Tag Archive for: canções de sentimentos

Senhor Vadio, Cartas de um marinheiro

Como és tão prendada!

[ Assim Como Quem Não Quer ]

Como és tão prendada!
Dá-me um dedinho
Um só para eu provar
De que é feito o carinho,
Assim como quem não quer!

Como és tão docinha!
Deixa me trincar
Essa tenra bochechinha
Que me põe a salivar,
Assim como quem não quer!

Eu não sei, não sei, não
De que padece o coração
Saciada a gula sobra o embaraço,
Assim como quem não quer.

Como és tão prendada!
Dá-me um dedinho
Um só para eu provar
De que é feito o carinho,
Assim como quem não quer!

Como és tão docinha!
Deixa me trincar
Essa tenra bochechinha
Que me põe a salivar,
Assim como quem não quer!

Eu não sei, não sei, não
De que padece o coração
Saciada a gula sobra o embaraço
Assim como quem não quer

Letra e música: Manuel Maio
Intérprete: A Presença das Formigas com João Afonso & Teresa Campos (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)

Manuel Maio

Manuel Maio

Dá-me o amanhã!

Dá-me o amanhã!
Dá-mo, que depois de amanhã já cá não estou
Vou na senda dos demais que se perdem

Quero o teu calor
Quero o teu ser, o teu eu, o teu haver
Quero provar-te e beber a tua dor

Quero-te nos braços
Toma-me nos braços!
Quero as lágrimas que choras
Não por mim, mas já que as choras
Quero a pele que elas molham
E os meus lábios as sorvam
Quero o corpo onde moras

Dá-me o amanhã!
Dá-mo, que depois de amanhã já cá não estou
Vou na senda dos demais que se perdem

Quero-te as entranhas
Quero-te por dentro e por fora e já agora
Quero roubar-te os sentidos
Quero-te a ti por inteiro
Quero que unamos destinos
Quero-te a ti por inteiro
Por inteiro

Letra e música: Manuel Maio
Intérprete: A Presença das Formigas (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014)

A presença das formigas

A presença das formigas

É uma doideira

[ Doideira ]

É uma doideira
Como eu nunca vi
É que eu não faço outra coisa
Senão pensar em ti

Esta carta que eu te escrevo é a falar da minha afronta
Se calhar, vai cheia de erros mas a intenção é que conta
Eu vou ter de andar escondido até que o destino queira
Por naquele dia teres ido a dar comigo na eira
Eu vou ter que andar a monte, a dormir no meio da palha,
É que se o teu pai me apanha não há santo que me valha

É uma doideira
Como eu nunca vi
É que eu não faço outra coisa
Senão pensar em ti

Eu já me tinha constado que tu andavas guardada
Mas por também estar tentado fiz que não entendi nada
Cada qual sua vontade, cada vontade um olhado
Ambos quisemos o mesmo: nenhum de nós foi culpado
Espero que tu não me esqueças, nem te posso chegar perto
É que um tiro na cabeça é o que eu tenho mais certo

É uma doideira
Como eu nunca vi
É que eu não faço outra coisa
Senão pensar em ti

É uma doideira
Como eu nunca vi
É que eu não faço outra coisa
Senão pensar em ti

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997)
Outra versão: Quadrilha (in CD “Deixa Que Aconteça: Ao Vivo”, Vachier & Associados/Ovação, 2006)

Sebastião Antunes & Quadrilha

Sebastião Antunes & Quadrilha

Minha fonte de chafurdo

[ Bolinhas de Sabão ]

Minha fonte de chafurdo
Onde eu queria mergulhar
Minhas ânsias e desejos
Minha sede, meu penar
Por te não ter a meu lado
Ao teu lado ficarei
Eu contigo e tu comigo
Tu não sabes, mas eu sei!

Mui asinha gostaria eu
De te dar consolação
Dos fantasmas e demónios
Que te levam pela mão
Mas a vida são dois dias
São dois dias a correr
Antes queria eu, em podendo,
Dar-te um pouco de prazer!

Ai eu não sei, não
Que fazer dos teus intentos
Que fazer das palavras que desfias
São verdades, são mentiras?
São bolinhas de sabão?
Eu confesso que me agrada ver-te assim
Tanta rima p’ra chegar junto de mim
Toma lá! hoje levas um beijinho
Amanhã mais um carinho
Só depois te digo “não”

(Ele vai querer-te p’ra sempre
Vai ter-te juntinho ao seu coração
Vai amar uma ideia
Do que jamais será seu)

És tão bela como a Lua
Mais cheirosa que uma flor
És a minha perdição
És um rio de calor
E se diz que és insossa
Quem já fez por te provar
Boto-te um pouco de sal
P’ra te dar um paladar

Ai eu não sei, não
Que fazer dos teus intentos
Que fazer das palavras que desfias
São verdades, são mentiras?
São bolinhas de sabão?
Eu confesso que me agrada ver-te assim
Tanta rima p’ra chegar junto de mim
Toma lá! hoje levas um beijinho
Amanhã mais um pouquinho
Só depois te digo “não”

(Ele vai querer-te p’ra sempre
Vai ter-te juntinho ao seu coração
Vai amar uma ideia
Do que jamais será seu)

P’ra que fique bem assente
Digo e torno a redizer
Que de todos que te querem
Mais do que eu não pode haver
São o teu porto seguro
As portas do meu coração
Que se agita e bate forte
Toca como um carrilhão!

Ai eu não sei, não
Que fazer dos teus intentos
Que fazer das palavras que desfias
São verdades, são mentiras?
São bolinhas de sabão?
Eu confesso que me agrada ver-te assim
Tanta rima p’ra chegar junto de mim
Toma lá! hoje levas um beijinho
Amanhã mais um carinho
Só depois te digo “não”

Letra e música: Manuel Maio
Intérprete: A Presença das Formigas (in CD “Pé de Vento”, A Presença das Formigas/Careto/XMusic, 2014).

Por onde vais

[ Por Ti, Menina ]

Por onde vais,
Menina do campo,
Lírios colhidos por ti
São outro encanto!

Guarda segredo
Do teu amor,
Não digas nunca
O cais do teu sabor!…

Sete são as saias
De sete cores;
Menina, não saias
Com mais que dois amores!…

Rios de saudade
Correm sem parar,
Fogem com vontade
De te amar…

Menina, por ti
Breve é minha alma;
Só por ti nasci
Em noite calma!

Já te ouvi cantar
Ao nascer do dia,
E o sol acordou
Mudo de alegria!

E ao chegar a noite,
No teu mar navega,
Solta-se na eira
E jamais sossega!

Teu olhar, menina,
Com o meu namora:
Veste-se de longe,
Longa é sua demora…

Rios de saudade
Correm sem parar,
Fogem com vontade
De te amar…

Menina, por ti
Breve é minha alma;
Só por ti nasci
Em noite calma!

Por onde vais,
Menina do campo,
Lírios colhidos por ti
São outro encanto!

Guarda segredo
Do teu amor,
Não digas nunca
O cais do teu sabor!…

Sete são as saias
De sete cores;
Menina, não saias
Com mais que dois amores!…

Rios de saudade
Correm sem parar,
Fogem com vontade
De te amar…

Menina, por ti
Breve é minha alma;
Só por ti nasci
Em noite calma!

Só por ti nasci
Em noite…

Rios de saudade
Correm sem parar,
Fogem com vontade
De te amar…

Menina, por ti
Breve é minha alma;
Só por ti nasci
Em noite calma!

Só por ti nasci
Em noite…

Letra e música: José Flávio Martins (“À menina de olhar meigo…”)
Intérprete: Senhor Vadio (in CD “Cartas de um Marinheiro”, José Flávio Martins/iPlay, 2013)
Versão original: Frei Fado d’El Rei (in CD “Encanto da Lua”, Columbia/Sony Música, 1998)

Frei Fado d'El Rei, O Encanto da Lua

Frei Fado d’El Rei, O Encanto da Lua

Pelas tuas tranças

[ Fado das Tranças ]

Pelas tuas tranças
Cor de fogo e de sol-pôr,
Eu luto com lanças
P’ra vencer o meu amor,
P’ra vencer o meu amor.

Ai, no alto do monte,
Ai, no alto do monte,
Ai, te chamarei
Com mil vozes e mil forças!

Com um só grão de areia,
Com um só grão de areia
Levo-te sempre comigo
E teço a minha teia,
E teço a minha teia!…

Nas águas do mar,
Enquanto sigo o meu labor,
Lembro as tuas tranças
E recordo o nosso amor,
Ai, recordo o nosso amor!

Ai, por de ti estar longe
Vivo em sofrimento;
Ai, por de ti estar longe
O meu canto é um lamento.

Lágrimas de dor eu verto,
Lágrimas de dor eu verto,
Pela morte reclamo
Por de ti eu não estar perto,
Por de ti eu não estar perto!…

Ai, por de ti estar longe
Vivo em sofrimento;
Ai, por de ti estar longe
O meu canto é um lamento.

Lágrimas de dor eu verto,
Lágrimas de dor eu verto,
Pela morte reclamo
Por de ti eu não estar perto,
Por de ti eu não estar perto!…

Letra e música: José Flávio Martins
Intérprete: Senhor Vadio (in CD “Cartas de um Marinheiro”, José Flávio Martins/iPlay, 2013)
Versão original: Frei Fado d’El Rei (in CD “Encanto da Lua”, Columbia/Sony Música, 1998)

Senhor Vadio, Cartas de um marinheiro

Senhor Vadio, Cartas de um marinheiro

Se o vento sopra

[ Cantiga ]

Se o vento sopra e rasga as velas
E a noite é gélida e comprida
E a voz ecoa das procelas,
Deixa-te estar na minha vida.

Se erguem as ondas mãos de espuma
Aos céus, em cólera incontida,
E o ar se tolda e cresce a bruma,
Deixa-te estar na minha vida.

Deixa-te estar na minha vida.
Deixa-te estar na minha vida.

À praia, um dia, erma e esquecida,
Hei, com amor, de te levar.
Deixa-te estar na minha vida,
Como um navio sobre o mar.

Deixa-te estar na minha vida.
Deixa-te estar na minha vida.
Deixa-te estar na minha vida.
Deixa-te estar na minha vida.

Poema: João Cabral do Nascimento (adaptado)
Música: Carla Carvalho, Hélder Costa e Rui Ferreira (Caps)
Arranjo: Xícara e David Leão
Intérprete: Xícara (CD-EP “Xícara”, Xícara, 2011)

Cantiga

João Cabral do Nascimento, in “366 Poemas Que Falam de Amor”, org. Vasco Graça Moura, Lisboa: Quetzal Editores, 2003

Deixa-te estar na minha vida,
Como um navio sobre o mar.

Se o vento sopra e rasga as velas
E a noite é gélida e comprida
E a voz ecoa das procelas,
Deixa-te estar na minha vida.

Se erguem as ondas mãos de espuma
Aos céus, em cólera incontida,
E o ar se tolda e cresce a bruma,
Deixa-te estar na minha vida.

À praia, um dia, erma e esquecida,
Hei, com amor, de te levar.
Deixa-te estar na minha vida,
Como um navio sobre o mar.

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Brincar aos fados

Canções de humor

Letras

Acredito

Acredito em pouca coisa
que venha escrita em loiça,
dessa de pôr na parede.

Acredito mais no desempenho
da laranja que apanho,
que como e me mata a sede.

Acredito nas façanhas,
muito menos nas patranhas
de quem faz só porque sim.

Acredito nas crianças,
no meu ventre são esperanças
de um futuro sem fim.

Acredito na loucura
de quem pede mais ternura
e vira costas à guerra.

Acredito na fé dos outros
que às vezes abrem poços
só para encontrar mais terra.

Acredito no Caetano,
no Zambujo que é meu mano,
em todas as vozes calmas.

Acredito na poesia
e também na aletria,
em tod’os adoçantes de almas.

Acredito na minha mãe,
ela que sofreu bem
para que eu fosse como sou.

Crente nos frutos e flores,
nos mais impossíveis amores;
onde o Sol mais brilhar eu estou.

Eu estou
Eu estou
Eu estou
Eu estou
Eu estou

Letra: Celina da Piedade
Música: Alex Gaspar
Intérprete: Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)

Era não era

[ Era Não Era do Tamanho de um Pardal ]

Era não era
Foi deixado ao abandono
Num dia quente de Outono
No meio de um meloal
Era não era
Sei lá eu se era ou não era
Só sei que os lados da esfera
Cortam mais do que um punhal

São mais ou menos
Cento e vinte e quatro lados
Redondinhos, afiados
Do tamanho de um pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal

Era não era
Palmilhei o mar profundo
Sem parar um só segundo
P’ra apanhar estrelas do céu
No meio das nuvens
Nadei eu entre os rochedos
Cheio de frio e de medos
Ao sabor do macaréu

Os macaréus
São umas ondas muito altas
Da família das pernaltas
E maiores do que um pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal

São mais ou menos
Cento e vinte e quatro lados
Redondinhos, afiados
Do tamanho de um pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal

Os macaréus
São umas ondas muito altas
Da família das pernaltas
E maiores do que um pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal

Era não era
Diz o nabo p’ra o repolho:
“Tu não me franzas o olho
Que eu de ti não tenho medo!”
Era não era
Diz a ameixa p’ra a cenoura:
“Vou para Paredes de Coura,
Vou partir de manhã cedo”

Uma linda terra
Do concelho de Alcobaça
Só conhece quem lá passa
Junto à tasca do Pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal

São mais ou menos
Cento e vinte e quatro lados
Redondinhos, afiados
Do tamanho de um pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal

Os macaréus
São umas ondas muito altas
Da família das pernaltas
E maiores do que um pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal

São mais ou menos
Cento e vinte e quatro lados
Redondinhos, afiados
Do tamanho de um pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal

Os macaréus
São umas ondas muito altas
Da família das pernaltas
E maiores do que um pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal

Os macaréus…

Letra e música: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão original: Gaiteiros de Lisboa (in CD “Macaréu”, Aduf Edições, 2002; CD “A História”, Uguru, 2017)

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

Fez sábado quinta-feira

Fez sábado quinta-feira,
P’ra lá d’Évora três semanas,
Estive dez dias num Verão
Nas Américas Romanas.

Embarquei em dois caleiros
Na baía de Lisboa;
Arribei, fui dar a Goa,
Desembarquei em Alenquer;
Casei com sete mulheres,
Falta uma p’rá primeira;
Fui dar à Ilha Terceira,
Com três dias numa hora;
Abalei e vim-me embora,
Fez sábado quinta-feira.

Agarrei nos alforginhos,
Pus um pão em quatro enxacas,
Na gamela duas vacas
E na borracha toucinho;
Um açafate com vinho,
Trinta metros de banana;
Dei passos à americana,
Fui passar a Ayamonte;
Abalei hoje, cheguei ‘onte’
P’ra lá d’Évora três semanas.

Eu já estive em Erapouca,
Numa ocharia empregado;
Foi-se um carro carregado
Numa abóbora canoca;
Um mosquito com um boi na boca
Cem léguas em proporção;
Atirei-lhe um bofetão
Que pelo ar o fez ir;
À espera dele cair
Estive dez dias num Verão.

Fui soldado, assentei praça
No 15 de Sapadores;
Maquinista de vapores
Na carreira de Alcobaça;
Venci o Forte da Graça,
Também a Vila de Terena
E as províncias arraianas,
Venci toda a nobrezia;
Bati-me com a Turquia
Nas Américas Romanas.

Fez sábado quinta-feira,
P’ra lá d’Évora três semanas,
Estive dez dias num Verão
Nas Américas Romanas.

