O trabalho discográfico “Poema Anacrónico” marca a estreia do guitarrista Hugo Vasco Reis a solo. O projecto tem como preocupação situar a guitarra portuguesa como instrumento solista. (Hugo Reis)
Hugo Vasco Reis, excelente compositor e guitarrista, aparece como alguém dotado de uma absoluta capacidade de utilizar a guitarra em qualquer repertório, obedecendo a sua integração no repertório a uma natural questão de bom senso e bom gosto, pois não se imagina um trombone a embalar um bebé, nem um piano ou uma harpa em cima de um carro militar a acompanhar uma parada.
António Victorino d’Almeida
A guitarra portuguesa recebeu esta nacionalidade e passou a identificar-se com a música do nosso país, se bem que as suas origens sejam além fronteiras, onde teria sido usada como substituto do cravo, também com base na indiscutível vantagem de ser transportável! E quando se houve uma guitarra portuguesa a solo, sente-se que a sonoridade se aproxima efectivamente do cravo ou da espineta, pois a capacidade de se fazerem ouvir sem qualquer tipo de amplificação é reduzida. Melhor dizendo, a sua intensidade fraca deixa-se cobrir com facilidade por outros instrumentos, razão pela qual terá agradado de imediato aos cantores, que sempre primaram pelo desejo de terem o seu próprio instrumento – a voz – em evidência, acompanhado, mas sem concorrentes…
Daí que a guitarra portuguesa também fosse escolhida para tocar em espaços pequenos e na condição de acompanhadora de vozes sem características de potência lírica, como seria o caso do Fado.
E foi assim que a guitarra e Portugal se foram afeiçoando, sendo que esse carinho – a que o instrumento corresponderia com os chamados trinados do acompanhamento fadista – também a impediu durante séculos de experimentar novos voos. E aliás, sempre que se punha a hipótese de escrever outro tipo de música para a guitarra portuguesa, evocavam-se de imediato diversas fragilidades e, sobretudo, problemas de afinação capazes de dificultar a escrita. Esse foi, além da frágil intensidade do som, um dos argumentos (falaciosos, alias…) usados para que o instrumento ficasse caseiro.
Surgiram, é certo, grandes guitarristas, cuja técnica e musicalidade fariam história – um Artur Paredes, um Armandinho, o genial Carlos Paredes e muitos outros… mas Pedro Caldeira Cabral esteve efectivamente na vanguarda dos guitarristas que pretenderam dar à guitarra portuguesa uma dimensão mais alargada e um estatuto de instrumento igual aos outros, um instrumento cuja música pudesse escrever-se e ler-se.
Com as mais recentes gerações de músicos, o repertório para guitarra portuguesa já pode dar um salto quantitativo assinalável, nomeadamente na adaptação de trechos musicais concebidos de origem para outros instrumentos, incluindo, como é normal, o seu parente cravo. Ricardo Rocha é um nome incontornável na utilização da guitarra portuguesa como instrumento de insuspeitados recursos tímbricos e técnicos.
Hugo Vasco Reis, excelente compositor e guitarrista, aparece como alguém dotado de uma absoluta capacidade de utilizar a guitarra em qualquer repertório, obedecendo a sua integração no repertório a uma natural questão de bom senso e bom gosto, pois não se imagina um trombone a embalar um bebé, nem um piano ou uma harpa em cima de um carro militar a acompanhar uma parada.
As minhas primeiras obras escritas para guitarra portuguesa derivaram do meu conhecimento com o extraordinário talento de Ricardo Rocha. E agora, Hugo Vasco Reis é um jovem músico que já entrou na história do instrumento, pois permite, de forma absolutamente cabal, como compositor e executante, a utilização da guitarra portuguesa nas mais diversas circunstâncias: não apesar de a obra estar escrita, mas, precisamente, porque está escrita!
