Canções de Saudade

Saudades

Canções de saudade

Letras

A saudade do teu cheiro

[ Ai o Meu Primeiro Amor ]

A saudade do teu cheiro
E o sorrir do teu olhar
Faz o meu corpo inteiro
Ganhar asas e voar

Num voo derradeiro
Sobrevoo o alto-mar
E nem o denso nevoeiro
Faz este fogo cessar

Ai o meu primeiro amor
Feito de um tímido beijo
É de todos o maior
É de todos o primeiro

Ai o meu primeiro Amor…

É um amor estrangeiro
Que vive em liberdade
Meu coração prisioneiro
Fica preso à saudade

Ai o meu primeiro amor
Feito de um tímido beijo
É de todos o maior
É de todos o primeiro

Ai o meu primeiro amor
Feito de um tímido beijo
É de todos o maior
É de todos o primeiro

Ai o meu primeiro Amor…
Ai o meu primeiro Amor…

Letra e música: Samuel Lopes
Intérprete: Citânia
Versão original: Citânia (in Livro/CD “Segredos do Mar”, Seven Muses, 2011)

Reciclanda

Reciclanda

O projeto Reciclanda promove a reutilização, reciclagem e sustentabilidade desde idade precoce.

Com música, instrumentos reutilizados, poesia e literaturas de tradição oral, contribui para o desenvolvimento global da criança e a qualidade de vida dos idosos. 

Contacte-nos:

António José Ferreira
962 942 759

A saudade enlouqueceu

[ A saudade Não existe ]

A saudade enlouqueceu
no dia em que tu partiste;
não sei o que é que me deu
se afirmei como um ateu
que a saudade não existe.

Então, o Fado fez pouco
da minha infelicidade
e nunca mais me deu troco.
Não sabe quem anda louco:
se sou eu ou a saudade

Coitado de quem a esquece,
nunca mais volta a ter paz.
Quando a saudade enlouquece,
a loucura é uma prece
com o Fado por detrás.
Coitado de quem a esquece,
nunca mais volta a ter paz.

A saudade ficou rouca
de tanto te ter chamado,
e anda de boca-em-boca;
comentam que ela está louca,
mas quem está louco é o Fado!

A Saudade Não Existe (A Saudade Enlouqueceu)
Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Joaquim Campos (Fado Amora)
Intérprete: Cristina Nóbrega
Versão original: Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014)
Outra versão de Cristina Nóbrega (grav. no Largo do Teatro Nacional de São Carlos, Lisboa, 29 Ago. 2014, in CD “Ao vivo no Chiado”, Watch & Listen, 2015)

Cristina Nóbrega, Ao Vivo no Chiado
Cristina Nóbrega, Ao Vivo no Chiado

A saudade, meu amor

[ Saudade, Silêncio e Sombra ]

A saudade, meu amor,
É o martírio maior
Da minha vida em pedaços,
Desde a tarde desse dia
Em que ao longe se perdia
P’ra sempre o som dos teus passos.

Saudades fazem lembrar
Silêncios do teu olhar,
Segredos da tua voz
E essa antiga melodia
Que o vento na ramaria
Murmurava só p’ra nós.

Lembras-te daquela vez
Quando eu cantava a teus pés
Trovas que não tinham fim,
Quando o luar prateava
E quando a noite orvalhava
As rosas desse jardim?

Jardim distante e deserto,
Sinto tão longe e tão perto
O passado que te ensombra…
Devaneio e realidade,
Silêncio, sombras, saudade,
Saudades, silêncio e sombr

Letra: D. Nuno Lorena
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)
Intérprete: Tereza Tarouca (in EP “Saudade, Silêncio e Sombra”, RCA Victor, 1964; LP “Os Melhores Fados de Tereza Tarouca”, RCA Camden, 1978; 2LP “Álbum de Recordações”: LP 1, Polydor/PolyGram, 1985; CD “Temas de Ouro da Música Portuguesa”, Polydor/PolyGram, 1992; CD “Álbum de Recordações”, Alma do Fado/Home Company, 2006; CD “Tereza Tarouca”, col. Fado Alma Lusitana III, vol. 3, Levoir / Correio da Manhã, 2014)

Era uma vez um comboio

[ ‘Inda me Alembra a Azeitona ]

Era uma vez um comboio
Em que me fui a montar:
Abalei nele p’rá cidade,
Nunca mais quis eu voltar.

