Mário de Sampayo Ribeiro

Mário de Sampayo Ribeiro

Musicologia

Mário de Sampaio Ribeiro, por Manuel Deniz Silva

Mário de Sampaio Ribeiro (Lisboa 1898-1966), foi musicólogo, maestro e compositor. Autor de uma intensa produção ensaística, dedicou-se em particular ao estudo da música polifónica portuguesa dos séculos XVI e XVII, e em particular dos mestres da Escola de Évora.

Foi um dos principais animadores, com Ivo Cruz e Eduardo Libório, do movimento Renascimento Musical, fundado em 1924.

Fundou e dirigiu diversos grupos corais, nomeadamente a Sociedade Coral Duarte Lobo (1928) e o coral Polyphonia (1941), e dirigiu, a partir de 1947, o Coro Universitário de Lisboa.

Em 1942 foi nomeado inspector de Música e Canto Coral da Mocidade Portuguesa, tendo depois assumido a presidência do Sindicato Nacional dos Músicos entre 1951 e 1961.

Em 1958, criou a colecção “Rei Musicae Portugaliae Monumenta”, destinada à publicação de edições facsimiladas do património musical português. Nas obras corais dos compositores da suposta “idade de ouro” da música portuguesa, Sampaio Ribeiro identificava a expressão de um verdadeiro nacionalismo musical, que segundo ele não deveria ser nunca “explícito” nem “objectivo”.

Em oposição à idealização romântica das tradições populares, Sampaio Ribeiro defendia que o verdadeiro nacionalismo deveria ser “implícito” e “subjectivo”, traduzindo a sensibilidade e a “verdade espiritual” de um determinado povo, que encontrava por exemplo no “misticismo íntimo” das composições de Duarte Lobo ou Diogo de Melgás.

Assim, e ao contrário de muitos outros compositores do mesmo período e mesmo das políticas impulsionadas pelo Secretariado de Propaganda Nacional e outras instituições do Estado Novo, Sampaio Ribeiro criticou severamente todas as tentativas de desenvolvimento de uma linguagem erudita que tomasse a arte popular como o seu “elemento-base” (Ribeiro 1935).

No entanto, e em aparente contradição com essa tomada de posição historicista e anti-folclórica, a harmonização de canções populares representou uma parte importante da sua actividade como compositor e constituiu um dos repertórios essenciais, a par da polifonia setecentista, dos programas interpretados pelo grupo coral Polyphonia.

Essa divisão de repertórios reflectiu-se mais tarde na publicação, a partir de 1954, das duas séries de “Cadernos de repertório coral Polyphonia”: a “série azul” para a música antiga e a “série amarela” para a música popular. Da mesma forma, Sampaio Ribeiro escreveu várias harmonizações de melodias tradicionais para os cancioneiros da Mocidade Portuguesa, defendendo a sua importância nas práticas musicais da organização.

REFERÊNCIAS

Artiaga, Maria José. 2003. “Canto coral como representação nacionalista”. In Vozes do Povo, a folclorização em Portugal, editado por Salwa Castelo-Branco e Jorge de Freitas Branco, 265-273. Oeiras: Celta editora.

Nery, Rui Vieira. 2010. “Mário Luís de Sampaio Ribeiro”. In Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, coordenação de Salwa Castelo-Branco, vol. 4, 1121-1123. Lisboa: Círculo de Leitores/Temas e Debates.

Silva, Manuel Deniz. 2001. “‘Orfeonizar a Nação’, o canto coral nos primeiros anos da Mocidade Portuguesa”. Revista Portuguesa de Musicologia 11: 139-173.

Silva, Manuel Deniz. 2004. “O projecto nacionalista do Renascimento Musical (1923-1946): ‘reaportuguesar’ a música portuguesa”. Ler História 46: 27-57.

Fonte: Universidade de Aveiro, A nossa música

HARMONIZAÇÕES

Um dos seus legados mais duradouros é o seu conjunto de harmonizações de canções de Natal como:

Menino Jesus, que é da Vossa camisinha?

Nasceu, nasceu, pastores

Natal cigano

Natal da Aldeia Nova de São Bento

Natal da Ilha da Madeira

Natal da Índia Portuguesa

Natal de Alferrarede

Natal de Campo Maior

Natal de Cardigos

Natal de Castro Vicente

Natal de Elvas (O Menino chora, chora)

Natal de Elvas (O Menino que nasceu)

Natal de Évora

Natal de Linhares

Natal do Ribatejo

Reis da Aldeia Nova de São Bento

Sou cigana (Natal de Elvas)

EDIÇÕES MUSICAIS

Sete Alleluias inéditas: (dum códice do mosteiro de Arouca), Ed. Ora & Labora, (Porto, 1953).

8 responsórios da Semana Santa: Francisco Martins: transcritos em notação moderna e revistos por Mário de Sampayo Ribeiro, Sassetti, (Lisboa, 1954).