Letra: Popular
Música: José Manuel David
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão original: Gaiteiros de Lisboa com Luís Espinho e João Paulo Sousa (Adiafa) (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012; CD “A História”, Uguru, 2017)

Lá no adro da igreja

[ Abaladiça ]

Lá no adro da igreja
Pára o Chico Pintaínho
Pede a Deus que bem proteja
Quem lhe der mais um copinho

Tem o filho para Lisboa
A mulher já lhe morreu
Não lhe anda a vida boa
Foi pró vinho que lhe deu

A Isaura é metediça
Com um lado reverente
Quando pode está na missa
Mas diz mal de toda a gente

Pode ser que seja fé
Ou que goste do prior
Tira bicas no café
Bem pingadas sem pudor

Vai mais uma abaladiça
Outro dedo de conversa
Esta agora pago eu
Depois tu e vice-versa
Dedilhando a campaniça
São dez cordas de saudade
À saúde dos que estamos
E de quem está na cidade

É na Tasca do João
Que a malta vai ao petisco
Há tomate, azeite e pão
E tremoço por marisco

Ninguém sai desconsolado
Por não ter o que comer
Bota abaixo um abafado
Para a gente se aquecer

Vai mais uma abaladiça…

Letra: José Fialho Gouveia
Música: Rogério Charraz
Intérprete: Rogério Charraz

Manhã na minha ruela

[ Dia de Folga ]

Intérprete: Ana Moura

Manhã na minha ruela, sol pela janela.
O Sr. jeitoso dá tréguas ao berbequim.
O galo descansa. Ri-se a criança,
Hoje não há birras, a tudo diz que sim.
O casal em guerra do segundo andar
Fez as pazes, está lá fora a namorar.

Cada dia é um bico d’obra,
Uma carga de trabalhos. Faz-nos falta renovar
Baterias. Há razões de sobra
Para celebrarmos hoje com um fado que se empolga.
É dia de folga!

Sem pressa de ar invencível, saia, saltos, rímel,
Vou descer à rua, pode o trânsito parar.
O guarda desfruta, a fiscal não multa.
Passo e o turista, faz por não atrapalhar.
Dona Laura hoje vai ler o jornal.
Na cozinha está o esposo de avental.

Cada dia é um bico d’obra
Uma carga de trabalhos. Faz-nos falta renovar
Baterias. Há razões de sobra
Para celebrarmos hoje com um fado que se empolga.
É dia de folga!

Folga de ser-se quem se é
E de fazer tudo porque tem que ser.
Folga para ao menos uma vez
A vida ser como nos apetecer.

Cada dia é um bico d’obra,
Uma carga de trabalhos. Faz-nos falta renovar
Baterias. Há razões de sobra
Para a tristeza ir de volta e o fado celebrar.

Cada dia é um bico d’obra
Uma carga de trabalhos. Faz-nos falta renovar
Baterias. Há razões de sobra
Para celebrarmos hoje com um fado que se empolga.
É dia de folga!

Este é o fado que se empolga
No dia de folga,
No dia de folga.

No Império das aves raras

[ Avejão ]

No Império das aves raras
Quem não tem penas é Rei;
Entre pêgas e araras
Os Patos-Bravos são Lei.

A terra dos Patos-Bravos
Parece mais um vespeiro:
Andam todos à bicada
Para chegar ao poleiro.

Por sobre a terra, por sobre o mar
O Grande Irmão zela por nós:
A sua sombra é protectora,
Já vem dos egrégios avós.

Na terra dos papagaios
Quem não tem poleiro é pato;
Andam todos à bicada
Só p’ra ficar no retrato.

No reino das trepadoras
O papagaio é Senhor:
Mesmo até sem saber ler
Qualquer papagaio é Doutor.

Por sobre a terra, por sobre o mar
O Grande Irmão zela por nós:
A sua sombra é protectora,
Já vem dos egrégios avós.

Voar mais alto que os outros,
Esse era o sonho do galo:
Roubar as asas ao Pégaso
E voar como um cavalo.

Mas o galo de ser galo
É ter o chão junto à barriga;
Para alcançar o poleiro
Tem que usar de muita intriga.

Por sobre a terra, por sobre o mar
O Grande Irmão zela por nós:
A sua sombra é protectora,
Já vem dos egrégios avós.

No reino dos voadores
Impera a grande anarquia,
E a barata voadora
Já tem lugar de chefia.

A passarada oprimida
Só deseja que isto mude,
Mas as aves de rapina
Cada vez têm mais saúde.

Por sobre a terra, por sobre o mar
O Grande Irmão zela por nós:
A sua sombra é protectora,
Já vem dos egrégios avós.

Letra e música: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão original: Gaiteiros de Lisboa com Sérgio Godinho & Armando Carvalhêda (in CD “Avis Rara”, d’Eurídice/d’Orfeu Associação Cultural, 2012)

As forças em parada desfilam junto à tribuna de honra que é composta por cinquenta poleiros, onde estão representadas as espécies ornitológicas democraticamente nomeadas pelo marechal Avejão. Desfilam, neste momento, o esquadrão Falcão e o esquadrão Abutre, garantes da paz, da ordem, da liberdade e da segurança. À sua passagem, o marechal Avejão perfila-se no seu poleiro e erguendo a asa direita saúda as tropas em sinal de respeito e gratidão.

Ó Ana, Vem Ver

Ó Ana, vem ver! Ó Ana, vem ver!
Há fogo no mar e os peixes a arder!
La ri lo lela! Ó Ana, vem ver!

Oh alto e oh alto, oh alto, piu piu!
Passarinho novo da mão me fugiu!
La ri lo lela, oh alto, piu piu!

Senhora Maria, senhora Maria,
O seu galo canta e o meu assobia!
La ri lo lela, senhora Maria!

Galo

Galo

Oh alto e oh alto, oh alto e oh alto!
Quanto mais acima maior é o salto!
La ri lo lela, oh alto e oh alto!

Ó Ana, vem ver! Ó Ana, vem ver!
Há fogo no mar e os peixes a arder!
La ri lo lela! Ó Ana, vem ver!

Senhora Maria, senhora Maria,
O seu galo canta e o meu assobia!
La ri lo lela, senhora Maria!

Oh alto e oh alto, oh alto, piu piu!
Passarinho novo da mão me fugiu!
La ri lo lela, oh alto, piu piu!

Eu quero, eu quero, eu quero, eu queria
Dormir uma noite contigo, Maria!
La ri lo lela, eu quero, eu queria!…

Letra e música: Tradicional (Beira Interior)
Intérprete: Real Companhia (in CD “Orgulhosamente Nós!”, Lusogram, 2000)

O Judas teve sarampo

[ Quando Judas Teve Sarampo ]

O Judas teve sarampo,
Herodes teve bexigas;
Pilatos teve sezões,
O Caifás teve lombrigas.

O Judas quando nasceu
Foi de uma velha gaiteira,
O Diabo foi parteira;
Quando Judas rescendeu
Foi padrinho um pigmeu
Para o livrar do quebranto.
A todos causou espanto
Tal era a figura horrenda,
Mas só o Diabo se lembra
E Judas teve sarampo.

O Judas teve sarampo,
Herodes teve bexigas;
Pilatos teve sezões,
O Caifás teve lombrigas.

Letra: Popular (Monte Real, Leiria, Alta Estremadura); adap. Carlos Guerreiro
Música: Carlos Guerreiro
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão original: Gaiteiros de Lisboa (in CD “Macaréu”, Aduf Edições, 2002; CD “A História”, Uguru, 2017)

Quem quer brincar

[ Brincar aos Fados ]

Quem quer brincar a uma nova brincadeira,
Que não tem índios, nem polícias, nem ladrões
E toda a gente pode brincar à primeira,
Basta saber cantarolar duas canções.

Uma vassoura pode ser uma viola,
Uma guitarra pode ser feita em cartão:
É muito fácil… basta usar tesoura e cola
Para dar asas à tua imaginação.

Uma cortina faz de xaile improvisado
E num instante nasce um palco no quintal;
Até o gato que não quer ser chateado
É a plateia que te aplaude no final.

Então tu escolhes um CD… põe-lo baixinho
E em ‘karaoke’, em ‘playback’ ou a cantar
És a Amália, a Mariza ou a Carminho
E vais aos fados… mesmo que seja a brincar.

Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Bernardo Lino Teixeira (Fado Ginguinha)
Intérprete: Camané (in CD “Brincar aos Fados”, Farol Música, 2014)
Outra versão: Rodrigo Costa Félix

Subir, Subir

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Mensageiros de Cupido
Eu ando deprimido
Intercedei por mim ao vosso Deus!
Estou de amores com uma catraia
Que p’ra subir a saia
Exige grandes sacrifícios meus

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Levantei velas à barca
Mas a brisa era parca
Nem deu para agitar o meu corcel
Assim nunca mais te chego
A ter no aconchego
Tirar-te dessa ilha de papel

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Fiz consulta a feiticeiros
E santos padroeiros
Deixei bruxeiros de cabeça à toa
Findei o consultamento
E como rendimento
Saíram-me (imaginem!) os Gaiteiros de Lisboa

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Letra e música: Mário Alves (Vozes da Rádio)
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão discográfica ao vivo dos Gaiteiros de Lisboa, com Vozes da Rádio (in 2CD “Dançachamas: Ao Vivo”: CD 1, Farol Música, 2000)
Versão original: Vozes da Rádio com Gaiteiros de Lisboa (in CD “Mappa do Coração”, Ariola/BMG Portugal, 1997)

Tubarão tinha dentes de tainha

[ Tamboril ]

Tubarão tinha dentes de tainha
E a tainha tinha dentes de tambor
Toca traz tempo chuva tempestade
Tubarão trincou um touro nos taleigos da vontade

Tubarão tinha o tímpano trocado
E trocado estava o tempo todo o ano
Toca traz tempo chuva tempestade
Tubarão tamborilou ‘inda a missa ia a metade

Tubarão traficou-se em tamboril
Troca-tintas com retoque teatral
Toca terça, quarta, quinta, noite e dia
Travestido no Entrudo c’uma tromba de enguia

Tamboril teve tísica ao contrário
Já tossia como tosse o tubarão
Toca terça, quarta, quinta, noite e dia
Tamboril entubarou num atalho p’rá Turquia

Tubarão tinha dentes de tainha
E a tainha tinha dentes de tambor
Toca traz tempo chuva tempestade
Tubarão trincou um touro nos taleigos da vontade

Tubarão tinha o tímpano trocado
E trocado estava o tempo todo o ano
Toca traz tempo chuva tempestade
Tubarão tamborilou ‘inda a missa ia a metade

Tubarão traficou-se em tamboril
Troca-tintas com retoque teatral
Toca terça, quarta, quinta, noite e dia
Travestido no Entrudo c’uma tromba de enguia

Tamboril teve tísica ao contrário
Já tossia como tosse o tubarão
Toca terça, quarta, quinta, noite e dia
Tamboril entubarou num atalho p’rá Turquia

Letra: Miguel Cardina
Música: Pedro Damasceno e Celso Bento
Arranjo: Diabo a Sete e Julieta Silva
Intérprete: Diabo a Sete (in CD “Figura de Gente”, Sons Vadios, 2016)

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Saudades

Canções de saudade

Letras

A saudade do teu cheiro

[ Ai o Meu Primeiro Amor ]

A saudade do teu cheiro
E o sorrir do teu olhar
Faz o meu corpo inteiro
Ganhar asas e voar

Num voo derradeiro
Sobrevoo o alto-mar
E nem o denso nevoeiro
Faz este fogo cessar

Ai o meu primeiro amor
Feito de um tímido beijo
É de todos o maior
É de todos o primeiro

Ai o meu primeiro Amor…

É um amor estrangeiro
Que vive em liberdade
Meu coração prisioneiro
Fica preso à saudade

Ai o meu primeiro amor
Feito de um tímido beijo
É de todos o maior
É de todos o primeiro

Ai o meu primeiro amor
Feito de um tímido beijo
É de todos o maior
É de todos o primeiro

Ai o meu primeiro Amor…
Ai o meu primeiro Amor…

Letra e música: Samuel Lopes
Intérprete: Citânia
Versão original: Citânia (in Livro/CD “Segredos do Mar”, Seven Muses, 2011)

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e a qualidade de vida dos idosos. 

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

A saudade enlouqueceu

[ A saudade Não existe ]

A saudade enlouqueceu
no dia em que tu partiste;
não sei o que é que me deu
se afirmei como um ateu
que a saudade não existe.

Então, o Fado fez pouco
da minha infelicidade
e nunca mais me deu troco.
Não sabe quem anda louco:
se sou eu ou a saudade

Coitado de quem a esquece,
nunca mais volta a ter paz.
Quando a saudade enlouquece,
a loucura é uma prece
com o Fado por detrás.
Coitado de quem a esquece,
nunca mais volta a ter paz.

A saudade ficou rouca
de tanto te ter chamado,
e anda de boca-em-boca;
comentam que ela está louca,
mas quem está louco é o Fado!

A Saudade Não Existe (A Saudade Enlouqueceu)
Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Joaquim Campos (Fado Amora)
Intérprete: Cristina Nóbrega
Versão original: Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014)
Outra versão de Cristina Nóbrega (grav. no Largo do Teatro Nacional de São Carlos, Lisboa, 29 Ago. 2014, in CD “Ao vivo no Chiado”, Watch & Listen, 2015)

Cristina Nóbrega, Ao Vivo no Chiado
Cristina Nóbrega, Ao Vivo no Chiado

A saudade, meu amor

[ Saudade, Silêncio e Sombra ]

A saudade, meu amor,
É o martírio maior
Da minha vida em pedaços,
Desde a tarde desse dia
Em que ao longe se perdia
P’ra sempre o som dos teus passos.

Saudades fazem lembrar
Silêncios do teu olhar,
Segredos da tua voz
E essa antiga melodia
Que o vento na ramaria
Murmurava só p’ra nós.

Lembras-te daquela vez
Quando eu cantava a teus pés
Trovas que não tinham fim,
Quando o luar prateava
E quando a noite orvalhava
As rosas desse jardim?

Jardim distante e deserto,
Sinto tão longe e tão perto
O passado que te ensombra…
Devaneio e realidade,
Silêncio, sombras, saudade,
Saudades, silêncio e sombr

Letra: D. Nuno Lorena
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)
Intérprete: Tereza Tarouca (in EP “Saudade, Silêncio e Sombra”, RCA Victor, 1964; LP “Os Melhores Fados de Tereza Tarouca”, RCA Camden, 1978; 2LP “Álbum de Recordações”: LP 1, Polydor/PolyGram, 1985; CD “Temas de Ouro da Música Portuguesa”, Polydor/PolyGram, 1992; CD “Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006; CD “Tereza Tarouca”, col. Fado Alma Lusitana III, vol. 3, Levoir / Correio da Manhã, 2014)

Era uma vez um comboio

[ ‘Inda me Alembra a Azeitona ]

Era uma vez um comboio
Em que me fui a montar:
Abalei nele p’rá cidade,
Nunca mais quis eu voltar.

Nunca mais quis eu voltar,
Ilusão da vida minha;
‘Inda me alembra a azeitona
Quando o medo guarda a vinha.

‘Inda me alembra a azeitona,
‘Inda me alembra o lagar:
Vinha a seguir à castanha
E depois de vindimar.

Vinha a seguir à castanha,
À castanha redondinha;
‘Inda me alembra a azeitona
E de rabiscar a vinha.

Uma vez cá na cidade
Quis comer migas de pão;
Tinha tudo p’ra as fazer,
Faltava-me o coração.

Faltava-me o coração
Que eu deixei à tua beira;
‘Inda me alembra a azeitona,
Ai, queira eu ou não queira.

‘Inda me alembra a azeitona,
‘Inda me alembra o lagar:
Vinha a seguir à castanha
E depois de vindimar.

Vinha a seguir à castanha,
À castanha redondinha;
‘Inda me alembra a azeitona
E de rabiscar a vinha.

