Rebelo Bonito
Etnógrafo
Natural de Santa Marta de Penaguião (1896; m. 1969), Porfírio Augusto Rebelo Bonito concluiu os estudos liceais em Vila Real em 1917. Formou-se em engenharia no Instituto Industrial e Comercial do Porto, ingressando, de seguida, no quadro técnico das Obras Públicas.
Em 1947 ingressou na Comissão de Etnografia e História da Junta de Província do Douro Litoral como membro efetivo, passando a dedicar-se ao estudo comparado de música de matriz rural a partir de composições e tratados medievais e renascentistas.
Rebelo Bonito desenvolveu sobretudo estudos de “laboratório”, a partir de documentos coligidos por terceiros, embora também seja autor de transcrições musicais, sobretudo de pregões. Ao longo de mais de dez anos, elaborou o Prontuário da Canção Popular Portuguesa obra que, apesar de ordenar de forma sistemática mais de 3000 temas da música da tradição oral coligida e dos esforços do seu autor nesse sentido, não alcançou a edição.
Contrariando a tendência da etnografia do Estado Novo, que, nas palavras do antropólogo João Leal, se expressava através de um ‘discurso luxuriantemente nacionalista –mas teoricamente insignificante- em torno da cultura popular como essência da nacionalidade” (Leal 2000, 58), Rebelo Bonito trouxe para a etnografia musical a problematização e a discussão teórica. Também de forma inversa ao discurso vigente, Bonito não reduziu a diversidade musical regional a uma componente cénica no teatro nacional.
Ocupou um lugar de destaque no movimento orfeónico, tendo assumido a regência coral. Entre 1916 e 1917, foi sub-regente do orfeão Académico do Porto, entre 1916 e 1917. Em 1952, fundou no Porto o Coro Etnográfico Neves e Melo (numa clara homenagem ao coletor Adelino das Neves e Melo), com o objetivo de participar no evento Maio Florido organizado pelo Secretariado Nacional de Informação, naquela cidade, no dia 10 de Junho desse ano. Constituído por “oito senhoras trajadas” e um repertório retirado dos cancioneiros de Firmino Martins e Gonçalo Sampaio, o grupo extinguiu-se logo após esta apresentação (entr. Bonito 2004).
Os principais estudos sobre canto em coro publicadas durante a década de cinquenta em Portugal, foram assinadas por Bonito: Canto Coral e vida orfeónica: Subsídios para a história do Canto Colectivo Popular e Artístico (1952); “Villa-Lobos e a sua obra monumental em prol do canto orfeónico. O que foi, o que é e o que pode vir a ser a didáctica do canto coral em Portugal. Ideal de beleza: Portugal a cantar” (1952 a); “A voz e as mãos, instrumentos naturais humanos. Do canto individual ao canto em conjunto. Nageli e os coros masculinos. Zelter e os coros de câmara. Wilhem e a didáctica do canto coral”, 1952b; “Orfeão de Gondomar” (1957); “Do orfeão Académico ao orfeão Universitário, (1912-1937)” (1962).
Crítico musical na Rádio Clube Lusitânia do Porto, entre 1944 e 1945, onde proferiu 48 palestras. Bonito colaborou, ainda, com vários periódicos como O Jornal de Notícias, O Tripeiro ou Actualidades Literárias. Autor de peças teatrais, proferiu palestras e conferências em várias instituições públicas, sociedades privadas e ainda no emissor regional do norte da Emissora Nacional.
Referências citadas
Leal, João. 2000. Etnografias Portuguesas. Lisboa: Publicações Dom Quixote
Entrevistas citadas
Fernando Bonito, filho de Porfírio Rebelo Bonito, 23 de Maio de 2004, Leiria.
Obras do Autor:
Bonito, Rebelo
[1944] Os polifonistas portugueses na interpretação de Mário de Sampayo Ribeiro./Locução proferida ao microfone de Rádio Clube Lusitânia em Maio de 1944/ [inédito, in RB]
(1947) “Os ‘Cramóis’ – coros populares a 4 vozes – agora descobertos em Cinfães, na Serra da Gralheira, constituem um precioso achado arqueológico” Jornal de Notícias . Ano 60º, nº 138: 5
(1952 a) “Villa-Lobos e a sua obra monumental em prol do canto orfeónico. O que foi, o que é e o que pode vir a ser a didáctica do canto coral em Portugal. Ideal de beleza: Portugal a cantar”. Número comemorativo do 42º aniversário do orfeão do Porto. Porto: Edição do orfeão do Porto
(1952b) “A voz e as mãos, instrumentos naturais humanos. Do canto individual ao canto em conjunto. Nageli e os coros masculinos. Zelter e os coros de câmara. Wilhem e a didáctica do canto coral” Número comemorativo do 42º aniversário do orfeão do Porto. Porto: Edição do orfeão do Porto
(1952 c) “Eu vi…” in orfeão do Porto. Número comemorativo do 42º aniversário. Porto: Edição do orfeão do Porto
(1952d) Canto Coral e vida orfeónica Subsídios para a história do Canto Colectivo Popular e Artístico. Porto: S.e.
(1954) “Música folclórica e música popular” Comunicação. Apresentada no Congresso Internacional de Folclore promovida pela Comissão do IV Centenário da Fundação de S. Paulo” [inédito, dactilografado, 49 pp.]
(1954b) A canção popular portuguesa. Nótula de Etnografia Musical. Separata de Gazeta Musical nºs 39-40. Lisboa
(1954c) “O Galandum e os seus problemas” Douro Litoral. 6ª série, fasc. III-IV: 3-25.
(1956) “Alguns aspectos da música popular portuguesa” Actas do 1º Congresso de Etnografia e Folclore. III. Lisboa: Biblioteca Social e Corporativa
(1956b) “Um conto tradicional português. A rolinha” Douro Litoral. 7ª série, fascículo IX: 969-976
(1957) “Orfeão de Gondomar” O Benfica. Ano II: 1
(1959a) Chulas, Charambas e Desgarradas. Porto: Imprensa Portuguesa
(1959b) “Giroflé, flé, flá Um caso de aculturação Franco-Luso-Brasileira” Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. XXII/1-2: 214-234
(1960) Os Cantos de Almuadem e os Alalas da Galiza. Sep. de Céltica Cadernos de Estudo Galaico-portugueses
(1960b) As mouriscas na coreografia popular. Sep. Actas Colóquio Estudos Etnográficos Dr. José Leite de Vasconcelos, 2. Porto: [s. e.]
(1962) “Do orfeão Académico ao orfeão Universitário(1912-1937)”. O Tripeiro. VII série, Ano II, nº 3: 84-87
Bonito, Rebelo e Vergílio Pereira (1948) “As ‘Cantas’ e os ‘Cramóis’ do cancioneiro de Cinfães como formas arcaicas da Etnografia Musical” Douro Litoral. 3ª série, I:21-33
Fonte:
A Nossa Música, Universidade de Aveiro