Nunca mais quis eu voltar,
Ilusão da vida minha;
‘Inda me alembra a azeitona
Quando o medo guarda a vinha.

‘Inda me alembra a azeitona,
‘Inda me alembra o lagar:
Vinha a seguir à castanha
E depois de vindimar.

Vinha a seguir à castanha,
À castanha redondinha;
‘Inda me alembra a azeitona
E de rabiscar a vinha.

Uma vez cá na cidade
Quis comer migas de pão;
Tinha tudo p’ra as fazer,
Faltava-me o coração.

Faltava-me o coração
Que eu deixei à tua beira;
‘Inda me alembra a azeitona,
Ai, queira eu ou não queira.

‘Inda me alembra a azeitona,
‘Inda me alembra o lagar:
Vinha a seguir à castanha
E depois de vindimar.

Vinha a seguir à castanha,
À castanha redondinha;
‘Inda me alembra a azeitona
E de rabiscar a vinha.

Agora quero eu voltar
E já não tenho ninguém;
O coração que eu deixei
Deixou-me a mim também.

Deixou-me a mim a cismar
De alecrim e manjerona;
Não sei qual deles cheirar
Se ‘inda me alembra a azeitona.

‘Inda me alembra a azeitona,
‘Inda me alembra o lagar:
Vinha a seguir à castanha
E depois de vindimar.

Vinha a seguir à castanha,
À castanha redondinha;
‘Inda me alembra a azeitona
E de rabiscar a vinha.

Letra: Vítor Reia
Música: Jorge Semião
Intérprete: Vá-de-Viró (in CD “Por Aí…”, Música XXI – Associação Cultural, 2013)

Se me Levam Águas

MOTE ALHEIO

Se me levam águas,
nos olhos as levo.

VOLTAS

Se de saudade
morrerei ou não,
meus olhos dirão
de mim a verdade.
Por eles me atrevo
a lançar as águas
que mostrem as mágoas
que nesta alma levo.

As águas que em vão
me fazem chorar,
se elas são do mar
estas de amor são.
Por elas relevo
todas minhas mágoas;
que, se força de águas
me leva, eu as levo.

Todas me entristecem,
todas são salgadas;
porém as choradas
doces me parecem.
Correi, doces águas,
que, se em vós me enlevo,
não doem as mágoas
que no peito levo.

Poema (vilancete em redondilha menor): Luís de Camões (in “Rimas”, org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; “Obras de Luís de Camões”, Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 772-773)
Música: Luís Cília
Intérprete: Luís Cília (in LP “La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours – 1”, Moshé-Naïm, 1967; CD “La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours”, Moshé-Naïm/EMEN, 1996)

Em sonho lá vou

[ Longe Daqui ]

Em sonho lá vou de fugida,
Tão longe daqui, tão longe.
É triste viver tendo a vida
Tão longe daqui, tão longe.

Mais triste será quem não sofre
Do amor, a prisão sem grades.
No meu coração há um cofre
Com jóias que são saudades.

Tenho o meu amor para além do rio,
E eu cá deste lado cheiinha de frio.
Tenho o meu amor para além do mar,
E tantos abraços e beijos p’ra dar.

Oh bem que me dás mil cuidados,
Tão longe daqui, tão longe,
A Lua me leva recados,
Tão longe daqui, tão longe.

Quem me dera ir céu adiante,
Correndo veloz no vento:
Ter asas, chegar num instante
Onde está meu pensamento.

