha lei, Passava o tempo iludida… Não sabia o que já sei!
Sonhava meu coração, E agora sonho desfeito Vivendo da ilusão… Tinha-te ainda no peito!
Letra: D. António de Bragança Música: Francisco Viana (Fado Francisco Viana ou Fado Mouraria do Vianinha) Intérprete: Tereza Tarouca (in EP “Mouraria”, RCA Victor, 1963; LP “Os Melhores Fados de Tereza Tarouca”, RCA Camden, 1978)
Quando me lembro quem eras Desse corpo que foi nosso Desse amor que não deu certo Era o tempo das quimeras Das palavras em silêncio Quando o mais longe era perto
Tinhas nos olhos a esperança Os desejos de aventura As ilusões que eram minhas Nos momentos de ternura Tinhas nos seios a graça Das Primaveras que tinhas
E foste a música que em mim ficou Quando a distância nos fez separar Ando louco para te encontrar
Foste a Quinta Sinfonia Fuga da nossa verdade Sonata tocada em mim Foste o meu sol afinado Neste samba de saudade Vinicius, Nara e Jobim
Foste verso de balada Foste pintura abstracta Meu Bolero de Ravel Foste música sonhada Numa canção de Sinatra Com um poema de Brel
E foste a música que em mim ficou Quando a distância nos fez separar Ando louco para te encontrar
Foste estrela de cinema Minha Dama de Xangai Hiroxima, Meu Amor A minha Grande Ilusão Eras Fúria de Viver Quanto Mais Quente Melhor
Grande Amor da Minha Vida Senso, Silêncio e Paixão Buñuel, Fellini e Truffaut Foste Luzes da Ribalta Música no Coração E Tudo o Vento Levou
E és ainda o que me faz sentir Dentro da vida para te cantar Ando louco para te encontrar Para te encontrar
Letra: Pedro Bandeira Freire Música: Paco Bandeira (Francisco Veredas Bandeira) Intérprete: Paco Bandeira (in “Com Sequências”, Discossete, 1987; CD “Paco Bandeira: O Melhor dos Melhores”, vol. 50, Movieplay, 1994; CD “Uma Vida de Canções”, Farol, 2006)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
Contacte-nos:
António José Ferreira 962 942 759
Quanto caminho andado
[ Adágio ]
Quanto caminho andado desde o primeiro poema ai quanto amor amassado com mãos de alegria e pena ai quanto caminho andado serena.
Quanto verso ensanguentado quanta distância de mim quanto amor desesperado quanto secreto jardim ai quanto caminho errado sem fim.
Morro por ti mas tu não vens dentro de mim te chamo mas tu não estás mas tu não vês o que arranquei de mim meu amor tu não és quem amo.
Ai quanto caminho andado sozinha dentro de mim ai quanto caminho errado sem fim. Canto por ti mas tu não és dentro de mim te choro mas tu não estás mas tu não vês já te arranquei de mim é só por te não ter que eu morro.
Poema: José Carlos Ary dos Santos Música: Tomaso Albinoni Intérprete: Teresa Silva Carvalho (in CD “Canções Gratas”, Strauss, 1994)
A sono solto dormia há muito a cidade e eu procurava como louca rua em rua a tua sombra entre essas ruas da saudade onde uma noite sobre nós raiara a lua
Na minha grande amargura de águia perdida que começou com a tua ausência eu queria ser ao encontrar-te a perfumada flor da vida ou ser de novo uma alegria por viver
Mas fui tão pouco ao teu olhar desencantado e o nosso abraço uma tristeza tão profunda que entre o silêncio o amor com lágrimas quebrado abandonou-se nas estranhas mãos da lua
Ergueu-se ao longe a sinfonia das guitarras perdida a voz, quebrado o amor nada entendemos beijei-te a fronte e assim sem mágoa nem palavras serenamente unidos, meu amor, morremos
Letra: Manuel Lima Brummon Música: Bernardo Lino Teixeira (Fado Ginguinha) Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Portugal Triste”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1980; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994; CD “Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006)
Campaniça do despique
Campaniça do despique, Na venda e bailes de roda: Dedilhando o improviso Ou trauteando uma moda.
