TUGAJAZZ

por Jorge Lima Barreto (1949-2011)

Em Portugal, o Jazz anterior aos anos de 1970, excluindo os auspícios do encontro entre Amália Rodrigues e Don Byas, era produto raro e sem expressão internacional, havendo alguns distintos praticantes de ocasião. Ao emigrarem, e ainda hoje assim acontece, os músicos portugueses foram-se destacando, e o caso de Jean Saheb Sarbib, contrabaixista, compositor, orquestrador, em Paris, depois em Nova Iorque, nas décadas de 1970/80, é paradigmático. Sediado em Lisboa, Rão Kyao, sax e flauta, da geração de Sarbib, e antes de ter divergido para a fusão world music, foi o mais decisivo músico português de Jazz, num discurso modalista seminal.

Nos anos 1980 surgiu a figura epigramática de António Pinho Vargas, pianista compositor, o mais erudito. Na década final do século anterior, o jazz português (melhor: o jazz criado por portugueses), entrou numa via neomodernista com o Sexteto de Jazz de Lisboa, o quarteto de Pinho Vargas, agrupamentos de José Peixoto, Laginha, Mário Barreiros, Laurent Filipe, Moreiras Jazztet, e uma plêiade de vocalistas como Maria Viana ou Maria João, estas com grande sequela feminina no início do século XXI.

Faltou ao jazz português uma capacidade de visão historicista, pois não há praticantes de jazz clássico, minimizado por um leque instrumental acústico e electro-acústico, de estilismo taxativo e muitas vezes descambando para a músca ligeira e outros compromissos funcionais com músicas populares ou tradicionais e, no mais decadente plano da propaganda.

Recentemente implementou-se uma maior capilaridade com o Jazz internacional, especialmente europeu, e casos como Carlos Barretto, Bernardo Sassetti, Carlos Bica, Mário Laginha, Maria João, José Eduardo, e.a., são epigonais. Muito embora se apontem indícios da restauração modal, fantasias etno, arrufos vanguardistas, conexões jazz-rock, assomos third stream, concessões ao tradicionalismo nacional, caso do fado, fundamentalmente predomina o transconservadorismo praticado por excelentes profissionais (e.g. os saxofonistas José Nogueira, Mário Santos, Pedro Moreira; os pianistas, João Paulo, Pedro Guedes, Pedro Gomes, André Sarbib; os contrabaixistas António Ferro, Bernardo Moreira, Pedro Gonçalves, Nelson Cascais; os trompetistas João Moreira, Tomás Pimentel; os bateristas, Bruno Pedroso, Acácio Salero, José Salgueiro, André Sousa Machado, Marco Franco; as vocalistas Maria Anadon, Fátima Serro, Ana Paula Oliveira; os guitarristas Mário Delgado, Pedro Madaleno, Nuno Ferreira, Afonso Pais; e.a.; todos eles foram titulares de interessantes combos ou orquestras e editaram discos relevantes; acontece que a Orquestra de Jazz de Matosinhos se tem mostrado um conjunto perene).

Também o panorama local do Jazz no século decorrente, foi contaminado pela nova música improvisada e pelo revivalismo free numa controvérsia da apropriação do rótulo “jazz”.

Entendemos, ainda, por Jazz, uma criação musical morfogeneticamente afim da música afroamericana. O Hot Club de Portugal, um dos mais antigos da Europa, é o altar desta vivência jazzística; L. Villas-Boas, José Duarte e Rui Neves estarão entre os mais importantes dinamizadores do Jazz “português”.

Eis uma discografia sumária que pela sua redução a 25 títulos não pode ser integral ou sequer pretender ser ortodoxa e emblemática.

Amália Rodrigues & Don Byas – “encontro” (r: 1968 – 1988)

Kyao, Rão – ” Goa” (1976); “ritual” ( 1977; r: 2000)

Vargas, António Pinho – “outros lugares” (1983); “jogos do mundo” (1989)

Sarbib, Jean Saheb – “seasons”, (1984); “Multinacional Big Band”, (1984)

Eduardo, José – “onix” (1989); “jazzar em Zeca Afonso” (2004)

Filipe, Laurent – divertimento for Duke & Monk (1993) ~

João, Maria – +/ Aki Takase – ” looking for love + NOP”(1988); c/ M. Laginha – “danças” (1991)

Carlos Paredes+Charlie Haden – (1990)

Laginha, Mário – “cem caminhos / conversa” (1991); “quarteto” (1994)

Peixoto, José – “taifa” (1994)

Sassetti, Bernardo – “indigo” (2003)

Martins, Carlos – + Cindy Blackman- “passagem” (1996)

Bica, Carlos – “azul” (1999)

Ferreira, Nuno – “long distance calls” (2000)

Carlos Azevedo Decateto ( 2000)

Barreto, Carlos – “locomotve”+ J-F Cornelloupe – (2002) “Lisbon Improvisers Players” – “live at meskla” (2002)

Telectu- “Quartetos” + G. Hemingway / E. Prévost / S. Murray – (2002)

Delgado, Mário – “filactera” (2003)

André Fernnandes – “howler” (2003)

Jorge Lima Barreto

Hot Clube de Portugal

SPA

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