Olga Prats
Piano
Conhecida por Olga Prats, Maria Olga Douwens Prats (Lisboa, 4 de novembro de 1938 – Parede, 30 de julho de 2021), foi uma professora, pedagoga e pianista portuguesa.
Iniciou os estudos musicais aos cinco anos com a sua mãe que era professora de piano e aos seis anos com o professor e pedagogo João Maria Abreu e Motta, a título particular. Deu o primeiro recital no Teatro Municipal de São Luís, aos catorze anos (em 1952).
Com dezanove anos, concluiu o curso de piano no Conservatório Nacional de Lisboa, ainda com João Maria Abreu e Motta e o seu aperfeiçoamento fez-se com Helena Sá e Costa.
Com o auxílio de duas bolsas (uma delas do Instituto de Alta Cultura), frequentou cursos de aperfeiçoamento em Colónia, na Escola Superior de Música, durante dois anos, nos quais teve como professores Gaspar Cassadó e Karl Pillney e como bolseira pelo governo alemão em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, em 1959 em Friburgo, onde estudou com Carl Seeman e Sándor Végh.
Durante os estudos na Alemanha, ganhou o prémio para melhor estudante estrangeira em 1958; tocou frequentemente com orquestras e a solo, tendo obtido as melhores críticas da imprensa.
Quando regressou a Portugal, em 1960, continuou a sua formação musical com Helena Sá e Costa, tendo ganho em 1965, ainda como sua aluna, o Prémio Luís Costa, atribuído à melhor intérprete de música espanhola.
Frequentou posteriormente diversos cursos internacionais em Santiago de Compostela, os Cursos do Estoril e o de Música Contemporânea de Darmstadt sob a orientação de Rudolf Baumgartner, Jean Françaix e Karl Engel.
Foi convidada para ser professora de piano nas classes de música de câmara de Paul Tortelier, Ludwig Streicher e Karen Georgian.
Tocou com inúmeras orquestras, com destaque para: Orquestra de Câmara do Festival de Pommersfelden; Orquestra Gulbenkian; Orquestra Sinfónica de Buenos Aires; Orquestra do Porto; Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional.
Interpretou um grande leque de compositores, desde Bach, passando por Schumann, Brahms e Stravinsky. Mesmo com este vasto repertório e amplitude de estilos musicais de compositores que interpertou ao longo da sua atividade, privilegiou sobretudo a música de câmara.
Deu especial relevo à produção contemporânea, desde a música de compositores portugueses de música de salão do século XIX à de Fernando Lopes-Graça (este já do século XX) e até à música de Astor Piazzola, tendo sido a primeira em Portugal a interpretá-la e a gravá-la.
Foi membro fundador de vários grupos: Duo de piano e violeta com Ana Bela Chaves (1969); Grupo de Câmara do Festival do Estoril; Opus Ensemble (em 1980); Colecviva – Grupo Experimental de Teatro Musical Contemporâneo (1975).
Colaborou com diversos compositores de relevo, com destaque para Fernando Lopes-Graça, Constança Capdeville e António Victorino d’Almeida, que lhe dedicaram várias obras e dos quais estreou e gravou muitas outras.
Foi durante catorze anos (entre 1970 e 1984) professora do Conservatório Nacional e integrava desde 1983 o corpo docente da Escola Superior de Música de Lisboa, onde foi coordenadora da classe de Música de Câmara, para além de ser orientadora de vários cursos dedicados à música portuguesa do século XX e à música de câmara.
Para além da docência, da gravação e das atuações ao vivo que efetuava com o grupo Opus Ensemble, prosseguia uma intensa atividade como jurada em concursos de interpretação nacionais e internacionais, de entre outros: Concurso de Música de Câmara da Rádio da Baviera, Concurso Internacional de Piano Viana da Motta, Prémio Jovens Músicos, Prémio José Afonso.
Foi membro do Conselho das Antigas Ordens Militares.
Em 2008 foi agraciada com as insígnias de Comendadora da Ordem Militar de Santiago da Espada pelo Presidente da República Portuguesa.
Em 2009, foi distinguida pelo Instituto Politécnico de Lisboa com a Medalha de Prata de Mérito em 2009. Recebeu, em 2013, a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro da Câmara Municipal de Sintra.
