organeiro Nuno Rigaud

NUNO RIGAUD

ENTREVISTA

Como começou a sua descoberta da arte dos sons?

Eu diria que isso me foi posto nos meus genes visto minha Mãe ser pianista e eu desde pequeno ter tido contacto com o mundo musical onde entre outros o Prof. Croner de Vasconcelos, Madalena Sá e Costa, Helena Sá e Costa, Teresa Xavier, Natália Correia (para só nomear nomes portugueses) eram visita em casa de meus Pais.

Nasceu em Braga, cujo conservatório de música foi fundado pela sua mãe, Maria Adelina Caravana. De que modo o meio familiar influenciou as suas opções musicais?

Visto eu e o Conservatório sermos “irmão gémeos” porque temos a mesma Mãe e só três meses de diferença eu vivi desde a minha infância rodeado pela música e isso de certeza que me influenciou.

Qual foi o seu primeiro instrumento? No Conservatório do Porto estudou Canto e Violoncelo, que acabaria por não seguir…

Eu comecei com o violoncelo desde muito cedo e fui aluno da Prof. Madalena Sá e Costa em Braga e mais tarde no Porto da Prof. Isabel Delerue. Em canto comecei, sem falar no tempo em que cantei no coro do Conservatório Regional de Braga, com a Prof. Natália Clara no Porto e fui depois aluno da Prof. Fernanda Correia e do curso superior do Prof. Mário Mateus em Gaia.

Entre 1985-1988, aprendeu organaria na Alsácia, na firma Christian Guerrier. O que o levou a dar esse passo?

Eu conheci a profissão por acaso no Mosteiro de Singeverga aonde me foi pedido para ajudar o Giovanni Ruffatti a desmontar o antigo instrumento que lá havia e dar uma ajuda na montagem do novo. As actividades que tive a oportunidade de fazer nesse tempo entusiasmaram-me e depois de ter sido convidado a aprender organaria na Itália concorri a uma bolsa do ministério da cultura. Visto o convite não ter tido hipóteses de se realizar por parte da Firma Ruffatti procurei em França um lugar de aprendizagem e Christian Guerrier aceitou receber-me como aprendiz.

Em 1990, casou com Waltraud Götz, organista detentora do Diploma A do Curso de Música Litúrgica. Quais são as expectativas realistas de quem termina a licenciatura em Música Sacra, ou Litúrgica, na Alemanha?

Minha esposa tem também o curso de organista de concerto que terminou com a “Meisterklasse” e o curso de pedagogia musical para ensino da música nos liceus oficiais. O diploma A em órgão é o necessário para se ser organista numa catedral, como isso são postos que primam pela raridade e, por assim dizer, há sete cães a tentar roer o osso há sempre poucas hipóteses de ter um lugar desses. Grande parte tem um lugar em que é preciso o diploma B.

Entre 1988 e 2004 trabalhou como organeiro na Georg Jann Orgelbau em Allkoffen. Qual a importância dos Jann na Alemanha e sua influência em Portugal?

Eu comecei em novembro de 1988 a trabalhar na “Georg Jann Orgelbaumeisterbetrieb”. Depois da passagem da empresa de Pai para filho continuei a trabalhar lá até ao ano de 2004. Com a mudança a empresa tomou o nome de “Thomas Jann GmbH” que ainda continua. A Orguian é a Firma que Georg Jann fundou em Portugal.

Desde 2006 tem a sua própria firma de organaria na Alemanha. É mais difícil ser organeiro hoje na Alemanha? Como evoluiram os desafios da organaria alemã nas últimas três décadas?

Nos anos 80 e 90 houve uma grande onda de construção de órgãos novos e assim também muito trabalho. Eu tive assim a oportunidade de ganhar experiência em todas as áreas da organaria. No principio dos anos 2000 houve uma quebra e nesta década estabilizou-se. O mercado que se abriu às empresas alemãs é o mercado asiático. De resto, há sempre muito que fazer com a manutenção, reparação e afinação dos instrumentos.

É diácono permanente numa paróquia. O que o levou a decidir-se por esta missão?

Mais acima já referenciei que conheci a organaria no Mosteiro de Singeverga aonde comecei a procurar a minha vocação. Depois a minha vida levou muitas voltas, mas a razão que tinha levado a ser visita regular do Mosteiro continuava a fazer parte de mim e por isso decidi estudar Teologia e deixar-me ordenar Diácono permanente.

Como concilia a organaria com o serviço à paróquia?

Eu sou Diácono com profissão civil e por isso o meu tempo de trabalho na paróquia é reduzido. Na Alemanha, há o Diácono de profissão (Diakon im Hauptberuf) que trabalha a tempo inteiro na paróquia e o Diácono com profissão civil que trabalha de acordo com as suas possibilidades profissionais. Eu tento equilibrar o meu trabalho de maneira a poder dar o mais possível o meu contributo na paroquia.

As paróquias desempenham ou podem desempenhar um papel importante na orientação vocacional para a Música?

Eu acho que sim. O importante é que a musica e o trabalho musical que é feito nas paróquias seja de qualidade.

Qual foi o primeiro momento em que se lembra de ter tido consciência de que a música era fundamental para si?

Difícil de responder porque a música sempre correu nas minhas veias.

Já fez restauros em Portugal. Quais lhe parecem as maiores dificuldades e vantagens que se colocam hoje aos organeiros em Portugal?

Em Portugal há imenso trabalho de recuperação de material histórico para fazer. Uma grande dificuldade é o facto de o órgão ter caído em esquecimento e desuso e ter que se ter, por assim dizer, começar do princípio a fazer crescer na população o interesse pela música litúrgica e pelo órgão.

Residindo e trabalhando na Alemanha, o que pensa evolução da atividade organística em Portugal nos últimos 30 anos?

Nos últimos 30 anos houve pioneiros não só no ponto de vista da organaria como também do ponto de vista da música sacra e litúrgica que colaboram agora para o desenvolvimento de ambos e para o seu estudo e aprendizagem.

Quais os maiores desafios em que trabalhou como organeiro, na Georg Jann Orgelbau e com a Nuno Rigaud Orgelbau?

Eu tive a oportunidade de sob a alçada do Mestre Organeiro Georg Jann trabalhar em órgãos como o órgão da Sala de concertos da Orquestra Sinfónica de Bamberg (IV/74), no órgão de coro (III/36) e órgão principal (IV/107) da catedral de Munique e também no órgão da Igreja da Lapa no Porto (IV/64). A Nuno Rigaud Orgelbau tem restaurado vários órgãos em Portugal o que é por vezes um grande desafio visto estes instrumentos se encontrarem muitas vezes em muito mau estado de conservação.

O que é a música para a sua vida?

A música é a minha vida.

Em três adjetivos, como se caracteriza a si mesmo?

Eu não gosto de me caracterizar a mim próprio.

11 de julho de 2017

Partilhe
Share on facebook
Facebook