A dança não é só movimento, também é filosofia, poesia, narrativa…
Na dança, o tempo não se explica mas é intrínseco à atuação. A passagem do tempo constrói-se a partir da composição dos movimentos no espaço ou da relação entre os silêncios e a música.
A dança é efémera. Podes bailar a mesma coreografia cada dia mas sempre a viverás de maneira diferente. O público de hoje tampouco sentirá o mesmo que o público que virá amanhã. Sempre se baila no eterno presente.
A poesia é como bailar escrevendo, podes ir muito longe com a imaginação. Também há uma relação estreita entre a dança e a música.
Estar triste não é mau. Em muitos casos, dá-te força. Pode ser um motor para a criação.
Ao longo da vida, deixas para trás muitas pessoas queridas. A vida tem esse ponto de tristeza. Mas a tristeza pode conviver com a esperança.
O mais importante é despertar emoções no público. O espaço entre o bailarino e os espetadores deve estar cheio de energia. O objetivo é conseguir que se mova algo no interior dos espetadores. A emoção é movimento.
A dança não é só movimento, também é filosofia, poesia, narrativa…
Andrés Corchero
Traduzido por António José Ferreira de entrevista dada ao jornal La Vanguardia a 16 de janeiro de 2020
Olga Roriz, coreógrafa
(n. Viana do Castelo, 8 de Agosto de 1955)
A dança é terapêutica. A dança eleva intelectual e fisicamente o ser humano. A dança é um apelo à humanidade e uma exaltação das nossas capacidades criativas. A dança é a nossa expressão maior. A poesia primordial. Pela dança o mundo eleva-se expande-se, liberta-se.
O poder do nosso corpo não se mede pela força muscular mas pelo lugar que ocupa, pelo espaço que invade, pelo que comunica.
O corpo e a mente na dança não param mesmo que estáticos. A relação com o vazio, o encontro e diálogo com outros corpos, outras mentes, é inesgotável.
A dança não é entretenimento, é comunicação, reflexão, manifesto.
Celebrar a dança é celebrar o ser humano, a nossa liberdade de expressão sem distinção de género, raça ou estrato social. O corpo feito manifesto.
Cada celebração congrega em si o passado o presente e o futuro. A humanidade precisa de um futuro melhor física e mentalmente. A dança cura e não só ao executar mas também ao apreciá-la.
Olga Roriz
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias.
Citações de música na poesia e poemas de temática musical
A ópera
Schiller e a ópera
As cordas
A música e o Anel dos Nibelungos
[ Simónides
(Séc. VI-V a.C.)
Inúmeras, as aves voavam sobre a sua cabeça e os peixes, em pé, saltavam das águas de anil do mar, ao som do seu belo canto. ]
[ Da epopeia dos Nibelungos
(c. 1200)
Quando soam as cordas do seu instrumento, doces e suaves, então dissolvem-se as dores de quem sofre. ]
[ Al-Kutayyir
(séc. XIII)
O que me dá prazer não é o vinho, não! Nem tão pouco a música, nem sequer o canto. Apenas os livros são o meu encanto e a pena: a espada que tenho sempre à mão. ]
[ Luís de Camões
(n. Lisboa? 1524/1525; m. Lisboa 10 Junho 1580)
Nos salgueiros pendurei os órgãos com que cantava. Aquele instrumento ledo deixei da vida passada, dizendo: – Música amada, deixo-te neste arvoredo, à memória consagrada. Frauta minha que, tangendo, os montes fazíeis vir p’ra onde estáveis correndo, e as águas, que iam descendo, tornavam logo a subir. ]
[ Collecão de Sonetos
(1786)
À morte de José António Carlos Seixas, famoso cravista
Por perpétuo silencio a Parca dura Do Luso Orféo à doce melodia, Já se vê os assombros da harmonia Clauzurados no horror da Sepultura.
Na destreza feliz, na ideia pura Do impulso humano as forças excedia, E invejando-lhe a morte a idolatria Provar-lhe o culto em lágrimas porfia.
Se deve à Pátria o seu merecimento Glória imortal em vida transitória Seja igual à jactância hoje o lamento[,]
Porém[,] de tanta perda na memória, Aonde irá parar o sentimento[,] Se serve a pena a proporção da glória.