Morreu a 30 de julho de 2021, na sua residência, na Parede (Cascais).
Entre a sua discografia encontram-se:
2000
Obras de Fernando Lopes-Graça: Álbum do Jovem Pianista, Mornas Caboverdianas, In Memoriam Béla Bartók – suite nº8, Editora Strauss / Portugalsom
1989
Carta Branca a Ana Bela Chaves, duo com Ana Bela Chaves, Editora EMI-Valentim de Carvalho
1987
Olga Prats interpreta Astor Piazzola, Editora Polygram/Philips (reeditado em CD em 1996)
Obras de Fernando Lopes-Graça: Sonata nº 5, Ao Fio dos Anos e das Horas, Editora Strauss/Portugalsom (reeditado em CD em 1994)
1981
Lopes-Graça: Sonata nº 5; Ao fio dos anos e das horas, Portugalsom
1979
Obras de Fernando Lopes-Graça: Glosas sobre Canções Tradicionais Portuguesas, Prelúdio Canção e Dança, 3 Epitáfios, Variações sobre um Tema Popular Português, Editora EMI – Valentim de Carvalho
1973
Obras de Fernando Lopes-Graça: Sonata nº 1, Sonata nº 3, Três Velhos Fandangos Portugueses, Editora Strauss (reeditado em CD em 1995)
TESTEMUNHOS
António Saiote:
Muito triste. A Olga deixou-nos. Iluminou meus 20 anos. Fiz com ela o 1º recital em Portugal ou a criação da última obra de Joly Braga Santos. Devíamos ter estado nos Prémios Play cuja nomeação partilhámos. A sua condição já não o permitiu. Ensinou-me muito e estarei sempre grato, lembrando o seu sorriso juvenil e satisfeito quando atingimos algum momento de revelação. A força das suas convicções também foram um exemplo. (António Saiote, clarinetista e maestro)
Artur Pizarro:
A minha vida terá agora um novo vazio… Que nunca será preenchido… Nem deve ser. Aprenderei a viver com ele… Mas guardo as mais preciosas memórias duma pessoa única, para além da possibilidade de descrever só com palavras… que me mostrou como ser uma pessoa melhor! Tudo o que farei de hoje em diante, terá um pouquinho dela presente… Perdi a minha melhor amiga, a minha vizinha, a minha companheira de aventuras. (Artur Pizarro, pianista)
Sérgio Azevedo:
Com ela parte a última das três pessoas que, fora da minha família e do meu Pai (que me ensinou as primeiras luzes da arte e está felizmente ainda vivo e de boa saúde), mais representaram para mim o grande espírito da Música: Fernando Lopes-Graça, Constança Capdeville e Olga Prats. Todos três me deram o privilégio do seu ensino, dos seus princípios artísticos e da sua amizade, os quais procurei sempre honrar e transmitir aos meus alunos. (Sérgio Azevedo, compositor)
Paulo Vassalo Lourenço:
Tive o privilégio de ser aluno da Olga Prats em Música de Câmara na ESML. Acabado de chegar ao ensino superior e acabado de sair da adolescência, ela foi para mim uma espécie de iniciação e de revelação de um mundo novo fascinante e exigente. Devo muito ao sei rigor, génio e ao mesmo tempo grande humanidade. Um exemplo em toda a linha. Só guardo boas memórias. (Paulo Vassalo Lourenço)
César Viana:
Viveu intensamente, numa dedicação absoluta à música, ao ensino e à divulgação dos autores contemporâneos, como Fernando Lopes-Graça, entre outros. Lembramos a sua presença em vários momentos no Museu da Música Portuguesa, onde também realizou com o Quarteto Lopes-Graça a gravação da integral das obras para Quarteto de cordas e piano deste compositor. (César Viana, compositor e flautista)
Diogo Costa:
Foi há cerca de um mês que, para minha grande surpresa, a Professora Olga Prats veio ao Back stage do Teatro Sá de Miranda, após um concerto da Orquestra de Sopros da Arteam Escola Profissional Artística do Alto Minho. Era convidada frequente desta escola, e estava felicíssima por estar de regresso a Viana do Castelo, cidade que adorava. Teceu-nos os maiores elogios pelo concerto a que acabara de assistir e, confesso, senti-me orgulhoso por ouvir tais palavras vindas de uma pessoa como a Professora Olga. (Diogo Costa, maestro)
Nuno Inácio:
O seu legado perdurará, personificado na nossa vida artística. A Professora Olga Prats tocou a vida e a arte de tantos músicos em Portugal. Ensinou e ensinou a ensinar. Devemos-lhe muito. A Música de Câmara em Portugal deve-lhe muito. Foi minha Professora na Licenciatura e no Mestrado na ESML, e depois fomos colegas. Uma imensa honra e uma constante aprendizagem ao longo de tantos anos. (Nuno Inácio, flautista)
Teatro Nacional de São Carlos:
A ligação de Olga Prats ao Teatro Nacional de São Carlos foi profunda e claramente ilustrativa da sua actividade e carreira. A pianista estreou-se aqui a 8 de dezembro de 1955 num recital destinado à angariação de fundos para a construção do monumento ao Cristo-Rei. Tocou na ocasião obras de Johann Sebastian Bach, Armando José Fernandes, Alexander Tcherepnin e Robert Schumann.
