“Chamber Music I” é um trabalho de música de câmara, com repertório contemporâneo, que explora diferentes combinações de instrumentos. Inclui cinco peças de autoria do compositor Hugo Vasco Reis, entre 2014 e 2018. Engenharia de som por António Pinheiro da Silva. Capa de Yari Ostovany. Este trabalho teve o apoio da Direção Geral das Artes, Antena 2 e Escola Superior de Música de Lisboa.
Hugo Vasco Reis, 2019
1. O Horizonte de uma Borboleta
para flauta, violino e piano
David Silva | Flauta
Francisco Henriques | Violino
Cândido Fernandes | Piano
A reflexão desta peça é sobre a metáfora da procura. A persistência em alcançar o desconhecido e o indefinido, através de sucessivas metamorfoses. Ao mesmo tempo é uma antípoda entre algo longínquo, eterno e misterioso (o horizonte), com algo frágil, de curta duração e de alcance singular (a borboleta). A “borboleta” simboliza a efemeridade, sendo o seu nascimento e morte inseridos num curto espaço de tempo. Depois, “o horizonte” é demasiado grande para recordar um pequeno ponto…
2. Enigmatic Icon
para percussão e electrónica
Drumming – Percussion Group
A alusão a imagens, símbolos, pensamentos e sensibilidades dos diversos credos, constitui a reflexão desta peça. Os ícones variam de acordo com as tradições, comportamentos, moralidades… que marcam as crenças, valores culturais e o entendimento do mundo. Foi relevante para o discurso um olhar pessoal sobre os traços, cores e técnicas dos ícones enigmáticos dos diferentes credos.
3. From Where the Wind Blows
para dois clarinetes
Victor Pereira and Ricardo Alves
Esta peça é uma reflexão sobre a irregularidade do movimento do vento, a sua liberdade e a capacidade de transformar a natureza, do infinitamente grande ao infinitamente pequeno. Ao longo do seu desenvolvimento são definidos vários objectos, num acto de mediação entre um elemento da natureza – o vento – e o discurso musical, passando constantemente, e sem transição apreensível(?) (definida?), por diferentes atmosferas, as quais incluem sensações de horizonte e abismo, concluindo o discurso numa absoluta e suspensa tranquilidade.
4. Transparent(e)
para flauta, viola e harpa
Marina Camponês | Flauta
Ana Monteverde | Viola
Carolina Coimbra | Harpa
Entre o corpo e o espaço, onde está o sonho? A sua tacteabilidade no tempo? A reflexão de “Transparent(e)” reside na sublime envolvência da dimensão onírica, entre o corpo e o espaço. Na existência de objectos imperceptíveis, que são um meio sensitivo cujas propriedades passam a integrar a própria realidade, através de pontos de contacto invisíveis, trazendo uma mutação de ambiente dentro de um determinado espaço. Revela-se uma exposição sedutora e desobstruída de um corpo, dando um acesso aparente, mas nunca uma sensação de proximidade. Persiste assim uma sensação ambígua, que cria um ponto focal rodeado de mistérios e imagens difusas, que se transformam com a manipulação de luz e sombra.
5. Rizoma
para violino, violoncelo e piano
Luís Pacheco Cunha | Violino
Catherine Strynckx | Violoncelo
Jill Lawson | Piano
A reflexão desta peça, atende ao modelo descritivo de rizoma proposto por Gilles Deleuze e Félix Guattari. O rizoma prolifera sem hierarquia, numa multiplicidade de linhas que se ligam de maneiras infinitas, sempre no mesmo plano horizontal. A sua estrutura de passagens labirínticas, sem princípio nem fim, sem centro nem periferia, continua… Mergulha num sistema aleatório e em constante variação. Um espaço de encontros imprevisíveis, dedicado a realizar múltiplos processos de troca no seu ambiente. Os seus elementos, sempre autónomos, focam-se em encontrar novos começos, mobilidade e multiplicidade de linhas em todas as direções. “A questão é produzir inconsciência e, com ela, novos enunciados, outros desejos” (Deleuze & Guattari, Mil Platôs I).