barítono José de Freitas

JOSÉ DE FREITAS

José de Freitas, de nome completo José Cirilo de Freitas Silva, nasceu na Madeira e foi padre da Congregação da Missão (Padres Vicentinos). Já depois de padre, estudou nos conservatórios do Porto e de Lisboa, onde concluiu o Curso Superior de Canto com excelente classificação. Em 1978 tornou-se artista residente do Teatro Nacional de São Carlos onde se estreou com Schaunard em La Bohème. Foi intérprete de importantes papéis de barítono e de baixo-barítono em Portugal e no estrangeiro. Foi também diretor de coros e compositor de cânticos litúrgicos.

ENTREVISTA

Qual foi o primeiro momento em que se lembra de ter tido consciência de que a música era importante para si?

O primeiro momento?! Preferiria falar de uma pequena série de momentos… Concretizando: No meu 5º ano do seminário (hoje 9º ano), cerca dos 16 anos, quando a chamada “mudança de voz” era já algo acentuada, o meu ilustre professor de música, Padre António Ferreira Telles, poucos dias após ter-me convidado para tocar harmónio em algumas cerimónias litúrgicas (ele era o harmonista oficial, obviamente) e pedir-me para, alternadamente com outro colega, iniciar os cânticos na liturgia (o equivalente a solista), veio falar comigo na véspera da festa do Padroeiro do seminário (S. José), e disse-me: “Confio muito em ti para “segurares” a 4ª voz na missa solene de amanhã.” Ora aí tem um “puzzle” com bastante significado na minha “consciência musical” de jovem seminarista…

Quais os professores que mais o influenciaram no tempo de seminário?

Vou referir-me apenas a professores de música, obviamente. Desde os primeiros anos, tive uma veneração especial por um ilustre mestre, muito “sui generis”, mas muito competente e sabedor: o Padre António Ferreira Telles, a que atrás aludi. Era excelente harmonista, compositor, ótimo harmonizador. O Pe. Fernando da Cunha Carvalho, felizmente ainda entre nós, também teve influência na minha orientação musical, e não só. Mas vou salientar, sem querer ser injusto para os atrás citados e porventura outros, o Pe. João Dias de Azevedo, que muito me ajudou sobretudo no harmónio e no órgão, no Seminário de Mafra, onde fiz o meu noviciado (1954-1956). Nesse período, cheguei a tocar órgão em algumas celebrações dominicais e festas na Basílica de Mafra… E, para completar os anos do seminário, não poderei omitir o Pe. Fernando Pinto dos Reis (1929-2010).

Depois de ir para o seminário e de ser padre, quando é que se apercebeu de que cantar era o mais importante na sua vida profissional?

Como disse, cedo me iniciei e fui crescendo na função de solista. Continuei-a ao longo de todo o curso, alternando-a com o múnus de harmonista. Terminado o curso, fui incumbido da disciplina de Música (além de outras), no seminário menor. O concílio do Vaticano II acabava de privilegiar o vernáculo na liturgia. Iniciei a renovação de todo o repertório vigente. Eu próprio dei largas a uma velha paixão e iniciei a composição de cânticos em português, incluindo o “ordinário” e o “próprio” da missa para determinadas solenidades, além de outros cânticos circunstanciais. Aconselhado por não poucos, matriculei-me no Conservatório do Porto. Canto? Composição? Duas paixões. Muito incitado e encorajado pela professora D. Isabel Mallaguerra, decidi-me mais seriamente pelo canto, sem descurar a composição musical.

Após o curso geral de canto no Conservatório do Porto, vim a concluir o Curso Superior no Conservatório Nacional com a professora D. Helena Pina Manique. Com o programa do exame do curso superior concluído com alta classificação, fui convidado para vários recitais em Lisboa e não só. Iniciei logo de seguida o curso de ópera com o professor Álvaro Benamor e D. Helena Pina Manique. Fui admitido no Coro Gulbenkian, onde estive durante alguns meses até seguir para Paris com uma bolsa de estudos.

O diretor do Teatro Nacional de São Carlos, Eng. João Paes, que já me ouvira no Conservatório, convidou-me para, temporariamente, interromper o estágio em Paris e vir a Lisboa preparar o desempenho de um importante papel numa ópera portuguesa. Bem sucedido, pediu-me para, após o estágio parisiense, seguir para Florença, afim de preparar, com o famoso Gino Bechi, o importantíssimo papel de primeiro barítono (Lord Enrico d’Ashthon) da ópera Lucia di Lamermoor, de Donizetti. Cantei esse papel em novembro de 1977, no Teatro Rivoli (Porto)…

Toda esta “bola de neve” a partir da conclusão do curso superior de canto em 1974, todo o incrível desencadear de situações até finais de 1977, todo o ano de 1977 sobretudo, tudo isso responde à sua pergunta… Parafraseando, em contraste, um fadista, diria: “Ser cantor não foi meu sonho, mas cantar foi o meu fado…”

Dos anos em que estudou Música e Canto, que professores tiveram uma influência mais decisiva?

Nos conservatórios do Porto e de Lisboa, tive a felicidade de ser orientado respetivamente pelas professoras D. Isabel Mallaguerra e D. Helena Pina Manique, e ainda, por algum tempo, pela D. Arminda Correia, sem esquecer o Prof. Álvaro Benamor (cena).

Em Paris, como olvidar o trabalho com a famoso baixo Huc-Santana e o não menos célebre barítono Gabriel Bacquier? Em Itália, e aqui em Portugal, Gino Bechi foi simplesmente precioso no trabalho vocal e cénico. Este famoso barítono, que também me honrava com a sua amizade, cantou nos anos 40, em todos os grandes palcos do mundo. A sua famosa “entrega” aos espetáculos e nos espetáculos, quer cenicamente mas sobretudo vocalmente, levou-o a tal desgaste que teve de terminar a sua carreira por volta dos 40 anos, precisamente com a idade com que eu comecei…

Foi difícil deixar de ser padre e optar pela carreira musical?

Quando, em finais dos anos 60, me matriculei no Conservatório do Porto, confesso que o meu sonho era dar uma componente artística à minha missão de padre.

Começaram a surgir, porém, situações que não deixaram de me ir perturbando. Alguma confusão começou a instalar-se nos meus horizontes… Estávamos em pleno pós-74… Sobretudo a partir de 1977, comecei a sentir-me ultrapassado pelos acontecimentos. Tinham de ser tomadas decisões… Não podia viver na ambiguidade!… Houve muitas dúvidas, muitas incertezas… O meu Padre Provincial de então propôs-me fazer as duas coisas: padre e cantor… Tudo se desenrolava vertiginosamente… Eram convites para concertos, para óperas, etc.
Cheguei mesmo a atuar durante não pouco tempo, estando ainda no exercício do ministério… Fui chegando à conclusão de que as duas funções não faziam grande sentido… Em finais de 1978, acabei por tomar a decisão: pedi para Roma a dispensa do exercício das ordens. Não tive resposta fácil. Demorou mais de dois anos. Pelo meio, um apelo a que repensasse…

Qual foi o papel da Igreja na sua vida musical?

