Berta Cardoso, fadista

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Berta Cardoso

Canto . Fado

Berta dos Santos Cardoso, que adoptou o nome artístico de Berta Cardoso, é uma fadista lisboeta que nasceu a 21 de Outubro de 1911 e morreu a 12 de Julho de 1997.

Por influência de um dos seus irmãos, Américo dos Santos, que era violista amador, estreou-se no Salão Artístico de Fados, no Parque Mayer, com apenas 16 anos (1927). O êxito da sua actuação fez com que ficasse logo a trabalhar nessa casa.

Num tempo em que o Fado começava a ser cantado no Teatro de Revista por cantadores profissionais, e já não pelos actores e actrizes a representar nas peças, Berta Cardoso surgiu como uma das cantadeiras que faz larga carreira neste tipo de espectáculo.

Dois anos depois de se ter apresentado em público pela primeira vez, no Salão Artístico de Fados, a cantadeira iniciou-se neste meio, com a participação na revista “Ricócó”, em 1929, no Teatro Maria Vitória do Parque Mayer. Nesse mesmo teatro, integrou outros espectáculos como o “Viva o Jazz!” e “A Nau Catrineta”, revistas em cartaz no ano de 1931.

Esta actividade foi intercalada ao longo da sua vida com o constante envolvimento em diversas actuações de Fado. Assim, em 1932, a fadista foi apresentada no elenco do Salão Jansen e, nesse mesmo ano, recebeu um convite para se juntar à Companhia Maria das Neves. Passou a integrar um elenco protagonizado por Beatriz Costa e partiu numa digressão de vários meses ao Brasil. As suas interpretações tiveram sucesso com destaque em vários jornais brasileiros e calorosa recepção do público presente nos espectáculos.

Em meados da década de 1930 já a cantadeira era uma presença incontornável no universo fadista.

Tal como Ercília Costa, Berta Cardoso teve um papel fundamental num primeiro período de internacionalização do Fado, com deslocações que se centram no Brasil, nas ilhas e nas colónias portuguesas. Testemunho dessa linha de novos mercados, é não só a viagem ao Brasil realizada com a Companhia Maria das Neves, mas também o agrupamento com outros intérpretes de nomeada para uma longa digressão em terras africanas.

Neste contexto surgiu o “Grupo Artístico de Fados”, formado pelas cantadeiras Berta Cardoso e Madalena de Melo, e pelos instrumentistas Armando Augusto Freire (Armandinho), Martinho d’ Assunção Júnior e João da Mata, que é constituído no ano seguinte, 1933.

Este conjunto de intérpretes de renome partiu a bordo do navio Niassa para um percurso de espectáculos na África Ocidental e Oriental e também nas ilhas portuguesas. Concretizou-se como a primeira viagem que o Fado faz a África, tornando-se numa digressão muito noticiada pelos jornais, uma vez que os espectáculos se desenrolavam ao longo de quase um ano, passando por diversos locais, com destaque para Angola, Moçambique e Rodésia.

Fadista muito apreciada pelo público e pela crítica, Berta Cardoso faz a sua primeira gravação discográfica em 1931, para a editora Odeon, e a convite dos representantes da marca em Lisboa deslocou-se a Madrid para gravar juntamente com Cecília de Almeida, estando o acompanhamento de ambas a cargo da guitarra de Armandinho e da viola de Georgino de Sousa. Nos anos 1930 e 1940, Berta Cardoso prosseguiu a gravação de discos, nesta altura para a editora Valentim de Carvalho.

Berta Cardoso desenvolveu uma actividade intensa ligada ao Teatro de Revista, onde se apresentou com uma regularidade de cerca de duas peças por ano. Apareceu frequentemente na imprensa, em particular na que se dedica a temas fadistas, que foi fazendo o registo da sua interpretação de números de Fado nestas peças, e lhe dispensou numerosas apreciações que nos permitem assegurar o seu lugar de destaque junto do público e da crítica.

Nos anos de 1936 a 1938, Berta Cardoso participou em diversas revistas, apresentadas em palcos de diferentes teatros. Mas, apesar das muitas intervenções e da grande relação com os palcos teatrais, Berta Cardoso considerava-se sempre uma cantadeira e continuava a assegurar apresentações em elencos dos melhores espaços e casas de Fado de Lisboa, nomeadamente no Café Luso, em 1936, e no Retiro da Severa, em 1937.

Neste mesmo ano, e nesta última casa, Retiro da Severa, o elenco privativo transformava-se na “Embaixada do Fado do Retiro da Severa”, integrando grandes nomes como Maria Emília Ferreira, Maria do Carmo Torres, Alfredo Duarte (Marceneiro), Júlio Proença, ou José Porfírio.

Esta Embaixada deslocou-se para actuar, durante vários dias, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e no Teatro Variedades, com apresentações sempre esgotadas e descrições nos jornais, tanto no norte como em Lisboa, de um espectáculo de grande qualidade, onde muitas vezes são destacadas as actuações de Berta Cardoso e Alfredo Marceneiro.

Em 1939 a fadista foi contratada pela Companhia Beatriz Costa, que tem em Beatriz Costa a figura central, para fazer um regresso a terras brasileiras.