Agora quero eu voltar
E já não tenho ninguém;
O coração que eu deixei
Deixou-me a mim também.

Deixou-me a mim a cismar
De alecrim e manjerona;
Não sei qual deles cheirar
Se ‘inda me alembra a azeitona.

‘Inda me alembra a azeitona,
‘Inda me alembra o lagar:
Vinha a seguir à castanha
E depois de vindimar.

Vinha a seguir à castanha,
À castanha redondinha;
‘Inda me alembra a azeitona
E de rabiscar a vinha.

Letra: Vítor Reia
Música: Jorge Semião
Intérprete: Vá-de-Viró (in CD “Por Aí…”, Música XXI – Associação Cultural, 2013)

Se me Levam Águas

MOTE ALHEIO

Se me levam águas,
nos olhos as levo.

VOLTAS

Se de saudade
morrerei ou não,
meus olhos dirão
de mim a verdade.
Por eles me atrevo
a lançar as águas
que mostrem as mágoas
que nesta alma levo.

As águas que em vão
me fazem chorar,
se elas são do mar
estas de amor são.
Por elas relevo
todas minhas mágoas;
que, se força de águas
me leva, eu as levo.

Todas me entristecem,
todas são salgadas;
porém as choradas
doces me parecem.
Correi, doces águas,
que, se em vós me enlevo,
não doem as mágoas
que no peito levo.

Poema (vilancete em redondilha menor): Luís de Camões (in “Rimas”, org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; “Obras de Luís de Camões”, Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 772-773)
Música: Luís Cília
Intérprete: Luís Cília (in LP “La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours – 1”, Moshé-Naïm, 1967; CD “La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours”, Moshé-Naïm/EMEN, 1996)

Em sonho lá vou

[ Longe Daqui ]

Em sonho lá vou de fugida,
Tão longe daqui, tão longe.
É triste viver tendo a vida
Tão longe daqui, tão longe.

Mais triste será quem não sofre
Do amor, a prisão sem grades.
No meu coração há um cofre
Com jóias que são saudades.

Tenho o meu amor para além do rio,
E eu cá deste lado cheiinha de frio.
Tenho o meu amor para além do mar,
E tantos abraços e beijos p’ra dar.

Oh bem que me dás mil cuidados,
Tão longe daqui, tão longe,
A Lua me leva recados,
Tão longe daqui, tão longe.

Quem me dera ir céu adiante,
Correndo veloz no vento:
Ter asas, chegar num instante
Onde está meu pensamento.

Tenho o meu amor para além do rio,
E eu cá deste lado cheiinha de frio.
Tenho o meu amor para além do mar,
E tantos abraços e beijos p’ra dar.

Tenho o meu amor para além do rio,
E eu cá deste lado cheiinha de frio.
Tenho o meu amor para além do mar,
E tantos abraços e beijos p’ra dar.

Nota: Na gravação original (amaliana), o primeiro verso da quarta estrofe tem a seguinte forma: “Ao bem que me dá mil cuidados”.

Letra: Hernâni Correia
Música: Arlindo de Carvalho
Intérprete: Cristina Nóbrega
Versão original: Amália Rodrigues (grav. 1970, in CD “Segredo”, EMI-VC, 1997; 3CD “É ou Não É?: os 45 rpm 1968-1975”: CD 1, Edições Valentim de Carvalho, 2018)

Amália Rodrigues em 1969
Amália Rodrigues em 1969

Eu tenho um xaile encarnado

[ Xaile Encarnado ]

Eu tenho um xaile encarnado
É uma lembrança tua
Tem um segredo bordado
Que às vezes eu trago à rua

Tem as marcas de uma vida
Que a vida marca no rosto
Mas ganha uma nova vida
Nas noites que o trago posto

Já foi lençol e bandeira
Vela de barco também
Tem marcas da vida inteira
Mas dizem que me cai bem

Se pensas que me perdi
Nalgum destino traçado
Para veres que não esqueci
Eu ponho o xaile encarnado

Letra: João Monge
Música: Armandinho (Fado da Adiça)
Intérprete: Aldina Duarte (in CD “Crua”, EMI, 2006)

Eu peguei em saudades tuas

[ Saudade solta ]

Eu peguei em saudades tuas
Fui plantá-las no meu jardim
Porque sei que assim continuas
Aqui bem juntinho a mim
E cantando a saudade eu sei
Algo aqui há-de nascer
Se tristeza eu semeei
Alegria hei-de colher
Alegria hei-de colher

Pedrinhas que houver eu hei-de tirar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta
E sombras que houver eu hei-de afastar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta

Novos dias vão chegar
Outras memórias felizes
E o vento que nos vergar
Não nos vai quebrar raízes
E cantando eu sei que fica
A saudade bem aqui
E a esperança que nos dá vida
Em mim não terá o fim
Sei que vais esperar por mim

Pedrinhas que houver eu hei-de tirar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta
E sombras que houver eu hei-de afastar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta

Pedrinhas que houver eu hei-de tirar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta
E sombras que houver eu hei-de afastar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta

Intérprete: Mariza

Eu preciso de te ver

Eu preciso de te ver,
Ausente d’amor sem razão,
Para te mostrar as sombras
Do quarto da solidão.
Eu preciso de te ver,
Ausente d’amor sem razão.

Eu preciso de te ver
Para matar este frio,
Que voa dentro de mim
Como as gaivotas no rio.
Eu preciso de te ver
Para matar este frio.

Eu preciso de te ver
Para matar esta saudade,
Que já começa a vestir
O tempo da minha idade.
Eu preciso de te ver
Para matar esta saudade.

Como ganhei a coragem
D’areia a beber a espuma,
Eu preciso de te ver
Mais uma vez, só mais uma.

Letra: Vasco de Lima Couto
Música: José Fontes Rocha (Fado Isabel)
Intérprete: Joana Amendoeira* (in CD “Amor Mais Perfeito: Tributo a José Fontes Rocha”, CNM, 2012)
Primeira versão (com a melodia do Fado Isabel): Beatriz da Conceição (in EP “Pomba Branca, Pomba Branca”, Banda/Movieplay, 1974; CD “Beatriz da Conceição”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 75, Movieplay, 1997; CD “Beatriz da Conceição”, col. Clássicos da Renascença, vol. 21, Movieplay, 2000)
Outra versão de Beatriz da Conceição (in CD “Tears of Lisbon”, Sony Classical, 1996)
Versão original (com a melodia do Fado Menor do Porto): Lucília do Carmo (in LP “Recordações”, Decca/VC, 1971, reed. Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2008; CD “Lucília do Carmo” (compilação), col. Caravela, EMI-VC, 1997)

Beatriz da Conceição

fadista Beatriz da Conceição

Fecho os olhos já cansados

[ Solidão e Xisto ]

Fecho os olhos já cansados.
Relembro os tempos passados,
as finas flores de cerejeira,
os cereais secos na eira.
No percurso da memória,
vem à luz a mesma história
da minha aldeia adormecida
Vem à luz a mesma história.
Minha terra, minha alma
que antes era canto e vida!

Fecho os olhos navegantes.
Relembro tempos distantes
das terras fecundadas,
dias de sol e sementes lançadas.
Eram campos de alegria.
Hoje são pó e nostalgia
nesta aldeia adormecida.
Hoje pó e nostalgia.
Minha terra, minha alma
que antes era canto e vida!

Fecho os olhos de mansinho,
sigo agora outro caminho.
Desta terra me despeço
no embalo das vozes antigas.
Num lamento adormeço
ao rumor de velhas cantigas.
Espalho-me em sementes de alma
na terra de todos os campos.
Dela brotarão flores em cantos:
Que ainda sou, ainda existo
nesta aldeia de solidão e xisto.

Letra: Joana Lopes
Música: António Pedro
Intérprete: Musicalbi
Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)

Há uma saudade guardada

[ A nossa voz ]

Letra: Mariza
Música: Fred, Vicente Palma, André Dias
Intérprete: Mariza

Na noite

[ Mais do Que Saudade ]

Na noite, lá longe um cão a ladrar
E o som que, se solta, levita no ar
Como que uma dança, vai alguém a correr;
Há carros e motas abanando o escuro,
Lembro o teu sorriso tão lindo, inseguro…
Não te sei chamar, o que hei-de fazer?

Onde estás, meu amor? Onde pairas?
Será que pensas em mim?
Também, como eu, estás assim?
Na verdade, isto é mais do que saudade,
É mais do que saudade.

Porquê este aperto a lembrar, tal e qual,
Que o longe da vista é como um Carnaval:
Olhar e sorrir, não mostrar que estou triste?
Prefiro deixar o coração de lado,
Ir à beira-rio, andar um bocado…
Será que paraste? Será que me ouviste?

Onde estás, meu amor? Onde pairas?
Será que pensas em mim?
Também, como eu, estás assim?
Na verdade, isto é mais do que saudade,
É mais do que saudade.

A saudade tem destas coisas estranhas,
Tem trejeitos, amua, tem também suas manhas:
Não quer admitir, diz que não, bate o pé;
Na verdade, sem ela em qualquer circunstância
Sentiria por ti esta falta, esta ânsia…
Muito mais que saudade, nem eu sei o que é.

Onde estás, meu amor? Onde pairas?
Será que pensas em mim?
Também, como eu, estás assim?
Na verdade, isto é mais do que saudade,
É mais do que saudade.

Na verdade, isto é mais do que saudade,
É mais do que saudade.

Letra e música: Amélia Muge
Arranjo: Amélia Muge e Quiné Teles
Intérprete: Ela Vaz (in CD “Eu”, Micaela Vaz, 2017)

No alto daquela fraga

[ Aroma da Saudade ]

No alto daquela fraga,
Vi teus olhos cintilar.
A distância traz a mágoa
De não te poder beijar.

Que saudades do teu cheiro,
Dos teus lábios de romã,
Dos recatos do celeiro,
Faces rubor de maçã!

Trigueira do Alentejo
Tens o mel do meu desejo,
No teu beijo
Um aroma da saudade.

Teus cabelos cor de trigo,
Teu perfume de alecrim.
Ao ribeiro vou contigo;
Não te apartes mais de mim!

Na eira corre o suão
E um aroma de poejo.
Coentros, migas de pão
Alimentam o desejo.

Trigueira do Alentejo
Tens o mel do meu desejo,
No teu beijo
Um aroma da saudade.

Trigueira do Alentejo
Tens o mel do meu desejo,
No teu beijo
Um aroma da saudade.
Trigueira do Alentejo…

Letra e música: Álvaro M. B. Amaro
Intérprete: Dialecto*
Versão original: Dialecto (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)

O meu avô dançava

[ Baile em Segredo ]

O meu avô dançava
O que a avó trauteava
E, com movimento,
A valsa voava.

Foi no salão de dança,
Mesmo a meio do mar
Quando um navio avança,
Dança e balança o par;
Mesmo a meio do mundo,
Longe o pulsar do cais
Num silêncio profundo,
Toca uma nota mais.

Ai, guarda os teus sentidos
Ai, numa caixa aberta:
São os contos vividos
Que um quadro liberta!
Ai, guarda a tua vida
Ai, num frasco de sais:
No calor da avenida,
O sol de volta ao cais!

A dimensão que o mundo
Tem do silêncio ouvir
Vem dum saber profundo:
O saber de existir.

O meu avô dançava
O que a avó trauteava
E, com movimento,
A valsa voava.

Letra: João Afonso Lima
Música: João Afonso Lima e António Afonso
Arranjo: Quiné Teles
Intérprete: Ela Vaz, com Uxía (in CD “Eu”, Micaela Vaz, 2017)
Versão original: João Afonso com António Afonso (in CD “Outra Vida”, Vachier & Associados/Universal, 2006)

Olá! Como é que estás?

[ SMS ]

— Olá! Como é que estás? Como é que vais?
Os dias por aqui seguem iguais
E passam sem trazer mais novidades;
Há muito que não sei nada de ti,
Mas pelo coração já percebi
Que ainda guardo aqui muita saudade.

— Se tu quiseres podemos tomar
Um copo ou um café para falar,
Pôr a conversa em dia um destes dias:
Quero saber de ti e do que fazes,
Saber se por acaso ainda trazes
Contigo aquele brilho que trazias.

Podemos ver um filme no cinema.
— E dar os dois a mão naquela cena.
— Ficar assim até aos créditos finais.
— Podemos ir os dois beber um gin.
— Dizer que a vida vai assim-assim…
— Os dias por aqui seguem iguais.

— Podias pôr aquele teu vestido,
Aquele azul com o ombro descaído,
Estampado a padrões orientais;
Gostava de levar-te a jantar fora,
Por mim podemos ir a qualquer hora
Porque aqui os dias seguem sempre iguais.

— Desculpa se o telefone te acordou,
Escrevi-te porque o coração mandou,
Ele já não podia esperar mais;
Eu já ouvi dizer que o tempo cura
Mas sei que a tua falta ainda dura…
Os dias por aqui seguem iguais.

Não me leves a mal por te escrever
Nem sintas que é preciso responder,
É só uma mensagem, nada mais;
Só escrevo p’ra dizer que ainda te quero
E quando a lua vem ainda te espero…
As noites por aqui seguem iguais.

— As noites por aqui seguem iguais.
— As noites por aqui seguem iguais.
— Os dias por aqui seguem iguais.
— As noites por aqui seguem iguais.

Letra: José Fialho Gouveia
Música e arranjo: Rogério Charraz
Intérprete: Rogério Charraz com Katia Guerreiro (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)

Os olhos do meu amor

[ Dois Navios ]

Os olhos do meu amor são dois navios de guerra;
navegam pelo mar fundo, deitam faíscas à terra.
Ó pombinh’enrol’enrol’ai! ó meu pomb’enroladore;
já lá vem ‘àssobiare a caldeira do vapore.

A caldeira do vapor’ai! ó meu pomb’enrol’enrola.
Eu hei-d’ir par’à Espanha casar com ‘ma espanhola.
Casar com ‘ma espanhola, qu’elas são moças bonitas;
usam sai’à papo-seco, sapatos, meias e ligas.

Ó meu amor, eu fujo pelo mar’abaix’eu sou marujo.
Ó meu amor, eu fujo pelo mar’abaix’eu sou marujo.
Eu sou marujo mais ela.
Eu sou marujo mais ela.
Pelo mar’abaixo vai um barco à vela.
Pelo mar’abaixo vai um barco à vela.

Ó pescador da barquinha! Qu’ei lá! Volt’à trás que vais perdido!
Porquê? Essa mulher qu’aí levas!
Que tem? É casad’e tem marido!
Vá de banda, carabola, vá de banda, vá de banda, carol’olé!
Eu sei falar à ‘spanhola, cara linda, “mira usted”.
Vá de banda, carabola, vá de banda, vá de banda, carol’olé!
Eu sei falar à ‘spanhola, cara linda, “mira usted”.

Vá de banda, carabola, vá de banda, vá de banda, carol’olé!
Eu sei falar à ‘spanhola, cara linda, “mira usted”.
Vá de banda, carabola, vá de banda, vá de banda, carol’olé!
Eu sei falar à ‘spanhola, cara linda, “mira usted”.

Letra e música: Tradicional portuguesa
Arranjo: Paulo Cunha
Intérprete: Vá-de-Viró (in CD “Por Aí…”, Música XXI – Associação Cultural, 2013)

Quando o amor se cansar

[ O Que É Que Eu Digo à Saudade? ]

Quando o amor se cansar e tu partires,
Ficarmos no silêncio desta idade,
Sem um adeus sequer tu me dizeres,
Uma palavra, um gesto de amizade;
Sem um adeus sequer tu me dizeres,
Amor, que vou dizer nesta saudade?

O que é que eu digo à saudade
Sem teus olhos p’ra me olhar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teus lábios p’ra beijar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu corpo para amar?
O que é que eu digo à saudade
Se não me vens abraçar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?

