Manuel Faria

Compositor

Manuel Ferreira de Faria nasceu em São Miguel de Ceide, a 18 Novembro de 1916 e faleceu no Porto a 05 de Julho de 1983. Foi compositor, pedagogo, maestro, articulista e conferencista.

Entre as figuras eclesiásticas que se dedicaram à composição sacra e profana, instrumental e vocal, o Padre Manuel Faria ocupa um lugar destacadíssimo, a que se juntam importantes funções pedagógicas e literárias em Braga e a nível nacional, ao longo de 50 anos.

Nasceu numa família minhota em que o canto, a dança e os instrumentos musicais eram estimados, sendo o pai tocador de concertina e viola. No fim da escola primária, frequentou os seminários arquidiocesanos, onde estudou solfejo, harmonia, piano e órgão.

No final do curso teológico, o desejo e talento levaram-no ao Pontificio Istituto di Musica Sacra de Roma (1939), onde estudou com Gregorio Suñol (canto gregoriano), Cesare Dobici (contraponto), Raffaele Casimiri (polifonia) e Licinio Refice (composição) e Ferruccio Vignanelli (órgão).

Com a licenciatura em canto gregoriano e composição, e o Curso Superior de Composição, passou a trabalhar, em 1946, na formação musical dos seminários de Braga. Dentro de um estilo que reflecte a influência da música tradicional do Minho, compôs centenas de cânticos de cariz popular, baseando-se, muitas vezes, em poemas de José Alves e Monsenhor Francisco Moreira das Neves.

Publicou na Nova Revista de Música Sacra, Boletim de Música Litúrgica, A Arte Musical, Autores, Resistência, Diário do Minho, Novidades.

Colaborou em obras enciclopédicas e publicou ensaios sobre Mozart, Beethoven, Poulenc, Debussy, Mahler e Pedro de Freitas Branco. Entre 1976-1981, fez, na Rádio Renascença, o programa semanal clássico Ao encontro da grande música.

Deu formação nas semanas gregorianas e fez parte da Comissão Portuguesa de Música Sacra, nomeada em 1965. Dirigiu as semanas bracarenses de música sacra de 1967 e 1971, e, em 1979, com Mário Mateus, o I Curso de Formação de Regentes e de Coros Amadores, na Póvoa de Varzim.

Lutou para que os órgãos do Bom Jesus do Monte e da Sé de Braga fossem restaurados, deixando algumas peças para órgão de execução difícil, nomeadamente o Tríptico para órgão, fuga em linguagem dodecafónica.

O impressionante catálogo das suas obras inclui cerca de duzentas peças para coro a capella (música sacra, hinos, danças); mais de trezentas e cinquenta peças para coro e instrumento(s), nomeadamente hinos, motetes, missas; trinta peças para voz e instrumento(s), incluindo natais; catorzes peças para instrumento solista (fantasias, peças para órgão e piano).

Em música de câmara, para agrupamentos diversos, há oito obras; onze, para orquestra sinfónica; três para coro e orquestra; cinco para banda de música; e sete peças para teatro; uma ópera. As primeiras obras foram escritas, geralmente, para coro masculino, pelo facto de serem os seminaristas a executá-las.

As obras para orquestra foram compostas, quase todas, depois de Frederico de Freitas mostrar desejo de as executar. A música coral profana tem a ver, na sua maioria, com o Coral dos Estudantes de Letras da Universidade de Coimbra, criado pelo seu irmão Francisco, em 1954. O encontro com Vito Frazzi, em Siena, e Petrassi, em Roma, levou-o à experiência dodecafónica, testemunhada pelas Nove Pequenas Peças para orquestra de câmara, e deu-lhe um sentido de liberdade em relação ao sistema tonal.

A obra Parábolas da Montanha valeu-lhe, em 1972, o Prémio Nacional de Composição Carlos Seixas.

M. F. Faria fez inúmeras conferências e publicou estudos, críticos em relação ao estado geral da música sacra. A título póstumo, recebeu a condecoração de Comendador da Ordem de Santiago de espada.

Em 1998, foi criada a Associação Manuel Faria, com sede na Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão, a partir de um grupo de músicos de Braga. Pretende realizar um concurso bienal de composição e fazer o levantamento de todas as obras do grande compositor, na perspectiva de virem a ser publicadas, por temas.

Clique AQUI para aceder à Catalogação e Estudo Crítico da Obra de Manuel Faria à Guarda da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, de Paulo Bernardino, edição da Imprensa da Universidade de Coimbra (2018).

Obras orquestradas de Manuel Faria na BGUC: edição e interpretação. Tese de doutoramento de Paulo Bernardino defendida na Universidade de Aveiro em 2021

O presente trabalho de investigação tem como objetivo principal contribuir para um maior conhecimento e divulgação da vida e obra do Pe. Manuel Faria (1916-1983) no panorama atual musical português e assenta em quatro colunas basilares: numa renovada contextualização do compositor no quadro atual a partir de um rigoroso estudo analítico das suas reflexões críticomusicais; no levantamento do espólio do compositor existente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) e respetiva catalogação e publicação; na análise, transcrição, edição crítica e publicação de uma seleção de obras inéditas que se encontram no acervo da BGUC, nas quais se inclui também a reconstituição da cantata Diálogo das Ceifeiras e dos Sinos (1948); e, por fim, na parte performativa e interpretativa destas e outras obras, que se complementa com apresentações em seminários, conferências e similares. (Paulo Bernardino)

OBRAS SACRAS PUBLICADAS

cânticos da juventude I. A Nossa Senhora II. Ao Coração de Jesus III. Ao Santíssimo Sacramento, IV (cânticos populares ao Menino Jesus e para outras devoções) para v. e harm. Braga, 1945.