Tenho o meu amor para além do rio,
E eu cá deste lado cheiinha de frio.
Tenho o meu amor para além do mar,
E tantos abraços e beijos p’ra dar.

Tenho o meu amor para além do rio,
E eu cá deste lado cheiinha de frio.
Tenho o meu amor para além do mar,
E tantos abraços e beijos p’ra dar.

Nota: Na gravação original (amaliana), o primeiro verso da quarta estrofe tem a seguinte forma: “Ao bem que me dá mil cuidados”.

Letra: Hernâni Correia
Música: Arlindo de Carvalho
Intérprete: Cristina Nóbrega
Versão original: Amália Rodrigues (grav. 1970, in CD “Segredo”, EMI-VC, 1997; 3CD “É ou Não É?: os 45 rpm 1968-1975”: CD 1, Edições Valentim de Carvalho, 2018)

Amália Rodrigues em 1969
Amália Rodrigues em 1969

Eu tenho um xaile encarnado

[ Xaile Encarnado ]

Eu tenho um xaile encarnado
É uma lembrança tua
Tem um segredo bordado
Que às vezes eu trago à rua

Tem as marcas de uma vida
Que a vida marca no rosto
Mas ganha uma nova vida
Nas noites que o trago posto

Já foi lençol e bandeira
Vela de barco também
Tem marcas da vida inteira
Mas dizem que me cai bem

Se pensas que me perdi
Nalgum destino traçado
Para veres que não esqueci
Eu ponho o xaile encarnado

Letra: João Monge
Música: Armandinho (Fado da Adiça)
Intérprete: Aldina Duarte (in CD “Crua”, EMI, 2006)

Eu peguei em saudades tuas

[ Saudade solta ]

Eu peguei em saudades tuas
Fui plantá-las no meu jardim
Porque sei que assim continuas
Aqui bem juntinho a mim
E cantando a saudade eu sei
Algo aqui há-de nascer
Se tristeza eu semeei
Alegria hei-de colher
Alegria hei-de colher

Pedrinhas que houver eu hei-de tirar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta
E sombras que houver eu hei-de afastar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta

Novos dias vão chegar
Outras memórias felizes
E o vento que nos vergar
Não nos vai quebrar raízes
E cantando eu sei que fica
A saudade bem aqui
E a esperança que nos dá vida
Em mim não terá o fim
Sei que vais esperar por mim

Pedrinhas que houver eu hei-de tirar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta
E sombras que houver eu hei-de afastar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta

Pedrinhas que houver eu hei-de tirar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta
E sombras que houver eu hei-de afastar
E todas as ervas daninhas à volta
E o que vier virá lembrar
O que a vida prende a saudade solta

Intérprete: Mariza

Eu preciso de te ver

Eu preciso de te ver,
Ausente d’amor sem razão,
Para te mostrar as sombras
Do quarto da solidão.
Eu preciso de te ver,
Ausente d’amor sem razão.

Eu preciso de te ver
Para matar este frio,
Que voa dentro de mim
Como as gaivotas no rio.
Eu preciso de te ver
Para matar este frio.

Eu preciso de te ver
Para matar esta saudade,
Que já começa a vestir
O tempo da minha idade.
Eu preciso de te ver
Para matar esta saudade.

Como ganhei a coragem
D’areia a beber a espuma,
Eu preciso de te ver
Mais uma vez, só mais uma.

Letra: Vasco de Lima Couto
Música: José Fontes Rocha (Fado Isabel)
Intérprete: Joana Amendoeira* (in CD “Amor Mais Perfeito: Tributo a José Fontes Rocha”, CNM, 2012)
Primeira versão (com a melodia do Fado Isabel): Beatriz da Conceição (in EP “Pomba Branca, Pomba Branca”, Banda/Movieplay, 1974; CD “Beatriz da Conceição”, col. O Melhor dos Melhores, vol. 75, Movieplay, 1997; CD “Beatriz da Conceição”, col. Clássicos da Renascença, vol. 21, Movieplay, 2000)
Outra versão de Beatriz da Conceição (in CD “Tears of Lisbon”, Sony Classical, 1996)
Versão original (com a melodia do Fado Menor do Porto): Lucília do Carmo (in LP “Recordações”, Decca/VC, 1971, reed. Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2008; CD “Lucília do Carmo” (compilação), col. Caravela, EMI-VC, 1997)