(Soneto presente na “Collecão de Sonetos, serios, que se não achão impressos, extrahidos dos ms. antigos e modernos [Lisboa?], 1786, p. 437. Lisboa: Biblioteca Nacional, Cod. 8610) ]
[ Fernando Pessoa
(Lisboa, 13 de Junho de 1888 – Lisboa, 30 de Novembro de 1935) Chuva Oblíqua (VI parte)
O maestro sacode a batuta, A lânguida e triste a música rompe …
Lembra-me a minha infância, aquele dia Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado O deslizar dum cão verde, e do outro lado Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo …
Prossegue a música, e eis na minha infância De repente entre mim e o maestro, muro branco, Vai e vem a bola, ora um cão verde, Ora um cavalo azul com um jockey amarelo…
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância Está em todos os lugares e a bola vem a tocar música, Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo… (Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos…)
Atiro-a de encontra à minha infância e ela Atravessa o teatro todo que está aos meus pés A brincar com um jockey amarelo. e um cão verde E um cavalo azul que aparece por cima do muro Do meu quintal… E a música atira com bolas À minha infância… E o muro do quintal é feito de gestos De batuta e rotações confusas de cães verdes E cavalos azuis e jockeys amarelos …
Todo o teatro é um muro branco de música Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo…
E dum lado para o outro, da direita para a esquerda, Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa Com orquestras a tocar música, Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância…
E a música cessa como um muro que desaba, A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos, E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto, Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro, E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça, Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo… ]
Chuva Oblíqua (IV parte)
Que pandeiretas o silêncio deste quarto!. As paredes estão na Andaluzia. Há danças sensuais no brilho fixo da luz. De repente todo o espaço pára. Pára, escorrega, desembrulha-se, E num canto do tecto, muito mais longe do que ele está, Abrem mãos brancas janelas secretas E há ramos de violetas caindo De haver uma noite de Primavera lá fora Sobre o eu estar de olhos fechados. ]
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
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Contacto
António José Ferreira 962 942 759
[ Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa
A música, sim a música… Piano banal do outro andar. A música em todo o caso, a música.. Aquilo que vem buscar o choro imanente De toda a criatura humana Aquilo que vem torturar a calma Com o desejo duma calma melhor… A música… Um piano lá em cima Com alguém que o toca mal. Mas é música… Ah quantas infâncias tive! Quantas boas mágoas?, A música… Quantas mais boas mágoas! Sempre a música… O pobre piano tocado por quem não sabe tocar. Mas apesar de tudo é música. Ah, lá conseguiu uma música seguida — Uma melodia racional — Racional, meu Deus! Como se alguma coisa fosse racional! Que novas paisagens de um piano mal tocado? A música!… A música…! ]
[ T. S. Eliot
(n. St. Louis, 1888; m. London 1965)
Naquele canto decadente no meio das montanhas Sob o pálido luar, a erva canta Sobre as tumbas caídas, em volta da capela. A capela está vazia, apenas refúgio do vento. Não tem janelas e a porta bate, Ossos secos não fazem mal a ninguém. Sobre o telhado apenas um galo Cocoricó, cocoricó, Sob a luz do relâmpago. ]
[ José Gomes Ferreira
(n. Porto 1900, m. Lisboa 1985)
Sofres? Respira. Não há outra lira.
+
Chove…
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama. ]
[ Alfredo Pedro Guisado
(n. 1891; m. 1975)
Sinto-as tanger ainda os violinos velhos, Onde os dedos saltando em cordas de oiro, à tarde, Te cegaram de som. ]
[ António Aleixo
(n. Vila Real de Santo António 1899; m. 1949)
Tem a música o poder de tornar o homem f’liz nem há quem saiba dizer tanto quanto ela nos diz. ]
[ Florbela Espanca
(n. Vila Viçosa 1894 – m. Matosinhos 1930)
Não se acende hoje a luz… Todo o luar Fique lá fora. Bem aparecidas As estrelas miudinhas, dando no ar As voltas dum cordão de margaridas!
Entram falenas meio entontecidas… Lusco-fusco… Um morcego, a palpitar, Passa… torna a passar… torna a passar… As coisas têm o ar de adormecidas…
Mansinho… Roça os dedos plo teclado, No vago arfar que tudo alteia e doira, Alma, Sacrário de Almas, meu Amado!
E, enquanto o piano a doce queixa exala, Divina e triste, a grande sombra loira Vem para mim da escuridão da sala… ]
+
Só Schumann, meu Amor! Serenidade… Não assustes os sonhos… Ah! não varras As quimeras… Amor, senão esbarras Na minha vaga imaterialidade…
Liszt, agora, o brilhante; o piano arde… Beijos alados… ecos de fanfarras… Pétalas dos teus dedos feitos garras… Como cai em pó de oiro o ar da tarde!