Primeiramente, como é obvio, penso em todo o curso do seminário. Para além de todos os aspetos da formação, a música da Igreja, o canto gregoriano, ocupou uma grande parte desse período, quer na teoria, quer na prática. O nosso Cantuale, um livro específico da Congregação da Missão com os mais belos cânticos gregorianos e muitos outros, a uma ou mais vozes, dominou grande parte desses anos, as nossas vozes e as nossas almas.

No seminário Maior, durante o curso de filosofia e teologia, para além das mais belas obras de polifonia sacra, cantávamos, todos os domingos e festas, o “comum” e o “próprio” em gregoriano, de acordo com o emblemático Liber Usualis, a mais completa obra do canto da Igreja. Tudo isto, naturalmente acompanhada da parte teórica, marca indelevelmente a minha personalidade e a minha formação musical. E não esqueço que quase sempre, alternadamente, fui organista e solista…

Após a ordenação, seguiram-se anos dominados pelo Concílio do Vaticano II, com uma série extraordinária de documentos sobre a música e a liturgia em vernáculo,com o aparecimento de excelentes compositores. E foram sempre surgindo, com os diversos papas, importantes documentos sobre a música litúrgica. Não posso esquecer os “famosos” cursos gregorianos de Fátima que frequentei.

Durante os anos 1977-1995, em que a vida artística teve o seu lado prioritário, nunca deixei de estar atento aos documentos da Igreja sobre música sacra e à obra de excelentes compositores que temos.

A partir de 1997, já no pós – S. Carlos, a pedido do meu grande amigo Conégo José Serrasina que acabava de ficar à frente da Paróquia dos Anjos, em Lisboa– a minha paróquia -, comecei a orientar o coro paroquial, tomando a peito a renovação dos cânticos e a dinamização litúrgica. Baseava-me sempre nos textos de cada celebração. Após 5 anos de intenso e profícuo trabalho, abracei outro projeto – na Capela do Palácio da Bemposta (Academia Militar), onde colaborei durante 13 anos (2003 – 2016). Durante este período, compus dezenas de cânticos que vieram a ser publicados pela Academia Militar, em 2012, num volume com o título Deus é Amor. Porque o “contexto” de então era “específico”, o referido volume irá “sofrer” brevemente substancial alteração.

Qual foi a maior deceção na sua vida?

Se me permite, não apresentaria uma mas duas deceções, e ambas no âmbito do mundo lírico. A primeira, logo de início. Tinha feito 40 anos. Eram diferentes, agora, o sonho e o ideal. Imaginava que perante mim, ia surgir um meio pleno de elevação, um ambiente superior, de arte, de cultura, etc. Cedo, porém, fui verificando e concluindo que as cores que sonhara belas, não, não o eram assim tanto… A realidade era bastante mais prosaica… Bem!… Respirei fundo, bem fundo, passe a expressão… E, vamos a isso!… Mas vamos mesmo! O desafio que ora iniciava era para ganhar, era mesmo para vencer!… E foi! Não tive o caminho atapetado de rosas, longe disso, muito longe! Foram necessárias uma fibra excecionalmente forte como considero ter, uma fé inabalável em Deus como efetivamente tenho, e também, obviamente, uma grande confiança nos talentos que Deus me deu, aliados à formação que tive (não poderei esquecê-lo!) E…aí vou eu!… E nem tudo foram espinhos, digamos em abono da verdade. Tive um público que me admirava e apoiava bastante, excelentes e excecionais críticas, outras nem tanto… E, entre um pessoal que rodava as três centenas (coro, orquestra, cantores, técnicos, etc), tive não poucos amigos e admiradores! Não esqueço que, logo no começo, nos primeiros ensaios, vi lágrimas nos olhos de algum do pessoal, ao verem a minha entrada enérgica, decidida, confiante, e pensando no “mundo” donde acabava de chegar… aos 40 anos!…

A segunda deceção foi no fim. Em finais de 92, a SEC, tendo à frente o Dr. Pedro Santana Lopes, achou por bem dissolver a Companhia Portuguesa de Ópera (cantores, orquestra, etc). Éramos 14 os cantores principais. Mesmo tendo em conta que eu continuava a cantar no país e não só, esta foi sem dúvida uma grande deceção. Aos 55 anos, encontrava-me no ponto mais alto da carreira, a nível vocal e cénico, na minha opinião e na de quantos me conheciam e ouviam! Esperava estar “em grande” mais uma boa dezena de anos… Lembrei-me então das palavras de Gino Bechi, quando, certo dia, nos anos 80, após fazer as célebres e espetaculares demonstrações, vocais e cénicas, durante um ensaio, e quando já contava perto dos 80 anos, teve este desabafo: “Agora é que eu sei cantar!”

Pois é!… Parafraseando o meu mestre, diria: “Agora… é que eu sabia cantar!…”

Qual foi o momento mais alto da carreira como cantor lírico?

Desempenhei os mais diversos papéis de 1º barítono, de baixo-barítono, papéis característicos, enfim, foram cerca de 50… Nunca tive um fracasso nos meus desempenhos. Pelo contrário! Escolher o momento mais alto?!… É difícil!… Estou a lembrar-me de não poucos… Do “Le Grand-Prêtre de Dagom” da ópera Samson et Dalila, de Saint-Saëns, em 1983. Quis preparar o papel em Lyon com o meu ex-professor de Paris, o grande barítono Gabriel Bacquier. Estou a recordar-me do “Dulcamara” da ópera L’Elisir d’Amore, de Donizetti, em 1984 e 1985… Do “Rocco”, da ópera Fidelio de Beethoven… Enfim, não vou alongar-me na citação de outras boas e belas hipóteses…

Mas vou escolher como momento mais alto uma ópera fora do estilo clássico: a ópera Kiú, do compositor espanhol Luís de Pablo, levada à cena em 1987 no Teatro Nacional de São Carlos. O meu papel de Babinshy, o pivô da ópera, na sua grande espetacularidade e dificuldade vocal e cénica, foi na verdade um momento muito alto na minha carreira! Não foi por acaso que o próprio compositor Luís de Pablo e o maestro Jesús Ramón Encimar me convidaram, 5 anos depois (dezembro de 1992 – janeiro de 1993), para interpretar em Madrid o mesmo papel!…

Quais foram os cantores líricos mundiais que mais o inspiraram?

