Filipe de Sousa
Composição
Para além da sua actividade como pianista, a quem se ficaram a dever numerosas primeiras audições em Portugal de obras de Bartók, Hindemith, Stravinsky, Schoenberg, Berg ou Milhaud, e como maestro, Filipe de Sousa dedica-se à investigação e edição do património musical português.
Repartida por vários géneros, a sua produção como compositor confere especial relevância à voz, sendo a poesia a principal inspiração.
A maior parte das suas obras apoia-se numa criteriosa selecção literária (Pessanha, Pessoa, Garcia Lorca, Éluard, Rilke…) e numa especial sensibilidade musical na apreensão do discurso poético, apoiada por texturas pianísticas ou orquestrais bastante elaboradas, e onde se podem também encontrar ecos ou reelaborações do impressionismo e do expressionismo das primeiras décadas do século XX.
O catálogo de Filipe de Sousa vocal inclui obras como Two Negro Poems (1948), Dois Poemas de Cante Jondo (1951), para voz e orquestra, e Três Sonetos Ingleses de Fernando Pessoa (1985), também para voz e piano. Na música instrumental, criou peças como Sinfonietta (1951), Quinteto de Sopros (1957), Caleidoscópio (1981), para violino solo; ou Quatro Hakai (1998), para violoncelo, além das duas sonatinas para piano compostas nos anos 50.
Para além da sua carreira na música, Filipe de Sousa notabilizou-se também como coleccionador de arte e bibliófilo – na sua biblioteca, encontram-se “todas as primeiras edições de obras de Pessoa publicadas em vida do poeta e autografadas por ele”, disse à Lusa o jornalista António Valdemar, amigo do maestro, que acrescentou ter ele também recuperado “todas as obras de António José da Silva, O Judeu, que se encontravam na biblioteca de Vila Viçosa”.
O musicólogo e (então) secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho, lamentou ontem a morte de Filipe de Sousa, considerando-a “uma grande perda para a cultura musical portuguesa”. “Ele conhecia profundamente a história da música portuguesa, e descobriu muitas peças que estavam em risco de se perder”, acrescentou.
Cristina Fernandes, Público, acesso a 15 de março de 2018