Eu olhava para ti… «É lindo! Ideal!» Gemeram nossas vozes confundidas. – Havia rosas cor-de-rosa aos molhos –
Falavas de Liszt e eu… da musical Harmonia das pálpebras descidas, Do ritmo dos teus cílios sobre os olhos… ]
[ Leopold Senghor
(n. Joal, Dacar 1906; m. França 2001)
Quando fiz a primeira comunhão, aos dez anos, pensava que no céu a maior felicidade era cantar, dançando. ]
[ Vinayak Krishna Gokak
(n. Índia 1909; m. 1992)
Com que canção deverei cantar-te, minha mãe? Perguntei. Deverei cantar Os Himalaias com os seus cumes nascidos da neve, Os três mares que banham a palma da tua mão? Deverei cantar A aurora clara com os seus raios de ouro puro? Disse a Mãe imperturbável, calma: Canta o mendigo e o leproso Que enchem as minhas ruas. ]
[ Dorothy Livesay
(n. Canadá 1909; m. 1996)
Tem de lançar-se alto e mais alto ainda De galáxia em galáxia, Arrancar às estrelas as suas notas momentâneas Roubar música à lua. ]
[ Elizabeth Bishop
(n. EUA 1911; m. 1979)
O seu canto ecoava de uma ponta à outra da escuridão sob uma árvore batida pelo vento onde reluziam as asas de pequenos insectos. O seu canto fendeu o céu em dois. ]
[ Jorge de Sena
(1971) (n. Lisboa 1919; m. Santa Bárbara, Califórnia 1978)
Vulgar, ligeira, música sem nome, adoecida num rascante falso de orquestração pedante e requebrada, tão apelante para o sentimento e a fácil lágrima pi-rí-pi-rí- mas em momentos de abandono é como lubrificante cuspo que, secreto, faz deslizante n’alma até ao fundo o membro imenso de aturar-se a vida. Depois, mesmo sem música, já está, e a fêmea humana de aceitar-se a dor até que as pernas junta de prazer lembrando a melodia oleante e fluida, vulgar, ligeira, música sem nome. ]
+
A música é, diz-se, o indizível por ser de inexprimível sentimento da consciência, ou um estado de alma, ou uma amargura tão extrema e lúcida que passa das palavras para ser apenas o ritmo e os sons e os timbres só pelos músicos cientes de harmonia e de composição imaginados. Mas, se assim fosse, eles só dos homens saberiam mover-se nos espaços que a humanidade abandonada encontra nos desertos de si. Começariam onde a expressão verbal não se articula por impossível. Viveriam sempre na fímbria estreita à beira da maldade e do absurdo, como que suspensos na solidão da morte sem palavras. Não é, portanto, a música o limite ilimitado dos limites da linguagem, para dizer-se o que não é dizível. Mas, se não é, que dizem lancinantes, neste discreto passeio pelo tempo, os quatro instrumentos semelhantes no seu modo de criarem som? Tão terrível. Sufocante. Doce ou agridoce desconcerto harmónico. Que diz? Que diz? Neste contínuo de temas e andamentos, de tonalidades, o que se justifica? Que discutem eles? A sua mesma natureza de instrumentos e as combinações até ao infinito de um mecanismo abstracto do imaginar? Como pode uma coisa que sentimos tão medonha, tão visionariamente séria e pensativa, ser irresponsável? Será que nos diz do aquém, do abaixo, do infra, do primário, do barbárico, do animal sem alma e sem razão? Será que todo este rigor tão belo é como que a estrutura prévia de que existimos ao pensar as coisas? E não a quintessência depurada de uma estrutura que se consentiu todo o significar a que as palavras vieram da analogia nominal e mágica até à consciência dos universais? Não há tristeza alguma nesta vida transformada em puro som, em homogénea outra realidade? Não é de angústia este rasgar melódico da consciência antes de criar-se humana? De que, portanto, vem este triunfo que se precipita, contraditório, nas arcadas dos instrumentos conversando essências? É simples convenção? É artifício? Silêncio irresponsável? Se há mistério na grandeza ignota, e se há grandeza em se criar mistério, esta música existe para perguntá-lo. E porque se interroga e não a nós, ela se justifica e justifica o próprio interrogar com que se afirma não quintessência ela, mas raiz profunda daquilo que será provável ou possível como consciência, quando houver palavras ou quando puramente inúteis forem. ]
+
Ouço-te, ó música, subir aguda à convergente solidão gelada. Ouço-te, ó música, chegar desnuda ao vácuo centro, aonde, sustentada e da esférica treva rodeada, tu resplandeces e cintilas muda como o silente gesto, a mão espalmada por sobre a solidão que amante exsuda e lacrimosa corre pelo espaço além de que só luz grita o pavor. Ouço-te lá pousada, equidistante desse clarão cuja doçura é de aço como do frágil mas potente amor que em teu ouvir-te queda esvoaçante.
Ó música da morte, ó vozes tantas e tão agudas que o estertor se cala. Ó música da carne amargurada de tanto ter perdido que ora esquece. Ó música da morte, ah quantas, quantas mortes gritaram no que em ti não fala. Ó música da mente espedaçada de tanto ter sonhado o que entretece, sem cor e sem sentido, no frevor de sublimar-se nesse além que és tu. Ó vida feita uma detida morte. Ó morte feita um inocente amor. Amor que as asas sobre o corpo nu fechas tranquilas no possuir da sorte. ]
[ Sophia de Mello Breyner Andresen
(n. Porto 1919; m. Lisboa 2004)
Musa ensina-me o canto Venerável e antigo O canto para todos Por todos entendido
Musa ensina-me o canto O justo irmão das coisas Incendiador da noite E na tarde secreto
Musa ensina-me o canto Em que eu mesma regresso Sem demora e sem pressa Tornada planta ou pedra
Ou tornada parede Da casa primitiva Ou tornada o murmúrio Do mar que a cercava
(Eu me lembro do chão De madeira lavada E do seu perfume Que atravessava)
Musa ensina-me o canto Onde o mar respira Coberto de brilhos Musa ensina-me o canto Da janela quadrada E do quarto branco
Que eu possa dizer como A tarde ali tocava Na mesa e na porta No espelho e no corpo E como os rodeava
Pois o tempo me corta O tempo me divide O tempo me atravessa E me separa viva Do chão e da parede Da casa primitiva
Musa ensina-me o canto Venerável e antigo para prender o brilho Dessa manhã polida Que poisava na duna Docemente os seus dedos E caiava as paredes Da casa limpa e branca
Musa ensina-me o canto Que me corta a garganta
+
O Piano sílaba por sílaba Viaja através do silêncio Transpõe um por um Os múltiplos murais do silêncio Entre luz e penumbra joga E de terra em terra persegue A nostalgia até ao seu último reduto
+
Na voz de oiro e de sombra da guitarra Algo de mim a si próprio renuncia. ]
+
[ Rosemary Dobson
(n. Austrália 1920)
Estava feito. Enrolando as mangas Pegou na flauta E ao caminhar para o local da execução Tocou uma nova melodia. ]
[ José Saramago
(n. 1922)
Venham leis e homens de balanças, mandamentos d’aquém e d’além mundo. Venham ordens, decretos e vinganças, desça em nós o juízo até ao fundo.