Beatriz da Conceição

fadista Beatriz da Conceição

Fecho os olhos já cansados

[ Solidão e Xisto ]

Fecho os olhos já cansados.
Relembro os tempos passados,
as finas flores de cerejeira,
os cereais secos na eira.
No percurso da memória,
vem à luz a mesma história
da minha aldeia adormecida
Vem à luz a mesma história.
Minha terra, minha alma
que antes era canto e vida!

Fecho os olhos navegantes.
Relembro tempos distantes
das terras fecundadas,
dias de sol e sementes lançadas.
Eram campos de alegria.
Hoje são pó e nostalgia
nesta aldeia adormecida.
Hoje pó e nostalgia.
Minha terra, minha alma
que antes era canto e vida!

Fecho os olhos de mansinho,
sigo agora outro caminho.
Desta terra me despeço
no embalo das vozes antigas.
Num lamento adormeço
ao rumor de velhas cantigas.
Espalho-me em sementes de alma
na terra de todos os campos.
Dela brotarão flores em cantos:
Que ainda sou, ainda existo
nesta aldeia de solidão e xisto.

Letra: Joana Lopes
Música: António Pedro
Intérprete: Musicalbi
Versão original: Musicalbi (in CD “Solidão e Xisto”, Musicalbi, 2019)

Há uma saudade guardada

[ A nossa voz ]

Letra: Mariza
Música: Fred, Vicente Palma, André Dias
Intérprete: Mariza

Na noite

[ Mais do Que Saudade ]

Na noite, lá longe um cão a ladrar
E o som que, se solta, levita no ar
Como que uma dança, vai alguém a correr;
Há carros e motas abanando o escuro,
Lembro o teu sorriso tão lindo, inseguro…
Não te sei chamar, o que hei-de fazer?

Onde estás, meu amor? Onde pairas?
Será que pensas em mim?
Também, como eu, estás assim?
Na verdade, isto é mais do que saudade,
É mais do que saudade.

Porquê este aperto a lembrar, tal e qual,
Que o longe da vista é como um Carnaval:
Olhar e sorrir, não mostrar que estou triste?
Prefiro deixar o coração de lado,
Ir à beira-rio, andar um bocado…
Será que paraste? Será que me ouviste?

Onde estás, meu amor? Onde pairas?
Será que pensas em mim?
Também, como eu, estás assim?
Na verdade, isto é mais do que saudade,
É mais do que saudade.

A saudade tem destas coisas estranhas,
Tem trejeitos, amua, tem também suas manhas:
Não quer admitir, diz que não, bate o pé;
Na verdade, sem ela em qualquer circunstância
Sentiria por ti esta falta, esta ânsia…
Muito mais que saudade, nem eu sei o que é.

Onde estás, meu amor? Onde pairas?
Será que pensas em mim?
Também, como eu, estás assim?
Na verdade, isto é mais do que saudade,
É mais do que saudade.

Na verdade, isto é mais do que saudade,
É mais do que saudade.

Letra e música: Amélia Muge
Arranjo: Amélia Muge e Quiné Teles
Intérprete: Ela Vaz (in CD “Eu”, Micaela Vaz, 2017)

No alto daquela fraga

[ Aroma da Saudade ]

No alto daquela fraga,
Vi teus olhos cintilar.
A distância traz a mágoa
De não te poder beijar.

Que saudades do teu cheiro,
Dos teus lábios de romã,
Dos recatos do celeiro,
Faces rubor de maçã!

Trigueira do Alentejo
Tens o mel do meu desejo,
No teu beijo
Um aroma da saudade.