E na cama sozinha em que te penso,
Em que me venço inteira, com verdade,
Sendo a ti, meu amor, a quem pertenço,
Porque não és de mim outra metade?
E se é pensando em ti que eu adormeço,
O que é que eu digo à noite e à saudade?

O que é que eu digo à saudade
Sem teus olhos p’ra me olhar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teus lábios p’ra beijar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu corpo para amar?
O que é que eu digo à saudade
Se não me vens abraçar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?

O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?

O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?

Letra: José Luís Gordo e Mário Rainho
Música: José Fontes Rocha
Intérprete: Joana Amendoeira (in CD “Amor Mais Perfeito: Tributo a José Fontes Rocha”, CNM, 2012)
Versão original: Maria da Fé (in LP “Amor na Minha Voz”, MBP, 1989, reed. CD “Estar Contigo”, Ovação, ?)
Outra versão de Maria da Fé (in CD “Canto Lusitano”, Ovação, 1993; CD “Maria da Fé”, col. Estrelas da Música Portuguesa, Ovação, 2015)

A Vida Que Há na Saudade

Quando o silêncio me diz
que a vida está por um triz,
e eu sei que fala verdade,
vou p’ra trás de uma guitarra
e a minha voz agarra
a vida que há na saudade.

Vem um fado e outro fado
e o coração, cansado,
diz que não quer sofrer tanto,
porque já sabe de cor
o que lhe faz o Menor
de cada vez que eu o canto.

Mas o guitarrista toca
uma guitarra que evoca
outra guitarra mais triste:
está guardada no meu peito
e toca um fado que é feito
da dor mais forte que existe.

Ao escutá-la no meu sangue,
o meu coração exangue
volta a bater com vontade:
e é nas cordas da viola
que a minha vida se enrola
na vida que há na saudade!

Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado Cravo)
Intérprete: Cristina Nóbrega (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa)
Versão original: Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014)

Alfredo Marceneiro
Alfredo Marceneiro

Quando se tem pouca idade

[ A Vida Como Ela É ]

Quando se tem pouca idade
Só se percebe a saudade
Se espreitamos à janela;
E ao vermos a mãe partir
Só pensamos em fugir
P’ra baixo das saias dela.

Saudade é ter que ir p’rá cama
Após vestir o pijama
E sonhar com temporais;
Mas por ter medo do escuro
Ir num passinho inseguro
Dormir p’rá cama dos pais.

É estar com gripe ou anginas,
Encharcado em aspirinas
E saber que os companheiros
Lá foram jogar à bola
No campeonato da escola,
Mas não foram os primeiros.

É o brinquedo estragado,
É o sapato apertado
Que já não cabe no pé;
É tudo o que ao ir embora
Nos obriga a ver agora
A vida como ela é.

Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Casimiro Ramos (Fado Três Bairros)
Intérprete: Joana Amendoeira* (in CD “Brincar aos Fados”, Farol Música, 2014)

Saudosos estão os meus olhos

[ Saudade Atrás de Saudade ]

Saudosos estão os meus olhos
do fitar do teu olhar;
Saudosas estão minhas mãos
das tuas mãos afagar.

Saudoso está o meu corpo
do teu corpo me abraçar;
Saudosa está minha voz
de ouvir a tua falar.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudoso está meu penar
do tempo em que não penava;
Saudosa está minha boca
da tua quando a beijava.

Saudosa está minha alma
por tua alma não ter;
Saudoso está o meu riso
podia já não saber.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Letra: Dina Carapeto
Música: Jorge Semião
Intérprete: Vá-de-Viró (in CD “Por Aí…”, Música XXI – Associação Cultural, 2013)

Três Paus

Três paus
é só quanto custa um bilhete
para percorrer o velho tapete
daquele cinema
onde passa aquele filme que vimos mil vezes

Três paus
não pagaram o que fizeste
o beijo e a mão que então tu me deste
Foi na sala escura
que acendeste a luz da minha velha prece

Venham, venham ver o maior filme de sempre!
Hoje no Cinema Central
uma história de amor como não há igual.
Ela foge p’ra casar… Ele morre atropelado
O pai desembestado
rouba o neto à sua mãe… e mais não conto!
Só custa três paus!

Três paus
é já quanto custa um sorvete
mais caro que um copo de clarete
servido bem frio
numa tarde longa de um Verão quente

Três paus
eram de morango e folia
gargalhadas do mais doce que havia
soltavam no ar
coisas muito tolas que enchiam os dias

É frut’ó chocolate!
P’ró menino e p’rá menina!
Ó minha senhora, não vai um geladinho?
Refresca até o cabelo, o meu sorvete fresquinho.
Prove lá, avozinha!
Não me diga que não gosta desta categoria?!
Só custa três paus!

Três paus
marcam o sabor de uma vida
que nunca se acaba na despedida
nos anos felizes
da idade nova breve e distraída

Letra: Eugénia Ávila Ramos
Música: Carlos Lopes
Intérprete: Rua da Lua* (in CD “Rua da Lua”, Rua da Lua, 2016)

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Amores Perdidos

Canções do amor terminado

Letras

Fui de viagem

[ Volta ao mundo ]

Fui de viagem para me esquecer de ti
Porque de mim já me esquecera e nem vi
Mas não havia rua, praça nem jardim
Que não trouxesse a tua imagem, ai de mim!

Cheguei a ver-te noutro mundo, outro lugar
Aonde não havia nada pra esperar
Nos mares longe onde não tinha mais ninguém
Dentro de mim ouvia a tua voz também

Em todo o lado, meu amor
Toda a viagem, meu amor
Trago no peito a tua imagem junto a mim

Vivo em saudade meu amor
E tudo diz ao meu redor
Que a nossa história não é feita deste fim

Mas no regresso volto à vida e tu não estás… para mim.

Letra: Cátia Oliveira
Música: Catarina Rocha
Intérprete: Catarina Rocha

Não queiras

[ Fado Passado ]

Não queiras
Versos lindos de cantar
Nem rosas
Como dias por abrir
O nosso amor passou, amor
O nosso amor não basta
Não basta…

Não digas
Quantas horas foram poucas
Que noites
Duas sombras a alongar
Agora é só sonhar, amor
O nosso amor não canta
Não canta…

Dou voltas
Numa rua que foi nossa
À espera
De uma casa onde morar
A gente vai vivendo, amor
E o nosso amor não passa
Não passa…

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e o bem estar dos idosos. Faz ACD e ALD (formações de curta e longa duração), realiza oficinas de música durante o ano letivo e dinamiza atividades em colónias de férias. Municípios, Escolas, Agrupamentos, Colégios, Festivais, Bibliotecas, CERCI, Centros de Formação, Misericórdias, Centros de Relação Comunitária, podem contratar serviços Reciclanda.

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

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Senhor Vadio

Canções de adeus

Letras

Disse-te adeus e morri

Disse-te adeus e morri
E o cais vazio de ti
Aceitou novas marés.
Gritos de búzios perdidos,
Roubaram dos meus sentidos,
A gaivota que tu és.

Gaivota de asas paradas,
Que não sente as madrugadas
E acorda à noite a chorar.
Gaivota que faz o ninho
Porque perdeu o caminho
Onde aprendeu a sonhar.

Preso no ventre do mar
O meu triste respirar
Sofre a invenção das horas.
Pois, na ausência que deixaste,
Meu amor, como ficaste?
Meu amor, como demoras!

Preso no ventre do mar
O meu triste respirar
Sofre a invenção das horas.
Pois, na ausência que deixaste,
Meu amor, como ficaste?
Meu amor, como demoras!

Letra: Vasco de Lima Couto
Música: José António Sabrosa
Intérprete: Cristina Branco (in CD “Corpo Iluminado”, Universal, 2001)
Versão original: Amália Rodrigues (in “Vou Dar de Beber à Dor”, Columbia/VC, 1969; reed. EMI-VC, 1992)

Disse-te adeus

Disse-te adeus, não me lembro
Em que dia de Setembro
Só sei que era madrugada
A rua estava deserta
E até a lua discreta
Fingiu que não deu por nada

Sorrimos à despedida
Como quem sabe que a vida
É nome que a morte tem
Nunca mais nos encontrámos
E nunca mais perguntámos
Um p’lo outro a ninguém

Que memória ou que saudade
Contará toda a verdade
Do que não fomos capazes
Por saudade ou por memória
Eu só sei contar a história
Da falta que tu me fazes

Letra: Manuela de Freitas
Música: Frederico de Brito (Fados dos Sonhos)
Intérprete: Camané (in CD “Uma Noite de Fados”, EMI-VC, 1995)

Reciclanda

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Gostei desse amor

[ Disse-te Adeus e Sorri ]

Gostei desse amor, fui pedra!
Fui um vento de revolta…
Amei sem fronteira, fui serra!
Fui montanha que se acorda…

Muralhas de amor e de saudade
São rios de beijo e de vontade;
Adeus ao sorrir, não morro,
Sofro apenas a minha verdade…

Foi nesse adeus,
De corpo alado:
Beijos tão meus
Fogem em meu fado!

Será teu adeus verdade?
Ou será apenas lenda?
Sou eu quem te digo:
Saudade num caminho sem legenda!…

Vestiste teu manto de seda
Num vento de leda ansiedade;
Certezas não há quem tenha,
Só sei que este amor é verdade!…

Foi nesse adeus,
De corpo alado:
Beijos tão meus
Fogem em meu fado!

Se nada disseste,
Eu nada te disse;
Foi porque quiseste
Este fim tão triste!…

Foi nesse adeus,
De corpo alado:
Beijos tão meus
Fogem em meu fado!

Se nada disseste,
Eu nada te disse;
Foi porque quiseste
Este fim tão triste!…

Letra e música: José Flávio Martins
Intérprete: Senhor Vadio (in CD “Cartas de um Marinheiro”, José Flávio Martins/iPlay, 2013)

Senhor Vadio
Senhor Vadio
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Casal

Canções de amor

Letras

A azeitona já está preta

{ Chapéu preto ]

A azeitona já está preta,
Já se pode armar aos tordos,
Diz-me lá, ó cara linda: 
Como vais d’amores novos?
Já se pode armar aos tordos.

É mentira, é mentira,
É mentira, sim, senhor!
Eu nunca roubei um beijo,
Quem mo deu foi meu amor.

Quem me dera ser colete!
Quem me dera ser botão,
Para andar agarradinha 
Juntinho ao teu coração!
Quem me dera ser botão!

É mentira, é mentira,
É mentira, sim, senhor!
Eu nunca roubei um beijo,
Quem mo deu foi meu amor.

Ai, que lindo chapéu preto 
Naquela cabeça vai!
Ai, que lindo rapazinho
Para genro do meu pai!
Naquela cabeça vai!

É mentira, é mentira,
É mentira, sim, senhor!
Eu nunca roubei um beijo,
Quem mo deu foi meu amor.

É mentira, é mentira,
É mentira, é mentira,
É mentira, é mentira…

Letra e música: Arlindo de Carvalho
Intérprete: Celeste Rodrigues* [in EP “Celeste (Chapéu Preto)”, Parlophone/VC, 1959; reed. digital: Edições Valentim de Carvalho, 2019]

A lua nasceu

[ Canção de Embalar ]

A lua nasceu e cresceu no além,
A noite surgiu também.
Faz ó-ó, meu amor,
Porque eu velo por ti!
Só aos anjos a lua sorri.

Tu verás, meu amor,
Como é bom sonhos ter:
Deus te dê os melhores que houver.
Faz ó-ó, meu amor,
Porque eu velo por ti!
Só aos anjos a lua sorri.

E tens, porque eu sei e roguei ao Senhor,
Um sonho de paz e amor.
Meu amor, vai dormir!
Vai dormir e sonhar!
Deixa a lua sorrir lá no ar.

Tu verás, meu amor,
Como é bom sonhos ter:
Deus te dê os melhores que houver.
Faz ó-ó, meu amor
Porque eu velo por ti!
Só aos anjos a lua sorri.

Letra e música: Tradicional
Intérprete: Musica Nostra (in CD “Cantos da Terra”, Açor/Emiliano Toste, 2009)

Amor com amor se paga

Amor com amor se paga.
Porque não pagas, amor?
Olha que Deus não perdoa
A quem é mau pagador!

Amor, não me escrevas cartas,
Que, bem sabes, não sei ler!
Quando sentires saudades,
Perde um dia e vem-me ver!

Amor com amor se paga:
Nunca vi coisa mais justa;
Paga-me contigo mesma,
Meu amor, pouco te custa!

Ainda depois de morto,
Debaixo do frio chão,
Hás-de achar o teu nome
Escrito no meu coração.

Dá-me um beijo, eu dou-te dois!
A minha paga é dobrada:
É o jeito de quem ama,
Pagar e não dever nada.

Amor com amor se paga:
Nunca vi coisa mais justa;
Paga-me contigo mesma,
Meu amor, pouco te custa!

Amor com amor se paga.
Porque não pagas, amor?
Olha que Deus não perdoa
A quem é mau pagador!

Amor, não me escrevas cartas,
Que, bem sabes, não sei ler!
Quando sentires saudades,
Perde um dia e vem-me ver!

Amor com amor se paga:
Nunca vi coisa mais justa;
Paga-me contigo mesma,
Meu amor, pouco te custa!

Letra: Quadras populares
Música: César Prata
Arranjo: César Prata e Vânia Couto
Intérprete: César Prata e Vânia Couto
Versão original: César Prata e Vânia Couto (in CD “Rezas, Benzeduras e Outras Cantigas”, Sons Vadios, 2019)

Reciclanda

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Ao meio do quarto

[ Na Volta de um Beijo ]

Ao meio do quarto uma rosa cai no chão
Ao fundo do peito uma letra sem canção
Ao canto da sala guitarras sem bordão
Lá fora do meu peito andas tu e o meu perdão

Sentada cá dentro olho a cruz, está sem pregão
Caiu-me a jarra das mãos, caiu uma rosa de paixão
Fechaste o teu peito, levaste-me o coração
Agora andas tu lá fora, sozinho sem paixão

Chora, chora, e a mim que se me dá!
Chora, chora, e a mim que se me dá!

Eu hei-de ir à romaria pedir a Nossa Senhora
Que me traga o meu amor que anda pelo mundo fora
E assim vê-lo na volta, na volta de um beijo
Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo

Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo
Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo

Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo

Letra: Tradicional e Tiago Curado de Almeida
Música: Tiago Curado de Almeida (com motivo melódico de “Boys Don’t Cry”, da autoria de Robert Smith)
Intérprete: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Chamava-se Nini

[ Nini dos Meus Quinze Anos ]

Letra: Fernando Assis Pacheco
Música: Paulo de Carvalho
Intérprete: Paulo de Carvalho (in LP “Volume I”, 1978; CD “Vida”, Farol, 2006)

Chamava-se Nini
Vestia de organdi
E dançava (dançava)
Dançava só pra mim
Uma dança sem fim
E eu olhava (olhava)

E desde então se lembro o seu olhar
É só pra recordar
Que lá no baile não havia outro igual
E eu ia para o bar
Beber e suspirar
Pensar que tanto amor ainda acabava mal

Batia o coração mais forte que a canção
E eu dançava (dançava)
Sentia uma aflição
Dizer que sim, que não
E eu dançava (dançava)

E desde então se lembro o seu olhar
É só pra recordar
Os quinze anos e o meu primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Toda a ternura que tem o primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Que a vida passa
Mas um homem se recorda, é sempre assim
Nini dançava só pra mim

E desde então se lembro o seu olhar
É só pra recordar
Os quinze anos e o meu primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Toda a ternura que tem o primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Que a vida passa
Mas um homem se recorda, é sempre assim
Nini dançava só pra mim

Chamei-te linda

Chamei-te linda, engraçada
Da graça que Deus te deu
E tu deste uma risada
Quem a não tinha era eu

Que mais eu posso fazer
Fazer eu posso, ai de mim
P’ra um dia te ouvir dizer
Ouvir-te dizer que sim

Deixa-me ao menos a esperança
A derradeira a morrer
“Quem espera sempre alcança”
Foi sempre o que ouvi dizer

És a flor que mais desejo
Das flores do meu roseiral
Quanto, rosa, te não vejo
A vida corre-me mal

Sei que tu és o meu par
Sei que nasceste p’ra mim
Não se devem afastar
Flores do mesmo jardim

Rosa branca, tua cor,
No dia em me quiseres
Farei de ti, meu amor,
A mais feliz das mulheres

És a flor que mais desejo
Das flores do meu roseiral
Quanto, rosa, te não vejo
A vida corre-me mal

Sei que tu és o meu par
Sei que nasceste p’ra mim
Não se devem afastar
Flores do mesmo jardim

Rosa branca, tua cor,
No dia em me quiseres
Farei de ti, meu amor,
A mais feliz das mulheres

Letra e música: Aníbal Raposo (2011-02-13)
Intérprete: Aníbal Raposo (in CD “Rocha da Relva”, Aníbal Raposo/Global Point Music, 2013)

Coração, meu coração

[ Coração Que me Pertence ]

Coração, meu coração
Que sonhavas esta vida,
Por que razão tu paraste?
Não digas que adivinhaste
Na hora da despedida
Desta sublime afeição?

