Canções de cidadania
Acredito em pouca coisa
[ instrumental ]
Acredito em pouca coisa
que venha escrita em loiça,
dessa de pôr na parede.
Acredito mais no desempenho
da laranja que apanho,
que como e me mata a sede.
Acredito nas façanhas,
muito menos nas patranhas
de quem faz só porque sim.
Acredito nas crianças,
no meu ventre são esperanças
de um futuro sem fim.
Acredito na loucura
de quem pede mais ternura
e vira costas à guerra.
Acredito na fé dos outros
que às vezes abrem poços
só para encontrar mais terra.
Acredito no Caetano,
no Zambujo que é meu mano,
em todas as vozes calmas.
Acredito na poesia
e também na aletria,
em todos adoçantes de almas.
Acredito na minha mãe,
ela que sofreu bem
para que eu fosse como sou.
Crente nos frutos e flores,
nos mais impossíveis amores,
onde o Sol mais brilhar eu estou.
Eu estou
Eu estou
Eu estou
Eu estou
Eu estou
Letra: Celina da Piedade
Música: Alex Gaspar
Intérprete: Celina da Piedade (in CD “Sol”, Sons Vadios, 2016)
Eu ia não sei p’ra onde
[ Que Bonito Que Seria ]
Cantiga primeira:
Eu ia não sei p’ra onde,
Encontrei não sei quem era:
Encontrei o mês de Abril
Procurando a Primavera.
Moda:
Que bonito que seria
Se houvesse compreensão:
Os homens não se matavam
E davam-se como irmãos.
É tão linda a Liberdade,
Até que chegou um dia;
Se houvesse compreensão,
Então que bonito que seria.
Cantiga segunda:
Não há bem que sempre dure
Nem mal que não acabe;
Mas há quem lute
Pelo fim desta nossa Liberdade.
Moda:
Que bonito que seria
Se houvesse compreensão:
Os homens não se matavam
E davam-se como irmãos.
É tão linda a Liberdade,
Até que chegou um dia;
Se houvesse compreensão,
Então que bonito que seria.
Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in CD “O Círculo Que Leva a Lua”, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2003; Livro/2CD “Terra: Antologia 1972-2006”: CD 2, Associação de Cante Alentejano “Os Ganhões”, 2006)
Primeira versão do Grupo Coral “Os Ganhões de Castro Verde” (in LP “Os Ganhões de Castro Verde”, Metro-Som, 1980, reed. Metro-Som, 1997)
É o amor
[ Juntos somos mais fortes ]
Intérprete: Amor Electro
Nunca sofri de raça
[ Sangue Bom ]
Nunca sofri de raça
Minha pele é muito boa
Tenho sangue mouro de Goa
E sangue louro de Mombaça
Saiba o senhor
Minha raça é meio-errante
Num dia sou quase zulu
No outro dia, xavante
Mulato, preto-fulo
Saiba o senhor
Saiba o senhor
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça é superstição de gente mal arraçada
Saiba o senhor: eu não creio em raça, não, raça danada
Raça é superstição de gente mal arraçada
Eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Eu sou o avesso da raça
Minha alma é muito à toa
Gosto d’amêijoas com jimboa
A toda a mistura acho graça
Saiba o senhor
Saiba o senhor
Minha raça é um jardim
Num dia sou quase azul
No outro, cor de marfim
Sou Bissau e sou Cochim
Saiba o senhor
Saiba o senhor
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça é superstição de gente mal arraçada
Saiba o senhor: eu não creio em raça, não, raça danada
Raça é superstição de gente mal arraçada
Eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Raça danada, eu não creio em raça, não
Eu não creio em raça, não
(Raça dum cabrão!)
Poema: José Eduardo Agualusa (Para o Caetano Veloso que quis um dia saber a minha raça)
Música: João Afonso Lima
Intérprete: João Afonso com António Afonso
São dois braços
[ Canção dos abraços ]
São dois braços, são dois braços
Servem p’ra dar um abraço
Assim como quatro braços
Servem p’ra dar dois abraços
E assim por ai fora
Até que quando for a hora
Vão ser tantos os abraços
Que não vão chegar os braços
Vão ser tantos os abraços
Que não vão chegar os braços
P’ra os abraços
Intérpete: Sérgio Godinho
Da peça de Sérgio Godinho Eu, tu, ele, nós, vós, eles