Nos cruzamentos todos da cidade a luz vermelha brilhe inquisidora, risquem no chão os dentes da vaidade e mandem que os lavemos à vassoura.
A quantas mãos existam peçam dedos para sujar nas fichas dos arquivos. Não respeitem mistérios nem segredos que é natural os homens serem esquivos.
Ponham livros de ponto em toda a parte, relógios a marcar a hora exacta. Não aceitem nem queiram outra arte que a prosa de registo, o verso acta.
Mas quando nos julgarem bem seguros, cercados de bastões e fortalezas, hão-de ruir em estrondo os altos muros e chegará o dia das surpresas.
Os Poemas Possíveis 1966 ]
[ Eugénio de Andrade
(n. Póvoa da Atalaia, Fundão 1923 – m. Porto 2005)
Canto porque sou homem. se não cantasse seria o mesmo bicho sadio embriagado na alegria da tua vinha sem vinho. ]
Que música escutas tão atentamente que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda? Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória. Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.
+
A música é assim: pergunta, insiste na demorada interrogação – sobre o amor?, o mundo?, a vida? Não sabemos, e nunca nunca o saberemos. Como se nada dissesse vai afinal dizendo tudo. Assim: fluindo, ardendo até ser fulguração – por fim o branco silêncio do deserto. Antes porém, como sílaba trémula, volta a romper, ferir, acariciar a mais longínqua das estrelas… ]
[ Ernesto Cardenal
(n. 1925)
Junto aos rios de Babilónia Estamos sentados e choramos Ao lembrar-nos de Sião. Ao olhar o arranha-céus de Babilónia e as luzes reflectidas no rio as luzes dos night-clubs e dos bares de Babilónia e ao ouvir suas músicas E choramos Nos salgueiros da margem Penduramos nossas cítaras Dos salgueiros chorosos E choramos. ]
[ Maria de Macedo
n. Vila Nova de Gaia, Portugal, 1931
Contradição
Fui ao bosque silencioso Na sua tristeza confusa Soava um violino sem cordas E no caminho as folhas mortas Em modo menor uma Allemanda cansada Desliza o riacho sem água E o amor morto vive Ali para mim ]
[ Tomas Tranströmer
(n. Estocolmo, Suécia 1931 – m. Estocolmo 2015)
Allegro
Depois de um dia negro, toco Haydn e sinto um calor humilde nas mãos.
O teclado quer. Suaves marteladas batem. O acorde é verde, animado e calmo.
O acorde diz que a liberdade existe e que alguém não paga impostos ao imperador.
Enfio as mãos nos meus bolsos de Haydn, imito alguém que contempla o mundo com serenidade.
Iço a bandeira de Haydn – o que significa: nós não nos rendemos. Antes queremos paz.
A música é uma casa de vidro na encosta onde as pedras voam, onde as pedras rolam.
E as pedras rolam em todas as direcções, mas os vidros das janelas permanecem intactos. ]
[ Gilberto Mendonça Teles
(n. Brasil, 1931-)
Um dia descobriu que a mão esquerda era mais emotiva e mais ausente: dedilhava por dentro o que era perda e sondava por fora o inexistente.
E descobriu que quanto mais isento o acorde se tornava, e delicado, tanto mais se ordenava o movimento da música de fundo no teclado.
E viu-se de repente entretecido no mais difícil, no desvão do espaço, quando as notas colhiam seu sentido nas formas invisíveis do compasso.
Sentiu-se solidário na partida e chorou solitário na aventura, como se em cada coisa a própria vida se lhe escapasse numa partitura.
E foi aí que se sentiu restrito, que se fez de silêncio e de resvalo: a mão esquerda desdobrava o mito e dedilhava as sombras do intervalo. ]
[ Adelina Caravana Rigaud
Se perguntares à música que tem para dizer, imagens ou prodígios a emoção mais real, viverás bem no fundo com o ser todo inteiro o consolo, as respostas. Viverás muitas vidas ricas como tesouros.