Quantas horas, tantas horas
Esvoaçaste de mansinho
No carinho do meu jeito!
Já nem sabes onde moras,
Descuidado passarinho,
Se no teu se no meu peito.

Fechei meus olhos perdidos,
Não fosse com o desgosto
Rogarem-te alguma praga…
Que os teus hão-de ver, sentidos,
No braseiro do sol-posto
O sangue da minha mágoa.

E no fogo da ambição,
Que ao amor julga que vence,
Queimaste a minha raiz…
Como pode ser feliz
Coração que me pertence
No calor duma outra mão?

Como pode ser feliz
Coração que me pertence
No calor duma outra mão?

Letra e música: Armando Estrela
Intérprete: Tereza Tarouca (in single “O Mangas / Coração Que me Pertence”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1979; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994)

Dei-te um desenho meu

[ Eu gosto de ti ]

Dei-te um desenho meu
Feito com as cores do céu
Pra guardares junto a ti
Sempre que eu for embora

Dei-te um desenho meu (dei-te em desenho meu)
Que não caiu do céu
Com os teus lápis de cor
Juntei o teu amor ao meu

Recordações de belas canções
Contigo, baixinho
Recordações de nós

Sei que o tempo passa, voa
Que eu sinto falta
Mas o caminho é voltar
Sempre
Pra te poder abraçar

Sempre
O meu caminho é voltar pra dizer
Eu gosto de ti
Sim, eu
Eu gosto de
Eu gosto de ti

Dei-te um desenho meu (dei-te em desenho meu)
Feito com as cores do céu
Pra guardares junto a ti sempre que eu for
Embora

Recordações daqueles verões
Contigo, contigo
Recordações de nós

Sei que o tempo passa, voa
Que eu sinto falta
Mas o caminho é voltar
Sempre
Pra poder te abraçar
Sempre

O meu caminho é voltar pra dizer
Eu gosto de ti
Sim, sim eu
Eu gosto de ti
Eu gosto de ti
Sim gosto
Sim, eu
Eu gosto de ti
Eu gosto de ti
Sim, eu
Eu gosto
Eu gosto de ti

Música: Marisa Liz, Tiago Pais Dias
Intérprete: Elas (Áurea, Marisa Liz)

Descobri-te na minha boca

[ Quebranto ]

Descobri-te na minha boca
Na minha pele fria deixada na cama vazia
Encontrei o teu sabor nos meus lábios
Nos lençóis caídos no chão
Na manhã de uma primeira noite
Do teu corpo inundado em mim
Só não estás tu e o meu coração

Saí de casa à vossa procura
Sem eira nem beira
Como vagabunda, sem faro, sem dono
Parei na tua rua onde te encontrei
Pela primeira vez
Entre um copo de vinho e um fado vadio
Só não estás tu e o meu coração

Onde estás, coração?
Esse homem ladrão
Que me fez um quebranto
Canto, suor, engano cigano, um encanto
Coração!
Onde estás, coração?
A vida tropeça nas mãos
Deita-se contigo e foge na madrugada

Perdida, relembro-te à mesa
Entre a neblina do fumo e um sorriso mudo
Como quem pede por mim
Sentei-me, falaste com a guitarra
Primeira vez que te vi
Primeira vez que me dei
Sem pudor nem amor
Até que percebi:
Só não estás tu e o meu coração

E agora só me resta a noite
Sou um corpo dos outros
Sem alma, sem fé nem desdém
Despida de amor
Teu corpo uma canção que não pára
Meu corpo a tua guitarra
Meu fado é um filho perdido
Sozinho nas ruas sem mim
Já não sou eu, perdi o meu coração

Onde estás, coração?
Esse homem ladrão
Que me fez um quebranto
Canto, suor, engano cigano, um encanto
Coração!
Onde estás, coração?
A vida tropeça nas mãos
Deita-se contigo e foge na madrugada

Letra e música: Vânia Couto
Intérprete: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

É a tua vida que eu quero bordar

[ A Linha e o Linho ]

É a tua vida que eu quero bordar na minha
Como se eu fosse o pano e tu fosses a linha
E a agulha do real nas mãos da fantasia
Fosse bordando ponto a ponto o nosso dia-a-dia
E fosse aparecendo aos poucos o nosso amor
Os nossos sentimentos loucos, o nosso amor
O zig-zag do tormento, as cores da alegria
A curva generosa da compreensão
Formando a pétala da rosa, da paixão
A tua vida o meu caminho, o nosso amor
Tu és a linha e eu o linho, o nosso amor
A nossa colcha de cama, a nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

A tua vida o meu caminho, o nosso amor
Tu és a linha e eu o linho, o nosso amor
A nossa colcha de cama, a nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

Letra e música: Gilberto Gil
Intérprete: Celina da Piedade
Primeira versão de Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)
Versão original: Gilberto Gil (in LP “Extra”, Warner Bros. Records, 1983, reed. WEA Discos, 1995)

Ela tem a boca torta

[ Os embeiçados ]

Ela tem
boca torta
nariz grande
cabelo mal cortado
rói as unhas
usa cunhas
mas eu estou apaixonado

Ele tem
espinhas sardas
pontos negros
e uma boca exagerada
desafina
e desatina
mas eu estou apaixonada

Ela é
ciumenta
rabugenta
embirrenta e tagarela
intriguista
e moralista
mas eu estou louco por ela

Ele faz
cenas gagas
altas fitas
não tem confiança em mim
faz-se caro
faz-me trombas
mas eu gosto dele assim

Diz-se que o amor é cego
deforma tudo a seu jeito
mas eu acho que o amor
descobre o lado melhor
do que parece defeito

Porque eu gosto
gosto dele
e ela gosta
gosta de gostar de mim

Letra: Regina Guimarães
Música: Hélder Gonçalves
Intérprete: Clã

Em tenra laranjeira

[ Fado Laranjeira ]

Em tenra laranjeira, ainda pequenina,
Onde poisava o melro ao declinar do dia,
Depois de te beijar a boca purpurina,
Um nome ali gravei: o teu nome, Maria.

Em volta um coração também com arte e jeito,
Ao circundar teu nome a minha mão gravou:
Esculpi-lhe uma data e o trabalho feito,
Como selo de amor, no tronco lá ficou.

Mas no rugoso tronco eu vejo com saudade
O símbolo do amor que em tempos nos uniu:
Cadeia de ilusões da nossa mocidade
Que o tempo enferrujou e que depois partiu.

E à linda laranjeira, altar pagão do amor,
Que tem a cor da esperança, a cor das esmeraldas,
Vão as noivas colher as simbólicas flores
Para tecer num sonho as virginais grinaldas.

Letra: Júlio César Valente
Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado Alexandrino da Laranjeira)
Arranjo: Filipe Raposo e Marta Pereira da Costa
Intérprete: Marta Pereira da Costa com Camané (in CD “Marta Pereira da Costa”, Marta Pereira da Costa/Parlophone/Warner Music, 2016)
Versão original: Alfredo Marceneiro (in LP “Há Festa na Mouraria”, Columbia/VC, 1965, reed. Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; CD “O Melhor de Alfredo Marceneiro: Vol. 2”, EMI-VC, 1993; CD “Alfredo Marceneiro: Biografias do Fado”, EMI-VC, 1997; CD “Alfredo Marceneiro: Perfil”, Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2010)

Esta noite ao acordar

[ Amor para Dar ]

Esta noite ao acordar
Saltei o muro p’ra ficar por cá
Deixei de ter p’ra ver que ainda há
Amor p’ra dar

Esta noite p’la manhã
Fechei a porta p’ra poder sair
Da cepa torta sem ter p’ra onde ir
E ter de andar

Hoje tive a tentação
De te dizer que sim e porque não
Pedir-te que vás p’ra voltar
Fiquei com a convicção
Que no amor mais vale ser um na mão
Que dois sem amor p’ra dar

No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar
No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar

Esta tarde ao clarear
Soltei a corda só p’ra me prender
Gritei bem alto p’ra te adormecer
E acordar

Ontem quando eu regressar
Vou dar-te a mão p’ra te deixar partir
Dar-te a razão só p’ra te ver sorrir
E acreditar

No tempo em que acontecer
É bom saber como é bom não saber
De nada p’ra não te contar
E por falar em querer
Gostar de ti e não querer dizer
P’ra nem te deixar duvidar

No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar
No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar

Ouvi dizer que as lembranças
São novas verdades p’ra nos acordar
Ouvi contar que as mudanças
São novas vontades p’ra nos ajudar

No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar
No amor p’ra dar tem de haver amor p’ra dar

Letra e música: Sebastião Antunes
Arranjo: Gonçalo Pratas
Intérprete: Sebastião Antunes* (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017)

Esta vida

[ Não Há Dinheiro ]

Esta vida, como vês,
É sempre a ver se chega o fim do mês
Mas por muito que eu não queira
Acaba sempre da mesma maneira

Falta isto, falta aquilo
Eu já nem sei o que é que falta primeiro:
Se é o dinheiro que falta
Ou a falta que me faz ter o dinheiro

A jorna não dá p’ra nada,
E a gente sempre a dizer que tem que dar
Já passaram mais uns dias
E o dinheiro está outra vez a acabar

Não há dinheiro, não há dinheiro!
Andamos nesta conversa o ano inteiro.
Não há dinheiro, não há dinheiro!
É cada um que se amanhe,
Não há dinheiro!

Eu queria falar contigo
Mas não sei como é que te hei-de dizer
Eu fui sempre teu amigo
Não sei se já me estás a perceber

É que a coisa está difícil

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha*
Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997)

Esta voz com que canto

Esta voz com que canto
Vem-me d’alma e o tempo
Ensinou-me o encanto
Do vento.

É a voz de amor
Que vem cá de dentro;
É o grito exterior
Do pensamento.

O meu amor é todo para ti:
Desde que te conheci
Canto os teus olhos, a terra e todo o mundo,
O meu sentimento mais profundo.

O meu amor é todo para ti:
Desde que te conheci
Canto os teus olhos, a terra e todo o mundo,
O meu sentimento mais profundo.

O meu amor é todo para ti:
Desde que te conheci
Canto os teus olhos, a terra e todo o mundo,
O meu sentimento mais profundo.

[ Um Canto de Mim ]

Letra e música: Daniel Pereira
Intérprete: Arrefole (in CD “Veículo Climatizado”, Açor/Emiliano Toste, 2006)

Eu fui, tu foste, ele foi

[ Artes do Futuro ]

Eu fui, tu foste, ele foi
Talvez para sempre
Como é da nossa humana
Condição
Levados todos no acre improviso
Da loucura

Mas tu, diva esquecida
Música que eu faço
e me transcendes
Sentada na berma
do sonho apetecido
voltas a despertar
do vendaval da espera
e regressas ainda hesitante
nos meus dedos

E o amanhã pode já ter acontecido
hoje mesmo aqui, ao fim da tarde

e assim iremos enganando
as artes do futuro

E o amanhã pode já ter acontecido
hoje mesmo aqui, ao fim da tarde

e assim iremos enganando
as artes do futuro

E o amanhã pode já ter acontecido
hoje mesmo aqui, ao fim da tarde

e assim iremos enganando
as artes do futuro

Que o amanhã pode já ter acontecido
hoje mesmo aqui, ao fim da tarde

e assim iremos enganando
as artes do futuro

Letra e música: Pedro Barroso
Intérprete: Pedro Barroso
Versão original: Pedro Barroso (in CD “Artes do Futuro”, Ovação, 2017)

Eu queria unir as pedras desavindas

[ Não Me Mintas ]

Eu queria unir as pedras desavindas
escoras do meu mundo movediço
aquelas duas pedras perfeitas e lindas
das quais eu nasci forte e inteiriço

Eu queria ter amarra nesse cais
para quando o mar ameaçar a minha proa
e queria vencer todos os vendavais
que se erguem quando o diabo se assoa

Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber por que dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais

Conta-me os teus truques e fintas
Será que os Nikes fazem voar
Diz-me o que sabes não me mintas
ao menos em ti posso confiar

Agora diz-me agora o que aprendeste
De tanto saltar muros e fronteiras
Olha p’ra mim vê como cresceste
Com a força bruta das trepadeiras

Põe aqui a mão e sente o deserto
Tão cheio de culpas que não são minhas
E ainda que nada à volta bata certo
eu juro ganhar o jogo sem espinhas

Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber por que dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais

Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Intérprete: Rui Veloso (in filme “Jaime”, de António Pedro Vasconcelos, 1999; CD “O Melhor de Rui Veloso”, EMI-VC, 2000)

Eu toquei o Sol

[ Lencinho Azul ]

Eu toquei o Sol, beijei o luar,
Tropecei no céu e caí no chão;
Percorri o mundo e fui encontrar
À beira do mar o meu coração.

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Tudo o que era meu vinha no bornal,
Dei-lhe o pão e mel, dei-lhe a minha mão,
Um lencinho azul feito em Portugal
E os versos de sal da minha canção.

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Rainha de mim quando me entreguei,
Os braços me abriu num chi-coração;
Beijinhos me deu, beijinhos lhe dei:
Quantos já nem sei, mais do que um milhão.

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Não saí dali, era já manhã,
Seus lábios carmim tal qual um tição;
De si me prendeu, deu-me uma maçã,
Ofereci-lhe o céu, não disse que não.

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Do que eu sou
Dei-lhe o meu melhor,
Oh meu doce amor!
Oh minha paixão!

Letra: José Fanha
Música: Fernando Pereira
Intérprete: Real Companhia (in CD “Serranias”, Tê, 2013)

Façam roda

[ Conto do Bicho Papão ]

Façam roda, a ver quem vai ao meio!
Cada um com o seu par tira a pedrinha!
Sirumba, acabei eu primeiro!
Ficas tu a tapar, não dá madrinha!

Já ninguém te pergunta quantos queres
Já não ouves ninguém contar um-dó-li-tá
Afinal qual é o dedo que preferes?
Quem está livre, livre está!

Ninguém fala do homem do saco
Ninguém espreita por baixo do colchão
Já ninguém acredita na Côca
Nem no bicho papão

Salta à corda, joga à barra do lenço!
Adivinha o que eu penso, dá partida!
Falua, quem acerta na malha?
Danada da canalha está fugida!