Na rua do velho monte, Com as moças a bailar Os passos simples duma dança E a viola a dedilhar.
Nas feiras e romarias, Na serra e no alambique, Na venda e bailes de roda: Campaniça do despique.
O tocador da viola É feio mas toca bem; Se não casar por a prenda, Formosura não a tem!
Campaniça do despique, Na venda e bailes de roda: Dedilhando o improviso, Ou trauteando uma moda.
Na rua do velho monte, Com as moças a bailar Os passos simples duma dança E a viola a dedilhar.
Nas feiras e romarias, Na serra e no alambique, Na venda e bailes de roda: Campaniça do despique.
Letra e música: Pedro Mestre Intérprete: Pedro Mestre (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015) Outra versão de Pedro Mestre (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.
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António José Ferreira 962 942 759
Roncos do Diabo
Com três paus faz-se um bordão, Com mais um faz-se um ponteiro: O Demo anima a função Encarnado num gaiteiro.
O Diabo já é velho Mas é grande folião: Na festa mete o bedelho P’ra animar a bailação.
P’ra aquecer o bailarico Abre a torneira ao tonel; O cura dá-lhe um fanico, Lá se vai o hidromel.
Essa bebida dos anjos Que agrada tanto ao Demónio Já tentou S. Cipriano, S. João e Santo António.
Santo António milagreiro Fez um pacto com o Demónio: O Diabo era gaiteiro E o santo tocava harmónio.
S. João tocava caixa Com dois paus de marmeleiro; Mas o delírio das moças Era a gaita do gaiteiro.
Guinchava como um leitão Quando se lhe puxa o rabo; Pela copa do bordão Jorravam roncos do Diabo.
Era a gaita do Demónio Que soava endiabrada, Afinava com o harmónio Mas não estava homologada.
Estava fora das medidas, Saía da convenção, Tinha veias no ponteiro E dois papos no bordão.
Criação de Belzebu, Diabólica magia: Nas voltas da contradança Quem dançava enlouquecia.
E nas voltas da loucura, As almas em desatino Saltavam de corpo em corpo Errando do seu destino.
O gaiteiro as reunia Como se junta um rebanho: Fê-las descer ao Inferno, No fogo tomaram banho.
E já os corpos em brasa Iam fazendo das suas, As vestes esfarrapadas Mostravam as carnes nuas.
Indulgencia absolutionem et remitionem peccatorum tribut ad nobis Dominum.
Com três paus faz-se um bordão, Com mais um faz-se um ponteiro: O Demo anima a função Encarnado num gaiteiro.
As fêmeas eram lascivas: Ondulantes de paixão, Corroídas p’lo desejo Contorciam-se no chão.
No terreiro da função Os corpos se confundiam: Seguidores de Belzebu Das almas santas se serviam.
Foram pela noite fora Perdidos no bacanal, Ao som desta banda louca Até ao Juízo Final.
Indulgencia absolutionem et remitionem peccatorum tribut ad nobis Dominum.
Letra e música: Carlos Guerreiro Arranjo: Carlos Guerreiro Intérprete: Gaiteiros de Lisboa Versão original: Gaiteiros de Lisboa (in CD “A História”, Uguru, 2017; CD “Bestiário”, Uguru, 2019)
Ó sino da minha aldeia
Ó sino da minha aldeia, Dolente na tarde calma, Cada tua badalada Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar, Tão como triste da vida, Que já a primeira pancada Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto Quando passo, sempre errante, És para mim como um sonho, Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua, Vibrante no céu aberto, Sinto mais longe o passado, Sinto a saudade mais perto.