Regressou passados quase vinte anos, a 25 de Outubro de 1974, para participar num concerto comemorativo do 25 de abril inteiramente preenchido com obras de Fernando Lopes-Graça.
Interpretou na ocasião o Concertino para piano cordas e percussão.
Nos Anos 80 foi constante a sua presença, particularmente com o Opus Ensemble, conjunto de câmara de que foi co-fundadora em 1980 e com quem se estreou no nosso palco a 24 de Fevereiro de 1984.
O Opus Ensemble apresentou-se depois a 9 de julho de 1986, num concerto que terminou com a Suite de Danças de Joly Braga Santos dedicada ao conjunto, a 30 de Setembro de 1986 num Concerto de Gala de homenagem aos Reis da Suécia, a 28 de maio de 1988 num concerto de homenagem ao violetista François Broos e a 21 de Julho de 1988 num concerto que terminou com os Três Andamentos à Procura de Um Quarteto de António Victorino de Almeida, obra também dedicada ao conjunto.
Olga Prats também concretizou em várias ocasiões no TNSC uma frutuosa ligação artística com Irene Lima e António Saiote. Os três apresentaram-se a 2 de Abril de 1984 com obras de Brahms, a 10 de dezembro do ano seguinte com obras de Glinka, Heinrich Sutermeister, Vaughan Williams e Brahms e finalmente a 3 de março de 1990 com obras de Beethoven e Zemlinsky.
O pianista João Paulo Santos também esteve a seu lado em dois recitais para piano a 4 mãos: um realizado a 28 de Janeiro de 1985 e outro a 5 de maio de 1990 totalmente dedicado a Igor Stravinski.
A 9 de dezembro de 1988 Olga Prats participou ainda ao lado de Irene Lima e da violinista Shirin Lim num concerto comemorativo do 80º Aniversário de Olivier Messiaen.
Irene Lima e a flautista Katharine Rawdon foram ainda suas parceiras no Contemporarte, que se apresentou a 21 de abril de 1990 com obras de Bohuslav Martinu nas comemorações do centenário deste compositor.
Olga Prats também colaborou, naturalmente, com a OSP. Recorde-se o concerto de 24 de novembro de 1998 efectuado na Culturgest integrado no Música em Novembro — 1º Festival de Músicas Contemporâneas de Lisboa. Nessa apresentação dirigida por Heinz Karl Grüber foram interpretadas obras de Grüber, Alexandre Delgado, António Victorino de Almeida e Kurt Schwertsik.
A última colaboração de Olga Prats com o São Carlos foi a 19 de janeiro de 2020, apresentado no CCB, com os concertos para 2, 3 e 4 pianos de Bach, com os pianistas Artur Pizarro, Jorge Moyano e Nick van Bloss e a Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida pela Maestrina Joana Carneiro. (Teatro Nacional de São Carlos)
Jorge Palma:
Morreu a minha amiga Olga Prats. Grande pianista, excelente professora, pessoa de carácter forte e gentil, de uma doçura extraordinária. Antes de ter sido minha professora no Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional, tínhamos ambos apoiado a candidatura de Maria de Lourdes Pintassilgo à Presidência da República (86).
