Jorge Lima Barreto
Improvisação . Composição . Ensino
Autodidacta, começou na infância a praticar órgão de igreja e piano; quando estudante universitário no Porto e activista na Juventude Musical Portuguesa, aí criou a Associação de Música Conceptual destinada a congregar compositores/intérpretes (como Aantónio Pinho Vargas e Calos Zíngaro) e ouvintes com interesses musicais comuns e organizar concertos.
Fundou a Anar Band em 1969 e, foi membro fundador com *Vítor Rua do duo *Telectu (1982). Licenciado em História e Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1973), foi assistente das cadeiras de Introdução às Ciências Humanas, Crítica da Cultura e Estética, desta instituição e da ESBAP (1974-1978); simpatizante do internacional situacionismo, estruturalista e apologista da improvisação total, envolveu-se como figura tutelar no círculo artístico e musical do Porto, estando a sua influência patente em várias actividades musicais e culturais (da performarte à video art).
Entre os anos de 1977-82, percorreu a América do Sul e os Estados Unidos, recolhendo material para uma tese de doutoramento que desenvolveria sobre o situacionismo musical nesses países. Em Nova Iorque contactou, através de Jean Saheb Sarbib, com o meio vanguardista do Jazz e relacionou-se com a música improvisada e experimental.
No seu regresso ao País, em 1982, mudou-se para Lisboa, nesse mesmo ano, foi organizador da programação de Jazz e do rock do Festival de Vilar de Mouros e do Ciclo de Nova Música Improvisada no ACARTES No âmbito do jornalismo musical desenvolveu actividade em importantes e diversas publicações nacionais e estrangeiras desde os finais da década de 1960 (e.g., inúmeros periódicos; Vida Mundial, Mundo da Canção, Memória do Elefante, Blitz, Point, Hi-Fi, Via Latina, Atlântida, Manifesto; o Jornal de Letras desde 1984 ).e.a.
Realizou conferências e seminários nacional e internacionalmente (e.g. 1985 no “1º Simpósio de Música Electrónica da URSS”), e publicou livros sobre música, mediologia, estética da comunicação e tecnologias (sampler, controladores digitais, percussões, computer music), alguns intimamente ligados à sua prática enquanto músico de jazz, rock (conceptualização de “Independança” do GNR, 1982), música improvisada (solo de piano, teclas, cordas e preparado “piano dissonata”, 2001, e duo com Prévost, 2003), electronic live (“Neo Neon”, solo para wavestation, 2003; e Saheb Sarbib, “encounters”,1977), música multimedia (radio music, concretismos, midi, duos com *Zíngaro, em “kits”, 1992,, e.a.).
Introduziu em Portugal, como ensaísta, várias tipologias de ponta, eruditas ou populares; foi próximo de Zeca Afonso, C. Paredes, João de Freitas Branco, Peixinho, L. Villas-Boas… Realizou inúmeros concertos com músicos nacionais e estrangeiros de jazz, de música improvisada e/ou experimental (URSS, EUA, China, Brasil, Cuba, e.a.), por quase toda a Europa e Portugal, em festivais ou concertos, em lugares os mais prestigiantes,(e.g. Cascais Jazz 74, solo para piano e banda magnética; Salle Patiño, Genebra, 1976, solo de sintetizador; Public Theatre, Nova Iorque,1979; seis concertos de piano na Expo 98, e.a.), sendo a sua prática musical indissociável da extensa discografia registada em fonogramas dos Telectu, em grupo, a solo ou em duo.
Tem o experimentalismo e o conceptualismo como primeiras referências, free jazz, compositores contemporâneos, artistas e intelectuais ligados ao pósmodernismo, “projecto de um manifesto neo futurista”.
Desde ano 1974 tocou e gravou com algumas das mais destacadas figuras internacionais da música experimental… Compôs música para teatro (e.g. Teatro da Cornucópia) e cinema (e. g. “OM” de António Palolo) e realizou os programas radiofónicos (e.g. os Musonautas , Rádio Comercial 1982-91). Idealizou o festival Fonoteca Files, para eventos de música experimental (1999-).
A sua prática musical e o processo composicional desenvolvido até finais dos anos 1980, foi associada à “música minimal repetitiva” (em livro homónimo, 1983), a qual apresentou no V Congresso Nacional de Musicologia; grandes entrevistas a músicos do mais alto nível histórico e mundial (e.g. Xenakis, Stockhausen, Berio, Boulez, S. Reich, E. Nunes, Peixinho, F. Pires, W. Vostell, D. Kientzy, Cecil Taylor, A. Braxton, e.a.), no tomo “os Musonautas”, 2000; trabalhou na produção de materiais sonoros, como obra aberta e estratégia de recusa de qualquer compromisso com as políticas culturais vigentes, indústria discográfica e dos espectáculos, etc.
Apesar de pertencer a um circuito musical restrito, esteve envolvido em acções interarte, poesia visual, performarte, video, cinema, teatro, dança em galerias, museus, fundações, teatros, estádios, espaços livres; a sua música, as suas apresentações mediáticas e os seus textos, por vezes muito polémicos, o seu forte carisma, fez dele uma personalidade reconhecida além do seu domínio da prática musical; o carácter pessoal e a diversidade dos materiais sonoros que divulga marcaram a formação de vários intérpretes do domínio da música improvisada, da electronic live, do rock, do Jazz, da ambiental, da experimental, papel que lhe é reconhecido pelos próprios.
Em 1972 iniciava uma longa carreira de musicógrafo com “revolução do jazz” onde estavam lançadas ideias seminais que exploraria em estudos posteriores até “JazzArte”, 2001; prossegue a série “rock pop off”, relacionamento do rock com a droga, desde 1975 com “rock trip” até “B-Boy” , sobre o movimento hip hop,1998; escreveu monografias; nova improvisação em “nova musika viva” de 1996;em 1997 editou “Musa Lusa”, vulgata da música portuguesa de hoje e de todos os quadrantes; numa perspectiva epistemológica publicou ensaios sobre Música de Hoje (e.g. “Musicónimos”, 1979; “o siamês telefax stradivarius”, 1998; congeminou a tese de doutoramento “Música & Mass Media”, de 1997, que retomou em 2002 no projecto ” estética da comunicação e a situação pósmoderna da música”.
Os seus livros foram habitualmente prefaciados pelas mais distintas personalidades nas respectivas áreas da Música e da Cultura Portuguesas; tradutor, escritor de textos para catálogos, discos, concertos, exposições, instalações, festivais, vídeos; poliartista: performarte, caricatura, design, notação gráfica, espectáculos multimedia e interarte; coleccionista de BD, miniaturas de automóvel, pintura, e.a.
Foi um dos mais profícuos ensaístas a debruçar-se sobre música de hoje, recorrendo a um universo lexical próprio como artista e pensador: “praxis gestualista; aventura pósmoderna”S “a música como amor e liberdade”S (sic).
Universidade de Aveiro, acesso a 16 de julho de 2018