Estavam na moda, nos anos 60, cantores líricos que deveras nos entusiasmavam. Lembro-me, por exemplo, de Mário Lanza, de Luís Mariano, de Alfredo Krauss que vim a conhecer em São Carlos, e com o qual contracenei, inicialmente, num ou noutro pequeno papel. E vários outros, quase todos tenores. O meu tipo de voz é de barítono ou de baixo-barítono. Mas foi sobretudo a partir do Curso Superior de Canto que comecei a interessar-me por vozes líricas, o que é absolutamente natural. Dado o meu tipo de voz, cerca de cinco ou seis cantores internacionais dominavam particularmente os meus gostos. Comecemos pelos alemães Dietrich Fischer-Dieskau e Hermann Prey, barítonos. O primeiro, absolutamente excecional em lied, tendo cantado praticamente tudo o que havia nesse domínio. Muitos o consideraram o maior músico do século XX. Foi inclusivamente maestro de música sacra. Ouvi-o ao vivo em Paris. Hermann Prey era superior como ator. As suas interpretações em óperas de Mozart, Rossini, Donizetti ficaram memoráveis. Outros dois barítonos ou baixo-barítonos, Fernando Corena e Rolando Panerai, eram também grandes cantores e atores, mais característicos que os anteriores. Outro barítono que, vocalmente (não cenicamente) me enchia as medidas, era Piero Cappuccilli. Era um barítono a que eu chamaria heróico-dramático, com uma incrível potência de voz. Jamais esquecerei o seu desempenho em Simon Boccanegra de Verdi, no São Carlos…

Poderia obviamente alongar-me, no que às vozes masculinas diz respeito. Mas também não posso deixar de me referir a vozes femininas que, além de nós deixarem siderados, tanto nos ensinaram! Antes de mais, Maria Callas!… Depois, uma Victoria de los Angeles que cheguei a ouvir na Gulbenkian. Fiorenza Cossotto, Mirella Freni, Christa LudwigMonserrat Caballé que ouvi em Paris dirigida por Leonard Bernstein… Uma Joan Sutherland, La Stupenda, a tal que cantou a Traviata no Coliseu na famosa noite de 24 para 25 de abril de 1974, com o já citado Alfredo Kraus… E eu estava lá!…

Quais os músicos portugueses mais influentes na sua carreira?

Por músicos, entendo compositores, professores, pianistas, ensaiadores, “pontos”, cantores, e, porque não, críticos… Antes de mais, as minhas duas professoras nos conservatórios do Porto e de Lisboa, respetivamente: Isabel Malaguerra e Helena Pina Manique. A professora D. Arminda Correia fez de forma extraordinária a breve transição entre uma e outra. Álvaro Benamor, na classe de ópera. A pianista Maria Helena Matos que me acompanhou com enorme competência desde o Conservatório Nacional, incluindo o exame final, e praticamente em todos os recitais que fui dando ao longo da carreira. O maestro Armando Vidal, músico de gema, com o qual preparei, como a generalidade dos artistas, quase todos os papéis que tinha a desempenhar nas dezenas de óperas em que fui interveniente. Entre os maestros – “pontos” – , não esquecerei o maestro Pasquali que tão competentemente orientou, durante os primeiros tempos, as nossas intervenções em palco, e o maestro Ascenso de Siqueira, grande e bom amigo e incrível ser humano… Tive a felicidade de trabalhar com encenadores como António Manuel Couto Viana, que me honrava com a sua amizade, Carlos Avillez (em várias óperas), Luís Miguel Cintra, João Lourenço

Cantores? Álvaro Malta, Hugo Casaes, Elizette Bayan, Armando Guerreiro, e outros… Lembro-me ainda de preciosas “dicas” que me deu Álvaro Malta

Compositores? Antes de mais, o Prof. Cândido Lima. Conheci-o em Paris. Conversávamos muito. Não esqueço o dia em que ele me apresentou ao seu amigo Iannis Xenakis… Fomos juntos a vários concertos. Preparei, com ele ao piano, algumas obras suas para canto. Foi meu pianista num concurso de canto em que fui premiado… Tudo isto em Paris, em 1977.

Com o grande compositor Fernando Lopes-Graça, tive a honra de preparar um importante papel de solista na sua obra As Sete Predicações d’Os Lusíadas, em vista à estreia mundial da mesma no VI Festival da Costa do Estoril (1980).
Joly Braga Santos honrava-me com a sua amizade e admiração. Com ele ensaiei o papel de solista na sua Cantata Das Sombras, sobre texto de Teixeira de Pascoaes, para primeira audição mundial no Teatro de S. Luís, a 27 de julho de 1985, com o Coro Gulbenkian, e enquadrada no XI Festival de Música da Costa do Estoril. De Joly Braga Santos nunca poderei esquecer as suas palavras, em pleno palco, no fim da última récita da sua Trilogia das Barcas, em maio de 1988: “Estou a compor uma ópera, para a Expo de Sevilha (daí a 4 anos), baseada numa obra de Frederico Garcia Llorca, Bodas de Sangue e tenho um muito bom papel para si”. Entretanto, o maestro falecia 2 meses depois, a 18 de julho de 1988, o que constituíu uma grande perda para o País, para a cultura portuguesa.

Quanto a críticos, devo dizer que, entre outros, Francine Benoit, João de Freitas Branco, José Blanc de Portugal muito me encorajaram e elogiaram!

E hoje, o que acha da evolução da ópera em Portugal?

Francamente, tenho dificuldade em responder. Há cerca de vinte e cinco anos, após a extinção da Companhia Portuguesa de Ópera e de ter dado como terminada a minha carreira lírica, abracei outro projeto e alheei-me bastante desse tema. Sei que, sobretudo por razões orçamentais, a programação se ressente, e muito. Tudo parece ser diferente. Repito: não tenho dados que me permitam fazer qualquer juízo de valor…

O que pensa do papel da música na Igreja?

Desde o Seminário Maior, fui lendo atentamente, e mais que uma vez, os documentos papais que surgiram desde o princípio do século XX:
o Motu próprio de São Pio X (1903) sobre a Restauração da Música Sacra;
a Constituição Apostólica Divini Cultus (1928) no pontificado de Pio XI, sobre a liturgia e a música sacra; a Encíclica Musicae Sacrae Disciplina (1953), do Papa Pio XII, sobre a Música Sacra, vocal e instrumental.