Mais tarde (2002), foi ela quem me telefonou p’ra me dizer que eu tinha ganho o Prémio José Afonso desse ano. Durante os últimos 40 anos foram muitos os encontros, entre aulas de piano, reuniões, concertos do Opus Ensemble e dela própria a solo, visitas e palcos. Foi ela quem me dirigiu para o Miguel Henriques – meu último professor de piano no Conservatório – já que passou a fazer parte da equipa que se dedicou à restruturação do novo Curso Superior de Música.
Nunca a vi zangada, falava-me apaixonadamente de pessoas como a Constança Capdeville, Fernando Lopes-Graça ou Astor Piazzolla, de cujas obras para piano foi a principal e brilhante intérprete em Portugal. Vi-a triste e desconsolada aquando das mortes sucessivas destes 3 compositores, assim como do falecimento de Bruno Pizzamiglio – oboísta e chefe de orquestra, um dos 4 elementos fundadores do Opus Ensemble – e, sobretudo, quando perdeu o seu filho João.
Estivemos juntos pela última vez em 2019, quando aceitou ser minha convidada especial no programa de televisão “Alta Fidelidade”, apresentado pelo Vasco Palmeirim.
Olga Prats deixa-nos um imenso legado discográfico e a memória do seu generoso e terno sorriso. (Jorge Palma, cantautor)
Eurico Cardoso:
No tempo em que a ESML era o espetacular resultado de uma amálgama de professores e alunos enfiados em meia dúzia de salas na rua do Ataíde, encontrava-me numa das salas a tentar praticar um compositor que pouco ou nada conhecia, Piazzolla! Nisto entra a Professora Olga Prats na sala e pergunta: – o que está a tocar?
– Professora estou a tocar um compositor de tangos Piazzolla (Mal sabia eu…)!
Ela olhava-me com um misto de incredulidade e disse: – Piazzolla? Tangos? Não… não… não é aqui que devias estar a estudar, a tua sala para começar a estudar Piazzolla é a do lado (biblioteca). Eu conheci Piazzolla em pessoa e sei e qual a música que estás a tentar tocar, só não conheço esses ruídos que fazes com o violino, mostra lá a partitura…
Aponto o arco para uns ritmos escritos mas com X no lugar das notas e digo com uma arrogante sabedoria:
– Tenho que fazer este ritmo com notas indefinidas aleatoriamente pelo violino!
Ela, olhando a passagem e olhando para mim esboçou um sorriso de orelha a orelha e não aguentou a gargalhada farta:
– Meu menino, isso é chicharra, sabes o que são chicharras? Eu encolhi os ombros e ela continua:
– hum… as chicharras são o som do verão se este tivesse um som… As chicharras são o que as árvores de verão dizem quando não há vento… curioso? Só precisa de ir aqui ao lado (biblioteca) e ouvir o disco tal (CD) e o tal… Já agora a biografia de Astor Piazzolla!!! Antes de interpretar o que quer que seja tem de conhecer o que se quer interpretar e quem o escreveu e isso meu menino não é com o violino… Vá, em direção à biblioteca conhecer esse excelente compositor, vá, depois, se quiser explico como fazer esse efeito sonoro… (E nunca fui aluno dela)… (Eurico Cardoso)
Museu da Música Portuguesa
A pianista Olga Prats viveu intensamente, numa dedicação absoluta à música, ao ensino e à divulgação dos autores contemporâneos, como Fernando Lopes-Graça, entre outros. Lembramos a sua presença em vários momentos no Museu da Música Portuguesa, onde também realizou com o Quarteto Lopes-Graça a gravação da integral das obras para Quarteto de cordas e piano deste compositor. (Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria)
Gonçalo Santana Simões
Pianista e professora lendária que marcou gerações e gerações de músicos que foram seus alunos de música de câmara. Foi uma pessoa absolutamente maravilhosa. O seu legado vai muito além da música que nos ensinou e deixou. (Gonçalo Santana Simões, pianista)
Biografia atualizada a 31 de julho de 2021
Músicos naturais de Lisboa
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