Teus cabelos cor de trigo,
Teu perfume de alecrim.
Ao ribeiro vou contigo;
Não te apartes mais de mim!

Na eira corre o suão
E um aroma de poejo.
Coentros, migas de pão
Alimentam o desejo.

Trigueira do Alentejo
Tens o mel do meu desejo,
No teu beijo
Um aroma da saudade.

Trigueira do Alentejo
Tens o mel do meu desejo,
No teu beijo
Um aroma da saudade.
Trigueira do Alentejo…

Letra e música: Álvaro M. B. Amaro
Intérprete: Dialecto*
Versão original: Dialecto (in CD “Aromas”, Dialecto/Cloudnoise, 2011)

O meu avô dançava

[ Baile em Segredo ]

O meu avô dançava
O que a avó trauteava
E, com movimento,
A valsa voava.

Foi no salão de dança,
Mesmo a meio do mar
Quando um navio avança,
Dança e balança o par;
Mesmo a meio do mundo,
Longe o pulsar do cais
Num silêncio profundo,
Toca uma nota mais.

Ai, guarda os teus sentidos
Ai, numa caixa aberta:
São os contos vividos
Que um quadro liberta!
Ai, guarda a tua vida
Ai, num frasco de sais:
No calor da avenida,
O sol de volta ao cais!

A dimensão que o mundo
Tem do silêncio ouvir
Vem dum saber profundo:
O saber de existir.

O meu avô dançava
O que a avó trauteava
E, com movimento,
A valsa voava.

Letra: João Afonso Lima
Música: João Afonso Lima e António Afonso
Arranjo: Quiné Teles
Intérprete: Ela Vaz, com Uxía (in CD “Eu”, Micaela Vaz, 2017)
Versão original: João Afonso com António Afonso (in CD “Outra Vida”, Vachier & Associados/Universal, 2006)

Olá! Como é que estás?

[ SMS ]

— Olá! Como é que estás? Como é que vais?
Os dias por aqui seguem iguais
E passam sem trazer mais novidades;
Há muito que não sei nada de ti,
Mas pelo coração já percebi
Que ainda guardo aqui muita saudade.

— Se tu quiseres podemos tomar
Um copo ou um café para falar,
Pôr a conversa em dia um destes dias:
Quero saber de ti e do que fazes,
Saber se por acaso ainda trazes
Contigo aquele brilho que trazias.

Podemos ver um filme no cinema.
— E dar os dois a mão naquela cena.
— Ficar assim até aos créditos finais.
— Podemos ir os dois beber um gin.
— Dizer que a vida vai assim-assim…
— Os dias por aqui seguem iguais.

— Podias pôr aquele teu vestido,
Aquele azul com o ombro descaído,
Estampado a padrões orientais;
Gostava de levar-te a jantar fora,
Por mim podemos ir a qualquer hora
Porque aqui os dias seguem sempre iguais.

— Desculpa se o telefone te acordou,
Escrevi-te porque o coração mandou,
Ele já não podia esperar mais;
Eu já ouvi dizer que o tempo cura
Mas sei que a tua falta ainda dura…
Os dias por aqui seguem iguais.

Não me leves a mal por te escrever
Nem sintas que é preciso responder,
É só uma mensagem, nada mais;
Só escrevo p’ra dizer que ainda te quero
E quando a lua vem ainda te espero…
As noites por aqui seguem iguais.

— As noites por aqui seguem iguais.
— As noites por aqui seguem iguais.
— Os dias por aqui seguem iguais.
— As noites por aqui seguem iguais.

Letra: José Fialho Gouveia
Música e arranjo: Rogério Charraz
Intérprete: Rogério Charraz com Katia Guerreiro (in CD “Não Tenhas Medo do Escuro”, Rogério Charraz/Compact Records, 2016)

Os olhos do meu amor

[ Dois Navios ]

Os olhos do meu amor são dois navios de guerra;
navegam pelo mar fundo, deitam faíscas à terra.
Ó pombinh’enrol’enrol’ai! ó meu pomb’enroladore;
já lá vem ‘àssobiare a caldeira do vapore.

