violoncelista Madalena Sá e Costa

Madalena Sá e Costa

Violoncelo

Madalena Moreira de Sá e Costa nasceu no Porto a 20 de novembro de 1915 e faleceu a 18 de abril de 2022, aos 106 anos.

“Quando nasci, creio que se ouvia música por toda a casa”, escreveu, em 2008, num livro de “Memórias e Recordações”.

Neta de Bernardo Valentim Moreira de Sá, fundador do Conservatório de Música do Porto e do Orpheon Portuense, filha da pianista Leonilda Moreira de Sá e Costa e do pianista e compositor Luís Ferreira da Costa.

Sobre a sua infância e juventude recordou, numa entrevista à Antena 2: “A minha irmã, Helena Sá e Costa, e eu tínhamos o quarto no primeiro andar. Pelas 09:00, já ouvíamos o nosso pai tocar piano no andar de baixo. Acordar assim todos os dias era estupendo. Foi dessa forma que conheci quase todas as obras: muito Beethoven, muito Schubert, muito de tudo”.

“Nós estudámos sempre em casa. Já havia liceus na altura, mas os meus pais preferiram que fosse assim. Eles eram pianistas e tocavam muito com a Guilhermina Suggia, que era um fenómeno que tinha aparecido há pouco tempo. Tinham muitos ensaios, quer cá em casa quer na casa dela. Faziam a junção do piano com o violoncelo. O primeiro instrumento que toquei foi o violino. O meu avô tinha um ‘Guadagnini’ e, quando ia almoçar a casa dele, fugia para a sala onde estava guardado esse violino e tocava umas notas. Às vezes, punha-o entre os joelhos e tocava-o na posição de violoncelo”, disse, na mesma entrevista.

Foi discípula de Guilhermina Suggia — e como herdeira do seu legado musical deu no nosso país, continuidade suas lições — e do seu pai Augusto Suggia. Conclui o curso no Conservatório Nacional em 1940, sob a tutela de Isaura Pavia de Magalhães, após o que completa a sua formação com Paul Grümmer, Sandor Végh e Pablo Casals, entre muitos outros.

Ganhou os prémios Orpheon Portuense (1939), Emissora Nacional (1943), Morrisson da Fundação Harriet Cohen (1958), Guilhermina Suggia, SNI (ex-aequo, 1966. Com a sua irmã Helena Sá e Costa manteve um duo durante 50 anos, tendo actuado um pouco por toda a Europa. Ainda com a sua irmã e com o violinista Henri Mouton formou o “Trio Portugália” a quem o País deve a audição de um grande reportório musical, passando posteriormente a quarteto com a participação do violetista belga François Broos.

Tocou em orquestras sob a direcção de Maestros como Pedro de Freitas Branco, Frederico de Freitas, Ivo Cruz, Fritz Riegger, Jacques Pernood, Gunther Arglebe, Ferreira Lobo, Pedro Blanch e Silva Pereira e integrou a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (1966-84), Instrumentista de Câmara da Orquestra Sinfónica do Porto (1970) e a Camerata Musical do Porto que fundou (1979-89).

Possuidora de um curriculum riquíssimo, Madalena Sá e Costa desenvolveu também notável acção pedagógica no Conservatório de Música do Porto e no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian em Braga. Em Guimarães, participou em vários recitais e concertos, alguns dos quais realizados na Sociedade Martins Sarmento.

Em 2008 publicou o livro “Memórias e Recordações”.

José Aníbal Marinho Gomes, Risco Contínuo, acesso a 08 de março de 2018

A sua morte teve ampla divulgação e sinais de afeto e reconhecimento do seu legado nas redes sociais e nos órgãos de comunicação social (Antena 2, Glosas, RTP, Jornal de Notícias, SIC Notícias, Observador, Sábado, Público, CNN Portugal, Correio da Manhã, APEM, Canal Alentejo, entre outros).

TESTEMUNHOS

Excertos

“A Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo associa-se às manifestações de pesar pela morte da violoncelista Madalena Sá e Costa, irmã da pianista Helena Sá e Costa, primeira Presidente da Comissão Instaladora da, na altura, Escola Superior de Música. ” (ESMAE)

“O Conselho de Administração do OPART – Organismo de Produção Artística, E.P.E., a Diretora Artística do Teatro Nacional de São Carlos e os músicos da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro do Teatro Nacional de São Carlos lamentam o falecimento de Madalena Sá e Costa e apresentam sentidas condolências à família e amigos.

Madalena Moreira de Sá e Costa viveu uma longa existência embrenhada na música, desde logo como violoncelista e pedagoga, mas também como amiga, filha e irmã.

