Alves Coelho
Compositor
Alves Coelho casou com D. Anália da Conceição Henriques Alves Coelho e teve dois filhos: João Sérgio Alves e Alberto dos Anjos Alves Coelho. Alves Coelho, logo nos seus tempos de meninice, começou por mostrar vislumbres de uma bela e sã inteligência, distinguindo-se entre os seus condiscípulos, o que o tornou querido dos mestres.
Frequentou a aula do reitor Luís Caetano Lobo, que foi um excelente professor de música e logo se tornou um dos mais diletos discípulos do mestre.
Porém, o pai faleceu em 1898 o que o levou a abandonar os estudos. Alves Coelho partiu então para Lisboa onde frequentou a Escola Normal Primária de Lisboa. Concluídos os exames finais, foi considerado habilitado para exercer o magistério primário e nomeado para a escola oficial de Mafra. Passado algum tempo demitiu-se do cargo de professor e foi nomeado para um cargo do Ministério de Instrução. Sendo mais tarde, reintegrado no seu cargo de professor e nomeado regente da Escola Municipal nº 78 em Lisboa.
Em 1893 Alves Coelho partiu para Coimbra matriculando-se no Seminário, onde ainda realizou os exames preparatórios.
“Foi um professor sempre considerado, mas (…), a celebridade que veio a conhecer foi devida à música. Com efeito, não obstante as suas funções de mestre-escola lhe absorverem a maior parte do tempo, não se esquecia da arte que trazia na alma desde criança. Em rigor, era essa a sua grande paixão e não tardou que começasse a
compor.”
(Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil. Arganil: Câmara Municipal, 1991)
Alves Coelho estreou-se no teatro ligeiro em 1902, com a música de uma opereta chamada Visões de Rabi, de autoria de Raimundo Alves. “Esta peça foi apresentada ao público em Lisboa numa academia de recreio da Travessa do Despacho, a Santa Marta, e, como tivesse agradado bastante, foi mais tarde exibida várias vezes no antigo Teatro da Rua de S. Bento. Isto passava-se em 1902. Era a sua estreia de compositor no teatro musicado.”
(Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil. Arganil: Câmara Municipal, 1991)
Entre 1902 e 1905 fez o seu primeiro trabalho para teatro de revista: foi para Saúde e Fraternidade, espectáculo estreado num teatro do Porto. Mas havia de ser só em 1911 que iniciaria uma colaboração assídua neste género de teatro, visto até 1931, ano da sua morte, só em 1923 e 1924 se não terem estreado revistas com música da sua autoria.
Em 1911 Alves Coelho foi o único compositor da revista Está Certo, escrita por Júlio Dumont, estreada no Teatro Chalet. No mesmo ano compôs em colaboração com Tomás Del Negro os temas musicais da revista Peço a Palavra, escrita por João Bastos e Álvaro Cabral.
Neste ano Alves Coelho colabora em mais duas revistas levadas à cena na cidade do Porto: em colaboração com Bernardo Ferreira musicou Cigarro Brejeiro, em 2 actos e 14 quadros; e em colaboração com Raul Portela e António Lopes compôs para a revista Pica-Pau, em 2 actos e 9 quadros. Ambas as revistas da autoria de Ascensão Barbosa e Abreu e Sousa.
“Independentemente do êxito do trabalho alcançado em 1922, principalmente no Teatro Maria Vitória, em 1923 e 1924 não se conhece nenhum trabalho de Alves Coelho, quer a nível de operetas, quer no campo do teatro de revista, a não ser o que musicou para as produções levadas a cabo pelo grupo de teatro de empregados do Banco Nacional Ultramarino.”
(Luciano Reis in Maestro Alves Coelho. Lisboa: Sete Caminhos, 2009)
Neste ano Alves Coelho colabora em mais duas revistas levadas à cena na cidade do Porto: em colaboração com Bernardo Ferreira musicou Cigarro Brejeiro, em 2 actos e 14 quadros; e em colaboração com Raul Portela e António Lopes compôs para a revista Pica-Pau, em 2 actos e 9 quadros. Ambas as revistas da autoria de Ascensão Barbosa e Abreu e Sousa.
A Gitana, uma das peças musicadas por Alves Coelho para a Revista Cigarro Brejeiro e interpretada pela actriz Julieta Soares.
Para este grupo musicou a revista Era uma vez, Tristezas… Não pagam dívidas e Furta-Côres, produções em que desempenhou também o cargo de director musical.
Em Fevereiro de 1924, promovido pelo “Diário de Notícias”, o Dr. Augusto de Castro, jornalista e um dos fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores, organizou um grande espectáculo a favor dos pobres no Coliseu dos Recreios. Alves Coelho foi o director musical deste espectáculo.
Em 1925, em colaboração com Raul Portela, Alves Coelho foi autor da música para a revista Frei Tomás ou o Mistério da Rua Saraiva de Carvalho, estreada nesse mesmo ano no Éden Teatro.
Alves Coelho alcançou em 1926 um grande triunfo junto do público com a revista Cabaz de Morangos da autoria de Lino Ferreira, Silva Tavares, Luna de Oliveira, Acúrcio Pereira e Lopo Lauer.