A caldeira do vapor’ai! ó meu pomb’enrol’enrola.
Eu hei-d’ir par’à Espanha casar com ‘ma espanhola.
Casar com ‘ma espanhola, qu’elas são moças bonitas;
usam sai’à papo-seco, sapatos, meias e ligas.

Ó meu amor, eu fujo pelo mar’abaix’eu sou marujo.
Ó meu amor, eu fujo pelo mar’abaix’eu sou marujo.
Eu sou marujo mais ela.
Eu sou marujo mais ela.
Pelo mar’abaixo vai um barco à vela.
Pelo mar’abaixo vai um barco à vela.

Ó pescador da barquinha! Qu’ei lá! Volt’à trás que vais perdido!
Porquê? Essa mulher qu’aí levas!
Que tem? É casad’e tem marido!
Vá de banda, carabola, vá de banda, vá de banda, carol’olé!
Eu sei falar à ‘spanhola, cara linda, “mira usted”.
Vá de banda, carabola, vá de banda, vá de banda, carol’olé!
Eu sei falar à ‘spanhola, cara linda, “mira usted”.

Vá de banda, carabola, vá de banda, vá de banda, carol’olé!
Eu sei falar à ‘spanhola, cara linda, “mira usted”.
Vá de banda, carabola, vá de banda, vá de banda, carol’olé!
Eu sei falar à ‘spanhola, cara linda, “mira usted”.

Letra e música: Tradicional portuguesa
Arranjo: Paulo Cunha
Intérprete: Vá-de-Viró (in CD “Por Aí…”, Música XXI – Associação Cultural, 2013)

Quando o amor se cansar

[ O Que É Que Eu Digo à Saudade? ]

Quando o amor se cansar e tu partires,
Ficarmos no silêncio desta idade,
Sem um adeus sequer tu me dizeres,
Uma palavra, um gesto de amizade;
Sem um adeus sequer tu me dizeres,
Amor, que vou dizer nesta saudade?

O que é que eu digo à saudade
Sem teus olhos p’ra me olhar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teus lábios p’ra beijar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu corpo para amar?
O que é que eu digo à saudade
Se não me vens abraçar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?

E na cama sozinha em que te penso,
Em que me venço inteira, com verdade,
Sendo a ti, meu amor, a quem pertenço,
Porque não és de mim outra metade?
E se é pensando em ti que eu adormeço,
O que é que eu digo à noite e à saudade?

O que é que eu digo à saudade
Sem teus olhos p’ra me olhar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teus lábios p’ra beijar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu corpo para amar?
O que é que eu digo à saudade
Se não me vens abraçar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?

O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?

O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?
O que é que eu digo à saudade
Sem teu cheiro respirar?
O que é que eu digo à saudade
Com tanto amor para dar?

Letra: José Luís Gordo e Mário Rainho
Música: José Fontes Rocha
Intérprete: Joana Amendoeira (in CD “Amor Mais Perfeito: Tributo a José Fontes Rocha”, CNM, 2012)
Versão original: Maria da Fé (in LP “Amor na Minha Voz”, MBP, 1989, reed. CD “Estar Contigo”, Ovação, ?)
Outra versão de Maria da Fé (in CD “Canto Lusitano”, Ovação, 1993; CD “Maria da Fé”, col. Estrelas da Música Portuguesa, Ovação, 2015)

A Vida Que Há na Saudade

Quando o silêncio me diz
que a vida está por um triz,
e eu sei que fala verdade,
vou p’ra trás de uma guitarra
e a minha voz agarra
a vida que há na saudade.

Vem um fado e outro fado
e o coração, cansado,
diz que não quer sofrer tanto,
porque já sabe de cor
o que lhe faz o Menor
de cada vez que eu o canto.