E então, dentro de ti Com alimento e cor dirás um obrigado mesmo que seja à dor. ]
[ Georges Dor
(n. Drummondville 1931; m. 2001)
Quando canto, torno-me canção, quando escrevo torno-me poema, quando vos digo: amo-vos, torno-me o verbo amar em todos os tempos. ]
[ Pedro Tamen
(n. Lisboa, 1934)
Cantas. Não sei bem onde, mas atravessas as paredes da casa e do coração. O amor indetectado lança notas da música da terra – não a das estrelas, que não há
Cantas. E o universo é uno, é uno neste verso.” ]
[ Manuel Alegre
(n. Águeda, 1936)
De Deus não sei. Mas quase creio que Deus poisou nas mãos cheias de terra de um jovem camponês de Sotto il Monte. Por isso mando à Praça de São Pedro não uma prece mas a minha canção fraterna e livre esta canção que vai pedir-te a humana bênção João XXIII: avô do século. ]
Vasco Graça Moura
(n. Porto, 1942 – m. 2014)
blues da morte de amor
já ninguém morre de amor, eu uma vez andei lá perto, estive mesmo quase, era um tempo de humores bem sacudidos, depressões sincopadas, bem graves, minha querida, mas afinal não morri, como se vê, ah, não, passava o tempo a ouvir deus e música de jazz, emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes, ah, sim, pela noite dentro, minha querida.
a gente sopra e não atina, há um aperto no coração, uma tensão no clarinete e tão desgraçado o que senti, mas realmente, mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não, eu nunca tive queda para kamikaze, é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida, saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber, e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.
há ritmos na rua que vêm de casa em casa, ao acender das luzes, uma aqui, outra ali. mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha no lusco-fusco da canção parar à minha casa, o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente, minha querida, toda a gente do bairro, e então murmurarei, a ver fugir a escala do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim. ]
[ Adam Zagajewski
(n. 1945 – m. 2021)
O Violoncelo
Quem não gosta dele diz que é apenas uma mutação do violino que foi corrida do coro. Não é assim. O violoncelo tem imensos segredos, mas nunca soluça, canta apenas na sua voz baixa. Nem tudo se transforma numa canção, porém. Às vezes apanhamos um murmúrio ou um sussurro: sinto-me sozinho, não consigo dormir. ]
[ Joaquim Pessoa
(n. Barreiro, 1948)
Canta Atreve-te a julgar Julga os outros julgando-te a ti mesmo. A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te, faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir quando não sabes mais o que dizer. Os teus dentes estão lavados, as tuas mãos são amáveis mas falta-te decisão nos passos e firmeza nos gestos. Procura-te. Procura encontrar-te antes que te agarre a voracidade do tempo. Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta que não te dê descanso e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é teu, nem um cêntimo pagarás por ele. Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta. Canta a água e a montanha e o pescoço do rio, e o beijo que deste e o beijo que darás, canta o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem as árvores, canta cada momento que partilhas com amigos, e cada amigo como um astro que desponta no firmamento breve do teu corpo. E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar. E o que não souberes e o que não entenderes, canta. Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medir a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados e os séculos vindouros, muito do pó que sacodes já foi vida, talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer. A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe, o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta! Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria, não pares de cantar. Canta. Canta. Canta. Canta. Canta. Constrói o teu amor, vive o teu amor, ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem, o que mais querem é o amor. Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual alguma vez. Canta. Enquanto esperas, canta. Canta quando não quiseres esperar. Canta se não encontrares mais esperança. E canta quando a esperança te encontrar. Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e porque sentes que é preciso cantar. E canta quando já não for preciso. Canta porque és livre. E canta se te falta a liberdade.
Guardar o Fogo, pp. 318-319. ]
[ José Jorge Letria
(n. Cascais, 1951)
Mozart Última carta
Quem rirá por mim agora quando eu deixar de rir? E este cansaço que entorpece os gestos Se converter no absoluto silêncio Que escreve na sede da Terra a sequiosa palavra Eternidade Deixa-me ficar assim Para sempre Menino apenas do sobressalto destas cartas De mim já tudo se disse E eu quero um cravo temperado com a loucura das estrelas Um oboé altivo com os segredos do vento Um flautim arfando com os mistérios da brisa Deixa-me renascer menino no teu regaço Amante e mãe Que a minha música pertence a um tempo maior Que aquele por que se mede A grandeza das catedrais Belíssima mulher Ninguém me matou Fui eu que morri Por não caber em mim De tamanho espanto Ao fazer-me música ]
[ Aurelino Costa
(n. Argivai, Póvoa de Varzim, 1956)
De ti ficou O cavaquinho E a alegria.
No acorde da festa E do trabalho Teus dedos espalmados Fizeram nascer searas ]
[ Emília Borges Martins
(n. Angola, 1970)
Uma harpa… Que nos transporta entre sons cálidos, Sons onde o trajecto faz-se sem compasso, Sons que nos remetem a sonhos invencíveis. Um vaguear sem norte… As imagens que envolvem os movimentos Numa consciência por concretizar. Harpa de finas cordas, A simplicidade De quem caminha com um propósito. Parceira numa dança melódica Onde se desbrava as terras mais áridas, Onde se adormece numa realidade feita poesia. ]
[ Ana Leonor Pereira
Os inventores dos sinos Não sabiam do tempo.