Salta ao eixo a fugir à cabra-cega!
Olha o meu pião mas eu não to dou, não!
Onde é que anda a viuvinha que não chega
E a sardinha a dar na mão?

Ninguém fala do homem do saco
Ninguém espreita por baixo do colchão
Já ninguém acredita na Côca
Nem no bicho papão

Ai se eu pudesse habitar um jogo electrónico
Voltava a ser falado, voltava a assustar!
Imaginem lá qual não era a sensação
De uma ‘app’ com o jogo do regresso do papão!

Ninguém fala do homem do saco
Ninguém espreita por baixo do colchão
Já ninguém acredita na Côca
Nem no bicho papão

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha
Versão discográfica anterior: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Versão original: Quadrilha (in CD “Entre Luas”, Ovação, 1997)

Falei-te

[ Jardim de Poetas ]

Falei-te,
Sem querer, de coisas belas
Como quem abre janelas
P’ra lá do horizonte…

E havia no teu olhar firmamento
Para cem vidas por momento
Ao sabor de um mar de Inverno

E tu,
Sem saber, lá tricotavas
Um romance de palavras
Sem certezas nem futuro

E tu
Sonhavas no areal
Com um jardim de poetas
Superiores e verticais
Que, em rigor, nunca existiu

E tu,
Como se fosse há vinte anos,
Subiste ao alto das rochas
Lá, onde pousam as gaivotas
Subiste ao alto das dunas
Onde o vento, e só o vento te possuiu

Cresceu-te no peito um mar de prata
Como se eu fosse alguma vez exemplo
Como se eu fosse, acaso, alguma vez na vida
A perfeição

Mas quando te contei coisas de mim
Daquelas coisas grandes, que vêm cá de dentro
Caíste em ti do sonho e do jardim
E fiz-te então, amiga, esta canção

E tu
Inda sonhas no areal
Com um jardim de poetas
Superiores e verticais
Que, em rigor, nunca existiu

E tu,
Como se fosse há vinte anos,
Sobes ao alto das rochas
Lá, onde pousam as gaivotas
Sobes ao alto das dunas
Onde o vento te possuiu

E tu
Inda sonhas no areal
Com um jardim de poetas
Superiores e verticais
Que, em rigor, nunca existiu

E tu,
Como se fosse há vinte anos,
Sobes ao alto das rochas
Lá, onde pousam as gaivotas
Sobes ao alto das dunas
Onde o vento, e só o vento te possuiu

Poema e música: Pedro Barroso (Golegã, Novembro de 2000)
Intérprete: Pedro Barroso
Versão original: Pedro Barroso (in CD “Crónicas da Violentíssima Ternura”, Lusogram, 2001)
Outras versões: Pedro Barroso (in CD “De Viva Voz”, Lusogram, 2002); Pedro Barroso (in DVD “40 Anos de Música e Palavras: 1969-2009”, Ovação, 2009) [>> YouTube]; Pedro Barroso (in DVD “Memória do Futuro: Ao vivo no Rivoli”, Ovação, 2013)

Faz-te mar assim

[ Vals’Ilha ]

Faz-te mar assim, calmo!
Abre-me o caminho…
Guia o meu batel!

Ouço alguém chamar longe…
Pudesse eu sair
Para ver Argel!

Quero então dizer-te:
Vou p’ra bem distante,
Valsa então por mim
Aos raios de sol!

Passou tanto tempo
Do tempo que invento…
Toca-me a saudade.

Canta uma gaivota…
Vejo o mar em volta…
Dançarei contigo.

Dança esta vals’ilha
Aos raios de sol!

Letra e música: Jorge Rivotti
Intérprete: Jorge Rivotti
Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Canções de Amor Pintadas de Amarelo”, Vachier & Associados, 2010)

Fui ver se um dia te achava

[ Não Sei Nada sobre o Amor ]

Fui ver se um dia te achava no largo, na praça
Quis dizer-te, contar-te e falar-te e de hoje já não passa
Ai, mas quando te vi as palavras fugiram de mim
Parei, sentei, tanto espreitei, só me escondia de ti

Esperei que as palavras voltassem e me levassem até ti
Ai, mas por que raio espero eu aqui?
Foi então que de tanto esperar atrás do largo da praça
Decorei o sorriso mais lindo, já só quero é andar p’ra ti

Ai, mas de tanto tremer, fugiu-me o sorriso de mim
Querem ver que agora até parece que já nem sei dizer
As palavras mais lindas que guardo só por te ver?!
Ai, mas querem lá ver que contigo não sei nada sobre o amor!

Que contigo não sei nada sobre o amor!
Que contigo não sei nada sobre o amor!
Que contigo não sei nada sobre o amor!

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor
Versão original: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Há já demasiados segredos

[ O Cheiro ]

Há já demasiados segredos nos poros
para eu encher a noite
de ti mesma.

E um oceano imenso não chega
para eu contar todas as arribas deste sal.

A maresia parou, para saber coisas de ti
e eu tinha nas mãos apenas as rosas de ontem,

e não sabia nem onde
nem como
navegar-te.

De longe trouxe a fé que nem eu sabia
e deitei-me em teus leitos de alfazema e alecrim.
Recolhi quando a noite mansa já
amanhecia…
E devagar
– porque a vida nunca deixa de nos matar um pouco
em cada dia –
foi no teu regaço
que eu adormeci de mim.

E acordei inteiro por sentir o teu cheiro
na cama
e enrolei-me nos lençóis, mesmo já sem ti
de corpo inteiro.

Não quero saber de mais
nem tenho que explicar.

É este o cheiro.
Eu quero aqui ficar.
Eu quero aqui ficar.
É este o cheiro.

E acordei inteiro por sentir o teu cheiro
na cama
e enrolei-me nos lençóis, mesmo já sem ti
de corpo inteiro.

Não quero saber de mais
nem tenho que explicar.

É este o cheiro.
Eu quero aqui ficar.
Eu quero aqui ficar.
É este o cheiro.

Poema e música: Pedro Barroso
Intérprete: Pedro Barroso
Versão original: Pedro Barroso (in CD “Sensual Idade”, Ovação, 2008)
Outras versões: Pedro Barroso (in DVD “40 Anos de Música e Palavras: 1969-2009”, Ovação, 2009)

Há um caminho inseguro

[ Paixão ]

Música: Jorge Fernando
Intérprete: Mariza

Há voos de pássaros nos teus olhos

[ Poema para o Meu Amor ]

Há voos de pássaros nos teus olhos castanhos de sereia
Batuques africanos no balouçar do teu corpo de gazela
E há frutos maduros na tumidez dos teus pequenos seios
E promessas loucas na humidade dos teus lábios entreabertos

Há como um tango argentino no desafio da tua cintura estreita
Há um doce encanto no urdir das tuas trancinhas de menina
E há estranhos sortilégios escondidos nas tuas mãos de fada
E há rouxinóis magoados, tão magoados de cada vez que cantas

Há ondas de ternura neste teu jeito tão suave
E danças peruanas nas tuas ancas pela alba
Há calor dos trópicos no aperto dos teus braços tão sinceros
E uma paz das ilhas no teu macio leito de princesa

Há druidas, de novo, preparando filtros à sombra de carvalhos
E lagos privados onde nadam altivos cisnes brancos
E há luas de fajãs que riscam no mar trilhos de prata
E nascentes de água que brotam do teu riso cristalino

Letra e música: Aníbal Raposo (Praia Formosa, 2003-08-22)
Intérprete: Aníbal Raposo
Primeira versão discográfica: Aníbal Raposo (in CD “Mar de Capelo”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Hoje o dia foi um dia assim

[ Canção de Nanar ]

Hoje o dia foi um dia assim:
Esta sede e vontade de ti.
Se eu pudesse amar-te mais,
Bem sei que a lua ia dançar também.

Quantas horas faltam p’ra te ver
Nesta espera de aprender a ser?
Mais um som no tom do teu brilhar,
Mais um traço ao sol do teu vibrar.

Vem saber que o que vejo em ti
É sal e sopro e luz dentro de mim;
E a música da terra e ar
Ficam uma só no teu pulsar.

Se ainda não sorris, carmim,
Perdoa a minha falta de cetim!
Nas palavras que não escrevi
Vive o amor que não se escreve.

Se ainda não sorris, carmim,
Perdoa a minha falta de cetim!
Nas palavras que não escrevi
Vive o amor que não se escreve…

Mas está aqui.

Letra e música: Teresa Gentil
Intérprete: Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)

Já pensei dar-te uma flor

[ Adivinha o quanto gosto de ti ]

Já pensei dar-te uma flor, com um bilhete, mas nem sei o que escrever.
Sinto as pernas a tremer, quando sorris p’ra mim, quando deixo de te ver.
Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim.
Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

Ando a ver se me decido, como te vou dizer, como hei-de te contar.
Até já fiz um avião, com um papel azul, mas voou da minha mão.
Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim.
Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

Quantas vezes eu parei à tua porta.
Quantas vezes nem olhaste para mim.
Quantas vezes eu pedi que adivinhasses.
Quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

Quantas vezes eu parei à tua porta.
Quantas vezes nem olhaste para mim.
Quantas vezes eu pedi que adivinhasses.
Quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

André Sardet

Lá na festa da aldeia

Lá na festa da aldeia,
Debaixo da cameleira,
Convidaste-me a dançar:
Tamanha era a borracheira
Que no adro da igreja
Nos chegámos a casar.

No nariz, sinal de perigo,
Quem dorme contigo
Má sorte vai enfrentar:
Mas na festa da aldeia,
Com as vizinhas na soleira,
Eu fui-me enamorar.

Peço aos dias tempo emprestado
P’ra apagar esta recordação;
Na frase sem predicado
Há vírgulas sem cuidado
Entre o sujeito e o coração.

Entre o sujeito e o coração.

Lá na festa da aldeia,
Debaixo da cameleira,
A saia sempre a rodar:
A tua mão que se esgueira
Debaixo da pregadeira…
Eu vermelha, a corar.

No banco, dívidas, assombros;
Fiado não vais em ombros;
Fim do mês, falta-te o ar;
Debaixo da cameleira
Foi grande a ciumeira,
Começámos a namorar.

Peço aos dias tempo emprestado
P’ra apagar esta recordação;
Na frase sem predicado
Há vírgulas sem cuidado
Entre o sujeito e o coração.

Entre o sujeito e o coração.

Mas na festa da aldeia,
Tu de mão na algibeira,
Nós chegámos a casar:
Porque na festa da aldeia
Debaixo da cameleira
Tu puseste-me a dançar.

Peço aos dias tempo emprestado
P’ra apagar esta recordação;
Na frase sem predicado
Há vírgulas sem cuidado
Entre o sujeito e o coração.

Entre o sujeito e o coração.

Letra: Filipa Martins
Música: Rogério Charraz
Arranjo: João Balão
Intérprete: Rogério Charraz (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)

Lindos olhos tem Silvina

[ Ai Silvina, Silvininha ]

Lindos olhos tem Silvina,
lindas mãos Silvina tem,
e a cintura da Silvina
é fina como o azevém.

Em Silvina tudo exala
um cheiro de coisa fina,
mas o que a nada se iguala
é a fala da Silvina.

— Porque não cantas, Silvina?
Se a tua voz é tão doce
talvez cantada que fosse
mais doce que a glicerina.

— Não me apetece cantar
e muito menos p’ra ti.
Eu sou nova, tu és velho,
já não és homem p’ra mim.

— Não me tentes, Silvininha,
que eu já nem te olho a direito.
Sou como um ladrão escondido
na azinhaga do teu peito.

— A azinhaga do meu peito
corre entre duas colinas.
E o ladrão do meu amor
tem pé leve e pernas finas.

— Canta, canta, Silvininha,
como se fosse p’ra mim.
Dar-te-ei um lençol de estrelas
e uma enxerga de alecrim.

— Deixa o teu corpo estendido
à terra que o há-de comer.
A tua cama é de pinho,
teus lençóis de entristecer.

— Canta, canta, Silvininha,
uma canção só p’ra mim.
Dar-te-ei um escorpião de oiro
e um aguilhão de marfim.

— Não quero o teu escorpião,
nem de oiro nem de prata.
Quero o meu amor trigueiro
que é firme e não se desata.

— Pois não cantes, Silvininha,
se essa é a tua vontade.
Canto eu, mesmo assim velho,
que o cantar não tem idade.

Hás-de ser tu morta e fria,
cem anos se passarão,
já de ti ninguém se lembra
nem de quem te pôs a mão.

Mas sempre há-de haver quem canta
os versos desta canção:
Ai Silvina, ai Silvininha,
Amor do meu coração.

Letra: António Gedeão (adaptado)
Música: Alain Oulman
Intérprete: Camané (in 2CD “Camané: O Melhor 1995-2013 (Edição Especial)”: CD 1, EMI, 2013)
Versão original (música de José Barros): José Barros e Navegante com Verónica (in CD “Rimances”, JBN, 2001)
Outra versão de José Barros e Navegante, com Isabel Silvestre (in DVD “Cantares do Povo Português”, Ocarina, 2012)

Menina das tranças negras

[ Os Olhos com que Eu te Vejo ]

Menina das tranças negras
Levanta a cara bonita
Que se o caminho tem pedras
A esperança é infinita
Menina das tranças negras
Ai ai, larai, lai ai

Menina dos meus encantos
Princesa do meu destino
Os meus anseios são tantos
Que o meu fado é um desatino
Menina dos meus encantos
Ai ai, larai, lai ai

Mal-me-quer ou bem-me-quer
Muito, pouco ou nada
Eu só quero tudo
O que o amor quiser
Diga o mundo o que disser
Muito, pouco ou nada
Bem-me-queres tudo
Nada mal-me-quer

Senhora dos olhos tristes
Objecto do meu desejo
Eu sei que nunca te vistes
Nos olhos com que eu te vejo
Menina dos olhos tristes
Ai ai, larai, lai ai

Mal-me-quer ou bem-me-quer
Muito, pouco ou nada
Eu só quero tudo
O que o amor quiser
Diga o mundo o que disser
Muito, pouco ou nada
Bem-me-queres tudo
Nada mal-me-quer
Menina dos olhos tristes
Ai ai, larai, larai, lai ai

Mal-me-quer ou bem-me-quer
Muito, pouco ou nada
Eu só quero tudo
O que o amor quiser
Diga o mundo o que disser
Muito, pouco ou nada
Bem-me-queres tudo
Nada mal-me-quer

Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão)
Música: Rui Filipe Reis
Intérprete: Rosa Negra (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)

Meu amor disse que eu tinha

[ Cantiga de Seguir ]

Meu amor disse que eu tinha
Uns olhos como gaivotas
E uma boca onde começa
O mar de todas as rotas.

O mundo dá tanta volta;
Quem dera que fora assim
E que, numa dessas voltas,
Tu viesses para mim.

Sei que ele um dia virá,
Assim muito de repente,
Como se o mar e o vento
Nascessem dentro da gente.

Letra: Manuel Alegre (1.ª e 3.ª quadras) e Francisco Menano
Música: Ricardo Ribeiro e Pedro Caldeira Cabral
Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013)

Meu Amor Eterno

Meu Amor Eterno,
Doce verde olhar,
Ilumina o meu caminho!
Acompanha o meu andar!

Meu Amor Eterno,
Mãos de acarinhar,
Segura no teu menino!
Ajuda-me a continuar!

Meu Amor Eterno,
Fada do meu lar,
Alimenta-me a saudade!
Sacia o meu paladar!

Meu Amor Eterno,
Cordão de umbilicar,
Relembra-me do teu cheiro!
Não me deixes de cantar! [bis]

Ema te fez,
Deus te criou,
Paulo te abriu,
José completou.

“Morrer por morrer!”,
Disseste-o assim;
Da tua coragem
Tiveste-me a mim.