Neta de Bernardo Moreira de Sá, fundador do Conservatório de Música do Porto e do Orpheon Portuense, filha dos pianistas Luís Costa e Leonilde Moreira de Sá, irmã da pianista Helena Moreira de Sá e Costa, Madalena desde sempre contactou com alguns dos mais notáveis intérpretes do século XX, visitas habituais da casa familiar. No salão desta, no Porto, ainda se pode ver fotos com dedicatórias de nomes como Gieseking, Cortot, Fischer, ou outros deste calibre.

Apresentou-se várias vezes no Teatro Nacional de São Carlos como violoncelista. Estreou-se no nosso Teatro em 2 de fevereiro de 1934, como solista do Concerto em lá menor para violoncelo e orquestra Op. 33 de Camille Saint-Saëns, sob a regência do maestro Pedro Blanch e ao lado da Orquestra da Academia de Amadores de Música. Depois, regressou todas as décadas, até aos Anos 60.

Com uma vida plena, longa e repleta de concretizações, Madalena Sá e Costa marcou gerações de discípulos, conquistou muitos admiradores e deixa agora, em todos nós, saudades.” (OPART)

“Foi com profundo pesar que a Casa da Música recebeu a notícia do falecimento da insigne violoncelista Madalena Sá e Costa. Descente de uma família de músicos com extraordinária notabilidade na vida musical portuguesa e com uma atividade marcante na cidade Invicta através da ação do Orpheon Portuense, Madalena Sá e Costa destacou-se como intérprete e pedagoga de consagração internacional. A sua carreira de concertista levou-a a tocar como solista com diversas orquestras, integrando também a Orquestra Sinfónica do Porto e a Camerata Musical do Porto, da qual foi fundadora. No âmbito da música de câmara correu todo o país com a sua irmã, a pianista Helena Sá e Costa, numa ação sem precedentes de divulgação musical, tendo fundado também o Trio Portugália cujo legado pode ser apreciado pela sua discografia. Foi uma figura assídua nos concertos e recitais da Casa da Música, projeto que sempre acarinhou. Integrou o júri do Prémio Internacional Suggia e foi homenageada publicamente na Sala Suggia no âmbito de um dos concertos da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música no Festival Suggia. Deixa-nos, para além da saudade, um exemplo raro de dedicação, serviço e amor à música.” (Casa da Música)

“Foram 106 anos dedicados à música e ao violoncelo que jamais serão esquecidos.” (Bruno Borralhinho)

“A Dª Madalena permanece uma das figuras mais carismáticas dos meus anos de formação no Conservatório do Porto (cheguei a ser seu aluno de violoncelo durante algum tempo) e marcará para sempre as minhas memórias musicais como artista e como pessoa encantadora que era. Foi um privilégio tê-la conhecido.” (Paulo Castro)

“chegou-me a amarga notícia do falecimento de Madalena Sá e Costa, violoncelista aclamada e notável professora, verdadeira personalidade artística que em tanto concorreu para o enriquecimento do meio musical português. Há alguns anos, na minha qualidade de presidente do Ginásio Ópera, tive o gosto de organizar, em Lisboa, no Palácio Foz, uma sessão de homenagem a Madalena Sá e Costa, evocando a sua carreira de violoncelista e pedagoga. As nossas famílias estiveram ligadas ao longo de várias gerações, e tive a satisfação de com ela participar em diversas iniciativas culturais.” (João Maria de Freitas Branco)

“Foi com grande pesar que recebi a notícia do falecimento da ilustre violoncelista Madalena Moreira de Sá e Costa. Além de ser um nome incontornável do panorama musical, para mim era uma amiga que tantas vezes me incentivou e encorajou quando precisava. Sempre tive grande ternura pela sra. D. Madalena, mulher de fortes convicções e determinação, recordo os lanches em Viatodos, junto com seu filho Luís Gaspar. Hoje o mundo ficou mais pobre.” (Maria do Céu Camposinhos)

“Há um pouco mais de dois anos, já algo frágil, encontrámos-nos e a D. Madalena fez-me um pedido: Eduardo, faça-me um grande favor. Veja se arranja 10 violoncelistas porque eu quero fazer um concerto com 11 celistas para homenagear Villalobos. A doença impediu que se realizar, mas Ela teve a enorme gentileza de me dar todos os programas dos concertos que com a Sua irmã Helena em que tocaram António Fragoso. E eram muitos.” (Eduardo Fragoso)

“O país fica mais pobre quando se perdem vultos preciosos como é o caso da notável violoncelista Madalena Sá e Costa. Pedagoga de referência foi docente do Conservatório de Música do Porto e do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga onde formou dezenas de violoncelistas e contribuiu para enriquecer o mundo da música em Portugal.” (Ariana Cosme)

“Após uma vida longa de quase 107 anos, pousou hoje o violoncelo para sempre esta nossa intérprete que soube ser grande e aprender com outra grande, Guilhermina Suggia. A Música, sempre, antes de tudo…” (João Carlos Callixto)

“A sua família era sinónimo de música, tendo tido um papel central na vida musical do Porto.” (Nuno Vidal)

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