Não sonhavam que as suas badaladas Poderiam cortar fatias de horas finas, Definir minutos, Encaixar os dias. Os sinos, esses, viram-se defraudados Na sua tarefa primordial – – A de adornar as manhãs e as tardes Com o seu som de metal.
Alguns, ainda tiveram o privilégio De cantar uns hinos, Salmodiar uns risos, Encantar meninos.
Outros, brilharam na tarde preguiçosa Com as costas a dourar ao sol.
Mas nenhuns, Nenhuns mesmo, Querem saber do tempo! Ignoram as horas e tocam caprichosamente Quando lhes apetece badalar!
Os sinos conhecem o segredo da música E sabem esculpir Em teia fina A filigrana da vida. Sabem parar o dia. Enfim, sabem tocar. ]
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2019/05/sophia-de-mello-breyner-andresen.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2019-05-23 22:38:322024-11-13 14:41:36Citações de Música na Poesia
Ciro ouviu-lhes as propostas e, no fim, contou-lhes esta história: Um tocador de flauta, começou ele, viu os peixes no mar e pôs-se a tocar, convencido de que eles iam saltar para terra. Mas quando viu gorada a sua expectativa, pegou na rede, apanhou uma grande quantidade de peixes e tirou-os da água. Ao vê-los debaterem-se, disse: ‘Acabem-me com essas danças que, quando eu estava a tocar flauta, não quiseram vocês saltar cá para fora e dançar’. ]
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Escrito grego
(90 a. C.)
Praz à Boa Fortuna que seja feito o elogio de Antipatros, filho de Breucos, de Eleuternes, tocador de órgão hidráulico, pela sua reverência e a sua piedade em relação a Deus, pela predilecção que manifesta pela sua arte e pela sua benevolência para com a nossa cidade. ]
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Plínio o jovem
(112)
Têm por costume, em dias marcados, reunir-se antes de raiar o sol e cantar, em coros alternados, um hino a Cristo como a Deus. ]
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Ateneu
(Séc. II)
Ouviu-se nas redondezas o som de um hidraulo, tão agradável e tão encantador que nos fez voltar, fascinados pela harmonia. Então Ulpiano, voltando o olhar para o músico Alcides, disse: – Entendes tu, o maior músico dos homens, esta bela sinfonia que nos fez voltar, deslumbrados?… ]
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Jullius Pollux
(séc. II)
O hidraulo parece uma siringe invertida; os seus tubos são de bronze e soprados por baixo. O mais pequeno destes instrumentos é alimentado por foles; no maior, é a água que comprime o vento. O segundo dispõe de múltiplos sons e a voz dos seus tubos de bronze é muito brilhante. ]
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Texto árabe
(séc. IX)
Um dia, Ismail ibn al-Hâdi entrou em casa de Al-Mamun, quando ouviu uma música que lhe chamou a atenção. Quando Al-Mamun lhe perguntou: – Que tem?, ele respondeu: – Ouvi qualquer coisa que me comoveu. Fui o mais arrebatado a negar o facto que o órgão bizantino fazia morrer de prazer; mas agora posso afirmar que é verdade. ]
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Harun Bem-Jahra
(867)
Em seguida, introduz-se uma coisa chamada al-urgana; é um objecto de madeira, em forma quadrada, tendo o aspecto de uma prensa de azeite; esta prensa está revestida de um couro muito forte e suporta sessenta tubos de cobre. A parte dos tubos situada por cima do couro é revestida a ouro, mas só se vê uma pequena parte, pois cada tudo pouca diferença faz, em comprimento, do seu vizinho. De cada lado do objecto quadrado, há um buraco: lá se encontram foles semelhantes aos dos ferreiros. Dois homens começam então a manobrá-los; depois, chega o organista, que faz cantar os tubos. Cada tubo dá um som proporcional à sua altura e celebra o Imperador, enquanto todo o povo está sentado à mesa. ]
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D. Diogo de Sousa
(1505)
Todos aqueles que quiserem ser sacerdotes, ou haver benefícios, saibam ler bem, cantar, e gramática, e vivam bem e honestamente. ]
Reciclanda
O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.
Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias.