Logo após o Concílio do Vaticano II, surge a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (1963), a realçar que “a acção litúrgica reveste maior nobreza quando é celebrada com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação ativa do povo”. E quando fala de canto, obviamente que se refere ao canto sagrado intimamente unido com o texto. E se o canto gregoriano ocupa sempre um lugar privilegiado em igualdade de circunstâncias, não são excluídos os outros géneros de música sacra mormente a Polifonia, desde que em harmonia com o espírito da ação litúrgica, e de acordo com os diversos tempos litúrgicos, com as diversas celebrações e os vários momentos da celebração. Compositores, organistas, mestres de coro, cantores, músicos (instrumentistas) devem formar um todo para o esplendor do canto.

Alguns anos após o Concílio, a famosa Instrução Musicam Sacram (1967), da Sagrada Congregação dos Ritos, é a síntese, diria perfeita, do que à Música Sacra diz respeito, desde o canto na celebração da missa, passando pela preparação de melodias para os textos em vernáculo, depois a música para instrumental, o Canto no Ofício, etc etc.

O assunto levar-nos-ia ainda a três ou quatro intervenções de São João Paulo II, a uma célebre conferência do Cardeal Ratzinger (mais tarde Papa Bento XVI) em 1985, a uma Nota Pastoral dos nossos bispos por ocasião do Ano Europeu da Música (em novembro de 1985).

E o nosso Papa Francisco, por mais de uma vez, tem insistido que a Música Sacra e Canto Litúrgico devem estar plenamente inculturados nas linguagens artísticas atuais.

Quais os compositores que mais ouve e, desses, que obras prefere?

J.S. Bach é incontornável. Oiço com frequência, por exemplo, a Cantata do Café, cuja ária Hat man nicht mit seinen kindern fez parte do programa do meu exame do Curso Superior de Canto de Concerto, e foi uma das provas de acesso ao Coro Gulbenkian, em novembro de 1974; a Missa em Si m, cujas árias de baixo cantei; e a Paixão Segundo S. João, em que interpretei o papel de Jesus, no Porto, em abril de 1977, quando ainda estagiava em Paris…
Haëndel (O Messias, e Música Aquática); Beethoven (Sinfonias 3, 6 e 9) e a ópera Fidelio, cujo papel de Rocco desempenhei em junho de 1986; Mozart (o Requiem que, enquanto membro do Coro Gulbenkian, cantei no Coliseu em 1975, com gravação para a Erato; a Sinfonia nº 40, etc etc); Haydn (A criação, a Missa de Santa Cecília e a Sinfonia Concertante); Bizet (Carmen); Bramhs (Um Requiem Alemão);Rossini (Stabat Mater); Tchaickowsky (Romeu e Julieta e Francesa da Rimini; Dvorak (Sinfonia nº 9, O Novo mundo); Ravel (Bolero); Rodrigo (Concerto de Aranjuez); Strauss (valsas); Elgar (Concerto para violoncelo).

E muito, muito mais, obviamente.

O que o levou a colecionar livros e discos?

Certamente, e de uma forma geral, o meu gosto pela música, a ligação à Igreja, o meu profissionalismo, a cultura. É claro que tudo se desenrola de acordo com as diversas etapas da vida:

a minha função de professor de Música (além de outras disciplinas) no seminário menor, após a minha formação, e o começo dos meus estudos no Conservatório;

a minha transição para a vida pastoral, durante 3 anos;

a minha ida para Lisboa para concluir o curso Superior, do Conservatório, e a minha curta passagem pela Fundação Gulbenkian;

o meu estágio de dois anos em Paris, concluído com 2 meses em Itália;

o começo e a continuação da minha carreira lírica no Teatro Nacional de São Carlos;

os 3 anos pós-São Carlos em que continuei a minha carreira;

o abraçar de novo projeto: “trabalhar” um coro inserido numa missão pastoral na Paróquia dos Anjos (Lisboa), a minha Paróquia, a partir de 1997 e, posteriormente, de 2003 a 2016, na capela do Palácio da Bemposta (Academia Militar);

e porque não dizê-lo, as minhas viagens de automóvel, algumas longas, nos anos 70 e daí para cá, para já não falar da minha própria casa…

Como vê, são muitas as etapas e as circunstâncias em que procurei estar sempre em dia e dentro das exigências das mesmas. Livros, discos, cassetes, CDs, DVDs eram verdadeiros instrumentos de trabalho, de cultura, de ocupação, de prazer…

Julgo ter sintetizado as razões da minha importante biblioteca e discoteca, das quais progressivamente e criteriosamente, me vou voluntariamente desfazendo.

Antes da sua formação académica no conservatório, que lugar tinha a música erudita no seu papel de formador no seminário?

Além de renovar completamente o repertório de cânticos religiosos que vinha de há longos anos (o que supunha rodear-me de bom material), comecei a interessar-me por vozes maravilhosas que os discos faziam chegar até nós (Mario Lanza, Luis Mariano, Alfredo Krauss etc, e por orquestras excecionais que nos traziam as mais belas melodias clássicas, canções famosas, música de filmes históricos…

Tive sempre a preocupação de partilhar com os meus jovens alunos algum desse maravilhoso mundo musical… Era importante para a educação da sua sensibilidade, dos seus gostos, da sua cultura.

Lembro-me, e muitos ex-alunos (quer do seminário, quer do ensino público) se recordarão de ter dado a ouvir, entre outras obras, uma pequena peça do compositor russo Alexander Borodine. Tratava-se de Nas estepes da Ásia Central. Era a caravana que surgia ao longe, a marcha dos camelos, a intensidade instrumental que “subia” a anunciar a chegada da caravana, a permanência no terreno, o retomar da marcha, os sons que se iam extinguido… até a caravana se perder de vista!… Era tudo tão belo, tão claro! Apaixonante!… O interesse era enorme. Os alunos começavam a compreender que a música tem um sentido, um conteúdo, uma intenção, uma finalidade, uma expressão!
O mesmo sucedeu com outras obras, como o Hino da Alegria, da IX Sinfonia de Beethoven! Etc etc.

Mas adverti-os sempre para que nada disto desviasse a atenção do essencial da sua formação!…

Em três palavras como se caracteriza a si mesmo?

Persistente! Perfecionista! Brioso!