Ainda em 1939 a fadista foi homenageada pelos seus colegas no Retiro da Severa e, antes de embarcar para o Brasil, gravou, com Alfredo Marceneiro, actuações no Teatro Variedades e no Retiro do Colete Encarnado, que serão apresentadas no filme “Feitiço do Império”, de António Lopes Ribeiro. Este filme estreou nas salas de cinema em 1940, e teve apresentações até 1952.

Após o regresso do Brasil, em 1940, passou a integrar a “Embaixada do Fado do Solar da Alegria”, que obteve grande êxito em deslocações ao Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Neste elenco juntaram-se a Berta Cardoso, outros nomes consagrados da interpretação do Fado, caso de Maria Carmen, Júlio Proença e Amália Rodrigues. Também no decorrer deste ano, Berta Cardoso prosseguiu as suas interpretações no teatro, participando nas peças “Porto ao Sol”, no Teatro Sá da Bandeira, e “Toma Lá Cerejas!”, estreada no Teatro Pax-Julia com a Companhia do Teatro Apolo.

Posteriormente a fadista integrou o elenco da empresa Monumental, como primeira figura do elenco, com o qual se apresentou não só em Lisboa, mas também no Porto. Nos anos seguintes Berta Cardoso viajou para actuar no Cine-Jardim, na Madeira, em 1947, e, em 1948, na peça “Isto é o Porto”, levada à cena no Teatro Sá da Bandeira, no Porto.

A revista “Lisboa é Coisa Boa”, de autoria de Eduardo Fernandes e Ricardo Covões, estreia em Fevereiro de 1951, no Coliseu dos Recreios, precisamente no dia em que se realiza o funeral da mãe de Berta Cardoso, sendo feito um reconhecimento público à fadista pelo seu profissionalismo, por se ter mantido em actuação num momento tão doloroso.

Também durante o mês de Fevereiro de 1951, Berta Cardoso tirou a sua carteira profissional, inscrevendo-se na categoria de “Artista Dramática”. Mas a partir de 1960, a cantadeira decide abandonar definitivamente os palcos do teatro de revista.

Prosseguiu com a sua carreira de fadista e com as gravações discográficas que, durante as décadas de 1950 e 1960, foram realizadas na Estoril, a mesma editora que muitas décadas mais tarde, em 1992, lançou o CD “Orquestra de Guitarras”, numa edição especial numerada e autografada, que integrava seis dos seus Fados com maior êxito.

A partir desta altura, a actividade artística de Berta Cardoso foi-se centrando mais nas actuações em Casas de Fado, como é o caso do Faia, casa onde os seus colegas e amigos lhe prestaram uma merecida homenagem em 1954.

Desde 1961 e até ao final da década seguinte, Berta Cardoso estabeleceu-se no elenco da Viela, casa onde foi, também, homenageada em 1967.

Como figura conceituada da interpretação do Fado tradicional, Berta Cardoso fez também as suas aparições na televisão, destacando-se a sua presença, em 1969, no programa de grande audiência “Zip, Zip”, ou na transmissão da sua festa no programa “Bodas de Ouro de uma Fadista”.

Berta Cardoso finaliza a sua longa carreira artística no ano de 1982, quando actua no Poeta, espaço aberto, nesse mesmo ano, pelo poeta José Luís Gordo e a sua esposa, a fadista Maria da Fé.

Apesar de concluir o curso de enfermagem, com a especialização de obstetrícia, na Faculdade de Medicina, em 1943, e de vários jornais e revistas anunciarem o seu afastamento dos palcos do Fado, tal nunca veio a suceder. Berta Cardoso nunca exerceu as funções de enfermeira e manteve a profissão de cantadeira muito activa até 1982.

Já após a sua morte foram editados vários CD com a sua obra gravada, nomeadamente “The Story of Fado”, pela editora Hemisphere, em 1997, “Portugal, Fado: Chant de l’mee”, pelas Éditions du Chên, em 1998, “Berta Cardoso, Márcia Condessa e Adelina Ramos”, na colecção “Fados do Fado”, da editora Movieplay, em 1998 e, da mesma editora o volume 1 da colecção “Fado Português”, editado em 1999.

Reconhecendo Berta Cardoso como uma figura emblemática do Fado tradicional, com uma larga carreira sempre associada a esta canção urbana e representante de um período muito característico da História do Fado, em 2006, o Museu do Fado organizou uma exposição temporária centrada na fadista.

Fontes

“Guitarra de Portugal”, 30 de Outubro de 1930;

“Guitarra de Portugal”, 24 de Junho de 1933;

“Canção do Sul”, 16 de Janeiro de 1936;

“Guitarra de Portugal”, 27 de Agosto de 1937;

“Guitarra de Portugal”, 10 de Maio de 1938;

“Canção do Sul”, 1 de Dezembro de 1939;

“Guitarra de Portugal”, 25 de Dezembro de 1945;

“Ecos de Portugal”, 1 de Outubro de 1948;

Brito, Joaquim Pais de (Dir.), 1994, “Fado: Vozes e Sombras”, Lisboa, Lisboa94/ Electa;

Pereira, Sara (Dir), 2006, “Berta Cardoso”, Lisboa, EGEAC/ Museu do Fado.

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