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/11/herodoto-historiador.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2019-05-23 22:30:552024-11-13 14:43:39Citações de Música na História
Minhas crianças, por que é que não aprendem canções? Elas são capazes de vos dar encorajamento e estímulo; elas podem ensinar-vos a observar e a preservar as coisas; podem ensinar-vos a associar, a compreender com profundidade; são capazes de apagar a vossa raiva; elas ensinam-vos a ouvir o vosso pai, que conhece todas as regras que regem a vossa longa caminhada; elas ensinam-vos os nomes dos pássaros, dos animais, das árvores. ]
Santo Agostinho de Hipona
(n. Tagaste 354; m. 430)
Confesso que ainda agora encontro algum descanso nos cânticos que as vossas palavras vivificam, quando são entoados com suavidade e arte… Quando oiço cantar essas vossas palavras com mais piedade e ardor, sinto que o meu espírito também vibra com devoção mais religiosa e ardente, do que se fossem cantadas de outro modo. Sinto que todos os afectos da minha alma encontram na voz e no canto, segundo a diversidade de cada um, as suas próprias modulações, vibrando em razão de um parentesco oculto, para mim desconhecido, que entre eles existe. ]
Boécio
(n. Roma c. 480-m.524)
Nada é mais característico da natureza humana do que ser acalmado pelos modos doces e excitado pelos seus opostos. Crianças, jovens e adultos estão tão naturalmente ligados aos modos por uma espécie de sentimento espontâneo que não há quem se não delicie com as canções doces. ]
Jean Jacques Rousseau
(n. Genève 1712; m. 1778)
Mesmo que toda a natureza esteja adormecida, o que a contempla não dorme, e a arte do músico consiste em substituir a imagem insensível do objecto pela dos movimentos que a sua presença excita no coração do contemplador: não só ele agitará o mar, animará a chama de um fogo, fará correr os ribeiros, cair a chuva e aumentar as torrentes, como pintará o horror de um deserto medonho, denegrirá os muros de uma prisão subterrânea, acalmará a tempestade, tornará tranquilo e sereno o ar e da orquestra espargirá nova frescura sobre os bosques…
Friedrich Nietzsche
(n. Rocken 1844; m. Weimar 1900)
Que o teatro não acabe por dominar todas as outras artes; que o comediante não acabe por subornar os puros; que a música não se torne uma arte de mentir. ]
Theodor Wiesengrund Adorno
(n. Francoforte 1903; m. Suiça 1969)
Toda a música tem por Ideia a forma do Nome divino. Oração desmitificada, liberta da magia do efeito, a música representa a tentativa humana, por mais vâ que ela seja, de enunciar o próprio Nome em vez de comunicar significações. ]
Reciclanda
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Contacto
António José Ferreira 962 942 759
Eduardo Lourenço
(n. Portugal 1923 – m. Portugal 2020)
O que eu sou como ser mortal (o que todos somos), está contido na melancolia absoluta do allegretto da Sétima Sinfonia. Mas o que desejaria ser, o que não tenho a coragem de ser, só se revela nesta Suite em Si Menor de Bach. Diante desta torrente luminosa devia depor a minha velha pele, esta pele de que só a música me despe num instante, deixando-me nu e redimido, mas que no instante seguinte afogo em trevas. Delas só um Deus me poderia libertar. Digo Deus sabendo bem que esse absoluto que me atrevo a invocar é ainda o supremo álibi. É de mim, das ardentes seduções do meu próprio ser, que não quero ou de que não sou capaz de abdicar. Queria ir por um caminho de rosas para aquele sítio onde sei que me foi fixado o encontro. E ninguém lá chega nunca sem antes morrer para si mesmo.]
Penso que, de todas as artes, a que revela o que a Humanidade é de mais profundo e absoluto é a música. A literatura é uma música um tom abaixo. Não se explica, não é da ordem do conceito como a filosofia.]
A música é o canto do nosso próprio inconsciente.]
Bernard Sève
(n. França 1951)
Uma vez concluído o quadro, o pintor não precisa mais do seu pincel; mas, terminada a partitura, o compositor tem, mais do que nunca, necessidade dos instrumentos. Tocando a obra, o instrumento passa do seu corpo físico ao seu corpo musical, quando o corpo natural do instrumentista se faz corpo músico.”
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/11/santo-agostinho-de-hipona.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2019-05-23 22:25:242024-11-13 14:43:07Citações de Música na Filosofia
Não consigo escrever poesia: não sou poeta. Não consigo dispor as palavras com tal arte que elas reflictam as sombras e a luz: não sou pintor… Mas consigo fazer tudo isso com a música…
Para mim, o órgão é o rei dos instrumentos. ]
Ludwig Von Beethoven
(n. Bona 1770; m. Viena 1827)
Bem-aventurado o que, tendo aprendido a triunfar sobre todas as paixões, emprega a sua energia na realização de tarefas que a vida impõe sem se procupar com o resultado. ]
Franz Schubert
(n. Viena 1797; m. Viena 1828)
Atormentado por uma santa angústia, aspiro a viver num mundo mais belo e desejo povoar esta terra sombria de um poderosíssimo sonho de amor. Senhor Deus, oferece enfim ao teu filho, esta criança feliz, como sinal redentor um raio de luz. ]
Felix Mendelssohn-Bartholdy
(n. Hamburgo 1809; m. Leipzig 1947)
Nada pode impedir-me de apreciar e desenvolver tudo o que os grandes mestres deixaram atrás de si, porque não faria sentido para cada um recomeçar do princípio; mas é preciso que seja um desenvolvimento ao melhor nível das minhas capacidades e não uma repetição inútil do que já foi.
Fryderyk Chopin
(n. Zelazowa Wola 1810; m. Paris 1849)
Ela traz-me sempre a Bíblia, fala-me da alma e marca-me os salmos a ler. É religiosa e boa, mas excessivamente preocupada com a minha alma. Passa o tempo a dizer-me que o outro mundo é melhor do que este, e tudo isso eu sei de cor. Respondo-lhe com citações da Sagrada Escritura e declaro-lhe que tudo isso me é conhecido.
