Corina Freire, cantora natural de Silves

Corina Freire

Cantora . Atriz . Empresária

Corina Carlos Freire, também conhecida como Corine Freire, nasceu a 14 de dezembro de 1897 em Silves (Algarve, Portugal) e faleceu a 5 de outubro de 1986 em Lisboa.

Além de cantora – soprano, cujo repertório oscilava entre o popular e o lírico – e atriz internacionalmente reconhecida, Corina Freire foi também empresária teatral, professora de canto e compositora de marchas populares.

Entre o repertório erudito e o popular, este último em grande parte proveniente do teatro de revista, Corina ficou conhecida pelo público por ter sido uma mulher “muito elegante, com um ar moderno… com uma voz mais educada do que o comum revisteiro”, de “cabelo curtíssimo colado à cabeça em pastas, mulher luxuosa, apta ao uso de diamantes e plumas” (Marceneiro)

Filha de um farmacêutico e oriunda de uma família abastada e entusiasta da música, a artista ingressou como pianista num grupo de música de câmara formado pelos seus cinco irmãos e organizado pelo seu pai, que tocava rabecão. Cursou no Conservatório Nacional e apresentava-se regularmente ao público.

Casou com apenas dezassete anos, desistindo da vida artística.

Em 1921 mudou-se para Lisboa e conseguiu trabalho na Casa Valentim de Carvalho, tocando piano e cantando as obras pedidas pelos clientes que gostavam de a ouvir cantar ou simplesmente apresentavam dificuldade em ler à primeira vista.

Esta situação constituiu o mote ao reinício da sua atividade artística.

Descoberta por Alfredo Ferreira dos Anjos (1º Conde de Fontalva), Corina aceitava convites para recitais. Participou em vários concertos e recitais com o violinista Francisco Benetó e os pianistas Varela Cid e Viana da Mota, sendo considerada, na altura, “a primeira cantora portuguesa” (“O mais lindo sorriso de Paris ensina os jovens a cantar,” n.d.).

Em 1924, interpretou Contrastes e Aquela moça (de Luís de Freitas Branco), Graça, Santa Iria e Melodia de amor (de Ruy Coelho), tendo sido bem acolhida pela crítica.

Em 1927 ingressou no teatro pois “naquele tempo e em Portugal ninguém ganhava a vida a cantar a sério”. (“O mais lindo sorriso de Paris ensina os jovens a cantar,” n.d.) Desta forma, obteve o primeiro grande sucesso com o tema Giestas da revista Rosas de Portugal (de José Romano, Alves Coelho, Silva Tavares, António Carneiro e Feliciano Santos).

Participou em O manjerico e cantou As camélias de Sintra, da revista A ramboia (1928). Este último êxito foi apresentado pela empresária Hortense Luz com António Silva, Ema de Oliveira e Francis Graça. Em 1929 participou na revista Chá de Parreira, com música de Frederico de Freitas.

“Ao irromper o cinema sonoro, as principais companhias de Hollywood ficaram com receio de perder o vasto mercado de língua não-inglesa. Daí a ideia de se fazerem produções americanas em vários idiomas.” (Mattos, 2010)

Em 1930, Corina foi convidada para gravar em Paris (nos estúdios da Societé de Films Historiques em Joinville-le-Pont – França) não só a versão portuguesa do primeiro filme da Paramount todo falado em português – A canção do berço – como também A mulher que ri (The laughing lady) (1931), realizado por Jorge Infante com Raul Carvalho, Ester Leão, Alves Costa e Alexandre de Azevedo.

Ainda em 1931 tornou-se empresária teatral, em parceria com António Macedo, e lançou a revista O mexilhão, da qual resultou o grande sucesso Teodoro não vás ao sonoro, em dueto com Beatriz Costa, acompanhado pelo bailarino Francis Graça. Como empresária produziu ainda A bola, Pato marreco e Pirilau, revistas que também contaram com a participação de Beatriz Costa. Em 1933 participou nas revistas Fogo de vistas e Feira da alegria.

Regressou a Paris em 1934, juntamente com os bailarinos Francis Graça e Ruth Walden, para um espetáculo promovido pela Casa de Portugal em Paris em colaboração com o Secretariado de Propaganda Nacional. O intuito seria divulgar cantares e danças populares portuguesas. “Mulher com um sorriso singular aliado ao seu talento.” (“Corina Freire,” 2013)

Corina Freire foi, posteriormente, a vencedora do concurso internacional “Le Plus Beau Sourire de Paris” (O mais belo sorriso de Paris) em 1935. Assim, foi contratada pelo Casino de Paris para representar, nomeadamente, na revista Parade du monde, na qual contracenou com um dos mais reconhecidos atores franceses, Maurice Chevalier.

Em 1936 atuou na corte inglesa para o Príncipe de Gales, futuro Eduardo VIII.

De regresso a Portugal, participou no Primeiro Programa de Variedades da Emissora Nacional e interpretou a canção Mil apoteoses, da revista Piscina mágica. Para além disso, lançou Arca de Noé (1936) e Balancé, Portugal está na moda e Viúva Alegre em 1937.

No entanto, não alcançando tanto sucesso, optou por deixar o contexto empresarial e dedicar-se exclusivamente à atuação, participando em Pega-me ao colo e Rua de paz (1938) e O mar também tem amantes e Aldeia da roupa suja (1939).

Ainda no mesmo ano viajou para o Brasil, onde permaneceu durante seis meses em atuações a solo. Em 1940 regressou para digressões pela província, continuando, no entanto, a não alcançar o sucesso desejado.

Participou em Tudo azul (1946) e em 1947 viajou novamente para o Brasil para atuar na rádio e na televisão.

Numa entrevista, Corina afirmou: “Eu não deixei o teatro. O teatro é que me deixou” e, por esse motivo, dedicou-se a dar aulas de canto. Entre os seus alunos, encontravam-se cantores portugueses hoje bem conhecidos do público: António Calvário (seu familiar), Marco Paulo, Tonicha e outros.

A sua dedicação à composição de marchas populares foi reconhecida com o segundo prémio no concurso Novos Compositores da Emissora Nacional.

Em 1963 foi homenageada na Casa do Algarve, em Lisboa, por iniciativa de uma comissão de alunos e admiradores.

Em 1999 foram apresentadas algumas das suas fotografias no Centro Cultural de Lagos no âmbito da exposição “Mulheres algarvias do teatro e do cinema”.

Fontes: EMPXX, Museu da Universidade de Aveiro

[ Músicos de Silves ]

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