Lisboa, 19 de março de 2018

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JOSÉ DE FREITAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL

Um barítono que é crítico de si próprio

Correio da Manhã, 28 de abril de 1986

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De padre a cantor principal de ópera no Teatro São Carlos

Diário de Notícias do Funchal, 11 de maio de 1986

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José de Freitas: de padre a cantor

Correio da Manhã, 02 de agosto de 1987

Candidatura de “Canto a vozes” a Património da UNESCO

A Associação Canto a Vozes-Fala de Mulheres candidata, este mês, esta expressão artística à classificação, pela UNESCO, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, foi divulgado pela instituição que junta 30 grupos de Viseu até ao Alto Minho. – informou a agência Lusa. A inscrição da candidatura no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial dá início ao processo de classificação, formalmente iniciado em março de 2020, num encontro que juntou, no Teatro Sá de Miranda, em Viana do Castelo, mais de 300 pessoas que decidiram constituir a associação Canto a Vozes-Fala de Mulheres. Existem diferentes designações locais para o canto da polifonia tradicional: cramol, terno, lote, cantada, cantedo, cantarola, moda ou cantiga. [ 21 de abril de 2020 ]

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Meloteca, recursos musicais criativos para crianças, professores e educadores

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AuRora, de Gisela João

Lançado a 9 de abril de 2021, AuRora, o novo álbum de Gisela João, entrou diretamente para o primeiro lugar do Top Nacional de Vendas. Disponível em todas as plataformas digitais e lojas físicas, a edição tem a chancela da Sons Em Trânsito e a distribuição está a cargo da Universal. Sucessor de “Nua” (2016) e “Gisela João” (2013), AuRora é o primeiro álbum de Gisela João a apresentar essencialmente canções originais e é também o disco em que a artista se estreia como letrista e compositora, assinando ainda a produção em parceria com Michael League, dos premiados Snarky Puppy, e Nic Hard. E canta não apenas como esperamos que cante mas para lá de tudo o que lhe ouvimos cantar até hoje. “Louca”, “Já Não Choro Por Ti” e “Canção Ao Coração”, os três singles de AuRora, cujos vídeos oficiais filmados em São Paulo foram divulgados por essa ordem, formam uma curta metragem quando vistos na devida sequência. Em AuRora nada foi deixado ao acaso. Gravado entre Almada e Barcelona, o lançamento de AuRora coincide com os dias mais luminosos que temos vivido e que nos enchem de esperança, após um ano de pandemia. 5 anos volvidos sobre o último álbum, a voz e o timbre absolutamente singulares de Gisela João, no melhor e mais ambicioso álbum da sua discografia, consagram-na definitivamente como uma das mais importantes intérpretes da história da música portuguesa.

AuRora, de Gisela João

AuRora, de Gisela João

Luna Bar

“Luna Bar” é o single do novo álbum da Jacinta & Antonio Bastos. A ideia deste álbum surgiu aquando do mais recente confinamento, com o intuito de fazer parte de uma campanha de crowdfunding em favor da União Audiovisual. [ 9 de abril de 2021 ]

Luna Bar é o single do novo álbum da Jacinta & Antonio Bastos

Luna Bar, single do novo álbum da Jacinta & Antonio Bastos

Morreu o músico Júlio Costa

A 12 de março de 2021, morreu aos 85 anos o músico Júlio Costa, do Trio Odemira, cinco dias depois do seu irmão Carlos. Desaparecem assim os elementos fundadores de um dos mais longevos e profícuos grupos da história da música portuguesa.

Morreu Carlos Costa

No dia 7 de março de 2021 morreu aos 93 anos o músico Carlos Costa, do conhecido grupo Trio Odemira. O Trio Odemira era composto por Carlos Costa, Júlio Costa e Mingo Rangel e contava mais de 60 anos de carreira, tendo sido formado em 1958 e obtido sucesso com temas como “Ana Maria” e “Anel de Noivado”.

Morreu Sara Carreira

A 05 de dezembro de 2020 morreu a cantora Sara Carreira, de 21 anos, filha do popular músico Tony Carreira, na sequência de um acidente de viação ocorrido na A1, perto de Santarém.

Sara Carreira, cantora (1999-2020)

Sara Carreira, cantora (1999-2020)

Morreu Cruzeiro Seixas

A 08 de novembro de 2020 morreu o poeta e artista plástico Cruzeiro Seixas (Amadora, 3 de dezembro de 1920 – Lisboa, 8 de novembro de 2020). Do seu extraordinário legado, fazem parte os cenários de O Lago dos Cisnes, com coreografia de Armando Jorge, estreado pela Companhia Nacional de Bailado, em 1986.

Morreu o Padre Manuel Pires de Bastos

A 08 de novembro de 2020 morreu Manuel Pires Bastos, padre, professor, jornalista, historiador, poeta, escritor, compositor, músico. Com uma sede insaciável de conhecimento, o Padre Bastos foi o responsável por um dos maiores registos da história de Loureiro, Oliveira de Azeméis, o livro “Banda de Música de Loureiro – Uma Banda Centenária”.

Dia Mundial da Ópera

25 de outubro é o Dia Mundial da Ópera. Em 2020 ocorreu primeira comemoração internacional para homenagear este género que já possui 400 anos de história. A iniciativa foi organizada pelas associações de teatros OPERA America, Opera Europa e Ópera Latinoamérica, somando-se também organizações como UNESCO e Instituto Internacional del Teatro (IIT). A comemoração no dia 25 de outubro esteve vinculada a uma campanha que tem a participação de teatros de todo o mundo, na qual todos difundem ações e programas dedicados a dar notoriedade à contribuição da ópera para as artes, sob o lema Dia Mundial da Ópera.

Luís Cipriano premiado

Luís Cipriano venceu o Prémio de Mérito/Música 2020 da Fundação INATEL cuja cerimónia teve lugar no Teatro da Trindade, em Lisboa. Na altura da distinção, Luis Cipriano frisou que o sucesso individual só surge depois do coletivo agradecendo à família, ao Coro Misto da Beira Interior, ACBI, colegas da Escola Serra da Gardunha e aos seus alunos. [ 13 de outubro de 2020 ]

Morreu Tony Lemos

A 13 de outubro de 2020 morreu António Fernando de Sousa Lemos, mais conhecido no meio musical como Tony Lemos. Teclista e vocalista, Tony Lemos era irmão de Filipa Sousa, a vocalista dos Santamaria, com quem geria os sucessos desde 1998.

Tony Lemos, produtor e teclista dos Santa Maria

Tony Lemos, produtor e teclista dos Santa Maria

11 de outubro de 2020

O Prémio Especial da Fundação Isang Yun reconheceu, em 2020, a obra do maestro venezuelano José Antonio Abreu (1939-2018), fundador do El Sistema. [ 11 de outubro de 2020 ]

Órgão da comunidade de Compostela

A 10 de outubro de 2020, a comunidade de Compostela (um dos locais de culto católico de Foz do Sousa, Gondomar) inaugurou o seu novo órgão de tubos Emil Hammer, com bênção presidida por Dom Armando Esteves Domingues, bispo auxiliar do Porto, e concerto inaugural no mesmo dia com o organista Daniel Ribeiro e a soprano Sofia Pinto, conterrânea. [ 10

David Seixas assina contrato com editora

David Seixas assinou contrato com a editora discográfica internacional Orpheus Classical que vai trabalhar no seu primeiro álbum solo digital disponível em todas as plataformas digitais principais (Spotify, Itunes, Amazon Music, Google Play, Deezer, Tidal, 7Digital, Yandex). [ 06 de outubro de 2020 ]

Morreu Jorge Salavisa

A 28 de setembro de 2020 morreu o coreógrafo Jorge Salavisa.