António Victorino D’Almeida, 2013
O trabalho discográfico “Poema Anacrónico” marca a estreia do guitarrista Hugo Vasco Reis a solo. O projecto tem como preocupação situar a guitarra portuguesa como instrumento solista. São apresentadas três secções principais: guitarra portuguesa e piano (composições de António Victorino D’Almeida), guitarra portuguesa a solo (composições de Hugo Vasco Reis) e transcrições de obras de Carlos Seixas (1704-1742) de instrumento de tecla, adaptadas para guitarra portuguesa e viola da gamba. O trabalho foi produzido por Mário Dinis Marques e os músicos envolvidos, para além de Hugo Vasco Reis (Guitarra Portuguesa), foram Cândido Fernandes (Piano) e Filipa Meneses (Viola da Gamba). O prefácio é de António Victorino d’Almeida. Este trabalho teve o apoio do Secretário de Estado da Cultura, DGArtes, Antena 2 e da Escola Superior de Música de Lisboa.
Hugo Vasco Reis 2013
Poema anacrónico
“O Espaço da Sombra” é o 4º trabalho discográfico do compositor Hugo Vasco Reis, depois de “Poema Anacrónico” (2013), “Metamorphosis and Resonances” (2017) e “I am (k)not” (2018).
Quando iniciei o processo de criação e idealização deste trabalho, uma das questões que me interessava explorar, era o comportamento de um objeto (guitarra portuguesa), num espaço que habitualmente não é o seu (música contemporânea). Qual a imagem resultante, movimento e discurso? Tentei chegar a um ponto longínquo sobre estas reflexões. Um campo neutro que permitisse, ao instrumento e a mim, trabalhar as ideias e sistematizar escolhas. Uma vez neste ponto, encontrei o caminho para a criação, interpretação e formalização abstrata deste trabalho.
A ideia deste ciclo de peças é o resultado da adição de uma fonte de luz a um objeto, criando uma zona escura, com ausência parcial de luz (o espaço da sombra), proporcionando ao mesmo tempo a existência de um obstáculo. A criação da sombra pode ocupar diferentes espaços e formas na superfície de projeção, dependendo de determinadas características, tais como a fonte, a localização, o espaço, o relevo… destacando-se finos raios de luz em seu redor. O objeto ou imagem é reconhecível, mas existe algo estranho, não totalmente percepcionado, uma certa sombra.
São apresentadas peças cuja instrumentação varia entre solo, eletroacústica e música de câmara, mas sempre com a guitarra portuguesa como elemento solista e pensada como um corpo onde tudo pode ser tocado. Cada peça constitui um objeto fluido, onde tudo está em constante variação, tentando encontrar a poética musical, um espaço não temporal, a expressão, a qualidade do som e criar algo que revele o que cada um pode encontrar no seu interior.
Este trabalho, dedicado à guitarra portuguesa num papel de solista, teve o apoio da DGArtes, Antena 2 e Escola Superior de Música de Lisboa. Foi gravado no Auditório Vianna da Motta e contou com a participação dos pianistas António Victorino d’Almeida e Cândido Fernandes. Engenharia de som de António Pinheiro da Silva. Fotografia de capa de Patrícia Sucena de Almeida. Todas as composições por Hugo Vasco Reis, bem como a interpretação de guitarra portuguesa em todas as peças.
Hugo Vasco Reis 2018
O Espaço da Sombra, de Hugo Vasco Reis
NOMEAÇÃO PARA O PRÉMIO SPA
O trabalho discográfico “O Espaço da Sombra”, dedicado à guitarra portuguesa, em que Hugo Vasco Reis se apresenta como compositor, intérprete e produtor, foi nomeado para o Prémio Autores SPA | 2019, na categoria de Música – Melhor Trabalho de Música Erudita.
Este trabalho discográfico teve o apoio da Direção Geral das Artes, Antena 2 e Escola Superior de Música de Lisboa.
Contou com a participação de:
– Guitarra Portuguesa, Composição e Eletrónica | Hugo Vasco Reis
– Piano | António Victorino D’Almeida
– Piano | Cândido Fernandes
– Engenharia de Som | António Pinheiro da Silva
– Fotografia | Patrícia Sucena de Almeida
– Tradução | Irma Assunção
“O Espaço da Sombra” é o 4º trabalho discográfico do compositor Hugo Vasco Reis, depois de “Poema Anacrónico” (2013), “Metamorphosis and Resonances” (2017) e “I am (k)not” (2018).