Cântico para a coroação de Nossa Senhora de Fátima Rainha de Portugal. Braga, Missões Franciscanas, 1946.

Florinhas do campo (cânticos para o mês de Maria. Braga,1948.
Cântico a Santa Filomena. Braga, 1949.

Ecce saccerdos magnus para vozes e harmónio. Braga: Tipografia Missões Franciscanas, 1949.

Saudação a Nossa Senhora de Fátima peregrina do Minho. Braga, 1951.

Hino do Congresso Eucarístico Regional de Guimarães para uma e duas vozes. Braga: Tipografia das Missões Franciscanas, 1952.

Novos cânticos. Braga, Edição do Autor, 1953.

Hino à Virgem Imaculada. Braga, 1954.

Dois cânticos a Nossa Senhora para o mês de Maio para vozes e harmónio. Braga, Lito-Minho, 1957.

Novos cânticos do Natal ao posto popular português para vozes e harmónio. Braga, Edição do Seminário Conciliar,1957.

Três salmos seguidos do cântico do Magnificat. Braga, 1957.

cânticos para as comunhões solenes para voz e harmónio. Braga, Ed. do Seminário Conciliar de Braga, 1959.

Hino do Prelado de Aveiro para voz e piano. Braga, Tipografia Editorial Franciscana, 1959.

20 cânticos para a missa. Braga, 1967.

Cântico para o cinquentenário das aparições de Fátima. Braga, 1967.

cânticos para a missa: Natal, Quaresma, Páscoa, Pentecostes e Pelo Ano. Braga, 1967.

Hino a Nossa Senhora das Dores. Braga, 1968.

Presépio Novo (Novos cânticos natalícios) para v. e org. Braga, 1969.

Missa Popular em honra de São Francisco de Assis para voz e órgão, em português. Braga, Lito Minho, 1970.

Senhora da Primavera: cânticos Marianos. Braga,1970.

Cântico a Nossa Senhora da Paz (Barral, Ponte da Barca). Cântico ao gosto popular minhoto. Braga, 1975.

Hino do Centenário da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição. Braga, 1976.

27 Responsórios da Semana Santa para 4 vozes iguais. Braga, CBMS, 1993.

(1979) “Gloriosa cruz de Cristo”, BML (30): 15-18.

(1980) “Todos foram cheios do Espírito Santo”, BML (36): 17-18.

(1982) “Os cristãos entoam cantos”, BML (46): 8-10.

(1982) “Terra, exulta de alegria”, BML (46): 15-18.

(1983) “Cristo há-de reinar”, BML (53): 17-19.

(1983) “Deus, Senhor da verdade”, BML (54): 18.

(1983) “Domine”, BML (53): 11-14.

(1983) “Eis que o Senhor vem de longe”, BML (53):14-15.

(1983) “Eu Vos amo, Senhor”, BML (53): 16-17.

(1983) “Os meus olhos estão sempre fixos”, BML (50): 12-14.

(1983) “Todos os que estão no sepulcro”, BML (53): 19-20.

OBRAS PROFANAS

Oito obras corais polifónicas para 4 v. m. a capella (1991).

Canções populares portuguesas harm. SATB (1981) Lisboa, Valentim de Carvalho.

OBRAS LITERÁRIAS

O Espólio musical do Pequeno Seminário de Nossa Senhora da Oliveira. Guimarães, 1989.

O motu proprio de Pio X e a Música Moderna. Braga, Tipografia da Oficina de S. J. 1957

Auto de Coimbra ópera. Coimbra, 1988.

OUTRAS OBRAS

missas

Missa em honra de Nossa senhora do Sameiro (1938) 2 v.i. e harm., M.O., I.O.

Missa da catequese (1941) vozes a uníssono e órgão, M. O.

Missa Solene em honra de Nossa Senhora de Fátima (1941/1945), 4.v.m. e órgão, M.O, executada em Roma, Viena, Braga e Porto.

Missa Pastoril (1948), 2.v.i. e orquestra de câmara, M.O.

Missa Votiva (1949), para 3 v. i. e orq. sinf., M.O.

Missa Cum Jubilo (1953) 4.v.i. e órgão, M.O.

Missa Pueri Cantores (1955), 3.v.m., M.O.

Missa em honra de Nossa Senhora da Conceição (1957) 2 v.i. e órgão, M.O., I.O.

Missa Dialogada (1967) vozes a uníssono, 2ª ad lib. e órgão, I.O.

Missa Popular em honra de São Francisco de Assis (1970) vozes a uníssono e órgão, M.O., I.O.

Missa Paroquialis (1972) 3.v.m., M.O.

Missa em honra de S. Jorge (1978) 2 ou 3 v.i. e instrumentos de banda ou órgão M.O., I.O.

OBRAS PROFANAS

Suite Minhota |1960| 4 v.m., M.N.O.

Ditirambo a Frederico de Freitas, executado em estreia pela Orq. Sinf. da EN., em 1973, sob a dir. do maestro Silva Pereira).

Auto da Fundação e Conquista de Coimbra, para coro solista e orq. sinf.).

Parábolas da Montanha (1972).

Nove Pequenas Peças para orq. cam.

António José Ferreira, Cristina Faria

[ Músicos naturais de Famalicão ]
Partilhe
Share on facebook
Facebook