Meu Amor Eterno,
Cordão de umbilicar,
Relembra-me do teu cheiro!
Não me deixes de cantar! [3x]

Letra: Rogério Charraz (dedicada à sua Mãe)
Música: Rogério Charraz e Júlio Resende
Arranjo: Júlio Resende
Intérprete: Rogério Charraz (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)

Meu amor, meu amor

[ Ó Meu Amor ]

Meu amor, meu amor,
Se tu fores,
Leva meu ser!
Meu ser, amor!

Ó meu amor, se tu fores,
Leva-me, podendo ser!
Eu quero ir acabar
Onde tu fores morrer.

Eu hei-de morrer cantando,
Já que chorando nasci,
Já que as glórias deste mundo
Se acabaram p’ra mim.

Letra e música: Tradicional (Fundão, Beira Baixa)
Arranjo: José Manuel David
Intérprete: Segue-me à Capela (in Livro/CD “San’Joanices, Paganices e Outras Coisas de Mulher”, Segue-me à Capela/Fundação GDA/Tradisom, 2015)
Primeira versão: Brigada Victor Jara – “Tosquia” (in LP “Monte Formoso”, MBP, 1989, reed. Farol Música, 1996; Livro/11CD “Ó Brigada!: discografia Completa da Brigada Victor Jara – 40 Anos”: CD “Monte Formoso”, Tradisom, 2015)

Brigada Victor Jara, Monte Formoso
Brigada Victor Jara, Monte Formoso

Na Rua dos Meus Ciúmes

Na rua dos meus ciúmes,
Onde eu morei e tu moras,
Vi-te passar fora de horas
Com a tua nova paixão;
De mim não esperes queixumes
Quer seja desta ou daquela,
Pois sinto só pena dela
E até lhe dou meu perdão…
Na rua dos meus ciúmes
Deixei o meu coração.

Inda que me custe a vida,
Pensarei com ar sereno
Que esse teu ombro moreno
Beijos de amor vão queimar;
Saudades são fé perdida,
São folhas mortas ao vento
Que eu piso sem um lamento
Na tua rua, ao passar…
Inda que me custe a vida,
Não hás-de ver-me chorar.

Na rua dos meus ciúmes
Deixei o meu coração.

Letra: Nelson de Barros (para a revista “A Vida É Bela”, 1960, Teatro Capitólio)
Música: Frederico Valério
Intérprete: Rua da Lua (in CD “Rua da Lua”, Rua da Lua, 2016)
Versão original: Helena Tavares (in EP “Rua dos Meus Ciúmes”, Alvorada, 1960; CD “Helena Tavares”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 7, Movieplay, 1994; CD “Helena Tavares”, col. Clássicos da Renascença, vol. 51, Movieplay, 2000)

Nas coisas do amor

[ Quando a Lua Voltar a Passar ]

Nas coisas do amor
É melhor nem entender
Não é fácil perceber
O que o amor tem p’ra dar ou não
E pode ser duro
É deixar acontecer

Malmequer de bem-querer
Ninguém pode adivinhar
Eu sei que não
Nem precisa de razão
Não é bem um sim ou não
É uma carta bem fechada

Não há-de ser nada
Vai passar e tu nem vês
É levar a vida
Um dia de cada vez
E se calhar tu já nem te vais lembrar
E vai ser já quando a Lua voltar a passar

Vou acreditar que amanhã vai ser melhor
Eu conheço até de cor
O que o amor vai fazer talvez nem sei
Ainda bem que acreditei
Não faz mal se eu arrisquei
E fui bater à porta errada

Não há-de ser nada
Vai passar e tu nem vês
É levar a vida
Um dia de cada vez
E se calhar tu já nem te vais lembrar
E vai ser já quando a Lua voltar a passar

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha*
Primeira gravação discográfica: Sebastião Antunes & Quadrilha com Rubi Machado & Rão Kyao (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Versão original: Rubi Machado

Não encontro o teu perfume

[ À Procura de um Perfume ]

Não encontro o teu perfume
Em jardim algum…
Vou plantá-lo aqui mesmo ao lado,
Juntinho a mim!

Não entendo o caminho
Que chega ao pé de ti…
Só sei que um tal destino
Far-me-á chegar aí.

Caminhando vago,
Na rua aqui ao lado,
Encontrei-te enfim!

Aproximei-me de ti…
“Não adies mais o destino!”,
Pensei eu cá só p’ra mim.

Letra e música: Jorge Rivotti
Intérprete: Jorge Rivotti
Versão original: Jorge Rivotti (in CD “Canções de Amor Pintadas de Amarelo”, Vachier & Associados, 2010)

Não sei por que razão

[ Não Rias ]

Não sei por que razão te quero tanto
E é louco por ti meu coração;
Não sei por que razão este meu pranto
Só riso te provoca, sem razão.

Não rias, meu amor,
Da minha grande dor!
Não rias, por favor, do meu sofrer!
Tem cuidado comigo:
Talvez p’ra teu castigo
A sorte à minha porta vá bater.

Podes passar na vida sem cuidados
E fazer juras a mentir;
Mas olha, meu amor, estás enganada:
A vida não é só levada a rir.

Não rias, meu amor,
Da minha grande dor!
Não rias, por favor, do meu sofrer!
Tem cuidado comigo:
Talvez p’ra teu castigo
A sorte à minha porta vá bater.

Não rias, meu amor,
Da minha grande dor!
Não rias, por favor, do meu sofrer!
Tem cuidado comigo:
Talvez p’ra teu castigo
A sorte à minha porta vá bater.

Letra: Ivete Pessoa
Música: Armando Machado (Fado Tertúlia)
Intérprete: Ricardo Ribeiro (in CD “Largo da Memória”, Ricardo Ribeiro/Parlophone/Warner Music, 2013)
Versão original: Ivete Pessoa [?]

Não te ver nos meus braços

[ Beijo ]

Não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços, meu amor,
Pedi aos rios do meu pranto
Que te levassem do meu canto

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços
Pedi aos rios do meu pranto
Que te levassem do meu canto

Mas as marés do teu jeito
Essas marés do teu beijo
Que me agitam o peito
Que me habitam o leito
Só me desfazem o peito
Com esse teu beijo perfeito

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços
Despi o corpo do teu cheiro
Lavei a pele do teu beijo

Mas as marés do meu peito
Essas marés do meu peito
Vestiram-me o teu desejo
Levaram-me ao teu leito
Quero esquecer-te a qualquer jeito
Mas tenho um beijo cravado no peito

Mas as marés do meu peito
Essas marés do meu peito
Vestiram-me o teu desejo
Levaram-me ao teu leito
Quero esquecer-te a qualquer jeito
Mas tenho um beijo cravado no peito

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor
Versão original: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Nos teus braços

Intérprete: Cuca Roseta

Nunca Marta pressentiu

[ Marta Encruzilhada ]

Nunca Marta pressentiu
A reboque bem sentada
Que o trilho que faz um desvio
Fosse dar à sua estrada

Nunca o sol a torriscou
Nunca à chuva foi molhada
Nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
Não se faz vida do nada
Não se faz do nada gente

E não se faz do nada gente

E nesse trilho com desvio
O seu reboque não passava
E nunca antes Marta sentiu
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o sol a torriscou
E nunca à chuva foi molhada
E nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
E não se faz vida do nada
E não se faz do nada gente

E não se faz do nada gente
E não se faz…

E nunca o sol a torriscou
Nunca à chuva foi molhada
Nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
E não se faz vida do nada
E não se faz do nada gente

E nunca o sol a torriscou
Nunca à chuva foi molhada
Nunca ao vento esteve ao frio
E nunca a pé foi pela estrada

E nunca o bem esteve tão mal
E nunca o mal veio de frente
Não se faz vida do nada
E não se faz do nada gente

Letra e música: Luís Pucarinho
Intérprete: Luís Pucarinho* (in CD “SaiArodada”, Luís Pucarinho/Alain Vachier Music Editions, 2018)

Oh meu amor

[ Um Anjo em Meu Lugar ]

Oh meu amor… tu não vás
Que se tu fores já não há
Nem rosas no meu jardim
Nem sonhos dentro de mim

Ai! Minha dor não tem fim
Se o desamor for sempre assim
Por cada dia esperar
Até o Sol se apagar

Olha, olha o meu olhar
E nele hás-de ver
Que eu só canto este fado
Para não esquecer

E se uma noite sem luar
A tua fé quebrar
Espera um pouco que há-de vir
Um anjo em meu lugar

Amor, amor divino
Vai, vai em liberdade
Que o teu breve destino
É ir com a saudade

Olha, olha o meu olhar
E nele hás-de ver
Que eu só canto este fado
Para não esquecer

Letra: J.J. Galvão (José João Oliveira Galvão)
Música: Rui Filipe Reis
Intérprete: Rosa Negra com Cramol (in CD “Fado Mutante”, iPlay, 2011)

Olha, basta uma nota

[ Basta Um Sorriso ]

Olha, basta uma nota
P’ra dizer que te quero
Um compasso sem tempo
P’ra ver o que ainda espero
Sabendo eu que não vens
Sabendo tu que não me tens

Olha, trago uma ferida
A queimar nos meus lábios
Um pedaço sem cor
Uma ferida aberta
Um gosto imenso de ti
Vais dizendo que não queres
Vais fugindo de manhã
E vais mentindo ao dizer…:
São precisas duas mãos
Para se agarrar um coração

Olha, basta uma nota
P’ra dizer que te quero
Um compasso sem tempo
P’ra ver o que ainda espero
Sabendo eu que não vens
Sabendo tu que não me tens

Diz-me: porque me olhas assim
Quando os corpos não se encontram
Porque choras assim
Se o teu corpo só reclama de paixão
Vais dizendo que não queres
Vais fugindo de manhã
E vais mentindo ao dizer…:
Basta um sorriso para não dizer adeus
Meu amor, basta um sorriso para não dizer adeus [bis]

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor
Versão original: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Pedes-me o respeito

[ Tenho Tanto p’ra te Dar ]

Pedes-me o respeito
E eu dou
Pedes-me a coragem
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Pedes-me a confiança
E eu dou
Pedes-me a esperança
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Tenho tanto p’ra te dar
No meu canto de amar
Terei sempre na minha voz
A memória do grande que somos nós

Pedes-me a vontade
E eu dou
Pedes-me a unidade
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Pedes-me a alegria
E eu dou
Pedes-me a harmonia
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Tenho tanto p’ra te dar
No meu canto de amar
Terei sempre na minha voz
A memória do grande que somos nós

Pedes-me a paciência
E eu dou
Pedes-me a consciência
E eu sou
Pedes-me o amor
E eu tenho tanto, tanto p’ra te dar

Letra e música: Luís Galrito
Intérprete: Luís Galrito* com Dino d’ Santiago (in CD “Menino do Sonho Pintado”, Kimahera, 2018)

Pelo fim da tarde

[ Nem Sequer Dei Por Isso ]

Pelo fim da tarde tu sais do emprego
E eu não sei porque é que aqui vim parar
É assim um desassossego
Tento ir sempre onde possas estar

Por sorte tu até sorris
E nem sequer me vens com muitos ‘porquês’
E dizes com um certo ar feliz:
“Com que então, por aqui outra vez?”

Num parque ao domingo
P’lo meio da cidade
Ou num café ao entardecer

Será que é mentira?
Será que é verdade?
Mas o que é que me está acontecer?

Já sei! Não há explicação
A cabeça está num reboliço
Se calhar apaixonei-me por ti
E nem sequer dei por isso

Ao virar da esquina, em qualquer transporte
Acabamos sempre por nos cruzar
E eu acho um caso de sorte
Cada vez que te posso encontrar

Está-me a correr bem, já ganhei o dia
Só porque me dissestes um “olá!”
E gosto da tua ironia
Se perguntas mais uma vez: “Por cá?”

Mensagem trocada, gesto embaraçado
Lá vou eu outra vez a planar
Desculpa, desculpa! Foi número errado
Mas ficamos uma hora a falar

Já sei! Não há explicação
A cabeça está num reboliço
Se calhar apaixonei-me por ti
E nem sequer dei por isso

Tanto melhor quando não se espera
E era bom que fosse como imaginei

Já sei! Não há explicação
A cabeça está num reboliço
Se calhar apaixonei-me por ti
E nem sequer dei por isso

Já sei! Não há explicação
A cabeça está num reboliço
Se calhar apaixonei-me por ti
E nem sequer dei por isso

Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha* (ao vivo no Estúdio 3 da Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa)
Versão original: Sebastião Antunes & Quadrilha (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)

Por não te ver nos meus braços

[ Beijo ]

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços, meu amor,
Pedi aos rios do meu pranto
Que te levassem do meu canto

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços
Pedi aos rios do meu pranto
Que te levassem do meu canto

Mas as marés do teu jeito
Essas marés do teu beijo
Que me agitam o peito
Que me habitam o leito
Só me desfazem o peito
Com esse teu beijo perfeito

Por não te ver nos meus braços
Por não te ver nos meus braços
Despi o corpo do teu cheiro
Lavei a pele do teu beijo

Mas as marés do meu peito
Essas marés do meu peito
Vestiram-me o teu desejo
Levaram-me ao teu leito
Quero esquecer-te a qualquer jeito
Mas tenho um beijo cravado no peito

Mas as marés do meu peito
Essas marés do meu peito
Vestiram-me o teu desejo
Levaram-me ao teu leito
Quero esquecer-te a qualquer jeito
Mas tenho um beijo cravado no peito

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Por que voltas de que lei

Letra: Amália Rodrigues
Música: Mário Pacheco
Intérprete: Maria Ana Bobone

Porque sou o cavaleiro andante

[ Cavaleiro andante ]

Porque sou o cavaleiro andante
Que mora no teu livro de aventuras
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras

Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe

Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou

Sempre que a rádio diga
Que a América roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua

Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz

Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau

Porque teimas nesta dor

Letra: José Luís Gordo
Música: Carlos Gomes
Intérprete: Ana Moura

Que bom dar-te a mão

[ Balada para o Meu Amor ]

Que bom dar-te a mão
e juntos para crer
fazer o coração e a senda
de viver no perdão
e no amor
E ao ver-te chegar
com sonhos p’ra me dar
de calma e silêncio vindo
que seja bem-vindo
o meu amor

Existe e ficou aqui
encostado ao meu ombro
Prometeu cuidar de mim
O meu amor está sempre do meu lado
quando a vida atira e queima
e na luta saio magoado

Porta que teima abriu
do paraíso um ser sorriu
e a Eva no jardim resiste
à culpa do pecado que não existe
Trouxe a luz e eis que ensina
que há um braço que segura
na água mole na pedra dura
no bem e no mal o amor perdura

Existe e ficou aqui
encostado ao meu ombro
Prometeu cuidar de mim
O meu amor está sempre do meu lado
quando a vida atira e queima
e na luta saio magoado

Letra e música: Luís Galrito
Intérprete: Luís Galrito (in CD “Menino do Sonho Pintado”, Kimahera, 2018)

Rasga esses versos

[ Os Meus Versos ]

Rasga esses versos que eu te fiz, Amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!…

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente…

Rasgas os meus versos… Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!…

Poema: Florbela Espanca (in Reliquiae, 1934)
Música: Paulo Valentim
Intérprete: Kátia Guerreiro (in CD “Nas Mãos do Fado”, Ocarina, 2003)

Roubei-te um beijo

Roubei-te um beijo,
Não querias dar;
Estou muito triste,
Mas por ti não vou chorar.

Não vou chorar,
Não vou sofrer;
Estou muito triste,
Mas por ti não vou morrer.

Estou d’abalada,
Vou para terras de Espanha;
Tu não me queres,
Aqui mais ninguém me apanha.

Ninguém me apanha,
Já cá não está quem sofria;
Meu lindo Amor,
Tu hás-de chorar um dia.