Chopin e a inspiração
Franz Liszt
(n. Raiding 1811; m. Bayreuth 1886)
As artes são o mais seguro meio de se esconder do mundo e são também o meio mais seguro de se unir a ele. ]
Claude Débussy
(n. Saint Germain-en-Laye, 1862; m. Paris 1918)
Houve e há, apesar das desordens que a civilização traz, pequenos povos encantadores que aprendem música tão naturalmente como se aprende a respirar. O seu conservatório é o ritmo eterno do mar, o vento nas folhas e mil pequenos ruídos que escutaram com atenção, sem jamais terem lido despóticos tratados. ]
Erik Satie
(n. Honfleur, 1866; m. Paris 1925)
Resolvemos, de acordo com a nossa consciência e confiando na misericórdia de Deus, edificar na metrópole desta nação franca que, durante tantos séculos, ostentou o título de Filha Dilecta da Igreja, um Templo digno do Salvador, director e redentor dos povos; faremos dele o refúgio onde a catolicidade e as Artes, que lhe estão indissociavelmente ligadas, crescerão e prosperarão resguardadas de toda a profanação e na completa expansão da sua pureza que os esforços do Maligno não conseguiriam manchar. ]
(n. Empoli 1866; m. Berlim 1924)
Ferruccio Benvenuto Busoni
A música nasceu livre, o seu destino é libertar-se. ]
(n. Moscovo 1872; m. Moscovo 1915)
Reciclanda
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Aleksandr Nikolaïevitch Scriabine
O mundo é uma sumptuosa sinfonia de mil vozes diversas. As verdades terrestres, consonantes com as verdades dos céus soam em acordes cerrados e vibrantes sobre as cordas dos milagres destruídos ]
Heitor Villa-Lobos
(n. Rio de Janeiro 1887; Rio de Janeiro 1959)
Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta. ]
Cláudio Carneyro
(n. Porto 1895; m. 1963)
O ritmo e a musicalidade de um poema, senão mesmo a vibração etérea da Ideia poética, irradiam da mesma Esfera que a poesia dos sons, a harmónica substância, o Verbo musical. ]
Olivier Messiaen
(n. Avignon, 1908; m. Clichy 1992)
Na hierarquia artística, os pássaros são os grandes músicos do planeta.
A Natureza, tesouro inesgotável das cores e dos sons, das formas e dos ritmos, modelo inigualável de desenvolvimento total e de variação perpétua, a Natureza é a fonte suprema! ]
Olivier Messiaen e os pássaros
Vitaly Margulis
(n. Charkov, Ucrânia 1928)
A surdez de Beethoven não era uma deficiência. Foi uma dádiva dos Céus. Incapaz de escutar as vozes exteriores, estava em condições de ouvir dentro de si próprio a voz de Deus. ]
Cândido Lima
(n. Viana do Castelo 1939-)
Havia um órgão de tubos na minha aldeia. O meu contacto com a música deu-se, portanto, desde que tenho consciência, aos 4-5 anos, nas cerimónias religiosas, a ouvir as pessoas mais velhas que vinham de Braga para tocar órgão. Ficou-me, portanto, o órgão no ouvido e as vozes das pessoas de família a cantar. ]
Emmanuel Nunes
(n. Lisboa 1941 – m. Paris 2012)
O meu avô paterno era moleiro e o meu avô materno era padeiro. Talvez tenha sido o imenso pão que me alimentou intelectualmente. ]
Rão Kyao
(n. Lisboa 1946-)
A música é uma prova de Deus. ]
João Pedro Oliveira
(n. Lisboa 1959-)
O acto de criação na sua essência, e tal como eu o concebo, não existe por si só, mas é resultado de uma revelação que se processa através do nosso Espírito para a nossa Mente, e cujas origens não podemos determinar. Para o ateu, talvez ele seja considerado como toda uma vivência em termos musicais, todo o conhecimento e compreensão de um passado e presente, ou mesmo um reflexo ou síntese da sua experiência humanamente vivida. Para o crente, essa revelação vem de Deus.
Fabio Armiliato
(n. Génova, Itália, 1956)
A música é importantíssima na educação, e todas as famílias devem sentir-se responsáveis por isso. Propondo-a mesmo aos próprios filhos da maneira mais amplas, de modo que não os impeçam de desenvolver o seu talento em todas as formas: música clássica ou ligeira, não importa, mas sempre com grande preparação, respeito e cultura.
Inés María Monreal
(n. Santander, Espanha, 1974)
A disciplina de música não tem o peso específico que merece dentro do currículo atual. O conteúdo a ministrar é fundamental para o desenvolvimento integral do estudante, traz-lhe a ampliação da sua capacidade criativa e reflexiva e facilita o desenvolvimento de competências numa dimensão transversal.
Gustavo Dudamel
(n. Barquisimeto, Venezuela, 1981)
O poder de transformação que a música tem é único, especialmente para crianças desfavorecidas.
https://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/06/sergio-azevedo-foto-carlos-mateus-de-lima.jpg400400António Ferreirahttps://www.meloteca.com/wp-content/uploads/2018/03/Logomarca-MELOTECA-300x86.jpgAntónio Ferreira2019-05-23 21:05:212024-11-13 14:42:26Citações de Música