Mas o guitarrista toca
uma guitarra que evoca
outra guitarra mais triste:
está guardada no meu peito
e toca um fado que é feito
da dor mais forte que existe.

Ao escutá-la no meu sangue,
o meu coração exangue
volta a bater com vontade:
e é nas cordas da viola
que a minha vida se enrola
na vida que há na saudade!

Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Alfredo Duarte “Marceneiro” (Fado Cravo)
Intérprete: Cristina Nóbrega (ao vivo no Teatro da Luz, Lisboa)
Versão original: Cristina Nóbrega (in CD “Um Fado para Fred Astaire”, Watch & Listen, 2014)

Alfredo Marceneiro
Alfredo Marceneiro

Quando se tem pouca idade

[ A Vida Como Ela É ]

Quando se tem pouca idade
Só se percebe a saudade
Se espreitamos à janela;
E ao vermos a mãe partir
Só pensamos em fugir
P’ra baixo das saias dela.

Saudade é ter que ir p’rá cama
Após vestir o pijama
E sonhar com temporais;
Mas por ter medo do escuro
Ir num passinho inseguro
Dormir p’rá cama dos pais.

É estar com gripe ou anginas,
Encharcado em aspirinas
E saber que os companheiros
Lá foram jogar à bola
No campeonato da escola,
Mas não foram os primeiros.

É o brinquedo estragado,
É o sapato apertado
Que já não cabe no pé;
É tudo o que ao ir embora
Nos obriga a ver agora
A vida como ela é.

Letra: Tiago Torres da Silva
Música: Casimiro Ramos (Fado Três Bairros)
Intérprete: Joana Amendoeira* (in CD “Brincar aos Fados”, Farol Música, 2014)

Saudosos estão os meus olhos

[ Saudade Atrás de Saudade ]

Saudosos estão os meus olhos
do fitar do teu olhar;
Saudosas estão minhas mãos
das tuas mãos afagar.

Saudoso está o meu corpo
do teu corpo me abraçar;
Saudosa está minha voz
de ouvir a tua falar.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudoso está meu penar
do tempo em que não penava;
Saudosa está minha boca
da tua quando a beijava.

Saudosa está minha alma
por tua alma não ter;
Saudoso está o meu riso
podia já não saber.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Saudade atrás de saudade,
saudade só me ficou
do tempo em que a tua vida
p’la minha vida passou.

Letra: Dina Carapeto
Música: Jorge Semião
Intérprete: Vá-de-Viró (in CD “Por Aí…”, Música XXI – Associação Cultural, 2013)

Três Paus

Três paus
é só quanto custa um bilhete
para percorrer o velho tapete
daquele cinema
onde passa aquele filme que vimos mil vezes

Três paus
não pagaram o que fizeste
o beijo e a mão que então tu me deste
Foi na sala escura
que acendeste a luz da minha velha prece

Venham, venham ver o maior filme de sempre!
Hoje no Cinema Central
uma história de amor como não há igual.
Ela foge p’ra casar… Ele morre atropelado
O pai desembestado
rouba o neto à sua mãe… e mais não conto!
Só custa três paus!

Três paus
é já quanto custa um sorvete
mais caro que um copo de clarete
servido bem frio
numa tarde longa de um Verão quente

Três paus
eram de morango e folia
gargalhadas do mais doce que havia
soltavam no ar
coisas muito tolas que enchiam os dias

É frut’ó chocolate!
P’ró menino e p’rá menina!
Ó minha senhora, não vai um geladinho?
Refresca até o cabelo, o meu sorvete fresquinho.
Prove lá, avozinha!
Não me diga que não gosta desta categoria?!
Só custa três paus!

Três paus
marcam o sabor de uma vida
que nunca se acaba na despedida
nos anos felizes
da idade nova breve e distraída

Letra: Eugénia Ávila Ramos
Música: Carlos Lopes
Intérprete: Rua da Lua* (in CD “Rua da Lua”, Rua da Lua, 2016)

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