Fernanda Peres
Fado
A fadista, aos 10 anos, ficou conhecida como a “miúda do Bairro Alto”, onde viveu e começou a cantar. O estudioso de fado Luís de Castro, fundador da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, que a conheceu, recordou que, quando “era pequena, costumava ir cantar para amigos numa padaria na rua Socorro, na Mouraria, onde ia comprar pão”.
“Fechava-se a porta e ela, ainda miúda, cantava para uma audiência deliciada em a ouvir”, contou.
Em 1951, com 17 anos, venceu o concurso nacional das Jovens Fadistas da ex-Emissora Nacional, passando a fazer parte dos seus quadros, segundo noticiou o jornal Diário Popular de 14 de Março de 1948.
Segundo informação do Museu do Fado, o sonho de Fernanda Peres era o teatro, mas dificuldades de vária ordem obrigam-na à actividade de costureira, até que o actor Humberto Madeira, seu vizinho, a ouviu cantar e a levou ao Centro de Preparação de Artistas da Rádio, então dirigido por Mota Pereira, e, depois de um curso – com duração de uma semana -, cantou na Emissora com enorme êxito junto dos ouvintes, tendo sido apadrinhada pela fadista Ercília Costa.
Numa entrevista ao jornal Voz de Portugal, em Abril de 1956, a fadista recordou que quando começou a cantar, “conhecida como miúda do Bairro Alto”, actuou em várias casas de fado do empresário José Miguel.
A criadora do Fado das lágrimas fez parte dos elencos da Adega Mesquita, de O Faia e do restaurante típico A Severa, entre outras casas.
Em 1952 participou no filme Eram 200 irmãos, de Armando Vieira Pinto, no qual contracenou com Vasco Santana, Ruy de Carvalho e Humberto Madeira, entre outros, tendo interpretado os fados Eu gosto de um marinheiro e Eu gosto de ti, ambos de autoria da dupla José Galhardo e Frederico Valério.
Foi figura regular nos ecrãs da RTP desde as emissões experimentais, em 1956, na Feira Popular, em Lisboa.
Em 1954, segundo informação do Museu do Fado, participou no Festival da Canção Latina, em Génova, com enorme êxito.
A fadista, que gravou a Marcha do Bairro Alto, de Elvira de Freitas, realizou digressões às ex-colónias portuguesas, assim como aos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Em 1967, decidiu abandonar os palcos e, em 1982, a convite da discográfica Riso & Ritmo, gravou um álbum com alguns dos seus êxitos, que mais tarde fez parte da colecção de CD O melhor dos melhores, coordenada pelo produtor Mário Martins, editada pela Movieplay Portuguesa.
Deste álbum, em que foi acompanhada à guitarra portuguesa por Jaime Santos, à viola por Jaime Santos júnior, com direcção de orquestra de Manuel Viegas, interpretou, entre outros, Anda comigo, de João Nobre, Manuel dos Santos, numa homenagem ao matador de touros,Não voltes, Chico do Ribatejo, Há toiros em Vila Franca, Ilusões desfeitas, Marcha de Campolide e Amor selvagem.
Numa entrevista de 1956, a fadista manifestou o desejo de cantar só até aos 40 anos e afirmou que o que mais gostava de cantar era “o fado castiço”, justificando em seguida: “porque é ele que mais vibra na minha alma”.
No dia 27 de Novembro de 2012, recebeu a Medalha Municipal de Mérito, grau ouro.
Lusa, Público, acesso a 06 de novembro de 2017