Por mais que me tanjas perto Quando passo, sempre errante, És para mim como um sonho, Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua, Vibrante no céu aberto, Sinto mais longe o passado, Sinto a saudade mais perto.
Letra: Fernando Pessoa (ligeiramente adaptado) Música: Uxía Senlle e Sérgio Tannus Arranjo: Quiné Teles Intérprete: Ela Vaz, com Rui Oliveira (in CD “Eu”, Micaela Vaz, 2017)
O tambor a tocar
[ O Primeiro Canto (dedicado a José Afonso) ]
O tambor a tocar sem parar, um lugar onde a gente se entrega, o suor do teu corpo a lavar a terra. O tambor a tocar sem parar, o batuque que o ar reverbera, o suor do teu rosto a lavrar a terra.
Logo de manhãzinha, subindo a ladeira já, já vai a caminho a Maria Faia…
Azinheiras de ardente paixão soltam folhas, suaves, na calma do teu fogo brilhando a escrever na alma.
Estas fontes da nossa utopia são sementes, são rostos sem véus, o teu sonho profundo a espreitar dos céus!
Logo de manhãzinha, subindo a ladeira já, já vai a caminho a Maria Faia, desenhando o peito moreno, um raminho de hortelã na frescura dos passos, a eterna paz do Poeta.
Uma pena ilumina o viver de outras penas de esperança perdida, o teu rosto sereno a cantar a vida.
Mil promessas de amor verdadeiro vão bordando o teu manto guerreiro, hoje e sempre serás o primeiro canto!
Ai, o meu amor era um pastor, o meu amor, ai, ninguém lhe conheceu a dor. Ai, o meu amor era um pastor Lusitano, ai, que mais ninguém lhe faça dano. Ai, o meu amor era um pastor verdadeiro, ai, o meu amor foi o primeiro.
Estas fontes da nossa utopia são sementes, são rostos sem véus, o teu sonho profundo a espreitar dos céus!
Mil promessas de amor verdadeiro vão bordando o teu manto guerreiro, hoje e sempre serás o primeiro canto!
Letra: João Mendonça, Dulce Pontes e António Pinheiro da Silva Música: Dulce Pontes e Leonardo Amuedo Intérprete: Dulce Pontes (in CD “O Primeiro Canto”, Polydor B.V. The Netherlands/Universal, 1999)
Quando uma guitarra trina
[ Guitarra ]
Quando uma guitarra trina Nas mãos de um bom tocador A própria guitarra ensina A cantar seja quem for
Eu quero que o meu caixão Tenha uma forma bizarra A forma de um coração A forma de uma guitarra
Guitarra, guitarra querida Eu venho chorar contigo Sinto mais suave a vida Quando tu choras comigo
Letra dos poetas do fado (Popular) Música: Pedro Ayres Magalhães e Rodrigo Leão Intérprete: Madredeus (in CD “Ainda”, EMI-VC, 1995)
As Tuas Mãos, Guitarrista
São tuas mãos, guitarrista, Que as cordas fazem vibrar, Que me fizeram fadista E não deixam que resista Ao desejo de cantar.
A guitarra quere-te tanto, Tem por ti tal afeição Que te deu consentimento P’ra desvendares o tormento Que guardo no coração.
Em teu peito tem guarida, Em tuas mãos seu penar; Se tu não lhe desses vida Ficava p’ra ali esquecida E não voltava a trinar.
E se a tens abandonado Não seria mais fadista; Mesmo que fosse cantado, Morria com ela o fado Sem tuas mãos, guitarrista.
Letra: Maria Manuel Cid Música: Joaquim Campos (Fado Tango) Intérprete: Tereza Tarouca (in EP “Passeio à Mouraria”, RCA Victor, 1964; 2LP “Álbum de Recordações”: LP 2, Polydor/PolyGram, 1985; CD “Temas de Ouro da Música Portuguesa”, Polydor/PolyGram, 1992)