Ernesto Vieira, foto Eduardo Novais, Lisboa, 1989, Museu Nacional da Música, espólio de Michel'Angelo Lambertini

Ernesto Vieira

Musicógrafo

Musicólogo, professor de música, flautista e compositor, Ernesto Vieira nasceu em Lisboa a 24/05/1848, onde veio a falecer a 26/04/1915.

Filho de gente pobre, praticamente não teve oportunidade de frequentar a escola, que abandonou cedo para trabalhar na oficina de sedas da mãe. Melhorou e aprofundou a sua instrução como autodidata e aos 12 anos entrou no Conservatório que era, então, o único estabelecimento de ensino gratuito. Aí fez o curso de Flauta e Harmonia e ainda estudou piano e oboé. Não demorou a fazer-se notado pelo seu virtuosismo e a ser convidado para tomar parte em várias orquestras.

Também teve sucesso como professor, primeiro, por conta própria, a partir de 1888, na Escola Académica e, depois, na Academia dos Amadores de Musica.

Cultivou um interesse particular pelo ensino de música aos cegos.

Ganhou o reconhecimento dos seus pares e foi convidado a colaborar e/ou dirigir vários jornais e revistas, como a Gazeta Musical (1872-1873), Eco Musical (1873-1874), Amphion (1884-1896), Gazeta Musical de Lisboa (1890-1897), e A Arte Musical.

Em 1901, quando a propriedade de A Arte Musical foi assumida por Lambertini, Ernesto Vieira associou ao cargo editor o de «Redactor principal». A sua assinatura remata, portanto, inúmeros artigos, aos quais haverá a somar muitos outros desprovidos de autoria.

Ernesto Vieira também deixou alguns estudos publicados, o mais conhecido foi, sem dúvida, o Dicionário Biográfico de Músicos Portugueses. O seu Diccionário musical (1890-1899) representa um importante contributo para a fixação de uma terminologia técnico-musical portuguesa no quadro da tradição erudita ocidental.

Deixou composições para flauta, algumas delas com intuito pedagógico.

Como musicólogo, desenvolveu um trabalho pioneiro de consulta sistemática dos fundos da BNP, das bibliotecas de Évora e da Universidade de Coimbra, bem como dos arquivos musicais das sés de Lisboa e Évora, ao mesmo tempo que reuniu uma extensa coleção pessoal de manuscritos e impressos musicais, práticos e teóricos, de autores portuguesas dos séc. XVIII e XIX, ora por compra ora por oferta dos familiares e discípulos dos próprios compositores, e que hoje é parte importante dos fundos musicais da BNP.

Foi o primeiro dos musicólogos portugueses a ultrapassar a mera pesquisa histórica e biobibliográfica, articulando-a com a inventariação e a análise das fontes de música prática.

A ele se deve ainda um dos primeiros esforços de redação de uma síntese sistemática da história da música em Portugal (1908).

Sem a erudição de um Sousa Viterbo ou a cultura musical cosmopolita de um Joaquim de Vasconcelos, e evidenciando mesmo uma visão demasiado centrada da música em Portugal, que o leva com frequência a juízos de valor dificilmente sustentáveis sobre vários dos autores e obras que trata, Ernesto Vieira permanece, contudo, pela preocupação de rigor na fundamentação documental das afirmações factuais que produz, uma referência informativa insubstituível para qualquer estudo da história da música em Portugal.

Ernesto Vieira (1848-1915): um precursor da musicologia portuguesa. Assinalando o centenário da morte do musicólogo, pedagogo, flautista e compositor Ernesto Vieira (1848-1915), a Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) promoveu uma mostra bibliográfica evocativa da sua vida e obra.

Diccionario biographico de musicos portuguezes : historia e bibliographia da musica em Portugal / por Ernesto Vieira. – Lisboa : Lambertini, 1900 (Typographia Mattos Moreira & Pinheiro). – 2 v. : il. ; 24 cm

Ernesto Vieira, foto Eduardo Novais, Lisboa, 1989, Museu Nacional da Música, espólio de Michel’Angelo Lambertini

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