Eduardo Nascimento
Cantor
Eduardo Nascimento nasceu em Angola em 1943 e morreu no dia 22 de novembro de 2019, vítima de doença prolongada. Vencedor do Festival da Canção em 1967, com o tema “O Vento Mudou”, foi o primeiro concorrente negro a participar na Eurovisão, onde ficou no 12.º lugar do concurso realizado em Viena, Áustria.
A par de Eusébio, foi dos primeiros afrodescendentes a representar o nome de Portugal no estrangeiro.
Na segunda metade dos anos 60, o músico foi também líder do conjunto angolano “Os Rocks”.
Voltou à música pontualmente, sobretudo em espetáculos de evocação dos festivais. Em anos recentes chegou a admitir à imprensa o regresso à carreira de cantor, com um repertório próprio, num projeto com o maestro Nuno Feist.
“A entrada no mundo da música fez-se com três amigos, Fernando, Luís e João, todos irmãos; e Filipe de Andrade, um português que foi para Luanda pelo serviço militar e que, por cá, atuava no grupo Os Dois Rapazes. “Ouvíamos música de manhã à noite”, contou Eduardo nessa entrevista, que se inspirava na música em inglês — sobretudo de Elvis, Bill Haley e B.B. King — para criar folclore angolano.
O grupo viajou para Portugal pela primeira vez num avião da Força Aérea que levava a equipa da Académica para Lisboa. Ficaram numa pensão, atuaram no Monte Estoril e só voltaram quatro meses depois, quando as férias acabaram. Com a ajuda de jornalistas como Charula de Azevedo, diretor do Notícia, Acácio Barradas e Adelino Tavares da Silva, Eduardo e os amigos compraram instrumentos e materiais para a banda. Até àquele momento, as duas guitarras e a bateria tinham sido feitos à mão.
Eduardo Nascimento e Os Rocks voltariam a Lisboa pouco depois. Tinham vencido uma fase do Concurso Ié-Ié em Angola e iriam à final em Portugal. Foi nessa ocasião que conheceu Nuno Nazareth Fernandes e João Magalhães Pereira, compositor e letrista de “O Vento Mudou”. A música estava pronta. Só faltava quem lhe desse voz e, para Nuno e João, a de Eduardo Nascimento era a ideal: “Queríamos que tu que levasses isto ao Festival da Canção”, recordou ele numa entrevista ao DN em 2018.
A partir daí, “O Vento Mudou” foi interpretada pelos UHF, pelos Delfins e por Adelaide Ferreira, por exemplo. Não ganhou — ficou em 12º lugar. Porquê? “Até ao ano passado, com o Salvador Sobral, a RTP nunca quis ganhar o festival. Porque era um trabalho desgraçado, Portugal não estava preparado para isso. Não investiam. Eu fui com cinco pessoas, incluindo dois da Valentim de Carvalho e o maestro Tavares Bello. A Sandie Shaw ia com 30 pessoas e faziam programas em direto para toda a Commonwealth”, analisou ele ao DN.
Na equipa de Eduardo Nascimento ia um membro da PIDE, recordou o cantor, por causa da ligação dele ao MPLA de Angola, defensor da independência do país. Quando regressou a Portugal, entregou o passaporte que lhe tinham passado para as mãos para ir a Viena e pouco depois regressou às raízes. Em 1973, tornou-se diretor da TAP em Angola — estava no aeroporto em Luanda a 11 de novembro de 1975, o dia da independência. Desde então que, especialista em pontes aéreas, foi chamado a abrir companhias aéreos em África.”
Mudou-se definitivamente para Portugal em 1985, já depois do processo de descolonização.
[ Fonte: Marta Leite Ferreira, Observador, 23 de novembro de 2019 ]