Tristes lamúrias
Do rouxinol
Enchem minh’alma
Do nascer ao pôr-do-sol.

Ao pôr-do-sol,
À luz da lua,
Não há no mundo
Cara mais linda que a tua.

Estou d’abalada,
Vou para terras de Espanha;
Tu não me queres,
Aqui mais ninguém me apanha.

Ninguém me apanha,
Já cá não está quem sofria;
Meu lindo Amor,
Tu hás-de chorar um dia.

Roubei-te um beijo,
Foi por paixão;
Vê lá, não digas a ninguém
Que eu sou ladrão!

Que eu sou ladrão
Apaixonado!
Meu lindo amor,
Quero viver a teu lado!

Estou d’abalada,
Vou para terras de Espanha;
Tu não me queres,
Aqui mais ninguém me apanha.

Ninguém me apanha,
Já cá não está quem sofria;
Meu lindo Amor,
Tu hás-de chorar um dia.

Letra e música: Armando Torrão
Intérprete: Celina da Piedade (in 2CD “Em Casa”: CD 2, Celina da Piedade/Melopeia, 2012)

Celina da Piedade
Celina da Piedade, Roubei-te um beijo

Sem ser ainda

[ Portal dos Ventos ]

Sem ser ainda
Um mal que finda,
Portal dos Ventos
De um outro… Amor!

Marés que passam,
Luas que mudam,
E os dias correm
Ao teu… Sabor!

E se o silêncio
Navega calmo,
Mais calmo fica
O teu… Calor!

À luz de agora
Aquece a alma,
E o Vento aperta
O teu… Sabor!

Sei que os teus medos
São raios de seda,
E que os segredos
Não há quem os traga…

Mas, os teus olhos
Não fogem dos meus,
Cantam segredos
À luz de um amor…

De um amor…

Sem ser ainda…
E se o silêncio…
Sei que os teus medos…

Sei que os teus medos
São raios de seda,
E que os segredos
Não há quem os traga…

Mas, os teus olhos
Não fogem dos meus,
Cantam segredos
À luz de um amor…

De um amor…

Letra: José Flávio Martins
Música: António Pedro
Intérprete: Musicalbi
Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)

Musicalbi, Solidão e Xisto
Musicalbi, Solidão e Xisto

Subir, Subir

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Mensageiros de Cupido
Eu ando deprimido
Intercedei por mim ao vosso Deus!
Estou de amores com uma catraia
Que p’ra subir a saia
Exige grandes sacrifícios meus

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Levantei velas à barca
Mas a brisa era parca
Nem deu para agitar o meu corcel
Assim nunca mais te chego
A ter no aconchego
Tirar-te dessa ilha de papel

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Fiz consulta a feiticeiros
E santos padroeiros
Deixei bruxeiros de cabeça à toa
Findei o consultamento
E como rendimento
Saíram-me (imaginem!) os Gaiteiros de Lisboa

Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir
Subir, subir
lnd’ hei-de conseguir
Morder-te, ó cachopa,
Por dentro do teu vestir

Letra e música: Mário Alves (Vozes da Rádio)
Intérprete: Gaiteiros de Lisboa
Versão discográfica ao vivo dos Gaiteiros de Lisboa, com Vozes da Rádio (in 2CD “Dançachamas: Ao Vivo”: CD 1, Farol Música, 2000)
Versão original: Vozes da Rádio com Gaiteiros de Lisboa (in CD “Mappa do Coração”, Ariola/BMG Portugal, 1997)

Sábado à noite

[ Primavera ]

Sábado à noite não sou tão só
Somente só
A sós contigo assim
E sei dos teus erros
Os meus e os teus
Os teus e os meus amores que não conheci

Parasse a vida
Um passo atrás
Quis-me capaz
Dos erros renascer em ti

E se inventado, o teu sorriso for
Fui inventor
Criei o paraíso assim

Algo me diz que há mais amor aqui
Lá fora só menti
Eu já fui de cool por aí
Somente só, só minto só
Hei-de te amar, ou então hei-de chorar por ti
Mesmo assim, quero ver te sorrir…
E se perder vou tentar esquecer-me de vez, conto até três
Se quiser ser feliz…

Se há tulipas
No teu jardim
Serei o chão e a água que da chuva cai
Para te fazer crescer em flor, tão viva a cor
Meu amor eu sou tudo aqui…

Sábado à noite não sou tão só
Somente só
A sós contigo assim
Não sou tão só, somente só

Intérprete: The Gift

Trago um jardim no sentido

[ Jardim dos Sentidos ]

Trago um jardim no sentido,
Por ter sentido o que sinto:
Amor que não faz sentido
Num coração louco e faminto.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Coração louco e faminto,
Rosa que tenho sentido;
Jardim que anda perdido,
Por ter sentido o que sinto.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Por ter sentido o que sinto,
Amor que não faz sentido
Jardim que anda perdido,
Trago um jardim no sentido.

No jardim do meu sentido
Nascem cravos cardinais;
Também eu nasci no mundo
P’ra te querer cada vez mais.

No jardim do rei há rosas,
Também há malvas de cheiro;
Não há luz como a do dia,
Nem amor como o primeiro.

Trago um jardim no sentido…

Letra e música: Pedro Mestre
Intérprete: Pedro Mestre com António Zambujo (in CD “Campaniça do Despique”, Viola Campaniça Produções Culturais/Pedro Mestre, 2015)
Outra versão de Pedro Mestre, com António Zambujo (in DVD “No CCB: Pedro Mestre & Convidados”, Pedro Mestre, 2017)

Tu e eu meu amor

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua a mão que segura
outra mão que lhe é dada
nua a suave ternura
na face apaixonada
nua a estrela mais pura
nos olhos da amada
nua a ânsia insegura
de uma boca beijada.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nu o riso e o prazer
como é nua a sentida
lágrima a correr
na face dolorida
nu o corpo do ser
na hora prometida
meu amor que ao nascer
nus viemos à vida.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua nua a verdade
tão forte no criar
adulta humanidade
nu o querer e o lutar
dia a dia pelo que há-de
os homens libertar
amor que a eternidade
é ser livre e amar.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Poema: Manuel da Fonseca (De “Poemas Inéditos”, in “Poemas Completos”, pref. Mário Dionísio, 5.ª edição, Lisboa: Forja, 1975 – p. 179-180)
Música: Paulo Ribeiro
Intérprete: Paulo Ribeiro com Ana Lúcia Magalhães (in CD “O Céu Como Tecto e o Vento Como Lençóis”, Açor/Emiliano Toste, 2017)

Paulo Ribeiro

Paulo Ribeiro

Vem

Vem no vento que envolve a montanha
E lhe esculpe grutas e segredos
Que a cinge e a estreita nas fragas
Vem nas silvas que rasgam os dedos

Como a rocha que na costa aguarda
A tal onda que explode ao morrer
Chicoteando do mar os penhascos
Por mais ásperos que pareçam ser

Vem cantando na verde campina
Terra-mãe de onde nasce o pão
Ondulante seara menina
Como as crinas dos cavalos que vão

Como criança pela mão do avô
Vai para a escola no dia primeiro
Passo a passo alcançar o futuro
Destrinçar o saber verdadeiro

Vem nos braços da rua a cidade
Se for praça de causas perfeitas
E o coração te falar mais verdade
Que as palavras dos outros, tão estreitas

Vem-me aos braços, que eu não me envergonho
Planta o mundo todo qu’inda houver
Traz a alma, que eu trago o meu sonho
E o espanto pode acontecer

Letra e música: Pedro Barroso («Dedicado à minha neta Constança, em nome do Futuro»)
Intérprete: Pedro Barroso*
Versão original: Pedro Barroso (in CD “Artes do Futuro”, Ovação, 2017)

Vem, quero beijar-te o corpo

[ Profano ]

Vem, quero beijar-te o corpo
Quero provar-te o gosto
Quero rasgar-te a pele
Soltar-te o corpo em mim

Que te faço tão profano
Soldado do meu ventre
Que emudece à minha frente
As regras deste amor

Vem pedir-me a preceito
Que te possua em desejo
Que te consuma nesse leito
E desse jeito que é teu

Quando me devoras os sentidos
E me pedes aos ouvidos
Que te amarra, te prenda,
Te bata, te faça assim mulher vulgar

Vem beijar este meu corpo
Vem provar deste meu gosto
Vem rasgar esta pele
E soltar-me o corpo em ti

Que me faço tão profana
Desejo desse teu corpo
Que emudece à tua frente
As regras deste amor

Quero pedir-te a preceito
Que me consumas em desejo
Que me consumas nesse leito
E desse jeito que é teu

Que me devoras os sentidos
Quero pedir-te aos ouvidos
Que me amarres, me prendas,
Me batas, me faças assim mulher vulgar

Letra e música: Tiago Curado de Almeida
Intérprete: Pensão Flor* (in CD “O Caso da Pensão Flor”, Pensão Flor/Brandit Music, 2013)

Vi-te dum vermelho antigo

[ A Minha Cor (Vermelho Antigo) ]

Vi-te dum vermelho antigo,
Trazias a minha cor;
Meus olhos foram contigo
E alguém disse que era amor.

Cor de sangue aveludado,
Cor de seda ou de cetim,
Cor de vinho ou de pecado:
Foi a cor que viste em mim.

De fadista só me viste
Um olhar estranho e sombrio:
Não era ardente nem triste,
Não era vago nem frio.

Tua voz, cor de cantiga,
Espalhava de mãos cheias
Um sabor a raça antiga
Que salta nas minhas veias.

Fosse sede ou fosse amor,
Que importa o que foi, enfim?
Trazias a minha cor,
Nada mais contou p’ra mim.

Letra: Manuel Andrade
Música: Pedro Rodrigues (Fado Pedro Rodrigues de Quadras)
Intérprete: Marta Pereira da Costa* com Hélder Moutinho
Versão discográfica de Hélder Moutinho (com música de Joaquim Campos – Fado Amora) (in CD “Sete Fados e Alguns Cantos”, Ocarina, 1999)
Versão original: João Braga (in EP “Janeiro Proibido”, Aquila, 1968; “Todos os Fados de A a Z: Vol. 12 – Fado Pajem ao Fado Pintadinho”, Movieplay/Visão, 2005; CD “João Braga: Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006)

Volta e meia estou de volta

[ Fado às Voltas ]

Volta e meia estou de volta,
volta e meia já não estou;
quem me quis à rédea solta
foi quem comigo ficou.

Quem, em troca de carinho,
quis prender-me o coração
ficou a falar sozinho
nas voltinhas do Marão.

Quantas voltas dá o mundo
P’ra ensinar que a verdade
é que a vida é um segundo
aos olhos da eternidade?

Vamos lá: é volta e meia
cada qual escolhe o seu par!
Que eu posso mudar de ideia,
antes da volta acabar.

Volta e meia estou de volta,
volta e meia já não estou;
quem me quis à rédea solta
foi quem comigo ficou.

Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Alberto Costa (Fado Dois Tons)
Intérprete: Cristina Nóbrega
Versão original: Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014)

Cristina Nóbrega
Cristina Nóbrega
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Lua cheia

Anda Comigo, Vou Falar de Esperança

Anda comigo, vou falar de esperança
da vida que ainda agora principia
Perde essa amarga e vã desconfiança
toma a minha mão de amigo – e confia

Anda comigo, eu canto as tuas dores
sou mais poeta sendo teu irmão
Nesta densa floresta sem flores
o sangue e a alma são o mesmo pão

Anda comigo, além na clareira
há uma fonte para matar a sede
A água é pura, livre, não se mede
e corre simples para quem a queira

Anda comigo, vou falar de esperança
Anda comigo fazer a sementeira

Poema: João Apolinário
Música: Manuel Lima Brummon
Intérprete: Tereza Tarouca (in LP “Portugal Triste”, Alvorada/Rádio Triunfo, 1980; CD “Tereza Tarouca”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 32, Movieplay, 1994; CD “Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006; CD “Tereza Tarouca”, col. Fado Alma Lusitana III, vol. 3, Levoir / Correio da Manhã, 2014)

Não penses que ando

[ A Melhor Solução ]

Não penses que ando p’ra aí triste, amargurado
Desnorteado ao falar do teu sorriso
É um engano pois até ando animado
Bem-humorado, que eu bem preciso
Fica a saber que ainda não perdi a esperança
E só alcança quem insiste e acredita
Sei que depois da tempestade vem bonança
E só avança quem não hesita
Eu sei que o mundo vai rodar e muitas voltas há-de dar
E a nossa história vai voltar p’ra o seu lugar

Na tua rua eu fico sempre com um sorriso
Mesmo que eu já não toque à tua campainha
Porque eu sei bem que sei aquilo que é preciso
P’ra ter de volta tudo aquilo que eu tinha
Mesmo que eu já não toque à tua campainha
Eu tenho a chave para a tua confusão
Podes dar voltas e mais voltas à vidinha
P’ra o teu problema eu sou a melhor solução
Podes dar voltas e mais voltas à vidinha
P’ra o teu problema eu sou a melhor solução

Não penses que eu ando a espreitar a tua vida
Perguntar coisas sobre ti a toda a gente
Levo os meus dias de forma descontraída
Desinibida e sorridente
Não fico triste por lembrar a nossa história
Porque a memória traz-me sempre felicidade
Saber o quanto foi bom já é uma vitória
E é bem notória esta vontade
E o mundo vai rodopiar com tanta volta que há p’ra dar
E a tua rua não se muda de lugar

Na tua rua eu fico sempre com um sorriso
Mesmo que eu já não toque à tua campainha
Porque eu sei bem que sei aquilo que é preciso
P’ra ter de volta tudo aquilo que eu tinha
Mesmo que eu já não toque à tua campainha
Eu tenho a chave para a tua confusão
Podes dar voltas e mais voltas à vidinha
P’ra o teu problema eu sou a melhor solução
Podes dar voltas e mais voltas à vidinha
P’ra o teu problema eu sou a melhor solução

Letra e música: Sebastião Antunes
Arranjo: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes com Ana Laíns (in CD “Singular”, Sebastião Antunes & Quadrilha/Alain Vachier Music Editions, 2017)

Nem mal que sempre dure

A solidão espalhada p’los penedos
Embrulha a alma em folhas de saudade
A noite acorda o sabor dos segredos
E traz nos dedos a cor da vontade

E só a voz da Lua é que me amansa
E me adormece ao canto da gaivota
No fim do mundo o tempo quebra a dança
E o vento lança aromas de outra rota

O Sol acalma como um grão de areia
E dorme enquanto espera a madrugada
Em cada noite escura há uma candeia
Em cada ceia há uma fome adiada

Em cada grito há uma voz calada
Encruzilhada p’lo meio do caminho
Em cada sono há uma alma acordada
Desnorteada como um burburinho

Ouvi dizer o povo e o povo bem o sabe:
“Nem mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe.”

Mal amanhece o horizonte espreita
Enquanto espera pelo raiar do dia
Já se adivinha o calor que se ajeita
E o chão aceita o fim da noite fria

Rir da tristeza, chorar da alegria
Abrir caminhos como um peregrino
Deixar que a vida traga outro dia
Fazer folia a meias com o destino

Ouvi dizer o povo e o povo bem o sabe:
“Nem mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe.”

Nem Mal Que Sempre Dure, Nem Bem Que Nunca se Acabe
Letra e música: Sebastião Antunes
Intérprete: Sebastião Antunes & Quadrilha com Carlos Moisés (in CD “Perguntei ao Tempo”, Sebastião Antunes/Alain Vachier Music Editions, 2019)
Versão original: Quadrilha (in CD “A Cor da Vontade”, Vachier & Associados, 2003)
Outra versão: Quadrilha (in CD “Deixa Que Aconteça: Ao Vivo”, Vachier & Associados/Ovação, 2006)

Lua cheia

Lua cheia

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