Artur Napoleão, pianista e compositor portuense

Alfredo Napoleão

Pianista . Compositor

Alfredo Napoleão foi um pianista e compositor português que nasceu no Porto em 1852, e faleceu em Lisboa, em 1917. Os locais de nascimento e de morte não desvendam uma vida itinerante, cheia de sucessos como pianista e como compositor tanto em Portugal como no Brasil e na Argentina – países onde passou vários anos – mas também em importantes cidades europeias como Londres e Paris. Nestes países apresentou a sua extensa e valiosa obra, com mais de 60 opus, que não se confinou apenas ao seu instrumento, mas que incluiu obras para grande orquestra, concertos para piano e orquestra, sonatas para piano e outras obras para piano solo, música de câmara, etc.

Alfredo Napoleão cresceu no seio de uma família musical. O seu pai foi Alexandre Napoleão (1808-1886), músico nascido em Itália e que se veio estabelecer no Porto em 1840. Os seus irmãos Artur e Aníbal Napoleão foram também destacados compositores, pianistas e, curiosamente, xadrezistas. Artur Napoleão foi o mais célebre dos três. Aníbal – compositor promissor – teve a infelicidade de morrer com apenas 35 anos. Artur desenvolveu uma carreira internacional de concertista virtuoso. Emigrou para o Brasil, onde fundou uma editora de partituras no Rio de Janeiro, tornando-se bastante prolífico como compositor.

Alfredo, o mais novo dos irmãos, ficou órfão de mãe com apenas um ano de idade, tendo sido criado pela avó materna em Vila Nova de Gaia. A educação musical de Alfredo foi dada inicialmente pelo seu pai, que o levou para Londres em 1858. No entanto, entregou posteriormente este papel ao músico e crítico inglês William Thorold Wood.

No ano de 1868 Alfredo parte para o Brasil, seguindo as pisadas do irmão Artur. Estabelece-se no Rio de Janeiro, dedicando-se à direcção de uma loja de pianos. No entanto, apenas se demorou nesta actividade um ano, pois era maior o desejo de se dedicar à música por inteiro. Tal foi a dedicação que, em 1869, participa num concerto no Teatro Lírico Fluminense, juntamente com o pianista-compositor americano Louis Moreau Gottschalk, tocando com ele e com o seu irmão Artur a dois pianos. Posteriormente, toca, com sucesso, no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, concerto a que assistiu, impressionado, o imperador D. Pedro II. Este concerto foi a rampa de lançamento para uma digressão a várias províncias do Brasil.

Por volta de 1870, Alfredo vai viver para Buenos Aires onde se demora cerca de 6 anos, dando aulas além de vários concertos. Durante este período também se deslocou a Montevideu, no Uruguai, para o mesmo propósito. Volta ao Rio de Janeiro em 1879, cidade que muito o acarinhou. Faz nova digressão pelo Norte do Brasil. Foi na América do Sul onde Alfredo Napoleão sempre foi mais apreciado.

Alfredo volta a Portugal, ao Porto, em 1883. Integra, entre 1883 e 1884, a Sociedade de Música de Câmara, que incluía, entre outros, Ciríaco de Cardoso (violoncelo) e Moreira de Sá (violino). Realiza também, na Invicta, vários concertos como solista, com destaque para a estreia do seu 1º Grande Concerto para Piano e Orquestra op. 31 no Teatro S. João em 1885. Deu também concertos em Coimbra, em Aveiro e Lisboa. Seguem-se as duas viagens a Londres. Na primeira, em 1887, toca no Willis’ Room e no Prince’s Hall, e, em 1888, toca no Steinway Hall. As suas interpretações foram recebidas com apreço.

Em 1889 volta ao Brasil onde se demora até 1893. Dá imensos concertos no Rio de Janeiro e noutras cidades, sendo alvo de críticas muito elogiosas nos vários jornais brasileiros. Passa, depois, por Lisboa, em 1893, voltando ao Rio de Janeiro em 1894. Aqui, no Teatro Lírico, faz a estreia brasileira do seu 1º Concerto op. 31, estreando também, em 1896, o seu 2º Grande Concerto para Piano e Orquestra op. 52, acompanhado por orquestra dirigida pelo maestro e compositor brasileiro Alberto Nepomuceno.

Foi também em 1896 que se realizou um concerto verdadeiramente histórico. Vianna da Motta e Moreira de Sá visitaram o Rio de Janeiro, tendo-se juntado a Alfredo e Artur Napoleão, a Alberto Nepomuceno e à cantora Maria Risarelli, para a realização de um concerto memorável. É de destacar o facto de Alfredo ter tocado a dois pianos com Vianna da Motta e também com o seu irmão Artur, algo que fazia com frequência.

Em 1897, Alfredo Napoleão regressa a Buenos Aires, onde aí estreou o seu 2.º Concerto para Piano e Orquestra, obtendo grande sucesso. Apesar disso, Napoleão sente-se deslocado em Buenos Aires e volta de novo ao Brasil, dando concertos em várias províncias.

Regressa a Portugal no início do séc. XX, onde se fixa definitivamente. No início vive no Porto mas dá vários concertos no Norte e Sul do país, destacando-se aqueles onde actua com Guilhermina Suggia e com Moreira de Sá. Muda-se posteriormente para Lisboa dando vários concertos. É de destacar, em 1914, a estreia da sua Fantasia e Grande Polonaise op. 59 para piano e orquestra, com uma orquestra de câmara, no salão da Liga Naval. No mesmo local e no mesmo ano interpreta também o seu 3º Concerto para Piano e Orquestra op. 55, desta feita acompanhado por um quarteto de cordas. No entanto, os seus últimos concertos em Portugal tiveram fraco retorno financeiro e Alfredo Napoleão vivia em francas dificuldades económicas e debilitado em termos de saúde. Morreu na miséria, a 23 de Novembro de 1917, revoltado e amargurado por, em Portugal, não ter tido o mesmo sucesso e reconhecimento que teve fora do país.

Fonte: AVA

Em 2018, o pianista, também portuense, Daniel Cunha publicou um CD a que deu o nome de “Solitude” com peças para piano de Alfredo Napoleão.

Em 2024, Artur Pizarro editou o CD The Romantic Piano Concerto – 64, pela editora discográfica Hyperion que inclui o Concerto para Piano op. 31 de Alfredo Napoleão, com a BBC National Orchestra of Wales sob a direção de Martyn Brabbins.

Partilhe
Share on facebook
Facebook