Fonoteca Municipal em Campanhã

Música, sons e palavra em mais de 35 mil discos de vinil: abriu a Fonoteca Municipal em Campanhã. [ 27 de setembro de 2020 ]

Remix Solistas em Foco

Para celebrar o 20º aniversário do Remix Ensemble Casa da Música, a CdM estreou “Remix Solistas em Foco”, uma série de pequenos filmes que oferece um vislumbre da vida musical e das inspirações dos elementos que compõem este agrupamento residente. [ 27 de setembro de 2020 ]

Documentário sobre os órgãos dos Clérigos

Enquadrado nas Jornadas Europeias do Património 2020, foi lançado a 26 de setembro de 2020 um documentário sobre os órgãos de tubos da Igreja dos Clérigos.

Espólio Luiz Costa

No dia em que se comemoram 141 anos do nascimento do compositor Luiz Costa, a Casa da Música lançou um novo sítio inteiramente dedicado ao seu espólio musical, em grande parte inédito. A alma lírica e bucólica de Luiz Costa atravessa um repertório de quase 180 composições, abrangendo peças para piano, voz e piano, música de câmara, orquestra e outras. A catalogação da obra foi realizada pela musicóloga Christine Wassermann Beirão, curadora do espólio juntamente com Henrique Gomes de Araújo e Helena Costa Araújo.” (Casa da Música, 25 de setembro de 2020)

Joel Pina homenageado

A 24 de setembro de 2020, Joel Pina, nascido há 100 anos, em 1920, que acompanhou Amália durante quase 30 anos, foi homenageado no S. Luís Teatro Municipal, em Lisboa. Na homenagem participaram cerca de 30 fadistas, de diversas gerações, das muitas que o músico acompanhou em palco ao longo dos anos.

Renata Oliveira vice-presidente da EAWBC

Renata Oliveira é vice-presidente da European Association of Women Band Conductors. [ 21 de setembro de 2020 ]

Método de adufe

O portal da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova noticiou que “A Filarmónica Idanhense desenvolveu um novo método intuitivo para ensinar crianças e jovens a tocar adufe, que tem como base 12 cantigas do concelho de Idanha-a-Nova.” [ 14 de setembro de 2020 ]

Setenta Voltas ao Sol

A 12 de setembro de 2020, Jorge Palma apresentou “Setenta Voltas ao Sol” num espetáculo com Cristina Branco e orquestra de câmara, com arranjos de Filipe Melo e Filipe Raposo.

Maria João Pires

Segundo a “Visão”, a 08 de setembro de 2020, a editora Deutsche Grammophon reuniu os 38 álbuns gravados pela pianista Maria João Pires, para o seu catálogo, desde há 30 anos, e publica-os este mês, numa só caixa, segundo o plano de novidades da editora.

Dia Nacional das Bandas Filarmónicas

A 01 de setembro de 2020 comemora-se o Dia Nacional das Bandas Filarmónicas.

Órgão da Igreja Paroquial de Paço de Arcos

A 30 de agosto de 2020 foi inaugurado o órgão de tubos da Igreja Paroquial de Paço de Arcos, órgão holandês da firma Flentrop montado pela Oficina e Escola de Organaria.

CD Cupertinos

A 28 de agosto de 2020 foi apresentado o CD Cupertinos pela Hyperion Records, Duarte Lobo, Masses, Responsories & Motets, o segundo trabalho do grupo Cupertinos.

Morreu o Ten-coronel e maestro Francisco Ferreira da Silva

Em 22 de agosto de 2020, morreu o maestro Ten-Coronel Francisco Ferreira da Silva, ilustre oureense, que foi músico, maestro e amigo da Academia de Música Banda de Ourém.

Ten-Coronel Ferreira da Silva, músico e maestro de Ourém

Ten-Coronel Ferreira da Silva

Morreu Daniel Cunha

A 16 de agosto de 2020 morreu, aos 37 anos, o pianista e pedagogo Daniel Cunha.

Concurso para o órgão da Sé da Guarda

A 13 de agosto de 2020, o “Interior, Diário das Beiras e Serra da Estrela” noticiou que foi aberto pela Direção Regional de Cultura da Região Centro o concurso público para o órgão da Sé da Guarda com um valor base de 500 mil euros.

Morreu Carlos Burity

A 12 de agosto de 2020 morreu em Luanda, vítima de doença prolongada, o músico angolano Carlos Burity, que deu um importante contributo para a construção da identidade angolana e é recordado como voz do orgulho angolano.

10 de agosto de 2020

A 10 de agosto de 2020 morreu Carlos Firmino Soares da Cunha (1955-2020), conhecido por Carlos Firmino, músico aveirense, saxofonista, compositor, maestro, professor e artista plurifacetado. Foi maestro da Orquestra da TAUC, tuna Académica da Universidade de Coimbra mil , de 1985 a 1987. Ofereceu à OAUC, “Little Overture”, uma peça da sua autoria, interpretada pela mesma no concerto comemorativo dos 730 anos da Universidade de Coimbra, dia 1 de março de 2020. Em 2016 apresentou no Departamento de Arte e Comunicação da Universidade de Aveiro a dissertação de maestrado “Analogias desenvolvidas entre a Formação Musical e a Análise e Técnicas de Composição: a Fraseologia como estratégia educacional”.

Carlos Firmino, saxofonista, pedagogo e compositor de Aveiro

Carlos Firmino, saxofonista, pedagogo e compositor de Aveiro

Aa 10 de agosto de 2020 morreu em Lisboa Waldemar Bastos (1954-2020), um dos mais consagrados artistas lusófonos da world music e dos primeiros artistas de Angola a alcançar a internacionalização.

Waldemar Bastos, musico angolano

Waldemar Bastos, musico angolano

Morreu Fernanda Lapa

A 06 de agosto de 2020 morreu Fernanda Lapa (1943-2020) uma atriz, encenadora e professora universitária. Além de tudo o que fez pelo teatro, registo o seu trabalho na encenação-estreia da ópera O Sonho (Londres, 2010), do compositor Pedro Amaral. Encenou também La Princesse Jaune, de Camille Saint-Saëns e The Wondering Scholar de Gustav Holst, apresentadas em Sintra (Centro Cultural Olga Cadaval), Portalegre (CAEP) e Coimbra (TAGV), em 2013.

