Vitorino
Voz
Vitorino Salomé Vieira, ou apenas Vitorino, como é conhecido, é um cantor português, nascido no Redondo, Alentejo, em 1942, numa família de músicos. Em sua casa ouvia música desde que nasceu, tocada pelos tios, e neste ambiente cresceu, como os seus quatro irmãos, todos igualmente músicos. Vitorino é o terceiro dos cinco; o cantor Janita Salomé é o quarto.
A sua música combina o folclore tradicional do Alentejo e o estilo urbano e popular da sua voz.
Conheceu Zeca Afonso, de quem se tornou amigo, quando estava a fazer a recruta no Algarve. Fixou-se em Lisboa a partir dos 20 anos, onde se associou à noite, às tertúlias e aos prazeres boémios. Em 1968 entrou para o Curso de Belas Artes. Emigrado em França, estudou pintura. Colaborou em discos de José Afonso, “Coro dos Tribunais”, e Fausto. Actuou no célebre concerto de Março de 1974, I Encontro da Canção Portuguesa, que decorreu no Coliseu dos Recreios. Lançou nesse ano o seu primeiro single: “Morra Quem Não Tem Amores”. Participou no disco “Cantigas de Ida e Volta” conjuntamente com outros nomes como Fausto, Sheila e Sérgio Godinho.
Presente em alguns momentos-chave da Música Popular Portuguesa (por exemplo o célebre concerto de Março de 1974, no Coliseu), Vitorino foi companheiro de palco e canções de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Fausto, Sérgio Godinho e outros nomes fundamentais da música portuguesa dos últimos trinta anos.
Estreou-se em 1975 com o seu primeiro disco assinado com nome próprio, editado num dos períodos de maior agitação social da História recente de Portugal. Semear Salsa Ao Reguinho foi logo considerado, apesar das condicionantes existentes na época, um ponto de referência na redefinição de padrões estéticos e caminhos que a música popular viria a trilhar a partir do meio da década de 70. Nesse primeiro disco estava incluída a canção que se viria a tornar o seu êxito/emblema mais famoso, transformando-se numa das canções mais importantes e divulgadas do imaginário colectivo português – Menina estás à janela.
Viajante de palavras e de terras, Vitorino esteve ligado a um dos mais genuínos registos da música do Alentejo, o disco do Grupo de cantadores de Redondo. A linha mestra condutora dos seus dois discos posteriores, Os Malteses e em Não Há Terra Que Resista – Contraponto, não se alterou substancialmente. Já no disco Romances, trabalho de 1980, abriu-se de par em par outra das suas frentes preferidas: a recolha de música tradicional que transforma, molda à sua voz e aos seus padrões criativos.
Flor de La Mar foi novamente um trabalho marcante a todos os títulos, com uma variedade de acompanhamentos instrumentais que rompia com os limites habituais da ‘canção de palavra’ nacional.
Nesse período, surgiu outra das canções que ajudou a definir a categoria e a atitude de uma carreira – canção chamada Queda do Império. Em 1984, com Leitaria Garrett, outra experiência bem sucedida, Vitorino reafirmou o seu amor e cumplicidade com Lisboa, pelas tradições ameaçadas, por uma série de comportamentos em extinção e vítimas de um ‘progresso’ cego e desumanizador da cidade, por figuras e sítios que as novas ‘condições de vida’ fizeram desaparecer. Desde a canção-título à Tragédia da Rua das Gáveas, Vitorino conduz uma viagem pela capital de que todos sentem saudades, mesmo os que nunca tiveram hipótese de a conhecer realmente.
Sul e Negro Fado foram outros tantos passos em frente na construção de uma obra que não tem pontos baixos e que sempre foi considerada de vanguarda. Em 1990 surgiu o grupo Lua Extravagante, quarteto formado com Filipa Pais e os seus irmãos Janita e Carlos Salomé.
Em 1992 seguiu-se nova surpresa: Eu Que Me Comovo Por Tudo E Por Nada é escrito, exceptuando uma nova versão de Marcha de Alcântara, por António Lobo Antunes; ficcionista consagrado, ficou responsável pelas letras do novo álbum deste seu amigo. Lobo Antunes, com letras agridoces, retrata uma Lisboa que se perdeu e vidas que se perdem. Vitorino responde a rigor: compõe melodias em compasso de dança – do tango à valsa, do bolero ao mambo, onde não falta uma canção de embalar. Os arranjos foram confiados a João Paulo Esteves da Silva e o álbum venceu o Prémio José Afonso/93 e o Se7e de Ouro/92 para Música Popular.
Em 1995 surgiu Canção do Bandido, um disco de fados também com letras de Lobo Antunes. Em 1999 gravou, em Cuba, um disco de boleros com o Septeto Habanero que tem por título La Habanna 99. No ano de 2001 foi lançado o seu trabalho de originais intitulado Alentejanas e Amorosas.
“Ao Alcance da Mão” é o nome de um ‘songbook’, editado em Junho de 2003 pela D. Quixote, com 25 canções do seu repertório. O livro é acompanhado de um CD onde interpreta os temas Menina Estás à Janela, Queda do Império e Alentejanas e Amorosas.
Em Abril de 2004 foi lançado o disco Utopia, de Vitorino e Janita Salomé, com o registo dos dois concertos realizados no CCB em Fevereiro de 1998. Ainda em 2004 foi editado o álbum Ninguém Nos Ganha Aos Matraquilhos!, que contou com a colaboração de nomes como Rui Veloso, Manuel João Veira e Sílvia Filipe. A completar 30 anos de carreira, foi editada em Fevereiro de 2006 a compilação Tudo com 50 canções em três discos temáticos subordinados aos temas O Alentejo, Lisboa e O Amor.
Em 2007, Vitorino editou o álbum A preto e branco e estreou o espectáculo com o mesmo nome, que celebrou os 30 anos de carreira.
Em 2009, Vitorino regressou às gravações e apresentou um novo disco e novo espectáculo, Vitorino Tango, onde canta tangos em português e castelhano e arrisca dar voz a algumas das mais emblemáticas composições de Carlos Gardel e Astor Piazzolla. Para os espectáculos de apresentação, foi acompanhado por La Boca Livre Tango Sexteto, os mesmos músicos que com ele gravaram na Argentina este projecto.