Neste momento o compositor encontra-se a finalizar o 5º trabalho discográfico, dedicado às suas composições de música de câmara e com edição prevista para março de 2019.
De acordo com notícia publicada pelo “Público” no Ípsilon, a 31 de Julho de 2018, da autoria de Sérgio C. Andrade, o espólio do compositor, pianista e pedagogo Luíz Costa, pai de Helena e Madalena Sá e Costa, vai ser divulgado pela Casa da Música.
LUIZ COSTA
Espólio do compositor Luiz Costa vai ser divulgado pela Casa da Música
A Câmara do Porto aprovou assinatura de protocolo com a fundação portuense, a Gulbenkian e a família do compositor com vista à digitalização de perto de duas centenas de partituras do pai de Helena e de Madalena Sá e Costa.
A Câmara Municipal do Porto aprovou esta terça-feira, por unanimidade, a assinatura de um protocolo de parceria para a digitalização e divulgação dos documentos da obra musical de Luiz Costa (1879-1960). Os outros parceiros deste protocolo são a família deste pianista e compositor – pai de Helena Sá e Costa (1915-2006) e de Madalena Sá e Costa (n. 1915) –, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Casa da Música.
O texto da proposta agora aprovada em reunião do executivo justifica este protocolo atendendo ao “interesse na divulgação e no estudo da obra de Luiz Costa, que desenvolveu a maior parte do seu trabalho na cidade do Porto”.
Essa tarefa irá caber à Casa da Música, que – segundo os termos do protocolo que será assinado em data a designar – assumirá a responsabilidade de divulgar os documentos digitais das obras do compositor nos seus sítios da Internet, para que “passem a ser do conhecimento público”, um trabalho que deverá ser concretizado até 31 de Dezembro do corrente ano.
A digitalização das partituras de Luiz Costa, já realizada, teve um custo de quatro mil euros, que serão pagos pela Câmara do Porto (2500 euros) e pela Gulbenkian (1500 euros). Esta operação teve por base a inventariação realizada pela musicóloga Christine Wassermann Beirão, no âmbito de um pós-doutoramento na Universidade Católica do Porto, e que foi editada em 2014.
Sérgio C. Andrade, Ípsilon, Público, 31 de Julho de 2018
BIOGRAFIA DE LUIZ COSTA
Nascido numa freguesia de Barcelos, Monte de Fralães, em 1879, Luiz Costa tornou-se um nome de referência do modernismo musical português. Iniciou os estudos musicais no Porto com Bernardo Moreira de Sá (1853-1924), que se tornaria seu sogro, pelo casamento com a também pianista Leonilde Moreira de Sá (1882-1964). No início do século XX, Luiz Costa aperfeiçoou a formação musical na Alemanha com músicos e professores da chamada Nova Escola Alemã de Piano, que incluía o também português Vianna da Motta.
De regresso a Portugal, tornou-se professor na Escola Superior de Piano e dirigiu duas instituições da cidade que tinham sido fundadas pelo seu sogro, o Conservatório de Música e o Orpheon Portuense (cujos arquivos estão também à guarda da Casa da Música) – através desta sociedade de concertos, o Porto pôde acolher figuras maiores da música mundial, como Maurice Ravel, Claudio Arrau ou Edwin Fisher. Paralelamente, Luiz Costa tocava como solista em vários concertos temáticos, e também ao lado de intérpretes como Pablo Casals e Guilhermina Suggia.
Como compositor, Luiz Costa desenvolveu uma obra assinalável, em que pretendeu casar a tradição poética e bucólica do seu país, e mesmo do seu Minho natal, com correntes estéticas do seu tempo, da escola alemã ao impressionismo francês, passando pelo neoclassicismo. Simultaneamente compôs várias peças para as suas filhas, e em particular para o piano de Helena Sá e Costa.