Obra de José Afonso

O Ministério da Cultura avança com a classificação da obra fonográfica de José Afonso. Segundo a tutela, o processo ajudará a “consolidar informação relativa à obra gravada, publicada ou não, do artista”. O anúncio foi feito a 1 de agosto de 2020, na véspera do aniversário do cantautor, a 2 de agosto.

Morreu Justiniano Canelhas

A 30 de julho de 2020 faleceu o pianista Justiniano Canelhas (1937-2020), natural de Cucujães, Oliveira de Azeméis. Foi membro fundador do Quarteto do Hot Clube de Portugal e pianista histórico do Jazz moderno português. Faleceu com 83 anos, vítima de Covid19. Justiniano Canelhas era irmão de Carlos Canelhas, compositor de canções cantadas por Madalena Iglésias e Simone de Oliveira, entre outros.

Justiniano Canelhas, pianista, membro do Quarteto do Hot Clube de Portugal

Justiniano Canelhas, pianista, membro do Quarteto do Hot Clube de Portugal

Morreu Fernando Calazans

A 28 de julho de 2020 faleceu Fernando Calazans, antigo violinista da Orquestra Gulbenkian e professor.

Fernando Calazans, violinista e pedagogo

Fernando Calazans, violinista e pedagogo

Centenário de Amália

No centenário oficial do nascimento da grande diva da canção nacional, Amália Rodrigues, Rui Vieira Nery diz que não basta amar Amália, é preciso pensá-la. Acredita também que, enquanto o fado existir, o seu legado não se apagará. (Público) (23 de julho de 2020)

15 anos do Teatro das Figuras

O Teatro das Figuras completou, em 2020, 15 anos de existência. O seu surgimento veio alterar o panorama artístico local e regional. Com a abertura do Teatro das Figuras, o Algarve ganhou um palco de excelência para as artes performativas. Um palco capaz de dar resposta as maiores exigências técnicas que os espetáculos requerem.

Efemérides na Casa da Música

2020 foi para a Casa da Música um ano cheio de efemérides: passaram 20 anos sobre a criação do Remix Ensemble e a transformação da orquestra numa formação sinfónica, e em Abril cumpriram-se 15 anos sobre a abertura ao público do edifício projetado por Rem Koolhaas.

Curiosidades da Música em Portugal

Casa da Música

Canto a vozes vai candidatar-se a património imaterial

O “canto a vozes” vai apresentar candidatura a património da UNESCO procurando dar destaque às polifonias tradicionais, com o objetivo de tornar-se Património Cultural Imaterial da Humanidade. A decisão saiu de um encontro que decorreu no sábado em São Pedro do Sul, onde teve lugar a mesa redonda “O património somos nós”, tendo ainda sido constituída a comissão organizadora de uma associação de defesa dos interesses dos grupos que formalmente ou informalmente cantam, a três e mais vozes, um repertório legado pela sociedade agrária tradicional, acrescenta o comunicado dos promotores. Segundo a comunicação, existem diferentes designações locais para o canto da polifonia tradicional: cramol, terno, lote, cantada, cantedo, cantarola, moda ou cantiga. “Cantado por grupos de mulheres ou mistos, este canto é, no século XXI, uma expressão artística e um património imaterial que vincula as mulheres e homens (com maior destaque na mulher) no combate à vulnerabilidade das comunidades onde residem, reforça a identidade local e “desoculta” o papel das mulheres nos processos e práticas culturais ancestrais”, refere ainda o documento hoje divulgado. (22/01/2020)

Gaitas de Bravães

Uma oficina de formação em fabrico artesanal de gaitas de Bravães recuperou um ofício “perdido” há meio século naquela aldeia de Ponte da Barca e quer agora devolver o instrumento ao lugar de referência cultural de outros tempos. Os dois primeiros instrumentos na oficina são réplicas de uma gaita produzida, em 1950, por Emílio de Araújo, um construtor da freguesia. O instrumento original integra o espólio do Museu de Etnologia de Lisboa, e está documentado nas recolhas do etnólogo Ernesto Veiga de Oliveira, entre anos de 60 e 63. (05/01/2020)

Dinis Sousa é maestro assistente dos três agrupamentos Monteverdi

​Dinis Sousa é maestro assistente dos três agrupamentos Monteverdi, o que acontece pela primeira vez na história dos Monteverdi Choir & Orchestras. Nascido no Porto em 1988, reside em Londres onde trabalha com John Eliott Gardiner. Dinis Sousa é o maestro fundador do projeto da Orquestra XXI. (04/01/2020)

maestro Dinis Sousa

maestro Dinis Sousa

Kika Materula Ministra da Cultura

O Presidente da República de Moçambique nomeou Eldevina (Kika) Materula nova Ministra da Cultura e Turismo. Materula é oboísta moçambicana, directora artística e autora do Projecto Xiquitsi, cujo objetivo é tentar a integração, inserção social e capacitação profissional de crianças e jovens, de meios desfavorecidos, por intermédio do ensino coletivo da música. Inclui o Festival Internacional de Música de Maputo (oito edições) e pretende criar a primeira orquestra sinfónica do país. O projeto valeu à atual ministra da Cultura de Moçambique uma condecoração com a medalha da Ordem de Mérito, pelo Presidente da República Portuguesa, em 2016. Kika Materula iniciou os estudos musicais aos 7 anos na Escola Nacional de Música de Maputo (Moçambique). Em 1995, em Portugal, deu continuidade aos estudos musicais. Terminou a licenciatura na ESML e terminou a pós-graduação na Malmö Academy of Music. Em 2001 venceu a XVI edição do Prémio Jovens Músicos na categoria de oboé. Colaborou como convidada com a Orquestra Clássica da Madeira, Orquestra Filarmonia das Beiras, Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, Orquestra Sinfonieta de Lisboa, Orquestra Gulbenkian, Malmö Symphonie Orchestra (Suécia), Malmö Opera Orchestra, Danish Radio Sinfonietta (Dinamarca), Orquestra Sinfónica da Bahia (Brasil), entre outras.

Kika Materula

Kika Materula

Órgãos de Torres Vedras

Adaptado de Ana Cargaleiro de Freitas, Voz das Misericórdias, maio de 2018, acesso e adaptação a 28 de agosto de 2018.

Após a recuperação, o órgão de tubos da Igreja da Misericórdia de Torres Vedras ganhou nova vida através de concertos e ateliês.

Ana Cargaleiro de Freitas

Érica Zlotea chega todos os sábados à Igreja da Misericórdia de Torres Vedras com o caderno de pautas debaixo do braço. De olhos muito vivos, a jovem aprendiz aguarda o início da aula de órgão de tubos, no âmbito de um ateliê criado em parceria com a Escola de Música Luís António Maldonado Rodrigues. Desde que restaurou o instrumento histórico, em 2008, a Misericórdia de Torres Vedras contribuiu para a formação de mais de 80 crianças e adultos da comunidade.