Fr. Manuel Cardoso: 12 trechos selectos, transcritos em notação moderna e revistos pelo Pe. José Augusto Alegria, Sassetti, (Lisboa, 1955).

6 trechos selectos D. Pedro de Cristo: transcritos em notação moderna e revistos por Mário de Sampayo Ribeiro, Sassetti, (Lisboa, 1956).

Diversos autores: 13 obras selectas: transcritas e revistas ou originais, Sassetti, (Lisboa, 1957).

9 Motetos da Quaresma: Diogo Dias Melgaz, transcritos e revistos por Mário de Sampayo Ribeiro, Sassetti, (Lisboa, 1959).

10 Trechos Selectos: Filipe de Magalhães: Transcritos e Revistos por Mário de Sampayo Ribeiro, Sassetti, (Lisboa, 1961).

OBRA LITERÁRIA (SELEÇÃO)

O “Renascimento Musical” e o sr. Rui Coelho, o maior compositor português de todos os tempos: Pequenas variações sobre temas “geniais” A “Oratória” Fátima – Nec plus ultra, (1931)

A obra musical do padre António Pereira de Figueiredo, [S.l. : s.n.], (1932).

No centenário da morte de Marcos Portugal, Imprensa da Universidade, (Coimbra, 1933).

Carlos de Seixas nas ‘Figuras Históricas de Portugal’, Sep. de: Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano, fasc. 12, v. 1, Tipografia Inglesa, (Lisboa, 1933).

Luisa Todi, S. Industriais da C. M. L., (Lisboa, 1934).

Damião de Goes na Livraria Real da Música, [S.l. : s.n.], (1935).

Do justo valor da canção popular: Conferência do curso de férias realizada no claustro do Museu de Castro Guimarães em Cascais, na tarde de 29 de Agosto de 1934 , Imp. Nacional, (Lisboa, 1935).

A música em Portugal nos séculos XVIII e XIX : bosquejo de história crítica, Inácio Pereira Rosa, (Lisboa, 1936 ou 1938).

Do sítio de Nossa Senhora ao actual Largo da Ajuda: conferencia, Anais das Bibliotecas, (Lisboa, 1936).

As guitarras de Alcácer e a guitarra portuguesa, [s.n.], (Lisboa, 1936).

Da velha Algés, [s.n.], (Lisboa, 1938).

Igreja da Conceição Velha, Imp. Libânio da Silva, (Lisboa, 1938).

A destronação de El-Rei D. Afonso VI e a anulação do seu matrimónio: 1667-1668, [s.n.], (Lisboa, 1938).

Sobre o fecho do ‘Auto Cananeia’, [s.n.], (Lisboa, 1938).

A música em Coimbra, Universidade de Coimbra, (Coimbra, 1939).

José António Carlos de Seixas, Coimbra Editora, (Coimbra, 1939).

Presépios, Vilancicos de Barro : Música do Natal Português, Editorial Império, (Lisboa, 1939).

Do sítio da Junqueira, Câmara Municipal, (Lisboa, 1939).

A Igreja e o Convento de Nossa Senhora da Graça, de Lisboa, [s.n.], (Lisboa, 1939).

A Calçada da Ajuda, [s.n.], (Lisboa, 1940).

Utilidades da música através dos tempos, Império, (Lisboa, 1940).

Os manuscritos musicais n.os 6 e 12 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra: Contribuição para um catálogo definitivo, Biblioteca Geral da Universidade, (Coimbra, 1941).

A missa da meia noite do ano de 1527 no Paço da Ribeira, Império, (Lisboa, 1941).

Margem do cancioneiro de Manuel Joaquim, Revista Brotéria, Separata, volume XXXII, fascículo 5 [S.l. : s.n.], (Lisboa, 1941).

À memória de Léon Jamet, Extracto da crónica “De Música” publicada em “O Ocidente”, volume XIII, [S.l. : s.n.], 1941.

Elogio histórico de el-rei Dom João, o quarto, (Lisboa, 1942).

Do Mosteiro da Madre de Deus, em Xabregas e da sua excelsa fundadora, Editorial Império, (Lisboa, 1942).

Aspectos musicais da exposição de ‘Os primitivos portugueses’, Centro de Estudos de Arte e Museologia, (Lisboa, 1943).

O estilo expressivo, raiz da música polifónica portuguesa, Marânus, (Porto, 1943).

Luísa de Aguiar Todi : estudos diversos, Edições Ocidente, (Lisboa, 1943).

O retrato de Damião de Goes, por Alberto Dürer: Processo e história de uma atoarda, Instituto Alemão, (Coimbra, 1943).

No centenário de um grande esquecido João Augusto da Graça Barreto, Império, (Lisboa, 1945).

Do Sítio do Restelo e das suas igrejas de Santa Maria de Belém, [S.l. : s.n.], (1945).