“Da composição musical foi encarregada uma parceria formada por três verdadeiros «monstros sagrados» da música ligeira: Wenceslau Pinto, Raul Portela e Alves Coelho (…) de todos os seus quadros o que obteve maior adesão foi sem dúvida o «Dia da Espiga», que havia sido musicado pelo maestro arganilense..”
(Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil. Arganil: Câmara Municipal, 1991)
Ainda em 1926, Alves Coelho colaborou na revista Fungagá, Tarifa I e Sempre fixe.
“No ano seguinte, 1927, aparece em cena, também no Éden-Teatro, a revista Rosas de Portugal em perfeito alinhamento ideológico com cabaz de morangos. Aí José Clímaco era mesmo um dos seus autores, sob o pseudónimo de José Romano; os
restantes foram: Silva Tavares, António Carneiro e Feliciano Santos. Da música encarregaram-se de novo Wenceslau Pinto, Raul Portela e Alves Coelho. A este último compositor coube musicar uma canção de Silva Tavares, intitulada «Giestas» (…)
provavelmente o trabalho mais inspirado do seu autor (…)”
(Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil. Arganil: Câmara Municipal, 1991)
Para além do êxito alcançado com Giestas, outras obtiveram igual sorte, nomeadamente Capicua, Rapazes Cuidado e Rancho da Azeitona.
Ainda em 1927 Alves Coelho entrou na produção da revista Aldeia dos Macacos e colaborou na produção da opereta de costumes populares Bairro Alto e na opereta A Madragoa.
Em 1928 Alves Coelho colaborou em duas revistas no Éden-Teatro: O Manjerico e Terras
de Cantigas. Para além destas duas produções, colaborou ainda em Carapinhada, A Pilha d’Alcantara, A Gandaia e Gomes Freire-Avenida.
Em 1929 participa na revista Chá de Parreira, estreada no Teatro Variedades e, levada também à cena, no Teatro da Trindade. Escrita por José Galhardo, Alberto Barbosa e Santos Carvalho, foi musicada pelo arganilense Alves Coelho em colaboração com Frederico de Freitas.
Neste mesmo ano Alves Coelho colaborou com Raul Ferrão e L. Costa na revista Sol de Portugal, da autoria de Álvaro Leal e Lourenço Rodrigues. Também colaborou com Venceslau Pinto e Raul Portela na revista Pó de Maio, escrita por Félix Bermudes, João Bastos e Pereira Coelho. Desta produção dois temas tiveram o privilégio da edição musical: a canção dueto Branquinha e Farrusca e a canção Dona Chica e Senhor Pires.
Em 1930, um ano antes da sua morte, Alves Coelho que se encontrava no auge do seu potencial criativo, então com 48 anos, participou na produção de 5 revistas e uma opereta, todas elas em parceria com os colegas Raul Portela e Venceslau Pinto: Biscaia Lambida, A Bola, A Cigarra e a Formiga, Marcha Atrás, Salada de Alface e a opereta História do Fado.
No ano da sua morte Alves Coelho ainda colabora em mais 5 revistas: A Greve do Amor, A Lei do Inquilino, Revista Sonora, Toma Teresa e Vamos ao Vira. Também nesse ano em parceria com Raul Portela musicou a adaptação para Portugal da peça El Nino d’Oro do espanhol José Maria Granada.
O compositor e maestro Alves Coelho faleceu a 23 de Outubro de 1931 vítima de congestão cerebral.
“Vale a pena sublinharmos a dificuldade com que trabalhou Alves Coelho, pois tinha que conciliar a sua vida musical com a de professor. Mas, a sua excepcional capacidade de improvisação, permitiu-lhe atingir os seus objectivos. Dizia-se, na época, que a música para o Dia da Espiga, foi escrita em meia hora.(…)
(…) Organizou e dirigiu um agrupamento musical, denominado “Troupe Portugal”, que actuou com grande êxito, com músicas suas, em Portugal, Espanha e Marrocos. O governo português conferiu-lhe o grau de cavaleiro de São Tiago da Torre e Espada.(…)
A vila de Arganil nunca o esqueceu. O seu nome dá nome a uma rua e, no dia 9 de Maio de 1954, num gesto de grande solidariedade à memória deste arganilense, inaugurou-se um teatro com o seu nome (…)”
(Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil. Arganil: Câmara Municipal, 1991)
“Morreu cedo, apenas com 49 anos de idade. O seu falecimento causou a maior consternação na capital, principalmente no meio teatral, em que era estimadíssimo. O funeral realizou-se para o cemitério dos prazeres. O seu talento e paixão pela música ligeira ainda tinham muito para dar, independentemente de ter atingido inolvidáveis e merecidos triunfos e de conseguir ser alguém no meio musical.
Integrou as melhores parceiras de compositores na cidade de Lisboa, criando músicas que trouxeram aos teatros da capital, multidões de pessoas, sequiosas de assistir a bons espectáculos, onde a sátira social e política, era um ponto forte. (…) As suas obras triunfaram em Lisboa, na cidade do Porto, nas digressões por todo o país, por Angola, Moçambique, Brasil e Espanha. (…) Um dos nossos melhores talentos da composição, criou imensos êxitos que alcançaram a edição discográfica e folha de música. (…)”
(Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil. Arganil: Câmara Municipal, 1991)
Fonte:
Alves Coelho, Maestro e Compositor Arganilense. Biblioteca Municipal Miguel Torga, Arganil 2009.