O órgão construído pelo galego Bento Fontanes (1745-1793) renasceu pelas mãos de Dinarte Machado. Um investimento, no valor de cerca de 110 000€, que na opinião do provedor Vasco Fernandes era inevitável. “Era uma pena termos uma peça belíssima, segundo as opiniões de muitos técnicos, e não lhe darmos qualquer uso. Convidámos depois o professor Daniel Oliveira – atual organista titular– para iniciar as aulas de órgão porque estes instrumentos se estragam se estiverem parados”.

Daniel Oliveira assumiu a missão de valorizar e divulgar o instrumento, através do ensino e dinamização de um ciclo anual de órgão. “Quero torná-lo mais acessível às crianças, com reportório adequado à idade, pegando em temas populares, e torná-lo mais próximo do ouvinte”.

O coro alto da igreja é o espaço onde quase tudo acontece. Uma “sala de aula muito especial” que Érica e Diogo, os alunos que acompanhamos neste dia, conhecem de olhos fechados. “Com as duas mãos?”, pergunta a primeira pupila no inicio da lição. “Começamos pela direita e cantamos ao mesmo tempo”, pede Daniel Oliveira. Empoleirada no banco de madeira, Érica segue a partitura com a responsabilidade de um adulto. No próximo ano vai integrar o curso vocacional ministrado pela Escola de Música Luís António Maldonado Rodrigues, o “conservatório da cidade”. Em pequena, escrevia cartas ao pai natal a pedir um piano. Hoje tem um órgão de quase 300 anos como instrumento musical. Não é igual ao piano, mas cumpre as expetativas da jovem entusiasta. “Tem um som mais agradável, mais grave e forte”.

O próximo aluno não se deixa intimidar pela antiguidade e dimensão do órgão de tubos. Toca desde os 5 anos, no âmbito das aulas de iniciação musical da creche da Misericórdia, e beneficia da disciplina incutida nas lições. “Noto que o Diogo sai daqui mais concentrado e aprende a lidar com o stress. O professor incentiva-os independentemente de falharem”, comenta a mãe, Filipa Carvalho.

Os rituais são cumpridos semanalmente pela criança de 9 anos no início de cada lição. Ajeitar a cadeira, corrigir a postura e fazer exercícios de aquecimento com os pulsos. “Tens de confiar”, diz a Diogo Zambujo. “Ainda estás preso à partitura, não é preciso pensar”.

Mesmo que o objetivo não seja seguir a via profissional, Daniel Oliveira aposta na iniciação ao órgão desde muito cedo, valorizando a criatividade e disciplina potenciadas com o ensino da música. “É uma coisa que os marca para a vida. Não é apenas uma ocupação de tempos livres”.

Este esforço reflete-se na postura e envolvimento das famílias, seja através do interesse no desenvolvimento da criança, seja pelo aumento da procura junto da comunidade. “É um instrumento invulgar, daí a nossa curiosidade. É uma oportunidade única e uma forma de valorizar um património muito valioso da cidade”, considera a mãe do jovem aluno.

O músico e investigador Daniel Oliveira constata que “este é um instrumento cada vez mais acarinhado pelos torrienses” e isso vê-se nos dias de concerto, transmitidos em direto pela autarquia. No último trimestre de cada ano, os bancos da igreja enchem-se de locais e visitantes desejosos de escutar o órgão, nas suas múltiplas vertentes (acompanhado de canto ou pequena orquestra), e mesmo à distância é possível apreciar o “exotismo e brilho típico do instrumento histórico”.

Daniel Oliveira salienta a vocação pedagógica do evento – recitais comentados e atividade lúdica destinada a crianças e jovens -, que é já uma “marca e oferta cultural da cidade” e assinala em 2018 a sua terceira edição.

Quem não conhece esta peça única na cidade, com “personalidade própria” e um registo versátil – “dois timbres no mesmo teclado” – e está curioso para ouvir a sonoridade característica da segunda metade do século XVII/primeira metade do século XVIII terá de aguardar pelo mês de outubro ou acompanhar uma das cerimónias solenes realizadas na Igreja da Misericórdia, ao som do órgão Bento Fontanes (1773).

Daniel Oliveira é professor na Musicentro Escola de Música – Salesianos de Lisboa, Escola de Música Luís António Maldonado Rodrigues e organista na igreja matriz de Oeiras.

No concelho de Santa Maria da Feira há órgãos de tubos nas igrejas de Mosteirô, Santa Maria da Feira, Nogueira da Regedoura e Santa Maria de Lamas.

Em setembro de 2018, as Artes estiveram em Itinerância pelo Concelho com a primeira edição do Ciclo de Órgão de Tubos, que percorreu as Igrejas de Mosteirô, Santa Maria da Feira, Nogueira da Regedoura e Santa Maria de Lamas.

O Ciclo de Órgão de Tubos de Santa Maria da Feira pretende resgatar e valorizar parte da memória musical do concelho. Quatro concertos pontuaram os quatro domingos do mês de setembro e permitiram usufruir da diversidade e dos órgãos de tubos que compõem o património religioso concelhio.

No comando desta celebração, apresentando um reportório de excelência, esteve o organista feirense Rui Soares, a organista espanhola Esther Ciudad e o organista italiano Matteo Imbruno.

Além do património material, o programa permitiu ainda uma valorização do património imaterial, explorando, numa criteriosa escolha, alguma das obras dos mais importantes compositores nacionais e estrangeiros. Os concertos foram antecipados por um breve momento de enquadramento histórico e técnico de cada órgão, seduzindo o público para a diversidade deste património, assim como das suas possibilidades.

Órgão Eisenbarth

Órgão instalado no coro alto da Igreja de Mosteirô e inaugurado a 24 de maio de 2014, foi concebido pela firma de engenharia Eisenbarth que se destinava à capela de um hospital da cidade de Passau, na Alemanha (1966).

Órgão Walcker

Instrumento concebido para a Evangelische Kirchengemeinde de Berlim no ano de 1962, inaugurado na Igreja de Nogueira da Regedoura a 14 de março de 2010.

Órgão Walcker

Instrumento da igreja Matriz de Santa Maria da Feira foi construído pela firma C. F. Walcker, em 1896, na Alemanha e catalogado com o op. 748.

Órgão Cavaillé-Coll

Órgão da Igreja de Santa Maria de Lamas, proveniente da Oficina de Cavaillé-Coll de Paris, um dos organeiros mais famosos na Europa do século XIX.