João Paes (1928-2021)

João Paes

Musicologia . Composição

Compositor, musicólogo, programador e crítico, diretor artístico do Teatro Nacional de São Carlos, João Paes nasceu em 1928, em Lisboa, onde faleceu a 10 de novembro de 2021, com 93 anos.

Distinguido pela composição de Os canibais, o filme-ópera de Manoel de Oliveira, João Paes foi também diretor da antiga Rádio Cultura (atual Antena 2), presidente da Juventude Musical Portuguesa e responsável pela programação musical da Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura, na área da música erudita.

João Carlos de Freitas Branco Paes nasceu em Lisboa em 19 de janeiro de 1928, formou-se em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto Superior Técnico, e privilegiou sempre a atividade no campo da música, tendo sido aluno de composição de Joly Braga Santos (1924-1988), por sua vez um discípulo de seu tio, o compositor Luiz de Freitas Branco (1890-1955).

João Paes foi diretor artístico do Teatro Nacional de São Carlos entre 1974 e 1981. A ele se devem estreias, produções e presenças que ficarão na história: Billy Budd de Benjamin Britten (1979), Wozzeck e Lulu de Alban Berg (1980 e 1981), Elegy for Young Lovers de Hans Werner Henze (1975), The Midsummer Marriage de Michael Tippett (1979), Os Diabos de Loudun de Penderecki (1976), Il trovatore de Giuseppe Verdi em 1978, O anel do Nibelungo de Richard Wagner (1976), Parsifal (1980) também de Richard Wagner. Assinou ainda as encenações das óperas verdianas La forza del destino e Macbeth (1980 e 1981). Abriu o palco do teatro lírico a óperas contemporâneas do século XX.

Segundo João de Freitas Branco era um “homem de vastíssima cultura literária e artística, de completa formação técnica nos domínios da composição musical e autor da música de alguns dos mais notáveis filmes portugueses, em colaboração estreita com Manoel de Oliveira”.

Promoveu a estreia de produções operáticas portuguesas como “Canto da ocidental praia” de António Victorino d’Almeida em 1975, “Em nome da paz” de Álvaro Cassuto em 1978, e a “Trilogia das barcas” de Joly Braga Santos em 1979.

Como compositor, destaca-se em particular o trabalho de João Paes como autor de música original para filmes de Manoel de Oliveira como “Benilde ou a Virgem Mãe” (1974), “Amor de perdição” (1976-1978), “Francisca” (1980), “Le soulier de satin” (1984-1985), “O meu caso” (1986) e “Os canibais” (1987), a ópera que dedicou ao realizador, que este transpôs para cinema e pela qual recebeu o prémio de melhor banda sonora no Festival Internacional de Sitges, em Espanha.

A 11 de novembro de 2021, segundo o JN/Lusa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apresentou as “mais sinceras condolências” à família do compositor João Paes, que morrera na quarta-feira, e evocou um “amigo de décadas” cuja ausência “faz e fará falta”.

“É já com muita saudade que o Presidente da República, amigo de décadas, cúmplice das tertúlias do São Carlos e de tantas outras iniciativas, evoca o compositor João Paes e apresenta as mais sinceras e sentidas condolências à família”, lia-se num comunicado divulgado no portal da Presidência da República na Internet.

João Paes, na ótica do chefe de Estado, foi uma “figura distinta da cultura musical portuguesa das últimas décadas” e é “um homem muito distinto” e uma “ausência que faz e fará falta”.

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