O castelo de Alvito, Fialho de Almeida; (pref., adit., notas), Soc. Astória, (Lisboa, 1946).

A Lisboa de ontem e de hoje do Sr. Rocha Martins: Considerações feitas ao correr da pena, Editorial Império, (Lisboa, 1946).

Uma nota ao “Cancioneiro geral” de Garcia de Resende : as trovas das “pãcadas dos cantores” lidas por um músico, [s.n.], (Coimbra, 1946).

Nossa Senhora na música de Portugal, Liv. Cruz, (Braga, 1948).

Do sítio do Restelo e das suas igrejas de Santa Maria de Belém, [S.l. : s.n.], (1949).

O drama de Gomes Leal : conferência, Câmara Municipal, (Lisboa, 1949).

Considerações à margem do folclore musical: As bandas civis do concelho de Oliveira de Azeméis: Uma carta para o Dr. António Luiz Gomes, Obra Social de S. Martinho de Gândora, (Lisboa, 1954).

A gente canta na aldeia, ilustrações de António Vaz Pereira, Campanha Nacional de Educação de Adultos, (Lisboa, 1955).

Preito em louvor da arte de Malhoa, [s.n.], (Lisboa, 1956).

No 204º aniversário do nascimento de Luísa de Aguiar Todi, Serv. Culturais da Câmara Municipal, (Setúbal, 1957).

Respuestas a las dudas que se pusieron a la Missa “Panis Quem Ego Dabo” de Palestrina: El-Rei Dom João Quarto, Edição fac-simile, introd. e notas de M. Sampayo Ribeiro. Inst. de Alta Cultura, (Lisboa, 1958).

El-Rei D. João IV príncipe-músico e príncipe da música, Academia Portuguesa da História, (Lisboa, 1958).

No quarto centenário da morte del-Rei D. João III (1557-1957): Alguns testemunhos e juízos a respeito de sua pessoa e de seu reinado, [s.n.], (LIsboa, 1958).

A propósito da inscrição sepulcral do fundador da ermida de Nossa Senhora da Oliveira de Lisboa, [s.n.], (Lisboa, 1958).

A gravura de Filipe Galle e o desenho da “Albertina, [s.n.], (Porto, 1958).

A raínha Dona Leonor de Lencastre e os alvores do teatro português, [s.n.], (Lisboa 1959).

El-Rei D. João III e o Claustro da Manga do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, [s.n.], (Coimbra, 1959).

Do padre Francisco Martins e do seu precioso espólio musical, [s.n.], (Évora, 1959).

“A data da morte do Padre-mestre Filipe de Magalhães”, Olisipo, vol. XXIV, 9, (1961).

Frei Manuel Cardoso: Contribuição para o estudo da sua vida e da sua obra, [s.n.], (Lisboa, 1961).

A estátua do Infante Dom Henrique em Liverpul, [s.n.], (Lisboa, 1961).

Da singularidade e das anomalias da iconografia do Infante Dom Henrique, [s.n.], (Lisboa, 1962).

O Professor Joaquim Fontes realizador de beleza, Associação dos Arqueólogos Portugueses, (Lisboa, 1962).

A chula, verdadeira canção nacional: Fernando de Castro Pires de Lima ; pref. Mário de Sampaio Ribeiro, Fund. Nac. para a Alegria no Trabalho, (Lisboa, 1962).

No rescaldo do Festival Folclórico Internacional do Estoril, Junta Distrital, (Porto, 1963).

A “Arte de Cantollano”, de autor desconhecido, (R. 14670), da Biblioteca Nacional de Madrid e a “Arte” de Juan Martinez, Of. Gráf. da Coimbra Editora, (Coimbra, 1963).

Joaquim Casimiro Júnior (1808-1862), [s.n.], (Lisboa, 1963).

Da iconografia, [s.n.], (Lisboa, 1963).

A minha colaboração no ‘Dicionario de la musica labor’, [s.n.], (Lisboa, 1964).

O olifante de Drumond-Castle, Editorial Império, (Lisboa, 1964).

Defensa de la musica moderna contra la errada opinion del obispo Cyrilo Franco, El-Rei D. João IV, (Pref., introd. e notas), Universidade, (Coimbra 1965).

Livraria de música de El-Rei D. João IV: Estudo musical, histórico e bibliográfico, (Lisboa, 1967).

Lux Bella / Domingo Marcos Duran; invest. Mário de Sampayo Ribeiro; pref., introd. e cotejo de Constança Capdeville, Instituto de Alta Cultura, (Lisboa, 1969).

NOTAS

Mário de Sampayo Ribeiro foi agraciado em 11 de março de 1959 com as insígnias de oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.

Em 1978, a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o historiador e musicólogo dando o seu nome a uma rua na zona da Quinta das Mouras, em Lisboa.

O seu espólio musical e literário encontra-se na Biblioteca Nacional de Portugal.

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